Inquérito SP_DID_208

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Doc1 : seu Nílton... nós gostaríamos que o senhor contasse para gente... todo seu ciclo de vida... desde a inFÂNcia adolesCÊNcia maturiDAde época de casaMENto como é que FOI... como é que o senhor conheceu sua esposa como foi o casaMEN::to... ahn:: a sua adolescência enfim TUdo que o senhor podia contar para gente assim de interessante nós gostaríamos que o senhor contasse por favor.

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L1 : eu... Nílton Chaves... sou nascido aqui na capital em vinte e um de maio de mil novecentos e vinte e oito.

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L1 : nasci:: no bairro da Luz::... mas logo depois meus pais mudaram para a Vila Mariana.

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Doc1 : uhn uhn.

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L1 : se não me falha a memória rua Joa-quim Távora...

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L1 : somos em... três rapazes... depois... em:: mil novecentos e trinta e um nasceu... uma irmã.

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L1 : é a única irmã que eu tenho... legítima.

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Doc1 : uhn uhn.

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L1 : posteriormente (em) mil novecentos e trinta e nove... meu pai::... pegou uma menina para criar.

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L1 : filha de japoneses.

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L1 : então::... essa menina hoje já está com::... trinta e cinco anos... professora primária... e:: advogada... residente em Santos.

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L1 : agora minha infância foi:: infância normal de:: toda... todo moleque.

L1 : nascido em vinte e oito... em vinte e nove... com:: os negócios::... indo tudo para o buraco... falências (tudo mais) meu pai também teve um prejuízo muito grande então nós fomos obrigados a mudar duma casa grande que nós morávamos pruma casinha pequena... com:: meu pai tinha naquela ocasião já tinha automóvel tinha geladeira elétrica... e vendeu tudo... e passamos a::... uma vida mais ou menos apertada.

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L1 : basta dizer que minha mãe mesmo grávida de nove meses era ela que... tomava conta da casa SEM empregada lavava toda roupa.

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L1 : logo depois que eu nasci... minha mãe teve que fazer operação de apêndice... --que naquele tempo era um::... Deus nos acuda--... e ela ficou no hospita::l durante cerca de vinte dias.

Doc1 : uhn uhn.

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L1 : e eu fiquei na mão de uma empregada que:: QUANdo se lembrava dava mamadeira... quando não se lembrava não dava.

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L1 : quando se lembrava de ver se o leite estava bom ela via se não o leite ia estragado mes::mo::.

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L1 : nessas condições quando minha mãe voltou da ma/ do:: hospital... eu estava num estado de:: subnutrição de fraqueza que o:: próprio médico pediatra... achou um abSURdo... isso.

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L1 : brigou com minha mãe devido o fato d/... de ter deixado (eu estar) nessa situação.

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L1 : então ela fez um um regime de... de engorda de fortalecimento durante muitos anos... e com isso... graças a Deus eu voltei a... a ser um... alguém.

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L1 : agora os meus irmãos também sempre foram... rapazes sadios ma::s todos eles têm um... UMA tragédia na vida.

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L1 : o mano mais velho caiu duma escada... na casa dos meus avós... com:: vinte e tantos degraus chegou lá embaixo (disse que) tinha sangue até pelo ouvido.

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L1 : também graças a Deus não aconteceu... NAda de... de consequência.

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L1 : me::us...

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L1 : eu sou o segundo.

L1 : o terceiro... que hoje é agrônomo do Estado... em mil novecentos e trinta e dois durante a Revolução caiu da janela... do s/ sobrado... na rua:: Correia Dias onde morávamos.

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L1 : entre outras coisas sofreu fratura do crânio... teve hospitalizado em estado desesperador... estado de coma... mas felizmente conseguiu escapar e... ele está trabalhando hoje mora em Americana.

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L1 : e minha irmã... com:: três anos de idade sofreu queimadura... com:: água fervendo... éh:: pelo corpo todo.

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L1 : queimadura de terceiro grau.

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L1 : também graças a deus... salVOU-se e hoje diz ela que na:: parte... do ventre só tem uma liGEIra (m/)... mancha vermelha.

L1 : nem cicatriz não ficou.

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L1 : nós moramos... quase toda nossa vida na::... no bairro de Vila Mariana.

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L1 : moramos na rua Correia Dias... dali mudamos para rua Apeninos esquina da::... Nicolau de Sousa Queirós... quando a casa foi vendida.

L1 : meu pai então... con/... ahn:: estava já CONstruindo... uma residência na::... rua Gualachos.

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L1 : rua Gualachos cento e trinta e seis perto do Tênis Clube Paulista.

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L1 : mas como... a casa da rua Nicolau de Sousa Queirós foi vendida e os::... e o dono exigiu a entrega quase que imediata... --(que) naquele tempo não havia lei do inquilinato nem coisa nenhuma-- nós mudamos para rua Pelotas::... trezentos e qualquer coisa já no fim da rua.

L1 : então era uma casa MUIto antiga... que não oferecia o mínimo de segurança mas em compensação tinha um:: terreno iMENso nos fundos... (onde) passava um córrego tinha MA::TO... tinha uma série de árvores::... frutíferas... e nós... fomos morar lá durante seis meses.

L1 : de:: acho que de janeiro a julho de trinta e:: sete...

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L1 : nessa casa minha mãe teve infecção dentária teve reumatismo ficou dois meses paralítica de cama.

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L1 : daí que meu pai (chamou e disse) ''ah o negócio é assim é?... cada um de vocês vai ter que aprender a::... fazer serviço de casa''.

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L1 : porque n/ NAquela ocasião se pagava... cento e vinte mil réis por uma empregada... meu pai oferecia um CONto de réis... que eram... sete ou oito vezes mais... (e que) ninguém (queria) trabalhar.

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L1 : porque via QUAtro moLEques... endiaBRAdos... e a dona de casa estendida numa:: nu/... cama.

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L1 : então todos nós começamos a trabalhar.

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L1 : começamos um fa/ um cozinhava... o outro arrumava a casa o outro lavava a roupa o outro passava e assim::... foi nossa vida.

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L1 : nessa ocasião meu pai já... tinha praticamente equilibrado as finanças dele devido a... à quebra que ele teve em::... vinte e nove trinta... então ele foi um dos talvez uma dos primeiros em São Paulo a comprar MÁquina de lavar roupa... e máquina de pasSAR.

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L1 : que até hoje praticamente não existe... máquina de passar domiciliar.

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L1 : nós ficamos até julho de::... ses/... de trinta e sete... nessa casa... daí então mudamos para rua Gualachos.

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L1 : nessa:: na rua Gualachos nós vivemos até... fins de quarenta e oito... q/... qua/... eu acho que foi quarenta e oito sim...

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L1 : quando meu pai comprou uma:: fazenda no Paraná... e mudou-se.

L1 : pôs toda a::... todos os móveis que (encont/) que tinha em casa e mudou-se para o Paraná.

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L1 : foram... três caminhões... e:: ele tinha mandado construir uma casa.

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L1 : na::... lá no:: éh::... meio do pasto... roçar e construir casa.

L1 : quando ele chegou lá... nem estrada não tinha para ele (chegar) na nossa fazenda.

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L1 : a casa não estava construída

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L1 : então ele foi obrigado a morar durante três meses numa tapera feita de palitos... coberta com folhagem.

L1 : chão de terra batido.

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L1 : aí o:: meus pais ficaram::... outubro novembro e dezembro.

L1 : quando foi dia trinta e um de dezembro... que a nossa casa já estava... mais ou menos construída (tinha) o... (as) paredes o:: chão de... madeira... e o telhado.

L1 : não tinha nem porta nem janela.

L1 : (e) ele disse ''não passo o ano novo nesta casa... vagabunda''.

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L1 : e:: mudou-se para esta casa.

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L1 : aí meu pai ficou até... até a revolução... de sessenta e quatro.

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L1 : POrém... em:: dezembro de sessenta e três... quando agitações::s comunistas e agitações operárias que havia na ocasião... meu pai... foi posto para FOra da fazenda... por agitá/ po::r agitadores... operários.

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L1 : esses trabalhadores rurais sindicatos rurais tudo aquilo então eles... tomaram conta da fazenda.

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L1 : fizeram a divisão entre Eles briGAram se maTAram.

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L1 : daí o::... na fazenda mas por sorte NÃO mexeram na nossa casa.

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L1 : nessa ocasião meu pai estava morando em Piracicaba.

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L1 : quando veio a revolução ele disse ''se for para fazer a revolução vou fazer a revolução na minha... casa na minha fazenda''.

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L1 : tomou o carro foi... para a fazenda... mas por sorte a revolução foi... tão eficiente e tão rápida que quando ele chegou lá os agitadores já tinham todos desaparecidos... e a fazenda estava praticamente abandonada.

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L1 : o algodão que ele mandou plantar não foi plantado... o pouco que plantaram não foi:: desinfetado não puseram::... fungicidas e:: herbicidas nem::... coisa nenhuma de maneira que não deu ABsolutamente nada no algodão.

L1 : foi... pouco feito foi perdido.

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L1 : o pouco de café que nós tínhamos... o mato já tinha tomado conta.

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L1 : então::... o velho se aborreceu... e:: vendeu a fazenda nessa ocasião quando então ele mudou-se para Santos.

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L1 : onde vive até hoje.

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L1 : nesse meio tempo... eu entrei... para o... Banco do Brasil... e fiz o curso de Economia.

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L1 : meu mano mais velho casou-se... em Piracicaba... e ficou por lá.

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L1 : ultimamente foi que ele fez o curso de Direito e veio para São Paulo.

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L1 : o mais novo... fez o curso de Agronomia em Piracicaba... foi trabalhar na fazenda... acabou:: se desentendendo com meus pais... então hoje ele é agrônomo do Estado... trabalhando no:: Instituto de:: Pesca.

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L1 : no Posto de Piscicultura de Americana.

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L1 : a moça... estudou:: em:: Piracicaba... depois casou-se e::... hoje... reside em Santos... não na na mesma casa mas na mesma (ci/)... com meus pais.

L1 : que meus pais (são) residem em Santos também.

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L1 : a única::... solteira é exatamente a minha irmã de criação.

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L1 : porque em mil novecentos e trinta e nove em janeiro... eu::... fui operado de apêndice... estava na Casa de Saúde Santa Inês quando houve um::... parto de uma japonesa menor de idade... (e) mãe solteira.

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L1 : sendo mãe solteira... a... própria mãe da parturiente ou seja a avó da criança... tentou estrangular a recém-nascida.

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L1 : primeiro foi um parto prematuro... era uma criança muito:: fraquinha... muito miúda... e a:: velha chegou... a agarrar a menina pelo pescoço para estrangular.

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L1 : por sorte... entrou... a enfermeira-chefe... que deu um murro... na cara da velha... que a velha foi cair foi bater na parede e cair desacordada e ela pegou a criança e:: saiu.

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L1 : quando... perguntaram... a enfermeira respondeu ''a criança morreu''.

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L1 : a resposta da::... japonesa... ''melhor assim se fosse para viver poderia (viver) em casa não precisava de hospital''.

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L1 : e então... retirou... a mãe da criança que era a menina de quinze anos... e levou para casa.

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L1 : a recém-nascida ficou completamente abandonada.

L1 : como eu... estava... hospitalizado e meus pais... iam o dia todo... ao hospital... na ocasião eu:: ainda não ti/ tinha dez para onze anos.

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L1 : mamãe soube e levou para casa.

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L1 : e::... quis adotar.

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L1 : pela lei vigente na ocasião... não era possível uma adoção porque meus... pais eram relativamente novos... meu pai não tinha feito trinta e nove anos ainda minha mãe::... tinha::... trinta e:: dois... então o próprio juiz disse ''se o senhor quiser filhos... o senhor faça... o senhor tem idade basTANte ainda para ser pai mais meia dúzia de vezes''.

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L1 : mas:: como não interessava... novas:: crianças em casa meu pai ficou com essa e:: ela estudou::... Escola Normal Rural em Piracicaba e foi trabalhar em Santos.

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L1 : e vive no mesmo apartamento de papai.

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L1 : essa menina... agora há questão de::... meia dúzia de anos... por qualquer motivo:: como:: se diz deu um estalo na cabeça dela (diz/) eu vou ser advogada.

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L1 : em seis meses ela preparou-se ingressou na::... Faculdade de Direito de Santos... e há:: (uns) dois anos passados formou-se como advogada e mora aí

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Doc1 : uhn

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L1 : agora meus pais quando:: vendeu a fazenda... naquela ocasião... ele deu a:: CAda filho dez mi/ dez milhões de cruzeiros

L1 : o atual dez mil cruzeiros.

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L1 : então:: um comprou automóvel o outro comprou casa eu mesmo comprei uma residência no:: Aeroporto... e:: para essa menina... ele comprou o apartamento... onde reside e pôs no nome dela.

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L1 : de maneira que ela É proprietária DO apartamento de meus pais e meus pais têm simplesmente usufruto.

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L1 : agora... em MIL novecentos::... já nem me lembro mais...

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L1 : acho que foi antes de eu casar em cinquenta e nove acho que foi cinquenta e sete princípio de cinquenta e sete mais ou menos... eu entrei na União Cultural.

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L1 : Brasil.

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L1 : ahn:: Brasil-Estados Unidos... onde vim conhecer minha senhora que era... a:: Bibliotecária do período da noite.

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L1 : então... toda noite ia lá batia um papo mas...

Doc1 : ((risos))

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L1 : e::... um dia... saímos juntos ela ia tomar o ônibus para ir para casa quando passou um senhor... conhecido dela... e ela me apresentou ''Olha ô Fulano... quero apresentar o... seu Chaves meu noivo''.

L1 : ...

L1 : EU:: me assustei mas... [aguentei a mão!

Doc1 : [((risos))

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L1 : afinal das contas éh:: ela devia ter motivos para isso né??

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L1 : depois ela me disse que era um sujeito que há muito tempo... queria::... que vivia::... CORtejando.

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L1 : quando chegou no Natal isso foi mais ou menos fim do ano...

L1 : quando chegou no Natal eu mandei... a ela... umas flores com um cartão de... cartão de Natal... e pus ''do seu... NOIvo''... entre parênteses.

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L1 : e daí veio vindo veio vindo em... cinquenta e nove... em vinte e sete de julho de cinquenta e nove nós casamos... e:: ainda fomos a Salvador... e Recife em viagem de núpcias.

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Doc1 : seu Nílton como é que foi:: realizado o casamen::to a cerimô::nia como é que foi feito??

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L1 : bom a:: cerimônia civil... foi feita... no cartório da::... Ave-nida::... Avenida Angélica quase esquina da::... praça Marechal Deodoro... mais ou menos dez e meia... da manhã porque:: casamos... ela foi:: trabalhar... no cartório onde ela... era escrevente... Quarto Registro de Imóveis e eu fui trabalhar no banco.

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L1 : agora a:: re/... a:: cerimônia religiosa foi feita na:: igreja... na capela da::... Universidade Católica na rua Monte Alegre.

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L1 : e foi no dia vinte e sete de:: julho.

L1 : nós escolhemos esse dia porque::... e vinte e oito.

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L1 : era::... feriado... aliás era:: domingo vinte e nove era feriado depois vinha as férias.

L1 : então nós já saímos... de viagem... e fomos... primeiro ao Rio... passamos lá uns três ou quatro dias depois passamos m/... mais... uma semana em Salvador... uma semana no Recife e voltamos para o Rio onde passamos mais uns três ou quatro dias e... depois São Paulo.

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L1 : eu (fiz) questão de levá-la a Recife... porque ela durante algum tempo exerceu também a::... atividade de secretária do Departamento de Sociologia... da Escola de Sociologia e Política.

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L1 : trabalhou::... o:: professor Alceu Maynard Araújo... e com o professor Donald Pierson dos Estados Unidos... sobre:: pesquisas e datilografando:: trabalhos desse dois mestres... e ela conhecia... a Bahia costumes baianos e:: viagens pelo São Francisco mas... só por::... trabalho alheio.

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L1 : e ela costumava dizer ao professor::... Alceu Maynard... ''(tsc ah) Alceu você está contando história... isso que você está dizendo deve ser tudo mentira você está fazendo só para ganhar dinheiro''.

L1 : ele dizia ''não Marina o dia que você puder ir à Bahia... vai lá que você vai ver o mercado vai ver a Água dos Meninos... você vai ver que o que eu estou dizendo não tem ABsolutamente nada de mentira''.

L1 : ...

L1 : e levava a coisa na base da brincadeira.

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L1 : então eu disse para ela ''não agora você vai ver você vai pôr em... vai tirar o:: a dúvida quanto ao que o Alceu Maynard escreveu''.

L1 : ...

L1 : e:: estivemos:: em todas aquelas igrejas todos aqueles passeios.

L1 : um dia fomos ao... mercado de Água dos Meninos... que pouco... pouco tempo depois talvez dois ou três anos depois nessa vossa viagem... pegou fogo.

L1 : ...

L1 : e HÁ quem diga que foi... fogo PROposital... não sei não:: posso garantir nada... porque eu:: havia... um certo interesse parece-me que do::... do governo baia::no ou qualquer outra entidade... de desocupar aquela região... para::... melhoRIas urbanas.

Doc1 : uhum.

L1 : ...

L1 : e o pessoal não queria sair de lá de jeito nenhum.

L1 : ...

L1 : era mais ou menos na::... na beira da:: da praia dum::... quase (mangue)... uma sujeira... (que)... que não se pode acreditar a não ser vendo!

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L1 : um mau cheiro!

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L1 : e:: rato correndo para cima para baixo... e:: lá viviam... a classe... ultra::... pobre.

L1 : ...

L1 : que viviam n/... naqueles barracos... vendiam suas coisas tinha a:: parte de cerâmica artesanato é o:: era típico na Bahia.

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L1 : governo fazia pressão queria pôr para fo::ra... mas e ele... jamais eles saíam.

L1 : até que um dia pegou fogo.

L1 : ...

L1 : então corre... boato que o fogo foi PROposital.

L1 : mas não:: posso garantir nada.

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L1 : foi um jeito de acabar... com o mercado de Águas dos Meninos na Bahia.

L1 : ...

L1 : por estranha coincidência... passaram-se mais alguns anos... e pegou fogo no... mercado velho na::... na Cidade Baixa.

L1 : na praça Visconde (de) Cairu.

L1 : ...

L1 : que tamBÉM dizem que::... que foi o único meio... que acharam para:: desalojar aqueles... aqueles::... negociantes da:: zona.

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L1 : nessa:: local onde foi feito:: onde existiu o mercado::... de Salvador foi feito um::... uma praça muito bonita... e que eu não tive o prazer de conhecer

L1 : ...

L1 : agora:: ainda nessa:: nossa viagem de... de núpcias... foi interessante que assim que chegamos em Salvador... sem:: hotel marcado sem coisa nenhuma... fomos ao Hotel da Bahia... nos disseram ''está lotado não tem::... não existe vagas''.

L1 : ...

L1 : procuramos o Hotel Central na rua Chile... também não tem vaga.

L1 : daí fomos procurar... qualquer hotel ou pensão em Salvador.

L1 : ...

L1 : andamos d/... praticamente das:: oito até meia-noite atrás de um hotel e não havia acomodação.

L1 : ...

L1 : até que nos indicaram o Hotel Chile.

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L1 : hotel que como diz a minha esposa deve ter sido feito para receber o Pedro Álvares Cabral.

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Doc1 : ((risos))

Doc1 : ...

L1 : de TÃO velho que é de... de:: todos os móveis de jacarandá entalhado a mão mas... tão sujo tão sujo que::... eu fui ao banheiro... quando eu:: estava lá ela... gritou ''Nílton corre aqui''!

L1 : ...

L1 : eu... fui ver o que é e ''espia os entalhes''.

L1 : ...

L1 : em cada... entalhe havia uma barata.

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L1 : mas uma barata... de::... quase o dobro da na/ barata caseira... e preta.

L1 : ...

L1 : mas era Uma colada na outra.

L1 : ...

L1 : tinha... meia centena no mínimo naqueles móveis.

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L1 : imediatamente... arrumamos a mala descemos e fomos para rua outra vez eu disse ''bom... vamos (ao) até o Hotel Chile ver se conseguimos alguma coisa...

L1 : se não conseguir vamos ficar andando até amanhã amanhã tomamos um avião e vamos para Recife''.

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L1 : no Hotel Chile... conversei com:: o porteiro... dei-lhe um::... uma gorjeta... ele nos arranjou um quarto que estava reservado para o dia seguinte.

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L1 : então eu disse... ''o dia seguinte o senhor me CHAme... o senhor me avise com antecedência quando a pessoa chegar em dez minutos eu me retiro do quarto''.

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L1 : esse dia seguinte... se::... estendeu por oito dias não apareceu ninguém.

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L1 : quer dizer a coisa já devia ser de indústria.

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L1 : e nesses oito dias eu corri toda a::... a cidade de Salvador vi::... viramos e mexemos.

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L1 : uma noite descemos na::... parte baixa onde tinha o mercado... escuro como::... carvão como breu... veio um preto de quase dois metros de altura... perto de mim e disse ''moço... tu pode me dizer as horas?''?

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L1 : minha senhora ficou mais branca do que papel de medo!

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L1 : porque ela sabia... a fama do... do baiano.

L1 : e normalmente a zona baixa ali da::... praça Visconde de Cairu naquela ocasião só dava doQUEIro e:: pessoas... de classe mais pobre.

L1 : ...

L1 : mas felizmente não tivemos nada.

L1 : ...

L1 : não aconteceu nada (nu/) a-tendi o homem com delicadeza ele agradeceu e foi embora.

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L1 : o dia seguinte descemos outra vez fomos visitar o mercado.

L1 : ...

L1 : (e) o mercado velho... ao lado tinha umas barraquinhas.

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L1 : ela... entrou em diversas barraquinhas para ver::... objetos da arte baiana e uma porção de coisa... quando estávamos no melhor da festa disse ''Nílton meu Deus''!

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L1 : eu disse ''que é que está acontecendo?''?

L1 : ...

L1 : (ela disse) ''veja só como está subindo pelas minhas pernas... piolho de galinha''!

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Doc1 : uhn::

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L1 : mas era TANto que se... noTAVA... uma mancha preta subindo nas pernas de minha senhora.

L1 : ...

L1 : ela disse ''e agora?''?

L1 : eu digo ''ah vamos para o hotel''!

L1 : (disse) ''ah mas daí (vamos) emPEStear o hotel?''?

L1 : digo ''não''.

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L1 : passei numa farmácia comprei:: Neocid... em pó... entramos no banheiro e ficamos nós dois um pondo Neocid no outro assim que nem talquinho.

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L1 : pusemos nas nossas roupas depois é que fomos para o quarto.

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L1 : essa foi... as duas peripécias da nossa viagem núpcias.

L1 : ...

Doc1 : eu queria saber o:: que que o senhor acha... por exemplo da mocidade atual comparada com a do senhor??

Doc1 : ...

Doc1 : o senhor acha que há alguma diferen::ça dos jovens o que que o senhor nota de mais diferente??

Doc1 : ...

L1 : bom... a mocidade de hoje... é como a mocidade:: minha como a mocidade de Dom Pedro primeiro ou a mocidade de Pedro Alvares Cabral.

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L1 : cada um dentro da sua... época.

L1 : ...

L1 : o que acontece é que essas épocas estão evoluindo.

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L1 : antigamente quando eu nasci... para se ir até a Europa tinha que se ir de:: navio e levava... mui::tos dias.

L1 : ...

L1 : hoje vai-se de avião e leva:: meia dúzia de horas.

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L1 : as notícias::... da Europa naquela ocasião... NEM por RÁdio!

L1 : ...

L1 : hoje... a gente já:: liga a televisão e vê a corrida do:: Emerson Fittipaldi... qualquer parte da Europa.

L1 : de maneira que... a::... a mocidade de hoje está vivendo exatamente... A época de hoje.

L1 : ...

L1 : lógico que essa:: mocidade tem que ser diferente da minha mocidade e a dos meus avós.

L1 : ...

L1 : NÃO por ser mocidade mas sim por devido à:: diferença da época em que vive.

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L1 : hoje:: se aprende muito mais rapidamente é o gravador é a televisão é o cinema...

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L1 : no meu tempo de criança na/ jamais houve cinema na escola.

L1 : ...

L1 : hoje qualquer classe eles fazem sessão de cinema tem o retro::visor... que é muito mais prático para... para pessoa lecionar... tem:: história do Brasil em quadrinhos... coisa que não hou/... não havia... naquela... no meu tempo de criança.

L1 : ...

L1 : e há também muito mais facilidade para criança se distrair... e para criança pensar em brinquedos farras e outras coisas.

L1 : ...

L1 : coisa que no meu tempo também não havia não.

L1 : meu pai sempre foi muito enérgico... A PONTO DE... eu com dezesseis anos... quis:: um dia ir ao:: Teatro Municipal assistir um concerto... que a minha grande paixão é música clássica... e o velho me disse ''pode ir... mas às... dez horas em casa''.

L1 : eu digo ''mas pai... então não vou''!

L1 : ...

L1 : ele disse ''como não vai??

L1 : você não está querendo ir? VAI''!

L1 : ...

L1 : digo ''mas pai se começa às nove horas um concerto... eu vou ter que sair de lá nove e quinze para chegar aqui às dez horas... então que eu eu vou fazer lá??

L1 : então é bobagem eu ir''.

L1 : ...

L1 : daí minha mãe:: interferiu... e o velho deixou.

L1 : e nesse dia chê/ foi talvez a primeira vez que eu cheguei em casa... meia-noite e:: quinze meia-noite e qualquer coisa.

L1 : ...

L1 : mas... logo depois uns quatro ou cinco anos ele... anos depois ele foi para fazenda... (e) eu fiquei sozinho morando numa pensão.

L1 : ...

L1 : então muitos dias eu chegava em casa quando o sol já estava... já estava... fora.

L1 : ...

L1 : NÃO que eu vivesse na farra...

L1 : ...

L1 : que eu nunca:: fui de:: folia de::... de BAIles ou de:: bebedeiras (ou) qualquer coisa.

L1 : mas eu gostari/ gostava muito... de::... ir à casa de um amigo que é rádio-amaDOR... com equipamento de PRImeira qualidade tudo mais pois ele falava muito bem o inglês francês... então ficávamos conversando e:: brincando com:: o MUNDO TODO!

L1 : ...

L1 : homem que tinha... já::... quase quaRENta anos de rádio... então tinha amigo... em todas as partes do mundo e ficava conversando com um com outro servindo a um servindo a outros e:: eu ficava lá.

L1 : então quando::... às vezes duas três QUAtro horas da manhã saía da casa dele ia para minha casa.

L1 : era aí que eu ia dormir.

L1 : ...

L1 : mas... era coisa que eu sempre fiz... de sexta para sábado de sábado para domingo... que era:: os dias que eu podia dormir até:: meio-dia uma hora da tarde.

L1 : ...

L1 : agora fora disso não.

L1 : fora::... disso a::... mocidade de hoje parece mais... IRRIQUIETA do que a mocidade do... dos meus tempos ou dos meus... pais.

L1 : ...

L1 : mais alguma pergunta??

L1 : ...

Doc1 : seu Nílton o que que o senhor teria de:: interessante para falar para gente a respeito dos seus filhos??

Doc1 : desde a época que eles nasce::ram... como é que foi a gravidez da sua espo::sa tudo.

Doc1 : ...

L1 : BOM... lógico que a história dos meus filhos... tem que começar na gravidez da minha senhora né??

L1 : ...

L1 : é evidente!

Doc1 : [((risos))

L1 : ...

L1 : [((risos))

L1 : ...

Doc1 : ...

L1 : a minha senhora... logo depois que casamos... talvez uns... três ou quatro meses ficou grávida mas é... foi uma gravidez assim fora do programa.

L1 : ...

L1 : ela começou... sentir... TOdos os sintomas de um:: resfriado.

L1 : ...

L1 : resfriado muito forte... começou a incomodar muito ela sabia que::... qualquer comprimido::... mexia com o::... o aparelho genital... mas mesmo assim ela:: resolveu tomar dois comprimidos de:: antigripal.

L1 : ...

L1 : tomou dois comprimidos ali mais alguns dias... sentiu-se mal... voltou... estava na rua voltou para casa e teve um:: aborto.

L1 : ...

L1 : chamamos o médico o médico examinou constatou que realmente tinha (acontecido) um aborto... mas que:: não havia nada de mais.

L1 : ele diz ''olha felizmente foi uma gravidez TÃO:: inicial... que não::... não afetou em absoluto a:: sua saúde''.

L1 : mandou::... fazer repouso... e disse ''olha daqui mais ou menos três quatro meses a senhora se quiser a senhora pode tentar nova gravidez não há:: problema''.

L1 : ...

L1 : e::... assim foi feita.

L1 : depois de meia dúzia de meses... tentamos... novamente... mas aí já era::... uma:: gravidez::... com ( )... por nossa vontade.

L1 : já programada.

L1 : ...

L1 : apareceram novamente os mesmos sintomas::... de::... resfriados.

L1 : ...

L1 : então eu disse ''vamos primeiro fazer um exame médico... para ver se isso é resfriado ou é::... o resfriado anterior né??

L1 : ...

Doc1 : uhn uhn.

Doc1 : ...

L1 : foi feito o:: teste de Galli-Mainini e deu positivo.

L1 : daí eu digo ''bom então você não vai tomar COIsa nenhuma vai consultar o ginecologista... e ele que::... te receite o que deve ser feito''.

L1 : ...

L1 : (aí) ela foi ao ginecologista e ele começou a tratar o resfriado com::... injeções.

L1 : ...

L1 : porque a injeção não... não:: exerce... a influência... do:: comprimido.

L1 : ...

L1 : e... toca injeção injeção injeção e::... não resolvia coisa nenhuma.

L1 : ...

L1 : um dia... encontramos com:: um médico baiano... nosso amigo... casado com uma prima da minha esposa... e ele virou e disse:: ''que que você está tomando?''?

L1 : (ela) disse ''estou tomando tais tais e tais injeções''

L1 : ele disse ''não tsc tsc tsc tsc tsc

L1 : ...

L1 : NADA disso!

L1 : ...

L1 : você não tem:: resfriado nenhum.

L1 : o que você tem... é uma intoxicação gravítica.

L1 : ...

L1 : que é uma coisa normal... nas mulheres... dá:: uma espécie de alergia.

L1 : ...

L1 : então você vai tomar:: antialérgico três vezes por dia... e uma injeção para o fígado... um dia sim um dia não''.

L1 : ...

L1 : por sinal que daí eu::... passei a::s/... a enfermeira.

L1 : eu que dava as injeções nela.

Doc1 : ((risos))

L1 : ...

Doc1 : ...

L1 : ela tomou... o an/ o antialérgico... tomou duas::... injeções para o fígado em:: dias alternados... não precisou tomar a terceira porque desapareceram TOdos os sintomas de:: resfriado... e ela teve uma gravidez NORmal... até o fim.

L1 : ...

L1 : logicamente no fim:: deu esses:: inchaço de PE::Rna... então tinha que dormir com a cama ligeiramente inclina::da... mas isso é:: normal em toda:: senhora grávida especialmente no:: último mês.

L1 : ...

L1 : porque o PEso da criança sobre a perna... dificulta a circulação... no::s mê/ nos membros inferiores.

L1 : ...

L1 : então é comum dar... inchaço do dos pés das pernas.

L1 : ...

L1 : agora... normalmente... ela devia ter um::... (um) parto normal...

L1 : mas não não havia dilatação... para o:: parto.

L1 : então foi feito a indução por meio de:: hormônio... injetado na veia.

L1 : ...

L1 : a dilatação só veio... no dia::... treze de outubro... de mil novecentos e sessenta... com::... mais ou menos dez para as quatro... quinze para as quatro...

L1 : ...

L1 : e o parto... ocorreu nessa hora.

L1 : ...

L1 : lamentavelmente... o:: médico que atendeu... que apesar de:: professor assistente da Faculdade de Medicina e membro do Colégio... Internacional de Cirurgiões não passava dum vigarista... dum charlatão... então... como o parto foi às... mais ou menos quatro horas da tarde HOra que ele estava com o::... consultório cheio... o que ele fez??

L1 : ...

L1 : ele... fez o parto... fez a::... o corte normal... que fazem no períneo... depois a (gráfique).

L1 : ...

L1 : esse ponto metálico.

L1 : ...

L1 : são umas latinhas que ele põe para... segurar a carne.

L1 : ...

L1 : e tirou cinco dias depois mandou minha senhora para casa.

L1 : ...

L1 : nessa ocasião... minha:: sogra veio fi/... dormir em minha casa exatamente para fazer a parte de higiene parte de asseio de minha esposa.

L1 : ...

L1 : um dia ela me chamou e disse ''Nílton ... Olha porque eu acho que o negócio está errado''...

L1 : quando eu... fui examinar minha senhora tinha um rombo no períneo... cabia um ovo de galinha.

L1 : ...

L1 : chamei o médico ele (n/) não quis vir em casa disse ''ah isso foi algum ponto que arrebentou o senhor leva para o hospital eu faço uma:: segunda... sutura''.

L1 : ...

L1 : levei para o hospital ele fez a sutura pôs na cama... quatro dias depois saímos do hospital... e:: fui para casa.

L1 : ...

L1 : mas minha senhora não ficava de pé.

L1 : ...

L1 : não evacuava... e gemia o dia inteiro.

L1 : ...

L1 : pedi a ele que fosse no:: em casa vê-la ele disse ''ah isso é::... precisa tirar os pontos é isso que incomoda''.

L1 : ...

L1 : eu digo ''mas doutor... se a minha senhora não fica de pé... como eu vou levá-la no seu consultório para tirar os pontos?''?

L1 : ele disse ''então dá entrada no hospital''.

L1 : ...

L1 : nesse meio tempo... foi:: se não me falha a memória uma sexta-feira eu fui para faculdade onde eu fazia o curso de Economia... minha senhora chamou a mãe e mandou que fosse buscar um outro médico... cirurgião da Santa Casa.

L1 : ...

L1 : esse médico veio... e com uma::... pinça de::... para tirar sobrancelhas e com uma agulha de::...

L1 : aliás minto.

L1 : ...

L1 : foi com uma tesoura de bordado ele tirou os pontos na cama.

L1 : ...

L1 : a o::... a sutura... não tinha... uhn sido:: bem feito ele não est/ não tinha fechado o rombo.

L1 : estava o mesmo rombo... no períneo.

L1 : ...

L1 : ele disse ''NÃO adianta fazer sutura porque desde que esse::... a carne ficou distanciada da... da outra margem... mais de uma semana formou uma película de cicatrização... e logicamente NÃO vai fechar isso daí.

L1 : a senhora vai ter que... pôr mercúrio-cromo... deiXAR... fechar vai nascer uma espécie duma carne esponjosa... daqui a seis meses a senhora vai ter que fazer... operação de períneo.

L1 : ...

L1 : chama-se perineorrafia''.

L1 : ...

L1 : e assim foi feito.

L1 : seis meses depois ela entrou no:: no hospital para fazer uma:: perineorrafia.

L1 : ...

L1 : no segundo parto... apesar de todo:: o pavor que ela tinha... parto foi normal mas:: rompeu outra vez o tecido já devido ao primeiro... e ela teve que fazer NOvamente... outra perineorrafia seis meses depois.

L1 : ...

L1 : eu tinha planejado uma família com três filhos ela disse ''se você quiser o terceiro você vai arrumar na esquina vai arranjar com QUALquer negrinha que você quiser mas aqui a fábrica pegou fogo não tem mais''!

Doc1 : ((risos))

L1 : ...

Doc1 : ...

L1 : e assim ficamos só com dois filhos.

L1 : ...

L1 : de maneira que foi... foram só os dois.

L1 : ...

L1 : graças a Deus têm:: tido boa saúde... desenvolvimento normal e a família vai... tocando:: para frente nessa:: nessa margem aí... sempre trabalhando lutando... vai indo.

Doc1 : (vai indo)...

Doc1 : ...

L1 : ...

L1 : vamos ver até quando...

L1 : ...

Doc1 : seu Nílton e sobre seus antepassados quê que o senhor teria para nos contar??

Doc1 : ...

Doc1 : sobre seus avó::s bisavó::s...

Doc1 : ...

L1 : bom... sobre os antepassados::... se for contar tenho que começar com o descobrimento do Brasil.

L1 : ...

L1 : porque:: meu pai é da família dos Pereira Bicudo.

L1 : ...

L1 : os Pereira Bicudo segundo::... a Genealogia Paulistana... de Silva Leme e:: segundo Pedro Taques eram dois irmãos que vieram para o Brasil... e aqui já::... eram AUtoridades em mil nove/ em mil quinhentos e sessenta e cinco.

L1 : ...

L1 : parece-me que foi um Bicudo que... colocou o primeiro pelourinho na Cidade de São Paulo.

L1 : ...

L1 : esse Bicudos... parece-me que UM deles foi para:: região de Itu... e o outro entrou... para o Vale do Paraíba... onde ele tinha ganho uma grande sesmaria.

L1 : ...

L1 : a minha família... É originária do:: Vale do Paraíba.

L1 : ...

L1 : de maneira que todo:: Bicudo do Vale do Paraíba é parente meu.

L1 : ...

L1 : não conheço muitos ou:: são muito afastado porque afinal das contas são quatrocentos anos mas... o tronco é um só.

L1 : ...

L1 : minha avó que era Ana Rosa Pereira Bicudo casou-se dizem com um primo no:: no:: até hoje não:: consegui:: achar essa ligação... chamava-se Antero Batista de Azevedo Chaves.

L1 : ...

L1 : meu pai nascido em Jacareí... achou que pôr (o) nome... Pereira Bicudo Batista de Azevedo Chaves numa pessoa só era MUIta gente!

L1 : ...

Doc1 : uhn uhn...

Doc1 : ...

L1 : muito nome perdão.

L1 : ...

L1 : era muito nome para uma:: pessoa só!

L1 : então ele assina exclusivamente Itagiba Chaves.

L1 : ...

L1 : ele::... apesar de nascido em Jacareí veio muito criança para São Paulo... trabalhou... porque os pais dele perderam tudo por motivo de doença... e meu avô... se aposentou-se como porteiro do Grupo:: Escola::r... não me recordo o nome ali no Bairro da Luz...

L1 : ...

L1 : Grupo Escolar que existe no::... Bairro da Luz ali em frente::... em frente à e/ à estação do:: de trem... onde hoje é o::... acho que o Liceu de Artes e Ofícios ou Escola de Belas-A::rtes qualquer coisa assim...

L1 : ...

L1 : agora minha MÃE... é filha de:: Arlindo Roberto Alves... de Campinas... e ainda tem lá... diversos Roberto Alves lá em Campinas... e:: de:: Brasília... Cavalheiro Alves.

L1 : ...

L1 : os Cavalheiro Alves... aliás... minto...

L1 : ...

L1 : Brasília... Cavalheiro.

L1 : ...

L1 : que Alves depois de casada lógico.

L1 : ...

L1 : os cavalheiros... foram para o Brás... mais ou menos há uns cento e cinquenta cento e oitenta anos atrás...

L1 : ...

L1 : o:: naquele tempo conta minha mãe... que já ouviu... dos seus antepassados é lógico... que a:: igreja que tem na::... Rangel Pestana em frente à rua Piratininga... era uma:: capela... de madeira.

L1 : ...

L1 : daí até a Penha... era um atalho... onde havia cobras:: índios onça e outros:: bichos.

L1 : ...

L1 : meu tataravô foi construtor no Brás... e meu bisavô TAMBÉM... foi construtor.

L1 : ...

L1 : em honra a eles... é que tem a rua::... a rua Cavalheiro.

L1 : não sei se não era... propriedade deles a:: região...

L1 : sei que meu bisavô possuía uma grande chácara... na Vila Ema... que depois foi loteada e hoje eu acho que não sobra mais coisa nenhuma para família.

L1 : ...

L1 : minha mãe quando solteira... assinava... Júlia Cavalheiro Alves.

L1 : ...

L1 : a::gora... quando:: houve o casamento dela com meu pai... em vinte e cinco de janeiro de setenta e cinco... foi contra a vontade do meu avô.

L1 : ...

L1 : não sei por que:: cargas d'água meu avô não queria saber desse casamento...

L1 : PORÉM meu bisavô... o Joaquim Cavá/ ahn Joaquim Cavalheiro... insistiu... e disse para o genro.

L1 : disse::... ''Arlindo se você NÃO fizer ESSE casamento EU faço... primeiro porque eu conheço o rapaz... sei das qualidades dele... sei que ele é um... HOmem... de verdade... e além disso eu sei... que a Júlia gosta do rapaz os dois se amam então:: para que que você vai impedir?''?

L1 : ...

L1 : então meu avô... quando viu... a:: situação ele consentiu o casamento.

L1 : ...

L1 : não sei se por isso ou simplesmente para evitar um:: choque... de sons... ficaria muito desagradável minha mãe assinar... Júlia Alves:: Chaves... então minha mãe assina exclusivamente Júlia Chaves.

L1 : ...

L1 : daí:: meu avô jamais se conformou com isso.

L1 : muito embora tenha:: falecido a... com quase oitenta anos ele:: dizia ''vocês deviam assinar Alves''!

L1 : ...

L1 : e eu então por troça costumo dizer que eu sou um cavalheiro por parte de mãe... mas sou BIcudo por parte de pai.

L1 : ...