SPEAKER 2: como sabem, é o teatro na década de trinta. N> <ós po uu poderia ou fazer um panorama geral, naturalmente um pouco superficial, porque há muita matéria para um tempo bastante escasso, ou poderia, ao contrário, aprofundar apenas um pon> referente a este período. Eu preferi, entre essas duas duas alternativas, eu preferi a primeira porque me parece que o que este curso visa é, sobretudo, dar um panorama geral da cultura e do pensamento brasileiro. De maneira que eh importa mais esta vista de olhos que realmente vamos fazer hoje sobre o teatro, do que o aprofundamento que não caberia num curso tão rápido como este. Eu queria também fazer algumas observações preliminares no meu lugar, quanto talvez alguns ãh preconceitos meus em relação a esse período. falar sobre o teatro em trinta, tenho uma vantagem e uma desvantagem. vantagem é que eu assisti esse teatro Se formou também esse teatro a volta de autores como Gastão Togero, Viriado Correia, Armando Gonzaga ou Duvaldo Viana. Isto é, todo um núcleo de autores que tratavam sobretudo ãh de dois temas É claro que estamos aqui esquematizando e simplificando O primeiro seria a superioridade do Brasil sobre o resto do mundo. Superioridade, é claro, não em termos econômicos, como nós estamos acostumados a pensar hoje em dia, mas em termos sentimentais. O Brasil poderia ser menos desenvolvido que os outros países, mas, em compensação, o nosso coração seria maior, as nossas mulheres amariam com maior pureza e assim por diante. Então, é frequente a figura do rapaz brasileiro que vai para o estrangeiro, que volta cheio de manias do estrangeiro, volta estrangeirado, depois ao contato com o Brasil autêntico, pouco a pouco ele vai readquirindo os seus valores tradicionais brasileiros. Também, muito comum, era o tema da superioridade do campo sobre a cidade no Brasil. Esse tema é quase que a pontuação do outro. Por que que o campo era superior à cidade? Porque no campo nós encontraríamos um Brasil mais autêntico, um Brasil menos cosmopolita, um Brasil menos deformado por influências estrangeiras. Então, realmente Ou se não no () primeiro no subúrbio do Rio de Janeiro, que era uma espécie assim de passagem para as grandes cidades e o campo Aí nós encontraríamos verdadeiramente a famosa simplicidade da vida brasileira, o nosso provincialismo, que seria uma alta qualidade contra a sofisticação estrangeira. Essas peças, em geral, passavam-se em um ambiente de uma família, que era mostrada na sua quase totalidade. Por exemplo, marido e mulher, briga de marido e mulher. Frequentemente o marido era, por exemplo, vamos supor, farrista. Voltava trade para a casa, às duas, três horas da manhã. É claro, a mulher ficava furiosa, mas acabava perdoando, porque o ma o marido era muito simpático, muito engraçado. Havia a sogra, que discutia com o genro, também dava ocasião para algumas cenas cômicas. Havia a velha avó, que vinha do passado, por isso era muito autêntica, muito brasileira. Quando a neta, que eu às vezes a peça mostrava três gerações, quando a neta, que tinha dezesseis, dezessete anos, tinha sua primeira desilusão de amor. amor não correspondido, o amor que ela não confessava a ninguém. Então, ela ia se desabafar com quem? Com a velha avó A avó sentava na poltrona, a neta se ajoelhava no chão, punha a cabeça no colo no colo da avó e a avó dizia conta, minha filha conta para a sua avó, e ela contava, claro éh hum Então, havia a cena, a Polona Pinta especialista nisso, papel da avó, compreensiva, bondosa, e havia a ingênua, que contava as suas penas de amor, Havia os amigos da família, que, ah como as peças passavam muita frequência no Rio de Janeiro eh, os amigos eram funcionários públicos, personalidades, assim, engraçadas, cômicas. Havia o casal de empregados, o chofer, a empregadinha, que ainda era o resquício da dos papéis de empregados, talvez, da comédia do século dezoito, do século dezenove, porque eles faziam uma espécie, assim, de dueto cômico Ao lado da peça, geral, o chofer namorava a empregadinha. Então, como havia, no nível dos patrões, havia os casos amorosos sérios, no nível dos empregados, havia o amor também, mas, já aí, em um plano puramente de comicidade. É esse, mais ou menos, o teatro de costumes e E é esse o teatro que, a década de trinta, vai procurar renovar. Antes de falar provavelmente sobre os autores e sobre as peças, convém dizer alguma coisa a respeito do funcionamento desse teatro na década de trinta. Eu sei, pelos resumos que eu vi no jornal, que o Raimundo Magalhães Júnior também falou a esse respeito, mas, em suma, eu não sei exatamente o que ele disse, então vou fazer como se ele tivesse dito nada (tosse) ãh O teatro funcionava por sessões, Isto é, de uma sessão às oito horas, de outra sessão às dez horas. Isso para o teatro poder entrar em concorrência com o cinema. O cinema era por sessões, então o teatro também passou a ser por sessões. Houve até um momento que o Leopoldo Frois fez uma experiência de fazer teatro exatamente como cinema, isto é, duas, quatro, seis, oito, dez. Mas (risos), evidentemente, isso não podia funcionar porque nem havia público. E também nem os atores aguentavam, representar das duas à meia-noite não era possível. Então éh, realmente, isso não foi por diante. Mas ficou pelo menos o hábito de duas sessões por noite. Isso significava que os espetáculos eram muito curtos. Porque se a peça durava das oito às dez, e se nesse intervalo, ah geralmente nós tínhamos dois intervalos para descanso, porque as peças em geral eram de três atos, Na realidade, as peças tinham uma duração no máximo de uma hora e vinte, uma hora e meia, não mais do que isso. Uma duração muito menor do que as peças, por exemplo, do século passado. No século passado, uma peça durava éh, fora o intervalo, durava três horas. Com os intervalos, durava quatro horas. Porque quem ia ao teatro no século passado, como havia muito pouca diversão, quem pagava o teatro queria ver bastante diversão. Então ele entrava às oito e saía à meia-noite, uma hora da manhã. Ele via uma peça enorme e, além disso, mais uma comédia, et cétera. Agora não. Ao contrário, já se procura um ritmo mais rápido, quase como se fosse mesmo um cinema, coisa mais ãh breve. Isso fazia com que as peças maiores fossem muito cortadas para poder caber dentro desses moldes. E havia também, eu sei que o Ramon Magalhães tocou nesse ponto, as estreias eram quase que ãh semanais. Algumas festas, é claro, duravam mais tempo, as festas de grande sucesso duravam dois, três meses em cartaz, mas o normal ah é que a festa durasse apenas uma semana, dez dias, não mais do que isso. Então, eu me lembro muito bem, no começo da década de trinta, assistia a Companhia do Procópio, que era a companhia cômica melhor do momento, ele fazia estreia toda sexta-feira. E nós... éh é difícil su éh supor, hoje em dia, como é que se pode preparar uma peça numa semana. Mas eles preparavam e isso explicavam também pelas características do espetáculo. primeiro lugar, pela sonografia, que era muito mais simples do que é hoje em dia. Hoje em dia nós temos um cenógrafo, que é um artista que faz o desenho, que é executado com todas as suas minucias, só serve praticamente para aquela peça. Na época, não. Havia o chamado cenotécnico, que era um misto de cenógrafo e de maquinista do teatro. Isto é, ao mesmo tempo, ele desenhava ou ele imaginava o cenário, e ele mesmo que era o executante, ele mesmo que dirigia os maquinistas. Em geral, a companhia, éh para poder funcionar, precisava basicamente ter dois cenários. Um que era o cenário fechado, como eles chamavam, era o gabinete, que era uma sala, E outro é chamado de cena aberta, isto é, quando a cena se passasse num jardim, en enfim, fora de casa. Com esses dois cenários, eles mais ou menos podiam representar todas as peças, porque toda peça ou passa dentro de casa ou fora de casa, não há uma outra possibilidade. Então, com esses dois cenários, não digo que ficasse uma representação perfeita, mas pelo menos se quebrava o galho. Também ah os móveis e todos e tudo que se coloca em cena, os chamados adereços, os quadros. Tudo isso era fácil porque tudo isso vinha da casa teatral. Havia o contra-regra que ia na casa teatral, que é uma casa que existe até hoje, onde tem todo esse material de teatro. O contra-regra ia lá, escolhia e fazia com que o gabinete parecesse um pouquinho diferente, embora eh sempre mais ou menos se repetindo. Eu me lembro, como eu ia bastante ao teatro des dessa época, eu me lembro que havia divãs, que eu conhecia de muitas e muitas peças, (risos) quadros também, e assim, por exemplo, estantes de livros. Quando era um intelectual, ou era um professor, sempre no fundo tinha um estante de livro. Que, aliás, não era nem composta de livro, porque os livros eram pintados, apenas as lombadas, assim. Então, a estante era sempre a mesma éh Era mais, assim, um signo, vamos dizer para o público né Olha, É um intelectual, tanto que ele tem livros éh Mas não era necessário uma dose maior de realidade do que essa. Então, se poderia montar o espetáculo materialmente, realmente, de um dia para o outro. E é assim que as companhias faziam. Também, em relação aos atores, acontecia quase que a mesma coisa, porque cada ator tinha aquilo que o francês chama de un emploi. e que nós podemos traduzir, não da maneira perfeita, por gênero. Cada ator estava classificado num gênero. E uma companhia bem feita tinha os diversos gêneros de atores para todas as possibilidades de personagens. Num livro publicado exatamente em mil novecentos e vinte e nove, quer dizer, um livro bem da época, um livro titulado O Livro do Ator de Celestino Silva, ele esse livro enumera Todos os gêneros de atores e atrizes comuns, ainda em mil novecentos e trinta, mas numa classificação que já vinha do século passado. Por exemplo, os atores. Haviam vários tipos Em primeiro lugar, havia o galã. O galã subdividido. Podia ser galã cômico, galã dramático. Porque um era especialista num gênero, e o outro era especialista em outro. Havia uma outra ainda outras ainda subdivisões. Galã brilhante. Galã brilhante é o galã engraçado, espirituoso, mas não é cômico propriamente. Havia o galã amoroso. Esse é o galã propriamente dito éh. O galã jovem, como eles chamavam éh. A função dele era apenas amar e ser amado, nada mais do que isso. Havia o galã cínico e. Esse, ao contrário, era um galã assim que poderia exercer um certo fascínio, mas dando sempre a impressão de que as mulheres não podiam confiar muito nele. Exatamente aí que estava o encanto dele. Depois havia o centro cômico, que era o cômico principal, havia o centro dramático, não era muito necessário porque se representava muito poucos dramas nesse período. Havia o baixo cômico, o bufi, ou caricato, e havia os atores característicos. Isto é, os atores que sabiam se maquiar muito bem e cada vez surgiam em cena com oportunidade diferente das vezes anteriores e que faziam papéis secundários, papéis cômicos, mas que tinham que contribuir para dar a comicidade ao espetáculo. Realmente, o que era importante desses papeis todos era o galã, o cômico e os característicos. Em relação às havia a chamada dama brilhante, a dama galã e a dama coquete. Havia a subreti, que era papel de empregadinha, mas empregadinha viva, engraçada, bonita. Havia a ingênua, que podia ser ingênua cômica ou ingênua dramática também. havia a dama central, que era a pessoa mais velha, a avó, por exemplo, havia a caricata e havia as características. Em suma, a companhia tendo um ator em cada um desses gêneros, ele podia fazer com facilidade qualquer papel, porque as comédias também já eram escritas tendo em visto éh tendo em vista que é uma tipologia própria do teatro do século dezenove e que ainda continuava no teatro do século ãh do. nosso século. Por outro lado, o texto não precisava ser decorado inteiramente, porque havia o ponto. E o ponto éh tinha uma importância muito grande no teatro da época. O ponto era um dos esteios do espetáculo O ponto é que garantia que o espetáculo realmente iria sair, porque como se ensaiava uma semana apenas, os atores em geral sabiam muito pouco o papel. Então, somente no dia da estreia, mas mesmo nos dias seguintes, o ponto que estava ali é ele que dizia praticamente a peça de princípio a fim e que eh se ele não estivesse lá o espetáculo não sairia de forma alguma. Eu quero, como também aqui, dar testemunha da época, para não parecer que eu estou exagerando, eu vou citar um trecho tirado do livro do Luiz Iglesias, o livro chama-se O Teatro da Minha Vida. O livro foi editado em mil novecentos e quarenta e seis, mas se refere sobretudo à década de vinte a trin> a crise do capitalismo, uma crise não só no Brasil, mas nos Estados Unidos, no Wall Street, isto é, no centro do capitalismo mundial, e no Brasil também se inicia com uma revolução, que é a Revolução de trinta, isto é, com a queda de um governo que, afinal de contas, já vinha desde o início da formação da República, um um governo que já tinha quarenta anos de vida, assim, ah de vida regular. Portanto, um período, assim, de uma agitação muito violenta e. nesses primeiros anos da década de trinta, houve, no mundo inteiro e no Brasil também, uma nítida si inclinação para a esquerda. Tinha essa impressão de que o capitalismo estava falido, realmente tinha estava em crise, que, ao contrário, que o comunismo era uma força muito jovem ainda, em plena ascensão, que o mundo talvez viesse a se tornar comunista todo ele num espaço de tempo muito breve. E nós encontramos eh um eco dessas preocupações na obra dos dois maiores escritores de teatro dessa década, que são Juracy Camargo e Oduvaldo Vianna. Ambos foram Naquele momento, ambos foram homens de esquerda e as suas peças estão marcadas por essa ideologia. Esta este movimento, vamos dizer, pendular para a esquerda vai até mil novecentos e trinta e cinco, onde há um levante eh comunista reprimido, aí começa então uma inclinação para a direita que vai durar até o fim da década. Era uma comédia, mas já era uma comédia que pretendia ir um pouco além da comédia de costumes, ou pretendia ir muito além da comédia de costumes. Era uma comédia que se que, pelo menos, se não era, pelo menos desejava ser uma comédia de fundo filosófico, uma comédia que seria uma reflexão sobre o mundo moderno tal como se apresentava naquele momento. Uma grande parte da conversa da peça, aliás, é uma conversa entre um mendigo, papel desempenhado pelo Procópio Ferreira, e um outro mendigo chamado Barata. Essa conversa é quase como se fosse, assim, uma conferência a duas vozes. O Barata, a função dele na peça é exclusivamente perguntar para o outro. E Então, como é isto? E o mendigo, que é o Procópio, explica. I> Mas também ninguém precisa ter medo, porque eh vai ser um comunismo sem dor, vai ser um comunismo, assim, eh sossegado, feito apenas pela inteligência, através da conversa das pessoas, ( ) um c um comunismo que não vai ameaçar ninguém, não vai matar ninguém. Diz ele na conversa. Nós estamos aqui eh lutando apenas porque precisamos abolir uma palavra do dicionários. Essa palavra é propriedade. ( ), nós sabemos que para abolir essa palavra de propriedade não é assim tão fácil como dizia o Joracy Camargo em mil novecentos e trinta e dois. E, ah ele no outro trecho, ele apresenta o o diz ele representa o comunismo como se fosse uma espécie de bicho-papão das crianças. Diz ele, o mendigo. Eu, quando era criança, tinha um bicho-papão. Tinha um medo horroroso dele. Mas um dia, sem querer, eu sentei em cima do bicho-papão. Quando eu vi, eu estava sentado em cima do bicho-papão. Então, diz o senhor Barata, e quando vo então você perce quando você percebeu, você deu um su um deu um levou um susto, deu um salto? Ele disse, não. Quando eu percebi, eu vi que ele não tinha perigo nenhum. Foi até o contrário, eu ajeitei a barriguinha dele e fiquei amigo dele. Então, diz ele, o o comunismo é o bicho-papão. Isto é, a hora que a gente perder o medo, ele não fará mal a ninguém. Isto é, era uma visão que era muito comum em mil novecentos e trinta e um, mil novecentos e trinta e dois, isto é, eh de que haveria uma evolução social, que essa evolução se faria naturalmente pela força da inteligência, porque eh certas ideias eh viriam por si mesmas, mas que não haveria absolutamente conflito nenhum. Me parece que este que é exatamente a atmosfera que a peça representa. Agora, esta parte toda da peça é quase que só conversa. A ação, propriamente, da peça não é uma ação baseada nessas ideias. É por isso também que a peça fez tanto sucesso e foi aceita por todos os círculos, porque ficava muito no plano da conversa. A ação, propriamente dita, era travada entre um mendigo, uma moça, que vivia com ele, chamada Nancy, e o Péricles, que era namorado da Nancy. Para este conflito, que é realmente o conflito central da peça, Não tem nada de ver com o restante, não tem nada a ver com problema social. É um conflito puramente de amor. Um conflito entre a velhice, que é o mendigo, e a juventude, que é o Péricles. E nesse conflito, o que se afirma é um conflito entre o dinheiro e a inteligência. O que vale mais? O dinheiro ou a inteligência? E o que a pleça conclui é que o que vale mais de tudo é a inteligência. Isto é, a inteligência seria um dom tão fabuloso que criaria uma compreensão entre todos os homens e que os problemas todos iriam ser resolvidos. Nós encontramos essa mesma crença em outras peças do mesmo momento, como, por exemplo, O Bobo do Rei, também do Joracy Camargo, onde é um um rapaz praticamente da favela, mas muito inteligente, muito culto, que vai para a casa do milionário, e nós verificamos então que a inteligência vale mais do que o dinheiro. Outra peça do Joaci do Joracy Camargo, também com intenções sociais e também interessante, é Anastácio, representado em mil novecentos e trinta e seis. Aí me parece que o optimismo já é bem menor. O Anastácio, ah ao contrário do do protagonista do Deus lhe Pague, que é o mendigo, Anastácio é um rapaz muito rico. rapaz riquíssimo Morre o pai, ele fica milionário. <( ) (risos) ele não precisa, inclusive, fazer nenhuma sessão de psicanálise, porque ele é tão vivo que ele vai diretamente e já vê o inconsciente. A peça é contra, portanto, a repressão sexual cont a favor de uma certa liber liberdade sexual Ela não define inteiramente seus os termos. Ela diz apenas contra o que ela é. Acusa violentamente a sociedade da época de ser uma sociedade hipócrita, de ser uma sociedade baseada na mentira, mas não diz exatamente qual é a revolução sexual que ela deseja. diz apenas que deseja maior liberdade do que até então existe. Agora, se o tema, portanto, são temas, assim, bastante modernos e que conservam a modernidade até hoje, a forma da peça ao contrário é uma forma muito melodramática. É um melodrama, quase, do século dezenove, isto é, inclusive com mortes, tiros, o personagem mata outro, finais de atos assim, para deixar o público sem saber o que vai acontecer no ato seguinte, para terminar de uma maneira, uma grande surpresa. E> da libertação feminina. Nós verificaremos que o Ibsen era muito mais moderno, porque a libertação feminina, na Casa de Boneca, é feita pela própria mulher. É a protagonista, a Nora. Ela tem uma série de complicações com o marido. Quando resolve tudo, e que ela pode voltar às boas com o marido, e o marido diz, agora está tudo resolvido, vamos viver, voltar realmente ao ponto de partida. Ela diz, não, agora eu não quero mais viver com você. pelo menos durante certo tempo. Diz por quê? porque eu quero adquirir a minha personalidade. Quer dizer, então aí é realmente um ponto de vista feminino, me parece, eh bem amadurecido. Não, sexo não é isto. Quem defende o ponto de vista das mulheres é um homem. Nesse sentido, ele está afirmando a superioridade dos homens sobre as mulheres. Está dizendo assim, a liberdade feminina será um dom que alguns homens bondosos inteligentes vão fazer às mulheres. Alguns homens que sabem tudo, e esses homens, então, vão, inclusive, fazer esta libertação eh feminina. Isto é, é uma peça que deseja ser moderna, mas que não consegue, está presa ainda a formas do passado. Também, (pigarro) eh ainda nessas tentativas eh infrutíferas de renovação, eu citaria O Amor de Oduvaldo Vianna, que é de Estão vendo que essas peças todas são de mil novecentos e trinta e dois, trinta e três, trinta e quatro, isto é, todas elas muito ligada ainda aos abalos econômicos e políticos de mil novecentos e trinta. Nesta peça, Oduvaldo Viana procura, sobretudo, uma renovação de técnica, porque o teatro eh começou a sentir, a partir de um certo momento, que o cinema tinha muito mais liberdade técnica do que ele. que o cinema poderia dizer as coisas com muito mais desembaraço, com muito mais desenvoltura, porque no teatro, em geral, as coisas ficavam estáticas. S> Sempre no mesmo lugar, sempre dentro do mesmo palco, sempre dentro da mesma salinha. Enquanto no cinema, nós tínhamos, assim, quase que de minuto a minuto, uma variação no tempo e no espaço. E> Então, o teatro, desse período, vai fazer um esforço muito grande para se equiparar tecnicamente ao cinema. Por exemplo, na Alemanha, eles vão inventar nessa década palcos complicadíssimos para fazer uma mudança ãh instantânea de cenário. No Brasil, nós vamos procurar soluções éh mais econômicas. Evidentemente, não poderíamos colocar um palco rotativo ou soluções desse tipo, que seriam muito caras. Mas, éh na peça Amor, do Valdo Viana, o que se fez foi o seguinte, uma subdivisão do palco em cinco áreas de representação. Então, no palco, no meio havia uma uma, um vamos dizer, um palco menor maio éh um palco principal, no centro do palco, e lateralmente haveria éh, em dois planos, assim, em altura, haveria mais éh quatro áreas de representação, a total cin> Então, isso éh esse cenário múltiplo, quer dizer, o cenário não era mudado, era sempre o mesmo, a estrutura era sempre a mesma. Ma> Através da luz, poderia se colocar tudo em sombra e, por exemplo, vamos supor, éh iluminar apenas um canto do palco. Então, ( ) uma cena ali apenas ali. Depois apagava e tínhamos uma cena exatamente no canto oposto. Poderia, então, fazer efeitos quase que de cinema. ( ) botei no amor. Uma pessoa liga o telefone, põe num canto. No outro canto aparece a telefonista, que naquele tempo havia telefonista, atendendo, fazendo a ligação. E depois, no outro canto, aparecia a pessoa atendendo o telefone. Para teatro, parecia isso uma maravilha, né? Parecia que o teatro estava exatamente como o cinema, estava com o dinamismo próprio éh do cinema e> Quer dizer, a trinta e oito vezes há uma mudança ou de lugar ou uma mudança de tempo. Quase realmente como se fosse uma fita de cinema. E o ritmo então é inteiramente outro. Também quanto ao próprio tema, o amor não deixa de procurar sair éh do esquema da comédia de costumes, porque o tema é o divórcio. E a peça, aliás, também no fundo seria um drama. Termina com morte, com tiro e> Ele é um defensor do casamento como um vínculo indissolúvel, porque ele é deputado também. Ele faz vários discursos num português perfeitíssimo, onde ele defende essas ideias. No fundo, a peça deveria ser um debate sério sobre o divórcio e até dramático, porque termina com a morte de um dos personagens Mas, como o público não aceitava bem o drama, novamente aqui, como no Deus lhe pague, este éh fundo de drama é envolvido numa capa de comicidade e a peça se apresentava com grande esforço como comicidade. Está havendo, então, várias tentativas éh para sair, para dizer alguma coisa, para fazer um teatro éh diferente. No fim da década de trinta, me parece, que esse ímpeto renovador já se esmorece e o que vai predominar no fim da década é, sobretudo, o teatro histórico. Então, os grandes sucessos hm de mil novece> A Marquesa de Santos, de Viriato Corrêa, interpretada por Dulcina e Odilon. Dulcina, naturalmente, fazendo o papel da Marquesa de Santos Odilon, de Pedro I. E Carlota Joaquina, do Ramiro Magalhães Júnior. E apresenta Dom João Sexto, numa grande interpretação de Jaime Costa Isto é, a meu ver, uma visão bastante convencional da história. () diferente, por exemplo, de peças históricas recentes, como vamos supor, Arena Conta Tiradentes, onde a história é posta em questão, onde a história é discutida, onde se quer ter um novo conhecimento a respeito do passado a> nós encontramos um teatro também como um grande sucesso, um teatro que podemos chamar de pseudo-histórico, isto é, um teatro o onde a história aparece como fundo, mas onde os personagens são éh fictícios. Então, eu citaria um autor que fez muito sucesso no fim da década, que é Ernani Fornari, autor de Iaiá Bonec, mil novecentos e trinta e oito, na interpretação de Eva Todor, e Sinhá Moça Chorou, na interpretação de Dulcina, em mil novecentos e qua> <Éh, se vê logo, ãhn, são títulos éh sentimentais. E as peças realmente são peças muito piegas. Peças ah que se baseiam numa concepção da mulher também muito tradicional e muito convencional. A mulher é um ser éh frágil, é iá iá boneca, isto é, tem alguma coisa da iá iá, da sinhá, mas é uma boneca, tem alguma coisa de boneca, não é a mulher como um ser mais ou menos semelhante ao homem, mas alguma coisa inteiramente diferente, muito delicado, que precisa ser apresentado através de uma imagem poética, que precisa ser poetizado, mas uma poesia também, ela, de um romantismo já muito fora da moda, porque o romantismo, afinal de contas, já tinha mais de um século. Na Sinhá, moça chorou, por exemplo, ó o plano de fundo é a Guerra dos Farrapos, de mil oitocentos e sessenta e quatro a mil oitocentos e qua Então, há um um caso de amor entre Flor, que é gaúcha, e o Felipe, que era do Rio de Janeiro. Quando há a guerra, eles se amam. Quando há guerra, um está de um lado e o outro está do outro, na guerra. O Felipe é mandado exatamente como militar para combater os gaúchos. Então ele, há um conflito irremediável, aparentemente, entre ele e ela. Há todos os recursos melodramáticos tradicionais. Por exemplo, em certo momento, corre o boato que o Filipe morreu. Isso durante muito tempo. No fim, o Filipe reaparece, não tinha morrido nem nada, e há uma reconciliação, e tudo termina bem, e a dona e a dona Flor, não, porque isso já é Jorge Amado, e a Flor se casa com o Filipe, isto é, éh no fim, a peça é um romance de mocinhas, transposto para o palco é> <É um exemplo, a meu ver, típico de subliteratura, éh apegada assim a modelos muito já ultrapassados a> Então é uma tentativa também de renovação. Todas essas tentativas de renovaçã> sempre ficaram dentro do âmbito do teatro comercial, isto é, aceitar o funcionamento do teatro comercial, tal como ele existia, e dentro desse âmbito procurar renovar, sem conseguir inteiramente, a meu ver, pelo menos ago> porque ele não só cri criticou violentamente o teatro tal como se fazia naquele momento, mas como ele propôs éh novas novos modos, novos modelos para o teatro, modelos que depois vieram a ser adotados vinte ou trinta anos depois da sua morte e> Exatamente, no mesmo momento estava escrevendo Deus lhe pague, sexo, amor e com as mesmas preocupações no fundo. É uma peça éh preocupada com os a a assuntos econômicos e com uma visão de esquerda, exatamente como Deus Lhe Pague. É uma peça preocupada com os problemas sexuais, exatamente como o am, como, o sexo e também, em parte, como o amor. Só que ela propõe esses problemas éh realmente com marginalidade infinitamente maior e com uma agressividade, com uma virulência que não se compara, porque enquanto os outros procuravam éh renovar, mas não tendo a coragem de romper com os moldes comerciais do teatro, aqui o contrário, ele rompeu inteiramente com todos esses moldes e propôs uma outra forma, isto ele compreendeu muito bem, que para fazer um teatro revolucionário, ele tinha que fazer um teatro também de forma revolucionária, e foi o que ele fez Um teatro de forma tão revolucionária, que no momento passou despercebido, não fez o menor sucesso, não foi apresentado, polícia também não deixa> ninguém leu, ninguém comentou, praticamente não existiu na década de trinta, mas veio ressurgir com muita força em mil éh novecentos e sessenta e oito, que é trinta anos praticamente depois, e ao contrário, veio estourar como uma espécie de bomba extremamente moderna, porque mostrou que inclusive, pelo espírito, estava muito próximo a certas experiências do teatro atual, porque Nós podemos dizer quase que o Rei da Vela não é uma peça, é uma anti-peça. Não é um teatro que ele pretende escrever, é um anti-teatro is> E foi realmente do movimento dos Amadores que nasceu a renovação do espetáculo c> começando a fazer as suas primeiras peças, o Alvo Moreira, que já havia con, tentado fazer alguma coisa nesse sentido em mil novecentos e vinte e sete com teatro de brinquedo, e que durante a década de trinta continua fazendo algumas experiências, mas não inteiramente éh sucedidas. Nós éh podemos dizer que éh realmente o que os amadores fizeram foi formarem na década de trinta um nú> de pessoas, agrupar os interessados que só foram agir com efetividade na década seguinte e realmente renovar o teatro o defeito do moder dos modernistas é que eles queriam éh fazer uma mudança literária no teatro sem modificar o espetáculo ( ) Ora, isso não é possível. Nós só podemos ter uma peça nova quando nós temos um espetáculo também imaginado em termos novo> como os amadores se interessaram pelo problema do es do espetáculo, e como depois vieram os encenadores estrangeiros que renovaram o espetáculo, então mais tarde foi possível escrever um teatro novo, depois que o teatro tinha se renovado quanto ao espetáculo. Também não quero terminar sem dizer alguma coisa a respeito de quase de um subteatro, de um teatro que geralmente é esquecido, mas que teve sua importância, que é o teatro de revista, hoje em dia praticamente mor> nascido em fins do século dezenove, com uma certa importância naquele momento. Para o teatro de revistas, me parece, a década de trinta marcou realmente o fim. Por dois motivos. Porque o teatro de revistas baseava-se, por um lado, na crítica política, do outro, na música popular o> Ora, no que se refere à crítica política, na medida em que o Getúlio foi o gover o governante do Brasil durante uns dez anos, essa crítica éh tendeu a não se renovar. Porque, no início da década, o teatro de revista foi, de maneira geral, muito favorável ao Getúlio. Foi muito getulista. O Getúlio aparecia sempre no teatro de revista como um indivíduo muito malandro, muito esperto, mas muito simpático e muito brasileiro. No fim, dava um golpe em todo mundo e ele que vencia. todas paradas a> os cantores éh famosos dessa década, por exemplo, vamos supor Francisco Alves, Carlos Miranda, começaram fazendo teatro de revista, mas logo a seguir abandonaram, se dedicaram apenas ao rádio e ao disco e o teatro de revista, não tendo mais nenhuma das duas funções, deixou de ter função qualquer e desapareceu. Agora, para terminar, fazendo uma visão geral desta década, nós poderíamos dizer o seguinte, A década ( ) começou com um ímpeto renovador, um ímpeto revolucionário muito grande, devido exatamente aos acontecimentos políticos e econômicos e> Vieram revoluções e> Já governo não era mais governo c> Escrevi O Bobo do Rei a> Veio no fim da década, o teatro histórico, exatamente, talvez por não se poder falar do presente, a partir de mil novecentos e trinta e sete, então vem as invocações saudosas do passado e há toda essa onda de saudosismo, de passadismo, Marquês de Santos, ãh Carlota Joaquinas, enfim, as mulheres ilustres da história brasile> E assim termina o nosso assunto. Isto é, ah me parece, numa última revisão, que toda essa década é um esforço que não chega quase que a nada u> Enfim, assisti o Sexo. Um amigo meu de geração escreveu uma crítica entusiasmadíssima a respeito. Enfim, as coisas estavam mudando. O teatro também estava evoluindo est> O amadorismo estava apenas reunindo forças, não realizou nada de importante ainda nessa década. Podemos dizer então que a década de trinta foi uma década que encerrou, talvez, um certo período, fez tentativas de renovação e não conseguiu, mas foi apenas um período de amadurecimento para as reformas muito mais importantes do plano de ciência teatral que se realizaram na década seguinte. ( ) (risos) (tosse) bom autor estrangeiro O teatro que predominava era o teatro cômico. Isso eu disse de passagem mais de uma vez e> Ele fez tudo para poder realmente... éh o Procópio era um um ator, assim, Eu acho qualidades cômicas brilhantíssimas de um ator, um dos mais engraçados que eu já vi em todos os teatros de todos os países. Mas como empresário, principalmente à medida que foi passando o tempo, ele foi se comercializando cada vez mais a> Eu sei que o Otávio de Faria escreveu, mas não foi representado. Otávio de Faria era de direita e> Escreveu ele era é que ele era católico naquele tempo, na década de trinta, nesse começo. O catolicismo era de direita e E ele, além disso, só não é só por ser católi> Ele, pessoalmente, (risos) as coisas mudaram u> Mas, ãh além disso, ele era teve ( ) pelo Mussolini, escreveu um livro sobre isso e escreveu uma peça chama-se Três Trajetos Sobre a Cruz para dizer para ser honesto, eu nunca li essas peças, nunca foram (risos) nunca vi e nunca li. A única apreciação que eu vi foi do do do do Oswald de Andrade, mas é uma opinião muito suspeita que o Oswald Andrade era contra, evidentemen> não houve um teatro de direito nesse ( ) dessa década que eu me lembre não bom esse retrocesso não foi só do teatro quer dizer isto foi um pouco toda a atmosfera do brasil Ãh de maneira que... (tosse) e além disso, também a crítica naquele momento não tinha importância que passou a ter com a renovação. Porque essa renovação atingiu, inclusive, a crítica. Eu li agora, recentemente, uma tese de mestrado de uma moça que estudou o teatro brasileiro em mil novecentos e trinta, trinta e um e trinta e dois Mas não propriamente as peças, mas esses hábitos, costumes, através dos anúncios. E ela diz lá uma coisa que é muito justa e que para nós também parece estranho a> Todo mundo sabia disso, né? Então um dia resolveu e fizeram o seguinte. Todo mundo tava achando a peça péssima, né? Mas (risos) combinaram entre si e no intervalo todo mundo elogiou muito. acabou, formidável e tal. No dia seguinte ele foi o único que elogiou a peça (risos) quer dizer havia (risos) e> Eu recebi um uma uma carta de um de um uma pessoa um agente de publicidade da companhia que escreveu ao diretor do jornal reclamando que eu tinha criticado a peça, que não era hábito do jornal. (tosse) e o diretor me chamou e mostrou a carta e disse, o que que há (risos) aí? Bom, o que há é que nós estamos agora fazendo uma reno procurando fazer uma renovação do teatro e tal, então uma das coisas precisa se criticar as peças que são ruins. O diretor disse, está bom, então por isso encerrou o assunto m> SPEAKER 3: SPEAKER 3: Isso é muito claro porque, éh éh me parece, o que eu reli essas peças agora, eu já conheci mas reli ( ) De ( ), a gente vê aqui, o ( ) Vianna, o ( ) Camargo, o Renato Vianna, eles tinham preocupações sérias e tinham preocupações ãh muito atuais naquele momento a> Às vezes, geralmente eles davam sempre, éh pelo menos a forma da comédia, uma coisa mais inconsequente, para o público, ( ) cenas engraçadas, para que o público poder aceitar is isto o> Nesse ponto, o o Renato Vianna é o mais corajoso, não há dúvida nenhuma. Renato Vianna, ele moralmente, ele é um homem extraordinário. Ele sempre fez um teatro com muito menos sucesso do que os outros, sempre procurou renovar o teatro, e ele e ele aceitava muito mais do que os outros que o teatro não agradasse ao públi> Agora, o Juracy Camargo, na medida que ele escrevia para o Procópio, o Procópio era um ator cômico de primeira ordem, que tinha um público certo, que ia lá para ver o Procópio. Tudo isso tinha uma força muito grande, e de maneira que o público exercia uma influência sobre os autores, o auto os autores aceitavam, por sua vez também o público não se renovava por causa disso, era um círculo fechado, né? e> >Então há uma espécie d> <É? hum Nunca foi apresentado. Nunca foi apresentada, porque para começar, naquela momento, quando a peça foi escrita, a peça não poderia ser representada de maneira alguma a> Eu comecei a fazer teatro amador, dirigi um grupo exatamente em mil no> Eee... e eu por exemplo, vou citar alguns casos para mostrar como era a censura o Para uma peça do Martins Pena, que é um autor do século passado, de mil mil oitocentos  e quarenta e> E, numa cena, uma menina esconde o namorado no armário. Depois, quando abre, o rapaz sai, e a e uma velha diz, então, com o quê? A> ### como se entende mesmo a popularização modernamente, isto é, de tea... levar o teatro para... popularização no sentido de levar, por exemplo, a camadas de operários, assim, camadas... Nesse sentido, não havia essa preocupação. Essa preocupação, não só no Brasil, mas no mundo ocidental, de uma maneira geral, é muito recente. Mesmo na França, na Itália, isso ocorreu nos últimos dez, quinze anos. éh> <éh agora, o preço do teatro, por exemplo, do Procópio, que ele fazia, e o Jaime Costa também, eram talvez mais acessíveis do do que o teatro comercial de hoje. Isto é, o teatro foi como uma companhia, eram companhias fixas ()> Isto é, hoje em dia, em geral, cada peça tem um elenco especial montado para aquele espetáculo. Naquela época, não. A companhia era paga o ano inteiro o> A Dercy, ela o sucesso dela é mais a partir de mi mil novecentos e quarenta também el> Ela mesmo custou para se afirmar perante o público, demorou mais. SPEAKER 1: Ela já apareceu, já... Na minha pergunta foi exatamente por por este aspecto da crítica que você citou. Então, eu perguntaria se naquela época poderia existir uma Dercy de hoje. A> SPEAKER 2: Era o critério era diferentes. Sendo revista, as coisas eram permitidas. Porque, aliás, em críticas da época, éh nessa tese de de mestrado, que eu li, isso é bem isso é bem revelado, bem claramente. A> Havia uma diferença muito grande entre o teatro, propriamente dito, e o teatro de revista. Porque o público era diverso. Então, havia um teatro chamado Livre. Então, o crítico diz, o teatro Livre é um teatro onde vão as pessoas casadas ou emancipadas, diz ele. E> Isto é, as coisas são ditas. Naquela época, mesmo de teatro revista, as coisas não eram ditas, era malícia, diferente, né? E> Isto é, as coisas eram insinuadas, mas eram insinuadas (tosse) de uma maneira muito clara, todo mundo compreendia perfeitamente. Bastava ver as gargalhadas para ver que a apreensão era imediata. Isto é, não só porque os autores sabiam escrever muito bem, ( ) sempre com com uma segunda intenção, mas os atores também, porque os ato os atores também sabiam salientar a segunda intenção a> Aí, e a questão da malícia, da maneira de falar, e o gesto, é claro que é gesto, tal de corpo e tal, então você pode dizer, com a mímica, muita coisa você num vo você não diz com a palavra. Então, realmente, no teatro de revista, ãh aí havia uma liberdade muito grande, mas não é exatamente o tipo, por exemplo, do da peça do do Oswald de Andrade, porque o próprio teatro de revista, ele aceitava muito bem as regras do jogo, como como também a censura aceitava. Ha> De lá para cá foi essa. Hoje em dia há mais ÃH franqueza, há mais liberdade, há menos hipocrisia. Naquela época não, as coisas eram ditas subentendidas. SPEAKER 1: não é ###