Inquérito SP_DID_404

SPEAKER 1: : Doutor (), qual é o traje que o senhor usa habitualmente para o trabalho?

SPEAKER 0: : Eu uso o chamado terno, que é formado de duas peças, eh calça e paletó. E camisa, roupas íntimas e, geralmente no frio, () e gravata. Sa Meia e sapato.

SPEAKER 1: : E para uma reunião social, qual é o traje que o senhor usaria?

SPEAKER 0: : O mesmo traje usado para o trabalho. Um terno () O mesmo traje, quer dizer, chamado terno, camisa, gravata e, se for o caso, um agasalho, pullover, geralmente. O mesmo para o trabalho e para uma reunião social. Agora, naturalmente, a reunião social É uma coisa, assim, um tanto extensa, né? Nós temos reuniões sociais de tipo esportivo ou, então, é chamado de reuniões em ambiente fechado. Quer dizer, no ambiente fechado, um traje específico que eu descrevi. E no no ambiente esportivo, naturalmente, um traje esportivo. Geralmente, calça, eh blusa, esporte, e conforme o clima, o pullover também.

SPEAKER 1: : E o modelo da roupa esporte do senhor, como é que é da camisa no caso?

SPEAKER 0: : Bom, o modelo é é um modelo convencional quer dizer tempo de calor, camisa de manga curta. É uma camisa tipo social, sem mangas. É de manga curta. E no frio, manga comprida com um agasalho de lã. Esse é o traje esportivo. Naturalmente (tosse), conforme o ambiente, quer dizer, em locais, assim, eh de campestre, por exemplo, depende, se for um lugar de montaria ou qualquer coisa, traje de montaria. Já montei bastante, atualmente não monto, mas esse era o único traje a lenço que eu já descrevi que eu usava. Traje de montaria, quer dizer, culote, bota e uma blusa leve.

SPEAKER 1: : O senhor pratica esporte ou praticou?

SPEAKER 0: : Pratiquei há muito tempo, quer dizer, quando estudante na faculdade, praticava remo e futebol. E depois de sair da faculdade, deixei praticamente de ter qualquer e atividade esportiva. Posteriormente, quando meus filhos começaram a frequentar clubes, eu voltei a praticar esporte, mas já a natação. E agora eles deixaram de frequentar porque cada um vai para o seu lado e eu também deixei de (riso) praticar.

SPEAKER 1: : E qual era o traje que você usava para praticar remo?

SPEAKER 0: : O traje de remo, no meu tempo, se usava eh camiseta sem mangas e calção e tênis. Tênis sem meia. Porque Atualmente o remo o remador usa só calção. Aliás, foi abolido nas praias de qualquer clube esportivo a camiseta que se usava questão de trinta anos atrás, trinta, trinta e cinco anos atrás. Esse era o traje usado para remo. Para futebol é o mesmo que se usa hoje em dia, só que os calções um pouco mais longos e era a única diferença. Mas era camisa de futebol, calção, ãh meia e chuteira. Esse era o traje.

SPEAKER 1: : E para a natação, qual era o traje que o senhor usava?

SPEAKER 0: : Para a natação, exclusivamente o calção. Só só calção.

SPEAKER 1: : Doutor (), o senhor nota muita diferença de um () que a gente se usa que se usa hoje em dia com o que se usava no seu tempo? Qual é essa diferença, caso o senhor ache?

SPEAKER 0: : Nós podíamos dividir essa as pessoas que usavam os instrumentais em dois grupos. Umas que são conservadoras, como é o meu caso. Eu praticamente uso a mesma indumentária que usava há trinta anos atrás. Desde os tempos de escola. E outras pe, outro grupo de pessoas que usam, e acompanham a evolução da moda na sua indumentária. Então nós vemos hoje em dia pessoas da minha idade, com mais de cinquenta anos, usando roupas mais leves, mais folgadas, mesmo para trabalho. Né? Quer dizer, calça, blusa, esporte e quando o clima é mais... mais rigoroso, um agasalho. Mas eu ainda sou do tempo da camisa e gravata, e sou dessa... desse grupo. Quer dizer, continuo usando o mesmo traje de trinta anos atrás. Nós somos chamados os conservadores, né? (risada)

SPEAKER 1: : E como é que o senhor recebe a moda atu

SPEAKER 0: : Bom, eu acho o seguinte, eh a moda eh sempre deve acompanhar o ambiente, né? Naturalmente, quem usa um traje assim, vamos chamar, tipo conservador, depende muitas vezes de certas injunções do ambiente, como acontece no meu caso, que eu vou falar mais especificamente da minha situação, porque o problema Mas, trabalhando em repartição pública, nós sentimos que o povo mesmo, quer dizer, o público em geral, recebe melhor a pessoa que se traja de uma de um modo, assim, eh mais, vamos dizer, conservador, como eu falei. Creio que o motivo principal é esse, quer dizer, quanto a ao clima, natural, se usar um traje mais leve, calor. No entanto, nós usamos esse traje assim, camisa, gravata e paletó, e quase que por uma obrigação social posta pelo ambiente, pelo tipo de trabalho, né. Essa é o a explicação do porquê se usar um traje e não se usar outro.

SPEAKER 1: : Como é que o senhor considera um homem bem vestido?

SPEAKER 0: : Bom, o homem bem vestido é aquele que alia ah o corte adequado do terno, do do da da sua roupa, ao seu próprio porte físico. E, além disso, além do corte adequado, a qualidade do que ele veste. Quer dizer, qualidade do tecido, da camisa, da gravata, do (), do sapa E quanto a mais, é preciso também um pouco de charme. Quer dizer (risada), é preciso saber escolher de acordo com a sua pessoa. Né? Então, eu considero um homem bem vestido aquele que se alia essas essas três qualidades. Quer dizer, um corte conveniente, de traje, qualidade boa e saber usar uma composição adequada de cores, de tecidos, de acordo com o seu o seu físico.

SPEAKER 1: : E quanto a aparên Não no que diz respeito a roupa? Quanto

SPEAKER 0: : ãh o que diz respeito a pessoa? Isso () Bom, a senhora gostaria de saber o que que eu considero um homem bem vestido, quanto a aparência ou... A aparência dele. Bom. () () Entendi. Eu acho que a aparência, eh nós podíamos classificar em dois aspectos assim, sobre dois aspectos muito amplos, ad agradável ou desagradável. Então eu acho que a pessoa apresenta uma aparência agradável quando ela se apresenta o mais natural possível e naturalmente sempre de acordo com a o seu aspecto físico próprio da personalidade, aliado ao seu modo de trajar. e desagradável quando apresenta um aspecto pouco natural, ou sofisticado, ou artificial, aliado a um mau gosto no trajar. Isso é o que eu acho quanto à aparência.

SPEAKER 1: : Como é que o senhor considera um homem sofisticado? O que que ele precisa ter para o senhor chegar e falar, não esse homem é um homem sofisticado?

SPEAKER 0: : Bom, eu considero um homem sofisticado, em primeiro lugar, ãh aquele que apresenta um aspecto artificial, quer dizer, não tem movimento, postura na tural. E, cujo tipo físico, e tipo físico aí naturalmente é o modo de cuidar do seu próprio físico, isto é, o modo de se barbear, o modo de cuidar do cabelo, né ele apresenta aspectos assim um pouco exagerados ãh nesse sentido, quer dizer, certo exagero nos cabelos, no bigode, na barba, se usar, E tudo isso aliado também a um certo artificialismo e um certo preciosismo, vamos dizer, num no trajar. () tudo isto coroado por movimentos. por uma movimentação ãh pouco natural e que não esteja de acordo com as situações em que ele se encontra. Isto é (tosse) é um indivíduo que tem uma movimentação estudada, uma mo movimentação, vamos dizer assim, premeditada, quando ele poderia ter uma movimentação mais natural de acordo com o momento que ele está vivendo. Isto que eu considero sofisticado.

SPEAKER 1: : O que que o senhor acha dessa moda pop?

SPEAKER 0: : Bom, a moda pop, eh eu acho o seguinte, que é como tudo que acontece quando nós procuramos importar costumes que não estão de acordo com a nossa situação, com a nossa realidade. De modo que ela pode ser, considerando essa pergunta que a senhora fez anteriormente, a aparência, é, quão ao modo de aparecer da pessoa, ela pode ser agradável ou desagradável, isso dependendo naturalmente de quem usa essa moda e do modo de saber usar também esses trajes. De modo que a moda pode parecer agradável se ela for adequada a quem usa e pode se tornar muito desagradável e até grotesca se ela for utilizada por um tipo físico assim inadequado e principalmente quando ela está (), quanto mais ela estiver em desacordo com a idade, quem usa. Pois ela pode se tornar muito contrastante. Por exemplo, uma pessoa já mais entrada em anos, utilizando essa moda, pode se tornar não só grotesca, mas até ridícula. E nós podíamos dizer que até os vinte, vinte e cinco anos qualquer moda é agradável. Uhum. Depois disso é preciso ter um certo cuidado.

SPEAKER 1: : Quais os adornos que o senhor aceita que um homem use?

SPEAKER 0: : Os adornos, e se nós considerarmos assim, de modo geral, como adornos, qualquer objeto, qualquer... qualquer... eh artigo que ele possa utilizar, como exteriorização né, eh eu acho que, em primeiro lugar, o mais aceitável é o anel. Com o anel, a começar pela aliança, se for o caso, é o que se pode usar com mais naturalidade. Quando usa, né? Agora, depois de depois do anel, o relógio, que pode ser po se pode se tornar também um objeto de adorno, dependendo da qualidade do material, dependendo da confecção, pode se tornar até uma verdadeira joia, um um relógio. Quanto ao mais, Eu acho que outros objetos, além disso, já eh constituem um certo rebuscamento da moda. Para homem, além de anel e relógio, quer dizer, um anel e um relógio, eu acho que tudo mais é excesso.

SPEAKER 1: : Qual é o todo mais que o senhor conhece? Bom, existe

SPEAKER 0: : eh vários tipos de adornos utilizados por homens e aí naturalmente nós precisaríamos encarar ãh as várias idades em que eles usam. Outros objetos seriam, por exemplo, medalhas, correntinhas. que são tão comuns hoje em dia né, como objetos usados por homens. Além disso, eh os chamados prendedores de gravata, quando é usada gravata, e outros objetos também eh considerados como joias ou bijuterias, que alguns homens utilizam. Quer dizer, verdadeiros colares, como se usa hoje em dia, de miçangas ou de metal, né. Eu acho que tudo isso são objetos de adorno até certo modo, impróprios para uso masculino. Porque eu acho o seguinte, que, naturalmente, aí é uma questão, assim, vamos dizer, de de orientação, né? Uma questão de escola. O homem, assim, ele vai se aproximando cada vez mais da mulher. Porque esses objetos, antigamente, eram usados ma quase que exclusivamente por mulheres. Quer dizer, colares, pulseiras e medalhas, correnti E aos poucos, com a evolução, naturalmente isso de modo nenhum tira a masculinidade do homem, mas pelo menos no aspecto externo ele vai se aproximando do do aspecto, vamos dizer assim, não feminino, mas efeminado. Embora ele, com isso, não perca absolutamente a masculinidade, né. E E parece que há uma tendência até, e muito saudável, porque a pessoa se coloca em dia, com a moda, dos rapazes utilizarem esses objetos de adorno tanto quanto as moças. Essa é a minha opinião.

SPEAKER 1: : No seu tempo, os homens não usavam nada.

SPEAKER 0: : Não, no meu tempo não usavam. O que acontece é o seguinte, em todos os tempos sempre houve os conservadores e os chamados evoluídos, antigamente chamados evoluídos, hoje chamados para frente. E sempre houve homens que usaram, por exemplo, anel no dedo mínimo, relógios exagerados. Isso há cinquenta anos também se usava. Usava-se, por exemplo, correntes de relógio (riso) excessivamente grandes no colete, mas tavi havia também os que não usavam. que naquele tempo eram conservadores. Quer dizer, então eles eram conservadores em relação a um século atrás. Porque há cinquenta anos aqueles que usassem objetos assim, vamos dizer, com maior ostentação, eram considerados os modernos. Só que naquela época os objetos de adorno eram diferentes. Por exemplo, não se u não se usava há cinquenta anos relógio de pulso. Nem havia. Aliás, diga-se entre parênteses, consta que o relógio de pulso teria sido inventado pelo Santos Dumont, de modo que não havia antes dele. Eh. Então, o relógio era o velho Patek. Era um relógio de bolso enorme, com uma grande corrente de ouro. E esse era considerado um objeto de adorno, na época. Outros ãh outro objeto também frequentemente usado antigamente para quem gostasse de ostentar um pouquinho mais assim esses adornos era o prendedor de gravata. Prendedor de gravata ou os alfinetes de gravata, que eram muito usados e hoje em dia quase em desuso. Ainda se encontram algumas pessoas com mais de cinquenta anos, geralmente até mais de sessenta, que ainda usam os brilhantes e outras pedras verdadeiras ou falsas, como prendedores de gravata, como alfinetes. E havia também os prendedores de gravata de vários tipos, metálicos, que eram considerados um adorno masculino. Fora isso, o homem também usou durante algum tempo, quase que como joia, a cigarreira. Cigarreira de ouro, houve época em que era moda de ouro e de prata. Era uma joia. Então, o indivíduo, na hora de fumar, tirava a cigarreira e oferecia um cigarro. Era um modo de ostentar um um adorno também. Não deixava de ser um componente do seu vestuário. As moças ficavam (riso). ### Quer dizer, quem usava a cigarreira de ouro já (risada) né... É como hoje usar uma uma um objeto qualquer de ouro, assim, à vista. Antigamente era oculto e tirado nas horas mais apropriadas.

SPEAKER 1: : E se um homem fizesse isso na época de hoje, como é que o senhor acha que as moças receberiam?

SPEAKER 0: : Bom, eu acho que dependendo da qualidade da (risada) da cigarreira, continuariam recebendo bem, né? Porque uma cigarreira de ouro, a senhora veja o valor disso. E algumas, às vezes, até encrustadas de pedras preciosas. De modo que hoje faria o mesmo êxito. Eu tenho a impressão que o sucesso seria o mesmo, né. ### Se nós formos analisar em profundidade, vamos ver que mudou um pouco. O que muda realmente é a forma dos ornamentos, a forma dos adornos. Mas as re as reações psicológicas da mulher perante o homem e vice-versa, não mudaram muito. E o modo de reação é os mesmos. O que existia continuou existindo do mesmo modo. Dizer, a reação de amor, de aversão, de ódio, simpatia, antipatia, apenas há uma variação, uma certa variação, ah vamos dizer assim, nos efeitos decorativos, nos contornos, mas na essência parece que continua tudo como era muito antes de cem anos atrás.

SPEAKER 1: : né. Como como é que o senhor descreveria um jovem atualmente, o vestuário dele? Bom,

SPEAKER 0: : o vestuário atual do jovem basicamente é constituído por calça, blusa e sapato. Frequentemente usado até sem meia. Então, esse é o é o vestuário básico, quer dizer, de uso diário. Eu Naturalmente ele pode variar de acordo com as circunstâncias especiais. Né. Por exemplo, indo a uma reunião social ele poderá acrescentar uma blusa de uma qualidade melhor, superior e talvez até um paletó ou um casaco. Mas, basicamente, esse é o vestuário. O que se nota de grande diferença entre o passado e o presente é a o uso, antigamente, e a abolição, atualmente, da gravata. Essa é a grande diferença que se nota. Mas há uma certa semelhança.

SPEAKER 1: : O senhor é favor ou contra? ###

SPEAKER 0: : Se nós conceituarmos, como eu disse há pouco, o o ambiente e aquilo que se espera da pessoa com quem se vai falar, muitas vezes verificamos que essas pessoas são quase que obrigadas ao uso de gravata. Então, eu responderia fazendo uma pergunta. O que que a senhora acharia, por exemplo, de ser recebida? Vamos supor, por no caso da senhora ser uma estudante universitária, a autoridade máxima me parece que é o reitor da universidade. Como é que a senhora aceitaria a presença do reitor sentado na sua cadeira na reitoria, cabeludo, barbudo, com sapato sem meia, uma calça leve e uma blusa sem manga? Isso aí é uma questão de interpretação. O reitor continuaria sendo o mesmo, talvez até mais mais natural ou menos artificial. Mas é que o os conceitos que se formam desde a infância, ou que se formavam antigamente, tinham certas imagens, de modo que nós não aceitaríamos com muita facilidade uma figura assim, por mais autorizada que ela fosse. Então, nós temos um conceito de um de um cardeal, temos um conceito de um general, temos um conceito de um reitor, temos um conceito de um deputado, de um presidente da república. Nós mesmos criamos essa imagem, eh quer dizer, ligamos a uma imagem também ligada à sua moda, ao seu vestuário, ao seu traje. Então, parece que nós todos, aí não não não não podemos separar nós antigos e vocês modernos. Mas, parece que nós todos esperamos que um general esteja fardado de general, um almirante de almirante. Se nós encontrarmos um general de bermuda, parece que já não representa bem aquela imagem que nós queríamos do ge do general. No caso, também o reitor. Se encontrarmos o reitor de slack e de tênis sem meia, os próprios estudantes pensariam, bom, parece que esse não é bem o reitor que eu esperava encontrar. De modo que eh são imagens que se criam e que se acabam se aliando ao modo de trajar do indivíduo. Eu acho que tudo gira em torno de concepções. E E, naturalmente, se nós considerarmos, ah vamos dizer assim, os aspectos fisiológicos do organismo e os aspectos do clima em que nós vivemos, o mais natural mesmo seria um traje leve, um clima tropical. Mas nós importamos essa moda E nós sofremos uma influência muito grande de outros países. Nós estamos nos livrando dessa influência nos últimos anos, nas últimas décadas. Porque toda essa influência que nós sofremos dos europeus é condi que condicionaram com o uso de paletó e gravata. Quer dizer, nós importamos essas modas do século passado, da França principalmente. O chique era o francês. Vamos dizer assim, o esnobe era o inglês. Então nós importamos da Inglaterra e hoje até hoje ainda é chique usar casimira inglesa, só para quem pode, né. (riso) Mas continua sendo chique. Agora, o naturalmente essa moda foi importada, foi quase que imposta. No meu tempo não se conhecia outra moda. ### De modo que isso se conver conservou através dos anos. Agora, aos poucos, Isso é um processo natural de nacionalização de cada país. No Brasil se dá o mesmo o mesmo fato. O O país vai se tornando não só mais independente, como tendo a sua própria personalidade, vamos chamar assim, nacional. Tendo a sua própria nacionalidade. Então ele vai criando, inclusive, o seu traje, de acordo com as suas vivências, de acordo com o seu a sua realidade nacional, e ele vai se libertando de de influências Às vezes até anacrônicas, completamente descabidas. Por exemplo, nós usarmos aqui o homem usar bota como usava antigamente, e a própria mulher também usava bota num clima tropical e não tem cabimento. De modo que isso influência do passado, que aos poucos vai se diluindo. Naturalmente aí não se trata de conceito, não se trata de opiniões e nem de julgamento. do ponto de vista moral ou do ponto de vista afetivo. Quer dizer, nós não podemos dizer se um é melhor ou pior do que o outro, se um é bom ou mal. São influências que nós todos sofríamos e os senhores estão sofrendo de outro modo. Então, isso me parece um processo muito natural e que não comporta nenhum conflito entre geraç ões. Quer dizer, nós simplesmente aceitamos como um processo muito natural de transformação em vários aspectos. Quer dizer, uma transformação do país do ponto de vista econômico, cultural, educacional, artístico e inclusive da moda. De modo que é um processo praticamente natural. Nós estamos perdendo hábitos estrangeiros e adquirindo cada vez mais hábitos brasileiros. Isso está criando inclusive um traje brasileiro. Em outros países, talvez, haja uma certa similaridade do traje, mas condicionado pelos mesmos processos, pelos mesmos elementos. Quer dizer, vai se tornando a vida mais complexa, exigindo, então, uma movimentação maior, o indivíduo se recolhe menos no seu lar, tem mais contato com a sociedade, de modo geral, e ele procura simplificar tudo, e inclusive o seu traje. Isso o que eu acho que, em resumo, é o que se pode considerar como o traje antigo e novo, moderno e antigo.

SPEAKER 1: : E quando o senhor sai a passeio, o senhor usa o mesmo traje que o senhor usa para o trabalho ou não?

SPEAKER 0: : Aqui, nós ãh como já disse anteriormente, o passeio nós poderíamos conceituar de dois modos. Quer dizer, um passeio, vamos chamar assim, livre, sem compromisso, e uma reunião social convencional. Quer dizer, quando se trata de um... um passeio informal, o traje, invariavelmente, é simplificado. Quer dizer, calça, blusa, esporte, e conforme o clima, conforme o a temperatura do dia, eh com ou sem um agasalho de lã. Invariavelmente, eu não uso o traje de gravata que é usado diariamente para trabalho. Agora, quando se trata de uma reunião convencional, se é uma reunião social, geralmente uns esperam encontrar outros também de gravata e é, mais esse (risada) é o motivo de irem todos de gravata, né. Porque se um tivesse a iniciativa de ir sem gravata, acabaríamos fazendo reuniões sociais todos em traje esporte, que é muito mais natural, muito mais conveniente, muito mais adequado a todos. Nós ãh sabemos, inclusive, que o smoking É uma coisa completamente descabida no nosso clima. Nós () Ãh chegamos a ponto de assistir em verdadeiros bailes de carnaval, como acontece no Municipal do Rio de Janeiro, que é exigido o terno de rigor, o smoking. Então, isso é uma coisa completamente descabida. Quer dizer. Geralmente, roupas feitas de lã. para usar num ambiente em que a temperatura se eleva muito, não só por força daquela daquela... daquele chamado aconchego, que na realidade é uma aglomeração, como também por força do álcool que é ingerido. Quer dizer que, então, a temperatura se eleva muito e o cidadão passa a ter uma sudorese abundante porque está com o traje completamente impróprio. Isso tudo por influência de costumes europeus, herdados de seus antecessores, seus antepassados. De modo que, eh o que me parece que o traje é realmente inconveniente, quer dizer, inadequado, mas sempre ou geralmente usado por convenção. De modo que se se convencionasse a usar um traje leve, e todos usassem, não haveria problema nenhum.

SPEAKER 1: : No inverno, como é que o senhor usa o seu traje?

SPEAKER 0: : Bom, no inverno eu uso os os mesmos trajes, quer dizer, as mesmas peças de vestuário, só que com tecido diferente. Quer dizer, o que nós poderíamos, no calor, ãh utilizar linho ou um tecido leve, um rayon, num clima médio, numa temperatura média, usamos o tergal, que convém mais ao nosso clima. Quer dizer, além de ser uma fazenda leve, é uma fazenda que conserva o calor. E no frio, todo o mesmo traje, mas em tecido de lã. Geralmente, quer dizer, à base de lã. Tecido mais grosso. e mais... eh que conserve melhor o calor. Mas, basicamente, as peças do vestuário são as mesmas. Apenas variando a qualidade do tecido. Ou dos tecidos.

SPEAKER 1: : Senhor, hum havia algum detalhe no paletó que se usava e que o senhor acha que não se usa mais.

SPEAKER 0: : Sim. O No no meu tempo de moço, isto é questão de uns trinta, ou trinta e cinco anos atrás, o principal detalhe que foi substituído modernamente é o chamado ãh transpasse das abas do paletó. Não sei se a senhora se conhece bem essa terminologia, mas as abas do paletó são essas duas partes superiores do paletó, que se são essas dois picos do paletó. E antigamente usava-se o chamado jaquetão, quer dizer que então uma parte transpassava sobre a outra e o traje invariavelmente era de seis botões, dos quais apenas quatro serviam para abotoar e os demais serviam apenas como adorno. E atualmente o traje é chamado de paletó. Antigamente chamava-se jaquetão, que se usava com mais frequência. E hoje é o paletó. O paletó já tem dois ou três botões apenas no centro da pe Mas esse é o principal destaque, a principal alteração que houve no traje masculino. E outra coisa também, que embora pareça as mulheres acham que isso é uma filigrana, que nós somos muito detalhistas nesse ponto, até mais do que elas, é o seguinte, uma coisa muito sem importância, aparentemente, mas é que antigamente a calça do homem tinha uma barra, que agora não tem mais. E para o homem isso fazia uma diferença muito grande. Tanto que hoje, se as senhoras virem um homem com uma calça com barra, as senhoras vão até achar graça, porque nunca viram. A calça agora é lisa, até o sapato, né. Isso caracterizava naturalmente uma diferença grande. E, naturalmente, a moda masculina está sujeita a variações. E muitas vezes voltamos ao ponto inicial. Então, há cinquenta anos atrás, era muito comum a chamada calça boca de sino. Depois ela foi afinando, afinando, afinando, até chegar quase que a ficar da largura do tornozelo. E agora ela foi alargando e voltou a ser boca de sino de novo. São variações, mas basicamente a principal variação foi essa. Quer dizer No paletó, o jaquetão foi substituído quase que exclusivamente pelo paletó. E a calça passou a ter, novamente, uma largura maior, apenas sem barra. E Isso é a principal característica do traje masculino.

SPEAKER 1: : ### ### O que que o senhor considera uma mulher bem vestida?

SPEAKER 0: : Bom, a mulher bem vestida, eu considero aquela que se apresenta, eh em primeiro lugar, de acordo com o ambiente em que ela se encontra. Quer dizer, o seu traje é adequado ao ambiente em que ela se encontra. Para que uma mulher seja considerada bem vestida, é preciso que ela tenha roupas de boa qualidade e de acordo com o seu físico também. Exemplificando, ah essa qualidade da roupa não não é só quanto ao preço, mas quanto à forma de confecção também, eh bem proporcionada em relação ao tipo físico da mulher. E tudo isso também ligado a um certo bom gosto. Quer dizer, uma mulher bem vestida é aquela que sabe escolher cores, sabe escolher tecidos e utiliza esses tecidos, essas cores, num sentido, assim, de uma composição agradável, de acordo com o seu tipo físico, e de acordo com a situação que ela vive, de acordo com o clima. É preciso saber o seguinte, um elemento básico, quer dizer, aí seria mais, ãh eu iria dizer para a senhora, seria mais uma resposta negativa, é aquilo que eu não que eu considero como mulher mal vestida. Então, mulher mal vestida é mulher que tem mau gosto. É a mulher que se veste em desacordo com o momento que ela vive, de acordo com o ambiente que ela está, e principalmente em que escolhe cores em desacordo também com a sua pessoa, com o seu tipo físico, com o seu rosto, com o seu cabelo, etc. De modo que esta é uma uma antítese daquilo que seria a mulher bem ves Portanto, uma mulher bem vestida é aquela que sabe compor tecidos, cores e sabe utilizar convenientemente. Tudo isso também aliado, como eu falei a respeito do homem, aliado a uma adequação desses trajes aos movimentos do corpo. Evidentemente, uma mulher pode estar com uma roupa de ótima qualidade, muito bem escolhida, muito bem composta, mas pode su assumir certas atitudes pouco éticas, pouco adequadas de acordo com a situação em que ela vive. E aí passa a apresentar um conjunto desagradável. Isso se reflete. Quer dizer, uma mulher que não sabe usar um vestido longo, ela pode estar com um vestido de ótima qualidade, mas usando na hora imprópria. Então, eu acho que a mulher bem vestida é um conjunto. Quer dizer, físico e, vamos chamar assim, a roupa aliada ao físico, que é aliada à situação em que ela vive.

SPEAKER 1: : Quais os adornos que o senhor acha que uma mulher deve usar?

SPEAKER 0: : Bom, os adornos eh que uma mulher deve usar devem acompanhar sempre o traje que ela usa, quer dizer, as peças de vestuário que ela ostenta, né que ela conduz. De modo que, basicamente, a mulher usa, assim como complemento do seu do seu traje, são anéis, pulseiras, e colares. Esses são os elementos básicos como adorno, como objetos de adorno. Fora isso, a bolsa também pode ser considerada um objeto de adorno. E, naturalmente, há uma variabilidade muito grande, desde o tamanho até a qualidade, quer dizer. Dependendo da situação em que ela se encontra, no trabalho, na escola, numa festa, numa reunião mais convencional, Pode aumentar ou diminuir o tamanho da bolsa, a qualidade. E a bolsa pode se tornar não só um objeto de que compõe o traje, e aliando a sua utilização, também a sua utilidade, ao à composição do do traje, como também pode se tornar uma verdadeira joia. A bolsa pode ser considerada uma verdadeira joia dependendo da qualidade do material com que é confeccionada. Agora, basicamente, os objetos de adorno são esses, pulseiras, colares e e anéis. E excepcionalmente, dependendo também da situação, os brincos. O brinco também pode se tornar um complemento da () da do vestuário, mas é preciso que eles estejam adequados, os brincos estejam de acordo com os demais adornos. Geralmente há composições do mesmo metal ou das mesmas pedras, que às vezes são chamados conjuntos de joias. verdadeiras ou de bijuterias que constituem um conjunto assim de adornos. ###

SPEAKER 1: : O que que o senhor acha da moda atual feminina comparando com a anterior?

SPEAKER 0: : Bom, me parece que a moda atual feminina é muito mais elástica, muito mais variada, porque, vamos situar, a moda atual feminina nós chamaríamos, por exemplo, desta desta última década, quer dizer, nós consideraríamos de mil novecentos e sessenta para cá, consideraríamos como moda atual, né, porque ela variou pouco nesses últimos dez anos, quer dizer, houve uma variação grande nos últimos trin Então nós poderíamos conceituar duas épocas, que nós então chamaríamos a atual e a antiga. Antigamente, a moda feminina era muito mais rígida, muito menos elástica, muito menos variada. A mulher ãh usava vestidos longos. Usava botinhas. E, aos poucos, ela foi encurtando. Foi encurtando o comprimento dos vestidos. Foi diminuindo o tamanho das golas. Foi aumentando o decote (risadas). Foi diminuindo diminuindo o tamanho das mangas. Chegando às cavas cada vez mais generosas. (risadas) e diminuindo também o tamanho do seu calçado. ### Né (risada), não sei se vai ficar. Mas o problema é que as botinhas usadas no princípio do século, né botas de couro, que frequentemente iam até o joelho, e eram abotoadas com uma carreira de botões, elas foram diminuindo, chegando até o sapato atual, quer dizer de uns dez anos para cá. E esse sapato também foi se simplificando, foi se transformando em sandália, foi se transformando recentemente no chamado tamanco, entre aspas, que é uma imitação do tamanco holandês, né. Esse tamanco que as moças usam atualmente é quase que uma reprodução do tamanco holandês, só que feito de couro lá, feito de madeira, né. De modo que a evolução, do traje e do calçado da mulher, foi no sentido de uma simplificação, simplificação no sentido literal do termo, quer dizer, diminuição de tudo, do tamanho, de tudo, né. Naturalmente aí se nós falarmos assim em traje, é um meio muito genérico, é um meio de expressão muito amplo, porque nós teríamos que considerar várias situações em que a mulher vive, né. Teríamos que considerar desde a situação em que ela se encontra em casa, né com trajes domésticos, ãh até aquela aquelas situações em que ela se encontra em reuniões sociais, e ou na praia, e etc. E mesmo os trajes domésticos variaram muito. Porque ah até a camisola variou. Hoje em dia praticamente não se usa mais camisola. ### Bom, eu sei porque (risadas)... Não, espera um pouco (risadas). ### É porque (risada) a p a propaganda das revistas femininas é muito grande, inclusive na televisão. Não é o que vocês estão pensando (risadas).

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : () Quer dizer, tudo por eh foi sendo simplificado. Naturalmente, às vezes, num processo de sofisticação, a mulher complica o seu traje. Mas aí tudo indica que isso seja devido não a uma tendência natural da mulher, mas mais a uma sociedade de consumo. situações criadas por necessidade de consumo. Então nós vemos que esses trajes longos se explicam geralmente por uma necessidade de utilização de maior quantidade de tecido, geralmente ditado por no por ãh chamados modistas ou costureiros franceses ligados às grandes indústrias de tecido. Não é por acaso que se que a mulher usa trajes longos, calças compridas, quando ela já vinha usando as minissaias né, que também lançadas por uma um outro mecanismo de consumo, lançada na Inglaterra por uma necessidade de criação de uma moda original que desse eh oportunidade ao novo tipo de indústria. De modo que o traje nem sempre está ligado a condições naturais, a tendências naturais ou normais da mulher. Muitas vezes são até situações anormais da sociedade que criam o tipo de traje da mulher. Portanto, não há que relacionar assim muito diretamente o traje com a época. É mais o traje com a situação social daquela época, o movimento social da época.

SPEAKER 1: : Doutor (), o senhor costuma ir ao cinema, teatro, assistir televisão, ouvir rádio? Sim.

SPEAKER 0: : Eu costu mo. () Obrigado. A senhora já tomou? O problema é o seguinte, nós temos que raciocinar com a situação real que nós vivemos numa grande capital. Então, numa grande capital como São Paulo, e de devemos raciocinar com a nossa situação prática existente atualmente em São Paulo. Dizem que desde aí nós já vemos três elementos básicos. Um é o local. Outro é a época. e o terceiro são as características próprias da sociedade que nós vivemos. Quanto ao local, nós vemos que, pelo fato de não haver praia em São Paulo, os divertimentos se situam quase que num ambiente fechado, eh menos frequentemente em ambientes esporti Quanto à época (tosse), nós temos que considerar também a evolução dos meios de comunicação. Quer dizer, então, são meios que evoluíram principalmente nesse sentido de rádio e televisão e praticamente estão tomando conta de toda toda essa área de comunicação que anteriormente era mais ah dominada pelo cinema e pelo teatro. Quer dizer, que na medida que vai crescendo a tecnologia vai se desenvolvendo, a tecnologia da televisão, ah o o teatro e o cinema vão perdendo terreno, naturalmente. E eu, naturalmente, não posso deixar de ser um produto do meio em que eu vivo. De modo que eu sofro essa influência. Eh Já frequentei muito mais teatro e muito mais cinema. E na medida que foi surgindo a televisão, com todos os seus recursos e os seus requintes, eu fui me tornando mais um adepto da televisão e menos frequentador de cinemas e teatros. O rádio me parece um meio de comunicação universal, quer dizer, inalterado e inalterável. Porque, apesar do cinema, do teatro e da televisão, ele continua sendo o mesmo veículo pelas facilidades que ele oferece, e pela, vamos dizer assim, pela... variabilidade que ele permite da transmissão e pela pela oportunidade que ele oferece de uma variação maior de programas. Quer dizer, o rádio é como se fosse um um pano de fundo dos meios de comunicação. Naturalmente, sem falar nos os demais meios que são a imprensa escrita. Né? Constitui-se pelos elementos da imprensa escrita, jornais, revistas, livros, etc. De modo que o que eu faço normalmente nesse sentido, assim como divertimento, é... Geralmente televisão diariamente, em pequenas doses. E sempre excluindo, não é tanto quanto possível, de regra, ãh as novelas. Mas não por por não gostar de novelas. Apenas porque me parece que a novela tem um desenvolvimento assim um pouco lento, um pouco monótono, e que não está muito de acordo com o meu modo de receber a informação. de modo que fico mais preso a programas de noticiário geral e filmes de televisão. E, naturalmente, tudo isso dentro de um certo esquema de trabalho profissional, isto é, todo esse divertimento sempre feito nos intervalos do trabalho, que é feito geralmente de manhã, período todo da manhã e no período da tarde e, às vezes, à noite, de modo que ah a utilização de televisão Ou de rádio é sempre nesses intervalos. Geralmente, dadas as limitações também do do cinema e do teatro, Quando frequento esses locais é nos fins de semana. Nunca durante a semana. Por várias razões, inclusive, nós temos que sempre nos lembrar das condições reais de vida. Hoje em dia, o trânsito é uma coisa que passou a ter uma importância fundamental para todos. Quer dizer, na medida que nós dependemos de um veículo, de um automóvel para sair de casa, Estacionar, entrar numa fila, deixar no estacionamento, isso tudo é um () desfavorável quanto a utilização de cinemas. São dificuldades cada vez maiores que se tem para sair de casa e para ir ao local do cinema ou do teatro. Então, não é tanto por uma resistência quanto esses tipos de comunicação. É devido a imposições de da situação em que nós vivemos nas grandes capitais. Limitações de toda a natureza, principalmente de trânsito, de horários. E inclusive, com essa com esse aumento desta sociedade de consumo, nós verificamos que os meios de divulgação concorrem frequentemente para o afluxo às vezes exagerado e às vezes diminuto das multidões ao cinema. Então, nós vemos que tudo se trata de publicidade, nós muitas vezes somos atraídos e ludibriados pela publicidade. Isso vai trazendo um certo desencanto geral e eu me considero parte desses desencantados em relação ao cinema e às ve e frequentemente ao teatro. principalmente deste chamado teatro moderno, que é feito através do chamado laboratório e de tentativas de grupos menos preparados. Então nós acabamos quase que nos desencantando dessa forma de comunicação. Ou por outras palavras, torna-se muito difícil encontrar as chamadas companhias ou elencos teatrais que mereçam ser assistidos. Daí então parece que está havendo uma diminuição do da procura do teatro. E eu me coloco entre esses que procuram cada vez menos. Geralmente, teatro é um termo muito amplo. Aí abrange não só a apresentação de peças de autores clássicos ou modernos, como também o balé, a orquestra sinfônica e outros meios de comunicação.

SPEAKER 1: : O que que o senhor considera uma boa peça teatral? O que que ela precisa ter para o senhor considerar ela uma boa?

SPEAKER 0: : Bom, como tudo, eu considero, bom, aquilo que me parece bom. De modo que, talvez, ah uma boa peça teatral, talvez, para mim, seja aquela que me toca mais a minha formação afetiva e intelectual. Pode não ser o mesmo pensamento de out ros. Quer dizer, uma peça pode ser considerada boa por uns e não ser considerada boa por outros, a mesma peça. Mas, eh basicamente, me parece boa uma peça, é aquela que principalmente aborda problemas relacionados com os costumes de épocas. Quer dizer, então eu acho que a peça, as peças teatrais, ah têm como finalidade principal retratar costumes das épocas. Naturalmente existem, como todos sabem, vários tipos de teatro. Então existe o teatro ãh clássico, teatro musicado e outros tipos de apresentações. Eu prefiro teatro clássico. Quer dizer, clássico no sentido de apresentação de um enredo... relacionado a uma determinada situação de época. Então nós poderíamos dizer que o que mais me interessa... são aquelas peças eh ligadas a fatos históricos... e que se tornam cada vez mais raras entre nós. Quer dizer, peças ligadas a costumes de é Parece que essas tentativas mais recentes ou mais frequentes do chamado laboratório teatral, em que não há uma uma disciplinação do dos atos eh em relação a um a um script, a um libreto, elas se tornam mais livres e os atores, então, passam a agir de um modo assim, às vezes até desordenado, E isso choca um pouco as pessoas formadas na geração em que eu me formei. Quer dizer que, então, o que me parece mais mais interessante, mais atraente, são é o teatro clássico mesmo. E principalmente liga ligado à chamada dramaturgia. Quer dizer, são os dramas de de época.

SPEAKER 1: : E quando o senhor vai ao cinema, que tipo de filme o senhor procura assistir?

SPEAKER 0: : A mesma coisa se diz em relação a aos filmes de cinema. Eu tenho preferência toda especial por filmes policiais. E me parece, me parece que isso é ligado à minha infância. Porque desde pequeno, não sei por que razão, mas me caíram as mãos ãh folhetins que se usavam na é Sherlock Holmes, Nick Carter e outros, Arsène Lupin. E Então fui adquirindo um gosto todo especial por esse tipo de literatura. E depois ãh desses folhetins passamos a aos livros policiais. E quase que esgotamos toda essa literatura. E quando surgiram esses filmes policiais, então se tornaram da nossa preferência. Isso, em primeiro lugar, filmes policiais. Em segundo lugar, eu admiro bastante e aprecio bastante os filmes ligados a a viagens. Quer dizer, filmes eh em que são apresentados aspectos típicos de outros países. Isso é o que eu prefiro no cinema. Não aceito muito, sempre fazendo essa ressalva, que é um ponto de vista muito pessoal, não aprecio muito esses filmes assim ligados a romances, ah ligados a situações de ficção, ou ligados a desenvolvimentos assim eh romanescos, porque talvez devido a minha profissão eh, aquilo que se fala geralmente que a realidade excede a fantasia, frequentemente se passa com o médico. Quer dizer, o que o algo que o O que é dado ao médico ver na práti frequentemente deixa longe a fantasia das novelas e dos filmes romanciados. Talvez seja por isso que eu não tenha não sinta grande atração. Quer dizer, um médico no exercício da sua profissão, ele vê e vive situações que nem de longe a fantasia pode atingir. De modo que não há grande atrativo, pelo menos da minha parte, em assistir no cinema situações que são pintadas até com tintas muito fracas em relação àquilo que eu tive a oportunidade de ver na vida prática. Me parece que quanto mais vivido, quanto mais vivências o homem teve, menos atração ele vai sentir por novelas e menos atração vai sentir pelo romance e pela ficção. ele então vai procurar justamente o que eu procuro. Ou uma situação fantástica, policial, criada pela imaginação de um escritor, mas sempre na na busca de desvendar um problema, desvendar uma situação e descobrir um criminoso, ou quem é o criminoso, como situação, vamos dizer assim, imaginária. E, por outro lado, as situações muito realistas, dos filmes de guerra, dos filmes de costumes, nada ligados à fantasia. Por isso que eu acho que é uma questão toda pessoal. Quer dizer, a minha preferência é por esses filmes realistas.

SPEAKER 1: : Quando o senhor está com um pouco de vontade de dar risada, assim, quer se distrair um pouquinho, que tipo de filme que o senhor procura?

SPEAKER 0: : Bom, os filmes que eu acho mais interessantes nesse ponto (tosse) são ãh relacionados com bons cômicos. E me parece, embora essas coisas que eu diga possam até parecer engraçadas, sem trocadilho, né você está me perguntando o que eu acho que, o que que eu devo fazer para achar graça. Mas, às vezes, coisas que nós achamos graça podem ser muito sem graça para vocês de hoje em dia (risada). Então, tudo depende daquilo que nós passamos na infância. Os filmes... ### Então, é isso que eu ia dizer. O Os filmes que eu assisti quando era criança, e antigamente praticamente só havia cinema como meio de comunicação. Não havia televisão, né. Então eram filmes do gordo e o magro, filmes de Buster Keaton, filmes de Haroldo Lloyd e coisas que vocês nem imaginam. Hoje está nos no chamado cinema de arte, está no nos museus do cinema, né. Mas aquilo continua despertando uma certa hilaridade, porque aquilo que foi ãh o que eu achei engraçado na minha infância, né. E quando isso apa E quando esses filmes aparecem em algum cinema ou em televisão, sempre despertam uma certa hilaridade. Agora, quanto a... vamos dizer assim, a comicidade, quer dizer produzir a gargalhada ou o riso, eu acho que ah existem alguns tipos, assim alguns tipos pitorescos, como eles citaram aqui o caso do Mazzaropi. Eu realmente considero o Mazzaropi um grande cômico, porque ele é autêntico, quer dizer é um cômico nosso, ele não imita ninguém. Então me parece, nesse sentido assim, que a gente pode sentir muito mais a comicidade daquelas situações do que se nós assistirmos um filme, por exemplo, de Milton Berle, que é considerado um dos maiores cômicos americanos, mas nós não entendemos ah o sentido das piadas dele, embora possamos entender o inglês dele, mas não entendemos porque são piadas locais. Então esses tipos assim, locais, me interessam bastante, quer dizer, tipos autên E um tipo muito conhecido de todos é o Chico Anísio. Aliás, os tipos criados pelo Chico Anísio. E me parece que ele desperta muito interesse, assim, em geral, e () está passando até para o cinema, está saindo da televisão e passando para o cinema. Justamente por isso, porque ele cria tipos locais, cria tipos autênticos, quer dizer, ao alcance da nossa sensibilidade. Então, eu acho que me situo nesse grupo. Quer dizer, eu acho mais graça naquilo que eu sinto realmente, que me toca mais a sensibilidade, num sentido, vamos dizer assim, da hilaridade. Como também, num outro sentido seria, no no na num outro polo oposto, o drama ou a tragédia, sempre com cores locais, que possam estar mais ao alcance da minha sensibilidade.

SPEAKER 1: : O senhor vê televisão, o senhor abordou a novela e ficou só com o noticiário. Por que que o senhor não assiste o resto dos programas de televisão? É devido a algum fator?

SPEAKER 0: : Não, eu não não aboli a novela, sim. Aboli a novela e vou explicar porquê. Mas não fiquei só com o noticiário. Fiquei preponderantemente com o noticiário. Porque me parece o seguinte, não é não é devido a algum fator assim pessoal. É mais um fator circunstancial. Quer dizer, me parece que o noticiário completa a minha informação que eu tive durante o dia através dos jornais. Né. E é um noticiário mais atualizado, mais atual. Inclusive, através desses meios mais modernos de comunicação, de transmissão, como sejam o rádio e radar, etc. Esse satélite que nós temos aí, da Embratel, nós temos a notícia quase que imediata, de todos os pontos do mundo. Então eu acho que, inclusive, não só a notícia falada, como a imagem também. Nós podemos assistir hoje, cenas passadas em Israel, o agora à tarde. De modo que se houve um bombardeio lá na no Líbano ou em Israel, nós estamos assistindo isso agora. Eu acho que é aí é daí que surge a importância do noticiário. Quer dizer, então eu dou uma importância preponderante, mas não única, ao noticiário jornalístico. Agora, fora esses programas, também assisto aos policiais da televisão e, inclusive, ãh dou importância muito grande a qualquer tipo de filme. Só não eh deixo de lado as novelas, como já vou apreciar daqui a pouco, Mas qualquer tipo de filme bem feito, bem concebido, desde os filmes do Walt Disney, desde que sejam bem feitos e que tenham algum conteúdo, até qualquer tipo de filme cômico. Porque aí nós precisaríamos considerar que há bons filmes em qualquer setor, quer dizer em qualquer área, em qualquer gênero. E eu sempre me interesso pelos filmes que têm algum conteúdo e que sejam bem apresentados do ponto de vista de televisão. Evidentemente que os filmes de cinema nem sempre se prestam à televisão. E, naturalmente, ãh com o o advento da televisão colorida, eh geralmente não se aceita mais, não se aceita bem a televisão em preto e branco. Porque a televisão em cores oferece uma outra dimensão da imagem. De modo que tudo depende da da produção do filme, da qualidade do filme. E eu assisto indiferentemente qualquer tipo de filme ou qualquer programa de televisão, desde que ele tenha um conteúdo agradável, um conteúdo que possa tocar sensibilidade. Mas preponderantemente é o noticiário jornalístico. Agora, naturalmente, sempre excluindo a novela, porque, me parece, que a novela ãh desenvolve de um modo moroso temas muito restritos. Então ela cria uma série de situações irreais sempre com uma finalidade comercial. E, naturalmente, uma pessoa da minha idade que já não se deixa enganar com tanta (risada) facilidade não vai acreditar que aquilo se desenvolva naquele ritmo. Quer dizer, não aceita a novela só por esse motivo. Quanto mais eu acho que Qualquer programa, desde que seja bem concebido e bem apresentado em qualquer área, é objeto da minha consideração, da minha atenção.

SPEAKER 1: : Os programas de televisão, num nível geral, o senhor acha que eles são bons ou ruins?

SPEAKER 0: : Bom, nós podemos classificar os programas de televisão em dois grupos básicos. Os programas que têm uma finalidade essencialmente comercial, e os programas que têm uma finalidade preponderantemente, vamos chamar, artística. Isso é, seria então, a arte pela arte ou o comércio pelo comércio. Naturalmente, o os a senhora me perguntou se eu considero outros programas bons né, além desses que eu citei. Tudo depende, quer dizer, um programa comercial pode ser muito bom, desde que ele seja bem apresentado. Eu me lembro de um programa que ficou famoso aqui em São Paulo, eu acho que naquele tempo vocês eram crianças ainda, mas chamava-se Antártica no Mundo dos Sons. O próprio nome já está dizendo que era uma propaganda violenta do Guaraná, né. Mas era um dos melhores programas e dos mais caros. porque eles apresentavam os melhores artistas mundiais na época. E se eram programas caríssimos de base essencialmente comercial. Mas a produção e a apresentação eram de nível eve elevadíssimo. De modo que, ãh naturalmente, ãh a comercialização do programa não exclui a qualidade. Até pelo contrário, quer dizer. Se for um programa muito rico, ele pode ser muito bom. Mas acontece que, geralmente, não é o que se verifica na televisão. Quer dizer, há uma exploração, eu não vou, naturalmente, nem precisaria citar nomes, porque não sei qual é o alcance da sua gravação, mas não te não pretendo fazer propaganda de nenhum produto e de nenhum apresentador de televisão. Mas todos nós conhecemos alguns apresentadores que fazem sorteio na televisão. Quer dizer, mais do que isso é impossível. É uma comercialização pública e às vezes até incorrendo em fisco de crime contra a economia popular, o que faz essa gente. Quer dizer que então é uma violenta exploração da crendice pública e uma violenta exploração do comércio, feito publicamente nas câmeras de televisão. Não que isso não pode, salvo o melhor juízo, atrair o interesse de muita gente. Mas, naturalmente, alguns programas, embora, como deve ser sempre, mantidos por por firmas comerciais ou industriais, eles têm a finalidade, quer dizer, a televisão precisa ter um substrato econômico né, mas muitos programas podem ser considerados de alto nível, dependendo, naturalmente, da oportunidade, da originalidade, Eu acho que uma coisa que condiciona muito o desinteresse da televisão é a repetição.