SPEAKER 0: Mariles, eu gostaria que você comentasse alguma coisa sobre cinema. SPEAKER 1: O cinema, em primeiro lugar, eu acho que ele é muito mal interpretado pelo pelos próprios espectadores. Eu li no Macluan que o cinema era um meio de comunicação quente e que a televisão era um meio de comunicação frio. não tinha entendido muito bem, depois, em palestras ou outras oportunidades que tivemos que de falar sobre sobre ci meios de comunicação, aí me explicaram que ele era quente porque envolvia o telespectador, ele quer dizer, ele pa ele se inseria na cena, ele ele trans como é transpassava não é e integrava. Então, eu passei a observar os filmes. Os filmes, do cinema moderno, não sei se os autores é que são diferentes, não sei se se o comportamento das pessoas, que variam de acordo com a sua época, me parece que eles não permitem muito que os telespectadores participem mais. Aliás, que os o a os espectadores né participem, porque são temas m diferentes, temas que sugerem problemas. Então, Eu ainda tenho a impressão que no cinema clássico, nos temas mais tradicionais, haveria oportunidade dessa dessa participação. Mas, em todo caso, naturalmente, tudo é relativo e proporcional à sua época. Então, nem não se pode ahn definir uma coisa para todas as idades, para todas as... as épocas, então existe, me parece que existem relações. E assim sucessivamente vai havendo. Naturalmente, e ele continuará sendo um meio de comunicação quente para quem se liga direitinho naquela naquele tema, naquela época, naquele assunto. e E dessa forma continuaria sendo. né o cinema clássico são aquel aqueles temas que reproduzem eh mais globalmente a própria vida. Então, é como se fosse uma história, um enredo que tem começo, meio, fim, coerência e e termina quase sempre certinho. SPEAKER 0: ### SPEAKER 1: as instalações do cinema de hoje foram se transformando comercialmente. Nós podemos ver, por exemplo, o cinema Belas Artes, que eram era era o ci antigo Cinema astúrias. Então, era um era um salão enorme, e o filme era passado numa tela enorme. Então, havia um uma preocupação com a qualidade, e era mais ou menos como ainda um despertar do do do do do frequentador. E à medida que ele foi sendo aceito, foi comercializando. E agora, se não me engano, funcionam quatro salas, não é quatro salas no mesmo lugar em que era uma só. Inclusive, o prefeito do dia foi ao ao cinema, né lá a ao Belas Artes, e e ele sentou-se numa numa das primeiras, aliás, ele Ele arrumaram uma cadeira oficial pra ele, uma daquelas que ficam reservadas pra polícia ou coisa parecida. e E, daí a pouco, ele viu que dois ou três tele ahn frequentadores, espectadores, saíram porque estavam muito mal colocados, porque a tela é muito próxima, e a e hoje já é bem menor né do que era, e sentaram num num dos corredores. Aí ele, democraticamente, levantou e foi sentar também no corredor. SPEAKER 0: E que tipo de filme você gosta? SPEAKER 1: Eu gosto de um pouco de filme policial, gosto de um pouco de filme... Eu gosto de todo e qualquer filme. Gosto do policial porque ele dis questiona um pouquinho. E a gente procura sempre se pôr no lugar, né, do? É como se fosse um teste, pra ver se chega ao final que tinha previsto. Gosto dos filmes clássicos, históricos. Gosto muito dos filmes de de história geral, sabe que contam. Outro dia, assisti pela televisão né o a vida do Carlos primeiro. né e e Pelo cinema, a gente tendo conhecimento da história em si, pode separar a fantasia do real e, às vezes, muda, inclusive, a imagem que se tinha de um de de um determinado personagem. pela história estudada como s como SPEAKER 0: ### SPEAKER 1: Um filme que inovar propriamente não inovou, mas advertiu. Foi o doutor Divago. Até assisti duas vezes. Porque, geralmente, ahn a gente vai assistindo o o cinema com com rotina. E quando vê um determinado filme que projeta uma situação que não não está fora de propósito, se não houver um um cuidado, uma prudência, uma responsabilidade n nos no comportamento de todos né de todos os cidadãos, acaba podendo acontecer. E isso me marcou bastante. Agora, eu assisti o último tango em Paris, mas só que eu assisti em Londres. Porque em Paris, ahn o pessoal que t nós fizemos uma viagem, não uma excursão. Acabamos não indo. Aqueles bobagens de... resquícios de preconceito. né Quer dizer, a falsa moral. né E depois, ehn conversando com um casal em que se se falou no problema psicológico do do do a do personagem tudo, nós acabamos indo. assistir. Não achei que fosse uma coisa fora de propósito, quer dizer, você analisando com um pouco de racionalidade, com um pouco de maturidade, com um pouco de humanidade, você acaba vendo que não naõ existe nada de mal. Agora, é uma linguagem que comunica a pouquíssimos, porque é o pe é é muito explorada a parte comercial e sensual, e etcétera e tal, que o acabam ahn prejudicando a o real papel do filme para o público que ele consegue comunicar. né () Exatamente. Explora as imagens. E, infelizmente, o o grande público é sensorial. né Então, ele não ele não gosta muito de abstrair. E... e ele prefere o ele prefere a historinha muda do que as as bolinhas né onde esva viriam as legendas. Então, ele não interpreta, ele vê mais do que sente. mas Então, ele não identifica um um problema humano, ele não identifica a problemática do filme. Ele procura ver ah os personagens, SPEAKER 0: ### SPEAKER 1: ah eu n eu acho que ele evoluiu tremendamente no aspecto técnico no no aspecto n no aspecto de beleza no aspecto de versatilidade, no aspecto de de progresso em todo o o sentido possível e no aspecto também cultural. Ele foi passando do artesanal para o industrial. e Só que ele caminhou um pouco mais depressa do que a evolução intelectual do povo. Então, às vezes, ele não é bem aceito. pe Tanto que você vai nos no nos filmes que você vai, você vê oitenta por cento da clientela é jovem né e vin> SPEAKER 1: ia à sessão das oito às dez, porque a sessão de cinema vai variando conforme a fase da vida né ### E agora, ultimamente, eu prefiro ir das dez às meia-noite. Em primeiro lugar, porque é mais é menos... ahn Enfim, é menos cheio o, menos lotado o auditório. E em segundo lugar, porque até jantar, até tomar um cafezinho, uma coisa ou outra, se a gente for ficar escravo de horário também pra pra diversão, não reúne a família, né? Então a gente acaba de jantar, nós sentamos. Eu agora só tenho uma filha solteira. A gente senta, bate o papinho, toma um café, ela fuma um cigarrinho. E aí a gente se... se arruma, geralmente, né? E pra ir pro cinema. Mas eu não vou muito ao cinema porque meu marido não gosta muito de cinema, sabe? Então eu não vou tanto quanto ia. Quando eu era solteira, eu ia ao cinema três vezes por semana. Naquele tempo era muito, muito mesmo, né? Mas acontece que meus pais também gostavam muito. nós tinham Eu morava em Pinheiros, tinha um cinema novo perto. Então eu ia geralmente, mas duas vezes por semana era certo. Agora não, agora eu já vou bem menos vezes. Eu sinto muito, mas infelizmente não... ah leio é só a partir do comentário do filme é que eu que eu vou assistir leio eh ahn ler o sobre os filmes, eu leio diariamente. Porque gosto, inclusive, de saber né, mesmo que eu não vá, eu gosto de saber quais os filmes que estão sendo exibidos e quais os temas, quais as preocupações né, qual é a... a Como se diz? a A crítica. pra não Às vezes, numa outra oportunidade, porque agora, com a facilidade da televisão, eu tenho tido a oportunidade de assistir em casa muitos filmes que, na ocasião em que eles foram exibidos, Eu não estava indo ao cinema por uma ou por outra razão. Então, j eu gosto de de ter ideia do que é o filme. Não, eu quase não assisto televisão. Eu gosto de assistir na televisão ah o programa satírico, que geralmente são através da sátira, nós podemos ver o que está sendo percebido de errado, que é mais ou menos para uma aferição do nosso da nossa análise crítica. Eu gosto de assistir ahn os filmes policiais, isso normalmente eu assisto. Agora, eles têm uma desvantagem, que eles são importados. mas, infelizmente, nós não temos no nosso repertório filmes policiais que que prendam a atenção. ah nam Eu acho que o nosso cinema, em matéria de filme policial, está um pouco pouco parado. Não sei se se é consequência da nossa tranquilidade do povo né, então não é muito estimulante, porque nossa a nossa população, de origem diferente da do faroeste. né Então, não há necessidade, talvez não haja motivação para a feitura desses filmes. E eu assisto também, gosto de assistir. gu na Às quintas-feiras, meu marido gosta de assistir ao programa do do Chico Anísio né, dos personagens todos. Então, eu assisto também, mas não mas não sou presa, não me prendo por televisão em hipótese alguma Sou incapaz de de pôr a televisão acima de qualquer outra coisa, inclusive de uma boa leitura. Eu acho que evoluiu a técnica também quer dizer Ela teve as mesmas possibilidades da evolução do do cinema. Só que é um é um instrumento de muito mais alcance do que o cinema. e que não soube aproveitar esse alcance. Então, eles evoluíram na forma, mas não na essência. De maneira que eh, a meu ver, ela é muito m pouco aproveitada para o que poderia, porque seria um instrumento moderador até do próprio gosto. Você veja, a criança está construindo sua escala de valores, não é verdade? Agora, se eles procurarem ah exibir os valores que não são nossos, elas vão ficar confusas. Então, elas não vão se colocar, não vão não vão ter a sua escala de valores, de acordo com o seu meio, de acordo com as com a a natureza do nosso país mesmo, de tudo. Então, elas vão ficar confusas muito tempo. E nem todas vão se encontrar depois. Né E isso vai causar conflitos. De maneira que eu acho que deveria ser um um pouco mais resguardado o efeito da televisão. Principalmente nas crianças e na juventude. Porque o pessoal de idade, aquilo é uma distração. Quer dizer num num vai Não vai incorporar mais nada. Ah, eu acredito que sim. Aconteceu. Mas, ah principalmente na minha geração, porque o nós não tínhamos cinema. Então, quando você não tem condições nem capacidade de fazer uma coisa, Então você aceita muito mais fácil o o o que já é de um de um povo mais desenvolvido, porque isso é mais ou menos racional. Você não pode... Eh A experiência é uma coisa comprovada. Então você não pode... Um um um um povo que começou a ter um uma problemática cem anos antes, tem que ter muito mais experiência do que você que começou Cem anos depois, tá certo? Então, ahn quando não se tem, aceita-se o que vem de fora, mas a partir da hora em que você tem condições, que o mais difícil que é a técnica, é autóctone, porque já foi transformada, porque mesmo a técnica importada, ela é aculturada, não é verdade? Então você tem condições de fazer, você tem recursos, Agora, você tem que ter a criatividade de ah usar os recursos que você tem. E E você imita, quer dizer que você não tem conhecimento de causa. Então, o nós notamos que há, basta ver o problema que houve aí com esses estudos de pesquisa né, nós temos pouquíssimas ahn fontes Geralmente, você vai caminhando em vai vai numa numa num numa caminhada retrospectiva, você chega num ponto que você deriva para o exterior. Quase não tem nada. E E ficou mais ou menos um círculo vicioso, porque se não tem, não faz. Não fazendo, não tem. Não tendo, nunca terá. E eu acho que Fico até muito satisfeita de ver a preocupação que há com essa comunicação, porque ah o efeito da comunicação, seja ele por rádio, por revista, por cinema, por tudo, é que vai produzir uma mentalidade. Agora, para nós nos firmarmos mesmo como povo consciente, SPEAKER 0: ### SPEAKER 1: Eu acho. Muito mais. Porque o que aconteceu com a televisão há cinco há vi há vinte e cinco anos atrás, que eu pude participar, inclusive tive a oportunidade de... Ela surgiu logo depois, nós tivemos a felicidade de poder ter comprado. Mas Exatamente porque meu marido não gostava de cinema. né então Mas eu acho o seguinte, que El ele praticamente transportaram para a televisão o nosso circo. Sabe em e E os nossos programas de de de calouros, e os nossos programas, quer dizer, o nosso povo entrou para a televisão normalmente. E um ou outro filme, que era para preencher os vazios, Agora parece que aconteceu quase que o contrário. Né Os programas, ahn os programas de como se diz, de auditório ou de... Tem um nome especial, não me lembro bem como é. É que preenche os vazios dos enlatados. Então, eh as pessoas não percebem, mas vão interior vão gravando né subliminarmente aquelas propagandas, aquilo, aquilo, tudo, Então, ela nunca vai ter uma consciência de se de se encontrar, porque ela vai estar sempre influenciada por coisas que são semelhantes a nós, ao nosso país, ao nosso clima, ao nosso gosto, ao nosso temperamento, porque nós somos um amálgama, não é verdade? Então, nós somos um produto completamente diferente de todos os outros, não há similares. Exatamente por não ter havido restrições na própria formação do povo brasileiro, fez com que não houvesse restrições. Você veja como aqui o árabe e o e o e o isra e o judeu convivem vivem e convivem. Não é verdade? E por mais que eles sejam, mesmo o japones, que era fechado, por mais que eles queiram manter certas tradições, aos poucos eles vão percebendo que eles já não estão mantendo. E e Então, é por isso que precisa. Se é um povo diferente, ele tem que ter. o seu cinema próprio, ele tem que ter uma forma de de de de lazer própria. E os assuntos, o conteúdo programático mesmo dos próprios filmes devem dizer respeito a ao nosso ao que é nosso. Agora, não há dúvida que os filmes históricos ahn preenchem o conhecimento, que às vezes, de muita gente que nem pôde frequentar uma escola ou outra. Mas não como