SPEAKER 1: Eu tive a ocasião de dizer, numa das primeiras aulas desse curso, que a minha função como coordenador do curso é uma função de tapa-buraco. Como diretor substituto em exercício do Instituto de Estudos Brasileiros, eu não deveria me indicar para coordenar um curso dessa importância. Eu fiz isso, quero falar em em defesa dessa minha posição, premido pelas circunstâncias.  Aconteceu que, na oportunidade em que devíamos começar os cursos o curso, os professores, membros do nosso conselho, uns estavam em férias, outros estavam preparando material para defesa em em concurso,  outros por outros motivos de doenças, et cetera, não puderam aceitar o convite que eu lhes fiz Nessas condições, como o professor Orlando Barth, me reclamava sempre a indicação do coordenador, e eu, obediente a suas ordens. Não, ordens não, pedidos (riso).  Eh fazia questão de realizar o curso, porque acho que o curso pode ser de grande interesse para todos nós, Uma vez que estamos estudando as décadas, as últimas décadas, eh as as primeiras décadas depois de vinte, porque em vinte is se iniciou um grande movimento renovador da nossa cultura, e nós íamos fazer agora o o segundo curso, da segunda década.  Isso me parecia muito importante. Eu não podia deixar de realizar o curso,  E como não tinha coordenador, acabei aceitando essa incumbência.  Realmente eu estou fazendo aqui uma defesa dessa minha auto indicação.  Mas a minha posição de tapa-buraco não acabou com isso.  Convidei para falar sobre arquitetura dois nomes ilustres.  Professor Eduardo Corona, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, que falará sobre arquitetura, de uma maneira geral, na década de tr> e me (tosse) apresentei e apresentei o meu fordeco. Eu assisti ali algumas cenas engraçadas. Ah eu vi, por exemplo, um senhor muito bem posto, muito bem vestido, com uma gravata bonita, italiana, provavelmente, oferecendo um seu Cadillac. Então, o o capitão que estava ali tomando nota perguntou a ele, que ano é? Não me lembro, mas devia ser de uns dez anos atrás. Em que condições está? Bom, ele está em cima de de cavalete, Há uns dois anos. E tem bons pneumáticos? Não, ele está sem pneumáticos. (riso) E o motor? Bom, o motor eu não sei, porque há muito tempo que ele não funciona. (riso) Enfim, o o carro, ele ele não tinha onde jogar fora aquele carro, ele levou para oferecer à Revolução. Evidentemente foi rejeitado. Mas o meu oferecimento, ao contrário, foi aceito imediatamente. O capitão leu lá a minha ficha e me disse, o senhor tem uma missão para o senhor hoje. Nós vamos montar um um quart um hospital de campanha em Cruzeiro. E o senhor me faz o favor de ir ao Cambuci. Eu não me lembro se era um hospital ou se era um quartel militar. Se era um hospital militar ou um quartel. Vai buscar lá um um tenente farmacêutico e depois o senhor passa na Avenida Angélica, na casa do professor Ayres Neto, que vai ser o diretor do nosso hospital de campanha. Eu fui ao ao Cambuci e apresentou-se para o meu primeiro passageiro o Tenente Farmacêutico Porfírio da Paz. (riso) Fui com ele à casa do profero professor Ayres Neto e durante a noite nós viajamos até Cruzeiro para instalar lá o primeiro hospital de campanha da Revolução Constitucionalista de. em Cruzeiro eu assisti já os primeiros bombardeios o avião do governo chamava-se... nós chamávamos de vermelhinho e o vermelhinho passava e a gente via o vermelhinho e de repente a gente via sair um negocinho assim balançando era uma bomba que vinha (riso) então a gente abria assim o negócio caía e fazia... Puff! (riso) eram (riso) as bombas da revolução eram as maiores que havia naquele tempo, não é que elas fossem... Imagine se a gente pudesse fazer isso com as bombas atômicas de hoje. Bom, eu voltei para São Paulo, me apresentei novamente ao quartel-general e o capitão me disse, agora o senhor vai se fixar em Mogi das Cruzes. Temos lá um posto de abastecimento e as tropas passam por Mogi e o senhor tem que abastecê-las lá. E lá fui eu para Mogi, e me deram um posto de gasolina na saída da estrada, depois que a gente atravessa a estrada de ferro, há um posto lá, e lá fui eu tomar conta daquele posto daquele posto. E todo mundo que ia para a revolução passava por mim. E eu lá, pondo gasolina, dando informações, prendendo ladrão de vez em quando na cidade, porque eu passei a ser autoridade de Mogi das Cruzes, apenas com uma uma fita amarela no braço, um revólver na cintura, que eu nunca tinha dado um tiro, (riso) eu era autoridade. E e eu fui ficando ali, mais ou menos, apodrecendo, porque eu já estava com vergonha. Todo aquele pessoal herói passava, ia para frente, e eu ali atrás, na retaguarda, pondo gasolina no carro dos outros. (riso) Em Mogi, assisti algumas coisas engraçadas. Durante a Revolução de trinta e dois, essas coisas fogem um pouco o assunto da de arquitetura, mas é o retrato da década, né? Na Revolução de Todo sujeito válido, homem, e quase todas as mulheres trabalharam pela Revolução. Ninguém ficava em casa ou ninguém saia na rua sem uma fita no braço ou sem uma farda. E, como era todo mundo andava de bonde, quando o bonde estava cheio, a gente ia pendurado no estribo. Então, quando avistavam () no estribo, sem fita no braço e sem farda, uma senhora se levantava e oferecia lugar. Isso acontecia todo dia. (tosse) Em Mogi aconteceu mais engraçado ainda. Uma noite eu fui chamado à praça principal, ali junto à estação. Havia uma correria, uma gritaria, um fuzuê danado. E eu fui lá ver o que era autoridade. Então o caso foi o seguinte. As moças ofereceram uma festa para dois rapazes da cidade. E foi todo mundo para a praça. E elas, cada uma, tinha um um presente para dar para cada um dos rapazes. E todo mundo em volta, dando mais discurso, uma porção de coisas. (tosse) E afinal, entregaram os presentes e os rapazes tiveram que abrir as caixas em público. Era um sutiã para cada um. (riso) Porque eles não estavam participando da Revolução. Eu fui ficando tão envergonhado que um dia eu vim a São Paulo, fui ao quartel-general e disse, olha, vocês fiquem com aquele posto porque eu não vou mais para lá. Aquilo é retaguarda, eu quero ir lá para frente. E eles puseram então um substituto e e, por coincidência, era o Martins, da editora. Foi o meu substituto (riso) no posto de Mogi das Cruzes. Foi quando eu o conheci. Então, o Instituto de Engenharia de São Paulo estava organizando o que eles chamavam de Delegacia Técnica de todas as cidades, todos os municípios do interior. E me puseram então numa delegacia de Apiaí. Apiaí já tinha sido tomado pelas pelas tropas do governo. E eu, e o hum ãh Major McKnight, era um um senhor alto engenheiro que era o o delegado técnico e eu era o seu substituto. E as ordens eram de que nos apresentássemos ao General Taborda em Itapetininga. E lá fomos nós para Itapetininga e ficamos sob as ordens do General Taborda. E nunca fomos a Apiaí porque Apiaí daí para diante nunca mais voltou para para para a Revolução de São Paulo. Já já estava em mãos das tropas do governo e nós nunca chegávamos até lá. Mas participávamos de muita coisa, abrimos estradas e e participamos da Revolução. Até que um dia recebemos uma notícia de que a guerra a guerra tinha acabado, nós tínhamos sido derrotados. Então voltamos para São Paulo de cabeça baixa, com pena de termos perdido aquela Revolução tão bonita, um esforço cívico como nunca se fez no Brasil, E que eu creio que nunca mais se fará, porque o entusiasmo era generalizado e total. E, o que fazer? Voltamos para São Paulo. E eu, de cabeça baixa sempre, voltei ao escritório de Luiz Espinheira. Ele me aceitou e eu lá fiquei trabalhando algum tempo. Até que um dia (tosse) recebi a primeira encomenda de serviço. Ah eu fiquei felicíssimo. Me chamaram para fazer uma calçada na Avenida São João. Os ladrilhos tinham se soltado e me contrataram então para refazer a calçada. O serviço tinha que ser feito de noite e eu pus a turma lá fazendo o trabalho, depois de comprar os ladrilhos. E eu ia de noite com a minha senhora para assistir a minha obra, fiscalizar o serviço. E foi uma felicidade aquele dia. Mas tudo tem seu preço. Dois dias depois eu fui chamado à obra de novo. Durante o dia, no dia seguinte, o povo pisou naqueles ladrilhos e soltou tudo.  Eu tive então que refazer, com o devido prejuízo, a prime o limero s primeiro serviço que eu fiz foi aquela calçada de São João.  Mais adiante, contratei um projeto e uma construção.  Uma casinha térrea, pequenininha, na Vi em Vila Mariana, na rua Floresta.  Casinha p simplesinha, telhado de duas águas,  Aquilo foi uma festa para mim.  Minha senhora já tinha tido um bebezinho, minha filha Norma, que hoje é mãe de uma de uma filha casada que já está aqui.  E a Norma foi na col no Colo de Vilma à festa da Cumeeira, na obra da na minha grande obra da rua floresta.  Eu estou contando isso porque  A minha família, a minha esposa e o meu pessoal todo sempre me acompanhou muito de perto na nas minhas atividades profissionais.  Bom, tendo contratado uma obra, não tinha mais sentido eu continuar empregado de um outro escritório.  Então, pedi para sair e montei um escritoriozinho na Praça Ramos de Azevedo, num prédio  onde há um banco hoje, esquina da Rua Barão de Itapetininga.  Aluguei uma salinha que tinha quatro por se> >dia, então eu dizia Mas escuta, na minha cidade tem um sujeito que é riquíssimo. É a maior fortuna de São Paulo. Nessa ocasião era o Matarazzo. Ele veio para o Brasil imigrante. Pobre. Não tinha nada. E foi indo, foi indo, foi indo e ficou rico. Hoje ele é... A expressão é moderna, mas vamos dizer o correspondente. Hoje ele é um grã-fino da classe alta. Então eu queria que você me dissesse em que dia ele passou da classe popular para a classe média. em que dia ele passou da classe média para essa classe mais alta Eu não vejo essa dis, diferença. Então também não posso classificar uma, uma casa que é da classe média ou da classe alta ou da classe baixa () Eu sei que nós podemos estabelecer um mínimo que é decente, é humano para um sujeito viver. Mas daí para cima é um problema de dinheiro. Cada um vai gastar o que puder e melhorar de acordo com as novas técnicas, os novos materiais e as condições de conforto que () época moderna nos oferece, este () meu, essa minha interpretação mereceu uh, o, vamos dizer agora o xingamento (tosse), porque a intenção era de xingar de comunista, porque era um sujeito que defendia a classe pobre mas como né um arquiteto () Então eu quero dar uma explicação a vocês. Realmente na arquitetura do passado, o que se fazia como arquitetura eram os palácios e as catedrais O resto não tinha importância. Mas houve um movimento renovador da nossa época, de que era um dos líderes Walter Gropius, que passou a fazer a arquitetura da class da classe pobre. A cla A casa popular hoje é o o tema mais importante para o arquiteto. É muito mais difícil fazer uma boa casa popular do que um palácio qualquer. Porque depois a coisa, com dinheiro, a gente vai enriquecendo, novos materiais, novas novos confortos, novas coisas, e tudo é fácil. Agora, a casa popular, como nós entendemos hoje, é que é o grande problema. Não a casa em si, uma casinha de tijolo com telhadinho de () ou de de ou de tijo Habitação popular. Não habitação popular como muita gente entende por aí, essa casinha sozinha, mas habitação popular como um conjunto. Porque se a casa do índio é uma oca simples, em que é colocada em volta de uma praça que é a Ocara, e j com outras ocas que todos juntos fazem a aldeia ahn indígena, a ca a casa do homem civilizado, quanto mais ele é civilizado, mais se complica, mais compli ãh complexa vai ficando. Então a habitação do homem moderno é um conjunto. E a casa em si passa a ser um dos elementos desse conjunto. A casa sem a escola não é habitação. Sem o o abastecimento não é habitação. Sem o acesso ao trabalho não é habitação. Sem o acesso a ao ao divertimento, aos centros culturais, à escola não é habitação. projetar a Casa Popular é projetar estes conjuntos populares. Isto é a verdadeira missão mais importante do arquiteto contemporâneo. Bom, eu estava então em Montevideo, aprendi que a arquitetura éh éh não é aquilo que eu estava fazendo e comecei a procurar interpretar a arquitetura com aqueles toques que eu tinha recebido daquela gente toda. Então eu vi um uma definição de um arquiteto romano, anterior a Cristo, e essa definição é válida até hoje para arquitetura. Arquitetura é a arte de construir com solidez, conforto e beleza. Então, solidez é uma coisa, é a construção. Os egípcios construíam com pedra. Os romanos e os gregos faziam com pedra. As colunas gregas perfeitas estavam situadas na no prédio a pequena distância, a pouco mais do que o di diâmetro da própria coluna, uma da outra, porque a verga em cima era limitada pelo tamanho da pedra que ia fechar o vão. Então não se podia fazer uma um vão maior, porque não tínhamos pedra para cobrir esse vão maior. Os romanos descobriram o arco, então começaram a separar mais as colunas. Toda aquela arquitetura era perfeita naquelas condições de trabalho, com aquele material que eles tinham. Quando foi modificando as condições de trabalho, quando chegou a idade média que apareceram as construç as arq as as catedrais góticas, havia aquela preocupação de levantar os prédios, de altear os prédios como que um caminho para Deus. descobriu-se que o arco podia ser cortado desde que ele tivesse um um outro arco escorando o empuxo lateral. Então, uma nova técnica surgiu, um novo sistema, uma nova arquitetura, uma nova beleza. Então, a a estrutura, que é aquele aquela resistência, da deste dessa fórmula de Vitrúvio foi evoluindo, até que chegou na na época moderna e nós fazemos com o concreto armado uma laje em balanço, sem apoio nenhum para um um estádio de futebol ou uma um jockey club. Não precisamos por coluna lá e nem poderíamos pôr, seria um desastre na frente de todo mundo. Então nós jogamos uma laje em balanço Como nós podemos fazer estilo do passado se nós temos condições tão diferentes de construção? Então, evoluiu o a resistência da definição de Vitrúvios, e evoluiu também a solução plástica. S>