SPEAKER 1: Bem, a senhora poderia comentar alguma coisa sobre a televisão? SPEAKER 0: Eu gosto muito de televisão. E embora eu muitas vezes fique em desacordo com os com os programas, principalmente sobre pr essa parte de censura aos programas, Eu gosto da televisão, eu acho que é o meio tipo de difusão cultural que mais que tem influenciado a nossa juventude e até os adultos. Hoje o que é lançado pela televisão, seja moda, seja o que for, pega. Linguagem, e tudo, enfim. A única o único senão que pra mim existe na televisão, assim como mais como mãe do que como outra coisa, como pessoa, é a parte de programas. Que eu acho que a televisão um tanto falha na parte assim cultural. O português falado na televisão não é correto, com erros assim grandes, por exemplo, na Moreninha, que era uma foi uma novela muito difundida. Mais perto, na nov ãh na Moreninha, foi criado um cenário ótimo. Os personagens estavam muito bem arrumados, muito bem vestidos. Embora eu tenha a impressão que estivesse bem longe o enredo do do livro. Por exemplo, a parte mais engraçada do livro é aquela que o Augusto se esconde debaixo da de uma cama. Não sei se você lembra. E ele, então, ãh tem vontade de morder aqueles tornozelos que que ele nunca tinha visto, né. Ele tinha tanta vontade de ver uma beira de saia de pé de mulher, né. E e> mas tem medo de morrer, né? Ao teatro, faz faz tempo mesmo que eu não vou ao teatro, sabe? O meu marido, nesse ponto, ele me enganou um tanto. Porque quando nós éramos amados e noivos, nós não perdíamos peça. Mas depois que nós casamos, o negócio (assobio) foi para baixo. Mas das peças que eu lembro, São peças assim que trabalharam ainda o (). A Cacilda Becker. Eu via o outros que hoje estão até na na televisão. A Cleyde Yáconis. O tê bê cê ali da Bela Vista. Teve aquela é época áurea dele. Depois também o Sérgio Cardoso como estudante ainda no Teatro Universitário. Ele apresentou Shakespeare. E também depois vimos ele na no teatro ali, construído por eles. Eu esqueci o nome daquele teatro, da Rua Ruy Barbosa. Nem sei se ainda existe. Ele passou agora aquela avenida, não sei se... foi alterou o teatro ou não. Aquela vista vi ãh aquela peça, eh uma... Eu não me lembro o nome certo, porque faz tanto tempo isso, mas era um p um personagem visto da ponte, sobre a ponte de Brooklyn. Então, eu como caipira, eu gosto de me chamar de caipira, () não sei por quê. Eu acho que o caipira brasileiro é formidá> Eu então lembro-me da peça, e agora eu achei interessante também, porque aqui em São Paulo está acontecendo a mesma coisa. Na peça, chega um italiano em Brooklyn, e ele conta, ele é siciliano, ele conta à moça, se não me engano ela era Cleyde Yáconis, que na terra dele, As li laranjas nasciam nos pés, assim, nas árvores. E ela fica então impressionada. Imagine de as de as laranjas serem penduradas, né? Ela achava que... não entendia como. Ela sempre comprou em em caixas ou as dúzias. Não tinha a mínima ideia do que era uma laranjeira. Também outro aspecto interessante que eu lembro do teatro foi daque de uma peça que até eu fui com o meu pai e depois foi filmada. Do mundo nada se leva. Não sei se vocês lembram disso, porque vocês são tão brotos. Eu tenho a (risada) impressão que vocês não lembram dessa peça (risada). Foi no tê bê cê também. Eu fiquei muito impressionada com o trabalho do pessoal do tê bê cê que. A gente nota ainda hoje vendo televisão Alguns que seguiram aquela escola do Ziembinski, eles falam diferente, se a representam de um modo diferente. Tem a sua escola mesmo. A gente nota a diferença do pessoal daqui, o pessoal do Rio, né? Tem muita diferença nisso, no teatro. Agora, quanto ao teatro atual, eu acho assim, Eu acho interessante essa luta que os artistas têm para ganhar um salário maior e para ter hum apoio governamental. Ao mesmo tempo, eu acho tão difícil ter esse apoio, porque, no momento, eu acho que poucas pessoas podem ir, no nível de vida nosso, do do brasileiro, poucas pessoas podem frequentar o teatro, menos (). precisaria ser a um preço muito mais acessível, porque não não dá, simplesmente não dá. Vejo mesmo gente da classe média que não pode assistir a um teatro. O preço da é ### Embora já está o o teatro do Sesc gratuito, Mas, para levar o pessoal ao Teatro do Sesc, teria que haver maior propaganda. E eu fui ver uma peça lá, e essa foi há pouco tempo, uma peça do Martins Fontes, sobre o tempo do Império. Hein? ### É a Capital Federal. Eu achei muito interessante, dei umas boas risadas, eu achei que, para mim, tem que ser assim, de dar risada é o melhor. porque a gente já vê tanta tantas misérias por aí, então nós precisamos, na minha faixa de trabalho e de de do meu marido também, nós precisamos mais eh de filmes ou de peças ou de programas de televisão que nos façam rir ou esquecer um pouco a seriedade da vida. Meu marido também trabalha com pessoas. Ele trabalha também com menores ãh abandonados e esse tipo de menor considerado perigoso, que está agora sob na sob a fundação do bem-estar do menor, antes era da pro da Secretaria da Promoção Social. Quer dizer que Depois ele vai tem um consultório num bairro também pobre e trabalha com débeis mentais também. ### Quer dizer que quando ele chega em casa, ele ver um drama como esses que existem que para levantar um problema perante a sociedade, para nós aqui não serve. Nós precisamos de coisas leves, e que nos devem a rir mesmo. E essa peça de Capital Federal, por exemplo, eu achei a atualização da linguagem, tudo ótimo, mas eu fui meio empurrada, porque não não tinha propaganda. Teatro do Sesc não tem essa propaganda. Eu acho que tam talvez não tenha propaganda, porque o a propaganda fica cara. E agora, você que me quer dar um SPEAKER 1: cutucão, não? (risada) Nesse tempo de cinema, os tipos de programa que eles apresentavam? Bom, eu SPEAKER 0: assisti mais o programa do tempo que está sendo revivido agora. Como está na m a na música, a ou ãh ou agora está na moda bolero, está na moda o tango, o meu tempo de de cinema. Quando bem menina, eu via o Flash Gordon, Depois eu vi o Tarzan com o () com aquele eh () Weissmuller, que morreu... morreu não? Está vivo ainda, não outro dia se deu uma entrevista. Ele, para mim, era um foi o maior Tarzan de todos os tempos. Isso, na época que eu gostava de... que era criança, gostava muito de aventuras. Depois eu tive a possibilidade de ver artistas assim que... que eram grandes. Talvez por eu não ir tanto ao cinema hoje, eu não acho que eles tenham sido superados, porque às vezes a gente vê em filmes. Eu vi a Ingrid Bergman, a Marilyn Monroe. Essa era muito bonita. Talvez não tivesse tanto talento, mas a beleza dela era impressionante. Spencer Tracy com a Katherine Hepburn. Quantos filmes esplêndidos eles fizeram. musicais belíssimos. Inclusive, eu vi um musical, o problema é o nome do filme, que eu não guardo muito nome, mas era uma adaptação da opereta Carmen ao Box, e situado num tempo, naquele naquela época, devia ser uns dez a quinze Eu era solteira uns quinze a vinte anos atrás. Então, eles trouxeram todo o problema ãh da ópera Carmen para o problema do preto boxeador do século do atual, o campeão. Em geral, ultimamente, tem sido mais é preto mesmo, né? E foi uma verdadeira... Uma exibição verdadeiramente notável. Eu acho que eu fiquei também impressionada por ter sido um dos primeiros filmes em que os heróis eram pretos. Que agora está comum a. Eu soube que é lei nos Estados Unidos até, né? Que tenha personagens heroicos e pretos. Mas naquele tempo não existia essa lei. O filme era colorido. Então... Era um cha nariz a mais. Quando () passaram os primeiros filmes em três dimensões, era um cinema aí na na Avenida São João. Acho que existe ainda. Foi a coqueluche da época. Todo mundo ia e então dizia assim, () senta nas primeiras filas, porque assim você tem ideia de estar no centro do do espetáculo. E era mesmo, sabe? A gente tinha a impressão que quando iam bater ba, iam bater na gente. Mas lembro-me, muito vagamente, do primeiro filme brasileiro que que eu vi, mas deve ter outros, A Bonequinha de Seda, com o Cedro Celestino, e a mulher dele era, não sei o que, Abreu. Eu lembro demais. Eu lembro que eu era menina, eu acho que eu não estava nem na escola. Eu sai encantada do filme. Eu lembro mais dela sentada, cantando, sentada numa rede sabe. Acho que é a coisa que mais ficou dos filmes nacionais da Atlântida. Agora parece que passou-se por aí alguns trechos dos desses filmes musicais da Atlântida. Mas eram filmes gostosos assim para a gente rir, brincar. Divertia mesmo, sabe? Chanchadas, mas com os Carito. Eu acho os Carito o era mesmo fenomenal. O Grande Otelo já trabalhava. E o Cinema Paulista não não existia. Depois apareceu o Cinema Paulista com a Vera Cruz, que tentou produzir coisas sérias. Então, nós vie vimos a Eliane Lage, Não sei se chegou a ver era aquele aqueles filmes dela. Eu vi um. Eu vi dois, mas um deles era um filme bem assim do aspecto da escravatura. Da... Era mais realista do que aqueles filmes que passavam no Rio. Que vinham do Rio. Mas... ### Não ficou muito. E os filmes atuais brasileiros eu não tenho assistido. Infelizmente, eu não tenho tido essa oportunidade. Eu tenho ido mais a filmes infantis para levar criança. E eu gosto, eu gosto de ver desenho animado (risada). Aqui a turma senta aí para ver o Tom e Jerry, a gente senta junto. Eu levei-os muito a matinês ali do metro, que tinha às dez horas, não sei se ainda tem dez horas da manhã aos domingos. Depois a gente ia ver as Aristogatas, né. E outros filmes infantis, que o último foi aquele... horas. Foi do Mark Twain, uma obra do Mark Twain, que passaram aqui. Era proibido até dez anos. Oli Oliver Twist é é em inglês mas (). Eu não me lembro bem o nome do filme, eh mas é a obra mais conhecida do Oli do desse autor. É a história de um menino tão solo. Você viu? Ah, você perdeu, viu? É uma graça, é uma realismo. O menino que trabalha, tem trabalhado na televisão, é uma criança notável. E eu vejo mais, assim, filmes infantis. Agora eu vou passar a uma idade a assistir outro tipo de filme, porque a minha filha fez catorze anos e ela disse pra mim que ela precisa ver os filmes proibidos até cator> Porque o meu marido, realmente, ele chega muito cansado e eu não tenho coragem de tirá-lo daqui para para sair. Porque quando eu trabalhava, eu também chegava muito cansada e enquanto nós não tivemos filhos, a gente saía. Mas depois que nasceram as crianças, a gente... Chega cansado e tem serviço, tem que dar uma certa orientação à criança. Então, não dá para gente ter tanto ânimo para ir ou para (). A gente conhecendo o programa, tendo tido o problema em si mesmo de cansaço, desistiu do outro, o que ele faz? Fim de semanas é raro a gente passar aqui. A gente vai muito à Bragança, porque minha mãe ficou viúva, mora lá sozinha. Então, não temos nem filmes de fim de semana. Mas agora a televisão não está trazendo problemas, porque as crianças querem às vezes ficar em São Paulo, ou não viajar em certos horários, por causa de determinados programas. Esse fim de semana, minha filha queria fez questão de ver o Rei Arthur. Ela está louca pelo pelo esse seriado do Rei Arthur. O O menino gosta mais de programas assim, de Cowboy Bang Bang. A pequena gosta mais de desenhos ainda. Mas desenhos desses de> Mas também a criança no interior tem outro tipo de vida, né? Eles vão aos ao clube, vão nadar, vão brincar sem precisar o pai levar, nem mãe. Que a maior dificuldade que nós temos aqui é essa. A gente tem que levar a todo lugar. Mesmo ao cinema, eu já deixei a minha mais velha ir, mas no ao cinema com os dois mais velhos, com ah duas crianças da vizinha. foram ver filmes, naturalmente, de acordo com a idade deles, mas eles não... Meu marido, por exemplo, não gosta. Agora, o fato de da gente não gostar, de nós termos uma mentalidade um tanto quanto fechada, talvez seja também por nós trabalharmos onde nós trabalhamos. Eu acho que isso altera muito o nosso modo de ver as coisas, porque a gente trabalhando com crianças desviadas, crianças que foram desviadas muitas vezes, a gente sem querer prende mais os filhos do que aqueles que não não faz ideia do que de que se essas coisas existam. Então, a gente fica mais desconfiada, mais temerosa dos do que pode acontecer com a criança no caminho do cinema ou dentro do cinema. Enquanto que antigamente não existia esse problema. Não Eu me ia ao cinema sozinha, minha mãe dava dinheiro e eu ia embora. Não havia esse problema. Porque não é problema do cinema, do filme em si, porque na televisão eles veem coisas muito piores do que no cinema. No meu tempo, nem nem em casa a gente via um pai beijar a mãe, né? Eu não me lembro de ver meu pai beijando a minha mãe, como se vê na televisão três por (risada) hora. Essa influência na criança, e eu acho que no adulto de amanhã, () muita coisa que para nós era um tanto quanto chocante, para eles vai ser hum sem importância alguma, não é? Esses programas que levantam os noticiários, por exemplo, os noticiários são bons. Todo mundo gosta de noticiário, isso é interessante. Desde o velho até o criança. Os meu filhos gostam muito do do noticiário. E ficam impressionados. O que impressionou-os muito, eles tiveram, infelizmente, eles tiveram a oportunidade de ver os dois incêndios. Tanto do Andraus, como aquele outro in incêndio. Do Joelma. O Joelma era porque o meu apartamento era em frente. e do Andraus porque eles foram ver um um filme para criança naquele cinema que tinha ali junto. E o gerente abriu a porta e mandou a turma embora, né? E eles então viram pessoas se atirando e tudo. Vou dizer que quando o noticiário vem pela televisão, vem hoje com uma rapidez tremenda. Quando há um incêndio lá na Logo foi noticiado aqui. Eu tenho a impressão que isso tudo dá à criança de hoje, aliás, ela tem que ter um fortalecimento muito maior do que as crianças que nós fomos, que uma história, para chegar até nós, nem chegava. Porque se havia alguma um incêndio na na Espanha, até a notícia do incêndio vir pelo telégrafo, era dada para os pais, né? através dos jornais. A criança nem ficava sabendo dessas coisas. Sabia da dos procedimentos, do local em que se vivia. Mas ninguém sabia do que se dava no exterior. ### tirando as de futebol, ou quando nós ganhamos um campeonato, ou ou de as esportivas, afinal, que a gente sempre tem, o Brasil sempre sai com alguma medalhinha, a maioria das notícias são notícias de catástrofes, de guerras frias, eh coisas assim que a criança sente hoje e todo dia, como antigamente num a gente não sentia. A gente não percebia o que estava acontecendo no mundo. Quando che> No tempo da Segunda Guerra Mundial, eu lembro que eu estava começando a aprender a ler, e li aquilo e não entendia muito. Escutava alguém falar de Hitler, dos nazistas, dos americanos, Mas era uma coisa assim, não era como... É uma coisa longínqua, não é como hoje, em que as guerras, as revoluções, os fuzilamentos, os crimes, os assassi assassinatos, qualquer outro tipo de crime, está convivendo com a criança todo dia. Eu acharia, não sei, que deviam procurar coisas boas, porque deve estar acontecendo muita coisa boa por aí. É impossível não... O mau se propaga mais depressa. É. Devia trazer umas coisas boas pra gente animar também mais, né? () SPEAKER 1: Agradeço muito viu a colaboração da senhora. Já temos material, acho que suficiente. Muito obrigada.