Inquérito SP_EF_153

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L1 : vamos entrar então no nosso assunto o cinema brasileiro... na década de trinta.

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L1 : o cinema brasileiro foi quase sempre... um cinema MARGINAL.

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L1 : o::... FIlme brasileiro... foi TRADICIONALmente considerado... pelo comércio cinematográfico... pelos exibidores pelos donos de filmes... o filme brasileiro foi considerado... um::... um peNEtra... um::... inTRUso... alguma coisa que apareCIa... para:: atrapalhar... algo que funciona::va direiti::nho... um negócio que funcionava bem... baseado na importação... de filmes estrangeiros.

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L1 : e nesse quadro... aos olhos do comércio cinematográfico... o cinema brasileiro... só aparecia para atrapalhar.

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L1 : isso quase sempre... que nós encontramos momentos no paSSAdo um passado às vezes muito longínquo em que isso não aconteCIa...

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L1 : se nós pegarmos... se nos quisermos encontrar... a::... a idade do ouro do cinema brasileiro... é incrível ( ) a gente i/ precisaria ir para antes de guerra de quatorze e dezoito.

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L1 : ENtre mil novecentos e OIto... e mil novecentos e DOze por exemplo... o cinema brasileiro teve uma florescência extraordinária e não era um marginal.

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L1 : isso porque... as pessoas que produziam esses filmes... Eram os donos do cinema.

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L1 : e como donos do cinema eles tinham... o maior interesse... em propagar... o seu produto.

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L1 : mas DESde que o cinema virou realmente inDÚStria... nos países adianTAdos... naturalmente que esse nosso cineminha... artesanal... foi liquidado.

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L1 : o Brasil era um país que importava tudo.

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L1 : e vocês sabem que o Brasil importava... sabe que até caixão de defunto o Brasil importava? hã??

L1 : não fabricava??

L1 : o Brasil importava paLIto...

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L1 : no começo do século hã??

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L1 : e se importava essas coisas então é evidente... que começou... a importar também divertimento... e começou também a importar FILmes.

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L1 : e os nossos filmezinhos feitos aqui... foram postos inteiramente de lado.

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L1 : mas continuou a existir...

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L1 : e isso isso é que é que é milagroso.

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L1 : o cinema brasileiro... nun::CA... nunca morreu.

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L1 : houve SEMPRE uma continuidade... éh marginalizado... ah completamente... com as maiores dificuldades mas o cinema sempre... sempre:: continuou a existir o cinema brasileiro.

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L1 : e no começo dessa década... que nós vamos abordar aqui... o cinema brasileiro estava exTREmamente vivo.

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L1 : o:: ah pareci::a... em mil novecentos e TRINta... no começo do do:: de mil novecentos e trinta parecia que o cinema brasileiro ia volTAR... àquela época... ah gloriosa de um passado... já longínquo.

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L1 : a explicação... ah para isso... ah::... é que no começo de trinta... o mercado... cinematográfico brasileiro... esse mercado baseado na importação de FILmes... na época em que (ela já soube dos) ameriCAnos... estava num completo CAos...

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L1 : um CAos provocado... pela revolução do cinema falado.

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L1 : essa coisa de (cinema) falado já tinha começado há mais tempo nos Estados Unidos...

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L1 : no fundo... esse processo... de revolução do cinema falado tinha começado nos Estados Unidos já há quatro ano an/ quatro ano antes... em mil novecentos e vinte e SEis...

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L1 : numa época mais ou menos em que o Washington Luís::... estava:: começando:: o seu governo.

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L1 : agora o processo nos Estados Unidos foi inicialmente len::to...

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L1 : porque a própria indústria cinema/ cinematográfica americana não acreditava... ah que o cinema falado... ah estivesse vindo realmente para... valer.

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L1 : o cinema falado começou... não porque tinha sido uma descoberta técnica... sensacional do momento...

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L1 : há muito TEMpo... que as companhias de eletriciDAde... já TInham... ah encontrado hã soluções... PARA sincronização... entre a imagem e o som.

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L1 : e ofereCIam... já há MUItos e muitos anos que ofereCIam... a/ essas essas paTENtes... para a indústria cinematográfica.

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L1 : ora a indústria não via o menor inteREsse... em alterar um status quo que estava funcionando bem... hã com uma invenção... que iria obrigar... o reaparelhamento de todos os cinemas... exisTENtes.

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L1 : se o cinema falado peneTROU... foi porque... uma companhia de terceira categoria... u::ma companhia do dos irmãos Warner... estava à BEIra da falência... era uma companhia que não tinha mais nada... a única coisa que eles tinham eram dois atores envelhecidos já sob o contrato...

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L1 : um deles era esse John Barrymore... que nós vimos outro di::a... no Grande Hotel às voltas com Greta Garbo coitado e::... o:: tinha o John Barrymore e tinha o cachorro ritmo de Rin-tin-tin... né??

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L1 : eram:: também já envelhecido não é?... e::ram as as duas ah os dois trunfos só dessa companhia Warner.

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L1 : a companhia Warner... em desespero... resolveu lançar a cartada do som.

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L1 : instalou algumas salas equipadas com aparelhamento... ah sonoro e fez um primeiro filme... éh sonoro com algumas falas Don Juan... justamente em que aparecia Barrymore e aparecia o cachorro... o sucesso do filme foi grande mas a indústria achou que era curiosidade...

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L1 : os Warner se entusiasmaram... fizeram O cantor de jazz... O cantor de jazz foi um sucesso enorme... na bilheteria quase que alcançou o recorde do momento que era o de Ben-Hur... o recorde de Ben-Hur com... (a) com... com Ramón Novarro... e::... diante disso... diante do sucesso do Cantor de jazz... a indústria viu que não que o cinema falado então era uma coisa que realmente tinha... agá/ a acabaria se impondo.

L1 : e começou então a se prepaRAR... mas lentamente... para adapTAR... todo aquele iMENso sistema cinematográfico... aos novos tempos do cinema fala/ falado.

L1 : agora eles foram obrigados a acelerar o processo.

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L1 : porQUE... os Warner começaram a fazer filmes sobre filmes.

L1 : cada com um sucesso cada vez maiOR.

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L1 : o:: ( )... hã:: em seguida:: Broadway melody éh coisas assim desta ordem... que tinham um sucesso gigantesco então... o a/ a indústria resolveu acelerar... a transformação.

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L1 : ah Isso já já já começou a provocar atrapalhaÇÕES... hã não não só no mercado interno mas sobretudo no mercado dos países menos desen/ desenvolvidos como o Brasil.

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L1 : em que a reaparelhagem de todos os cinemas tal era algo muito custoso... e muito complicado.

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L1 : as coisas ( ) estavam nesse PÉ... quando::... quando houve o crack de Wall Street... em novembro de vinte e nove.

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L1 : aí houve uma retração geral de todos os negócios né??

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L1 : os produtores cinematográficos então não penSAram outra coisa senão... em estimuLAR ao MÁximo o interesse que o público estava demonstrando pelo cinema falado.

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L1 : aí eles PERDEram... perderam de VISta... o problema dos mercados exteriores (e tal)... e transformaram RApidamente todo o cinema em cinema... falado.

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L1 : daí o CAOS... provocado aqui... hã no BraSIL...

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L1 : em que os cinema não esTAvam... aparelhados ou MUIto mal aparelhados coisas improvisadas... para o cinema falado.

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L1 : do começo::... houve uma curiosidade de PÚblico... mas logo o público se canSOU daquilo.

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L1 : porque é preciso lemBRAR... que naquele tempo não havia ainda letreiro sobreposto.

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L1 : e tamBÉM:: muito menos duBLAgem::.

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L1 : (sabe) que os os filmes falados... vinham para cá falados de vez em quando interromPIA o filme... tal para por os letreiros... no começo da fita punha um letreiro maior mais ou menos contando a hisTÓria ( ) de ir ao cinema... para ver fita numa língua que as pessoas... hã não entenDIam... o público começou... a se retrair.

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L1 : e essa então foi a grande CHANce que se abriu... PAra... o cinema brasileiro.

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L1 : o entusiasmo foi... enorme né??

L1 : um dos LÍderes... da época... que era::... que era Pedro LIma... hã escreve na ocasião...

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L1 : ''o cinema falado em língua estrangeira não precisa de nenhuma baRREIra entre nós''.

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L1 : que já às vezes nas campanhas dele ele fala é preciso fazer algumas barreiras alfandegárias ao cinema estrangeiro... não é possível e tal essa entrada maciça de filmes em detrimento... hã dos nossos né?.

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L1 : agora a respeito do cinema falado ele disse... ''o cinema falado em língua estrangeira não precisa de nenhuma barreira entre nós.

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L1 : ele cairá por si.

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L1 : repelido pelo público... repelido pelo público''.

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L1 : Pedro Lima enuMEra... os recursos... que as agências americanas têm lançado mão... para tornar mais aceitável os seus filmes.

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L1 : POR exemplo... colocando letreiros sobre as cenas.

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L1 : mas... Pedro conclui imperturbavelmente ''mas nada disso adianta''.

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L1 : e algum tempo depois ele escreve... ''a produção americana... que dominou o nosso mercado... atravessa uma crise SEM precedentes.

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L1 : repudiada... raramente tolerada... deixa lugar... a que possamos preencher... os seus claros''.

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L1 : e durante algum tempo... e até certo PONto... isso realmente aconteceu.

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L1 : a produção... de::...

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L1 : houve uma animação enorme... hã no cinema brasileiro... a:: produção cresceu MUIto... ah::... atingiu ÍNdices absolutamente inéditos em toda ( ) a história hã do nosso:: cinema.

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L1 : é melhor do que isso muitos desses filmes tiveram um GRANde êxito... éh de bilheteria.

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L1 : ah::... durante esses dos dois primeiros anos da década de trinta e trinta at/ a trinta e um... foram produzidos... éh bem mais de trinta filmes... éh de longa metragem... éh brasileiros.

L1 : que era uma u::ma cifra fantástica... éh na época.

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L1 : ah:: filmes mudos parcialmente sonorizados hã com alguns CANtos alguns diálogos e tal... uma variedade... hã muito grande.

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L1 : agora... a:: a produção do cinema brasileiro... hã que num passado:: recente... estava um pouco dissemiNA::da... éh pelo Brasil TOdo... né?... filmava-se em São PAUlo ou:: com aquelas dificuldades todas a que eu aludi mas filmava-se em São Paulo n/ no Rio... mas também em Porto Alegre... éh em Recife Belo Horizonte... em cidades do interior Campinas teve um mo/ um momento interessante de cinema cidades no interior de Minas Gerais... Ouro Fino Guaranésia Cataguases produziam filmes.

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L1 : o cinema... esse novo cinema sonorizado... naturalmente era mais complexo e mais complicado... e::... há produção então (a gente) se restringiu-se... ao Rio... e a... São Paulo.

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L1 : mas nesses dois... éh grandes centros... era::... era realmente brilhante nesse período.

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L1 : fora do Rio e de São Paulo a única cidade que tentou ainda fazer... cinema nesse período... foi Belo Horizonte.

L1 : Belo Horizonte... eles anunciaram um filme... um filme que eles anunciavam como exTREmamente assim moDERno e tal... mas cujo título é todo um:: programa...

L1 : imagine que o filme se chamava... O Calvário de Dolores... (né?)?

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L1 : BOM... esses trinta e tantos filmes do período... eles são de uma maneira geral... e apesar da novidade da da sonorizaÇÃO... e de alguns efei/ de alguns:: diÁlogos e de alguns CANtos... eles são um prolongamento bastante harmonioso... hã duma situação... hã:: mais modesta que existia anteriormente.

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L1 : ah globalmente as pessoas que permanecem em CAMpo... éh que continuam que o que que FAzem cinema... éh são as mesmas... do período anterior.

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L1 : naturalmente muito mais... animadas e fazendo muito mais coisas.

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L1 : hã no Rio de Janeiro a figura mais importante é Ademar Gonzaga... que está montando um estúdio... e que já trouxe um cineasta de Cataguases... Humberto Mauro... hã que/ cujo nome estava... hã ficando muito conhecido.

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L1 : a outra figura de relevo do cinema carioca é:: Cármen Santos.

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L1 : a singularidade dessas duas pessoas... no quadro de peNÚ::ria do cinema brasileiro... éh sempre foi muito GRANde.

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L1 : porque os nossos cinegrafistas os nossos cineastas... eram uma gente... muito pobre... éh que vivia nas maiores dificulDAdes... era os cavadores::.

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L1 : esse nome cavadores que foi::... que era lançado assim como um inSULto né? pela... pelo comércio cinematográfico estabiliZAdo... né? e vinculado ao estrangeiro CONtra... os cinegrafistas... hã brasiLEIros... esse nome CAvadores acabou sendo realmente um nome aceito... ah por eles próprios não teve... mais nada éh de insultuOso... e essa... expressão cavadores ah que eu vou usar... aqui o tempo TOdo tem uma significação... hã TÉcnica.

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L1 : (os) cavadores eram os homens que tentavam fazer cinema... hã fora dos sistemas... éh estabelecidos.

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L1 : o::... Ademar Gonzaga... e Cármen Santos se desTAcam desses cavadores.

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L1 : porque... éh eles tinham uma::... uma retaguarda capitalista.

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L1 : a retaguarda capitalista do::... do Ademar Gonzaga era o pai dele.

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L1 : era o pai dele que era o concessionário da Loteria Federal.

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L1 : que é uma coisa... bastante importante.

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L1 : e de Cármen Santos era o marido.

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L1 : era o marido tal que era o... um GRANde comerciante... hã carioca (né?)?

L1 : de forma que esse... essas duas peSSOas... (então) construíram estúdios compravam... aparelhamentos e tal... e tinham naturalmente... ambições muito maiores do que... a dos:: a dos cavadores.

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L1 : o::... e ao lado então dos ricos Ademar Gonzaga e Cármen Santos então viCEja... né?... essa... essa esse pequeno MUNdo de técnicos de cinegrafia em laboratório... artesãos huMILdes e VIvos...

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L1 : hã frequentemente aventuREIros.

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L1 : ah como aliás os diretores e artistas improvisados... (e) que a eles se LIgam.

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L1 : o setor cariOca... né? desse quadro:: moDESto... hã mais:: humanamente muito RIco... hã dos chamados... hã cavaDOres... esse quadro ao que se deve a continuidade do... hã do cinema brasileiro... ainda não foi devidamente pesquisada.

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L1 : em compensaÇÃO... a fisionomia daQUEles... éh:: dos correspondentes em São PAUlo dos cavadores... ah paulistas... ESTÁ... admiravelmente delineAda... graças a um livro noTÁvel...

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L1 : CRÔnica... éh do cinema paulistano de Maria Rita de Elsa Galvão.

L1 : um livro infelizmente... ainda inédito.

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L1 : esses imiGRANtes... ou filho de imigrantes... os Rossi... éh CaRRAri... TÁRtari... (Madrigando) Matrângula (Tartaglioni)... os del Picchia José e Vitor... que aparecem tão VIvos no livro de Maria Rita... eles estão quase todos presentes::... nesse:: e ativos né? nesse início da década de trinta.

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L1 : ALIÁS nesse período... o fê/ esse fenômeno::... Ademar Gonzaga e Cármen Santos do Rio TENde... a se repetir em São PAUlo.

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L1 : aparece o FIlho de um negociante português:: RIco... hã Joaquim Garnier... éh que se mete em ciNEma... e aparece também uma beLÍssima senhora.

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L1 : um belíssima senhora... éh que era A produtora... a aTRIZ... e diretora... hã dos seus próprios FILmes.

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L1 : a pesquisa ainda não deslindou.

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L1 : a idá/ a identidade eXAta... dessa senhora tal cujas fotografias... hã realmente causam uma impressão grande.

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L1 : ela aliás hesitou um pouco na esCOlha... hã do nome arTÍStico.

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L1 : ela foi sucessivamente JaraMAR... Cléo de Lucena... Cléo Verbera... FInalmente... ela entrou na história do nosso cinema... com o nome... de... Cléo de Verberena.

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L1 : nós temos assim algumas indicações sobre as pessoas que faziam cinema naquele momento.

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L1 : Outros nomes poderão ser evocados eventualmente... éh se for o caso.

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L1 : e o que dizer... o dos FILmes de longa metragem produzidos hã nesse período.

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L1 : um primeiro eXAme em conjunto permite constaTAR... a reafirmaÇÃO... hã de muitas das tendências mais interessantes... hã do período... anterior.

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L1 : a linha liteRÁria... e hisTÓrica de cinema... estão agora representadas por títulos como Iracema... ou Os Caçadores de Diamantes.

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L1 : a linha policial e caipira... por:: o Mistério do Dominó Preto... e por Acabaram-se os Otários.

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L1 : a linha religiOsa... e a erótica... respi/ respectivamente com Rosas de Nossa Senhora... e Messalina.

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L1 : eventualmente eventualmente a as li/ a linha erótica... e a religiosa hã se CRUzam...

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L1 : como no caso de Anchieta... Entre o Amor e a Religião... tá?.

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L1 : um filme que também... foi feito.

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L1 : hã dos VÁrios filmes patrióticos nós podemos destacar Alvorada de Glória.

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L1 : eu penso que... esses filmes a que eu aluDI representam bem... a MÉdia da produção cinematográfica no período.

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L1 : eu deixei propositalmente de LAdo... obras excepcionais:: da época como Limite... éh de Mário Peixoto... ou os filmes de Humberto Mauro.

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L1 : eventualmente nós voltaremos... a tratar... dessas figuras artísticas realmente... eminentes.

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L1 : no momento... o que talvez seja mais Útil... é comentar rapid/ rapidamente dois ou três::... desses filmes médios... (ou) comuns... numa tentativa de avaliar... o que é que eles significavam.

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L1 : tomemos inicialmente o filme caipira Acabaram-se os Otários.

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L1 : bom é um filme... que pertence... a uma das MAIS eminentes tradições hã do cinema brasileiro.

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L1 : TRAdição aliás que o cinema brasileiro tinha herDAdo... hã do teatro popular... e da literatura.

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L1 : hã:: são filmes são filmes que contam a hisTÓria... a história de um caipira... de um caipira que chega à cidade...

L1 : que chega à grande cidade... e das coisas que acontecem com ele... né?.

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L1 : o priMEIro filme de enredo brasileiro E o Anastácio Chegou à Cidade... de mil novecentos e oito né?... FOI o iniciador... dessa... linha.

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L1 : o filme... éh de::... éh de:: de caipira.

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L1 : nesse filme Acabaram-se os Otários... ah:: que esse e outros tal foram interpretados por:: um:: arTISta caiPIra de teAtro... hã Genésio Arruda... há muito... há muito da tradição anTIga... né?... aquelas anedotas... hã:: coligidas... encontradas nos livros de Cornélio PIres... ou as anedotas populares MAIS anTI::gas MAIS VElhas... como o caipira que compra o bon::de que em geral é atribu/ era atribuído ao mineiro hã tudo isso aparece... em Acabaram-se... os Otários.

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L1 : agora ao mesmo tempo apareciam as canções.

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L1 : (aspareciam) apareciam as canções... canções burlescas... éh e satíricas... éh cantadas... hã por... éh Genésio... Arruda.

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L1 : o Êxito... popular e de bilheteria... hã desses filmes tal foi... imenso.

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L1 : tomemos agora... o filme policial.

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L1 : O Mistério do Dominó Preto.

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L1 : que foi... produzido dirigido e interpretado... precisamente por nossa conhecida Cléo de Verberena.

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L1 : bom tamBÉM esse filme pertence a uma velha tradição.

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L1 : a tradição do do dos filmes de CRIme... aqui no BraSIL... também é muita anTIga.

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L1 : SÓ que em geral... eram crimes reais.

L1 : crimes reais que tinham acontecido... que tinham chamado muita atenção... hã do... da ô/ da opinião pública... e que os cavadores punham... no cinema... né??

L1 : os grandes crimes do Rio de Janeiro os crimes os grandes crimes do (interior) de São PAUlo o crime de CraVInhos por exemplo que... éh que ficou... éh cego e todos eles entraram... para o rê/ para os crimes da MAla os crimes da MAla tal TOdos entraram... para o repertório... hã cinematográfico.

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L1 : ora esses filmes... eram filmes que no fundo contavam uma história que todo mundo conheCIa...

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L1 : hã (meio) que era FÁcil... era fácil dize/... éh de um enREdo todo mundo já saBIa...

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L1 : ao passo que os filmes policiais de de Cléo de Verberena NÃO.

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L1 : eram uma ficção.

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L1 : e uma ficção... éh bastante compliCAda.

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L1 : hã a coisa tinha tinha a estrutura do filme tal tinha... uma certa complexidade...

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L1 : para dar uma ideia vamos aludir rapidamente ao enredo... o enredo d'O Mistério... do Dominó Preto.

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L1 : eram dois estudantes que moravam no mesmo quarto...

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L1 : durante o carnaval...

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L1 : um rapaz chega do baile... abriu o armário... e encontra uma mulher fantasiada de dominó preto... morta...

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L1 : bem... o rapaz se convence... e nós público também ficamos convenCIdos... de que foi o amigo... que... matou... a mulher.

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L1 : essa primeira etapa... o amigo matou a mulher.

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L1 : numa segunda eTApa... os dois amigos e NÓS::... ficamos convencidos de que o assassino é um tal tenente.

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L1 : NUma terCEIra eTApa... os dois rapazes... o tenente... e nós::... ficamos convencidos::... de que quem matou... a dominó... foi a noiva do tenente.

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L1 : e finalmente na conclusão... éh se esclaREce... QUE o verdadeiro assassino... É... o irmão... da noiva... do:: tenente.

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L1 : pois bem... a personagem principal... encarnada por Cléo de Verberena... ERA... a mulher assassiNAda.

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L1 : e que está na FIta o tempo todo.

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L1 : muito viva bem viva... nas::... REminisCÊNcias... de todas as pessoas que tiveram contato com ela... e que foram sucessivamente acusados... de serem... os seus assassinos.

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L1 : então quando nós sabemos que esse filme... TInha uma certa eficácia... hã narraTIva... é uma boa idic/ indicação... né? de um progresso.

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L1 : de um progresso tal da linguagem... hã do nosso cinema...

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L1 : porque:: para a época... tal era uma história bastante... hã complexa.

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L1 : vejamos agora um filme patriÓtico.

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L1 : Alvorada de Glória.

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L1 : uma cópia desse filme foi localizada ultimamente...

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L1 : e eu tive oportunidade de examinar alguns rolos...

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L1 : e eu FU::i levado de novo a repensar num problema que:: que me tem interessado muito.

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L1 : é o seguinte... Alvorada de Glória na Época foi considerado como um filme ruIM.

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L1 : e:: a minha experiÊNcia... MOStra... que::... e eu realmente me interesso cada vez MAIS por esses filmes que Eram ruins... (né?)...

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L1 : a minha disposição é acentuAR o::... o passado do verbo.

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L1 : realmente eles Eram ruins... mas hoje não são mais.

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L1 : eles se se tornaram extraordinariamente interessantes.

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L1 : e não é só devido ao valor documenTAL... hã que qualquer filme adquire com o passar do tempo.

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L1 : ah pelo que eu pude ver o interesse de Alvorada da glória não se liMIta... (apenas) a de documentar o que era:: a pisCIna do:: Clube Atlético Paulistano... em mil novecentos e trinta... ou::... a::s RUínas provocadas em São Paulo... hã pelo bombardeio da cidade... hã po:::r... hã Artur Bernardes...

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L1 : há no filme... uma::... uma estilização inGÊnua... hã das camadas superiores... hã da socieDAde... e uma::... e uma viSÃO do amo::r éh:: do heroí::smo... de uma série assim éh de sentimentos básicos... éh que LANçam realmente... uma luz... hã sobre alguns aspectos... da nossa:: da nossa cultura.

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L1 : eu estou convencido em suma... que ver::... HOje Alvorada de Glória... é para nós brasileiros::... uma experiência intelectual muito mais estimulante... do que ver por exemplo:: Mata HAri.

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L1 : Mata Hari tal que que passou... hã pã/... (TÁ) reprisada... outro dia.

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L1 : hã::... alguns elementos exTERnos hã desses velhos FILmes... hã possuem aspectos também de um::... um pitoRESco... que é revelador de de nossos costumes.

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L1 : ALvorada de glória por exemplo foi feita... PElos irmãos del Picchia.

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L1 : VItor e José.

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L1 : BOM um membro importante da família... já ERA Menotti del Picchia... naquele tempo.

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L1 : e::... Menotti às vezes colaborava nos empreendimentos cinematográficos dos::... dos seus familiares.

L1 : parece que era um irmão... e um sobrinho.

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L1 : mas SEM que o seu nome... éh cheio de respeitabilidade aparecesse nos letreiros né??

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L1 : mesmo porque... os del Picchia faziam todo os GÊneros cinematoGRÁficos né?.

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L1 : inclusive... hã os eRÓticos né??

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L1 : o::... o::...

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L1 : AGORA EM Alvorada de Glória... o nome de Menotti del PIcchia... aparece com muita eviDÊNcia...

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L1 : como um dos responsáveis pela fita.

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L1 : O FILme... em SI na época não contribuiria NAda... PARA o prestígio intelectual... ou artístico de de Menotti.

L1 : MAS... mas era um FILme... que glorifiCAva a revolução de mil novecentos e trinta vitoriOsa.

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L1 : E o Menotti TInha... o maior interesse em vincuLAR... o seu nome a um empreendimento dessa na/ natureza.

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L1 : no prólogo do fi/ do filme lia-se...

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L1 : ''numa luta entre irmãos::... não há vencedores nem vencidos''.

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L1 : o interesse de Menotti em fazer vingar essa FÓRmula... era tanto maiOr... que no episódio da revolução de TRINta... ele esTAva na categoria dos venCIdos... né??

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L1 : em SUma... uma das funções:: hã:: paralelas de Alvorada de Glória... foi faciliTAR... a adeSÃO... de Menotti del Picchia... ao novo governo.

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L1 : é sabido que:: Menotti del Picchia... como outros... hã (hô/) nomes emiNENtes da nossa história liteRÁria como Cassiano RiCARdo... NUNca conseguiram ser contra nenhum governo... né??

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L1 : hã basTAva:: ser governo... hã que eles:: hã:: estavam a favor.

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L1 : NÓS JÁ nos acostumamos com isso não é? já houve tanto governo não é??

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L1 : mas:: mas na ocasião tal isso causava... uma certa::... uma certa espécie... e sobretudo essa FORma... de manifestar... a sua adesão... através de um filme.

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L1 : o que também é uma indicação... da:: imporTÂNcia... hã que... o filme brasileiro... tá/ estava adquirindo... na vida... DA comunidade.

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L1 : o filme MAIS significativo desse período... foi porém Cousas Nossas.

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L1 : COUsas nossas foi o mais significativo porque não era MAIS um filme vinculado... ao que se fazia anteriormente...

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L1 : mas era uma fita que... aponTAva... uma direção... inteiramente... nova.

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L1 : o:: Coisas Nossas foi singuLAR a parTIR... pelos NOmes... éh que:: responsáveis tal pela sua... faTUra.

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L1 : o produTOR... foi Alberto Byington Júnior.

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L1 : ele fazia parte de uma família de industriais e negociantes muito importante em São Paulo.

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L1 : a atividade dos Byington... abarcava aparelharê::/ aparelhagem elétrica... e foi com um espírito de empreSÁrio... e não::... como um dileTANte como tinha sido o caso do::... do filho do portuGUÊS... ah Garnier... foi com espírito de::... de de empreSÁrio né? que os Byington se interessaram... hã:: pelo cinema falado.

L1 : ...

L1 : o realizador... o diretor de Coisas Nossas foi um ameriCAno...

L1 : ...

L1 : Wallace Downey.

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L1 : que tinha um espírito muito aventuREIro já tinha feito muita coisa na VIda... inclusi::ve conquistado posição de desTAque... na fábrica de discos CoLÚMbia.

L1 : ...

L1 : o apareciMENto... depois de TANtos:: cavadores moDEStos::... éh de origem euroPEIa... de um... cavador:: norte-ameriCAno... não é?... é mais uma::... uma:: uma indicaÇÃO... é quase que um:: SÍMbolo... hã dos novos TEMpos:: em que estava entrando... o cinema... brasileiro.

L1 : ...

L1 : Coisas Nossas foi a primeira tentativa de fazer o cinema brasileiro envereDAR... na direção dos filmes musicais americanos... que esTAvam fazendo muito sucesso.

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L1 : mas era um filme muito brasileiro.

L1 : ...

L1 : muito pauLISta mesmo.

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L1 : o:: o título foi tirado de um samba de Noel Rosa... hoje é um CLÁssico né?...

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L1 : o::... a SOM/ a:: a SOMbra... a prontidão e outras bossas... são nossas coisas são coisas nossas né??

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L1 : daí... veio... o título tal do do de/ desse samba que era cantado... no filme.

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L1 : aGOra... a FIta apresenTAva... éh desde ParaguaÇU... que era um célebre cantor... cantor de bem-te-VI... celebérrimo... em São PAUlo... veteRAno das serenatas boêmias... e dos serões:: familiAres... hã paulisTAnos...

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L1 : apresentava desde Paraguaçu até... Zezé Lara... ou Alzirinha CaMARgo... cujos nomes estavam sendo popularizados... pela Rádio Educadora Paulista.

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L1 : havia também música FIna... éh como como se diZIa...

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L1 : e um JOvem... um jovem:: avançado cantava Singing In The Rain... debaixo de um chuveiro.

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L1 : o Procópio Ferreira... éh dizia um monólogo... e a personalidade do PRÓlogo que fazia um discurso inicial... era Guilherme de Almeida.

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L1 : Coisas Nossas era uma fita de longa metragem mas não tinha enredo...

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L1 : era uma sucessão de números assim artísticos... e com um es/:: um ePÍlogo... em estilo assim de grand finale cinematográfico.

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L1 : mostrando a granDEza e o dinaMISmo de São Paulo.

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L1 : as iMAgens dos edifícios maiOres que existiam na Época... eram sobrePOStas... umas umas às outras... a fim de darem a impressão... de::... de arranha-céus... né? novaiorquinos...

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L1 : e:: a montagem RÁpida... de de CEnas com transeUNtes... e automóveis... e que eram projeTAdas aliás em ritmo aceleRAdo... hã procuravam sugerir um trânsito infernal.

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L1 : em SUma na::... na na São Paulo ainda pacata do início da década de TRINta... essa conclusão de Coisas Nossas... é um bom eXEMplo não é?... éh da TOla... aspiração paulista né?... é por isso que está... aí.

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L1 : Coisas Nossas passou PRAticamente em todas as grandes cidades brasileiras... que já possuíam salas aparelhadas... e foi um triUNfo.

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L1 : NUNca um filme brasileiro tinha dado tanto dinheiro.

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L1 : (hum então) o entusiASmo contagiou... MUItas áreas.

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L1 : a grande figura do nosso teatro de reVISta... Margarida MAX... preparou-se tal para... para fazer cinema.

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L1 : Raul Roulien... ( ) ator liGEIro... e cantor de TANgos... também.

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L1 : assim como atores de grande presTÍgio Leopoldo Fróes... hã:: Procópio Ferreira.

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L1 : a:: personalidade mais VIva do nosso teatro na época... Oduvaldo ViAna... partiu para a AMÉrica... a fim de se documentar tecnicamente sobre o cinema falado.

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L1 : os Ecos dessa animaÇÃO... CHEGAram aos brasiLEiros... que estavam no exteriOR::... tentando fazer alguma coisa ou faZENdo... hã:: alguma coisa ligada ao cinema.

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L1 : Olinto GuiLHERme por exemplo que tinha... GAnho um PRÊmio... (num::) concurso da Fox tal para ir... para Hollywood... éh se prepara para voltar para o Brasil onde ele pretende filmar... Os Sertões de Euclides da Cunha.

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L1 : Alberto CavalCANte com o nome já feito no... NO cinema francês... elabora grandes planos para o BraSIL.

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L1 : Eduardo Alvim Correia... um::... um curioso... pinTOR brasileiro... que está sendo agora redesgu/ redescoBERto... e que particiPOU... hã do cinema francês com o nome de Jean Milva... volta ao BraSIL... também:: depois de não sei quantos Anos... atraído pelas notícias.

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L1 : COrre até a notícia em São Paulo... de que Amadorzinho da Cunha Bueno... da sociedade paulista vai se dedicar ao cinema.

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L1 : e ele SENte a necessidade de desmentir o boAto... na seção livre do Estado de São Paulo.

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L1 : mas toda essa eufoRIa... estava com os dias contados.

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L1 : a TÉcnica de condensação dos diÁlogos e letreiros sobrePOStos fez proGREssos... e CONtra as expectaTIvas dos especiaLIStas da indústria cinematográfica norte-americana... os PÚblicos latino-americanos... inclusive o brasileiro... foram os priMEIros a se acostumar::... com a novidade.

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L1 : tornaram-se inclusive desneceSSÁrias... as versões em espaNHOL às vezes em português... que os americanos... esTAvam começando a fabricar.

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L1 : ultrapaSSAdo... esse CAos comerciAL... que tinha sido tão afliTIvo para os ameriCAnos... e tão animaDOR para nós... voltou a reinar a ORdem... e nosso pergado/ em nosso mercado cinematográfico.

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L1 : isto É... os nossos filmes foram de NOvo::... exPULsos... das telas de nossos cinemas.

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L1 : ah:: durante::...

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L1 : logo não se produz mais NAda em São Paulo... e MUIto pouco no Rio... em matéria de longa metragem.

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L1 : EM:: mil novecentos e trinta e QUAtro... nenhum filme longo... é produzido.

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L1 : CUriosamente... é nesse Ano... que os mineiros conseguem depois de Anos de esFORços... compleTAR... O Calvário de Dolores.

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L1 : apesar das condições criAdas dessas condições desfavoráveis... alguns daqueles homens com aspirações ambiciOsas continuaram lutando.

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L1 : SEM falar dos cavadores tal para os quais... as dificuldades tal não eram novidade.

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L1 : em São Paulo durante algum tempo o Alberto Byington aInda continuou... hã:: prô/ ah produzindo... E no Rio Ademar Gonzaga SEMpre.

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L1 : esse é um nome realmente central... da história do cinema brasileiro.

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L1 : os cavadores modestos voltaram... às suas cavações.

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L1 : um momento muito bom para as cavações foi a revolução de trinta e dois::.

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L1 : permitiu MUI::to muito trabalho... ah para os cavadores tanto os cavadores do lado de lá... quanto os do lado de cá.

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L1 : ah:: depois::... depois de de da revolu/ da revolução de trinta e dois... a GRANde cavação foi o integraLISmo.

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L1 : Plínio Salgado levava a SÉrio o cinema como instrumento de propaGANda... e foram MUIto numerosos... os cinegrafistas da velha guarda... que viveram momentos de conforto em suas vidas atribuladas... graças às encomendas... dos integralistas.

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L1 : nós vamos voltar... às coisas... mais sérias.

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L1 : o período de animaÇÃO... fez com QUE aumenTAsse CONsideravelmente o número de pessoas interessadas em cinema brasileiro.

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L1 : é bom:: recordar:: a vitalidade:: que conheceu:: no BraSIL... posteriOR:: à revolução de TRINta... o espírito associaTIvo...

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L1 : no campo que nos inteREssa... hã surGIram... ah:: a primeira associação de produtores cinematoGRÁficos... o primeiro sindicato de técnicos de cinema... FOram organizadas convenÇÕES... e manifestações de classe... junto a Getúlio Vargas.

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L1 : também no momento estava no AR... a iDEia... da importância do cinema para a educaÇÃO.

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L1 : GRAças às campanhas reiteradas de... FERnando AzeVEdo Anísio TeiXEIra... Lourenço Filho Roquete PINto Mário BEring... e Canuto Mendes de Almeida.

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L1 : o governo acabou nomeando uma comissão para tratar do assunto.

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L1 : mas aconteceu algo que depois se repetiria muitas VEzes.

L1 : até aos nossos dias

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L1 : em vez de cuidar do ciNEma brasileiro... FOram abordados... os problemas da CLAsse cinematográfica brasileira...

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L1 : num sentido AMplo.

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L1 : e que abrangia toda gente que no Brasil tinha sua atividade... ligada ao cinema.

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L1 : isto é em primeiro lugar... o setor do coMÉRcio cinematográfico.

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L1 : TOtalmente SUbordinado... aos interesses da indústria americana de cinema.

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L1 : a comissão eram um:: SAco de (GAtos)... comerciantes de cinema produtores... educadores... (hã) jornalistas...

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L1 : os comerciantes NEM precisaram se preocupar muito... a causa deles::... e dos americanos... foi admiravelmente defendida pelos intelectuAis... e com a maior sinceriDAde aliás sem::... sem o menor:: inteREsse... éh subalTERno...

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L1 : o LÍder desses intelectuais era um homem... um homem inclusive muito intereSSANte chamado... Mário BEring... GRÃO-mestre DA... da maçonaria... brasileira... um liberal conVIcto não é? inclusive... em matéria de::... de:: ecoNÔmica... era contra TOda e qualquer baRREIra... alfandegária tal escreveu a vida toda... sobre O cinema sempre... defendendo::... o::... esse ponto de vista... era um homem honRAdo né? e que passou a vida... hã trabalhando de GRAça... né? hã PAra os americanos... ah no fundo.

L1 : as ideiAS de Bering... hã domiNAram... a:: a comiSSÃO... e o governo acabou aceiTANdo todas as sugesTÕES da comissão.

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L1 : as sugestões eram... três.

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L1 : o governo prometeu para os comerciantes a diminuição em seSSENta por cento das taxas que incidiam... sobre os filmes importados.

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L1 : PAra os produtores foi feita a promessa de uma lei obrigando os cinemas a passarem um complemento nacional... curto...

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L1 : e para os educadores o governo prometeu... que iria cuidar::... de cinema educativo.

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L1 : A promessa para os comerciANtes... foi:: cum/ executada imediaTAmente.

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L1 : e é curioso então ainda MAIS... a entrada em nosso mercado... do produto... hã norte-americano.

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L1 : as outras promessas demoraram MAS acabaram sendo efetivadas.

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L1 : o comércio cinematográfico aliás luTOU o quanto pôde CONtra:: a obrigatorieDAde de um complemento brasileiro.

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L1 : os exibidores não queriam abrir MÃO... dos jorNAIS cinematográficos ameriCAnos... que eram recebidos de GRAça... como BRINde não é? acompanhando... os filmes de longa-metragem... importados.

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L1 : a lei do curta-metragem... era pouquíssima coisa.

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L1 : mas::... a situação do cinema era TÃO difícil... que ela foi recebida com alegria.

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L1 : hã POde-se dizer que com ela... a:: cavaÇÃO... foi::... institucionaliZAda.

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L1 : e as próprias figuras MAIS ambiciOsas Byington GonZAga... hã Cármen SANto... se dedicaram com aFINco ao filme curto.

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L1 : jornais documenTÁrios canções de Vicente CelesTIno... hã:: da dupla Jararaca e RaTInho... éh graças do Procópio FeRREIra... e et cetera.

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L1 : talvez seja diFÍcil... para o espectador de hoje... escarmenTAdo por Jean Manzon... e Primo CarboNAri... ter simpaTIa pela LEI de obrigatoriedade... do complemento nacional.

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L1 : eu quero salientar poRÉM... uma das consequências que ela teve na Época.

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L1 : que FOI... a de reveLAR o BraSIL... ao público dos cinemas das grandes cidades.

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L1 : os cinegrafistas::... em geral... os cavadores... não TInham a menor preocupação sociAL... e muito menos... uma intenção poLÊmica... qualquer...

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L1 : mas eles filMAvam enormemente pelo Brasil afora.

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L1 : e as iMAgens que chegavam às telas... eram testeMUnhas... da miSÉria... do povo brasileiro.

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L1 : os jornais cariocas registram... com extraordinária frequência... A:: estupefacÇÃO... cauSAda... por esses FILmes.

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L1 : me impressionou notadaMENte... uma::... uma SÉrie de arTIgos... do:: historiador e sociólogo Oliveira Viana... para o Jornal do Comércio.

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L1 : o intelectuAL... conservador que ele ERA... FIca... esTARRECIdo com o que vê... e CLAma aos céus... para para que se faça... alguma coisa... para que se TOme... alguma providência.

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L1 : um dos jornalistas da Época... que era um um daqueles inimigos ferrenhos de qualquer restrição... à importação de filmes... EScreveu que::... ''os filmes americanos já fizeram muito pelo Brasil.

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L1 : levaram a civilização... aos nossos sertões''.

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L1 : nós poderíamos dizer HOje... que:: a grande COUsa... que os curtas-metragens fiZEram... foi o leVAR foi levar o serTÃO... à NOssa... civilização.

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L1 : MAS::... os bons TEMpos dos curtas-metragens também estavam contados...

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L1 : esses bons tempos foram tão CURtos quanto os bons tempos... do longa-metragem.

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L1 : chegou o Estado Novo...

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L1 : houve o golpe né? iss/ e e foi instalado o Estado Novo...

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L1 : não SÓ... a cenSUra tornou-se muito restriTIva... mas o governo... lançou-se... através do DIP do famoso DIP o Departamento de Imprensa e PropaGANda... à produÇÃO... de jornais cinematográficos,

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L1 : e os exibidores... donos dos cinemas é claro... preferiu cumprir a lei da obrigatoriedade... com os filmes produzidos... pelo próprio governo.

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L1 : o:: alguns cavadores conseguiram se transformar em funcionários públicos não é? melhor para eles... MAS::... a maior PARte da da profissão... ficou totalmente... éh marginalizada.

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L1 : a::... a frustraÇÃO... ah foi muito grande... ah:: indicativo disso é uma::... é uma:: vinGANça que foi imaginada pelo Joaquim Garnier (um tal) Joaquim Garnier... tinha se lançado também no curta-metragem.

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L1 : ele fazia um jornal cinematoGRÁfico... e na apresentaÇÃO... desse jornal cinematoGRÁfico... aparecia o próprio Garnier vestido de::... de bandeiRANte... e dizia assim com voz enérgica ''non DUcor... DUco''...

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L1 : ele chegou a prepaRAR... ele chegou a preparar... um FILme... não é? que seria assim um encerramento e tal da carreira dele e tal e que ele mandaria para... para a Censura FedeRAL... né?... em que aparecia então o bandeirante... hã como sempre e TAL mas em vez de non ducor duco né?... ele dizia ''senhores membros da censura vão A::''... e cheGOU a fazer o filme e tal... mas não teve coragem de mandar... naturalmente.

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L1 : (bom) durante a idade de OUro... do do curta-meTRAgem o filme de longa-metragem até certo ponto renasCEU... depois daquele colapso de trinta e quatro.

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L1 : São Paulo ficou auSENte.

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L1 : e os paulistas que ainda faziam alguma coisa... eram sempre... éh de acordo... ah:: em coprodução com o Rio de Janeiro.

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L1 : a LInha seGUIda... é aquela que tinha sido apontada por Coisas Nossas.

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L1 : mas com variantes.

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L1 : Oduvaldo Viana realiza Bonequinha de SEda...

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L1 : um filme musiCAL... mas com enredo não é? um enredo roMÂNtico... no gênero dos americanos... que estavam fazendo sucesso.

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L1 : os filmes que Humberto Mauro realiza para Cármen SANtos... apesar de impregNAdos pela... sua personaliDAde... éh também co/ hã:: contêm::... muitos (números) musiCAIS.

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L1 : a própria:: Cármen Santos CANta de vez em quando... alguns FAdos.

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L1 : o suCEsso de bilheteria e arTÍStico... de alguns desses filmes foi muito grande.

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L1 : MAS::... os que encarNAram realmente a esperança de desenvolvimento industriAL... foram os produzidos por Wallace DOWney... nosso conhecido de Coisas Nossas... de parceria agora... com Ademar Gonzaga.

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L1 : Alô Alô BraSIL... E... Alô Alô Carnaval... notadamente.

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L1 : nesses filmes aparecia Cármen Miranda.

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L1 : JÁ imensamente popuLAR... através dos discos... e do rádio.

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L1 : Francisco Silva Júnior::... que trabalhou Anos a fio para os americanos e sabia do que faLAva... escreveu na ocasião... ''Cármen Miranda... faria bonita figura em qualquer filme americano do mesmo gênero''.

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L1 : e na mesma ocasião um crítico Celestino Silveira comenta... ''a sorte desliza ao nosso lado três vezes por dia...

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L1 : o negócio é descobrir quando ela vai deslizando.

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L1 : agora está no Alhambra''... --era o cinema que estava passando um filme é/ de Cármen Miranda--.

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L1 : ''é segurá-la... antes que passe''.

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L1 : pois passou... e logo.

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L1 : a indústria americana importou... Cármen Miranda.

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L1 : mais ou menos::... na mesma ocasião em que ela parTIa... a revista Cinearte publicou uma notícia... a respeito de um bloco de minério de QUARtzo... um cristal de rocha... encontrado em Minas Gerais::... comprado por uma indústria ótica de Nova Iorque...

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L1 : os espe/ os especialistas em lentes:: hã cinematográficas... manifestaram um GRANde entusiASmo pela qualidade desse minério brasileiro... e o colunista da revista comenta com orgulho... ''um POUco de matéria-prima brasileira... para o... ah::/ para o cinema americano''.

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L1 : BEM... com o sinal com o cristal de ROcha... ou com Cármen Miranda... nós brasileiros cumPRÍamos::... o nosso longo desTIno... de país colonial.

L1 : ...

L1 : exportar matéria-PRIma... e importar::... produtos... manufaturados.

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L1 : Cármen Miranda partiu em mil novecentos e trinta e nove.

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L1 : estamos chegando ao fim do período histórico que nos foi proposto.

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L1 : mas antes da década de TRINta... se exaurir... aconteceu alguma coisa no cinema brasileiro... que terá importantes prolongamentos... nas duas décadas seguintes.

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L1 : ah pode servir como introdução ao assunto... uma passagem de uma entrevista da Época... do... ator Jaime Costa.

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L1 : ele diZIa... ''o nosso público... o cariOca principalmente... vê em tudo e antes de mais nada a parte humorística.

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L1 : e é por isso que eu PENso... que em matéria de ciNEma... devíamos explorar essa tendência.

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L1 : NAda de grandes emoções''.

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L1 : LOgo... a tendência em questão tomaria forma... num filme produzido em apenas dezoito dias.

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L1 : que foi um suCEsso... e cujo título MAIS uma vez... era todo um programa.

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L1 : Tererê... Não Resolve.

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L1 : o ator princiPAL era Mesquitinha.

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L1 : Grande Otelo estava surGINdo.

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L1 : eles logo... formarão uma dupla.

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L1 : nasce aSSIM... o GÊnero cinematográfico mais VIvo... que o nosso cinema conhecerá durante muito TEMpo... a chanchada.

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L1 : ANtes de se encerrar a década de TRINta... São Paulo sai um momento do torpor em que cinematograficamente se encontrava há vários anos.

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L1 : um grupo de fazendeiros ricos imagine... resolvem... produzir filmes.

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L1 : os cavadores envelhecidos se reaNImam... hã muito aparelhamento de priMEIra é comPRAdo... um estúdio impoNENte é levantado.

L1 : --o prédio existe ainda até hoje lá perto... do Aeroporto--.

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L1 : o resultado de todo esforço... foi um único FILme... chamado... A Última Esperança.

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L1 : NEsse encontro de hoje... eu não me preocupei com a faceta propriamente esTÉtica do cinema brasileiro.

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L1 : se o fiZEsse... precisaria abordar longamente pelo menos a obra de Mário Peixoto e Humberto Mauro.

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L1 : sobretudo a do seGUNdo...

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L1 : pois Mário Peixoto permaneceu iLHAdo... no fenômeno singuLAR... que foi Limite.

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L1 : ao passo que Humberto Humberto Mauro realizou filmes durante todos esses anos.

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L1 : os seus FILmes... são incomparavelmente meLHOres... do que os outros.

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L1 : MAS::... ele permanece inteGRAdo nas tendências mais gerais do TEMpo.

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L1 : Lábios Sem Beijos:: ou Ganga BRUta... SÃO um prolongaMENto... e um aprofundaMENto... hã do que ele faZIa... durante a década de vinte em Cataguases.

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L1 : e Favela de Meus Amores::... ou Cidade-Mulher... hã constiTUI... uma:: expressão MUIto pessoAL... mas uma expreSSÃO... ah das alterações sofridas pelo cinema brasileiro... na segunda... PARte... dos anos trinta.

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L1 : resta talvez para concluIR... uma pequena aluSÃO... ao movimento de iDEias::... éh durante esse período.

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L1 : A cultura cinematográfica foi muito PObre durante a década de trinta.

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L1 : ela TInha tido um momento briLHANte... no fim... éh de vinte e nove... com o grupo de Otávio de FaRIa Plínio ( ) ROcha... em torno hã do Chaplin Clube... e da revista... A Fã.

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L1 : a cultura cinematográfica no Brasil no fundo hã só vai renasCER... no início da década de quarenta.

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L1 : hã::... é uma espécie de paRÊNtese em mil novecentos e trinta...

L1 : mas em todo CAso... haVIa... alguma coisa.

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L1 : se manifesTAva... em:: revista e jornais.

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L1 : a poBREza do pensamento... Era::... era muito GRANde.

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L1 : em CineARte Cinearte tinha tido um papel importante na década anterior inclusive em matéria... éh de iDEias... houve uma espécie de definhaMENto... e::... hã se se acentuou MUIto:: uma:: um certo tipo de... conservadoRISmo também... éh que a revista... hã:: sempre tinha TIdo.

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L1 : hã talvez uma... ( ) leitura RÁpida e tal de uma dessas CRÔnicas em que surgem... algumas iDEIas cinematoGRÁficas... ah deem... uma indicaÇÃO.

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L1 : o:: articulista está comentando sobretudo... alguns filmes euroPEUS... hã feitos ultimamente... e ele:: contrapõe esses filmes europeus... aos filmes americanos... ah tradicionais.

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L1 : ele comenta... ''um ciNEma que ensina o FRAco a não respeitar o forte... o SERvo a não respeitar o patrão... que mostra caras sujas... barbas cresCIdas... aspecto sem higiene alguma... sordices... --sic--... e um realismo levado ao exTREmo... não é cinema''.

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L1 : ele imagina um casal de jovens:: que vão assistir um filme americano médio...

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L1 : veem lá um rapaz de cara limpa... bem barbeAdo... cabelo penteado... Ágil... BOM cavaleiro...

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L1 : e a MOça... boniTInha... corpo bem FEIto... ROSto MEIgo... cabelos moDERnos... aspecto todo fotogênico...

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L1 : depois há o CÔmico e o viLÃO... que também são higiÊnicos... que também são distintos...

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L1 : e aí então uma fazenda moDERna... fotoGÊnica... os subordiNAdos que se submetem aos seus superiores... com alegria e com satisfação... e um RItmo... que é o ritmo da vida de HOje... Ágil... LEve... moDERna...

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L1 : o parzinho que assistir o filme comentará que já viu aquilo vinte vezes.

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L1 : MAS::... sob seus corações que SOnham... não cairá... a peNUMbra... de uma brutalidade choCANte... de uma cara SUja... de um aspecto que tira qualquer parCEla de poesia e de encantamento.

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L1 : essa mociDAde... não POde aceitar essa arte... que ensina a reVOLta... a falta de higiene... a (luta)... e a eterna BRIga contra os que têm o direito de mandar::.

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L1 : agora ao LAdo de posições conservaDOras havia também posições progressistas.

L1 : ...

L1 : havia ideia de de:... de se criar no Brasil... um cinema::... um cinema nacionaLIS::ta... na linha (clementista) do começo da década de trinta né??

L1 : ...

L1 : essas ideias surgiam sobretudo... no jornal O RadiCAL... do Rio de JaNEIro... ele não tive ocasião de fazer uma pesquisa... mais ampla.

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L1 : agora a primeira aMOStra... hã que eu enconTREI... é também é:: é desoladora.

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L1 : ah:: o articulista:: se leVANta CONtra... o cinema:: americano não é?... o que para mim (e) tal seria simPÁtico não é? ( )... MAS::... o argumento princiPAL:: (aí) é o seguinte...

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L1 : ''as muLHEres brasiLEIras... VEem cada vez mais crescer em torno de SI... o indiferentismo dos seus patrícios... sugestioNAdos pela beleza impeCÁvel... dos tipos estandardiZAdos... do ecrã... ianque''.

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L1 : de maneira que ATÉ... até segunda ORdem... a linha... ah nacionalista de iDEias do cinema brasileiro da década de trinta... hã também... não é muito (de estimulantes).

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L1 : MAS::... essas expressões de um pensamento medíocre... tanto a conservaDOra... ah quanto a OUtra... elas TInham em todo o caso o MÉrito... de se preocuPAR com o cinema brasileiro.

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L1 : a qualidade intelectuAL... das pessoas que começaram a se preocupar com a cultura cinematoGRÁfica... nos fins dos anos trinta começo dos quaRENtas... era talvez meLHOR... do que daquelas pessoas.

L1 : ...

L1 : mas em compensaÇÃO... esses NOvos reCRUtas da culTUra... só se preocuparam durante Anos a FIO... com o cinema estrangeiro.

L1 : ...

L1 : incluSIve... essa peSSOa... que passou a manhã... falando sobre o cinema brasileiro.

L1 : ...

L1 : muito obrigado pela atenção.

L1 : ...