SPEAKER 1: ### Fizesse um paralelo entre o cinema atual e do seu tempo de mocinha, por exemplo. SPEAKER 2: (risos) O meu tempo de mocinha, primeiro ele era mudo. Depois, passado um tempo, ele passou assim a ser musicado, vamos dizer. Tinha uma bandinha, uma orquestrinha embaixo, que tocava. Quando era triste, tocava música triste, quando era alegre, tocava música alegre e de dança não há coisa. primeira vez que vi o cinema falado foi em Paris. E Era um filme sobre um casal com uma criança que se perde, um negócio assim, mas era falado só de vez em quando, tinha uns que de vez em quando. Agora, aqui em São Paulo, o primeiro fo> era do Leo Stone, passou no Paramont. Foi a inauguração do Paramont, era sobre os o czar da Rússia, não me lembro o nome da fita. Eu me lembro que a iminência parda chamava Pálen. Então, de vez em quando, a gente ouvia o Leo Stone falar Pálen, Pálen. Era Alexandre segundo da Rússia. Foi o fim, foi quando começou comunismo na Rússia. Tinham assim umas umas dez vezes que a gente ouvia a voz. E, de lá para cá, deslanchou, né? Do jeito que você está vendo. Agora, antigamente, naturalmente, nós não tínhamos cinema pornográfico, né? Quando ia para a cama, ia esmaecendo. Se o rapaz ou a moça se encontravam, iam apagando, apagando, apagando. A câmera olhava a lua, sei lá o quê, e su (estalo) e sumia (estalo) E eu não gosto, não, viu? Dessa pornografia que anda no cinema, nem no teatro, nem nada. Não é nem por moralidade, é porque esses esses a gente está ficando completamente apática. Você Veja você uma numa revista você vê, aqui em São Paulo não tanto, mas o revista estrangeira, você vê comumente aquela pornografia, e pra qua praticamente ao lado, anúncio de excitante. Para que tudo isso? É tanta pornografia que perdeu o entusiasmo, perdeu a graça. Ninguém está mais entusiasmado em ver mulher pelada. Está vendo em com qualquer lugar. A> ### dos Esta era um apo apostando em uma corrida, dos Estados Unidos, até ah dos Estados Unidos Nova Iorque, até São Francisco. O que acontecia naquela naquele filme com chuva, estrada ruim, automóvel fraco, os bandidos de cha () Os bandidos sempre tinham charutos. Quando enchia de charutos, você já sabia que era bandido (risos) E o mocinho de camisa xadrez. Até hoje, os bandidos andam de preto, andam de escuro no no cinema. Não andam? Naquele tempo, já andavam de preto, com uma gravata que, pra branca e preto, parecia branca, né? E charuto, e chapéu do (), igualzinho que você vê hoje. televisão está cheio (tosse) de bandido de roupa escura. Aquela folia de... Aquele negócio de bandido (risos) andar de luva também já era daquele tempo, não mudou. O bandido é o mesmo. Foi quando lançaram Blue Jean. O Blue Jean americano começou em uns filmes de cinema, que o pessoal trabalhava na roça e andava andava de Blue Jean. Agora c> o segundo sempre era melhor que o primeiro. Então por e depois foi mudando um pouquinho, aí vieram os filmes primeiro, um filme tipo Carlitos, pequenininho, e depois um filme ma mais sério. Demorou muito para mudar esse negócio de fazer um filme só, viu? Ainda tem, se não me engano, cinema pequeno de bairro, ainda tem dois filmes, não tem? Esse negócio de um filme só foi, mais bastante depois, Eu acho que já tinha filho, quando começou o segundo SPEAKER 0: Começou um filme só com jornal ou sem jornal? SPEAKER 2: ### Aí já tinha jornal. Para dar sabe eu acho que o jornal foi feito no princípio, talvez tenha sido feito para dar tempo para o povo atrasado chegar no cinema. Porque, antigamente, o cinema não era como agora, vazio, era entupido. Se você ia à primeira sessão, Era engraçado. primeira sessão, você não saía. Muita gente não saía logo que acabava, saía um pouquinho depois para ver a multidão entrando aos empurrões, aos tropeções. Era engraçadíssimo. O pessoal procurando o lugar. Quantas vezes eu sobrei no cinema para ver, abrir a porta para cavar a lava? (risos) ### Ficavam de pé atrás, de pé no corredor, esperando sair gente para poder sentar. Era uma luta. Hoje em dia, não. A gente vai a qualquer hora. A não ser filme assim como Tubarão e Terremoto, que nos primeiros dias ficam cheios, não é? Era tranquilo. Você ia no cinema, procurava lugar para sentar. SPEAKER 0: E a programação? SPEAKER 2: No princípio, não. No princípio, eles distribuíam os papeizinhos assim. Assim, mas era horrível, vi> mas não me lembro, não. SPEAKER 0: Teve uma cobertura do quarto centenário na televisão a senhora lembra de alguma coisa? SPEAKER 2: ### Foi feito? Tenho a impressão que foi feito nada. Não. No quarto centenário mesmo, porque eu não teria visto. No quarto centenário eu tomei parte eu não Prefiro muito mais mais ser artista do que assistente, viu? Honestamente. () Se tivesse feito a cobertura, Eu eu estava na rua não teria visto. Não teria visto nada. televisão lá em casa, quando as crianças eram pequenas, era fechada com chave. Só ligava na hora que era para ver. Meus filhos foram péssimos estudantes. Se eu fosse (risos) deixar a televisão ligada, então não estudava nada. Então, depois que faziam eles todo mundo fazia lição, eu ligava a abria televisão. Não é como agora, que fica ligada di... meus ve netos vêm aqui, primeira coisa eles entram por ali, vão ali, ligam a televisão, depois vão pegar um jogo e jogar ali. Eu acho que eles gostam é do barulho, né? da companhia, da voz. Porque mesmo que seja uma coisa interessante, se eles estiverem jogando lá, ele lá ficam. Então, acho que eles sentem falta de alguém conversando continuamente. Ouve a voz. O rádio serviria muito, mas eles preferem a televisão. SPEAKER 0: Eh aparelho mesmo de televisão sofreu muita modificação Muito. SPEAKER 2: Ele era um almanjarra, viu? Difícil de acomodar dentro (risos) de casa. Era um móvel. Olha é é Era um móvel maior que aquele, a televisão. Você olha um pouco aquele barzinho. E> Estava mudo, não tinha mais barulho nenhum. E meu cunhado não estava lá. Foi um próprio escândalo. Então, com chave, evitava isso. SPEAKER 0: Evitava amolação. SPEAKER 2: Não mudou demais, viu? Mudou é baixo Passou para o lado. Mas eu acho eu desconfio que ainda tem muitos que são embaixo. Era só branca e preta. vez em quando, lá em casa () era muito co de vez em quando, num jogo de futebol, que já faziam jogo de futebol, tinha cinco bolas em campo. Não sei o que dava (risos) na televisão, ou de lá, ou da irra da irradiação deles para nós. O nosso aparelho dava cinco bolas às vez> Uma vez eu contei, eram cinco bolas em campo. Nós não conseguia nunca saber qual era a verdadeira (risos), porque só era só a bola. que multiplicava, que se fosse o os jogadores, né? você marcaria pelo número nas costas e saberia. Mas também não adiantava. Tinha que adivinhar qual é a bola certa. Eram cinco bolas. Eu telefonei para lá, eles disseram, nós estamos radiando direito, a sua televisão que está errada. Eu tinha uma amiga que morava em frente, fui lá olhar, a televisão dela também tinha cinco bolas. () Você já imaginou que jogo de futebol sofrido? E meu marido gosta muito, né? Certo? Foi um verdadeiro sacrifício aquela SPEAKER 0: Noite (risos) SPEAKER 2: Eu gosto do noticiário da televisão. Viu? E meu marido tem fascinação. Qua quando você vê, de noite, um dos últimos noticiários, quase que você não precisa ler jornal. Porque eles vão dando tudo. Eles não dão inteiro, assim, tintim por tintim. Mas eles dão o principal. Não interessa muito se cinco pessoas mataram uma ou se quatro pessoas mataram uma. Não interessa. Interessa que um bando de gente matou uma pessoa. Né? Agora como é que eles chamam, o que que eles são, para mim não interessa nada. Talvez para outra pessoa interesse, para mim não. E eu gosto do noticiário. Viu? A gente fica sabendo quase que antes do povo da cidade saber, você sabe perder. Uma vez cheguei aqui em casa, eu não sabia nada do que estava acontecendo. Tinha caído uma árvore na Consolação e o trânsito estava infernal. Eu levei um tempo enorme para chegar aqui em casa, mas eu não sabia por quê. ### Ela disse, claro, pois caiu uma árvore na Consolação. Como é que ela soube? Pela televisão. Então, antes do jornal dar, a televisão dá. Eu acho ótimo o noticiário. Porque eles correm, né, para dar notícia rápido. Inclusive, a maior parte das vezes, com fotografia. Né? Então, praticamente, seria bacana, viu, se fosse em lugar de vim jornal na casa da gente, vocês ligassem o rádio ou a televisão e eles lessem o jornal para você (risos) Não seria bom? Você está fazendo uma coisa e alguém está lendo o jornal para você? É uma delícia. Você quer ver uma ocasião? (tosse) Eu gosto muito de ler. E nós íamos para Campos do Jordão, já fazia tempo que nós não () para Campos do Jordão, então não tinha agasalho que chegasse para ci quatro filhos e dois adultos para uma temporada em Campos do Jordão. E eu me pus na máquina. para fazer cinco suéteres para cada um. A esta éh Nesta época da do ano eu já estava fazendo suéter. Não podia ler, não dava tempo. Liguei o rádio e ouvi todas as novelas que estavam no rádio naquela ocasião, todas. É como se fosse ler. E, se não me engano, naquela ocasião, eles estavam pa entre elas tinha aquele direito de nascer. Então, eu fiz tricô tranquilamente sem precisar sofrer porque eu não estava lendo. Alguém lia (riso) (riso) Alguém li> <çadíssimo. Agora ele está muito comodista, só quando o jogo é muito bom, que nós vamos para o estádio. Senão, nós vamos pela televisão mesmo. Ele fica tão feliz, porque ele gosta tanto de futebol, que ele ouve no rádio, quando não (tosse) tem televisão, ele ouve no rádio. Imediatamente, ele sai vai comprar a gazeta esportiva para ler o jogo. E amanhã ele lê também, outra vez, porque aí o comentário é mais tranquilo, né, é mais amadurecido, é um comentário que já foi discutido. SPEAKER 0: ### SPEAKER 2: O que, por exemplo? Eu gosto de teatro. Meu marido não gosta de teatro. Então, você já viu, né? Eu adorava antigamente, quando tinha matinê de quinta-feira, porque eu levava as crianças para o colégio, me mandava para o teatro. Só só tinha mulher. ### Mas, depois que eu vi que só tinha mulher no (risos) teatro de de tarde, quinta-feira, aí eu contei que, quinta-feira, eu sumia para o teatro. Você é louca! Esses hom>