Inquérito SP_D2_396
Doc1 : ...
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : olha gente eu queria que vocês comenta::ssem como é que era os vê/ o vestuá::rio::... da época de vocês de mocinho...
Doc1 : ...
Doc1 : das diversas classes sociais... certo??
L1 : sociais.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : certo.
L1 : ...
L1 : então...
L1 : ...
L2 : éh quando ela ia para a escola tinha uniforme.
L2 : ...
L1 : para a escola... tinha [tinha uniforme.
L2 : [Escola Normal tinha uniforme [sim.
L1 : ...
L1 : [agora as toaletes... as toaletes de... [de passeio eram realmente... [era o::...
L2 : ...
L2 : da é?
L2 : ...
L2 : de [passei::o cine:: de bai::les eram diferentes.
L2 : ...
Doc1 : [aham.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : as moças...
L1 : ...
L2 : a tarde ele...
L2 : como de escola era saia azul marinho blusa branca sapato preto.
L2 : ...
L2 : costume a gente andava costume...
L2 : ...
L1 : ( )
L1 : ( ) (jovens)...
L1 : ( ) as moças.
L1 : ...
L1 : as moças... ( ) as moças e os moços naturalmente as [moças ( ).
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L2 : você andavam... de [fraque para ir ao cinema.
L1 : [vocês...
L1 : ...
L1 : é nós homens:: eu gostava muito de andar de::... usar [fraque.
L2 : ...
L2 : [no no cinema no Largo do Arouche... [vocês iam de fraque.
L1 : ( )
L1 : ...
L1 : [( )
L1 : ...
L2 : ...
L1 : (geralmente) eu gostava muito de fraque usava fraque e chapéu... coco.
L1 : ...
L2 : ( ).
L2 : ...
L1 : de dia.
L1 : ...
L1 : (mesmo) de dia.
L1 : ...
L1 : ma::s... existia aqui quem usasse sobrecasaca por exemplo que era o:: professor Vampré... professor de Direito usava só sobrecasaca::... de dia e de noite sobrecasaca e cartola.
L1 : ...
L1 : então ele era conhecido pelo doutor...
L1 : ...
L1 : o segundo:: o:: o:::... o:: jornalista::... jornalista::...
L1 : ...
L2 : o apeLIdo dele que era [doutor.
L1 : [doutor Guandê... [o apelido dele.
L2 : ...
Doc1 : [( )... [((risos))
L1 : ...
L1 : [isto era o Alexandre Marcondes Machado.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : que era um jornalista... d'O Pirralho.
L1 : neste tempo existia aqui um jornaleco chamado PirRAlho [entre outros jornais.
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : então este usava isto.
L1 : ...
L1 : mas o coMUM... não era o fraque::.
L1 : ...
L1 : o comum era naturalmente o paletó saco e jaquetão... para o::s para os ba::iles::.
L1 : ...
L1 : ou smoking... ou jaquetão com calça à fantasia.
L1 : ...
L2 : (você) ( ) (baile) né??
L1 : é para os bailes.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e não e o comum na cidade era um paletó saco.
Doc1 : uhum.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : agora PAra as visitas::... era exigido o colete.
L1 : sempre é um TERno.
L1 : ...
L1 : terno eram três peças.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : calça paletó e colete evidentemente...
L1 : era falta de educação aparecer numa casa de família... ou numa ( ) reunião qualquer sem o::... sem o colete.
L1 : ...
L1 : então todos usavam o colete.
L1 : ...
L1 : agora FOra disso::... o comum a rapaziada passeando não fazia muita questão de colete.
L1 : ...
L1 : e:: nos no no no nos assustados nos BAIles nos assustados não nos assustados não tinha qualquer toalete.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : nos bailes naturalmente ou era fraque... ou era jaquetão... ou era... smoking.
L1 : ...
L1 : para os moços.
L1 : ...
L1 : e as moças... vestidos mais ou menos longos.
L1 : ...
L1 : para os bailes.
L1 : ...
L1 : [e::... fora disso era muito saia e blusa.
L2 : [( )
L2 : ...
L1 : ...
L1 : comumente até a a... as moças eram saia e blusa.
L1 : não usavam...
L1 : ...
L1 : mu/ mui/ muito poucas moças iam... usavam vestidos completos para para o durante o dia.
L1 : ...
L1 : muito muito poucas.
L1 : ...
L1 : i::a... pela::... pouco acima do::... do que nós ali chamaríamos hoje cano de bota cano das botinhas.
L1 : ...
L1 : não tinha.
L1 : naquele tempo não se usava botinhas.
L1 : ...
L1 : usavam sa/ as moças usavam sapatos... ou botinhas [até... botinhas de quatro.
L2 : [( ) com camurça...
L1 : ...
L2 : ...
L1 : botinhas de quatro... de dez centímetros acima do... do [tornozelo.
L2 : é::.
L2 : ...
L2 : [é ( ) de couro [marrom cinza branco.
L1 : ...
L1 : do [tornozelo é.
L1 : ...
L1 : e:: regra geral exatamente isso.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : sapatos... de [camurça...
L2 : [geralmente [( )...
L1 : ...
L1 : [ou verniz ou camurça... [e::... [meias... [meias de seda... marca Águia que eram as mais finas.
L2 : ...
Doc1 : certo
Doc1 : ...
L2 : escola andava [de... [sapato ( ) [PREto.
L2 : ...
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : eram as mais finas.
L1 : ...
L1 : e::... vestidos de::...
L1 : ...
L1 : vocês usavam vestido para para para para baile de organdi... regra geral.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : [né??
L1 : [organdi... o::... outros tecidos que desapareceram como::... o::... éh digamos o::... o voile... o voile de lã... o étamine... para para o verão... étamine... o veludo muito comum... [para o s/ o tempo de frio... tempo de frio...
L2 : ...
L2 : [o meio de ano.
L2 : ...
L2 : é a mesma coisa que usam agora não é??
L2 : ...
L1 : só que outros tecidos trocaram de nome hoje... não é??
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : quase que o o organdi hoje é organza né??
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ah:: o:: voile não existe mais o voile de lã nem o voile de de [étamine.
L2 : [era a cassa.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : cassa::... né?... muito comum... cassa.
L1 : ...
L1 : agora as outras classes mais modestas usavam chita:: era muito mais comum era chita.
L1 : ...
L1 : as::... operárias::... vestiam-se muito mais modestamente evidentemente.
L1 : ...
L1 : usavam chita e até até no calçado era diferente.
L1 : ...
L1 : e:::... as as as::: moças [da::... [( ) sociedade...
L2 : [depois apareceram culote [né? que se amarra?
L1 : ...
L2 : ...
L1 : mais tarde.
L1 : ...
L2 : calça [comprida.
L1 : [mais tarde.
L2 : ...
L2 : apareceu culote.
L1 : ...
L1 : [jupe-culotte.
L2 : [( ) em novecentos e vinte.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : a jupe-culotte.
L1 : ...
Doc1 : [hum.
L1 : [então... as primeiras que saíram de jupe-culotte foram vaiadas no Rio.
Doc1 : ...
L1 : ...
Doc1 : [(ai meu Deus).
L1 : [( ) comum.
Doc1 : ...
L2 : [então éh principalmente no interior eram [vaiadas né?.
L1 : ...
L1 : [( )
L1 : ...
L2 : ...
L2 : aqui não.
L1 : [apesar de que a gente vê aí falar que no interior usava chapéu não usava.
L2 : ...
L1 : aqui em São Paulo usava [chapéu.
L2 : [usava chapéu (assim para ir) [ao centro.
L1 : ...
L1 : [as moças aqui em São Paulo mas no interior nenhum lugar usava chapéu.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : para poder ir no Casarão (aquela [moça) de chapéu mas... não é verdade não.
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : usavam chapéu em São [Paulo.
L2 : [usava chapéu [bonito.
L1 : ...
L1 : [chapéus.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : diversos tipos de chapéu.
L1 : [( )
L2 : [( )
L1 : variava demais.
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : e::... inclusive para ir ao cinema.
L1 : ...
L1 : o que cau/ cau/ causava revolta para o cinema para o teatro porque... chapéu muito grande [atrapalhava o de trás.
L2 : [é.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : [jardineiras cheia [de::... [flores.
L1 : [( )
L1 : ...
L1 : [jardineiras cheias [de:: flores e de frutas...
L2 : ...
L1 : ...
L2 : hoje ainda tem lá.
L2 : ...
L1 : eu acho certo que espet/... que era um verdadeiro espeto atravessando... a cabeça para para segurar para segurar o chapéu.
L1 : ...
L2 : é.
L2 : ...
L1 : então tinha o chapéu tinha o charlotte... que era uma espé/ era um chapéu de RENdas... mais ou menos que ( ) charlotte.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : e tinham os ti/ usavam também os... os cha/ chapéus... ah... chapéu de palha é muito comum chapéu de palha ( ) de veLUdo também.
L2 : comprou ( )
L2 : ...
L1 : ...
L2 : você acha [( )??
L1 : [não se...
L1 : ...
L1 : é.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : a não ser para a escola você vê... era obrigatório chapéu com a moça.
L1 : ...
L1 : para ir à cidade ou qualquer lugar.
L1 : a não ser quando era as estudantes que iam para a escola et cetera.
L1 : ...
Doc1 : a senhora lembra como era o unifor::me da senhora??
Doc1 : ...
L1 : [uniforme?
L2 : [ah o uniforme (eu me lembro) era saia azul marinho e::...
L1 : ...
L2 : ...
L1 : blusa branca... [saia azul marinho e blusa branca [e::... [e um casaco... no tempo de frio.
L2 : é costume não é?... [chamavam [naquele tempo.
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L2 : ...
L2 : [blusa [branca.
L2 : ...
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L1 : no tempo de:: calor [não casaco ( ) casaco::...
L2 : [no calor tinha blusas...
L2 : aquelas blusas... de cassa [que a gente chamava de organdi::... não é??
L1 : ...
Doc1 : [uhum
Doc1 : ...
L2 : ...
L2 : blusas brancas.
L2 : ...
L2 : [mas::...
L1 : [e nós rapazes... então (vamos lá já que está-se a falar) em toalete... era... nosso ponto ficava na rua Direita ali a ali na esquina da... da da rua José Bonifácio... José Bonifácio que encaixa na rua Direita justamente.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : ali era o ali tinha um tem o::... a drogaria... drogaria AmaRANte... e ali o bô/ o bonde sê/ o bonde sê/... era um PONto de bonde o bonde parava ali.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : então nós rapazes ficávamos ali para ver as moças descer... para ver dois dedos de perna das moças.
L1 : ...
L1 : nada mais do que dois dedos porque está/ estava (oculto).
L1 : ...
L2 : é:: hoje é diferente.
L2 : ...
L1 : dois dedos de perna das moças.
L1 : ...
L1 : estavam (evi/ evid/) evi/ evidentemente (ocultas).
L1 : ...
Doc1 : ( )
Doc1 : ...
L1 : e:: as moças quer dizer...
L1 : ...
L1 : havia muito mais... dificuldade de um ra/ rapaz é dificilmente um rapaz saia com uma moça.
L1 : era muito difícil.
L1 : ...
L1 : a não ser quando havia muita intimidade.
L1 : ...
L1 : os namorados geralmente namoravam::... [( ) (longe) de esquina de janela... [enquanto isso eu ia...
L2 : [na janela.
L2 : ...
L2 : [longe tinha hora para namorar e fechar a janela.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : no [nosso tempo.
L2 : [( )
L1 : isso por volta de mil novecentos e quinze mil novecentos e dezesseis (mil novecentos e) quatorze.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : nas pri/ primeiras décadas.
L1 : nas duas primeiras décadas.
L1 : ...
L1 : depois os costumes foram se::... se:: li/ liberando mais.
L1 : ...
Doc1 : é::.
Doc1 : ...
L1 : nas duas nas duas primei/ até na terceira década... ainda... havia muito muito recato.
L1 : ...
L1 : e::... naquele tempo apontava-se uma moça mais... mais escandalosas...
L1 : ...
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L1 : apontava-se para uma moça era ela era... lovelácia ela era... leviana... então era apontada como tal.
L1 : hoje é o contrário.
L1 : ...
L1 : aponta-se quando ela é recatada.
L1 : ...
L1 : [(quando ela é mais)...
Doc1 : [e o que era uma moça escandalosa naquela [época??
L1 : ...
L1 : [como é??
Doc1 : ...
L1 : ...
Doc1 : era só no trajar??
Doc1 : ( )
Doc1 : ...
L1 : [escandalosa:: no trajar e no no:: [portar-se no namorar no portar::-se... por sair com com um rapaz de braços dados... enfim atitudes menos::... menos recatadas né? as coisas que eram consideradas... escandaLOsas.
L2 : [no trajar e no::... [namorar...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : é:: uma moça que vivia na janela o dia inteiri::nho... e que dava bola para todo mundo [então (eram) escandalosas.
L2 : [vassoura chamam.
L1 : ...
L1 : vassouras.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : é tanto é (que aque::l/ aquele) canto... vassoura vassourinha né??
L2 : ...
L1 : [ah é...
L2 : [(chamava) vassoura quando era muito namoradeira.
L1 : chamava o pessoal vassourinha.
L1 : ...
L2 : ...
L2 : mas no baile a gente não saia sem uma apresentação.
L2 : ...
Doc1 : [( )
L1 : [bailes não [se dançava uma pessoa...
Doc1 : ...
L2 : [sem uma pessoa conhecida apresenta::r o rapaz para a gente dançar né?.
L1 : ...
L1 : ( ) não ser um baile:: em que... um baile de... de recepção de calouros... baile de formatura aí então aí a gente::... evidentemente... as moças tinham de::... de sair.
L2 : ...
L1 : mas fora disso... éh::.
L1 : e e o rapaz não se atrevia a tirar uma moça se não fosse... [(conhecido).
L2 : [apresentada.
L1 : ...
L1 : ou colega ou...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : mesmo que fosse colega ( ) de muita intimidade.
L1 : ...
L1 : mas do contrário sem intimidade ele dificilmente ele chegaria... o rapaz iria tirar uma moça.
L1 : ...
L1 : ele estava sujeito a levar uma tábua mesmo né?.
Doc1 : hum.
L1 : ...
Doc1 : ...
L2 : levava tábua né?.
L1 : tábua estava sujeito (a levar porque) as moças... eram muito mais... mais...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : bom os costumes eram muito mai/ evidentemente [muito mais... mais seVEros do que hoje.
Doc1 : [é ( )...
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : e::...
L1 : ...
L2 : mas lá em casa tinha hora para estar na janela.
L2 : uma certa hora vovó chegava ''olha... já está noitinha''.
L2 : ...
L2 : cada um se recolhia [para o seu quarto para estudar.
L1 : [( )
L1 : ...
L2 : ...
L2 : tinha [hora de ficar na janela.
L1 : [tinha.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : algumas moças que... que eram bem mais levianas.
L1 : mas era muito raro.
L1 : ...
L1 : que gostavam de dar risada no meio da rua.
L1 : ...
L1 : agora::... entre as normalistas é um pouco comum elas quando formavam os grupos de normalistas... então elas ficavam um bocadinho ali... pouco aqui.
L1 : ...
L1 : mais expansivas... mais [abertas... [mas sozinhas não.
L2 : [na Praça da [República.
L1 : ...
L2 : [( )
L1 : [lá na Praça da República.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : sozinha não.
L1 : ...
L2 : aquela praça era toda ajardina::da não?.
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : e as [menin/ as moças da Escola Normal quando nós estudávamos Íamos para a praça.
L1 : [moças...
L1 : ...
L2 : ...
L2 : mas não eram todas não... sentava ali para conversar.
L2 : ...
L2 : (e então) mes::mo na na:: no:::... (bosque::te) que chamavam né?...
L2 : ...
L2 : na patinação ninguém ia saindo assim não.
L2 : ...
L2 : só conhecido mesmo.
L2 : ...
L2 : o conhecido não levava tábua.
L2 : isso vinha éh::...
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : e os [diretores... ( )... a escola há os diretores ficá/... fiscalizavam diretor inspetor... para que ali não houvesse::... as moças saís/ saíssem direitinho sem que houvesse nada.
L2 : [tiravam (para patinar).
L2 : ...
L1 : ...
L1 : de vez em quando mandavam alguns para o/ alguma para/ algum soldado para espantar o coió (que o coió estava) um bocadinho... mais... mais expansivo lá vinha um...
L1 : ...
L1 : naquele tempo nós chamávamos de macambé.
L1 : ...
L1 : macambé era um s/ era um...
L1 : nós dizíamos que::... Portugal exportava para o Brasil duas coisas bacalhau... e macambé.
L1 : ...
L1 : macambé era a guarda cívica.
L1 : guarda cívica não é guarda civil.
L1 : ...
L1 : guarda cívica::... era um batalhão... mandante com a força pública... mas::... todo ele (ele é) o:: serviço dele era::... vigilância nas rua.
L1 : e certos serviços.
L1 : praticamente... era uma polícia de vigilância.
L1 : ...
L1 : (porque) tinha outra polícia que era uma polícia só... a polícia militar.
L1 : ...
L1 : então o guarda cívico quase todos eles eram eram... eram... eram... portugueses.
L1 : quase todos eram portugueses.
L1 : ...
L1 : raro brasileiros.
L1 : ...
L1 : e depois então foi suprimida a guarda cívica... e o Washington criou a guarda civil...
L1 : ...
L1 : essa guarda civil que existiu até pouco tempo... foi feita exclusivamente para recepções... e teatros.
L1 : ...
L1 : não tinha outra função.
L1 : ...
L1 : depois passou... a:: exercer o::... a fiscalização de rua... (a qual) não existia.
L1 : ...
L1 : e::...
L1 : ...
Doc1 : e a dona Aída a senhora lembra assim de alguma toalete... muito bonita que a senhora tenha gosta::do que tenha ficado... na memória??
Doc1 : ...
L2 : é dia de formatura... não é? (então) por exemplo vovó elas nos dava um:::... vestido muito bonitos (com) escolhíamos boas costuREIras... na rua Itapetininga... que hoje não é não é?...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : tinha lá tinha (não sei se) tinha alfaiate também ((risos))... e a gente então mandava fazer por elas não é?.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : ...
L2 : e::: uns vestidos mais de rendas muito mais bonito não é?.
L2 : ...
Doc1 : hum
Doc1 : ...
L2 : naquele tempo se usava até faixa de cor ((risos)).
L2 : ...
L2 : aqueles vestidos com faixa de cor né?.
L2 : ...
L2 : éh com fi::tas e tudo.
L2 : ...
L2 : agora:: a gente escolhia:: uma melhor costureira não é?.
L2 : ...
L1 : e discreto.
L1 : ...
L1 : [e realmente pouco decotado um decó/ meio decote.
L2 : [é
L2 : ...
L1 : ...
L1 : dificilmente (se via uma)... nessa época o decote completo.
L1 : ...
L1 : era meio decote.
L1 : ...
L1 : não passava... não chegava à raiz dos seios.
Doc1 : uhum.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : e::... às vezes to-da... às vezes rendado mas sempre... sempre tinha por baixo um::... existia sempre nunca nunca era transparente sempre [existia um::... um::... [corPInho como chamavam naquela [ocasião usava um corpinho.
L2 : recato... não é?.
L2 : ...
Doc1 : [(certo)
Doc1 : ...
L2 : eram [recatadas as moças... [né?.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : não era... não era este:: negócio que hoje tem --como é que chama-se?--?
L1 : ...
L1 : hoje é::... esse negócio que se prende aqui.
L1 : ...
Doc1 : [sutiã??
L2 : [sutiã??
Doc1 : ...
L2 : [alguma [dessas [sutiã?
L1 : [sutiã.
Doc1 : [ah.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : [é não era sutiã.
L2 : ...
L1 : usava-se corPInho.
L1 : ...
L1 : as moças usavam o corpinho.
L1 : ...
L1 : firme ligado.
L1 : ...
L1 : e... as toaletes... mais ou menos era procurado ter uma cintura de vespa cintura apertada regra geral.
L1 : ...
L1 : com espartilhos.
L1 : ...
L1 : coletes.
L1 : ...
L2 : [eu já vi esse colete até na [na na escola.
L1 : [(usava-se)...
L1 : ...
L1 : [é
L1 : ...
L2 : ...
L1 : as moças todas usavam [colete.
L2 : [sapato de salto [alto.
L1 : todas.
L1 : ...
L1 : [nenhuma moça saia sem colete.
L2 : ...
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : todas elas usavam colete e o colete mais ou menos de um palmo e meio de:: pano... que dava uma certa forma (ao)... com barbatanas que dava uma certa forma ao::... ao corpo.
L1 : ...
L1 : naturalmente::... é bem apertados na cintu::ra e depois... abrindo-se... [como se fosse um... [como se fosse um xis.
L2 : [( ) fazia aula né?... [sentava com o colete.
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : tinha muitas?.
Doc1 : ...
L2 : [depois quando chegava em casa:: tirava fora porque... tantas horas ali de aulas... não é?.
L1 : [( )...
L1 : ...
L2 : vinha um lente... dava::... ai ah::... dava uma maTÉria (por exemplo) [História vinha outro ( )... FÍsica e a gente ficava ali:: assistindo tomando apontamentos não é?.
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L1 : apertada (na [cadeira).
L2 : ...
L2 : [é quando chegava em casa bom...
L1 : ...
L2 : ...
L2 : bom naquele tempo tinha já::: carteiras:: individuais não é?.
L2 : ...
L2 : cada (coisa na::)...
L2 : na Escola Normal principalmente tinha.
L2 : ...
L2 : agora a gente ficava o tempo todo ali cansada.
L2 : quando (eu) chegava em [casa... [eu tirava o colete fora não é?.
L1 : [apertada naquelas [barbatanas...
L1 : ...
L2 : ...
L2 : mas éh::... todo mundo andava de colete.
L2 : principalmente as mocinhas depois de quinze anos e tudo.
L2 : ...
Doc1 : ( )
Doc1 : ...
L2 : e eram mais recatadas::.
L2 : ...
L2 : em vista de hoje.
L2 : ( )
L1 : na sô/ na sociedá/ sociedade média na nossa sociedade... não existia assim vestidos de cauda.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : dificilmente a não ser para casamento... a não ser a::s noivas... vestido de cauda não não aparecia nos bailes.
L1 : ...
L1 : e os vestidos de SEMpre os mais mai/ os mais longos... não passavam do tornozelo.
L1 : ...
L1 : hoje arrastam né?.
L1 : ...
Doc1 : ( ).
Doc1 : ...
L1 : não passavam do tornozelo.
L1 : mas isso os mais longos.
L1 : ...
L1 : mas regra geral eles ficavam uns quatro dedos uns cinco dedos acima do tornozelo... o vestido.
L1 : ...
L1 : depois foram encurtando um pocadinho.
L1 : ...
L1 : e principalmente as normalistas costumá/... começaram a encurtar um pocadinho.
L1 : ...
L2 : é [mas...
L1 : [mas nunca chegando a::... a mais que o meio da canela.
L2 : ...
L1 : o máximo o máximo o meio da canela.
L1 : ...
L1 : não:: não [chegava.
L2 : [lá lá:: no colégio de irmãs da caridade... havia TANto recato que::... as alunas tinham que tomar banhos de camisola.
L1 : ...
L2 : ...
L2 : uma camisola para tomar banho entende?.
L2 : ...
L2 : e uma irmã passean::do ali... né::??
L2 : ah chuveiro a/... as portas abertas e:: era o banho de camisola.
L2 : ...
L2 : quando a gente saía de lá olhava (e) o pescoço estava...
L2 : ...
L2 : não era só eu no tempo mesmo de de::... de golinha.
L2 : a minha prima que esteve no colégio Santa Inês não é?.
L2 : ...
L2 : agora no outro colégio não não... não era obrigado a TANto recato assim.
L2 : havia mais liberdade.
L2 : ...
L2 : no colégio Florence em Jundiaí não é??
Doc1 : uhum.
L2 : ...
Doc1 : ...
L2 : lá no Colégio Florence eu era menina.
L2 : ...
L2 : eu tinha eu acho que uns sete oito anos.
L2 : eu tinha acho que uns oito anos.
L2 : ...
L2 : ( )
L2 : minha irmã é que era:: mais velha que eu.
L2 : ...
L2 : mas LÁ não havia mais liberdade.
L2 : ...
Doc1 : uma orientação alemã né? (nos [valores)?
L2 : [hã??
Doc1 : [é uma orientação alemã.
L2 : [é é orientação alemã.
Doc1 : ...
L2 : (quando) eu tinha::...
L2 : era geralmente ela trazia sabe? professoras da Alemanha... sabe?... para ensinar can::to desenho e de Inglaterra.
L2 : ...
L2 : agora uma das diretoras era alemã.
L2 : ...
L2 : Rosa Flat.
L2 : ...
L2 : até os filhos::... formaram-se em médicos (então).
L2 : ...
L2 : e::: ma/ mas as outras tinham::: eram... eram melhores sabe?.
L2 : ...
L2 : as brasileiras que eram:: geralmente... família Florence...
L2 : ...
L2 : até hoje muito falada né??
L1 : bom esses foram os [fundadores né??
L2 : ...
L2 : [é.
L2 : ...
L1 : os fundadores do [colégio é que foram os Florence.
L2 : [é.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : [por sinal que faleceu um Florence hoje.
L2 : [Florence.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : é.
L1 : hoje eles têm aqui um colégio que::... Florence também... [( )... filial daquele...
L2 : ...
L2 : [avenida Pompeia.
L2 : ...
L1 : não é bem filial foram os::... os descendentes deles que criaram agora [esse colégio parece.
L2 : [é:: mesmo.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : aqui na:: Pompeia.
L1 : ...
L2 : fizeram uma [festa.
L1 : [mas esse colégio... Florence... [depois é que foi vendido.
L2 : ...
L2 : [( )
L2 : ...
L1 : ...
L1 : agora... (parece) dona Rosa [Flat.
L2 : [é::.
L1 : ...
L2 : dona Rosa [Flat então mandava vir as professoras de lá.
L1 : [saíram os Florence...
L1 : ...
L2 : ...
L2 : de pintura de... mandava vir da Inglaterra não é?... professor de alemão...
L2 : quem quisesse:: aprendia alemão.
L2 : ...
L1 : mas (estamos)... voltamos a falar de:: de toaletes... [então vamos dizer que... nós:: da nossa família... que aliás era uma família modesta... nunca frequentamos:: essas soirées assim... do do Clube Internacional:: ou desses clubes assim de... dos grã-finos...
Doc1 : [mas...
Doc1 : ...
L1 : porque a família Toledo tem uma parte que... que... toda continua granfina...
L1 : tem outra parte que é modesta que é nossa... continua modestíssima.
L1 : ...
L1 : embora (sa/) da mesma origem... uns ficaram muito ricos outros ficaram muito pobres.
L1 : ...
L1 : sê/ mas sempre foram mais mais::... modestos.
L1 : ...
L1 : então não podemos falar em bailes:: baile do Internacional que era clube... era o melhor clube de São Paulo nessa ocasião.
L1 : ...
L1 : eram famosos os bailes do [Internacional...
L2 : [tinha Círculo Italiano também naquela [(época).
L1 : ...
L1 : [é::.
L1 : esses eram (os de) os [grandes.
L2 : ...
L2 : [a gente não não [frequentava.
L1 : ...
L1 : se bem que os italianos nessa ocasião ainda não eram... não eram:: não tinham galgado à... à:::... éh::... galgado essa posição assim essa::... social porque::: estavam começando os industriais lá naquele tempo.
L2 : ...
L2 : a posição.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : então não havia propriamente a não ser havia o::... um:: ( ) alguns clubes italianos ainda eram relativamente modestos.
L1 : ...
L1 : porque::... milionário aqui só existia nessa ocasião três ou quatro.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : seria o::... o Matarazzo [que estava começando a ficar (do outro lado)... [o::: Crespi:: que estava (nobiliárquica/) milionário... [e::... e:: do outro lado aqui:: como brasileiro:: o::... o Conde Prates o Conde... [Penteado:: enfim eram meia dúzia de milionários só o resto da sociedade toda era... era de pessoas... REmediadas.
L2 : [ah o Matarazzo que fi/... ficou [milionário...
L2 : ...
L2 : siciliano [( )...
L2 : ...
L2 : [Prates...
L2 : ...
L1 : ...
L2 : é porque [muitos comendadores compravam título né?.
L1 : [remediadas.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : é::: eram [remediadas.
L2 : [compravam títulos.
L1 : ...
L2 : isso já se sabia.
L2 : tal comendador fulano?... como é?...
L2 : ...
L2 : é a família que comprava título.
L2 : o::: [Matarazzo também é comendador o outro não é??
L1 : [é.
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : [mas...
L2 : [agora...
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : [pode contar?
L2 : [( )?
Doc1 : vocês acham que os:: tecidos --voltando a::o... ao assunto--... éh::... os tecidos se adaptavam eram adequados ao nosso clima?
L2 : ...
Doc1 : ...
Doc1 : naquela [época?...
L1 : [eram porque mesmo a mesmo as étami/ as:: os voile aquilo era leve.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : não era pesado.
L1 : ...
L1 : era muito leve.
L1 : ...
L1 : e:: São Paulo era mais fria do que hoje.
L1 : ...
L1 : bem mais frio.
L1 : a a não tinha um dia::...
L1 : este ano tivemos frio mas... raramente é...
L1 : ...
L1 : São Paulo era é/ era:: --como a senhora sabe-- era o São Paulo da garoa.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
L1 : São Paulo frio.
Doc1 : ...
L1 : então:: era:: e::... exigia-se uma toalete mais... [mais pesada um pocadinho.
L2 : [a astracã (era pesado)...
L1 : ...
L2 : que era um tecido boni::to que usavam não é??
L2 : ...
L1 : e os casacos de astracã durante o inverno e tal et cetera.
L1 : ...
L1 : e o inverno era firme é realmente era firme.
L1 : eram três meses quatro meses de inverno no máximo.
L1 : ...
L1 : depois as duas estações temperadas eram temperadas mesmo.
Doc1 : uhum.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : e o verão era um verão ah:: forte evidentemente.
L1 : ...
L1 : mas não tão forte como hoje porque sempre tinha... ah... a:: aragem das matas que cercavam São Paulo tornavam o clima mais ameno.
L1 : ...
L1 : mais firme e mais [ameno.
L2 : [era fri::o agora não.
L1 : ...
L1 : depois com a::... com a guerra de... com esta guerra de... começá/ é::... começaram a::... devastar as matas para fazer o::... gasogênio.
L2 : ...
L2 : a Grande Guerra.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : [( ) o gasogênio.
L2 : [( ) gasogênio.
L2 : ...
L1 : então debastaram-se as matas começou o a exploração... carvoari::a essas coisas todas acabou com tudo isso mudou completamente o clima de São Paulo.
L1 : ...
L1 : completamente mudou o clima de São Paulo.
L1 : ...
L2 : as padaRIas eram tocadas por exemplo tudo a [le::nha.
L1 : [é naquele [tempo era.
L2 : ...
L2 : [( )
L1 : ...
L2 : naquele tempo né??
L2 : ...
L1 : [a eletricidade era pouco:: relativamente pouco usada a não ser para...
L2 : [tinha até...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : mesmo as fábricas eram tocadas éh... a lenha...
Doc1 : que absurdo não??
Doc1 : ...
L2 : a lenha.
L2 : ...
L1 : depois é que foi... [( )... foi eletrificando [tudo.
L2 : foram [eletrificando tudo não é?.
Doc1 : uhum.
L2 : ...
Doc1 : ...
L2 : [depois:: acabaram os bondes... ainda ( ) os:: Ônibus hã?... que é pior ainda eu [acho.
L1 : ...
L1 : mas...
L1 : ...
Doc1 : [é
Doc1 : ...
L2 : ...
L1 : então [mudou... mudou completamente o clima de São Paulo... e os hábitos também mudaram porque houve então...
L2 : [é capaz de voltar.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : o que aconteceu...
L1 : ...
L1 : houve a::... a invaSÃO de São Paulo... por... por por pessoas... não só de fora principalmente de fora.
L1 : ...
L1 : cresceu muito depois da guerra... imigração... e::... do Norte sobretudo do Norte.
L1 : então aí mudou mudaram-se os hábitos mudou... aquela...
L1 : ...
L1 : eu por exemplo quando ia à cidade... mo::ço e mesmo depois de casado mesmo depois de ter filho --aliás meu filho até esta... sempre me deu... me ch/ éh ch/ me chamava atenção nisso--... mesmo quando eu vinha do interior depois de ter morado no interior eu atravessava a cidade... ''Tomacílio como vai?... Tomacílio como vai? como vai Osvaldo como vai?''.
L1 : ...
L1 : no centro da cidade a gente encontrava cê/... centenas de::... TOdo mundo se conhecia.
L1 : ...
L2 : éh.
L2 : ...
L1 : até mil nó/ até mil novecentos e quarenta todo mundo se conhecia em São Paulo.
L1 : ...
Doc1 : ( )
Doc1 : ...
L1 : ( )...
L1 : rodava pela cidade éh::... os rapazes todos se conheciam.
L1 : ...
L1 : depois de quarenta que não.
L1 : agora ( ) a gente vai para a cidade não conhece mais ninguém:: em absoluto.
L1 : ...
L1 : porque::: foi TANta gente vindo de fora tanto... tantos ádvenas... [que já não se::... né?.
L2 : estran:: [estrangeiros não é?...
L1 : ...
L2 : ...
L1 : então mudaram-se os hábitos.
L1 : ...
L1 : mudaram-se completamente aqué/ as famílias já não... não têm mais a grande intimidade já não se conhecem nem os a/ nem os rapazes quanto mais as famílias.
L1 : ...
L1 : [isso depois de quarenta.
L2 : [e mas... [mas ( )... não é?...
L1 : ...
L1 : [mas até até então a gente... todo mundo se conhecia havia muita muita confiança muita liberdade... muita:: vamos dizer assim muita honestidade muita sinceridade de propósitos... que hoje não existe mais.
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L2 : ...
L1 : hoje era... o comércio era... digamos o comércio o comércio era... pão pão queijo queijo... era um termo (muito [comum).
L2 : [é um termo que se [usava.
L1 : ...
L1 : o::... o comércio... prometia um determinado artigo e nos entregava aquele artigo.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : hoje não.
L1 : hoje::... a gente:::... o o comerciante::... protela:: e se puder não entregar não entrega se subir o preço não entrega.
L1 : ...
L1 : havia não só... comercialmente muita sinceridade muita honestidade... éh::: aqueles negociantes eram... a maioria negociante e principalmente do ramo de tecido eram portugueses ou ou sírios.
L1 : ...
L1 : o::: sírios já foram modificando um pocadinho o::... o::: sistema de negócios.
L1 : mas até mil novecentos e... e:: e vinte::... ainda::... havia muito negô/ negociante grandes negociantes portugueses.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : esses eram... eram... eram... intransigentes em matéria de:: de de de respeito aos [contratos (com palavra à sociedade).
L2 : [( )...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e::... depois então:: quando entraram para cá os::... os sírios em quantidade...
L1 : sírios nós dizíamos turcos... [não eram turcos eram sírios libaneses et cetera.
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : então:: quase todos eles se localizaram na rua Vinte e Cinco de Março.
L1 : ...
L1 : que passou a ser considerada a rua vinte e cinco por cento.
L1 : ...
Doc1 : ((risos))
Doc1 : ...
L2 : ah... ((risos)).
L1 : sabe por quê?.
L2 : ...
L1 : ...
Doc1 : hã [hã...
L1 : [então:: vinte e cinco por cento porque naquele tempo a lei de falência... admitia que o sujeito fizesse uma concordata pagando até vinte e cinco por cento do dos débitos.
Doc1 : ...
L1 : ...
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L1 : então o o sírio... todo sírio abria uma concordata... abria uma falência e depois da na falência propunha uma concordata e pagava vinte e cinco por cento... e guardava o setenta e cinco por cento e ficava rico.
Doc1 : (certo).
Doc1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : então era... rua vinte e cinco por cento.
L1 : ...
L1 : depois então esse Ma/ o::: o::: ministro Marcondes... fez uma lei de falências... exigindo pelo menos... uma porcentagem muito maior (que)... acabou-se isso.
L1 : ...
L1 : mas... eu por exemplo fui negociante de fazendas também.
L1 : ...
Doc1 : é??
Doc1 : ...
L2 : ele foi [tudo.
L1 : [eu já fui tudo na vida.
L2 : ...
L1 : eu tive negócio de fazenda.
L1 : ...
Doc1 : [ah:: então o senhor deve entender.
L1 : [então voltando...
L1 : ...
Doc1 : como é que (que) o senhor vendia?.
Doc1 : ...
L1 : exatamente Isso eu vendia é:: era::... hã:: principalmente se vendia muito étamine muito voile de lã::... muito organdi::... muita seda::... seda japonesa tipo de... ah desenho japonês terno foi muito mô/ muito moderno aqui o... os desenhos japoneses para sedas.
L1 : ...
L1 : e::... nesse tempo a seda (era cara) a maioria das sedas eram francesas.
L1 : ...
L1 : eram italianas eram francesas.
L1 : eram mercadorias quase toda importada.
L1 : ...
L1 : as casimiras também eram todas importadas.
L1 : ...
L1 : e:: o veludo astracã seda milinó...
L1 : ...
Doc1 : o que é isso? ((risos))?
Doc1 : ...
L1 : milinó [é milinó é uma lã... [de (um) de um gado:: chamado de um::... um carneiro que chama-se milinó.
L2 : [( )
L2 : ...
L2 : era [uma lãzinha.
L2 : ...
L1 : de uma... é de uma de... (deve::)... não sei se é da Austrália... se não me engano é da Austrália esse milinó não sei... essa qualidade de::... de:: carneiro.
L1 : milinó.
L1 : ...
L1 : era o...
L1 : ...
L1 : e::... havia muita... muita chita muita ganga.
L1 : ...
L1 : ganga é uma fazenda::... o que será a ganga hoje?.
L1 : ...
L1 : a ganga é... a ganga regra geral... é::... vamos ver se tem uma coisa que::... era uma espécie de de de de de de de de::... de... --como é que chama essa esse negócio aqui:: meu deus do céu--... esta::... [essa fazenda leve que tem aí hoje que todo mundo fala...
Doc1 : a senhora não lembra dona Aída??
Doc1 : ...
L2 : [não.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : que não é bem ah cetim.
L1 : ...
L1 : é com/ era como se fosse um algodãozinho...
L1 : ...
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L1 : um tecido mais ou menos como do algodãozinho mas ralo.
L1 : ...
L1 : BEM ralo.
L1 : ...
L1 : tecido de algodão bem ralo então (isso ah era)... [era.
L2 : [ca::ssa [cassa.
L1 : ...
L1 : [a cassa também existia muito cassa aí...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : cassa e bom a cassa já era uma espécie de organdi mais mole.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : era tecido com [fio tão fino quanto o organdi... mas... éh::... flexível.
L2 : [( )
L2 : ...
L1 : ...
L1 : que o organdi é ah engomado.
L1 : ...
L1 : não tinha goma.
L1 : a cassa não tinha goma.
L1 : ...
L1 : a cassa era como se fosse uma chita mais fina.
L1 : ...
L1 : o que mais tinha era::... [de tecido...
L2 : [vovó tinha um:: um um SÍrio um TURco... que ele vinha trazer em casa para [ela (aquelas peças).
L1 : ...
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L1 : [Alexandre Estrela.
L1 : ...
L2 : é chamava-se Estrela.
L1 : Alexandre Estrela.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : mas nós n/ nós não gostávamos::.
L2 : ...
L2 : tinha uma uma::... umas primas que vovó criou::... desde pequenininhas ficou sem pai (--são duas--) aí vovó comprava para elas.
L2 : ...
L2 : nós já íamos na rua Direi::ta... na rua:: Santa Ifigênia... e comprávamos lá.
L2 : ...
L2 : lá nós escolhíamos as roupas.
L2 : ...
L2 : porque tinha uma parte... que vovó criou...
L2 : ...
L2 : ...
L1 : moça não existia.
L1 : ...
L2 : então na casa Mappin existia.
L1 : isso mais tarde.
L2 : [( ) mais tarde...
L1 : ...
L1 : muito mais tarde.
L2 : BEM mais tarde.
L1 : o Me/ o Ma/ o Mappin:: é de mil novecentos e::...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : [o Mappin ::... o Mappin E Webb... foi:: é de mil novecentos.
L2 : [não sei:: quanto.
L2 : ...
L1 : Mappin E Webb porque no pra/ no princípio era Mappin E Webb eram só joias.
L1 : ...
L1 : joias e pratarias.
L1 : ...
L1 : na rua Quinze de Novembro.
L1 : ...
L1 : então era só...
L1 : ...
L1 : é dé/ depois... por volta de mil novecentos e::... talvez mil novecentos e::... [e trinta é que começou com::... com o::... passou a a a ter tecidos... (além do) passou deixou de ser Mappin E Webb para ser... Mappin E Stores.
L2 : e [vin::te...
L2 : ...
Doc1 : uhum.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : aí então... começou a aparecer vestidos feitos...
L1 : ...
L1 : mas muito:: muito... muito pouco e pouca gente usava vestidos [feitos.
L2 : [é.
Doc1 : uhum.
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : ...
L1 : [geralmente... tinham as [costureiras de São Paulo.
L2 : [( )
L2 : ...
L2 : [( ) tinham costureiras::...
L1 : ...
L2 : ...
L1 : eram feitas por costureiras ou modistas de lu/ de luxo ou costureiras.
L1 : ...
Doc1 : eram muito [procura::das então não é??
L1 : é.
L1 : ...
Doc1 : ...
L2 : eu quando ensinava em Itapira eu vinha aqui a São Paulo para com/ para comprar.
L2 : ...
L2 : geralmente quando eu chegava lá o pessoal mandava ''você me empresta tal vestido?''... eu digo ''ah pode (co/) pode tirar o modelo'' não é?.
L2 : ...
L2 : depois a minha prima começou a costurar a gente via...
L2 : olhava nas vitrinas ''olha você vai lá ver... faça mais ou menos igual''.
L2 : porque tinha as vitrinas também.
L1 : [geral (muito peças).
L2 : ...
L2 : [( )
L2 : ...
L1 : muito pouco.
L1 : porque (nem) vestido de noiva feito não existia.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : eram feitos:::... mandados fazer.
L1 : ...
L1 : ( )
L1 : ...
L1 : nun:: nunca nunca vi... uma uma casa que deve ter desses vestidos de noiva.
L1 : ...
L1 : eram toaletes fê/... feitas (não).
L1 : noventa (mi/ no/) noventa... vamos dizer mais MAIS de noventa de noventa e cinco por cento era::... feita nos costureiros ou feita pela pró/ pró/ própria família.
L1 : ...
L1 : agora:: digamos que lá cinco por cento comprassem essas...
L1 : ...
L1 : a não ser... éh eu não estou dizendo::... roupas de homem embora a (Toscan/) essas:: s/... essas lojas que eu... que eu [citei... [que eu citei...
L2 : [é:: não tinha [como tem o Clodovil hoje o Dener não é?... esses... famosos costureiros... [(naquele tempo).
L1 : ...
L1 : não.
L1 : ...
L1 : [mesmo essas essas::... firmas como La Saison e outras... teria ali uma ou duas ou três para mostrar.
L2 : ...
L1 : mas::... feitas não tinha.
L1 : ...
L1 : tinham suas costureiras tinham tudo mas::... roupas feitas não tinha.
L1 : tinha o... era um figurino.
L1 : se mostrava (é o) era o... escolhida pelo figurino as [as::... ah:: os [toaletes de... as toaletes de [senhoras.
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L2 : [geralmente os eles... [os ricos iam para a Europa não é??
L1 : ...
L2 : ...
L1 : ah:: não traziam de lá as suas toaletes.
L1 : ...
L2 : não de lá eles traziam não é??
L2 : ...
L1 : mas o::... [a MAssa não... [a massa mandava fazer ou fazia ou mandava fazer.
L2 : [agora ( )...
L2 : ...
L1 : ...
L2 : aham.
Doc1 : o senhor lembra de algum detalhe assim de ter::no que o senhor gosta::va [muito??
L2 : ...
L1 : [bom nós tivemos aqui entre outros::... figurinistas ou:: ou alfaiates... o Carnicceli e o Vieira Pinto.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : eram especialistas e::...
L1 : ...
L1 : então:: digamos ( )... aÍ já existia um pouco de moda a roupa cinturada...
L1 : ...
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L1 : os... as golas eram... no meu tempo de menino... as golas eram estreitinhas::...
L1 : ...
L1 : bem estreitinhas... e usava então uma espécie da... usava uma mola de fé/ de::... de aço... que se punha por dentro da gola para manter aquilo... fechadinho o paletó.
L1 : ...
L1 : uma espécie de um bar/ uma barbatana de aço.
L1 : ...
L1 : então aplicava-se aquilo... aqui assim que mantinha o paletó... éh:: direitinho.
L1 : ...
L1 : depois então foi-se::... (trazem/) abrindo mais rasgando mais o paletó.
L1 : ...
L1 : a não ser o jaquetão que é transpassado que isso sempre foi a mesma coisa.
L1 : ...
L1 : e::... e::... esse Carnicceli por exemplo fazia uma rou/ bem cint/... (apareceu volta) do tempo de... isso por volta de mil e novecentos.
L1 : ...
L1 : não sei quando me casei.
L1 : nove novecentos e vinte mais ou menos... então as roupas eram... [cinturadas.
L2 : [cinturadas.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : bem cinturadas... e::... as calças eram... eram... um corte mais ou menos::... REto... mas não largas.
L1 : ...
L2 : (não [boca de sino também).
L1 : [não largas.
L1 : contudo apareceu é... contudo apareceu aparecia por esta época geralmente (boca de sino)... e também aparecia o canudo de pito
L2 : ...
L1 : ...
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L1 : canudo de pito era bem apertadinha bem:: apertada na manga então diziam quem... malandro é que usava a roupa canudo de pito para esconder a navalha ali dentro.
Doc1 : ah é??
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : mas (é que eram bem) bem apertadinha nos pés.
L1 : mal podia entrar nos sapatos.
L1 : ...
L1 : os sapá/...
L1 : eu também tive casa de calçados ((risos)).
L1 : eu fui tudo eu tive tudo ((risos)).
L1 : ...
L2 : ( ) de [calçados [( )...
L1 : [calçados de bico fino.
L1 : ...
Doc1 : [hã.
L2 : ...
Doc1 : ...
L1 : calçados compridos bico bem fino.
L1 : ...
L1 : ponta de agulha.
Doc1 : sei...
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : e::... existiam os calçados --éh para voltando voltando toaletes falando em [calçados--... existiam calçados... do ROcha (por aqui tinha) as firmas melhores era o Clark e o Rocha.
Doc1 : [aham.
Doc1 : ...
L1 : ...
L2 : o Clark era [(bom).
L1 : [o Clark era fabricante mesmo... era uma:: firma inglesa... e o Rocha era uma firma portuguesa que fabricava calçados.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e o (Miliro) também... o (Miliro que era também)... era italiano... calfi/ calçados finos.
L1 : ...
L1 : mas o Rocha:: e o:: e o::... e [o:: Clark tinha um tipo especial de calçado.
L2 : [Casa Clark exatamente.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : então esse calçado tinha um:: formato mais ou menos do pé... bico redondo.... e levantado na ponta.
L1 : ...
L1 : para aconchê/ para dar liberdade aos dedos.
L1 : ...
L1 : chamava-se Commonwealth se não me engano esse calçado.
Doc1 : como é que chama??
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : Commonwealth.
Doc1 : ah.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : eu não falo não pronuncio direitinho.
L1 : ...
L1 : escrevia-se comonvealte não é??
L1 : ...
L1 : não pronún/ não tenho boa pronúncia hoje.
L1 : ...
L1 : nunca tive boa pronúncia de inglês.
L1 : ...
L1 : no inglês eu fui sempre muito ( )... (em inglês).
L1 : ...
L1 : mas... [sapatos... muito cômodos muito confortáveis muito cômodos.
L2 : [éh:: apesar de mamãe ( )...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e:: as moças é que usavam sapato... sem conforto porque não é??
L1 : ...
L1 : apesar de que quando às vezes usavam uma uma forma para moça... a forma japonesa era muito (calçante) muito cômoda.
L1 : lembra da forma japonesa??
L1 : ...
L1 : [forma japonesa era.
L2 : [mas a gente usava:: Luís Quinze até para ir para [escola.
L1 : ...
L1 : [era.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : é:: usava Luís Quinze até para ir para escola.
L1 : ...
L1 : e não saía sem meia nem por brincadeira né?... claro.
L1 : ...
L1 : e:: [(assim)... [então...
L2 : [eram CAros os [calçados.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : esse o sa/ o sapá/ esse tipo aí japonês (porque) eu estou falando... era um sapato de bico ligeiramente ligeiramente arredondado.
L1 : ...
L1 : para a moça.
L1 : ...
L1 : quer dizer não era um bico fino era um... um acabamento... normal... e::... meio salto.
L1 : ...
L1 : um salto de cinc/ de cinco de quatro centímetros.
L1 : ...
L1 : quatro ou cinco [centímetros.
L2 : [nós usávamos o [( )...
L1 : ...
L1 : [nós também usávamos o:: o Luís Quinze::.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : mas não eram essas botas [( ) ALtas como hoje [não é?.
L1 : [nesse tempo o::... um par de sa/ sapato de senhora muito fino... custava::...
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L2 : ...
L1 : ...
L2 : (nove cruzeiros ou?).
L2 : ...
L1 : não.
L1 : ...
L1 : nesse tempo [custava... dezessete cruzeiros ou dezoito [cruzeiros.
L2 : [quanto era??
L2 : ...
L2 : [dezessete??
L1 : ...
L2 : ...
L1 : é um pá/ um par de sapato fino de verniz muito bom.
L1 : ...
L1 : dezessete cruzeiros.
L1 : ...
L1 : quando... então éh...
L1 : ...
L1 : outro dia eu quis falar sobre isso e hoje eu quero quero quero tocar nesse assunto.
L1 : ...
L1 : eu sou já disse a senhora que sou filho de um casal de professores.
L1 : ...
L1 : meu pai foi diretor e minha mãe professora.
L1 : ...
L1 : e:: um professor ganhava por essa época trezentos quando meu pai era vivo... ganhava trezentos e cinquenta cruzeiros como professor.
L1 : ...
L1 : e::... um aluguel de casa nessa época... uma casa mais ou menos... setenta cruzeiros sessenta cruzeiros cinquenta cruze::iros.
L1 : ...
L1 : uma casa que dava para uma família de trê/ quatro cinco pessoas... morarem.
L1 : ...
L1 : mesmo aqui em São Paulo.
L1 : ...
L1 : e::... então a o aluguel da casa em cô/ em relação a... ao ordenado de uma [professora... era::... representava o quê?... hã oh:: dezoito [por cento?.
L2 : [( )
L2 : ...
L2 : [(menos)...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : dezessete por cento.
L1 : ...
L1 : éh:: depois a o:: esse ordenado abaixou para para trezentos cruzeiros.
L1 : para duzentos e noventa e sete cruzeiros.
L1 : ...
L1 : e::... um par de sapato... ainda...
L1 : ...
L1 : porque a professora teve esse ordenado até até mil novecentos e::... até mil novecentos e:: [trinta.
L2 : [até eu me formar.
L1 : ...
L1 : NÃO até mil novecentos e trinta e tantos é [que era...
L2 : ...
L2 : [quando eu estava em Itapira...
L1 : ...
L1 : é:: f/ quem subiu o ordenado foi o:: ah Fernando Costa subiu a quatrocentos cruzeiros.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : ah.
L1 : até ai era trezentos cruzeiros.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e um par de sapato da minha::... da minha:: cidade um par de sapato de homem... eu já disse que dis/ de moça é um... par de sapato fiNÍssimo de moça custava dezessete a dezoito dezenove vinte cruzeiros.
L1 : ...
L1 : e um par de sapato de homem nessa ocasião... com com com gáspea de camurça e::... e a parte:: inferior de:: de de:: de couro magiz muito fino ou de [cromo... ou de verniz... custava quinze cruzeiros dezesseis cruzeiros no MÁximo vinte [cruzeiros.
L2 : [de cromo...
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : [hoje é [oitocen::tos.
L1 : ...
L1 : [então... éh em relação a um um ordenado de uma professora...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : eu quero... (pôs) aqui um caso de professora para a gen/ para estabelecer o::... a compá/ a comparação.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : e o ordenado quer dizer que um par de sapato ( ) um par de::... um::... com um ordenado de professora podia comprar... pelo menos pelo menos vinte pares de sapato... né?.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : [o ordenado de uma [professora...
L2 : [o ordenado [todo.
L1 : ...
L1 : [dezoito pares de sapá/.
L2 : ...
L1 : é bom ( ) fa/ estamos estabelecendo a comparação.
Doc1 : [(então) hoje a gente não [compra.
L1 : ...
L2 : [hoje (são) oitocentos mil réis na [cidade.
L1 : [não hoje::... [o ordenado de uma professora mal dá para pagar a...
Doc1 : ...
L2 : ...
L1 : ...
Doc1 : a gasolina do ca::rro uma [toalete ( ) (não se fala)...
L2 : [( )
L1 : [o aluguel de casa então não se fala.
L2 : ...
Doc1 : ...
L1 : o [aluguel de casa hoje é mais que é o ordenado de uma professora.
L2 : [nem se fala.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : não põe no [orçamento hoje.
L1 : [o ordenado de uma professora de uma professora primária é o ordenado de uma professora...
L2 : hoje não se põe ( ).
L2 : ...
L1 : ...
L1 : eu quis estabelecer um:: paralelo [exatamente que é uma coisa que vem a frisar porque... a:: disparidade daquele tempo e::...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L2 : mamãe pagava uma casa ó::tima lá com três quartos sessenta [cruZEIros mamãe pagava... quando ficou viúva.
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L2 : ...
L2 : e:: mas vovó não pagava porque vovó tinha casa.
L2 : depois... vovó cedeu a casa... para o::... [o::... doutor Macedo [Soares.
L1 : [Macedo Soares
L1 : ...
L1 : [( )
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : porque am/ ah:: ela tinha uma filha casada com o:: sobrinho do Macedo Soares... então:: o Macedo Soares veio pedir... para ela:: se ela podia ceder a casa... para ele fazer éh [dormitório.
L1 : [dormitório.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : então (fez) o colégio dele... e:: [pôs uma porta.
L1 : [ele tinha ( )...
L2 : ...
L2 : [tinha colégio.
L1 : tinha colégio ali na rua Arouche.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : na [rua do Arouche.
L1 : [que dava fundos para a casa de vovó.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : e vovó [morava no Largo.
L1 : [( )
Doc1 : sim.
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : ...
L1 : e a:: vovó alugou essa casa para ele por...
L1 : ...
L1 : era uma casa grande ali no no::... QUAse esquina da rua do Arouche.
L1 : ...
L1 : uma casa que tinha quatro janelas tinha::... duas vidraças (com basculante)...
L2 : [Ó::tima.
L2 : depois que nós nos mudã/ [vovó alugou uma casa.
L1 : ...
L1 : [era uma casa grande.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : e:: alugou para ele por duzentos cruzeiros (não sei).
L1 : cento e oitenta ou duzentos cruzeiros.
L1 : ...
L1 : e a Padaria Suíça a casa de esquina que era uma padaria grande... pertenceu à vovó... o Seu Naider pagava duzentos e cinquenta cruzeiros por essa casa.
L1 : uma [casa ( )...
L2 : [é:: desse aluguel que vovó depois foi (lá)... [para casa.
L1 : em pleno em pleno Largo do [Arouche.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : éh:: quer dizer que:: então (vê-se) que... ah:: hoje o ordenado de uma professora é uma miséria.
L1 : ...
L1 : uma professora ganhava... ganhava...
L1 : ...
L1 : --já disse à senhora-- trezentos e trezentos e cinquenta... um delegado ganhava quatrocentos um juiz ganhava quinhentos.
L1 : ...
L1 : hoje uma professora ganha::... [ENtra com dois mil cruzeiros... [dois mil [cruzeiros... [um delegado ganha dez mil... cinco vezes [mais... [e o juiz ganha.
Doc1 : pouquíssimo não é??
Doc1 : [hoje ( ) dois mil três mil [( )...
L2 : [( )
L2 : ...
Doc1 : ...
L2 : [dois mil de [início.
Doc1 : [no primário é (por isso) [né??
L2 : ...
Doc1 : ...
Doc1 : [e o juiz [(acho que) ganha vinte sei lá.
L1 : ...
Doc1 : ...
L2 : até o juiz até ganha [pouco... [responsabilidade ( ).
Doc1 : [( )
Doc1 : ...
L1 : os professores estão::... [estão sempre inteiramente::... [achatados.
L2 : ...
Doc1 : [é::.
Doc1 : [( )
L1 : ...
L1 : [quer dizer:: justamente uma das classes que devia ser... [bem remunerada porque é exaustiva... ê é é é... é é é sacrificada.
Doc1 : ...
Doc1 : [bem ( )...
Doc1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L2 : é:: vovó (é que) depois saiu da casa dela para ceder para ô/... para o Macedo Soares que ele queria fazer (o)... e foi alugar uma casa.
L2 : quantos cômodos tinha aquela casa??
L1 : (uma casa em São João).
L2 : ...
L1 : ...
L1 : em São João ainda existe essa casa ( ) avenida [São João.
L2 : [existe??
L1 : ...
L2 : ...
L1 : é.
L1 : ...
L1 : [essa ca::sa::...
L2 : [depois fomos para onde??
L1 : depois fomos para a rua::... [General Osório não.
L2 : ...
L2 : [Vitória também.
L1 : depois fomos...
L2 : Rua General Osório é que nós ficamos [dezessete anos lá.
L1 : ...
L1 : [é mais que isso.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : ( )
L2 : aí tinha uma (porção) porque tinha sido pensão lá.
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : mas não quase ninguém ah/ hã:: pegava.
L2 : e vovó saiu (disse) ''mas uma casa tão bo::a... e tão bara::to por que será?.
L2 : ...
L2 : é porque tinha::... [tinha havido um [assassinato.
L1 : [havido...
L1 : ...
L1 : [não não foi lá o assassinato.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : não??
L2 : ...
L1 : lá era foi uma pensão:: e nessa pensão morava o::... o::... [ArTHUR Malheiros::...
L2 : Medeiros...
L2 : não é [Medeiros?
L2 : ...
L1 : ...
L2 : não é [Malheiros?
L1 : [o estudante Arthur Malheiros.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e tinha uma uma uma uma professora chamava-se:: Isso já fez já... coisa (que é) passada é coisa pública não tem... Albertina::... Albertina:: professora Albertina (me esqueço de que é)
L1 : ...
L2 : mas não foi essa que ele [matou.
L1 : [espera!
L2 : matou outra.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : eu me lembro perfeitamente desse caso.
L1 : ...
L1 : [e::... essa professora casou-se... essa professora casou-se com um professor.
L2 : [ninguém [queria alugar a casa.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : ela formou-se casou-se com um professor foi para o interior... depois o marido... descobriu que ela já não era mais... mais pura.
L1 : ...
L1 : apertou por ela e ela contou que foi o Arthur Malheiro quem era... esse estudante que então já estava formado.
L1 : ...
L2 : ele já [era.
L1 : [e eles::...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : no (canavial onde era) o São Paulo existia [na rua Di/ ligando a rua::... ligando a rua [Direita à rua::... Boa Vista existia uma galeria Galeria dos Cristais chamada.
L2 : [( ) entrou um pessoa não sei quem é esse tempo todo.
L2 : ...
L2 : [deixa eu ver quem é que entrou aí ( ).
L2 : ...
L1 : ...
L1 : como existem outras galerias hoje era a primeira galeria que existia a Galeria dos Cristais.
L1 : ...
L1 : era toda::... tinha... naturalmente de um lado o hotel e::... bares et cetera et cetera e do outro lado... também:: de ( ) era um sobrado era um hotel também... e:: no centro era:: coberta por uma por uma::... por uma... [uma cobertura de é uma espécie de uma cobertura... (tudo) de::... vidros de cores.
L2 : ( )
L2 : ...
Doc1 : [( )
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : chamavam Galeria dos Cristais.
L1 : ...
L1 : então eles se hospedaram nessa Galeria dos Cristais.
L1 : ...
L1 : e::... Ele obrigou a mulher a atrair o Arthur Malheiros lá.
L1 : ...
L1 : então quando o Arthur Malheiros entrou no hotel... ele matou eles mataram o Arthur Malheiros.
L1 : ...
L1 : então... como Arthur Malheiros tinha morá/ morado nessa casa... --e veio a propósito porque elas foram (na sacada) da casa--... havia uma certa cisma em::... é alugar [( ).
Doc1 : (alugar)...
Doc1 : ...
L2 : [(não estava não).
L1 : ...
L2 : estava vazia tanto tempo sabe??
L1 : mas era uma casa boa.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : (Roberto) tinha [mandado pinta::r de nova [( )...
L1 : [mas... [eles foram... foram condenados cumpriram pena... por sinal que ela nessa ocasião estava grávida e foi preciso a criança foi criada fora... e este:: professor... mais tarde... foi meu contemporâneo de universidade porque depois ele estudou Direito.
L2 : ...
L2 : ah é?.
L2 : ...
L1 : ...
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L1 : não vou citar o nome dele... porque:: não não vem apelo a ela... ela era Albertina mas também não vou dizer mais.
L1 : ...
L1 : o nome deles.
L1 : apeSAR que eu acho que não tem descendentes mais (se tem não)... foi um caso muito muito::... [conhecido em São Paulo muito [debatido.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
Doc1 : [por quê??
Doc1 : ...
L2 : [quantos anos nós moramos lá? ( )... [( )?
L1 : ...
L1 : não foi [dezessete anos foi menos.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : quinze anos eu acho [(não?)?
L1 : [não.
L1 : ...
L2 : [não??
L1 : [não você está [enganada.
L2 : ...
L2 : [mil novecentos e dez e saímos [em dezessete.
L1 : ...
L1 : [nós entramos lá em mil novecentos e oito::... mais ou menos mil novecentos e [nove... até mil novecentos e:: dezessete.
L2 : ...
L2 : [(quando?)?
L2 : ...
L1 : ...
L1 : dezoito.
L1 : ...
L1 : dezoito.
L1 : ...
L1 : até mil novecentos e:: dezessete.
L1 : ...
L1 : dezoito.
L1 : ...
L1 : dezoito.
L1 : ...
L1 : até dezoito mais ou menos.
L1 : ...
L2 : dezoito eu estava lá na [gripe.
L1 : [é.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : pois é.
L1 : logo depois...
L1 : é.
L1 : até dezoito dezenove mais ou menos.
L1 : talvez [vinte.
L2 : [dezenove eu me [casei.
L1 : ...
L1 : [é é:: foi por essa época mesmo.
L2 : ...
L1 : ...
Doc1 : a senhora lembra da gripe??
Doc1 : ...
L2 : ah:: gripe...
L2 : a gripe... eu ensinava aqui na avenida São João.
L2 : ...
L2 : aí au fui:: e/ estava (o nosso) o grupo fechado... eu fui para JUNdiaí.
L2 : ...
L2 : e lá (me arran/ lhe::) trabalhei no::... centro de saúde não...
L2 : era um::... capitão do exército... que era médico... e pôs um posto de saúde lá.
L2 : ...
L2 : então minhas primas disseram ''Aída vamos trabalhar lá no no no pê/ éh::... no posto de saúde para servi-los?'' (disse) ''ah:: vamos pois nós não temos família'' não é??
L2 : ...
L1 : [( ) não assistimos o espetáculo da gripe aqui.
L2 : [( )
L2 : ...
L1 : ...
Doc1 : [a senhora assistiu o [espetáculo ( )??
L1 : [( ) eu também não assisti...
L2 : [aqui eu não assisti.
L2 : ...
L2 : [assisti em Jundiaí.
Doc1 : ...
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : [ah sim.
L1 : [eu vim a São Paulo nessa ocasião... e::... apanhei a gripe... e levei a gripe para::.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : fui o único que apanhei em casa.
L1 : levei para Itapira isto é levei para Itapira cheguei em Itapira (que) manifestou-se a gripe.
L1 : ...
L1 : mas também não passou para ninguém.
L1 : ...
L1 : eu fiquei dois três dias de cama em Itapira e depois segui para Lindoia.
L1 : ...
L1 : e::... e nós na na na nossa família não sei:: eu que apanhei essa gripe quando vim a São Paulo... mas eu eu vim estive um ou dois dias em São Paulo só apanhei fui não... fui cair com a gripe em... em Itapira.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : de manei/...
L1 : em casa nenhum s/ nenhum sofreu gripe.
L1 : ...
L2 : [ninguém.
L1 : [foi foi bárbara foi medonha a gripe.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : éh::: as pessoas eram::... éh até:: enterradas até semivivas.
L1 : ...
L1 : algumas semiviva.
L1 : ...
L1 : e diziam então que nos hospitais eram tanto tanto tanto tanto que dava-se o chá da meia-noite.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ouviu falar no chá da meia-noite??
Doc1 : ouvi falar [esse termo.
L1 : ...
L1 : [era o chá da meia-noite.
Doc1 : ...
L1 : ...
L2 : [( )
L1 : [tinha gente que:: aqueles carro/ aquelas carroças vinham cheias de de defuntos para serem... [enterrado em em em em em em fos/ em fossas comuns... e::... em:: covas comuns... e:: e pulavam no meio do caminho que não está/ estava semimorto ainda pulava para fora.
L2 : ...
L2 : eu [não assisti aqui não.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : nessa ocasião morreram muitos médicos em São Paulo mui/ morreu muita gente.
L1 : ...
L1 : e::... inclusive... os mais fortes é os que morriam primeiro.
L1 : ...
L1 : os mais quanto mais forte mai/ mai/ mais a gripe derrubava mais ( ).
L1 : ...
L1 : não não se defendia mesmo.
L1 : ...
L1 : foi demais.
L1 : ...
L1 : agora eu não posso descrever mais porque a gripe que não tive aqui.
L1 : ...
Doc1 : [( )
L1 : [eu fui para Lindoia em Lindoia...
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : eu fui organizar o hospital dos gripados em Lindoia...
L1 : ...
L1 : mas não foi muito grande a gripe em Lindoia.
L1 : ...
L1 : lá pelo interior se alastrou muito pouco.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : a coisa foi mesmo em São Paulo.
L1 : ...
L1 : já em:: Campinas Jundiaí:: nesses lugares foi relativamente... pequena não foi [não não chegou com... [aquela... força.
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L2 : [é.
L2 : ...
L1 : eu por exemplo em Lindoia não tive mais que uns... uns... quinze doentes.
L1 : ...
L1 : nada mais que isso.
L1 : ...
L2 : mas em Jundiaí morreram [muitos.
L1 : [em Jundiaí morreu um pouco [mais mas::.
L2 : ...
L2 : [apareciam sabe aqueles maquinistas... com cordão e alho pendurado.
L1 : ...
L2 : ...
L2 : ''mas o que o o que é isso? ah isso desvia a gripe''.
L2 : ...
L2 : então nós dizíamos ''tá bom então o senhor Usa Isso... mas té/ tem essa latinha aqui com:: vaselina mentoLAda... o sê/ o senhor põe no nariz... e está aqui o remédio né??
L1 : ( ) mentolado ou vaselina mentolada.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : e a [minha:: a minha prima era muito [engraçada sabe?...
L1 : [(uns faziam o rapé outros fa/)...
L1 : ...
L1 : [o rapé era feito de mentol e::... e bórix [ácido bórico.
L2 : ...
L2 : [''doutor::''... --como é o [nome? Feitosa.
L1 : ...
L1 : [mentol e ácido bórico.
L1 : então usava-se [aquilo... [para:: ( )...
L2 : ...
L2 : [Capitão [Feitosa.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : e::... [( )... boricada.
L2 : que [era o médico de lá--.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e:: diziam então... que... ''o meu boi morreu... o que será da vaca?... pinga com limão cura urucubaca''.
L1 : ...
L1 : [chamavam de urucubaca essa::... essa moléstia de urucubaca.
L2 : [( )
L1 : ...
L2 : ...
L1 : então cantavam assim ''o meu boi morreu [o que será da vaca? pinga com limão a minha cura urucubaca''.
L2 : [sim.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : era [urucubaca.
L2 : [é é.
L1 : ...
L2 : ...
L2 : era [mesmo urucubaca.
L1 : [e::... [e aqui por exemplo:: entre o::...
L2 : morria muita [gente.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : eu per/ perdi um professor aqui o professor foi meu professor... Gustavo Pires E outros sacrificados.
L1 : ...
L1 : para falarmos em gripe então citamos diversos fatos.
L1 : ...
L1 : um:: casal de de... médico::s... doutor Gilberto::... Gilberto Guimarães... éh:: dedicou-se muito aos gripados::... no Rio de Janeiro.
L1 : ele era fazendeiro em::... Cresciúma.
L1 : perto de Ribeirão Preto.
L1 : ...
L1 : e ele dedicou-se muito cansou exauriu-se... então embarcou para Ribeirão Preto.
L1 : ...
L1 : com a mulher.
L1 : ...
L1 : chegou em Ribeirão chegou em Cresciúma... e ele caiu com a gripe ele e a mulher.
L1 : ...
L1 : os dois.
L1 : ...
L1 : e ele:: ele era um sujeito forte (bonito) forte inteligente... gastador... RIco... e ele não queria tomar remédio.
L1 : ...
L1 : não queria nem por nada tomar remédio.
L1 : ''EU não preciso de remédio eu sou um homem forte e tal et cetera et cetera''.
L1 : ...
L1 : e ele era primo de um de um de um parente nosso.
L1 : ...
L1 : então:: esse parente (dele) forçava ele foi enfermeiro dele e forçava... e ele não queria tomar o remédio.
L1 : aí:: o parente disse ''olha você não quer tomar o remédio você quer que/ quer seguir o mesmo caminho que sua mulher ela já morreu''.
L1 : ...
L1 : aí::... apressou-se a tomar remédio mas mas também não... não suportou morreu.
L1 : ...
Doc1 : que horror.
Doc1 : ...
L1 : morreram os dois no mesmo dia.
L1 : ...
L1 : um::: mais cedo outro mais tarde.
L1 : ...
L1 : doutor Gilberto Guimarães.
L1 : ...
L1 : (isso para ver que o né?) pegava e pegava... derrubava mesmo a [coisa era forte.
Doc1 : [(agarra) mesmo né?.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : aqui existia um su/ um::... um lutador::... chamava Maciste... era um sujeito... hercúleo... homem de... de::... cem quilos cento e vinte quilos... (se) apanhou a gripe foi::... quarenta e oito horas estava morto.
L1 : ...
L1 : quanto mais forte mais::... ela derrubava.
L1 : ...
L1 : e assim:: morreu um colosso de gente aqui em São Paulo nessa ocasião que foi.
L1 : ...
L2 : diz que em Jundiaí também enterravam.
L2 : ...
L1 : [( ) e Campinas já foi menos.
L2 : [agora (dá um) ( )...
L2 : ...
L1 : em [cidade do interior já foi muito menos.
L2 : [nossa que trabalheira (gente).
L1 : ...
L2 : ...
L2 : tanto que para me aposentar... eu contei um ano da gripe.
L2 : ...
Doc1 : ah::...
Doc1 : ...
L2 : eu tenho:: trinta e um anos.
L2 : ...
L2 : agora como eu trabalhei lá na:: no posto de saúde... não é?... ah:: na gripe eu contei um ano.
L2 : porque::... saiu uma lei.
L2 : eu digo ''então vou aproveitar''.
L2 : ...
L2 : eu tenho tinha um primo que era advogado (di/) ''olha Aída... você aproveite e conte esse tempo porque você vai... contar na aposentadoria... e mais tarde você aposenta-se mais cedo''.
L2 : ...
L2 : é mas isso foi uma lei que saiu para todo mundo né?.
L2 : todo mundo aposentou.
L2 : ...
L2 : mas eu [trabalhei só no centro de saúde em Jundiaí.
Doc1 : [ah.
Doc1 : ...
L2 : Capitão Feitosa.
L2 : não sei (ele) ainda se ele vive.
L2 : ...
L2 : naturalmente já é general depois [disso né? ((risos))?
L1 : (será?) morreu.
L1 : ...
L2 : já morreu né? [((risos)).
Doc1 : [(vai ver morreu).
L2 : ...
Doc1 : ...
Doc1 : [dona Aída::... e voltando aqui ao assunto do vestuário... éh:: como é que as crianças seus filhos::... éh:::... se traja::vam assim para... para todo di::a para ir a esco::la num dia de fes::ta como era??
L1 : [( )
L1 : ...
Doc1 : ...
L2 : olha eles (tra/ está) uma calcinha e blusa... né?.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : eu (ti/) eu:: e mamãe chegava nas férias também... eu... sentava na máquina para fazer para todos.
L2 : eu e mamãe.
L2 : (porque) pagar para todos não é??
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : e eles andavam éh.
L2 : nós morávamos perto do GRUpo...
L2 : ...
L2 : naquele tempo ti::nha:: era era:: carvão só de cozinhar o carvão...
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : e às vezes eles apareciam lá na porta todo sujinho de carvão.
L2 : eu dizia ''Olha só... (eles) estão envergonhando vão vão vamos lá para casa para tomar banho porque agora já acabou a aula né?.
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : e chegava e trocavam roupinhas.
L2 : ...
L2 : eles nunca foram::... dormir sujos não.
L1 : [mas::... [as roupas eram modestas [eram simples ( ) naturalmente calça [( ).
L2 : [chegava e eu dava banho em [todos.
L2 : ...
L2 : é.
L2 : ...
L2 : [é quem fazia a roupinha era eu e mamãe.
L1 : ...
L2 : passávamos na na nas férias... à máquina costurando.
L2 : ...
L2 : aí meu mano mais velho disse ''não eu vou comprar um motor-zinho.
L2 : ...
L2 : um motor elétrico porque:: mamãe:::... está... o dia inteiro na máquina isso foi (um irmão)... então comprou um:: motor elétrico.
L2 : ...
L2 : aí nós aproveitamos.
L2 : eu e mamãe passávamos as férias fazendo roupa porque... eram dez...
L2 : ...
L1 : as menininhas de saia e blusa.
L1 : ...
L2 : é.
L2 : ...
L2 : e andavam de sandalinhas.
L2 : naquele tempo [já tinha sandália.
L1 : [de saia e blusa e uma sandalinha.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : já tinha [(tênis).
L1 : [(sa/) uma sainha azul já geralmente uma sainha de de azul (e um)... e uma blusinha.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e às vezes um vestidinho modesto também não era um vestido [( ) um vestidinho de seda era um...
L2 : [é:: eu e mamãe que fazia ( ).
L2 : ...
L1 : ...
L1 : ou um vestidinho de veludo também lá:: ( ).
L1 : ...
L2 : era [uma festa aí sim né?.
L1 : [( )...
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : aham.
Doc1 : [(então)...
L2 : [tanto que no casamento de [uma sobrinha.
Doc1 : ...
L1 : [( ) modestas.
L2 : ...
L2 : [(é pois é).
L1 : ...
L2 : ...
L1 : aliás era geral [( )...
Doc1 : [(claro).
Doc1 : ...
L2 : [no casamento de minha sobrinha eu fiz [um:: uma roupinha de veludo para o meu filho para o mais velhinho né?... [com:: sapatinho de verniz com uma fivela... e quando começaram as aulas ''você aproveitar esses sapato''.
L1 : ...
L1 : [( )
L1 : ...
Doc1 : [sei.
Doc1 : ...
L2 : ...
L2 : ele disse ele disse para mim ''ah não eu vou jogar fora... porque caçoam de mim... que eu uso ando muito:: lorde''.
L2 : ...
L2 : ''esse daí você é lorde porque anda de sapatinho''...
L2 : ''não quero esse sapato mamãe compra... um tênis para mim como meus colegas andam''.
L2 : ele não quis.
L2 : foi Chiquinho.
L2 : ...
L2 : jogou o sapato novo longe.
L2 : não quis.
L2 : ...
L2 : porque mamãe fez uma roupinha de veludo para o casamento da minha sobrinha né?.
L2 : ...
Doc1 : aham...
L2 : foi aqui na Lapa até.
Doc1 : ...
L2 : ...
L2 : foi Santa Cecília né??
L1 : é.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : a filha do Osvaldo.
L2 : ...
L2 : nesse tempo meu genro... [era vereaDOR parece...
L1 : [( )
L1 : seu genro não seu [cunhado.
L2 : ...
L2 : [não meu cunhado.
L1 : ...
L2 : que já morreu.
L2 : foi vereador.
L1 : (mas viveu também).
L2 : ...
L1 : ...
L2 : é.
L2 : aí:: fi/ ê/ éh:: fez uma porção:: umas roupinhas mais bonitas para os filhos não é??
L1 : os meninos [sa/ sa/ até uma certa idade usavam muito uma blusinha à marinheiro [mui::-to comum... (usar) calcinha curta e ti/... e o a blusinha à marinheiro e um gorrinho... até uma certa idade.
L2 : ...
L2 : [os meninos os meninos...
L2 : ...
Doc1 : [hum::.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : isso até mil novecentos e::... e quatorze quinze.
L1 : depois já:: (rapaz/) aquela rapaziadinha já quis começar a usar... calça comprida... e:: um chapeuzinho diferente lá:: já queria... (já não)... já queriam ser... MOço.
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
Doc1 : hum
L1 : ...
Doc1 : ...
L2 : [é sim...
L1 : [( )
L1 : ...
L2 : ...
L1 : [os costumes foram...
L2 : [tanto que o meu filho mais velho... eu com/ compramos um terninho de::... de calça comprida... e ele estava no ginásio Oswaldo Cruz... e um belo dia eu (su/) ''que é isso? você queimou todo o seu o seu terno NOvo meu filho??
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : ...
L2 : ''pois é fui fazer experiência química... com um colega::''...
L2 : ...
L2 : --(e esse nós apareceu não é?)--.
L2 : ...
L2 : ''fui fazer experiência química o que que a senhora quer?''.
L2 : ...
L2 : eu digo ''ah não outra outra vez nós vamos comar comprar DE BRIM porque esse era um terno caro''.
L2 : ...
L2 : o mais velho sabe?.
L2 : ...
L2 : esse quando ele era pequeno é que ele saía sujinho de carvão... passado muito tempo minhas colegas perguntaram... ''E aquele que estava sujinho de carvão na na porta lá do grupo?.
L2 : ...
L2 : esse ah hoje ele é oficial do exército... e está bem graças [a Deus''.
Doc1 : [(aham).
Doc1 : ...
L2 : éh chama-se::... Francisco.
L2 : é o mais velho,
L2 : ...
L2 : esse faz... estudou à custa dele mesmo sabe?.
L1 : ho::je:: hoje::... essa rapaziada gosta de usar... essa:: fazenda esse zuARte... né?.
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : esses --como que [é cham/--... [zuarte... brim [não o zuarte:: esse [brim azul.
Doc1 : [brim ( )...
Doc1 : ...
Doc1 : [brim::.
Doc1 : ...
L2 : [brim não é...
L2 : ...
Doc1 : [pois é.
Doc1 : brim azul.
L1 : ...
Doc1 : ...
Doc1 : é.
L2 : [grosso.
Doc1 : ...
L1 : [esse zuarte.
L2 : ...
L1 : esse zuarte antigamente era... era zuarte.
L1 : ...
L2 : [era zuarte.
L1 : [( ) depreciativo.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : [é depreciativo.
L1 : [era só... [só::... [operários que usavam para para o trabalho::.
L2 : ...
L2 : [só... [operários...
L2 : ...
Doc1 : ( )
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : não para andar pela rua usavam para o trabalho os operários.
L1 : ...
L2 : hoje [é:: roupa granfina.
L1 : [zuarte.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : é::.
L1 : e hoje... [usa.
L2 : [de brim não é?... [(marinho)?
L1 : ...
L1 : o [brim... o o a casimira era o chique... o brim era para a classe mais modesta mais pobre.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : para os [operários (né?) [( )?
L1 : [e::... [a não ser um brim de linho que a gente usava para um... para um veRÃO forte um::...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : brim (de linho).
L1 : ...
L1 : do contrário eram esses brim comum... a gente não queria vestir.
L1 : ...
Doc1 : [uhum.
L1 : [queria uma... terninho de casimira...
Doc1 : ...
L1 : depois dos quatorze anos não queria vestir (mais não o) brim.
L1 : ...
L1 : hoje em dia o brim é o caro.
L1 : ...
L1 : o brim é o [chique.
Doc1 : [uhum é chique.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : hoje o brim é o chique.
L1 : ...
L2 : (deve ser caro ) até ( )...
L1 : [eu:: me lembro que eu mandei fazer uma ocasião um terno... um terno:: ah tip/ de casiMIra::... inglesa...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : que as casimiras todas eram inglesas aqui eram francesas inglesas italianas não tinha casimira nacional.
L1 : ...
L1 : depois lá para... coisa de mil novecentos e::... e dezoito é que começaram a fabricar casimira nacionais [aqui.
L2 : [tanto que titio [trabalhava para aquele [francês ex::portação de::... casimira inGLEsa.
L1 : ...
L1 : [éh.
L1 : ...
L1 : [não ( ).
L1 : ...
L1 : quem [trabalhou foi... foi s/...
L2 : ...
L2 : [como é que chamava o maître??
L2 : ...
L1 : seu tio não foi?.
L1 : ...
L1 : seu tio já tinha morrido.
L1 : foi Paulo e eu.
L1 : ...
L2 : ah:: o maître ( ).
L1 : trabalhamos (para lá)... Jota o Maître.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : mas:: então:: eu (estou) ( )...
L1 : ...
L1 : e eu mandei fazer uma:: ficou mais ou menos...
L1 : a cor é... uma cor azulada assim.
L1 : ...
L1 : que regra geral as co/ as casimiras eram MAIS discretas que hoje.
L1 : mas eu mandei fazer um::...
L1 : ...
L1 : então:: umas moças me puseram o apelido de zuARte.
L1 : ...
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L1 : as moças da Escola Normal onde eu ia esperar... ''lá vem o zuarte''.
L1 : ...
L1 : ( ) que achavam que eu estava muito mal [vestido.
Doc1 : [hum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : era o zuarte.
L1 : hoje eu ta/ me lembrei disso porque::... [o zuar/ o zuarte hoje é o forte.
Doc1 : [aham.
L2 : [hoje...
Doc1 : ...
L2 : ...
Doc1 : é::.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : hoje o forte é roupa descorada.
L1 : ...
Doc1 : é.
Doc1 : ...
L1 : quando é que a gente vestia uma roupa descorada?... né??
L1 : quando??
L1 : ...
L1 : nesse... nesse TEMpo a gente::... usava...
Doc1 : mas é...
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : --eu me lembro (disso) como de fosse hoje--.
L1 : ...
L1 : NÓS em casa nós::... rapazes... cuidávamos da nossa roupa.
L1 : ...
L1 : ah...
L1 : ...
L1 : as roupas de casimira raramente a gente (ia) mandar para um tintureiro.
L1 : a gente mesmo cuidava.
L1 : ...
L1 : então limpava aquela as as as roupas de casimira escura... com café.
L1 : ...
L2 : café e água né??
L2 : ...
L1 : café e água.
L1 : ...
L1 : café limpa bem [(e água)...
L2 : [passava com jornal em cima [( ) com café.
L1 : ...
L1 : [passava com café e água e tal...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e limpava aquela (roupa).
L1 : ficava ficava cô/ como nova.
L1 : ...
Doc1 : mas é o LÍquido assim o [café::?
L1 : [o líquido.
Doc1 : ...
L1 : café líquido.
L1 : ...
L1 : com uma escova e um pano e café:: tal esfregava aquilo (to/) limpava.
L1 : ficava um pocadinho cheirando café mas depois desaparecia.
L1 : ...
L2 : é não tinha muito tintureiro.
L2 : ...
L2 : [depois que os japoneses vieram né??
L1 : [tinha poucos.
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : (é)... ''tem roupa para lavar?'' ((risos)).
L1 : e nesse [tempo nesse tempo nesse tempo então... lavá/ lavava-se e tinGIa-se roupa hoje não se tinge mais.
L2 : [( )
L2 : ...
L1 : ...
Doc1 : é.
Doc1 : ...
L1 : hoje a roupa ficou meia velha joga-se fora.
L1 : ...
L2 : [( ) não joga dá.
L1 : [naquele tempo tingia-se.
L1 : ...
L1 : sapato (contudo) ser barato como era naquele tempo a gente punha meia sola... e punha até remonte.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : se falar em remonte hoje o sap/... o sapateiro põem ( ) para fora porta a fora.
L1 : ...
L1 : a senhora sabe o que é remonte??
L1 : ...
L1 : apesar de que era barato eu estou dizendo a senhora.
L1 : [o remonte... o remonte é::... (o) em toda a parte... da frente... nova.
L2 : [é uma espécie de remendo.
L2 : ...
Doc1 : uhum.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : biqueira tudo tira... fica só o calcanhar e a::... e aquele (e a pe/) e o cano da:: do sapato... e aquilo tudo é novo.
L1 : ...
L1 : ( )
L1 : ...
L1 : quer dizer que:: (ia/) havia um espírito DE economia.
L1 : ...
L1 : hoje não existe mais esse espírito de economia.
L1 : ...
L1 : a sociedade hoje é de gastar é de consumo.
Doc1 : ( )
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : então:: não se não se não se não se remenda mais os sapatos joga-se fora.
Doc1 : é verdade.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : [uma roupa também (não se remenda).
L2 : [mas também custa caro (pronto).
L1 : ...
L2 : ...
L1 : [nós... por exemplo eu:::... quando uma calça furava... a gente fazia um remendo.
L2 : [( ) éh.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : hoje não se usa calça remendada.
L1 : eu costumava fazia-se um remendo... com:: borracha
L1 : ...
L1 : então... cortava-se (aqui) furava a calça (né?) naturalmente nas nádegas... cortava direi/ bem direitinho aquela::... aquele corte... acertava bem com a tesoura... depois pegava um pedaço de...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : quando quando se mandava fazer um terno sempre... trazia-se um retalho da casimira para casa.
L1 : ...
L1 : então pegava-se uma... placa ali daquela casimira da mesma cor... adaptava-se perfeitamente... por baixo o desenho com desenho... e comprava-se uma tela de borracha... que era p/ impermeabilizar para impermeabilizar a ferida...
L1 : ...
Doc1 : sei.
Doc1 : ...
L1 : então... cortava-se um pedaço dessa bô/ dessa tela de borracha do mesmo tamanho do remendo... e fazia-se um furo correspondente ao furo da::... [o furo da do rasgão.
L2 : ao [rasgão.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : bem:: exatamente... e punha-se o ferro quente em cima.
L1 : ...
L1 : então:: aquilo colava... e não aparecia o remendo.
L1 : ...
Doc1 : que beleza ((risos)).
Doc1 : ...
L1 : hoje...
Doc1 : técnica [(arrumando).
L1 : ...
L1 : [é hoje...
L2 : [tinha até borracha própria não tinha??
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : [pois é::.
L1 : era a tela de borracha [para fê/ [que hoje não tem mais tela de borracha para ferida.
L2 : ...
Doc1 : [( )
Doc1 : ...
L2 : [pois é::.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : eu sei [fazer isso.
L1 : [as feridas eram impermeabilizadas os curativos [impermeabilizados com... com tela de borracha.
L2 : ...
Doc1 : [uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : e isto::: as famílias os os estudantes as pessoas mais modestas...
L1 : ...
L1 : os RIcos claro que não mandavam remendar roupa (nenhuma) davam-na não é??
L1 : ...
Doc1 : sei.
Doc1 : ...
L1 : aos pobres os modestos a.
L1 : ...
L1 : e era muito comum estu/ encontrar o estu/ os estudantes com... com remendo.
Doc1 : remendo ((risos)).
L1 : ...
Doc1 : dona Aída e [a:: e os passeios a Santos no seu tempo de mo::ça vocês iam ou:: mais tarde??
L1 : [( )
L1 : ...
Doc1 : ...
L2 : não:: nós eu não eu não ia quase.
L2 : até mamãe dizia ''olha aproveite que seus... primos vão para Santos e aproveita''.
L2 : e eu não ia.
L2 : ...
L2 : meu passeio era geralmente era em Jundiaí sabe? que eu [gostava de ir.
Doc1 : [sei.
Doc1 : mais interior.
L2 : ...
Doc1 : ...
L2 : é bem perto aqui né?.
L2 : lá nós frequentávamos o Clube... Quinze.
L2 : ...
L2 : que era um clube meLHOR que tinha lá em Jundiaí.
L2 : ...
L2 : e eu então sempre ia lá.
L2 : ...
L2 : agora hoje uma festa --eu não fui--.
L2 : a festa da bandeira de São Paulo lembra?.
L1 : as normalistas bordaram ( ).
L2 : ...
L1 : [( ) os três couraçados.
L2 : [bordaram bandeiras.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : São Paulo Minas e Rio de Janeiro.
L1 : três couraçados da [nossa ( ).
L2 : [mamãe não deixou eu ir.
L1 : ...
L1 : então:: o couraçado de São Paulo::... as moças da Escola Normal bor/ bor/ bordaram uma bandeira muito grande e muito bonita bordada a ouro... e foi::... foram levar essa bandeira lá...
L2 : ...
L1 : ...
L2 : [couraçados.
Doc1 : [( )
L2 : ...
Doc1 : lá em [Santos?
L1 : [para Santos::.
Doc1 : ( )
Doc1 : ...
L1 : houve uma recepção um baile lá em Santos...
L1 : ...
L1 : você não foi.
L1 : é Ana que [foi.
L2 : [eu não fui.
L1 : ...
L2 : foi [Ana e (Malaide)
L1 : [foi Ana... Ana (Malaide) a Benedita minha cunhada foi [também.
L2 : ...
L2 : (Malaide).
L2 : ...
L2 : [foi e e Cassiano [também.
L1 : ...
L1 : [Cassiano é (o tal) ( ) vocês [não foram.
L2 : ...
Doc1 : [mas:: o senhor não ia também a [Santos também à:: pra::ia??
L1 : ...
L1 : [a Santos (viemos) uma umas duas vezes.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : algumas vezes eu fui a Santos.
Doc1 : [como é ( )??
L1 : ...
L1 : [mas nunca fui passar temporada em Santos.
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : porque eu eu (meio meio) depois de de:: de formado eu saí imediatamente de São Paulo no dia seguinte.
L1 : ...
L1 : não cheguei nem a colar grau.
L1 : ...
L1 : no dia seguinte fui embora.
L1 : ...
L1 : para o interior.
L1 : ...
L1 : mas... [eu me lembro...
Doc1 : [o senhor não lembra dos tra::jes assim de:: de ba::nho??
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : eu posso lhe dizer uma coisa no tempo de minha mãe... [quando eu nasci... eu::... (me contam que eu) que que eu que eu alcancei isso...
Doc1 : [hum...
L2 : [hum::
Doc1 : ...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : mamãe foi passar uma temporada na praia que estava muito doente... na praia de São Sebastião... então a:: o :: o traje de banho dela era de baeta... desde o [pescoço até as pontas dos pés.
L2 : [baeta azul marinho.
L1 : ...
L2 : é.
L2 : ...
L2 : era BRAço [(tornozelo)...
L1 : [e baeta... era um era era um:: desses maca/ macaquinhos macaCÕES chamado... presos aqui na ponta do dedo... e preso nos pés também... de baeta inteirinho.
L2 : ...
L2 : é.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : pesava [( ) baeta pesava.
L2 : [baeta era pesado [( ).
L1 : sabe o que é ba/... sabe o que é [baeta??
Doc1 : [(é um) tecido [escuro?.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : [baeta é uma lã peluda... como esses cobertores assim:: mais grosseiros.
Doc1 : ...
Doc1 : hã::.
Doc1 : ...
L1 : ...
Doc1 : [ah...
L1 : [uma lã peluda.
Doc1 : ...
L1 : é/ essa... esse era o traje de banho dessa época.
L1 : ...
L2 : [é::.
L1 : [já da época em que:: eu era mocinho que eu ia a Santos... evidente não eram isso.
L2 : ...
L1 : mas eram maiôs dis/ muito discretos.
L1 : ...
L1 : maiôs com saia e::... um saiote.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : naturalmente o maiô completo e mais um saiote para as moças.
L1 : ...
L1 : e os rapazes... só um... um maiô:: até o::... até o joelho com sunga.
L1 : ...
L1 : esses eram os toaletes da... da da da minha época.
L1 : ...
L1 : de mamãe era diferente.
L1 : ...
Doc1 : e:: costumava-se assim éh::... anda::r na praia ou:: era o banho mesmo [e::??
L1 : [era o banho já a regra geral né??
Doc1 : ...
L1 : ...
L1 : bom já já por volta de mil novecentos e vin::te vinte e (tantos) ( ) (ficavam) ficando na praias mais um bocadinho.
L1 : ...
L1 : mas era só de manhã:: brincavam na praia depois vinham embora.
L1 : ...
L1 : não tinha essa::... não havia esses esse... essa:: essas excursões constantes à [praia.
L2 : [ah:: como no [Rio ( ).
L1 : ...
L1 : [não havia essa (possibilidade para o Rio de:: de constante).
L2 : ...
Doc1 : uhum.
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : ( ) não::.
L1 : ...
L1 : muito raro.
L1 : [é.
L2 : [mas esse ( ) o que é??
L1 : ...
L2 : é um sutiã que eles andam.
L1 : [( )
L2 : [é uma espécie de sutã... [sutiã.
L1 : ...
Doc1 : [uhum.
L2 : ...
Doc1 : ...
L1 : [( )
L2 : [biquíni.
L1 : ...
L1 : [biquíni.
L2 : ...
L2 : [é o tal biquíni né?.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : [( )
L2 : [ah:: que biquíni o nosso tempo.
L1 : ...
L2 : ...
L2 : nosso tempo não era...
L2 : ...
L1 : havia::... hotéis havia pensões em Santos.
L1 : ...
L1 : geralmente na nas FÉrias... aquelas pessoas mais abonadas::... [( ) mais abonados...
L2 : (estou dizendo) se no colégio [(a gente) tomava banho de de [(calça) de brim...
L1 : ...
L1 : [operário não tinha.
Doc1 : uhum.
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : ...
L1 : operário (oca/) nessa ocasião não tinha vez não tinha não tinha possibilidade... de:: que éh:: não havia essa facilidade de ônibus a toda hora por isso::.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : ...
Doc1 : dona:: A::ída E em maquiagem??
Doc1 : vocês faziam??
Doc1 : ...
L2 : a maquiagem só tinha carmim.
L2 : ...
L2 : era:: [hoje é o tal ruge.
L1 : [carmim e ruge... e [ruge.
L2 : ...
L2 : [e batom.
L1 : ( ) batom.
L2 : ...
L1 : ...
L2 : mas era um:: carmim.
L2 : pozinho vermelho n/.
L2 : é o que tinha né?.
L2 : ...
L2 : agora já nós lustrávamos tinha já esses::... éh:: esses estojinhos de unha mas era diferente não tinha esmalte.
L2 : ...
L2 : a gente passava... uma:: um um [pozinho... é... e tinha o lustrador.
L1 : [um pó.
L1 : ...
L2 : ...
L2 : ficava [da cor da unha mesmo.
L1 : [( )
L1 : ...
L2 : ...
L1 : cor natural.
L1 : ...
L2 : quando a gente é.
L2 : ...
L2 : ia ao baile sim.
L2 : ...
L2 : nós usávamos até sabe o quê? alvaiade.
L2 : ...
Doc1 : sim.
Doc1 : ...
L2 : e:: o:: o meu primo que era (da) professor de:: F/... Química FÍsica... em:: --como chama?--... no ginásio... de Campinas.
L2 : ...
L2 : a irmã dele era minha prima-irmã eles eram primos-irmãos.
L2 : ...
L2 : ''Olha isso aí dá uma cá::rie nos ossos.
L2 : não POnham mais isso.
L2 : vocês parecem un::s...
L2 : ...
L2 : umas máscaras com isso''.
L2 : a gente ficava toda bran::ca assim sabe??
L2 : ...
L2 : mas a a cabeça onde é que nós estávamos o que era (aqué/) [vaidade feminina.
L1 : [porque o alvaiá/ ( ) por quê??
L2 : ...
L1 : ...
L1 : porque alvaiade de zinco não faz mal.
L1 : ...
L1 : o alvaiade de chumbo é que faz mal.
L1 : ...
L2 : pois é.
L2 : mas nós usávamos alvaiade passávamos na [água e usávamos.
L1 : [e::... [e se não tinham as moças que não tinham... possibilidade de comprar um batom... para passar no no ruge por exemplo existia um:: pó de arrozinho que era o rugezinho... para passar no... no [rosto... então (ah) papel de seda vermelho... molhavam o papel de seda vermelho saía a tinta... [(pintavam)...
L2 : ...
L2 : [parecia uma máscara.
L2 : ...
L2 : [papel de seda
L2 : ...
Doc1 : [nossa.
Doc1 : ...
L1 : regra geral...
L1 : ...
L1 : [isso mesmo mesmo mesmo a moças... ah... não digo ricas mas ( ) as ricas claro é que não faziam... mas as:: mais modestas faziam.
L2 : [(tinha) ( )...
L2 : ...
L2 : [mais (ricas).
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e:: essas... essa:: gente mais pobre essa ( ) era... o puro papel de seda.
L1 : ...
L2 : [( )
L1 : [puro papel de seda.
L1 : ...
L1 : e na sobrancelha também.
L2 : ...
L1 : é:: com carvão na sô/.
L1 : mas era carvão mesmo.
L1 : ...
L1 : riscavam com carvão a sobrancelha.
L1 : ...
L1 : não raspavam a sobrancelha.
L1 : ...
L1 : só escureciam a [sobrancelha.
L2 : [o lápis ( ).
L1 : ...
L2 : ...
L1 : é.
L1 : ou então com lápis.
L1 : ...
L2 : com lápis né??
L2 : ...
L1 : mas::.
L1 : ...
L2 : (mas ah já um::) [( )...
L1 : [e pó de arroz.
Doc1 : [e o CAbelo??
L2 : ...
Doc1 : ...
L1 : ...
L2 : hã??
Doc1 : e o cabelo??
L2 : ...
Doc1 : como é [( )?
L2 : [ah cabelo a gente tinha cabelo comprido... enrolava que parecia a cabeça ficava parecendo --nem sei-- um balde [(direito).
Doc1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : [ou frisava... com aquele frisador... [ou então fazia com os papelotes.
L2 : ...
L2 : mas geralmente a [gente fazia::...
L2 : ...
L1 : ...
Doc1 : u::hum.
Doc1 : ...
L1 : eram os papelotes.
L1 : em vez desses desses cartuchos que se põem hoje... eram papelotes.
L1 : ...
L1 : enrolavam... um pedacinho de papel enrolava enrolava e amarrava um papelzinho aqui assim fazia os papelotes.
L1 : ...
L2 : isso para dormir mas para ir ao baile nós [fazíamos...
L1 : [para um baile preparava antes para poder [tirar ( )...
L2 : ...
L2 : [mas pesava não sei quan:::to por causa...
L1 : ...
L2 : grampo não era desse grampinho assim... eram grampos assim... enrolava...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L2 : imagina aquele cabelo comprido...
L2 : ...
L2 : pesava [aquilo né??
L1 : [( )
L2 : ficava com a cabeça...
L1 : ...
Doc1 : hum.
L2 : ...
Doc1 : ...
L1 : bom éh éh o o cabelo sempre mudou mudou muito de moda.
L1 : ...
L1 : havia os [coques... os coques [( )... havia os que as que gostavam de cachos havia quem gostava de coque havia quem gostava de franjinha.
L2 : [agora há muita [peruca.
L2 : ( )
Doc1 : [é::.
Doc1 : ...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : isso era muito variável.
Doc1 : [é.
L1 : [sempre foi muito [variável.
Doc1 : ...
L2 : as [( )...
L1 : ...
Doc1 : [e:: muDAva-se a cor dos cabelos??
L2 : ...
Doc1 : ...
L2 : mudava.
L2 : eu era das tais que mudava.
L1 : [mudava com água oxigenada só.
L2 : [(eu era) atreVI::DA.
L1 : ...
L2 : ...
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L2 : uma hora eu estava loira com água oxigenada... outra hora eu (ah) então diziam ''você na sua vaidade você ainda vai se prejudicar''.
L2 : ...
L2 : ficava loira.
L2 : ...
L2 : nuns tempos me enjoava do loiro e pegava a negrita lembra?.
L1 : negrita é...
L2 : ...
L1 : ...
L2 : depois começou a negrita:: tal tal [tintura.
L1 : [depois apareceram todas as cores né??
L2 : ...
L1 : ...
L1 : [( )
L2 : [é depois começou a:: aparecer casta::nho loiro [( ).
L1 : ...
L1 : [loiro água oxigenada e o:::...
L2 : ...
L1 : ...
L2 : agora hoje não.
L2 : ...
L2 : você vê minhas filhas têm peruca.
L2 : ( ) vai com uma peruca loira outra vez mais [escura.
L1 : [usavam também (es/ mo/ éh) conforme o penteado usavam... uma armação de metal.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : colocavam uma armação de metal ( ) uma espécie de chouriço de metal... e o:: cabelo por cima daquele chouriço de metal.
Doc1 : [hum.
L2 : [é::.
Doc1 : ...
L2 : ...
L1 : ...
L1 : chouriço de::... fio de arame um arame é muito fino [( )...
L2 : [fininho fininho.
L1 : ...
L2 : ...
L1 : usavam esse esse:: chouriço.
L1 : ...
L2 : mas a cabeça peSAva porque tinha uma porção de grampos que não era... dessas:: --não sei como é que se chamam esse grampo moderno agora--.
L2 : ...
L2 : eram uns uns um:: uns grampos::... compridos de::... arame... não é?... e aquilo pesava.
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L2 : ...
L2 : porque... o cabelo comprido enrolando... veja como é que ficava cabeça enorme né??
L2 : ...
L2 : e aquilo era moderno.
L2 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : (e a e as que tinham tranças também).
Doc1 : e o cabelo dos ho::mens como era??
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : o cabelo dos homens ora ora era dividido ao meio... [à Santos à San/... à Santos Dumont.
Doc1 : certo.
Doc1 : ...
L2 : [é comprido nunca.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : ora dividido ao meio à Santos Dumont... ora dividido ao lado como é hoje... regra geral a não ser aqueles que... se diziam poetas ou que eram poetas... que usavam cabelo mais comprido.
L1 : ...
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : para trás todo ele assim.
L1 : ...
L1 : eu usava o cabelo...
L1 : ...
L1 : não é que eu me dissesse poeta.
L1 : ...
L1 : eu usava o cabelo para trás regra geral.
L1 : todo ele para trás.
L1 : mas não era comprido.
L1 : ...
L1 : quer dize::r não não passava do::...
L1 : ...
L1 : porque a gente fazia muita questão que não... de ficar com as orelhas de fora... e também que não pa/ não [alcançasse o colarinho.
Doc1 : hum.
Doc1 : ...
L2 : [a nuca limpa.
L1 : ...
L2 : é.
L2 : ...
L1 : [a nuca limpa.
L2 : [que sujava né??
L1 : não alcançasse o colarinho.
L2 : ...
L1 : ...
L1 : e isso fazia questão.
L1 : agora o (seu) três tipos de (cabê/) ou dividido no meio... ou dividido ( ) à poeta que eles chamavam.
Doc1 : uhum.
Doc1 : ...
L1 : à poeta
Doc1 : ( )
L1 : ...
Doc1 : ...
L1 : à poeta.
L1 : ...
Doc1 : (hum:: interessante).
Doc1 : ...
Doc1 : mas acho que a gente nós já conversamos bastante viu?.
Doc1 : sobre [vestuário parece que [cobriu tudo.
L1 : [só que...
L1 : ...
L2 : [espera aí deixa eu ( ) um pouco.
Doc1 : ...
L2 : ...
L1 : pouca coisa.
L1 : eu acho que::... pouca coisa tínhamos a falar no ( ).
L1 : ...
L1 : é mas já não tem mais jeito sabe? a.
L1 : ...
L1 : a senhora desligou né??
L1 : ...
Doc1 : não:: eu vou desligar.
Doc1 : mas esTÁ Ó::timo está muito bom [viu?.
L1 : [a gente não tem mais eu não tenho mais pro::sa eu não tenho mais nada sabe?.
Doc1 : ...
Doc1 : que nada.
L1 : ...
Doc1 : como não??
Doc1 : o senhor falou aí oitenta minutos sem parar.
Doc1 : ...
L1 : [ah mas falei só tolice.
Doc1 : [o senhor acha que não tem nada??
L1 : ...
Doc1 : ...
Doc1 : [hã??
L1 : [só tolice.
Doc1 : ...
L1 : ...
Doc1 : não.
Doc1 : [não ( ).
L1 : [nada nada do que eu queria falar não falei nada daquilo que eu queria falar... não falei porque não vem a momento não vem a ah::... ah::...
Doc1 : ...
L1 : ...
L2 : éh::.
L2 : ...
L1 : a senhora está percebendo?
L1 : minha cabeça está cansada né?.
L1 : não vem... não vem mais ao::... [não aflora mais à [boca.
Doc1 : não [vem né??
Doc1 : ...
Doc1 : [não aflora.
L1 : é é.
Doc1 : ...
L1 : fica... (pla) e tal fica (embaralhando) e:: e não aflora.
L1 : ...
Doc1 : bom [( ) agradeço muito.
L1 : [eu estou tão... tão...
Doc1 : ...
L1 : ...