SPEAKER 0: Uma pesquisa que está em andamento aqui na Universidade de São Paulo, porque embora éh a maioria, boa parte, não pertença a a linha de letras, pelo menos poderia tomar contato e como se faz uma pesquisa dentro desses campos da ciência humana. O projeto NURC, embora seja uma pesquisa éh destinada a conhecer o português culto no Brasil, ele se constrói com uma série de características que poderiam ser comuns a outras áreas das ciências humanas. Mesmo porque há um interesse cultural muito grande no projeto que extrapola os limites de uma mera éh assim de uma mera pesquisa linguística Então, por isso que eu pensei em falar sobre esse problema a vocês. E> Dialeto é uma palavra ah hã hoje um pouco contestada na linguística, né? Costuma-se (tossiu) usar a palavra falares. Então, dentro de um tom horizontal, nós podemos falar das variantes linguísticas brasileiras, caminho escolhido pela dialetologia. Os estudos de dialetologia são aqueles estudos que procuram reunir as características dos falares locais das várias regiões do Brasil. Então, por exemplo, a gente ouve falar de uma linguagem do Sul e tem, por exemplo, uma noção do que é, por exemplo, o vocabulário do Sul, do Rio Grande do Sul, ou do que é a linguagem da Paraíba, ou do que é a linguagem de Mato Grosso, ou do que é a linguagem do Caipira paulista. São todos estudos que visam a uma linha horizontal, quer dizer, estudos que visam a uma variação de ordem geográfica os linguistas chamam de variação diatópica, mas vamos ficar com a variação geográfica mesmo, que satisfaz o termo. Então, seriam essas variações geográficas estudadas por uma ciência, por uma disciplina chamada dialetologia. Agora, dentro de cada um desses falares regionais ou urbanos, portanto, dentro de um falar de uma pequena comunidade ou de uma cidade grande, Existem outras variações que seriam, formariam, digamos assim, um eixo vertical, seriam as variações de órgão vertical, produto de fatores culturais. Então, aqui estaria o domínio da disciplina que se referiu o professor Isidoro, tecnicamente nova, quanto pertinente ele mesmo disse, a uma realidade como a brasileira, que seria o domínio da sociolinguística. Ela estudaria, em princípio, as variações culturais, as variações de estruturas das sociedades e as suas correspondentes variações linguísticas. En> dentro desse plano das variações culturais, dentro dessa linha vertical da variação linguística, nós encontraríamos, por exemplo, éh problemas de relacionamento entre língua e posição social do falante, língua e cultura do falante, língua e profissão, língua grau de escolaridade, etecetera. Uma série de problemas, portanto, de ordem cultural que estariam diretamente ligados as re aos reflexos índices culturais ou não a> E, em seguida, num segundo momento, conforme verão, foi estendido ao estudo português. O que prevê, o que éh o que qual é o ponto de interesse do Projeto NURC, é o estudo da linguagem culta. Vocês vejam que Eu estou, mais uma vez, entrando em variações de natureza cultural. Não é? Dentro da linguagem de uma comunidade, aqui no caso a comunidade urbana, tomando-se como ponto de referência a comunidade urbana, Por que a comunidade urba> Em tese, estarão também na linguagem rural, embora as variações na linguagem rural sejam muito menores. Se nós pensarmos uma uma pequena comunidade rural, nós podemos imaginar que dificilmente os indivíduos que estão assim tão é digamos estão assim óh éh com uma carência muito grande de elementos culturais, não é verdade? sem escola, aproximação. Dado que dificilmente eles terão variantes desse tipo para explorar e se comunicar. Normalmente, éh o uso que eles fazem da língua é mais ou menos o mesmo em qualquer ocasião. É na cidade, justamente, que os contextos variam mais em função das muitas atividades que a cidade tem. Nós sabemos por nós mesmos, não é? Eu estou usando uma linguagem aqui que seria, digamos assim, um padrão culto. passo ao corredor para falar com um colega, eu já passo a falar num coloquial, saio dirigindo de automóvel, eu já vou para a linguagem vulgar (risos) e assim sucessivamente, não é? De forma que nós temos muitos registros ou mídias ou socioletos ou o que se tem dentro de um mesmo indivíduo, dentro de uma mesma comunidade. Então, a urbes, a Cidade Grande, é justamente a matéria principal dessas pesquisas sociolinguísticas. É nela que existe uma maior curiosidade em conhecer justamente essas variantes. Agora, por que a linguagem culta? Qual foi o interesse inicial? É claro que não está aqui qualquer hã, nesse projeto, ou mesmo nos que (acho) aqueles que criaram o projeto, ou que estão desenvolvendo, não há qualquer preconceito linguístico, como pode parecer a primeira vista, não é? Por que a linguagem culta? Porque não a coloquial? Podia ser coloquial também, Podia ser e inclusive há em andamento outras pesquisas menores sobre outras variações. Poderia ser a vulgar, por exemplo, a gírica. Na Universidade de São Paulo, por exemplo é, eu mesmo tenho lá vários grupos pesquisando linguagem gírica. Vamos pesquisar linguagem de detentos, de penitenciários. Então não há qualquer problema de preconceito de linguagem ou pensar, por exemplo, que existem fatores que determinem a pesquisa culta, e não, a pesquisa vulgar. foi a pesquisa oculta justamente porque houve interesse em conhecer o que seria o padrão linguístico do português. Como houve interesse, em princípio, em conhecer qual seria o padrão linguístico do espanhol, porque o projeto nasceu justamente do do do espanhol hispano-americano, da América Latina. E Então houve interesse em conhecer se a linguagem padrão da cidade, a linguagem que serviria, por exemplo, como elemento fundamental para a cultura escolar, por exemplo. Não é? A linguagem culta. A linguagem que seria o padrão, ou digamos assim, o registro de maior prestígio de uma comunidade. A Agora, registro de maior prestígio estabelecido pela própria comunidade, não por uma lei. Pela própria comunidade estabelece que existe uma linguagem culta padrão. Agora, falado por pessoas de maior cultura. Portanto, a própria existência desse padrão linguístico fará com que o indivíduo tenha, às vezes, éh interesse em conhecê-lo, em ascender até nas nas categorias sociais, pelo uso de uma linguagem mais culta, que seria o índice da sua do seu status, da sua cultura, do seu grau de escolaridade. Então, o interesse foi justamente em conhecer esse português padrão, como de início houve interesse em conhecer o espanhol padrão. Conforme vocês verão, existem muitos objetivos éh pela frente éh, uma vez concluído o projeto e com este material em mão. Então, sintetizando o que eu disse, dentro da linha vertical, quer dizer, da pesquisa na cidade grande, na pesquisa urbana, dentro das muitas variantes que a língua oferece nestas, nessas comunidades, nessas grandes comunidades, lá na comunidade urbana, nós vamos pesquisar, estamos pesquisando a linguagem culta. A Em princípio, só existiu uma possibilidade de se estabelecer assim esse critério. Foi o de pensar que indivíduo culto seria aquele que tivesse um curso superior. Teoricamente, eu acho que é um ponto de partida. E> Embora sujeito a uma série de discussões e de oposições, ob> Eu posso dizer, por exemplo, que muita gente que não tem curso superior fala muito bem. E posso dizer também que indivíduos que têm curso superior falam, às vezes, um português que não prima por essas éh por estruturas consideradas cultas, por razões de de várias espécies. Por exemplo, o indivíduo, pela às vezes, pela pelo próprio status, vocês estão vendo aí no na na apostila, nessas folhas, essas variações culturais, vínculo status, às vezes o indivíduo, pelo pelo status tendo uma sociedade que lhe ocupa, pela pela profissão, pela posição social que ele ocupa, ele tem necessidade de falar bem, de falar dentro de uma certa linha em que ele evite os termos vulgares, evite os termos gíricos, evite as estruturas tidas como vulgares. Não é? (Pigarreou) Por exemplo, vamos supor, um indivíduo ocupa uma posição, digamos, de um gerente de banco, O gerente de banco é um indivíduo que recebe muitas pessoas, ele tem necessidade de conversar ou passar a conversa nos outros. Hã, então ele precisa realmente falar bem, ele precisa se expressar bem, ele precisa se comunicar bem. Então às vezes encontramos um indivíduo desse sem formação éh universitária, uma forma de se expressar culta. E outras vezes encontramos indivíduos de formação universitária, () Luiz, particularmente na linha assim da da área tecnológica, os indivíduos parecem descuidam muito, falam uma linguagem, às vezes, éh muito vulgar, em termos de uma gravação éh de uma de uma entrevista. Então, às vezes, nós temos essa oposição, essa dificuldade de estabelecer o que é um indivíduo culto e o que não é, entendeu? o que seria a língua culta, ou não. Mas em em princípio ### seria aquele que falaria melhor, ou pelo menos na faixa considerada faixa padrão pela comunidade. Né? Então, voltando assim ao ao nosso ponto aqui, ao ao ponto que nós tínhamos parado, o projeto foi inicialmente previsto para o estudo espanhol, não é? tendo em vista esses problemas que nós estamos tendo aqui, e foi proposto por um dialetólogo linguista mexicano, o Juan López Blanchet (espirro). Esse homem apresentou o projeto do estudo da norma culta, o projeto coordenado, porque ele pensava em toda a América, todo o espanhol falado na América, nas capitais. Quer dizer, a capital, vocês estão vendo o elemento cultural mais mais religioso. Por que capital? Teoricamente, a capital seria o lugar o o local em que estariam os indivíduos de maior cultura, porque com maior acesso à escola e com maior éh possibilidade de estudo, de biblioteca, de conhecimento dos meios de comunicação de massa e tudo mais, não é? de cultura de massa e tudo mais. Então, o projeto passou a prever a gravação do espanhol culto nas capitais da América e, posteriormente, em Madrid. Esta pesquisa está em desenvolvimento, conforme vocês verão, daqui a pouco em todas essas capitais, quer dizer, cada país da América do Sul, na sua capital, existe uma (ela) existe um um trabalho de pesquisa da norma culta. Este projeto é foi aprovado por uma organização latino-americana de linguística, o PILEO, o Programa Interamericano de Linguística, conforme vocês estão vendo aqui, em mil E numa dessas reuniões do PLEI, ou PLEU, como se fala, depende da tradução, éh de 1968, um professor brasileiro, Nelson Rossi, que partici éh que que pertencia a essa organização latino-americana, o professor Nelson Rossi, que é um dialetólogo da Bahia, da Universidade da Bahia, de Salvador, propôs que estendesse éh o estudo do projeto da Norma Culta ao português devido à semelhança de condições que haveria entre os países da América em comum, seja os países que falavam espanhol, seja os países que falavam português. Esse projeto, essa ideia foi aprovada. E o Nelson Rossi ainda conseguiu a aprovação de uma outra éh ideia dele, que realmente éh satisfazia (tossiu) as condições éh linguísticas do Brasil. Ele mostrava que o Brasil, dentro da América, éh construindo uma extensão territorial muito maior que a dos demais países, oferecia uma variação linguística da linguagem culta que não poderia ser medida apenas em função do Rio de Janeiro, que era a capital naquela altura. Quer dizer, o Rio de Janeiro, teoricamente, onde melhor se falaria o português, uma uma uma velha lenda, teoricamente o Rio de Janeiro, como capital, não representava o falar culto de todas as regiões brasileiras Então, ele fez um projeto que se estendesse no Brasil, éh este essa pesquisa, a cinco cidades com mais de um milhão de habitantes naquela altura. Belo Horizonte satisfazia essas condições, mas não tinha ainda uma tradição cultural na muito nova. Segundo o projeto, deveria ter pelo menos três gerações. que pudessem fornecer informantes. Então Belo Horizonte foi ficou de fora do projeto. E E a Bahia, embora naquela altura Salvador não tivesse um número de habitantes necessários para entrar nas pesquisas, por ser uma uma uma das cidades mais tradicionais do país, com muitas gerações culturais formadas naquela altura, passou a integrar o projeto. Então cinco cidades entraram no projeto e começou a ser feita uma adaptação do projeto. Isso foi em mil no>. <í começa a divisão dos tipos de informantes. A palavra informante hoje adquiriu conotações pouco agradáveis, mas para nós ela significa apenas indivíduos que prestam informações de linguagem. E> Ela pode se transformar completamente. Você vê um dado, por exemplo. Hoje em dia, por exemplo, é um absurdo nós aceitarmos uma condição dessa de um professor de português pelo fato de ser formado por uma universidade em letras. É o indivíduo que tem a sua fala contida. Nós sabemos que essa grande multidão de professores de letras que está por aí fala da maneira mais extravagante possível. Os concursos estão mostrando que o conhecimento de de língua portuguesa é realmente tão precário, o absurdo e que é mais precário que nas áreas de ciências. Mas, enfim, é uma exigência que nós temos que respeitar. As a natureza das gravações. Aqui também existe um aspecto muito curioso. O projeto prevê uma avaliação muito grande. Por exemplo, em primeiro lugar, uma gravação de uma entrevista natural. Um indivíduo, um entrevistador, geralmente uma entrevistadora, que a equipe é quase toda formada por moças, professoras, essas entrevistadoras o documentador entrevista o informante, é um tipo de gravação. Depois é um segundo tipo de gravação, em que nós pedimos, nós convidamos dois informantes para fazer um diálogo gravado. Então esses indivíduos se reúnem numa sala ou na sala do projeto, não é? na casa do indivíduo, onde ele quiser, enfim, e nós fornecemos um tema na hora e os dois se põem a dialogar. Esse diálogo é curiosíssimo porque oferece muitos aspectos diferentes. A Às vezes ele é muito natural, outras vezes ele é muito formal, outras vezes ele é emperrado. Então toda hora o documentador tem que interferir para tocar o diálogo adiante. Oferece uma série de variações muito grandes. Acontecendo o terceiro tipo de gravação. Terceira gravação formal em que nós levamos conferências, aulas e palestras. Quer dizer, a norma culta, a linguagem culta, a linguagem padrão culta formalizada. Então vocês estão vendo que já o culto oferece variações. Não é? Há um culto mais formal, não é? E há um culto um culto menos formal, que seria justamente o do indivíduo conversando, no diálogo. Teoricamente o diálogo seria o menos formal. Ele conversa com um amigo, troca ideias, cai a formalidade. A Agora o indivíduo dá uma aula, formalismo, a conferência, formalismo cresce. Então estamos prevendo mais formalidade e menos formalidade. E num nível ainda de menor formalidade, seria assim a a gravação que chegaria a pegar o indivíduo na sua linguagem habitual, teoricamente na sua linguagem habitual de todo dia, seria a gravação secreta. Então, existe um número de horas que nós devemos gravar com gravações secretas. Quer dizer um indivíduo, um documentador, conversa com outro não é? E naturalmente, depois nós somos obrigados a mostrar a gravação que foi feita para para o indivíduo autorizar essa gravação. Mas, de qualquer maneira, estará lá a sua linguagem mais comum. O> Buenos Aires tem duzentas horas, Santiago dos Chile duzentas, Caracas cento e trinta e três, Porto Rico sessenta e uma horas, Lima em setenta e quatro não tinha gravado nada ainda, e na Europa, em Espanha, Madrid tinha duzentas horas. Talvez vocês tenham curiosidade de saber por que Portugal não entrou no projeto, de vez que o projeto previa o estudo do português nas várias cidades, inclusive o português do em Portugal. Realmente esse problema foi cogitado dialetólogos portugueses se interessaram pelo problema, mas talvez por dificuldade de verbas ou de iniciativa mesmo, o projeto não chegou a se desenvolver em Portugal. Então, o projeto do que se refere ao português ficou restrito ao Brasil. A situação no Brasil é bastante animadora em algumas cidades. E>