Inquérito SP_D2_333

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L1 : ...

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Doc1 : gostaríamos que dessem as suas opiniões a respeito de televisão.

Doc1 : ...

L1 : olha Isa eu... como você sabe... u::ma pessoa um diretor lá da Folha... certa feita me chamou... e me incumbiu de escrever sobre televisão.

L1 : ...

L1 : o que me parece é que na ocasião quando ele me incumbiu disso... ele pensou... que ele ia::... ficar em face de uma recusa... e que eu ia... esnoBAR ((risos))...

L1 : --agora vamos usar um termo... que eu uso bastante e que todo mundo usa muito--...

L1 : eu iria esnobar a televisão...

L1 : ...

L1 : como todo intelectual realmente esnoba.

L1 : ...

L1 : mas acontece... que eu já tinha visto durante muito tempo televisão...

L1 : ...

L1 : porque:: houve uma época na minha vida (em) que a literatura:: me fazia prestar muita atenção.

L1 : ...

L1 : e eu queria era uma fuga.

L1 : então a minha fuga... era me deitar na cama... ligar o:: receptor e ficar vendo...

L1 : ficar vendo.

L1 : ...

L1 : e::... aí eu comecei a prestar atenção naquela tela pequena... vi... não só que já se fazia muita coisa boa e também muita coisa ruim é claro... mas:: vi também todas as possibilidades::... que aquele veículo... ensejava.

L1 : e que estavam ali laTENtes para serem aproveitados.

L1 : ...

L1 : agora voCÊ... foi dos tempos heroicos... da mencionada luta...

L1 : ...

L2 : eu estava na Tupi trabalhando como:: como funcionária da Tupi... da rádio... Tupi... quando foi lançada a primeira... (primeira) televisão...

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L2 : de modo que eu vi nascer propriamente a t/ [a... televisão.

L1 : [vinte e [cinco anos né??

L2 : ...

L1 : ...

L2 : é...

L2 : ( ) eu eu... eu vi nascer eu estava lá... ah... todo momento né??

L2 : ...

L2 : e::: uma coisa que eu gostaria de:: lembrar a você justamente a respeito de linguagem... é o seguinte que eu noto... que muito paulista fica um pouco chocado... com a linguajar carioca...

L2 : ...

L2 : com os esses e os erres [do carioca...

L1 : [sibilados?

L1 : ...

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L2 : que eram justamente um dos um dos defeitos muito grandes do rádio... daquele tempo que era... quando:: um:: um locutor ia fazer um teste... o:: o chefe dizia a ele... ''diga aí os efe os esses e os erres''...

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L2 : esse era o teste.

L2 : ...

L1 : é.

L1 : ...

L2 : para saber se ele tinha... ah:: boa dicção para falar em rádio... não é??

L2 : então ele caprichava!

L2 : ...

L2 : é isso que o Chico Anísio está ah ah ah... caçoando... [na no programa dele... [do Chico Anísio... não é??

L1 : [é.

L1 : ...

L1 : [no programa dele...

L1 : ...

L1 : é.

L1 : ...

L2 : ...

L2 : ele... ca/ éh... éh ele inSISte... DORme em cima dos esses e dos [erres né??

L1 : [dos erres é.

L2 : ...

L1 : ...

L2 : e:: mas eu eu noto que agora... sobretudo na nossa família que nós temos muita preocupação... da da linguagem simples e da linguagem::... [correta... é... exata... nós ficamos um pouco chocados com o esse e o erre exagerados dos [cariocas...

L1 : [exata!

L1 : ...

L1 : [dos cariocas.

L2 : que são mesmo um preciosismo inútil né??

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L2 : ...

L1 : é e agora como o que domina o mercado é a Globo... e os estúdios da Globo... estão... no no Rio... isto faz com que... até os paulistas que vão para o Rio os artistas paulistas que [estão lá... eles começam a adoTAR... para não ficar diferente.

L2 : [adotam.

L2 : ...

L1 : ...

L1 : e:: uma vez:: que:: nós estamos aqui dando um depoimento sobre esse aspecto de linGUAgem... eu já enfoquei... na nas minhas crônicas da Folha... a pedra no caminho... que é... a:: a pronúncia... tão diferente... e mesmo... a maneira de falar as SINgularidades que tem cada região do país...

L1 : ...

L1 : e e e que como isso constitui numa PEdra no caminho... quando é passado em termos de arte cênica...

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L1 : e no caso televisão uma vez que a televisão vai para o Brasil inteiro... não é??

L1 : ...

L1 : ar/ as redes... das grandes emissoras cobrem o Brasil inteiro.

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L1 : então... vôs/ --não sei se vocês acompanharam a polêmica em torno de Gabriela.

L1 : ...

L1 : Gabriela... a::h jornais baianos::... não é?... éh... fizeram... editoriais... a respeito de Gabriela... indignados porque... é é que aquela baiaNIce que se falava... lá não era [absolutamente... a maneira... como o baiano falava...

L2 : [é artificial.

L2 : ...

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L1 : depois ao correr da novela... eu tenho a impressão que eles foram aparando essas arestas...

L1 : ...

L1 : mas a verdade... é esta.

L1 : ...

L1 : é no no::...

L1 : por exemplo se... estão gravando agora este:: está passando está passando agora em São Paulo O Grito não é??

L1 : no no Brasil todo aliás...

L1 : O Grito de Jorge Andrade que é um excelente autor e um autor paulista.

L1 : ...

L1 : pois bem uma grande atriz que é a Maria Fernanda... faz... uma paulista de quatrocentos anos...

L1 : ...

L1 : eXAtamente com a linguagem que você assinalou... de esses sibilantes como cobras...

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L1 : que Maria Fernanda tem todos aqueles cacoetes de [linguagem... [de uma carioca!

L2 : [ela nunca morou aqui [não é??

L2 : ...

L1 : [é...

L2 : [Maria Fernanda nunca [morou em São Paulo??

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L1 : [e é uma grande atriz!

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L1 : então choca demais aquela paulista quatrocenTOna que ele faz bem griFAdo... aliás de uma maneira um pouco calcada demais porque esse tipo acho que já se diluiu nem existe mais... mas... fica fica muito falso ver-se então uma paulista... éh:: que faz questão de morar:: na casa em que moraram seus ancestrais... embora seja na borda do Minhocão... ela faz questão... porque foi ali que os pais moraram por sinal.

L1 : então muito conservadora... falando como uma carioca com esses sibilantes.

L1 : ...

L1 : então isso é uma... PEdra... que eu vejo no caminho... nosso...

L1 : ...

L1 : e:: não sei como isto será resolvido...

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L1 : eu acredito que será louvável o empenho do governo... numa Unificação pelo menos de pronúncia...

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L1 : mas que deveria de começar na escola primária... não é??

L1 : ...

L1 : ensinar dicÇÃO... na escola primária

L1 : e de uma certa forma unificada

L1 : ...

L2 : mas isso é um pouco utópico Helena.

L2 : você veja outros países por exemplo como têm... ah:: na Itália na França... [( ) e e quase às vezes não se na Espanha a a... há dialetos que quase não se não se entende o o::... [( ) pelos [outros!

L1 : [comoção?

L1 : ...

L1 : uns não [entendem os outros...

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L1 : [pois é mas eles são muito [definidos ô ô Isa...

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L2 : [é muito difícil isso.

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L1 : eles são muito definidos e isso faz com que no palco por exemplo... uma pessoa de Marselha... um:: um habitante de Marselha... ou um artista que faz o marselhês...

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L1 : então [eles...

L2 : [eles eles se ironizam [hein??

L1 : ...

L1 : [eles se ironizam ele SAbe a maneira como ele deve falar não é?... as deformações que ele deve dar ao francês.

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L1 : ao passo que aqui no Brasil... éh éh não há um:: nada conceitual --vamos dizer--... a respeito... hã do:: da Fonética não é?... e:: e não havendo uma codificação éh éh um uma nada normativo... [ah fica ao sabor:: do do [popular [não é??

L2 : [mas Helena nós...

L2 : ...

L2 : [Helena... [nós estamos num país em que durante alguns anos não houve prova de redação de português.

L1 : ...

L2 : o o que você quer mais depois disto??

L2 : ...

L1 : é e [hoje...

L2 : [quer dizer não há codificação.

L1 : ...

L2 : como é que não há codi/ [não pode haver uma codificação... [num país assim [não é??

L1 : [é.

L1 : ...

L1 : [viu??

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L1 : [mas é por isso que eu digo que a a às vezes a gente diz ''bom esses artistas deviam de cursar... ah a escola de arte dramática''...

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L1 : ...

L1 : a maioria dos bons artistas que nós temos hoje na televisão cursou escola de [arte dramática... [sobretudo aqui de São Paulo.

L2 : [cursou...

L2 : Juca de [Oliveira... [Araci...

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L1 : [e... e isso e:: todavia falam:: MUI::to...

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L1 : Araci Balabanian é uma das poucas que fala bem.

L1 : e ela [é de Mato Grosso!

L2 : [fala por exemplos...

L2 : ...

L1 : e ela é de Mato Grosso.

L1 : Araci não é paulista.

L1 : ...

L2 : mas [ela faz o curso aqui!

L1 : [ela veio para São Paulo fazer a ê á dê aqui.

L2 : ...

L1 : ...

L1 : mas ela é de Mato Grosso.

L1 : ...

L1 : agora... os ou/ o Juca de Oliveira ele fala feito um caipira do interior do Estado!

L1 : ...

L1 : você reparou??

L1 : ...

L1 : é uma pronúncia absolutamente caipira... [do interior do [Estado.

L2 : [mas... [( ) ele carrega...

L1 : eu não sei de onde é!

L2 : mas é vô/ voluntária né??

L1 : ...

L2 : ...

L1 : não não é voluntária não!

L1 : ...

L1 : é difícil...

L1 : você repara... como é difícil... para o Juca interpretar determinados papéis...

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L1 : se bem que os produtores já viram já perceberam então ele ele está sempre adequado ao papel de homem...

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L1 : ele faz muito na televisão um homem rural...

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L1 : então está bem.

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L1 : mas... ele tem uma pronúncia bem acaipirada... do interior do Estado de São Paulo.

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L1 : então não é uma questão de de formação da escola de arte dramática onde as pronúncias já estão... os jogos já estão feitos como se diz...

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L1 : isso seria de curso primá::rio...

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L1 : ensinar um brasileiro a falar!

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L1 : pelo menos quando quer falar bem.

L1 : depois ele pode partir para as gírias...

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L1 : acho que há uma língua n/... como a nossa que está se construindo todos os dias como o país também que está se construindo todos os dias... ela tem que se acrescentar com influências... éh francesas... alemãs e e e italianas como é o caso de São Paulo... e não vejo nisso... deturpar o o idioma.

L1 : eu acho que com isso nós o acrescentamos.

L1 : ...

L2 : eu acho Helena mas eu acho também... [eu fico ( ) revoltada com a influência... excessiva por exemplo DO cinema... da história em quadrinhos... histórias que não têm nada que ver com (nós) mas absolutamente nada que ver com a nossa formação... [com a nossa história com a...

L1 : [como você não vai...

L1 : ...

L1 : [mas olha...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : bom isso [também mas isso já...

L2 : [e então então vem tudo aquilo de cambulhada e im/ e im/... im::POSto sobre [nós!

L1 : ...

L1 : [é mas isso tam/ isso eu acho realmente muito [ruim.

L2 : ...

L2 : [é...

L2 : ...

L1 : ...

L2 : [agora quan/ quando há uma influência por exemplo você citou o italiano... o italiano está morando aqui!

L1 : [mas quando você vê...

L1 : ...

L2 : miLHAres... não é??

L1 : hum...

L1 : é...

L1 : ...

L2 : ...

L2 : e eles são brasi/ são são propri braziliani né??

L1 : é pró/ [propri braziliani!

L2 : ...

L2 : [propri braziliani!

L1 : ...

L2 : de modo que é... é muito justo... é [essa::... [(esse) entrosamento é muito justo!

L1 : [eles [imprimirem a...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : é...

L1 : [mas...

L2 : [mas quando vem assim de uma maneira... éh imPOSta por assim dizer não é??

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L2 : ...

L1 : mas olha a propó::sito da língua da terra jovem e da terra antiga da terra de origem que no caso seria Portugal... eu::... há muitos anos quando eu já estava acho que começando na minha carreira de jornalista... eu::: tive uma uma entrevista... com uma senhora que era embaixatriz do::... do Canadá... em éh:: no Bra/ éh:: no Brasil.

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L1 : Madame ( ).

L1 : ...

L1 : o:: marido dela o embaixador era poeta é é... era um embaixador poeta um embaixador intelectual.

L1 : ...

L1 : e::: tinha muitos:: livros diversos publicados em francês...

L1 : porque ela era do Canadá francês.

L1 : ...

L1 : e ela me disse uma coisa muito interessante que se verifica muito nos países novos...

L1 : ...

L1 : enquanto... o inglês ficou::... o francês no caso do Canadá francês o francês... éh foi... éh... se crian::do... diariamente se acrescentando... na:: na França enquanto a língua francesa foi se acrescentando... foi-se amoldando aos tempos... no Canadá francês... ouve-se dos... camponeses franceses expressões... de Rebelais... expressões de um francês clássico.

L1 : ...

L1 : então é muito engraçado porque o imigrante... preservou... a linguagem do seu país... no momento em que ele imigrou...

L1 : ...

L1 : e guardou esta linguagem para seus filhos para sua descendência... como um patrimônio!

L1 : como se fosse realmente um reTRAto da sua Pátria.

L1 : ...

L1 : então essa linguagem vai evoluindo no seu país de origem... e no país... jovem para o qual ela foi transposta ela fica mais ou menos estagnada.

L1 : ...

L1 : que é o caso dessa área... francesa do Canadá.

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L1 : eu achei isso muito curioso.

L1 : ...

L1 : porque me disseram também que em vários lugares do sertão... nosso se ou/ se ouve ainda... éh:: vocábulos... hã mais hã clássicos.

L1 : já em completamente em desuso... [não é??

L2 : [papai mesmo tem nos nos livros dele ele tem muitas expressões... completamente:: caídas em desuso e:: portuguesas e portu/ e... de português clássico não é??

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L2 : ...

L2 : tem ( ) entre os caboclos!

L2 : ...

L1 : é::...

L1 : ...

L2 : tem muita [coisa ainda...

L1 : [tem muita coisa... de mistura com a linGUA::gem do caboclo que aliás é uma linguagem... [originalíssima e inteligente...

L2 : ...

L2 : [e o:: e o emprego do vós não é??

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L2 : ...

L1 : é [emprego do vós.

L2 : [o emprego do vós... também...

L1 : ...

L1 : é...

L1 : ...

L2 : que aliás até algum... até o:: acho que o fim do século passado... éh mamãe sempre como:: contava que elas tinham umas amigas que eram sempre carinhosas eram umas velhinhas muito simpáticas então elas se vi/ iam visitá-las... e almoçavam com elas e elas diziam ''comei batati::nha!

L2 : ...

L1 : [comei? [((risos))?

L2 : [comei [batatinha''.

L2 : quer dizer ofereciam as coisas assim... nessa nessa... nessa linguagem...

L1 : ...

L2 : usavam ainda normalmente essa linguagem.

L2 : isso não é tão...

L2 : é começo do século não é??

L2 : ...

L1 : não e [num... é engraçado e no meio [assim do POvo... em São Paulo eu me lembro quando eu era... moci::nha eu tive uma empreGAda... éh que ela atendia o telefone e dizia... ''aqui é a casa de madame Helena''.

L2 : [ainda...

L2 : ...

L2 : [usando vós!

L2 : ...

L1 : ...

L1 : aí... eu fiz ver que não se dizia assim que não que eu que eu não era madame Helena.

L1 : e:: expliquei.

L1 : eu diSSE... ''olha fulana você não:: não me chama de madame Helena... porque maDAme aqui no Brasil... é mais ou menos empregado no caso casa de madame... como se fosse uma casa de uma coleteira --não tenho nada contra a a classe das coleteiras prezo muito... mas enfim-- na (como se) fosse uma coleteira... uma cabeleireira... que não é o caso... de uma:: residência particular.

L1 : então você não... não diga casa de madame Helena...

L1 : não e nem me chame de madame''!

L1 : --porque ela só me chamava de madame--...

L1 : ...

L1 : ''eu acho muito desagradável ( ) me chame dona Helena.

L1 : não me chame de madame''.

L1 : ...

L1 : aí ela pôs a mão no quadril me olhou... --eu nunca hei de me esquecer isso faz tantos anos--... ''por que que a senhora não quer que eu lhe dê madamia?''?

L1 : ...

L1 : mas eu achei [( )!

L2 : [madamia!

L1 : ...

L2 : delicioso.

L2 : ...

L1 : é...

L1 : [madamia ((risos))...

L2 : [( ) madamia ((risos))...

L1 : ...

L2 : ...

Doc1 : e como vocês veem a evolução da tevê??

Doc1 : ...

L1 : a evolução da tevê... eu estou vendo:: a tevê evidentemente... muito presa a singularidades brasileiras... e não se pode mesmo... analisá-la... fora do contexto brasileiro.

L1 : ...

L1 : então quando se pede à tevê... a altura o nível... de uma televisão:: europeia... digo ''meu Deus mas por que só a televisão... tem que ter esta altura... quando as outras... os outros setores... estão ainda claudicando mesmo sob diversos aspectos?''?

L1 : ...

L1 : eu acho então que nesse caso comparativamente até que a televisão está além.

L1 : ...

L1 : porque... éh muitas pessoas que têm viajado ultimamente --ultimamente eu não tenho viajado--... têm dito por exemplo quem em vá/ diversos países da Europa a televisão está muito ruim.

L1 : ...

L1 : porque a televisão sendo estatal ela é muito uniformiZAda...

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L1 : não há:: espetáculos diversificados.

L1 : o telespectador... o:: o fica sempre... preso... a filmes.. ou a:: conferências...

L1 : ...

L1 : há pouco tempo uma amiga minha esteve em Paris e [disse... [que há... (mas não) dois canais em Paris num horário que nós chamamos nobre... num... o Ministro da Educação (e) da Cultura fazia... uma:: conferência... sobre Teilhard de Chardin.

L2 : [mas no setor [musical é maravilhoso.

L2 : ...

L1 : ...

L1 : mas aquilo sem ilustração sem coisíssima alguma das pessoas todas no hotel do saguão do hotel dormirem.

L1 : todas!

L1 : ...

L1 : porque é uma coisa... absolutamente ANtitelevisivo uma pessoa falando em fa/... em face das câmeras sem ilustração sem nada não é??

L1 : ...

L1 : quer dizer era o... era o o era o::... a conferência... filmada assim (era)...

L1 : então... foi uma coisa terrível.

L1 : e a outra também era um OUtro professor também dando uma aula não sei do quê.

L1 : ...

L1 : esporadicamente há concertos de grandes orquestras...

L1 : ...

L1 : mas aqui nós não temos os Concertos para a Juventude da Globo??

L1 : ...

L1 : e não temos boas orquestras também ( )...

L1 : inclusive na Tupi temos boas orquestras e temos...

L1 : ...

L1 : e no que tange a nossa música popular eu acho que:: agora a televisão está abrindo as portas... para a nossa música popuLAR... coisa que o rádio não faz!

L1 : porque o rádio quando se ouve um rádio brasileiro... tem-se a impressão que se está nos Estados Unidos não é??

L1 : ...

L2 : é...

L2 : ...

L1 : é o dia inteirinho música pop...

L1 : ...

L2 : onde houve um progresso maravilhoso foi no setor da dança.

L2 : ...

L2 : porque hoje a dança é profissional.

L2 : ...

L1 : é...

L1 : ...

L2 : é num nível [profissional!

L1 : [profissional.

L2 : ...

L2 : [isto eu noto uma uma diferença enorme

L1 : ...

L2 : porque no tempo em que eu ainda fiz programa em televisão... eu ainda ficava --inclusive tive que fazer programa com... programa infantil--... e ficava desesperada de ter que apresentar números hô/... hoRRÍveis

L1 : hã?

L1 : ...

L2 : quer dizer aquilo que não era [não era... [era hoRRÍvel era hoRRÍvel!

L1 : [não sabiam nada [não é??

L1 : ...

L2 : ...

L2 : e:: fi/ eu ficava desesperada.

L2 : e todos os programas os programas comuns programas de adultos... [eram era tudo improviSAdo!

L1 : [( )...

L1 : ...

L2 : tudo horrivelmente improvisado...

L2 : ...

L2 : e hoje não.

L2 : hoje é um nível já você vê todas... [é um nível [profissional não é??

L1 : [é...

L1 : ...

L1 : [na Globo eles têm aquele [( )...

L2 : ...

L2 : [é ( ) FanTÁS::tico...

L2 : ...

L1 : na::: na Tupi eles têm daquela:::... aquela moça --como é que ela chama interessante--... é uma... a Aída... não.

L1 : ...

L1 : [me esqueci agora o nome dela.

L2 : [eu eu não estou agora por [dentro da:: dos nomes...

L1 : ...

L1 : [que é:: da::...

L1 : ...

L2 : sabe que::...

L2 : ...

L1 : me esqueci o nome da da coreógrafa em que apresenta os...

L1 : Aládia Centenaro.

L1 : ...

L2 : hum...

L1 : da da Tupi.

L2 : ...

L1 : é Aládia Centenaro e o João Carlos Berarti é o da::...

L1 : ...

L2 : é es/ essas esses progressos... éh houve isso houve muito [progresso ( ).

L1 : [acho e acho --agora então bato numa tecla que eu sempre bati-- acho que a televisão brasileira... irá encontrar do ponto de vista ficcioNAL... irá encontrar o seu caminho... é através da tão malfadada TElenovela.

L2 : ...

L1 : ...

L1 : porque a telenovela... como ela é feita aqui é um gênero nosso.

L1 : é um gênero... que o estrangeiro... o estrangeiro... de bom nível intê/ intelectual que chega ao Brasil... se enamora das boas novelas bem entendido.

L1 : então Gabriela... conversei com um professor francês que disse que jamais isso veria nada parecido em Paris...

L1 : ...

L1 : que achava que a televisão que se fazia lá... ah do ponto de vista ficcional... era... infinitamente pior!

L1 : ...

L1 : porque... eles não têm:: eles éh em matéria de ficção são os velhos filmes não é??

L1 : que são ( ) que nós vimos...

L1 : ...

L1 : onde predomina o mercado... do que eu chamo do lixo americano...

L1 : ...

L1 : do que já está caduco... mais ou menos nos Estados Unidos.

L1 : ...

L1 : isso repetitivamente...

L1 : ...

L2 : é...

L1 : porque ainda se passasse uma vez (não)... o mesmo filme é passado DEZ vinte vezes não é??

L2 : ...

L1 : ...

L1 : então para nós encontrarmos do ponto de vista ficcional... a nossa linguagem televisiva... eu acho que será mesmo através da telenovela.

L1 : e acho que estamos encontrando esta este caminho.

L1 : ...

L2 : mas a tele/ a telenovela há uma granDEza... dentro dela Helena... que é a grandeza do povo!

L2 : eu acho isso uma coisa [maravilhosa.

L1 : [(pois é que aceita) as faixas que aceitam [uma novela...

L2 : eu estava em Santa Catarina...

L2 : ...

L2 : [é pois é:: a aceitação... a::... a a i/ a:: a... a fraternização --digamos assim--... não é? do povo todo...

L1 : ...

L1 : hum...

L1 : ...

L2 : eu estive em Santa Catarina e sabe... aquela:: aquela::... ali perto daquela grande::: daquela grande laGOa??

L2 : ...

L1 : hum?

L1 : ...

L1 : em [Florianópolis ou não??

L2 : [( ) em Flori/ tsc em [Florianópolis onde::... onde estão as rendeiras sentadas a gente vai passando... de carro e olhando em todas as casas... há uma há uma rendeira trabalhando.

L1 : ...

L1 : [em Florianópolis.

L1 : ...

L2 : ...

L2 : é:: é uma é uma veLHA e:: uma senhora é uma menina.

L2 : ...

L2 : mas todas as mulheres estão trabalhando em renda.

L2 : ...

L2 : e:: então u/ duas delas vieram falar conosco.

L2 : ...

L2 : então ela disse assim ''hã da/ dona:: ah faz favor de me dizer uma coisa... a senhora a senhora vê novela?''?

L2 : ...

L2 : eu digo ''vejo''.

L2 : ''que que a senhora está vendo?''?

L2 : ...

L2 : eu estava vendo aquela coisa naquela ocasião eu estava vendo uma novela da Tupi.

L2 : ...

L2 : ela disse... ''escute uma coisa por favor me diga... a Maria morreu?''?

L2 : ...

L1 : [((risos))

L2 : [eu achei esta frase uma coisa comovente maravilhosa.

L1 : ...

L2 : quer dizer o Brasil inteiro estava vendo... ((risos)) pensando ao mesmo tempo que a [Maria tinha morrido...

L1 : [((risos))

L2 : ...

L2 : uma coisa [linda né??

L1 : ...

L1 : [mas você [veja...

L2 : ...

L2 : [disse ''não''.

L1 : ...

L2 : aí eu respondi ''ah [não eu eu sei se a Maria morreu ou não morreu mas eu não vou dizer a você... porque lá em São Paulo está mais adianTAda... é uns dois... uns dois meses e eu vou tirar sua graça!

L1 : [(hã)?

L1 : ...

L1 : [e você vai (diz/)...

L1 : ...

L2 : ...

L2 : você espera um pouquinho que você vai saber se a [( )'' ((risos))...

L1 : [se a Maria morreu ou não!

L1 : ...

L2 : ...

L1 : mas você sabe que a... eu me lembro quando... o:: o chanceler Gibson Barbosa era nosso... Ministro das Relações Exteriores não é?... --éh eu estive com ele em Brasília--... então se dizia lá que ele... ah:: na na hora em que ia para o ar O Bem Amado ele se trancava no:: [gabinete dele... e dizia que ele tinha despachos urgentes.

Doc1 : [((risos))

Doc1 : ...

L1 : ...

L1 : e ficava lá trancado.

L1 : ...

L1 : então eu pensava --eu chegava aqui em casa... a minha cozinheira não perdia O Bem Amado não é?--?

L1 : ...

L1 : então eu dizia ''mas é uma coisa estranha... neste Brasil inteiro neste país continente neste exato momento... naquela hora... --parece que não sei se era oi/ dez da noite--... dez da noite... o:: as criaturas mais diversas as faixas sociais mais diversas... estão presas a esse... esse enredo essa história que se processa''.

L1 : e por falar nisto... eu dei essa notícia ontem não sei se você sabe... que O Bem Amado... traduzido para o espanhol El Bien Amado... está percorrendo toda a América Latina.

L1 : ...

L1 : está sendo um sucesso... enorme... no:: em Montevidéu...

L1 : ...

L1 : que foi a última... praça em que ele está se exibindo...

L1 : ...

L1 : e se exibindo dublado!

L1 : porque até então... as nossas emissoras solicitadas exportavam apenas o:: o texto...

L1 : ...

L1 : que era depois traduzido... e feito... em diversos países (on/)... pelos artistas éh locais.

L1 : ...

L1 : mas O Bem Amado foi dublado.

L1 : ...

L1 : como nós dublamos os filmes americanos... eles duBLAram O Bem Amado.

L1 : ...

L1 : então eu me pergunto eu não sei se vocês estão lembradas daquele jargão do Odorico Paraguaçu... que falava ''apenas mente''... éh::... ''a moribundice dele a mori/'' ((risos))...

L2 : hum...

L2 : ...

L1 : eu me lem/... eu imagino como será isso traduzido em castelhano né??

L1 : ...

L1 : porque ele tinha peculiaridades de linguagem engraçadíssimas né??

L1 : ...

L2 : aliás esse [intercâmbio... [de de novela já houve há muito tempo no rádio né??

L1 : [( )...

L1 : ...

L2 : no rádio se fez com a ArgentiNA... demais [né??

L1 : [mas nós [recebíamos mais do que dávamos... não é??

L2 : ...

L2 : [outros rádios ( )...

L2 : ...

L1 : ...

L2 : não não eles trocavam!

L2 : ...

L2 : quer dizer inclusive nós assistimos aqui muita novela... com o nome do Osvaldo Viana... que era de uma de um argentino...

L2 : ...

L1 : é de um [argentino??

L2 : [e era levado lá com o... com o com o nome da pês/ da do do escritor lá.

L1 : ...

L1 : de lá.

L2 : ...

L1 : ...

L2 : de lá!

L1 : é...

L2 : ...

L1 : ...

L2 : e a gente não quem era!

L2 : mas na verdade eles trocavam...

L2 : ...

L2 : e exibiam com o seu nome.

L2 : ...

L2 : quer dizer na na televisão é uma novidade né??

L2 : ...

L1 : é não não é novidade eles... pegarem a produção inteira.

L1 : globalmente [não é??

L2 : [é...

L2 : ...

L1 : ...

L1 : com os nossos artistas...

L1 : ...

L1 : porque... o Vietri mesmo já hum... já vendeu aquele:: Nino o Italianinho... todas aquelas novelas dele ele já vendeu... para países de fala::: espaNHOla ele já vendeu tudo aquilo...

L1 : ...

L1 : e por sinal que é muito engraçado porque o México comprou uma daquelas novelas que teria cento e cinquenta capítulos mas pediu para aumentar para duzentos [((risos))!

L2 : [((risos))

L1 : ...

L2 : ...

L1 : então é engraçá/...

L1 : agora... éh::... como cô/... exportar assim globalmente toda a produção não é?... éh gravada aqui... hã... éh interpretada pelos nossos artistas... e:: e é o que é mais interessante... no caso de Gabriela... com uma trilha sonora bem brasileira não é?... em que entraram artistas... extraordinários da nossa música popular... na composição... tanto das letras quanto das músicas e na execução e na interpretação.

L1 : ...

L1 : então... ah:: Gabriela eu acho ( ) também... parece que já está sendo negociada... como foi O Bem Amado... éh isso eu acho muito bom.

L1 : ...

L2 : só este campo de trabalho... novo não é? para o nosso artista...

L2 : agora ( ) fizerem a... a trilha sonora... em vez de pegar um disco... não é?... fazia (o fato de fazer escrever)... está sendo agora o:: Pecado Capital por exemplo...

L1 : é...

L1 : ...

L1 : como antigamente se punha né??

L1 : ...

L2 : eles encomendaram especialmente para aquele...

L2 : ...

L2 : está perfeitamente... [adeQUAdo...

L1 : [adequado...

L1 : ...

L2 : ...

L2 : é muito mais interessante...

L2 : ...

L1 : é [( )...

L2 : [é uma grande oportunidade para os nossos [artistas não é??

L1 : ...

L1 : [é...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : isso é muito bom:: e:::... e ain/ e::... e a novela puxa o disco porque parece que na vendagem dos discos eles são muito... requisitados esses discos de novela né??

L1 : ...

L2 : Helena você escreveu qualquer coisa muito interessante sobre a a Marília Medalha e eu perdi essa sua::... ( )...

L2 : o que foi que você disse sobre a Marília Medalha??

L2 : o ( ) me disse que era... que estava muito interessante este seu:: esta sua crônica...

L2 : ...

L1 : é e não o que [eu disse é o seguinte é é a tal coisa a televisão hã:: ao mesmo tempo que proporciona às vezes... surpresas ruins às vezes proporciona Ótimas não é??

L2 : [o que que você comentou??

L2 : ...

L1 : ...

L1 : porque a Marília Medalha não costuma... aparecer muito na televisão.

L1 : ...

L1 : éh:: há quem diga que a televisão compõe uma muralha de mediocriDAde... que ela paga muito bem...

L1 : ...

L1 : então as pessoas que estão lá dentro não deixam os de fora entrar...

L1 : ...

L1 : então muitos artistas escritores... hã compositores cantores gostariam de:::... de ter acesso à televisão...

L1 : mas ela se fecha... na famosa muralha de mediocridade que (a r/) agora é um pouco discutível... e não se abre.

L1 : mas:: nesse dia... eu estava aqui na minha sala... sintonizei para o canal quatro... um programa da::... Elizeth Cardoso Brasil Som Setenta e Seis --eu gosto muito da Elizeth Cardoso--... e daí a pouco quem eu vejo Marília Medalha... cantan::do... umas músicas lin::das:: e com uma presen::ça extraordinária.

L1 : ...

L1 : eu acho::... a Marília Medalha uma das nossas atrizes MAIS significativas.

L1 : ...

L1 : e ela está se dedicando MUIto à música popular...

L1 : e SEMpre --creio-- sempre na carreira dela ela se dedicou... à nossa música...

L1 : ...

L1 : vocês devem estar lembrados do sucesso... ah da interpretação dela de Ponteio... que fô/...

L1 : do::... [daquele menino do::...

L2 : [Ponteio...

L2 : ...

L1 : como é que ele chama??

L1 : do autor do Ponteio??

L1 : ...

L2 : Edu!

L2 : ...

L1 : Edu [Lobo não é??

L2 : [Edu Lobo!

L2 : ...

L1 : Edu Lobo...

L1 : ...

L1 : que foi premiado num festival.

L1 : ...

L2 : você sabe a história dessa premiação como é que foi??

L2 : ...

L1 : ( ) [eu não estou bem lembrada...

L2 : [o::: o Buarque... [o o Buarque queriam dar o prêmio para ele.

L1 : ...

L1 : Chico [Buarque...

L1 : ...

L2 : ...

L2 : e ele brigou e disse [que não aceitaria...

L1 : [((risos))

L1 : ...

L2 : não isso não é fofoca de:: de bastidor mas eu::... [(estou te dando notícia) autêntica.

L1 : [hã...

L1 : ...

L2 : ...

L2 : e ele se negou!

L2 : ele disse que NÃO receberia se não fosse... o::... se não recebesse TAMbém o [Ponteio.

L1 : [o [Ponteio...

L2 : ...

L2 : [e:: e Ponteio é uma música [maravilhosa ( )...

L1 : ...

L1 : [( ) música maravilhosa.

L2 : aliás uma coisa linda.

L1 : ...

L2 : ...

L1 : pois é [mas aí não há...

L2 : [(pelo) mesmo tempo que foram premiadas as duas né??

L1 : ...

L2 : ...

L1 : aí a Marília então... hã... éh cantou lindamente... e mais do que cantar eu acho que a Marília tem uma força dramática muito grande.

L1 : o que faz com que se suponha nela... uma atriz dramática que não foi aproveitada.

L1 : ...

L1 : e é tão raro... que o ator nosso tenha esses dois predicados... --saiba interpretar::... e tenha uma boa VOZ:: e conhecimentos musicais--... que eu:: disse a ela que ela ela ainda não se conhecia ela ainda não tinha se percorrido porque ela ainda poderia ser... a estrela de um grande musical...

L1 : ...

L1 : por causa da força interpretativa dela...

L1 : ...

L1 : que não é comum... não é??

L1 : nó/ nós temos às vezes grandes cantores popula::res... mas que não SAbem interpretar.

L1 : às vezes não sabem nem sequer dizer::...

L1 : ...

L1 : as palavras se perdem...

L1 : ...

L1 : e ela não!

L1 : ela:: ela interpreta magnificamente.

L1 : ...

L2 : é família toda interessante inteligente...

L2 : ela o irmão... o irmão é maestro né??

L2 : ...

L1 : (que) [acho que não!

L2 : [o irmão ela tem uma irmã que é poetisa que é muito inteligente também [(né?)?

L1 : ...

L1 : [é mas eu acho [que não Isa.

L2 : ...

L2 : [jornalista e poetisa...

L1 : ...

L1 : eu acho que o maestro Júlio Medaglia ele é Meda-gli-a...

L2 : ...

L1 : ...

L1 : e ela é Medalha de [Medalha com ele agá.

L2 : [eu acho que ela modificou e ele é irmão dela.

L1 : ...

L2 : ...

L1 : não não.

L1 : ...

L1 : parece que não.

L1 : ...

L1 : eu não POsso jurar sobre os evangelhos mas me parece que não.

L1 : ...

L1 : hã:: ela seria Medalha [com ele agá... [e ele é MeDA-glia.

L2 : [eu acho que ela modificou seu [nome...

L2 : ela tem (o direito)...

L2 : ...

L1 : ...

L2 : ( ) (nome)...

L2 : ...

L2 : tenho impressão.

L2 : ...

L1 : uhum...

L1 : ...

L1 : a irmã dela eu conheço que é jornalista né??

L1 : é uma moça jornalista...

L1 : [( )...

L2 : [poetisa!

L1 : ...

L2 : ...

L1 : poetisa...

L1 : ...

Doc1 : e sobre o cinema??

Doc1 : ...

Doc1 : [o cinema atual.

L1 : [o cinema nacional??

L1 : ...

Doc1 : ...

L1 : olha o cinema na/ o atu/ o atual brasileiro eu tenho visto muito pouco.

L1 : ...

L1 : eu vi:: o ano passado um filme que me deixou MUIto impressionada... porque esse filme...

L1 : aliás vi dois filmes... nacionais.

L1 : ...

L2 : Rainha Diaba.

L2 : ...

L1 : é A Rainha DiAba... que me pareceu assim CEM por cento nacional... sem nenhuma influência... éh hã daqueles:: ah filmes... de gângsters americanos né? que era um marginal bem NO::sso... aquele marginal pobre triste com as... peculiaridades NOssas do submundo nosso... e:: aquele tirado da:: do Marques Rebelo A Estrela Sobe.

L1 : ...

L1 : que eu também achei magnífico... como retrato de uma época.

L1 : ...

L1 : como justiça que o cinema fez a um grande escritor.

L1 : ...

L1 : que foi Marques Rebelo.

L1 : ...

L1 : então são dois filmes... foram acho que foram os [dois únicos filmes ( )...

L2 : [vamos esperar A Muralha não??

L1 : ...

L2 : ...

L1 : agora [vamos ver se vai sair A Muralha né??

L2 : [Deus quiser!

L2 : ...

L1 : ...

L2 : é...

L1 : vamos ver...

L2 : ...

L1 : está há [tanto tempo prometida...

L2 : [( ) Dinah está com::... boas esperanças de levar agora A [Muralha.

L1 : ...

L1 : [mas agora estão dizendo que estão passando aí um filme muito bom O Predileto não é??

L2 : ...

L1 : ...

L1 : você ouviu falar??

L1 : ...

L2 : é...

L2 : ...

L1 : [diz que é um filme também nesta linha brasileira...

L2 : [( ).

L2 : ...

L1 : ...

L1 : até achei graça uma amiga minha disse ''eu gostei muito do filme... porque ele tem sobretudo... uma cafonice bem [brasileira...

L2 : [( )...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : retratando determinado mundo''.

L1 : ...

L1 : eu acho que é muito bom... que o Brasil em literatura pelos seus grandes escritores há bastante tempo... já deixou de ter o seu cordão umbilical... preso à Europa...

L1 : ...

L1 : e:: e todo o::... toda a América Latina já se desprendeu... desse cordão umbilical fazendo uma literatura muito... da terra muito do homem... nativo... que é o caso de Gabriel Garcia Marquez... e de tantos outros...

L1 : e aqui:: no Brasil Jorge Ama::do e tantos outros.

L1 : ...

L1 : e:: então agora... no cinema parece também que está havendo essa desvinculação... do figurino europeu do figurino americano.

L1 : ...

L1 : infelizmente há muito também da chamada pornochanchada não é??

L1 : ...

L1 : que é uma maneira comercial...

L1 : mas o que se pode dizer... da pornochanchada aqui se ela impera na França se ela impera [no mundo todo??

L2 : [(Helena)... um belo filme foi Orfeu do Carnaval.

L1 : ...

L2 : ...

L1 : foi...

L1 : ...

L1 : mas esse já é antigo e foi uma [coprodução (não é?)?

L2 : [já é antigo já faz (há) muito tempo é...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : mas foi uma COprodução.

L1 : ...

L2 : coprodução ( ) [com a Argentina??

L1 : [agora você vê:: a gente ima/...

L2 : ...

L1 : não não uma coprodução francesa.

L1 : ...

L2 : [francesa??

L1 : [com::... [com o Camus... que seria até um parente do Albert Camus não é??

L2 : ...

L2 : [(foi) muito [bonito aquele filme.

L2 : ...

L1 : que era o o o... o diretor do do Orfeu do Carnaval...

L1 : ...

L1 : agora você vê não teve sequência.

L1 : ...

L1 : depois então houve um hiAto grande... com más produçõ::es... e agora eu acho estô/ éh éh estamos vendo... uma tentativa de um cinema... mais... expressivo do que seja... o Brasil.

L1 : ...

L1 : eu tenho confiança nesse cinema.

L1 : ...

Doc1 : a que se deve esse hiato que a senhora mencionou??

Doc1 : ...

L1 : o quê??

Doc1 : esse hiato...

L1 : ...

Doc1 : ...

L1 : esse hia::to olha é um pouco difícil de se estabelecer assim:: a... a causa desse hiato...

L1 : porque... o o... essa... és/ o Orfeu do Carnaval se eu n/ eu não:: estou bem lembrada da data... mas me parece que foi num momento... em que cessando a guerra... a última guerra... o:: a plateia do mundo todo se mostrou... MUIto enfastiada da receita de Hollywood.

L1 : ...

L2 : mas foi muito depois de [da...

L1 : [pois é...

L2 : ...

L1 : mas aí então houve uma abertura... para o mercado... internacional do cinema...

L1 : ...

L1 : e:: então entrou a Itália... não é??

L1 : ...

L1 : (no) seu grande momento do neorrealismo.

L1 : ...

L1 : que foi mu/ mudan::do toda uma concepção cinematográfica... até então instituída

L1 : ...

L1 : aquela fórmula hollywoodesca daquelas superproduções... aquilo tudo foi... cedendo lugar... a um cinema PObre... não é?... de um país:: empobrecido pela guerra como era a Itália... e:::... mas mostrando uma arte maravilhosa!

L1 : ...

L1 : um Vittorio de Sica ia para rua com uma câmera... e fazia um Ladrão de Bicicleta... sem artistas... não é?... sem cenários mirabolantes sem nada apenas com as ruas de Roma... como cenário não é??

L1 : ...

L1 : então aquilo foi abrindo o o o uma uma a curiosidade do público... para se sair daquela ficção hollywoodesca.

L1 : ...

L1 : foi aí também que começou a decadência de Hollywood...

L1 : ...

L1 : tanto que depois... o próprio Estados Unidos reformulou... o o o seu método...

L1 : ...

L1 : e:: aí nós começamos a ver... hã:: filmes como aqueles daqueles dois rapazes passeando pelos Estados Unidos numa motocicleta...

L1 : ...

L1 : filmes pobres de de pouca::... de produção pobre...

L1 : ...

L1 : mostrando apenas:: a arte cinematográfica e o... quase que um cinema-verdade.

L1 : ...

L1 : então:: isso foi gerando... éh ê/ este interesse... e... para o cinema fora do do do do conceito já instituído e aceito do cinema norte-americano... e eu acho que então começaram a querer ver o ca/ o que cada povo tinha a oferecer como cinema.

L1 : ...

L1 : evidentemente... pessoas que chegam ao Brasil ficam encantadas com aquele cenário do Rio de Janeiro... com a nossa música popular...

L1 : ...

L1 : houve naturalmente uma aproximação... com... o nosso grande poetinha... Vinícius de Moraes não é? que foi o autor do roteiro... e que engendrou aquela ideia tão linda do Orfeu do Carnaval.

L1 : ...

L1 : mas como aquilo tudo vinha hum:: de uma espécie de curiosidade a curiosidade parece que foi saciada... [aquilo foi uma coprodução...

L2 : [esse esse filme foi baseado no conto do Aníbal Machado ou não??

L1 : ...

L2 : ...

L1 : não não.

L1 : ...

L1 : não não não...

L1 : [(não foi esse)...

L2 : [eu acho que eu faço confusão.

L1 : ...

L2 : ...

L1 : foi [o roteiro...

L2 : [houve um filme que foi baseado em três contos um deles de Machado de Assis... outro de Machado de de::... Aníbal Machado... e o terceiro eu não me lembro quem era o escritor...

L1 : ...

L2 : eram três escritores nó/ três CONtos de escritores nossos...

L2 : ...

L2 : um deles era A Morte do da [Porta-Estandarte...

L1 : [da Porta-Estandarte.

L2 : ...

L1 : ...

L2 : de Aníbal Machado.

L2 : ...

L2 : [( ) esse filme??

L1 : [(é mas não não).

L1 : ...

L2 : ...

L1 : realmente é/ éh éh...

L1 : nãoesse eu [não vi!

L2 : [muito bonito também.

L1 : ...

L2 : ...

L1 : esse eu não vi.

L1 : ...

L1 : não mas o Orfeu do Carnaval não.

L1 : Or/ Orfeu do Carnaval [foi feito...

L2 : [foi feito pelo [pelo::... pelo francês o:: filho [do::... o Camus.

L1 : ...

L1 : [o o quem fez o [roteiro foi... [(foi) o Camus... [não é??

L1 : que era um:: parente do [Albert Camus.

L2 : ...

L2 : [(é)...

L2 : parente.

L2 : ...

L1 : ...

L1 : e:::... e Vinícius de Moraes fez o roteiro fez a música beLÍssima né??

L1 : ...

L1 : é uma música linDÍssima!

L1 : ...

L1 : o filme todo passado no Rio...

L1 : ...

L1 : e com aquela:::... aquela transposição... da lenda do Orfeu que desce aos infernos não é?... para salvar Eurídice... éh:: aquela transposição para o Rio de Janeiro... aproveitando o Carnaval:: os sambas... foi muito bonito!

L1 : me lembro (que)...

L1 : é um éh está aí um filme que se for passado novamente eu acho que encherá as plateias porque foi muito lindo!

L1 : ...

L2 : Agora Helena... ah::... filme água com açúcar --digamos assim--... para a gente ver certas coisas que a gente vê:: americanas principalmente... antes A Moreninha né??

L2 : ...

L1 : ah mas [é... [((risos))...

L2 : [A Moreninha [foi um filme LIMpo... [não é??

L1 : ...

L1 : [hã?

L1 : ...

L2 : ...

L2 : um filme:: ah ah profissionalmente:: [limpo bem feito não é??

L1 : [( ) bem feito...

L1 : ...

L2 : [como como paisagem como como... como TUdo... como... pesquisa de...

L1 : [( ) paisagens maravilhosas...

L1 : ...

L1 : e A Moreninha ficou justamente naquele musiCAL... naquela era dos musicais que eram tão gos/ éh produziam coisas tão gostosas aquela era produziu... realmente... hã hã você se lembra daqueles filmes de Janet McDo::nald aquelas... LINdos... e depois cessou essa época...

L2 : ...

L1 : ...

L1 : agora tão voltando parece com a ópera rock também [(que ela vem aí)...

L2 : [a ópera rock ( ) vem aí...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : [é...

L2 : [já está aí o (Tomy) né??

L1 : ...

L2 : ...

L1 : (Tomy)...

L1 : ...

L1 : mas:: a:: A Moreninha... mais ou menos se encaixa naquela... naquele filão... do musical norte-americano com olhar lírico né??

L1 : ...

L1 : tão bonito.

L1 : ...

L2 : acho que nós já já [estamos...

Doc1 : [não...

L2 : ...

Doc1 : mais [( )...

L2 : [(e não?)?

L2 : ...

Doc1 : (e)... e quanto ao teatro??

Doc1 : ...

Doc1 : poderiam comentar alguma coisa? ((risos))?

Doc1 : ...

L1 : olha eu costumo dizer::... ao meu primo-irmão e mais irmão do que primo e ao seu irmão... (Miro Leal)... éh que eu gosto tanto de teatro que não vou ao teatro.

L1 : ...

L1 : (por) o teatro nacional... estar me desgostando de uns tempos para cá está me desgostando.

L1 : ...

L1 : ao par de muitas coisas positivas havia tanta coisa negativa... hã:: que eu me sentia:: roubada de meus momentos de lazer e de descanso na minha casa... podendo ver na... na minha televisão... enfim:: opções para diversos canais... podendo PES::car alguma coisa boa ficar duas horas sentadas... às vezes em teatros com plateias bastantes incômodas e (coisa)... vendo... ah:: textos discutíveis... interpretações sempre boas porque eu acho que nós temos grandes atores eu acho que nós somos muito ricos nesse material do a/ do ator... direções ótimas mas às vezes textos... indigentes... Apelativos... então eu fiquei muito tempo sem ir ao teatro.

L1 : ...

L1 : éh:: ultimamente de coisas boas que eu tenho visto... ah::... deixa eu ver... (eu não)... quer dizer eu não poderia dizer assim a rigor porque muitos espetáculos me escaparam...

L1 : ...

L1 : um deles que eu gostei... mas que não é um espetáculo brasileiro... porque:: foi todo adapTAdo do:: do musical americano... foi o Dom Quixote...

L1 : ...

L1 : com a Bibi [Ferreira...

L2 : [não sabe um espetáculo que não [deixou de ser interessante foi sobre Augusto dos Anjos.

L1 : ...

L1 : [e...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : sobre... sob/...

L1 : eu não vi...

L1 : esse eu [não vi.

L2 : [Augusto dos Anjos...

L1 : ( ) me [disseram que foi muito [bom.

L2 : foi interessante!

L2 : ...

L2 : [(foi) interessante!

L1 : ...

L2 : ...

L1 : sobre o Augusto dos Anjos.

L1 : ...

L2 : foi...

L2 : ...

L1 : e vi um espetáculo... éh bastante contestável porque bem::... dentro daquele esquema do... do teatro do palavrão... pelo palavrão... mas MUIto bem interpretado... que é Roda Cor de Roda...

L1 : ...

L1 : éh com a interpretação maior de uma atriz Irene Ravache que este ano... tirou... o prêmio... da pê cê á... de melhor atriz... tirou o prêmio da pê cê á de melhor atriz de televisão... e tirou o Molière agora.

L1 : ...

L1 : essa:: atriz revelou-se realmente neste ano... fazendo um papel duma::... parece que (era) Amélia Batalha.

L1 : ...

L1 : é um texto de Leilah Assunção... bastante discutível... em que ela faz a análise do::: da guerra entre os sexos... hã::: do papel... que a mulher... éh poderia ter:: deveria ter:: que lhe é rouBAdo... então ela coloca a mulher::... primeiro a a a éh a mulher obJEto... --mas sempre num sentido caricatural uma visão caricatural da coisa-- a mulher objeto... depois a mulher que percebe que o marido tem amante... aí resolve se vingar... e aí ela passa para o lugar da amante... depois a mulher... tão acima dos preconceitos... que passa a viver em comum com a amante do marido... aí então é a forma da::: do homossexualismo feminino... que ela... que ela cari/ ah faz uma caricatura... e depois de todos esses jogos... --hã:: da mulher:: objeto a mulher hã libertando-se sexualmente... e e e tendo amantes e depois a mulher::... também seguindo... uma tendência anômala... do sexo que seria o mesmo sexo--... depois disso tudo os três:: protagonistas se encontram... para chegar à conclusão... de que a vida é uma::... é uma inutilidade de que a vida está toda errada... que há que recomeçar em algum lugar alguma coisa nova... porque o jogo está completamente errado.

L1 : ...

L1 : é uma comédia engraçada e ao mesmo tempo muito amar::ga na sua solução.

L1 : ...

L1 : mas com essa interpretação maior da Irene Ravache.

L1 : ...

L1 : eu acho que é a única coisa que eu devo de assinalar.

L1 : ...

L1 : agora outro dia esteve aqui na minha casa me visitando uma autora teatral jovem que eu não conheço não conhecia e fiquei conhecendo pessoalmente.

L1 : ...

L1 : Consuelo de Castro.

L1 : ...

L1 : ela veio me trazer um... um caso especial que ela escreveu para a Globo... inclusive me pediu que colocasse na Globo o que eu fiz já...

L1 : ...

L1 : e eu li o texto da Consuelo... e gostei muito.

L1 : ...

L1 : é uma autora teatral que já também obteve prêmio Molière obteve diversos prêmios...

L1 : ...

L1 : engraçado a gente notar que no nosso teatro... a mulher parece que está tomando [um lugar bem positivo não??

Doc1 : [uhum...

Doc1 : ...

L1 : ...

L1 : ela está:: aparecendo assim... com tudo bem positivo.

L1 : ...

L1 : no mais Isa você viu alguma coisa além dessa espetáculo de Augusto dos Anjos??

L1 : ...

L1 : não tenho [( )...

L2 : [não tenho ido a teatro também não.

L1 : ...

L2 : ...

L2 : não tenho ido...

L2 : também o... o prô/ o problema é o mesmo né??

L2 : ...

L1 : [é::...

L2 : [depois que fui assaltada três vezes eu não tenho coragem de sair à [noite... [((risos))!

L1 : ...

L1 : [(ai credo) [((risos))...

L1 : ...

L2 : ...

L2 : não tenho ido quase a teatro não.

L2 : ...

L1 : eu já disse para Isa que ela tem cara de milionária porque eu graças a Deus --deixa eu bater no na-- eu não fui assaltada.

Doc1 : ((risos))

L1 : ...

Doc1 : ...

L2 : (eu) já três vezes assaltada na rua né??

L2 : ...

L2 : [não não dá vontade nem de sair mais né??

Doc1 : [aqui em São Paulo ( )...

Doc1 : ...

L2 : ...

Doc1 : ((risos))

Doc1 : ...

L1 : pior é que ela mora... pertinho da rua Augusta não mora nenhum:: lugar assim ermo né??

L2 : [é...

L1 : ...

L1 : [pelo contrário você mora em lugar movimentadíssimo!

L2 : ...

L1 : ...

Doc1 : não estava indo para o teatro né??

Doc1 : ...

L1 : [((risos))

L2 : [((risos))

L1 : ...

L2 : ...

Doc1 : e o que vocês acham que seria... uma televisão ideal numa comunidade como São Paulo??

Doc1 : ...

L1 : olha eu acho que a televisão nossa está se fazendo na medida... ah:: justamente do que é a nossa sociedade.

L1 : ...

L1 : ela é fluxo e refluxo.

L1 : ...

L1 : ela está se construindo todos os dias... na medida que o país está se construindo todos os dias.

L1 : ...

L1 : eu vejo a nossa televisão como um verdadeiro happening... sabe??

L1 : ...

L1 : ela não:: não se pode ainda estruturar regras --a televisão é isso a televisão é aquilo-- a televisão... está encontrando a sua linguagem.

L1 : ...

L1 : como eu disse do ponto de vista ficcional... o que tem ajudado muito... é... a novela...

L1 : ...

L1 : embora isso pó/ possa ser... e eu::... concedo que seja largamente contestado.

L1 : ...

L1 : por outro lado também --uma coisa que eu não disse eu acho muito importante--... a televisão... está servindo PAra o aprimoramento do cinema...

L1 : ...

L1 : a telenovela nesse caso...

L1 : ...

L1 : do nosso cinema...

L1 : e já tem mostrado isso...

L1 : ...

L1 : em mais de um desses filmes... ah ah::... de mais sucesso.

L1 : ...

L1 : é o caso... do:: do filme que eu indiquei da::... tirado do romance de Marques Rabelo... A Estrela Sobe... com artistas da televisão... quase todos eles... Beth Faria e qua/ e a maior parte deles.

L1 : caso da Rainha Diaba...

L1 : ...

L1 : enfim... éh:: éh... eu vejo a TElenovela... como um verdadeiro laboratório posto no ar.

L1 : fala-se tanto em teatro em laboratório fazer laboratório e tudo mais...

L1 : pois bem... o artista que... que se... que pode se ver... diariamente numa telenovela... ele verá logo seus cacoetes seus sestros... os desvios da da::... apresentação... e poderá corrigi-los muito melhor::.

L1 : ...

L1 : então eu acho que a nossa televisão está:: é muito difícil prever a... o fuTUro dela.

L1 : ...

L1 : ela está se construindo... na medida que o país está se construindo... ela está --(como) assinalou bem a Isa--... ela éh:: está sendo feita... para... um país continente... então com faixas... TÃO diversas... ah... de mentalidade... éh de:: com sistemas de vidas tão diferentes ela agraDANdo a... todas as faixas né??

L1 : ...

L1 : acho que ela está cumprindo brilhantemente... o seu papel...

L1 : ...

L1 : eu vejo mesmo a televisão como foi o rádio há tempos atrás... ah era um rapsodo o rádio... que levava a voz do contador de histórias para a mais longínqua região.

L1 : ...

L1 : hoje a televisão... com aquela sua telinha mágica... que leva a figura que leva o::... o a a a iMAgem... ah contando as histórias para as mais diversas regiões do país né??

L1 : ...

L1 : [( )...

L2 : [(e) de certa maneira preservando... a nossa [nacionalidade.

L1 : ...

L1 : [a nossa nacionalidade.

L2 : ...

L1 : e é isso que se [espera né??

L2 : [e o nosso sentimento... a nossa maneira de ser... de falar......

L1 : ...

L1 : de falar...

L2 : ...

L1 : ...

L2 : [éh......

L1 : [a nossa música...

L2 : ...

L1 : ...

L2 : a nossa música...

L2 : ...

L1 : éh:: e eu costumo dizer... ''ah ah se no princípio era o verbo... agora é a ima::gem''...

L1 : ...

L1 : a imagem está realmente dominando...

L1 : ...

L1 : e:::... o Beethoven dizia quando... lhe perguntavam né?... o que ele queria expressar com determinada sinfonia... ''se eu pudesse fazer com palavras não faria com [música''.

Doc1 : [((risos))

L1 : ...

Doc1 : ...

L1 : [eu acho que hoje o que se pode fazer com a imagem não se deve fazer com palavra...

L2 : [(exatamente)...

L2 : ...

L1 : porque ela é muito mais imediata.

L1 : ...

L1 : se eu disser... éh ''em tal região do Brasil uma criança tem fome''... ah a pessoa lerá o jornal e dirá... ''bom ela é uma jornalista Exagerada''...

L1 : ...

L1 : pode poderá até me chamar de subversiva.

L1 : ...

L1 : agora vai um cinegrafista filma uma criança a FOme da criança... e põe no vídeo... é uma fome Irretorquível e INsofismável!

L1 : ...

L2 : ontem ontem... o Jornal da Globo deu uma cara de homem impressionante.

L1 : é??

L2 : ...

L1 : ...

L2 : é...

L2 : os migrantes né??

L2 : ...

L1 : os migrantes [( )

L2 : [os baianos agora pela seca né??

L1 : ...

L2 : ...

L2 : coisa impressionante...

L2 : uma cara patética.

L2 : ...

L1 : pois é.

L1 : ...

L1 : agora você vê no jornal... você compara esse drama... levaria... éh:: quantas laudas você teria que bater à máquina... você precisaria Apreender bem o drama... ouvir uma porção de depoimentos (e tudo mais)...

L1 : com a [imagem...

L2 : [em dois minutos.

L1 : ...

L2 : ...

Doc1 : vocês acham então que o noticiário... em tevê tem melhorado [bastante.

L1 : [tem!

L1 : pode melhorar mais.

Doc1 : ...

L1 : nesse ponto o o:: telejornal nosso... pode se aprimorar bastante...

L1 : ...

L1 : eu acho [bastante.

Doc1 : [em que [sentido??

L1 : ...

L1 : [sobretudo nesse sentido que a I/ éh:: que a Isa falou...

Doc1 : ...

L1 : ...

L1 : éh f/ pegar mais o homem brasileiro e a problemática brasileira.

L1 : ...

L1 : porque nós estamos recebendo ainda MUIto em matéria de telejornalismo... as notícias mais imediatas da::: que vêm... pelas agências...

L1 : ...

L1 : éh estrangeiras.

L1 : então... éh:::... sabe-se lá de dos...

L1 : outro dia ainda vi na no no... Jornal da Globo... os movimentos na China na da Praça da Paz... Celestial... o o:: de pê/ de adeptos da das doutrinas do Xu Enlai... e de pessoas divergentes.

L1 : ...

L1 : mas o que se passa no Amazonas... eu não vejo... não é??

L1 : ...

L2 : mas o que eu [acho de (suma) importância é que se faça hoje um jornalismo... (com) todas as suas formas... que se faça um jornalismo VERtical...

L1 : [esse drama por exemplo...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : (com [certeza).

L2 : [isto é indo às causas indo às fontes...

L1 : ...

L2 : ...

L2 : e não apenas essa coisa que que justamente... esse sistema da da aGÊNcia... é que é que [torna ( )...

L1 : da agência...

L1 : ...

L1 : [é superficial!

L1 : ...

L2 : superficial [completamente... [não é??

L1 : [é...

L1 : ...

L1 : é...

L1 : [(é) horizontal.

L2 : então não vai nunca às causas...

L1 : ...

L1 : [é...

L2 : [não não há um não há um... [um debate mais [profundo... [uma::...

L1 : ...

L1 : [um aprofundamento.

L1 : ...

L1 : [mas já está se [fazendo...

L1 : a Globo tem uma série de Globo Repórter... sobre por exemplo a poluição das águas...

L2 : é...

L2 : ...

L1 : ainda ontem --se não me engano--... num trê/... num grande trecho do Globo Repórter de ontem que foi terça-feira... enfocava o problema da poluição das águas... e da MORte ou do deCREto da morte do rio Mô/ Moji Guaçu...

L1 : ...

L2 : isso é [muito importante.

L1 : [que es/ que estaria com os seus peixes todos morrendo e tudo mais.

L2 : ...

L1 : ...

L1 : então foram ouvidos diversos especialistas e:: e (ideólogos)... e:: para fa/ como seria possível restaurar::... éh::: esta esta vida... já morta do rio não é??

L1 : ...

L2 : é...

L1 : ressuscitar esta vida morta do rio.

L2 : ...

L1 : ...

L1 : houve também uma reportagem que eu particularmente que adoro cachorro que sou cachorreira... amei especialmente...

L1 : ...

L1 : que foi sobre o o:: fila brasileiro.

L1 : ...

L2 : [nós estamos exportando cachorros não é??

L1 : [está aí uma coisa...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : exportando fila brasileiro!

L1 : ...

L2 : ((risos))

L1 : então como a a ALquimia... --que coisa maravilhosa que é a natureza-- como se consegue um fila??

L2 : ...

L1 : como s/... como foram conseguidos os filas não é??

L1 : ...

L1 : então o o fila tem um pouco de buldo::gue.

L1 : ...

L1 : o fila tem um pouco do::... daquele cachorro que chamam de MAStim.

L1 : ...

L2 : hum mastim...

L2 : ...

L1 : éh tem enfim tem:: dobermans tem diversas... éh:: diversas::... diversos cruzamentos né?... até que se chegue... àquele cachorro corajo::so do caboclo que era negligenciado... que de repente começou a ((risos)) foi catalogado como um::... uma espécie muito rara... e MUIto e sobretudo parece que muito valente e muito fiel.

L1 : ...

L1 : então os ingleses estão... importando os filas naciô/ ba/ brasileiros... PAra... amansarem --isso que é lindo a contribuição do Brasil para a paz... [não digo entre os povos mas pelo menos entre os cães--... para amansar... os cães de guarda... ingleses... que eram muito ferozes.

L2 : [((risos))

L2 : ...

L1 : então eles guardarem o rebanho mas ao mesmo tempo que guardavam comiam as ovelhas.

L1 : então... o nosso fila... (ele) é incapaz desse ato de antropofagia... sabe??

L1 : ...

L1 : então eu achei lindo!

L1 : foi uma uma sequência ontem do Globo Repórter...

L1 : foi essa da... criação de filas brasileiros e exportação para a Inglaterra.

L1 : ...

Doc1 : e programas como o Sílvio Santos como vocês entendem??

Doc1 : ...

Doc1 : ( )...

Doc1 : ...

L1 : o problema do Sílvio Santos é um problema MUito difícil... de se SENtenciar sobre ele.

L1 : como aliás é difícil de sentenciar sobre tudo.

L1 : ...

L1 : e ele especificamente.

L1 : porque... tem que se ter ali a medida do homem... a medida do:::... do industrial --que ele já é um industrial em grande escala--... a medida do comerciante... a do homem de negócios... e do profissional de tevê... e do empresário de tevê.

L1 : ...

L1 : sobre esse aspecto do empresário de tevê... todas as pessoas que trabalham com o Sílvio Santos --os artistas e tudo--... todas essas pessoas testemunham que ele é um:: um dos... melhores empresários do mundo...

L1 : ...

L1 : que ele paga na hora paga muito bem... e é muito bom é um::... sob [(qualquer) ponto de vista.

L2 : [(é que) ele é uma boa pessoa!

L1 : ...

L2 : ...

L1 : [sob o ponto de vista...

L2 : [apenas eu lamento [que não haja...

L1 : ...

L1 : [não deixa eu dizer!

L2 : ( ) [(acaba)!

L1 : ...

L1 : [deixa eu [terminar não é?... [sob o...

L2 : ...

L2 : [depois eu tenho [( )...

L1 : eu eu lamento muitas coisas mas eu estou expondo o que se diz dele.

L2 : ...

L1 : ...

L1 : sob o ponto de vista patronal... ele seria... estaria muitos ( ) acima... do que... o::: a maioria... dos empresários de televisão.

L1 : ...

L1 : então seria o lado bom dele.

L1 : ...

L1 : agora... o lado discutível... escapa à televisão...

L1 : ...

L1 : que é aquele lamentável lado do Baú --que de certo era isso que você ia... [lamentar--... [do Baú da [Felicidade... que ele com [isso ele se agiganta.

L2 : não.

L2 : ...

L2 : [não é Baú.

L2 : [não!

L2 : ...

L2 : [não...

L2 : ...

L2 : [o Baú ele é honesto!

L1 : ...

L2 : ...

L1 : não eu não [acho que seja honesto!

L2 : [é mais ou menos...

L2 : não [( )...

L1 : ...

L1 : [ele está tirando do pô/ do povo...

L2 : ...

L1 : antes de dar qualquer coisa [ele está tirando dinheiro do [povo.

L2 : [é mas...

L2 : ...

L2 : [é ele tira dinheiro [mas parece é ( )...

L1 : ...

L1 : [isso... para a economia [popular eu acho...

L2 : ...

L2 : [tenho ouvido dizer que não é ( ).

L1 : não não não isso é terrível!

L2 : não não é isso não me interessa aí nesse ponto a economia popular não interessa tanto...

L1 : ...

L2 : ...

L2 : o que me revolta profundamente é o programa Cinderela.

L2 : ...

L1 : ah [bom (okay) ( ) (aquilo é horrível) ( )!

L2 : [aquele aquele programa aquilo é abaixo da crítica...

L1 : ...

L2 : ...

L2 : eu não posso [compreender como é que as autoridades... como é que o Ministério da Educação não não interveio [não interveio ainda!

L1 : [( )!

L1 : ...

L1 : [(não interveio)...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : não (horrível [aquilo é horrível)!

L2 : [porque aquilo é uma coisa que não tem não tem:: não tem classificação!

L1 : ...

L2 : ...

L1 : não aquilo é premiar a desgraça [e é uma coisa há pouco tempo...

L2 : [é uma coisa horrível.

L2 : é a exposição da [desgraça!

L1 : ...

L1 : [HÁ pouco tempo ainda [eu escrevi:: isso que a::: que todos os vitoriosos são alegres.

L2 : ...

L2 : [(Deus).

L2 : ...

L1 : têm aquele sorriso de vitória...

L1 : a miss... que ganhou o lugar de miss... tem a junto com a faixa tem aquele sorriso de dentes lindos não é? ((risos))?

L1 : ...

L1 : e é o sorriso da vitória.

L1 : ...

L1 : a estrela que ganha um um troféu tem o sorriso da vitória.

L1 : ...

L1 : as únicas vitoriosas tristes que eu conheço que CHOram... são as cinderelas do Sílvio do Sílvio Santos...

L1 : ...

L1 : porque quando elas põem aquele manto coitadas elas SAbem que elas foram escolhidas porque são as mais pobres as [MAIS miseráveis.

L2 : [mais miseráveis...

L2 : ...

L1 : ...

L2 : não além [do mais... ficam as outras duas ali... aquela recebendo TUdo e as outras duas ali não recebendo [nada.

L1 : [as que têm mais pobreza.

L1 : ...

Doc1 : [( ) [((risos))...

L2 : ...

L2 : [e TOdas as outras miLHAres de crianças... também tendo o mesmo sentimento de frustração.

Doc1 : ...

L2 : ...

L2 : quer dizer isto é cri-mi-noso!

L2 : não há outra expressão.

L2 : ...

L2 : [isto é um crime!

L1 : [é...

L1 : ...

L2 : ...

L1 : não eu acho [criminoso sobretudo...

L2 : [é um crime contra à infância e devia... [mê/ merecer uma atitude do [governo.

L1 : ...

L1 : eu acho criminoso...

L1 : [sobretudo... [ah... [éh éh éh esse expor à desgraça... esta falta de respeito para com a criatura humana.

L2 : ...

L1 : ...

L1 : aliás isso não se vê... não é privilégio do Sílvio Santos.

L1 : nós tivemos uma [porção... [de programas Mundo [Cão não é??

L2 : [você se lembra o [caso do::... [do Flávio??

L2 : ...

L1 : é do [Flávio Cavalcanti... que por [sinal agora... [que por sinal agora em falando em Flávio Cavalcanti por sinal agora é um novo contratado do Sílvio Santos.

L2 : [lembra-se do caso do Flávio??

L2 : ...

L2 : [que acabou??

L2 : ...

L2 : [acabou (o programa)...

L2 : ...

L1 : [então para a nova emissora... ele levará... o Flávio Cavalcanti talvez por todas as suas desgraças também.

L2 : [é!

L2 : ...

L1 : (o quê)... quem é que vai para o trono??

L1 : é o canceroso é o leproso... é o tuberculoso??

L2 : éh

L2 : ...

L1 : ...

L1 : é é então é u/ é uma tristeza.

L1 : ...

L1 : agora... éh::... do Sílvio...

L1 : e então uma que se pode dizer... deles éh éh é uma coisa...

L1 : eu acho que pelo dinheiro que ele agora acumulou... e está pondo investindo na televisão... DEve-se cobrar com a maior severidade daqui por diante muita coisa!

L1 : ...

L1 : ele queria ter um canal o governo (lhe) concedeu esse canal...

L1 : ...

L1 : então MUIta coisa deve ser cobrada para ele daqui para frente.

L1 : ...

L1 : até aqui ele pode ter tido as suas escusas.

L1 : ...

L1 : para criar o seu império.

L1 : ...

L1 : agora que ele é um magnata... ((risos)) não se pode mais fazer nenhuma concessão... e tem que se cobrar!

Doc1 : ((risos))

Doc1 : ...

L1 : ...

Doc1 : antipsicológico ((risos))...

Doc1 : e e só para terminar vocês acham que no futuro a tevê vai realmente sobrepujar o cinema??

Doc1 : ...

Doc1 : aqui no nosso caso principalmente.

Doc1 : ...

L1 : olha eu não digo sobrepujar mas aqui no Brasil... hã... com:: [(com) um poder aquisitivo tão [baixo... [com o poder...

L2 : [( )...

L2 : ...

L2 : [éh o aspecto econômico para começo de [conversa né??

L1 : é.

L1 : é o poder aquisitivo tão baixo... para muitas faixas a televisão irá... substituir o cinema.

L2 : ...

L1 : ...

L1 : porque a pessoa compra a sua tele/ o seu tele::: o seu receptor... a prestações... fica com ele no seu barraco... e vê os [filmes... [atrasados... [bons ou ruins não é??

L2 : [e no e no [barraco mesmo que ( ) [barracos têm.

L2 : ...

L1 : ...

L2 : [é...

L1 : [vê nele os seus filmes.

L2 : ...

L1 : então essas pessoas essa... essas grandes faixas... éh:: de uma população... pobre... evidentemente... éh vão cada vez mais::... éh... renunciar ao cinema.

L1 : ...

L1 : agora... nas nas elites nas camadas... mais altas eu acho que o cinema ainda vai perdurar durante muito tempo...

L1 : ...

L1 : hã... parece que no Brasil é um dos lugares em que o nosso cinema é de mais baixo custo não é??

L1 : ...

L1 : é um cinema que não é... MUIto oneroso.

L1 : assim mesmo... hã diante do poder aquisitivo da população... é bastante oneroso.

L1 : ...

L1 : então ele vai prosseguir nestas faixas... de maior poder aquisitivo.

L1 : nas outras ele vai ser completamente substituído pela televisão.

L1 : ...

Doc1 : e a dona Isa também [(concorda?)?

L2 : [ah sim naturalmente.

Doc1 : ...

L2 : nem há nem há dúvida.

L2 : ...

L2 : nem há dúvida.

L2 : ...