Locutores: ... vamos entrar então no nosso assunto o cinema brasileiro... na década de trinta. ... o cinema brasileiro foi quase sempre... um cinema MARGINAL. ... o::... FIlme brasileiro... foi TRADICIONALmente considerado... pelo comércio cinematográfico... pelos exibidores pelos donos de filmes... o filme brasileiro foi considerado... um::... um peNEtra... um::... inTRUso... alguma coisa que apareCIa... para:: atrapalhar... algo que funciona::va direiti::nho... um negócio que funcionava bem... baseado na importação... de filmes estrangeiros. ... e nesse quadro... aos olhos do comércio cinematográfico... o cinema brasileiro... só aparecia para atrapalhar. ... isso quase sempre... que nós encontramos momentos no paSSAdo um passado às vezes muito longínquo em que isso não aconteCIa... ... se nós pegarmos... se nos quisermos encontrar... a::... a idade do ouro do cinema brasileiro... é incrível ( ) a gente i/ precisaria ir para antes de guerra de quatorze e dezoito. ... ENtre mil novecentos e OIto... e mil novecentos e DOze por exemplo... o cinema brasileiro teve uma florescência extraordinária e não era um marginal. ... isso porque... as pessoas que produziam esses filmes... Eram os donos do cinema. ... e como donos do cinema eles tinham... o maior interesse... em propagar... o seu produto. ... mas DESde que o cinema virou realmente inDÚStria... nos países adianTAdos... naturalmente que esse nosso cineminha... artesanal... foi liquidado. ... o Brasil era um país que importava tudo. ... e vocês sabem que o Brasil importava... sabe que até caixão de defunto o Brasil importava? hã?? não fabricava?? o Brasil importava paLIto... ... no começo do século hã?? ... e se importava essas coisas então é evidente... que começou... a importar também divertimento... e começou também a importar FILmes. ... e os nossos filmezinhos feitos aqui... foram postos inteiramente de lado. ... mas continuou a existir... ... e isso isso é que é que é milagroso. ... o cinema brasileiro... nun::CA... nunca morreu. ... houve SEMPRE uma continuidade... éh marginalizado... ah completamente... com as maiores dificuldades mas o cinema sempre... sempre:: continuou a existir o cinema brasileiro. ... e no começo dessa década... que nós vamos abordar aqui... o cinema brasileiro estava exTREmamente vivo. ... o:: ah pareci::a... em mil novecentos e TRINta... no começo do do:: de mil novecentos e trinta parecia que o cinema brasileiro ia volTAR... àquela época... ah gloriosa de um passado... já longínquo. ... a explicação... ah para isso... ah::... é que no começo de trinta... o mercado... cinematográfico brasileiro... esse mercado baseado na importação de FILmes... na época em que (ela já soube dos) ameriCAnos... estava num completo CAos... ... um CAos provocado... pela revolução do cinema falado. ... essa coisa de (cinema) falado já tinha começado há mais tempo nos Estados Unidos... ... no fundo... esse processo... de revolução do cinema falado tinha começado nos Estados Unidos já há quatro ano an/ quatro ano antes... em mil novecentos e vinte e SEis... ... numa época mais ou menos em que o Washington Luís::... estava:: começando:: o seu governo. ... agora o processo nos Estados Unidos foi inicialmente len::to... ... porque a própria indústria cinema/ cinematográfica americana não acreditava... ah que o cinema falado... ah estivesse vindo realmente para... valer. ... o cinema falado começou... não porque tinha sido uma descoberta técnica... sensacional do momento... ... há muito TEMpo... que as companhias de eletriciDAde... já TInham... ah encontrado hã soluções... PARA sincronização... entre a imagem e o som. ... e ofereCIam... já há MUItos e muitos anos que ofereCIam... a/ essas essas paTENtes... para a indústria cinematográfica. ... ora a indústria não via o menor inteREsse... em alterar um status quo que estava funcionando bem... hã com uma invenção... que iria obrigar... o reaparelhamento de todos os cinemas... exisTENtes. ... se o cinema falado peneTROU... foi porque... uma companhia de terceira categoria... u::ma companhia do dos irmãos Warner... estava à BEIra da falência... era uma companhia que não tinha mais nada... a única coisa que eles tinham eram dois atores envelhecidos já sob o contrato... ... um deles era esse John Barrymore... que nós vimos outro di::a... no Grande Hotel às voltas com Greta Garbo coitado e::... o:: tinha o John Barrymore e tinha o cachorro ritmo de Rin-tin-tin... né?? ... eram:: também já envelhecido não é?... e::ram as as duas ah os dois trunfos só dessa companhia Warner. ... a companhia Warner... em desespero... resolveu lançar a cartada do som. ... instalou algumas salas equipadas com aparelhamento... ah sonoro e fez um primeiro filme... éh sonoro com algumas falas Don Juan... justamente em que aparecia Barrymore e aparecia o cachorro... o sucesso do filme foi grande mas a indústria achou que era curiosidade... ... os Warner se entusiasmaram... fizeram O cantor de jazz... O cantor de jazz foi um sucesso enorme... na bilheteria quase que alcançou o recorde do momento que era o de Ben-Hur... o recorde de Ben-Hur com... (a) com... com Ramón Novarro... e::... diante disso... diante do sucesso do Cantor de jazz... a indústria viu que não que o cinema falado então era uma coisa que realmente tinha... agá/ a acabaria se impondo. e começou então a se prepaRAR... mas lentamente... para adapTAR... todo aquele iMENso sistema cinematográfico... aos novos tempos do cinema fala/ falado. agora eles foram obrigados a acelerar o processo. ... porQUE... os Warner começaram a fazer filmes sobre filmes. cada com um sucesso cada vez maiOR. ... o:: ( )... hã:: em seguida:: Broadway melody éh coisas assim desta ordem... que tinham um sucesso gigantesco então... o a/ a indústria resolveu acelerar... a transformação. ... ah Isso já já já começou a provocar atrapalhaÇÕES... hã não não só no mercado interno mas sobretudo no mercado dos países menos desen/ desenvolvidos como o Brasil. ... em que a reaparelhagem de todos os cinemas tal era algo muito custoso... e muito complicado. ... as coisas ( ) estavam nesse PÉ... quando::... quando houve o crack de Wall Street... em novembro de vinte e nove. ... aí houve uma retração geral de todos os negócios né?? ... os produtores cinematográficos então não penSAram outra coisa senão... em estimuLAR ao MÁximo o interesse que o público estava demonstrando pelo cinema falado. ... aí eles PERDEram... perderam de VISta... o problema dos mercados exteriores (e tal)... e transformaram RApidamente todo o cinema em cinema... falado. ... daí o CAOS... provocado aqui... hã no BraSIL... ... em que os cinema não esTAvam... aparelhados ou MUIto mal aparelhados coisas improvisadas... para o cinema falado. ... do começo::... houve uma curiosidade de PÚblico... mas logo o público se canSOU daquilo. ... porque é preciso lemBRAR... que naquele tempo não havia ainda letreiro sobreposto. ... e tamBÉM:: muito menos duBLAgem::. ... (sabe) que os os filmes falados... vinham para cá falados de vez em quando interromPIA o filme... tal para por os letreiros... no começo da fita punha um letreiro maior mais ou menos contando a hisTÓria ( ) de ir ao cinema... para ver fita numa língua que as pessoas... hã não entenDIam... o público começou... a se retrair. ... e essa então foi a grande CHANce que se abriu... PAra... o cinema brasileiro. ... o entusiasmo foi... enorme né?? um dos LÍderes... da época... que era::... que era Pedro LIma... hã escreve na ocasião... ... ''o cinema falado em língua estrangeira não precisa de nenhuma baRREIra entre nós''. ... que já às vezes nas campanhas dele ele fala é preciso fazer algumas barreiras alfandegárias ao cinema estrangeiro... não é possível e tal essa entrada maciça de filmes em detrimento... hã dos nossos né?. ... agora a respeito do cinema falado ele disse... ''o cinema falado em língua estrangeira não precisa de nenhuma barreira entre nós. ... ele cairá por si. ... repelido pelo público... repelido pelo público''. ... Pedro Lima enuMEra... os recursos... que as agências americanas têm lançado mão... para tornar mais aceitável os seus filmes. ... POR exemplo... colocando letreiros sobre as cenas. ... mas... Pedro conclui imperturbavelmente ''mas nada disso adianta''. ... e algum tempo depois ele escreve... ''a produção americana... que dominou o nosso mercado... atravessa uma crise SEM precedentes. ... repudiada... raramente tolerada... deixa lugar... a que possamos preencher... os seus claros''. ... e durante algum tempo... e até certo PONto... isso realmente aconteceu. ... a produção... de::... ... houve uma animação enorme... hã no cinema brasileiro... a:: produção cresceu MUIto... ah::... atingiu ÍNdices absolutamente inéditos em toda ( ) a história hã do nosso:: cinema. ... é melhor do que isso muitos desses filmes tiveram um GRANde êxito... éh de bilheteria. ... ah::... durante esses dos dois primeiros anos da década de trinta e trinta at/ a trinta e um... foram produzidos... éh bem mais de trinta filmes... éh de longa metragem... éh brasileiros. que era uma u::ma cifra fantástica... éh na época. ... ah:: filmes mudos parcialmente sonorizados hã com alguns CANtos alguns diálogos e tal... uma variedade... hã muito grande. ... agora... a:: a produção do cinema brasileiro... hã que num passado:: recente... estava um pouco dissemiNA::da... éh pelo Brasil TOdo... né?... filmava-se em São PAUlo ou:: com aquelas dificuldades todas a que eu aludi mas filmava-se em São Paulo n/ no Rio... mas também em Porto Alegre... éh em Recife Belo Horizonte... em cidades do interior Campinas teve um mo/ um momento interessante de cinema cidades no interior de Minas Gerais... Ouro Fino Guaranésia Cataguases produziam filmes. ... o cinema... esse novo cinema sonorizado... naturalmente era mais complexo e mais complicado... e::... há produção então (a gente) se restringiu-se... ao Rio... e a... São Paulo. ... mas nesses dois... éh grandes centros... era::... era realmente brilhante nesse período. ... fora do Rio e de São Paulo a única cidade que tentou ainda fazer... cinema nesse período... foi Belo Horizonte. Belo Horizonte... eles anunciaram um filme... um filme que eles anunciavam como exTREmamente assim moDERno e tal... mas cujo título é todo um:: programa... imagine que o filme se chamava... O Calvário de Dolores... (né?)? ... BOM... esses trinta e tantos filmes do período... eles são de uma maneira geral... e apesar da novidade da da sonorizaÇÃO... e de alguns efei/ de alguns:: diÁlogos e de alguns CANtos... eles são um prolongamento bastante harmonioso... hã duma situação... hã:: mais modesta que existia anteriormente. ... ah globalmente as pessoas que permanecem em CAMpo... éh que continuam que o que que FAzem cinema... éh são as mesmas... do período anterior. ... naturalmente muito mais... animadas e fazendo muito mais coisas. ... hã no Rio de Janeiro a figura mais importante é Ademar Gonzaga... que está montando um estúdio... e que já trouxe um cineasta de Cataguases... Humberto Mauro... hã que/ cujo nome estava... hã ficando muito conhecido. ... a outra figura de relevo do cinema carioca é:: Cármen Santos. ... a singularidade dessas duas pessoas... no quadro de peNÚ::ria do cinema brasileiro... éh sempre foi muito GRANde. ... porque os nossos cinegrafistas os nossos cineastas... eram uma gente... muito pobre... éh que vivia nas maiores dificulDAdes... era os cavadores::. ... esse nome cavadores que foi::... que era lançado assim como um inSULto né? pela... pelo comércio cinematográfico estabiliZAdo... né? e vinculado ao estrangeiro CONtra... os cinegrafistas... hã brasiLEIros... esse nome CAvadores acabou sendo realmente um nome aceito... ah por eles próprios não teve... mais nada éh de insultuOso... e essa... expressão cavadores ah que eu vou usar... aqui o tempo TOdo tem uma significação... hã TÉcnica. ... (os) cavadores eram os homens que tentavam fazer cinema... hã fora dos sistemas... éh estabelecidos. ... o::... Ademar Gonzaga... e Cármen Santos se desTAcam desses cavadores. ... porque... éh eles tinham uma::... uma retaguarda capitalista. ... a retaguarda capitalista do::... do Ademar Gonzaga era o pai dele. ... era o pai dele que era o concessionário da Loteria Federal. ... que é uma coisa... bastante importante. ... e de Cármen Santos era o marido. ... era o marido tal que era o... um GRANde comerciante... hã carioca (né?)? de forma que esse... essas duas peSSOas... (então) construíram estúdios compravam... aparelhamentos e tal... e tinham naturalmente... ambições muito maiores do que... a dos:: a dos cavadores. ... o::... e ao lado então dos ricos Ademar Gonzaga e Cármen Santos então viCEja... né?... essa... essa esse pequeno MUNdo de técnicos de cinegrafia em laboratório... artesãos huMILdes e VIvos... ... hã frequentemente aventuREIros. ... ah como aliás os diretores e artistas improvisados... (e) que a eles se LIgam. ... o setor cariOca... né? desse quadro:: moDESto... hã mais:: humanamente muito RIco... hã dos chamados... hã cavaDOres... esse quadro ao que se deve a continuidade do... hã do cinema brasileiro... ainda não foi devidamente pesquisada. ... em compensaÇÃO... a fisionomia daQUEles... éh:: dos correspondentes em São PAUlo dos cavadores... ah paulistas... ESTÁ... admiravelmente delineAda... graças a um livro noTÁvel... ... CRÔnica... éh do cinema paulistano de Maria Rita de Elsa Galvão. um livro infelizmente... ainda inédito. ... esses imiGRANtes... ou filho de imigrantes... os Rossi... éh CaRRAri... TÁRtari... (Madrigando) Matrângula (Tartaglioni)... os del Picchia José e Vitor... que aparecem tão VIvos no livro de Maria Rita... eles estão quase todos presentes::... nesse:: e ativos né? nesse início da década de trinta. ... ALIÁS nesse período... o fê/ esse fenômeno::... Ademar Gonzaga e Cármen Santos do Rio TENde... a se repetir em São PAUlo. ... aparece o FIlho de um negociante português:: RIco... hã Joaquim Garnier... éh que se mete em ciNEma... e aparece também uma beLÍssima senhora. ... um belíssima senhora... éh que era A produtora... a aTRIZ... e diretora... hã dos seus próprios FILmes. ... a pesquisa ainda não deslindou. ... a idá/ a identidade eXAta... dessa senhora tal cujas fotografias... hã realmente causam uma impressão grande. ... ela aliás hesitou um pouco na esCOlha... hã do nome arTÍStico. ... ela foi sucessivamente JaraMAR... Cléo de Lucena... Cléo Verbera... FInalmente... ela entrou na história do nosso cinema... com o nome... de... Cléo de Verberena. ... nós temos assim algumas indicações sobre as pessoas que faziam cinema naquele momento. ... Outros nomes poderão ser evocados eventualmente... éh se for o caso. ... e o que dizer... o dos FILmes de longa metragem produzidos hã nesse período. ... um primeiro eXAme em conjunto permite constaTAR... a reafirmaÇÃO... hã de muitas das tendências mais interessantes... hã do período... anterior. ... a linha liteRÁria... e hisTÓrica de cinema... estão agora representadas por títulos como Iracema... ou Os Caçadores de Diamantes. ... a linha policial e caipira... por:: o Mistério do Dominó Preto... e por Acabaram-se os Otários. ... a linha religiOsa... e a erótica... respi/ respectivamente com Rosas de Nossa Senhora... e Messalina. ... eventualmente eventualmente a as li/ a linha erótica... e a religiosa hã se CRUzam... ... como no caso de Anchieta... Entre o Amor e a Religião... tá?. ... um filme que também... foi feito. ... hã dos VÁrios filmes patrióticos nós podemos destacar Alvorada de Glória. ... eu penso que... esses filmes a que eu aluDI representam bem... a MÉdia da produção cinematográfica no período. ... eu deixei propositalmente de LAdo... obras excepcionais:: da época como Limite... éh de Mário Peixoto... ou os filmes de Humberto Mauro. ... eventualmente nós voltaremos... a tratar... dessas figuras artísticas realmente... eminentes. ... no momento... o que talvez seja mais Útil... é comentar rapid/ rapidamente dois ou três::... desses filmes médios... (ou) comuns... numa tentativa de avaliar... o que é que eles significavam. ... tomemos inicialmente o filme caipira Acabaram-se os Otários. ... bom é um filme... que pertence... a uma das MAIS eminentes tradições hã do cinema brasileiro. ... TRAdição aliás que o cinema brasileiro tinha herDAdo... hã do teatro popular... e da literatura. ... hã:: são filmes são filmes que contam a hisTÓria... a história de um caipira... de um caipira que chega à cidade... que chega à grande cidade... e das coisas que acontecem com ele... né?. ... o priMEIro filme de enredo brasileiro E o Anastácio Chegou à Cidade... de mil novecentos e oito né?... FOI o iniciador... dessa... linha. ... o filme... éh de::... éh de:: de caipira. ... nesse filme Acabaram-se os Otários... ah:: que esse e outros tal foram interpretados por:: um:: arTISta caiPIra de teAtro... hã Genésio Arruda... há muito... há muito da tradição anTIga... né?... aquelas anedotas... hã:: coligidas... encontradas nos livros de Cornélio PIres... ou as anedotas populares MAIS anTI::gas MAIS VElhas... como o caipira que compra o bon::de que em geral é atribu/ era atribuído ao mineiro hã tudo isso aparece... em Acabaram-se... os Otários. ... agora ao mesmo tempo apareciam as canções. ... (aspareciam) apareciam as canções... canções burlescas... éh e satíricas... éh cantadas... hã por... éh Genésio... Arruda. ... o Êxito... popular e de bilheteria... hã desses filmes tal foi... imenso. ... tomemos agora... o filme policial. ... O Mistério do Dominó Preto. ... que foi... produzido dirigido e interpretado... precisamente por nossa conhecida Cléo de Verberena. ... bom tamBÉM esse filme pertence a uma velha tradição. ... a tradição do do dos filmes de CRIme... aqui no BraSIL... também é muita anTIga. ... SÓ que em geral... eram crimes reais. crimes reais que tinham acontecido... que tinham chamado muita atenção... hã do... da ô/ da opinião pública... e que os cavadores punham... no cinema... né?? os grandes crimes do Rio de Janeiro os crimes os grandes crimes do (interior) de São PAUlo o crime de CraVInhos por exemplo que... éh que ficou... éh cego e todos eles entraram... para o rê/ para os crimes da MAla os crimes da MAla tal TOdos entraram... para o repertório... hã cinematográfico. ... ora esses filmes... eram filmes que no fundo contavam uma história que todo mundo conheCIa... ... hã (meio) que era FÁcil... era fácil dize/... éh de um enREdo todo mundo já saBIa... ... ao passo que os filmes policiais de de Cléo de Verberena NÃO. ... eram uma ficção. ... e uma ficção... éh bastante compliCAda. ... hã a coisa tinha tinha a estrutura do filme tal tinha... uma certa complexidade... ... para dar uma ideia vamos aludir rapidamente ao enredo... o enredo d'O Mistério... do Dominó Preto. ... eram dois estudantes que moravam no mesmo quarto... ... durante o carnaval... ... um rapaz chega do baile... abriu o armário... e encontra uma mulher fantasiada de dominó preto... morta... ... bem... o rapaz se convence... e nós público também ficamos convenCIdos... de que foi o amigo... que... matou... a mulher. ... essa primeira etapa... o amigo matou a mulher. ... numa segunda eTApa... os dois amigos e NÓS::... ficamos convencidos de que o assassino é um tal tenente. ... NUma terCEIra eTApa... os dois rapazes... o tenente... e nós::... ficamos convencidos::... de que quem matou... a dominó... foi a noiva do tenente. ... e finalmente na conclusão... éh se esclaREce... QUE o verdadeiro assassino... É... o irmão... da noiva... do:: tenente. ... pois bem... a personagem principal... encarnada por Cléo de Verberena... ERA... a mulher assassiNAda. ... e que está na FIta o tempo todo. ... muito viva bem viva... nas::... REminisCÊNcias... de todas as pessoas que tiveram contato com ela... e que foram sucessivamente acusados... de serem... os seus assassinos. ... então quando nós sabemos que esse filme... TInha uma certa eficácia... hã narraTIva... é uma boa idic/ indicação... né? de um progresso. ... de um progresso tal da linguagem... hã do nosso cinema... ... porque:: para a época... tal era uma história bastante... hã complexa. ... vejamos agora um filme patriÓtico. ... Alvorada de Glória. ... uma cópia desse filme foi localizada ultimamente... ... e eu tive oportunidade de examinar alguns rolos... ... e eu FU::i levado de novo a repensar num problema que:: que me tem interessado muito. ... é o seguinte... Alvorada de Glória na Época foi considerado como um filme ruIM. ... e:: a minha experiÊNcia... MOStra... que::... e eu realmente me interesso cada vez MAIS por esses filmes que Eram ruins... (né?)... ... a minha disposição é acentuAR o::... o passado do verbo. ... realmente eles Eram ruins... mas hoje não são mais. ... eles se se tornaram extraordinariamente interessantes. ... e não é só devido ao valor documenTAL... hã que qualquer filme adquire com o passar do tempo. ... ah pelo que eu pude ver o interesse de Alvorada da glória não se liMIta... (apenas) a de documentar o que era:: a pisCIna do:: Clube Atlético Paulistano... em mil novecentos e trinta... ou::... a::s RUínas provocadas em São Paulo... hã pelo bombardeio da cidade... hã po:::r... hã Artur Bernardes... ... há no filme... uma::... uma estilização inGÊnua... hã das camadas superiores... hã da socieDAde... e uma::... e uma viSÃO do amo::r éh:: do heroí::smo... de uma série assim éh de sentimentos básicos... éh que LANçam realmente... uma luz... hã sobre alguns aspectos... da nossa:: da nossa cultura. ... eu estou convencido em suma... que ver::... HOje Alvorada de Glória... é para nós brasileiros::... uma experiência intelectual muito mais estimulante... do que ver por exemplo:: Mata HAri. ... Mata Hari tal que que passou... hã pã/... (TÁ) reprisada... outro dia. ... hã::... alguns elementos exTERnos hã desses velhos FILmes... hã possuem aspectos também de um::... um pitoRESco... que é revelador de de nossos costumes. ... ALvorada de glória por exemplo foi feita... PElos irmãos del Picchia. ... VItor e José. ... BOM um membro importante da família... já ERA Menotti del Picchia... naquele tempo. ... e::... Menotti às vezes colaborava nos empreendimentos cinematográficos dos::... dos seus familiares. parece que era um irmão... e um sobrinho. ... mas SEM que o seu nome... éh cheio de respeitabilidade aparecesse nos letreiros né?? ... mesmo porque... os del Picchia faziam todo os GÊneros cinematoGRÁficos né?. ... inclusive... hã os eRÓticos né?? ... o::... o::... ... AGORA EM Alvorada de Glória... o nome de Menotti del PIcchia... aparece com muita eviDÊNcia... ... como um dos responsáveis pela fita. ... O FILme... em SI na época não contribuiria NAda... PARA o prestígio intelectual... ou artístico de de Menotti. MAS... mas era um FILme... que glorifiCAva a revolução de mil novecentos e trinta vitoriOsa. ... E o Menotti TInha... o maior interesse em vincuLAR... o seu nome a um empreendimento dessa na/ natureza. ... no prólogo do fi/ do filme lia-se... ... ''numa luta entre irmãos::... não há vencedores nem vencidos''. ... o interesse de Menotti em fazer vingar essa FÓRmula... era tanto maiOr... que no episódio da revolução de TRINta... ele esTAva na categoria dos venCIdos... né?? ... em SUma... uma das funções:: hã:: paralelas de Alvorada de Glória... foi faciliTAR... a adeSÃO... de Menotti del Picchia... ao novo governo. ... é sabido que:: Menotti del Picchia... como outros... hã (hô/) nomes emiNENtes da nossa história liteRÁria como Cassiano RiCARdo... NUNca conseguiram ser contra nenhum governo... né?? ... hã basTAva:: ser governo... hã que eles:: hã:: estavam a favor. ... NÓS JÁ nos acostumamos com isso não é? já houve tanto governo não é?? ... mas:: mas na ocasião tal isso causava... uma certa::... uma certa espécie... e sobretudo essa FORma... de manifestar... a sua adesão... através de um filme. ... o que também é uma indicação... da:: imporTÂNcia... hã que... o filme brasileiro... tá/ estava adquirindo... na vida... DA comunidade. ... o filme MAIS significativo desse período... foi porém Cousas Nossas. ... COUsas nossas foi o mais significativo porque não era MAIS um filme vinculado... ao que se fazia anteriormente... ... mas era uma fita que... aponTAva... uma direção... inteiramente... nova. ... o:: Coisas Nossas foi singuLAR a parTIR... pelos NOmes... éh que:: responsáveis tal pela sua... faTUra. ... o produTOR... foi Alberto Byington Júnior. ... ele fazia parte de uma família de industriais e negociantes muito importante em São Paulo. ... a atividade dos Byington... abarcava aparelharê::/ aparelhagem elétrica... e foi com um espírito de empreSÁrio... e não::... como um dileTANte como tinha sido o caso do::... do filho do portuGUÊS... ah Garnier... foi com espírito de::... de de empreSÁrio né? que os Byington se interessaram... hã:: pelo cinema falado. ... o realizador... o diretor de Coisas Nossas foi um ameriCAno... ... Wallace Downey. ... que tinha um espírito muito aventuREIro já tinha feito muita coisa na VIda... inclusi::ve conquistado posição de desTAque... na fábrica de discos CoLÚMbia. ... o apareciMENto... depois de TANtos:: cavadores moDEStos::... éh de origem euroPEIa... de um... cavador:: norte-ameriCAno... não é?... é mais uma::... uma:: uma indicaÇÃO... é quase que um:: SÍMbolo... hã dos novos TEMpos:: em que estava entrando... o cinema... brasileiro. ... Coisas Nossas foi a primeira tentativa de fazer o cinema brasileiro envereDAR... na direção dos filmes musicais americanos... que esTAvam fazendo muito sucesso. ... mas era um filme muito brasileiro. ... muito pauLISta mesmo. ... o:: o título foi tirado de um samba de Noel Rosa... hoje é um CLÁssico né?... ... o::... a SOM/ a:: a SOMbra... a prontidão e outras bossas... são nossas coisas são coisas nossas né?? ... daí... veio... o título tal do do de/ desse samba que era cantado... no filme. ... aGOra... a FIta apresenTAva... éh desde ParaguaÇU... que era um célebre cantor... cantor de bem-te-VI... celebérrimo... em São PAUlo... veteRAno das serenatas boêmias... e dos serões:: familiAres... hã paulisTAnos... ... apresentava desde Paraguaçu até... Zezé Lara... ou Alzirinha CaMARgo... cujos nomes estavam sendo popularizados... pela Rádio Educadora Paulista. ... havia também música FIna... éh como como se diZIa... ... e um JOvem... um jovem:: avançado cantava Singing In The Rain... debaixo de um chuveiro. ... o Procópio Ferreira... éh dizia um monólogo... e a personalidade do PRÓlogo que fazia um discurso inicial... era Guilherme de Almeida. ... Coisas Nossas era uma fita de longa metragem mas não tinha enredo... ... era uma sucessão de números assim artísticos... e com um es/:: um ePÍlogo... em estilo assim de grand finale cinematográfico. ... mostrando a granDEza e o dinaMISmo de São Paulo. ... as iMAgens dos edifícios maiOres que existiam na Época... eram sobrePOStas... umas umas às outras... a fim de darem a impressão... de::... de arranha-céus... né? novaiorquinos... ... e:: a montagem RÁpida... de de CEnas com transeUNtes... e automóveis... e que eram projeTAdas aliás em ritmo aceleRAdo... hã procuravam sugerir um trânsito infernal. ... em SUma na::... na na São Paulo ainda pacata do início da década de TRINta... essa conclusão de Coisas Nossas... é um bom eXEMplo não é?... éh da TOla... aspiração paulista né?... é por isso que está... aí. ... Coisas Nossas passou PRAticamente em todas as grandes cidades brasileiras... que já possuíam salas aparelhadas... e foi um triUNfo. ... NUNca um filme brasileiro tinha dado tanto dinheiro. ... (hum então) o entusiASmo contagiou... MUItas áreas. ... a grande figura do nosso teatro de reVISta... Margarida MAX... preparou-se tal para... para fazer cinema. ... Raul Roulien... ( ) ator liGEIro... e cantor de TANgos... também. ... assim como atores de grande presTÍgio Leopoldo Fróes... hã:: Procópio Ferreira. ... a:: personalidade mais VIva do nosso teatro na época... Oduvaldo ViAna... partiu para a AMÉrica... a fim de se documentar tecnicamente sobre o cinema falado. ... os Ecos dessa animaÇÃO... CHEGAram aos brasiLEiros... que estavam no exteriOR::... tentando fazer alguma coisa ou faZENdo... hã:: alguma coisa ligada ao cinema. ... Olinto GuiLHERme por exemplo que tinha... GAnho um PRÊmio... (num::) concurso da Fox tal para ir... para Hollywood... éh se prepara para voltar para o Brasil onde ele pretende filmar... Os Sertões de Euclides da Cunha. ... Alberto CavalCANte com o nome já feito no... NO cinema francês... elabora grandes planos para o BraSIL. ... Eduardo Alvim Correia... um::... um curioso... pinTOR brasileiro... que está sendo agora redesgu/ redescoBERto... e que particiPOU... hã do cinema francês com o nome de Jean Milva... volta ao BraSIL... também:: depois de não sei quantos Anos... atraído pelas notícias. ... COrre até a notícia em São Paulo... de que Amadorzinho da Cunha Bueno... da sociedade paulista vai se dedicar ao cinema. ... e ele SENte a necessidade de desmentir o boAto... na seção livre do Estado de São Paulo. ... mas toda essa eufoRIa... estava com os dias contados. ... a TÉcnica de condensação dos diÁlogos e letreiros sobrePOStos fez proGREssos... e CONtra as expectaTIvas dos especiaLIStas da indústria cinematográfica norte-americana... os PÚblicos latino-americanos... inclusive o brasileiro... foram os priMEIros a se acostumar::... com a novidade. ... tornaram-se inclusive desneceSSÁrias... as versões em espaNHOL às vezes em português... que os americanos... esTAvam começando a fabricar. ... ultrapaSSAdo... esse CAos comerciAL... que tinha sido tão afliTIvo para os ameriCAnos... e tão animaDOR para nós... voltou a reinar a ORdem... e nosso pergado/ em nosso mercado cinematográfico. ... isto É... os nossos filmes foram de NOvo::... exPULsos... das telas de nossos cinemas. ... ah:: durante::... ... logo não se produz mais NAda em São Paulo... e MUIto pouco no Rio... em matéria de longa metragem. ... EM:: mil novecentos e trinta e QUAtro... nenhum filme longo... é produzido. ... CUriosamente... é nesse Ano... que os mineiros conseguem depois de Anos de esFORços... compleTAR... O Calvário de Dolores. ... apesar das condições criAdas dessas condições desfavoráveis... alguns daqueles homens com aspirações ambiciOsas continuaram lutando. ... SEM falar dos cavadores tal para os quais... as dificuldades tal não eram novidade. ... em São Paulo durante algum tempo o Alberto Byington aInda continuou... hã:: prô/ ah produzindo... E no Rio Ademar Gonzaga SEMpre. ... esse é um nome realmente central... da história do cinema brasileiro. ... os cavadores modestos voltaram... às suas cavações. ... um momento muito bom para as cavações foi a revolução de trinta e dois::. ... permitiu MUI::to muito trabalho... ah para os cavadores tanto os cavadores do lado de lá... quanto os do lado de cá. ... ah:: depois::... depois de de da revolu/ da revolução de trinta e dois... a GRANde cavação foi o integraLISmo. ... Plínio Salgado levava a SÉrio o cinema como instrumento de propaGANda... e foram MUIto numerosos... os cinegrafistas da velha guarda... que viveram momentos de conforto em suas vidas atribuladas... graças às encomendas... dos integralistas. ... nós vamos voltar... às coisas... mais sérias. ... o período de animaÇÃO... fez com QUE aumenTAsse CONsideravelmente o número de pessoas interessadas em cinema brasileiro. ... é bom:: recordar:: a vitalidade:: que conheceu:: no BraSIL... posteriOR:: à revolução de TRINta... o espírito associaTIvo... ... no campo que nos inteREssa... hã surGIram... ah:: a primeira associação de produtores cinematoGRÁficos... o primeiro sindicato de técnicos de cinema... FOram organizadas convenÇÕES... e manifestações de classe... junto a Getúlio Vargas. ... também no momento estava no AR... a iDEia... da importância do cinema para a educaÇÃO. ... GRAças às campanhas reiteradas de... FERnando AzeVEdo Anísio TeiXEIra... Lourenço Filho Roquete PINto Mário BEring... e Canuto Mendes de Almeida. ... o governo acabou nomeando uma comissão para tratar do assunto. ... mas aconteceu algo que depois se repetiria muitas VEzes. até aos nossos dias ... em vez de cuidar do ciNEma brasileiro... FOram abordados... os problemas da CLAsse cinematográfica brasileira... ... num sentido AMplo. ... e que abrangia toda gente que no Brasil tinha sua atividade... ligada ao cinema. ... isto é em primeiro lugar... o setor do coMÉRcio cinematográfico. ... TOtalmente SUbordinado... aos interesses da indústria americana de cinema. ... a comissão eram um:: SAco de (GAtos)... comerciantes de cinema produtores... educadores... (hã) jornalistas... ... os comerciantes NEM precisaram se preocupar muito... a causa deles::... e dos americanos... foi admiravelmente defendida pelos intelectuAis... e com a maior sinceriDAde aliás sem::... sem o menor:: inteREsse... éh subalTERno... ... o LÍder desses intelectuais era um homem... um homem inclusive muito intereSSANte chamado... Mário BEring... GRÃO-mestre DA... da maçonaria... brasileira... um liberal conVIcto não é? inclusive... em matéria de::... de:: ecoNÔmica... era contra TOda e qualquer baRREIra... alfandegária tal escreveu a vida toda... sobre O cinema sempre... defendendo::... o::... esse ponto de vista... era um homem honRAdo né? e que passou a vida... hã trabalhando de GRAça... né? hã PAra os americanos... ah no fundo. as ideiAS de Bering... hã domiNAram... a:: a comiSSÃO... e o governo acabou aceiTANdo todas as sugesTÕES da comissão. ... as sugestões eram... três. ... o governo prometeu para os comerciantes a diminuição em seSSENta por cento das taxas que incidiam... sobre os filmes importados. ... PAra os produtores foi feita a promessa de uma lei obrigando os cinemas a passarem um complemento nacional... curto... ... e para os educadores o governo prometeu... que iria cuidar::... de cinema educativo. ... A promessa para os comerciANtes... foi:: cum/ executada imediaTAmente. ... e é curioso então ainda MAIS... a entrada em nosso mercado... do produto... hã norte-americano. ... as outras promessas demoraram MAS acabaram sendo efetivadas. ... o comércio cinematográfico aliás luTOU o quanto pôde CONtra:: a obrigatorieDAde de um complemento brasileiro. ... os exibidores não queriam abrir MÃO... dos jorNAIS cinematográficos ameriCAnos... que eram recebidos de GRAça... como BRINde não é? acompanhando... os filmes de longa-metragem... importados. ... a lei do curta-metragem... era pouquíssima coisa. ... mas::... a situação do cinema era TÃO difícil... que ela foi recebida com alegria. ... hã POde-se dizer que com ela... a:: cavaÇÃO... foi::... institucionaliZAda. ... e as próprias figuras MAIS ambiciOsas Byington GonZAga... hã Cármen SANto... se dedicaram com aFINco ao filme curto. ... jornais documenTÁrios canções de Vicente CelesTIno... hã:: da dupla Jararaca e RaTInho... éh graças do Procópio FeRREIra... e et cetera. ... talvez seja diFÍcil... para o espectador de hoje... escarmenTAdo por Jean Manzon... e Primo CarboNAri... ter simpaTIa pela LEI de obrigatoriedade... do complemento nacional. ... eu quero salientar poRÉM... uma das consequências que ela teve na Época. ... que FOI... a de reveLAR o BraSIL... ao público dos cinemas das grandes cidades. ... os cinegrafistas::... em geral... os cavadores... não TInham a menor preocupação sociAL... e muito menos... uma intenção poLÊmica... qualquer... ... mas eles filMAvam enormemente pelo Brasil afora. ... e as iMAgens que chegavam às telas... eram testeMUnhas... da miSÉria... do povo brasileiro. ... os jornais cariocas registram... com extraordinária frequência... A:: estupefacÇÃO... cauSAda... por esses FILmes. ... me impressionou notadaMENte... uma::... uma SÉrie de arTIgos... do:: historiador e sociólogo Oliveira Viana... para o Jornal do Comércio. ... o intelectuAL... conservador que ele ERA... FIca... esTARRECIdo com o que vê... e CLAma aos céus... para para que se faça... alguma coisa... para que se TOme... alguma providência. ... um dos jornalistas da Época... que era um um daqueles inimigos ferrenhos de qualquer restrição... à importação de filmes... EScreveu que::... ''os filmes americanos já fizeram muito pelo Brasil. ... levaram a civilização... aos nossos sertões''. ... nós poderíamos dizer HOje... que:: a grande COUsa... que os curtas-metragens fiZEram... foi o leVAR foi levar o serTÃO... à NOssa... civilização. ... MAS::... os bons TEMpos dos curtas-metragens também estavam contados... ... esses bons tempos foram tão CURtos quanto os bons tempos... do longa-metragem. ... chegou o Estado Novo... ... houve o golpe né? iss/ e e foi instalado o Estado Novo... ... não SÓ... a cenSUra tornou-se muito restriTIva... mas o governo... lançou-se... através do DIP do famoso DIP o Departamento de Imprensa e PropaGANda... à produÇÃO... de jornais cinematográficos, ... e os exibidores... donos dos cinemas é claro... preferiu cumprir a lei da obrigatoriedade... com os filmes produzidos... pelo próprio governo. ... o:: alguns cavadores conseguiram se transformar em funcionários públicos não é? melhor para eles... MAS::... a maior PARte da da profissão... ficou totalmente... éh marginalizada. ... a::... a frustraÇÃO... ah foi muito grande... ah:: indicativo disso é uma::... é uma:: vinGANça que foi imaginada pelo Joaquim Garnier (um tal) Joaquim Garnier... tinha se lançado também no curta-metragem. ... ele fazia um jornal cinematoGRÁfico... e na apresentaÇÃO... desse jornal cinematoGRÁfico... aparecia o próprio Garnier vestido de::... de bandeiRANte... e dizia assim com voz enérgica ''non DUcor... DUco''... ... ele chegou a prepaRAR... ele chegou a preparar... um FILme... não é? que seria assim um encerramento e tal da carreira dele e tal e que ele mandaria para... para a Censura FedeRAL... né?... em que aparecia então o bandeirante... hã como sempre e TAL mas em vez de non ducor duco né?... ele dizia ''senhores membros da censura vão A::''... e cheGOU a fazer o filme e tal... mas não teve coragem de mandar... naturalmente. ... (bom) durante a idade de OUro... do do curta-meTRAgem o filme de longa-metragem até certo ponto renasCEU... depois daquele colapso de trinta e quatro. ... São Paulo ficou auSENte. ... e os paulistas que ainda faziam alguma coisa... eram sempre... éh de acordo... ah:: em coprodução com o Rio de Janeiro. ... a LInha seGUIda... é aquela que tinha sido apontada por Coisas Nossas. ... mas com variantes. ... Oduvaldo Viana realiza Bonequinha de SEda... ... um filme musiCAL... mas com enredo não é? um enredo roMÂNtico... no gênero dos americanos... que estavam fazendo sucesso. ... os filmes que Humberto Mauro realiza para Cármen SANtos... apesar de impregNAdos pela... sua personaliDAde... éh também co/ hã:: contêm::... muitos (números) musiCAIS. ... a própria:: Cármen Santos CANta de vez em quando... alguns FAdos. ... o suCEsso de bilheteria e arTÍStico... de alguns desses filmes foi muito grande. ... MAS::... os que encarNAram realmente a esperança de desenvolvimento industriAL... foram os produzidos por Wallace DOWney... nosso conhecido de Coisas Nossas... de parceria agora... com Ademar Gonzaga. ... Alô Alô BraSIL... E... Alô Alô Carnaval... notadamente. ... nesses filmes aparecia Cármen Miranda. ... JÁ imensamente popuLAR... através dos discos... e do rádio. ... Francisco Silva Júnior::... que trabalhou Anos a fio para os americanos e sabia do que faLAva... escreveu na ocasião... ''Cármen Miranda... faria bonita figura em qualquer filme americano do mesmo gênero''. ... e na mesma ocasião um crítico Celestino Silveira comenta... ''a sorte desliza ao nosso lado três vezes por dia... ... o negócio é descobrir quando ela vai deslizando. ... agora está no Alhambra''... --era o cinema que estava passando um filme é/ de Cármen Miranda--. ... ''é segurá-la... antes que passe''. ... pois passou... e logo. ... a indústria americana importou... Cármen Miranda. ... mais ou menos::... na mesma ocasião em que ela parTIa... a revista Cinearte publicou uma notícia... a respeito de um bloco de minério de QUARtzo... um cristal de rocha... encontrado em Minas Gerais::... comprado por uma indústria ótica de Nova Iorque... ... os espe/ os especialistas em lentes:: hã cinematográficas... manifestaram um GRANde entusiASmo pela qualidade desse minério brasileiro... e o colunista da revista comenta com orgulho... ''um POUco de matéria-prima brasileira... para o... ah::/ para o cinema americano''. ... BEM... com o sinal com o cristal de ROcha... ou com Cármen Miranda... nós brasileiros cumPRÍamos::... o nosso longo desTIno... de país colonial. ... exportar matéria-PRIma... e importar::... produtos... manufaturados. ... Cármen Miranda partiu em mil novecentos e trinta e nove. ... estamos chegando ao fim do período histórico que nos foi proposto. ... mas antes da década de TRINta... se exaurir... aconteceu alguma coisa no cinema brasileiro... que terá importantes prolongamentos... nas duas décadas seguintes. ... ah pode servir como introdução ao assunto... uma passagem de uma entrevista da Época... do... ator Jaime Costa. ... ele diZIa... ''o nosso público... o cariOca principalmente... vê em tudo e antes de mais nada a parte humorística. ... e é por isso que eu PENso... que em matéria de ciNEma... devíamos explorar essa tendência. ... NAda de grandes emoções''. ... LOgo... a tendência em questão tomaria forma... num filme produzido em apenas dezoito dias. ... que foi um suCEsso... e cujo título MAIS uma vez... era todo um programa. ... Tererê... Não Resolve. ... o ator princiPAL era Mesquitinha. ... Grande Otelo estava surGINdo. ... eles logo... formarão uma dupla. ... nasce aSSIM... o GÊnero cinematográfico mais VIvo... que o nosso cinema conhecerá durante muito TEMpo... a chanchada. ... ANtes de se encerrar a década de TRINta... São Paulo sai um momento do torpor em que cinematograficamente se encontrava há vários anos. ... um grupo de fazendeiros ricos imagine... resolvem... produzir filmes. ... os cavadores envelhecidos se reaNImam... hã muito aparelhamento de priMEIra é comPRAdo... um estúdio impoNENte é levantado. --o prédio existe ainda até hoje lá perto... do Aeroporto--. ... o resultado de todo esforço... foi um único FILme... chamado... A Última Esperança. ... NEsse encontro de hoje... eu não me preocupei com a faceta propriamente esTÉtica do cinema brasileiro. ... se o fiZEsse... precisaria abordar longamente pelo menos a obra de Mário Peixoto e Humberto Mauro. ... sobretudo a do seGUNdo... ... pois Mário Peixoto permaneceu iLHAdo... no fenômeno singuLAR... que foi Limite. ... ao passo que Humberto Humberto Mauro realizou filmes durante todos esses anos. ... os seus FILmes... são incomparavelmente meLHOres... do que os outros. ... MAS::... ele permanece inteGRAdo nas tendências mais gerais do TEMpo. ... Lábios Sem Beijos:: ou Ganga BRUta... SÃO um prolongaMENto... e um aprofundaMENto... hã do que ele faZIa... durante a década de vinte em Cataguases. ... e Favela de Meus Amores::... ou Cidade-Mulher... hã constiTUI... uma:: expressão MUIto pessoAL... mas uma expreSSÃO... ah das alterações sofridas pelo cinema brasileiro... na segunda... PARte... dos anos trinta. ... resta talvez para concluIR... uma pequena aluSÃO... ao movimento de iDEias::... éh durante esse período. ... A cultura cinematográfica foi muito PObre durante a década de trinta. ... ela TInha tido um momento briLHANte... no fim... éh de vinte e nove... com o grupo de Otávio de FaRIa Plínio ( ) ROcha... em torno hã do Chaplin Clube... e da revista... A Fã. ... a cultura cinematográfica no Brasil no fundo hã só vai renasCER... no início da década de quarenta. ... hã::... é uma espécie de paRÊNtese em mil novecentos e trinta... mas em todo CAso... haVIa... alguma coisa. ... se manifesTAva... em:: revista e jornais. ... a poBREza do pensamento... Era::... era muito GRANde. ... em CineARte Cinearte tinha tido um papel importante na década anterior inclusive em matéria... éh de iDEias... houve uma espécie de definhaMENto... e::... hã se se acentuou MUIto:: uma:: um certo tipo de... conservadoRISmo também... éh que a revista... hã:: sempre tinha TIdo. ... hã talvez uma... ( ) leitura RÁpida e tal de uma dessas CRÔnicas em que surgem... algumas iDEIas cinematoGRÁficas... ah deem... uma indicaÇÃO. ... o:: articulista está comentando sobretudo... alguns filmes euroPEUS... hã feitos ultimamente... e ele:: contrapõe esses filmes europeus... aos filmes americanos... ah tradicionais. ... ele comenta... ''um ciNEma que ensina o FRAco a não respeitar o forte... o SERvo a não respeitar o patrão... que mostra caras sujas... barbas cresCIdas... aspecto sem higiene alguma... sordices... --sic--... e um realismo levado ao exTREmo... não é cinema''. ... ele imagina um casal de jovens:: que vão assistir um filme americano médio... ... veem lá um rapaz de cara limpa... bem barbeAdo... cabelo penteado... Ágil... BOM cavaleiro... ... e a MOça... boniTInha... corpo bem FEIto... ROSto MEIgo... cabelos moDERnos... aspecto todo fotogênico... ... depois há o CÔmico e o viLÃO... que também são higiÊnicos... que também são distintos... ... e aí então uma fazenda moDERna... fotoGÊnica... os subordiNAdos que se submetem aos seus superiores... com alegria e com satisfação... e um RItmo... que é o ritmo da vida de HOje... Ágil... LEve... moDERna... ... o parzinho que assistir o filme comentará que já viu aquilo vinte vezes. ... MAS::... sob seus corações que SOnham... não cairá... a peNUMbra... de uma brutalidade choCANte... de uma cara SUja... de um aspecto que tira qualquer parCEla de poesia e de encantamento. ... essa mociDAde... não POde aceitar essa arte... que ensina a reVOLta... a falta de higiene... a (luta)... e a eterna BRIga contra os que têm o direito de mandar::. ... agora ao LAdo de posições conservaDOras havia também posições progressistas. ... havia ideia de de:... de se criar no Brasil... um cinema::... um cinema nacionaLIS::ta... na linha (clementista) do começo da década de trinta né?? ... essas ideias surgiam sobretudo... no jornal O RadiCAL... do Rio de JaNEIro... ele não tive ocasião de fazer uma pesquisa... mais ampla. ... agora a primeira aMOStra... hã que eu enconTREI... é também é:: é desoladora. ... ah:: o articulista:: se leVANta CONtra... o cinema:: americano não é?... o que para mim (e) tal seria simPÁtico não é? ( )... MAS::... o argumento princiPAL:: (aí) é o seguinte... ... ''as muLHEres brasiLEIras... VEem cada vez mais crescer em torno de SI... o indiferentismo dos seus patrícios... sugestioNAdos pela beleza impeCÁvel... dos tipos estandardiZAdos... do ecrã... ianque''. ... de maneira que ATÉ... até segunda ORdem... a linha... ah nacionalista de iDEias do cinema brasileiro da década de trinta... hã também... não é muito (de estimulantes). ... MAS::... essas expressões de um pensamento medíocre... tanto a conservaDOra... ah quanto a OUtra... elas TInham em todo o caso o MÉrito... de se preocuPAR com o cinema brasileiro. ... a qualidade intelectuAL... das pessoas que começaram a se preocupar com a cultura cinematoGRÁfica... nos fins dos anos trinta começo dos quaRENtas... era talvez meLHOR... do que daquelas pessoas. ... mas em compensaÇÃO... esses NOvos reCRUtas da culTUra... só se preocuparam durante Anos a FIO... com o cinema estrangeiro. ... incluSIve... essa peSSOa... que passou a manhã... falando sobre o cinema brasileiro. ... muito obrigado pela atenção. ...