Inquérito SP_EF_385

SPEAKER 0: : ### A arte moderna, muita gente pensa que é fruto apenas das condições do século vinte, que tudo possibilitou e que praticamente permitiu que os pintores, assim como, evidentemente, os literatos, se expressassem livremen Também não é novidade pra nenhum de vocês que () na vida do dia pra noite. Tudo depende de uma fermentação lenta, tudo depende de uma pesquisa, de uma tomada de posição pessoal, depende também de um grupo de artistas, às vezes, que se reúne, se propõe a fazer alguma co Em tudo isso pode ocorrer coincidências, acasos, pode de até de um fracasso alguma coisa surgir. Então, conceituando a pintura de ruptura como a pintura que vai se afastar do retratismo, da pintura plástica, da pintura tipo retrato desde um modelo que pousa pacientemente, Um autor que procura mostrar cada detalhe, procurando ser o mais real possível, sendo o verdadeiro competidor de um de um espelho, se um espelho houvesse ali. Então, a partir dessa pintura, que praticamente dominou a arte até meados do século Os pintores que nós vamos rotular, como eles foram rotulados, de impressionistas, romperam com a tradição. Então, um quadro como este, que eu vou mostrar para vocês, muito conhecido, e cantado, quadro de Leonardo da Vinci a Mona Lisa ou A Gioconda, em que há essa () de forma, essa perfeição já Centenas de vezes dita e observada pelos (), que teve seu momento e continua tendo. () é superado, em arte não há superação, mas e mesmo respeitando um () como este. Então, entendam a () () Não vou usar a expressão aqui realista, como a gente falaria de Eça de Queiroz, ou de um realista brasileiro, Aluísio de Azevedo, ou Machado de Assis, se vocês quiserem. O realismo na pintura num num tem () esta mesma conotação. Nós chamamos de pintura realista ou naturalista, pelo menos os autores da nossa () O chamam assim, de pintura realista ou naturalista, aquela que como esse quadro, Leonardo da Vinci. Essas outras pinturas do barroco, este quadro aqui que procura ser tão perfeito como a realidade, que até há um reflexo no espelho que está no () Então, o pintor pintou dois quadros ao mesmo tempo, esta () Ricamente vestida, cada detalhe da sua pintura, da sua joia, do seu penteado. E com a mesma perfeição, naturalmente, a propósito, deixando uma certa distorção, porque se trata de um espelho que está ao fundo, a imagem é () ### Eu sei, todo mundo gosta, inclusive os adolescentes, aqui fazendo um parênteses, como diz o professor Peralta, rodapé () Fazendo parênteses, ãh quando eu mostro esses quadros para os meus alunos do colegial, é muito interessante essa experiência. Desculpe, professor Peralta, não tem importância eu interromper assim, mas já que somos todos professores, às vezes uma experiência de (), pode ser, de alguma forma, valiosa. Como eu ia dizendo, quando a gente mostra para um adolescente, eu mostro para os meus alunos, pelo menos em classe, eh, essa evolução da da arte plástica, mostro aos pintores, começo a a caracterizar para eles desde a pintura medieval e vou passando por todos os movimentos na pintura relacionando com a literatura, eles ficam encantados, verdadeiramente encantados. É é engraçado, a gente pensa que porque a televisão está ali, O cinema é uma força muito poderosa e tudo mais, ou até a história em quadrinho também é é uma concorrência para nós. Ah o adolescente, ainda mais o adolescente de classe média baixa, digamos, do colégio que eu trabalho, que é o Colégio (), que é de classe média baixa, não tem sensibilidade para essa para a pintura, para esses quadros ou outros que eu () ### ### De novo emprestado. Eu gosto muito desses exemplares aqui, (), da da Editora Abril, esses (). Inclusive não encaderno, vocês percebem, eu deixo soltos, cada um como um um pintor. Esse eles manuseiam, separam bem, eh, comparam um com o outro. Tem uma outra coleção que eu costumo levar também, () uma coleção de sobre o os museus do mundo. Enfim, eles () tudo isso. Então eu vou mostran ando um pouco diferente do que estou colocando aqui, mas vou mostrando os pintores, vou vou ressaltando esta e aquela característica, eh, mostro o problema da incidência de luz, de volume, de perspectiva, eh, mesmo da da temática, de de como se partiu da religiosidade da pintura () e se chegou ao ao () pintura impressionista, que aí abriu caminho para tudo o que o au o pintor quiser. Bem, eles veem tudo. Posso demorar isso, às vezes, uma semana, depende naturalmente também da progra mação. Mas, em geral, eu vou mostrando, volto à literatura, volto aos pintores, vou associando assim. Mas, digamos que, na próxima semana, eu tenha dado para eles um panorama na pintura da Idade Média a aos pintores contemporâneos, a Di Cavalcanti, a Portinari, a Picasso. Pois bem, retomando o fio do meu pensamento, eles eh gostam, Sobretudo do clássico. E e mesmo que eu pe não pergunte, porque, como você sabe, a gente não tem que emitir juízo de valor em matéria de arte, não é? Quando a gente ensina um autor, ãh pode ser que o o o amor espontâneo da gente transcenda a transparência. () É evidente que se a gente tem mais afinidade com o texto, a gente vai explicar melhor aquele texto, Vai entusiasmar-se melhor na na leitura da poesia, na explicação do romance, ou o que seja. Eu penso que com o quadro, ãh, pode ser que aconteça mais ou menos, mas eu gosto muito dos modernos e, no entanto, no fim de tudo, quando eu faço a o () fecho do painel e quando eu eu vou fazer a verificação lá, de de de de o que acharam, o que pensaram, É infalível essa conclusão, salvo uma ou outra que é realmente exceção. () opinião que é realmente exceção. Eles Ãh, gostaram, sobretudo, do classicismo e do barroco. Amam o barroco, ficam entusiasma Como é que o autor pode ser tão perfeito? Como é que ele pode dar esse detalhe? Como é que ele pode mostrar dessa maneira () ### Uma nota de rodapé, não é? Mas voltando aqui ao ao nosso quadro clássico, esse que nós estamos vendo, ele tem, então, essa perfeição do retrato. O... Os críticos então, chamariam até esta fase, até mais ou menos a altura deste pintor, digamos, anos mil oitocentos e e quarenta, mil () No nosso dizer, né? () os críticos de pintura realista ou naturalista. É um conceito de naturalismo, de realismo aqui, na pintura, que está ligado diretamente à ideia de mostrar a realidade. Bem, isto assim foi. O que que acontece em meados do século dezeno ve? Quem sabe, o advento de uma série de De ideias novas, de posições novas, de filósofos, de sociólogos. E se tem Au Augusto Comte, se tem Spencer, se tem Mendel e se fala já em Freud, enfim, os caminhos se abrem de todas as para todas as direções com novidades. A técnica desabrocha, se inventa o () () grande desafio para o pintor. Ele era o retratista, ()? Ele era o o pintor da da verdade. Ele Ele apenas competia, se é que competia, com o o espelho. Agora ele tem um um grande rival. O seu rival é o fotógrafo, que fotógrafo? O retratista. ### Continue sendo agradável ao (), que continue sendo atraente, mas que não seja a repetição do retrato. O retrato o retratista faz, a máquina de fotografias faz, o o (), não, como é que chamam aquele que inventou o retrato, agora me falha o nome, ele... alguma coisa com ele assim, no momento Ninguém ninguém se lembra? Não é () ### Devendo a vocês. Enfim, eh, eram dois irmãos. Eram dois irmãos e que eram com ele e erre assim no fim. Então vamos substituir () A pintura retrato. Eles vão fazer com muito mais rapidez, com um preço incomparávelmente menor. Claro que entram aí as razões econômicas, se elas Embora vocês vão dizer bem, mas quem aprecia a arte não vê pre ço. Certo, mas nós precisamos lembrar também que há muita gente que comprava esses retratos e encomendava essas pinturas, não () fossem amantes da arte, não. Essa é a a grosseira e dura realidade. Não porque fossem aficionados de dos grandes pintores. Só porque era chique, né? Era era de bom tom, era elegante ter no no seu salão uma fotografia No caso de fotografia aí, não do do fotógrafo, mas um retrato, uma pintura feita por um homem célebre, enfim, e mostrando ali a riqueza da dona da casa, ou o casal e os filhos, coisas assim. Bem, eles têm esse mesmo efeito, de uma forma mais rápida, não se tem os efeitos da ampliação de hoje, pôster, isso não, Há uma concorrência em si () há uma concorrência. O retratista, ou fotógrafo, né? É o concorrente do pintor a partir de meados do século () Arte, então, tem um empurrão, não é? Ela ela ela tem que mudar, ela ela tem que tomar outro caminho, porque o caminho que ela estava trilhando já está sendo trilhado por por outros. Então, () A data é é exatamente essa, () para nós hoje digamos cem anos, né? Um um grupo de pintores mandou para o famoso Salon de Paris, uma suas telas que rompiam com a tradição do realismo, com a tradição da pintura realista, e a pintura naturalista. Rompiam como? Rompiam porque ele não mostrava a verdade. Mas ele mostrava uma impressão, uma impressão do do que o autor, do que o pintor, perdão, do que o pintor estava vendo, estava tendo, vendo à distância, de preferência a a a luz do dia. Eram pinturas (), né? Quer dizer,pinturas feitas fora. Então, temos aí mais um elemento novo. As pinturas, até então, eram predominantemente Claro que nós vamos receptuar a a pintura romântica da natureza, não é? Mas a pintura, o retrato, a pintura da figura humana, era predominantemente feita dentro de casa, num salão, recostada numa poltrona, ãh próxima de um piano segurando um leque, ou pintura de de de várias pessoas, ou as pinturas coletivas, enfim, mas () pinturas interiores, resumindo, pinturas interiores. Estes eh novidadeiros, né? Chamá-los assim, esses novidadeiros aí, de meados do século dezenove, de mil oitocentos e setenta e quatro, vão fazer concorrência a ao retratista, ao ao fotógrafo, e vão pintar exteriormente. Eles pintam em plena luz do dia, () Que pintam eles? Paisagens, pessoas, pessoas dentro das () Mas, sobretudo, e essa é a grande descoberta deles, que não é o claro e escuro que desde o barroco se fazia, mas é a incidência de luz. Observe aqui esse quadro do Renoir, vou mostrar para vocês. Num Num reparem que que a revista já está muito manuseada, então está aqui meio partida no meio, mas se percebe perfeitamente. Esse quadro se chama O Balanço. Então temos esta essa senhora que se balança, um cavalheiro está gentilmente, né? Dando um pequeno impulso ao balanço. Veja só, o tempo que os cavalheiros eram cavalheiros, hein? Desculpe aí os colegas. Bem, mas essa senhora está sendo levemente, delicadamente balançada aqui por esse cavalheiro. Mas isso é secundário, o que que nos interessa? Árvores, né? Eh, estão em volta. O balanço está preso em em duas árvores. Não são () Árvores com com várias várias folhas, mas não chegam a ser árvores (). E o que é que que se tem aqui repetido no no vestido dela, no chão, no chapéu do cavalheiro, na roupa dele, até aqui um pouco na roupa dessa () meninazinha que que ### Luz, não é? Reflexos de luz. Pingos De luz. Longe, longe, pingos de luz. Sem dúvida isso é uma novidade. Sem dúvidas. () Não se fazia nada dessa maneira. Ou a luz dominava tudo. Ou a luz clareava tudo. Ou a luz era uma incidência de luz, né? Aquele claro escuro do barroco. () escuro do barroco. Aqui não há luz. A luz penetra e ela... Como se fosse muito intrometida, muito xereta, se se () aqui e ali e deixa essas manchas, esses pingos. Dá dá uma impressão assim, pelo menos deu, né? Pode ser que dê até para alguns aí, eh, uma impressão assim de uma pintura meio meio inacabada, né? Meio sem sem capricho, onde já se viu esse esses pingos aí espalhados desse jeito. E o rosto da dama, a gente vê, ele ele é nítido, ele é claro, ele é perfeito? () Ele é esfumaçado. () ### Por quê? Porque esta esta parte da da de do quadro vai caracterizar o que nós podemos chamar, agora vamos chama-los já de impressionistas. E eles receberam esse nome de uma maneira crítica, não é? Irônica. Porque um quadro de Monet se chamava Impression du Soleil Levant. Impressão do sol nascente, do sol Levanta, sol que se levanta, né? Sol que brota. Então, por causa desse quadro, que foi muito mal apreciado, terrivelmente criticado, a coisa mais amável que se disse a respeito deles é que eram loucos, além de naturalmente impostores, e incompetentes e tudo isso, mas com essa expressão impressionismo se rotulou essa pintura de () E que este quadro Renoir, se vocês observarem este outro aqui também, esta esta Dama de (), esta senhora pintada por (), e este outro aqui, que é o o ensaio do ballet do mesmo (), ou voltando a Renoir, esse retrato da senhora (), deixar aqui os três, segura aqui por favor, obrigada. Então, se se nós deixarmos estes três () e vocês forem procurando olhar detalhadamente, a gente vai observar os seguintes pontos novos. Eu vou deixar como quarto quadro, este quadro clássico, esta esta dama clássica, (), que tem o espelho no fundo. Então nós temos uma dama impressionista, uma dama pintada por Renoir, uma pintada por (), este do () e um quadro que chamaríamos genericamente de realista ou clássico. A diferença é é é flagrante, né? A forma fala mais do que qualquer coisa que eu pudesse dizer. Mas, ressaltando alguma coisa para vocês, observem. Diríamos que a luz e a cor predominam sobre a forma. Veja que o rosto da senhora é esfumaçado. A gente tem traços fugidizas do seu rosto. Não se tem perfeitamente a a fisionomia. Eh eh É como se o autor precisasse, perdão, o pintor, né? () () o professor de literatura fica falando sempre em () Mas é como se o pintor precisasse de óculos, né? Você, assim como eu, se tira os óculos, vê aí os meus colegas mais ou menos borrados, né? Mas, enfim, é como se o pintor precisasse de uns óculos e ele e ele não pôr esses óculos Ele ele enxerga desfocado, não é? () A visão, o rosto não é límpido. Não é límpido. Experimente. Vocês vocês aí, meus velhos colegas que usam óculos. Vocês vão olhar para mim. Não vão encontrar aqui, não vão ver com perfeição aqui as continhas do meu colar, ãh, o aro dos meus óculos, a cor do meu cabelo, onde ele () acaba. De certa forma, eh eu tenho um contorno real, mas alguma coisa Fica borrado, não é ()? Então, esquematizando, né? Embora o esquematismo não seja a melhor maneira de proceder, mas... enfim, vá lá. Nós podíamos dizer que aqui se tem a emancipação da cor que substitui a forma, né? A cor, a sugestão da da forma, vem através das cores, principalmente as cores pastel. A incidência de luz é uma constante. Incidência, quer dizer, a luz então, ãh, procura Penetrar a a a figura, penetrar o quadro, penetrar a própria pessoa, diferente do barroco em que a luz existia como contraste entre claro escuro. É uma tela para ser vista a certa distância, porque é como se ela tivesse sido vista a certa distância. As cores, então, são apresentadas não com nitidez, mas com omissões inevitáveis. Claro, se eu estou Enxergando a distância, eu num num vejo tudo bem. Aquela experiência que eu pedi para vocês fazerem de tirarem os óculos e olharem para mim, né? Então, não se vê tudo bem. () Há omissões inevitáveis ãh de quem olha à distância, de quem está olhando à distância. Então, e a realidade? A realidade está reduzida o máximo possível. A realidade está reduzida a um sistema de manchas, de manchas informes. Mancha sem forma. E tudo isso leva o quadro a ganhar o quê? Como eu disse para vocês lá no começo, o adolescente num gosta, né? O adolescente, pelo menos da minha experiência é essa, eles gostam de tudo bonito, que dê a sensação de trabalho. Só que dá a impressão, como deu na ocasião, né? De que num num dava muito trabalho para fazer isso. Qualquer um podia dar uns rabiscos e o resultado seria esse. Mas não é, evidentemente não é, meus caros. Há um mistério nesse quadro, né? Sem dúvida é alguma coisa muito delicada, muito linda, muito fluida, né? Renoir é encantador, é encantador. Eu não não pretendo tornar ninguém aqui um aficionado como eu sou de Renoir, mas eu sou obrigada a dizer a vocês Eu sinto que esse quadro aqui, ele tem um mistério, ele tem um encanto, ele tem uma fluidez. É como se a gente não chegasse a a a apalpar, a materializar essas pessoas, esse esse balanço, essa senhora, este homem, ou este grupo de pessoas aqui ao... Ao, vou dizer, assim, fora, ao relento, digamos, ãh tomando um café, conversando, essa essa festa ao ar livre, ao ar livre, () faltou a palavra. O estilo, enfim, é é leve, elegante, mas veja a sensualidade brotando aqui e ali. Não ver a forma não quer dizer que não há sensualidade. Eh eh Veja a se a sensualidade no nos braços dessa senhora, a sensualidade na maneira do cavalheiro, Olhar para ela e segurar o seu balanço. Então, não se pode dizer que se tem cenas, mas se tem, além da impressão geral da cena, se tem estados de espírito. É como se impressões subjetivas, fragmentos de vida, impressão de um momento fugidio dessa vida estivesse fixado por esses pintores. Voltando a a ao problema do salão. () Essas pinturas estavam para serem expostas, né? () os pintores as candidataram à exposição ao Salão de mil oitocentos Setenta e quatro foram expostos ### Foram recusadas. Já viram o porquê, né? Deixei para dizer agora no fim para vocês que elas foram recusadas para vocês terem, eh dentro do que explicamos e vocês estão vendo aí nos quadros, os motivos dessa recusa Ela deixou de ser realista, ela deixou de de de ser tradicional. É uma pintura de ruptura. E é isso que eu tenho a impressão que o professor quer que a gente deixe bem claro aqui hoje. Que o impressionismo foi um primeiro passo de ruptura que vai nos levar depois a muitas coisas, a modernismo e a tudo que estamos especificamente estudando no curso. Bem, a crítica ficou chocada. Chocada ah em vista dessa rejeição, dessa rejeição de regras seculares, dessa ousadia dos autores de pin de pintarem à plena luz, de parecerem despreocupados com a realidade. E vou tomar aqui o texto original e lembro a vocês o que é que os pintores, perdão, os críticos disseram desses pintores na ocasião. Então, o (), em (), o jornal, né? Diz o seguinte. Esta arte, está falando do do (), especialmente, um dos expositores lá do impressionismo. Essa arte é uma arte que tão baixo desceu, que nem sequer merece que a () Nem para ser criticada, nem para falar mal, ela não merecia. Porque ela desceu tanto que falar mal dela já já era prestigiado. Bom, esses impressionistas voltam a expor dois anos depois, em mil oitocentos e setenta e seis. E uma nova crítica vai ser publicada com toda a contundência. ### Nos seguintes termos aos expositores de mil oitocentos e setenta e seis. O azar atingiu a Rua () Era a rua onde eles () chamado Salão dos Recusados. Depois do incêndio da ópera, um novo desastre se abate sobre o bairro. Veja como () é irônico, né? Depois de de um incêndio, a desgraça maior foi a exposição do dos impressionistas. Continuando aqui o texto. Acaba de abrir, na galeria (), uma exposição que dizem ser de pintura. Bom, atentem bem, hein, dizem ser de pintura. Ele não estava aceitando nem a hipótese de Continuando o nosso cronista. () O transeunte inofensivo entra e um cruel espetáculo se oferece aos seus olhos () Cinco ou seis alienados, um deles uma mulher, um grupo de desgraçados atacados pela loucura da ambição, reuniram-se lá para expor as suas obras." Bem, gente, eu fiz questão de ler esse esse texto porque eu acho que ele é muito mais contundente, muito mais verídico do que se eu dissesse com as minhas próprias palavras, né? Mas, rematando esta parte, eles foram Violentamente criticados, execrados mesmo, não é? É claro, se o pintor que, qualquer artista, enfim, não assumir esse risco, não é? Esta essa sua essa função de abrir caminho, de vanguardismo, de contrariar, nós não teríamos ninguém. Nem nem nem nem Nem desde Camões não teríamos nada, não teríamos ninguém. Não espantem-nos que os artistas sejam criticados, porque isso é uma norma. Em termos de força, a gente elogia e gosta, e estou eu aqui a dizer para vocês que (riso), declarar para vocês a minha paixão por Renoir e tudo mais, mas eh sei lá, né? Se eu vivesse em mil oitocentos e setenta e quatro e e acostumada com a arte realista, não teria feito alguma coisa. ### Então, ãh, voltando lá àquele problema dos críticos, eles disseram um ano mais tarde, ainda uma nova exposição, né? É uma loucura. Trata-se de um caso de abstinação no horrível e no execrado. Nem com o tempo passando, () se nós contarmos a primeira exposição de setenta e quatro, nós estamos aqui em setenta e sete, quer dizer, três anos e a oposição continuava. Só mais um documento para vocês, desculpe se estão cansando. ### ### Então, em mil oitocentos e oitenta ainda, no jornal (), o comentário é o seguinte sobre os () Diante das obras de certos membros do grupo, grupo é o grupo impressionista, né? Somos levados a acreditar numa perturbação física da vista. É o que eu comentei com você, dessa impressão de de visão à distância, que é como se houvesse a distorção. E os críticos não entenderam que era uma renovação, que o sentido eram fazer mais retrato e tudo mais. Então, retomando o texto. Somos levados a acreditar Uma perturbação física da vista em singularidade de visão que fariam rir, a bom rir, os especialistas em oftalmologia e que espalharia o terror das famílias. Como vêem, os nossos amigos impressionistas enfrentaram uma boa oposição em relação à à sua pintura. Agora, Deixando a gente aqui um pouco mais à à vontade, eu gostaria de pergun eu gostaria de perguntar para vocês se se tem alguma dúvida, se se entenderam bem, se se querem que que eu repita alguma coisa. Estou falando aí () Do meu entusiasmo, em parte, né? Ao sabor das minhas pesquisas, em outro, e não sei se se vocês estão assimilando bem, se há algum problema. Sim? Pois não. A colega está perguntando lá no fundo, não sei se vocês ouviram a pergunta, que quais são os pintores impressionistas. Olha, o os pintores impressionistas, Nomes célebres, né? Os que participaram desses salões, e os que, mesmo sem terem participado dos salões, mas aos poucos foram se agregando a impressionistas pela ordem, digamos, de de importância da própria obra, é a seguinte. Vou escrever vou escrever aqui para vocês na lousa, se houver algum problema de pronúncia, eu procuro resolver. Então, aqui () () foi um pintor que vivia ligado à às bailarinas, ele gostava muito do teatro clássico, então ele pinta frequentemente dançarinas. () Pode pegar a revista aí se quiser. Então, esse ensaio de ballet, por exemplo, as bailarinas se preparando, se amarrando seus sapatinhos e e temas ligados ao bai ao bailar ### Manet com a e Monet com o. São dois pintores diferentes, ãh dois nomes diferentes, né? Duas pessoas diferentes, ambos impressionistas. Monet e Manet. Também se pode colocar entre os impressionistas ,(), que depois foi partindo para uma fase que nós chamaríamos de pós-impressionista, já a caminho do expressionismo, que é um Então, () uma boa fase, uma primeira fase, e alguns de passagem assim muito breve pela história da arte, além de () () também impressionista, depois tomando uns rumos que nós chamaremos de pós-impressionistas, já no caminho do expressionismo, enfim, no caminho de () Portanto, ãh em menos de quarenta anos (), passou-se dos impressionistas, esses aqui, de mil oitocentos e setenta e quatro, primeiro salão, segundo de mil oitocentos e setenta e seis, terceiro de mil oitocentos e oitenta, aos abstratos. O abstracionismo teria suas primeiras manifestações (tosse) () Mil novecentos e dez. Com o desenvolvimento do mundo, o ritmo acelerado, o clima de guerra, () a substituição de valores e tudo mais, ainda novas rupturas surgirão. Então, o impressionismo foi uma ruptura. Foi uma ruptura de forma, foi uma ruptura de princípios, foi uma ruptura de de tradição clássica. Mas outras rupturas ainda mais violentas poderão vir. ### O expressionismo, seguido de perto pelo abstracionismo, só para para citar uns ismos aí, eu lembraria, então, () A literatura entra sempre, né? Sem a gente querer, a literatura está sempre presente. () O impressionismo, isso que eu tratei melhor. O pós-impressionismo, também com manifestações como essa que esse quadro aqui, cheio de de de de pontinhos e e uma () um obscurecimento da imagem através desses pontilhados, que é o chamado pontilhismo, grande especialidade de Monet. Continuando o impressionismo com algumas colocações novas, com princípios um pouco diferentes, mas sem ser um sem ser assim uma oposição, mas uma uma uma visão nova, um outro ângulo. () O expressionismo, com Van Gogh. Depois, a partir de mil novecentos e cinco () A palavra () quer dizer fera. Então, quando um pintor francês de nome Expôs um umas pinturas, essas aqui. Segura aqui para mim. () Essas pinturas aqui. Assim, escuras, parece que agressivas. Por crítica, um cronista comentou isso, um crítico de arte comentou que essas pinturas pareciam mais feras do que pinturas, do que artes. Parecia mais fera do que arte. Então, fera, né? ### Mas o que, inesperadamente, ficou batizado Essa tendência a artística com o nome de () ### Então, na sequência, fauvismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo, abstracionismo, () em mil novecentos e quinze, abstracionismo, e assim por diante. As tonalidades predominantes No impressionismo é umas claras, o branco, o rosado, o azul frio, isso vai ser uma marca do impressionismo. O expressionismo, lembrando sempre de de Van Gogh, que é uma boa referência, serão as cores agressivas, a cor chocante, o vermelho, o amarelo, principalmente o amarelo, o alaranjado, é uma uma outra proposição, que eu não vou entrar hoje, porque sei que é uma trabalho de uma colega que vai falar especialmente sobre isso. Então, dando como principal da minha parte de hoje, só abrindo assim alguns caminhos também para os seminários que vão se seguir, eu recapitularia com vocês o conceito de arte naturalista O que se propôs e o que conseguiu fazer o impressionismo. Então, a arte naturalista era a arte em que as pessoas se habituaram, durante cinco séculos, a a ver o pintor exprimir a imagem natural. Então, é a arte que parecia normal a todo mundo. A arte, ãh () prolongamento da própria vista. O que eu vejo, o pintor vê também. Pode ver melhor do que eu, ele pinta muito bem, ele embeleza a realidade, mas ele ele parte da realidade. Então, a arte naturalista é a arte com que as pessoas estavam habituadas há cinco séculos, vendo a realidade. Por exemplo, se vocês olhem essas essas rosas aqui de um de um pintor barroco, E, olha, essas rosas aqui de () já se percebe imediatamente qual poderia ser a reação do público, né? O o público não quer sentir ou tentar () que essa espécie de borrão aqui é uma rosa. Pra ele, isso é loucura ou ou algo assim. Pelo menos, não foi na época. Agora, este ramo de rosas, perfeitas, parece que elas estão saltando do quadro aqui para o nosso vaso, () é muito mais fácil de entender. Então, a arte naturalista interessa mais às pessoas, ou interessava até então, né? Mais às pessoas, pois que permitiam a elas que elas tivessem a a ilusão da verdade. Então, elas se sentiam felizes, né? Olho um quadro, eu entendo um quadro e todo mundo fica contente, né? Se pensa muito, se tem que interpretar muito, aquele aquele comodismo também atrapalha. Então serve ao princípio, a arte esta arte esta arte naturalista serviu serve ou serviu ao princípio largamente difundido de que a arte deve falar diretamente ao coração. Quando os impressionistas mudam o foco da máquina e quando ele se propõe a explorar o desconhecido, propõe-se a que cada um entenda a sua sensibilidade. Que não é a sensibilidade médio, que não é a sensibilidade do povo, eh não está mais apresentando beleza no sentido de boniteza, não é? Mas beleza no sentido de um mundo interior, de um ângulo de visão a ser revelado, nós temos realmente o primeiro momento de ruptura que vai abrir caminho para todas as outras rupturas do século () Até o final do século dezenove, do século vinte, até chegar aqui às nossas possibilidades atuais, Fernando Pessoa e todos os grandes artistas do modernismo. Bem, espero que vocês tenham entendido.