SPEAKER 2: Dona Ivalda, eu gostaria que a senhora falasse um pouco. Como a senhora inicia a leitura de um jornal? SPEAKER 0: No jornal eu leio, começo por olhar as manchetes. E depois eu seleciono aquilo que me interessa mais. E E depois eu... Porque em geral eu recebo o jornal de manhã, em hora que eu tenho muito pouco tempo, mas eu não gosto de sair de casa sem ler o jornal. Então, eu já vejo as manchetes e... e às vezes até já corto o... já corto o artigo que eu quero para facilitar a leitura à noite. Então, eu já seleciono eh é assim que eu começo a lei> SPEAKER 2: () a senhora prefere notícias internacionais ou algo relacionado com o seu trabalho? SPEAKER 0: Não, eu gosto de ler de tudo. Eu, por exemplo, notícias internacio... em geral eu gosto muito de política. A A política internacional, a política nacional, gosto muito de economia também. porque hoje a gente quase não tem acesso à à política, política e através da economia eu vejo mais ou menos o que está se passando. Mas assim como fofoca. Não assim como política técnica, não. Mas ãh a economia é real meu meio de atra... de de compreender certas coisas que se passam no país. E de noti... noticiário, é claro. eu estou inserida né na no contexto, a gente tem que saber o que se passa. Eh e a parte de Você quer saber ãh os temas que me interessam mais no jornal? Eu gosto muito, de por exemplo, de críticas do cinema. Ãh Apesar de eu não não poder muito ãh ir ao cinema atualmente, mas Eu quero saber a crítica do dos filmes, depois teatro também. Eu gosto de saber ãh notícias de concertos, de conferências. Muitas vezes não vou, mas eu quero saber o que que se passa. E também os os falecimentos né, por para não fa.. para não cometer () por aí (risos). SPEAKER 2: (risos) e só. E essa essa parte de economia, a senhora poderia comparar entre as notícias do Estado, de economia e as do... da Folha da Manhã. SPEAKER 0: É, as da Folha da Manhã é do Joelmir Beting né e ele escreve de uma maneira assim, muito mais acessível, muito mais interessante. Então, eu sempre leio o Joelmir e essa, também ouço no rádio, sou fã do Joelmir. Agora, do Estado é o Weller, é muito pesadão, muito enjoado, e ele Parece que tem medo de de dar nome aos bois, né? Então, é sempre uma coisa bem camuflada. O personagem dele nunca... Ele parece que abusa da arte de de não dizer nada. De falar e não dizer nada né Porque a gente quase não percebe nada do que... Daquilo que se passa realmente no Brasil. Através dele. Agora, o o Joelmir eu gosto mais. Aí eu leio sempre eh o Veja, né? Leio a a revista Veja ### Eu acho que é a única, né? Eu não leio Visão. Visão, eu achei meio maçante umas vezes e eu eu eu leio sempre o Veja. E só os outros revistas não falam nada, né? Eu não conheço outros. Porque revista de mulher é sempre uma revista ãh tão superficial. Não é que não dá (). Eu leio também. Eu leio tudo. No cabeleireiro, uma uma vez por semana, eu faço a... Leio tudo que é revista, né? Que dá para ler numa hora. Que realmente dá, né? SPEAKER 2: sessões do Estado São Paulo que a senhora acha mais completo? Mais completo SPEAKER 0: ### É a sessão internacional, ele eles agora, coitados, eles têm que dar mais notícias internacionais do que nacionais. Então, eu acho, realmente, a política internacional o que é melhor o noticiário internacional do Estado. E também sessão de crítica que é cinematográfica, é bem completa, eles dizem tudo sobre cinema que existe, né? Agora de teatro eu não sei. SPEAKER 2: Como que senhora se... vai vai a um cine, recebe uma crítica sobre, favorável () SPEAKER 0: Favorável não. Eu em geral vou vou para conferir. SPEAKER 2: Eu sempre que faço as coisas, eu sempre faço para conferir. Como que eh se se sentiu com um filme que a senhora esperava muito e não foi aquilo? Não eu SPEAKER 0: Não, nun nunca vou esperando muito, né? Eu vou, assim, para assistir uma coisa boa. Mas que mas agora faz um tempão que eu não vou ao cinema, eu tive um problema de vista, então eu eu só... meus olhos são para coisas muito, muito especiais, né SPEAKER 2: E quanto à à docu documentação fotográfi> SPEAKER 0: Ah, sim, o o Estado tem muito bons () , né Também a parte de a charge, eu gosto muito, da Hilde, né? do Bigand, desses eu gosto muito. Eu acho muito bem feita, né? Gosto muito. ### Eu acho o Estado, ãh, a parte fotográfica muito boa, né? muito boa. Muito artística a fotografia, né? Eles têm a preocupação. Eu sou muito parcial com o Estado, porque eu aprendi a ler no Estado. Foi a primeira letra que eu li vi na minha vida, que eu tenho assim consciência de ter visto, foi o Estado de São Paulo. Foi a primeira coisa que eu li na minha vida. É a a palavra que eu li. A palavra escrita que eu li. Depois papai foi redator do Estado. Então, o papai nunca leu outro jornal. Em casa, nunca entrou outro jornal. E mesmo, houve um tempo em que a mamãe se se surgiu, e ai esse jornal pesadão, porque a minha mãe era muito moderna, ela gostava de coisas, fez assinar outro jornal e ele comprava. Assinava um e comprava outro e e conferia pelo Estado. Ele conhecia muito bem a parcialidade do Estado. Ele dizia: "Ih, a panela do Estado!" Esses essa panelinha, e não sei o quê. Mas era... através do Estado, que ele se folgava das coisas do mundo. E E eu também. Eu sei que pode ser a a metade da verdade, um quinto da verdade, mas para mim aquilo é SPEAKER 2: é verdade. Seu pai, como editor, né? É SPEAKER 0: mas ele depois tra... eh durante um certo tempo ele trabalhou SPEAKER 2: Mas aí acostumei, eu... o estado para mim é o jornal. Você poderia co comentar assim alguma coisa da estrutura administrativa de um jornal, do Estado, por exemplo? Não eu SPEAKER 0: Não, eu não sei nada, né? Porque eu conheço o estado através dos amigos de papai, ãh eh ah o que ele falava sobre os amigos, por exemplo, desde o doutor Júlio. do Sinésio Rangel Pestana, que foi padrinho de casamento dele, sabe? era gente assim muito chegado, o Julinho Mesquita, era gente assim muito do peito mesmo. E E depois papai saiu de lá, mas continuou sempre muito amigo. E agora eu, por exemplo, sempre frequento o estado, mas eu vou ao arquivo para consulta, para trazer fotocópias de artigos que eu preciso para o meu trabalho, para qualquer pesquisa que eu faça. Eu O estado é assim a minha casa, agora eu me sinto muito feliz lá dentro. Gosto SPEAKER 2: muito. () que aprendeu a ler praticamente SPEAKER 0: Pois é! SPEAKER 2: Poderias fazer um paralelo entre o Estado dos tempos de Nina e o Estado de hoje? Mas eu nem SPEAKER 0: nem contei a diferença, porque foi... é tão continuado, é como o cinema, a gente não percebe ãh a sequência das fotografias, né, porque há um há uma um intervalo muito pequeno entre uma fotografia e outra. O Estado, para mim, é sempre um Estado, é um bloco. Eu fiquei... Esteticamente, a senhora não teve Ah, sim, esteticamente. Mas eu, por exemplo, quando eles fizeram essa essa comemoração do centenário, eu dei tanta risada, porque eu não tinha percebido a mudança. É tanta a minha identificação, eu não percebi o tempo passar no Estado. E de fato houve, houve um tempo que, não é do seu tempo, mas houve um tempo que o suplemento feminino era uma beleza, era umas, sabe, folhas grandes, eh, eu não sei como é que chama aquela impressão toda, mas era papel muito fino, acho que papel couchê, mas bom mesmo, sabe? É, tipo, mas mudou mesmo, né? E eu não tinha percebido. Os anúncios e tudo, ãh, os anúncios, hoje não se fala mais anúncio, né? Propaganda, as propagandas todas, mas eu não... tipo, mas como o tempo passou e eu não percebi. Então, foi era o o meu ponto de todo dia. Então, não não muda, né? Mas SPEAKER 2: Praticamente a senhora não percebeu nada...Ah, sim! SPEAKER 0: Agora, por ex.. porque é um novo estilo, não é? É um novo estilo, mas... Eles ãh... o que que você acha ()? Se é mais bonito, se é mais feio? Hum, pode ser SPEAKER 2: Não, para mim não. Como a disposição das colunas, por exemplo SPEAKER 0: Olha, praticamente, você sabe que que eu preciso ir olhar de novo. Que para mim nã... não há mudança. Porque há gente que se perde no Estado, né, não acha nada. Há gente que que eu tenho sobrinhos, É que hoje tem, por exemplo, vinte e dois, vinte e quatro, trinta anos que eles dizem que não sabem, que eles se perdem no Estado. Não acham nada. Eu vou direto. Eu acho tudo lá dentro (risos). Eu sei manusear o Estado, mas tal seria que não soubesse, né? Agora, eu acho reconheço que é um jornal muito chato, muito pesadão, muito... muito até pesado, ãh, fisicamente pesado, não é? Porque do dois quilos de de propaganda, aquela aquele jornal horroroso da de domingo, não é? Que é tremendo. Mas, assim, não é isso Eu gosto da Folha da Manhã assim como quem lê uma revista. Para mim não é re> Folha da Manhã não é revista. Eu tiro o Joelmir, tiro o o aquele como é que chama os... Lourenço. Não, é um que faz ãh as crônicas diaféri... Então, Lourenço... É É, o Diaféria. Esse eu gosto muito dele. Mas eu leio ãh sem levar muito a sé> SPEAKER 2: Eu machuquei as perna. E eu já tive flebite. Então o negócio é preto. Mas passou. E a raiva foi imensa, mas agora também já passou, já estou com dó do... já estou com dó do motorista, também não adianta reclamar. Porque eu acho que também é uma coisa que o brasileiro não escreve muito pro jornal, né? Porque se ele escreve para desabafar, ele ficaria satisfeito se alguma coisa mudasse, não é? () sabe que não muda nada. Continua assim (risos). SPEAKER 2: (risos). Não sei se () eles sabem, eles eles viram que a senhora não tem telefone. É. Como é que a senhora é é... vive aqui em São Paulo com SPEAKER 0: telefone. Eu como vivo? ### Eu tenho o... telefone no trabalho. E... E lá também eu não falo muito, né? Tem a secretária que atende,né? Marca as coisa. E eu telefono quando... quando me convence, né? Não tenho telefone,(risos) não sou obrigada a telefonar. E eu não... não faz SPEAKER 2: não sinto falta . Então, já teve telefone? SPEAKER 0: Eu tive, eu eu já comprei. Eu estou vendo que vai ser um um um tormento dentro de casa, né? Porque amolam muito, né? Eu não... não sou muito amiga dos telefones. Mas eu... eu comprei o telefone, né? Não colocaram, não é? Estou esperando. Já paguei, está pago tudo, mas vivo muito bem sem telefone. SPEAKER 2: Pode, mas sem pauta, né? E... a senhora lembra como eram feitos feitas as as ligações para o interior, as ligações interurbana SPEAKER 0: Fácil da telefonista, com grandes demoras, né? Pois é, eu eu...pouco liguei para o tele... para para o interior, porque a nossa família ãh, é toda radicada em São Paulo. Nós não temos parentes no interior. Eu não conheço ninguém Meus pais vieram... Minha mãe veio com doze anos para São Paulo, meu pai com catorze e nunca mais voltou. Todo mundo veio para São Paulo e nós não temos parentes no interior. Então, nós nunca telefonamos. Raramente telefonamos. o telefone. Eu tive oportunidade de telefonar para o interior. Mas eu sei que era um tormento, né? Mas agora com o dê dê... dê dê dê, né? Discagem direta, não sei o quê... Dê dê...dê? Dê dê dê. Dê dê dê, mas é Mas para mim isso não... Eu gosto muito de carta, eu acho a carta muito melhor que o telefone. SPEAKER 2: E tanto tirar o correio. É SPEAKER 0: É, o correio sim. E hoje o correio é uma beleza, né? Você põe uma carta de manhã, quase que parece a... a Europa, né? está bom o correio, depois a carta também a gente tem mais é... mais o contato é muito mais profundo, né? Por uma carta do que pelo correio, pelo telefone. O telefone a gente não vê a cara da pessoa. A pessoa pode estar dizendo uma coisa e pensando outra e fazendo outra cara outra careta, né? Agora a carta a gente é muito mais profun> É um contato muito mais direto e muito mais profundo. O telefone, para mim, é só para recado, estrito, necessário e o mais rápido possível. Todo mundo diz que quando eu falo no telefone, parece que eu estou muito brava. () de você (risos). É. Mas eu faço força, porque já me disseram, que fico até desapontada. Sim, sim, não, não, pá, pá, pá, vai embo> SPEAKER 2: Quantas das as agências de correio de São Paulo a senhora teria ()? Ah, SPEAKER 0: Eu acho isso um absurdo. Muito poucas, muito mal instaladas. Já melhorou, não é? É. Por exemplo, eu que vivi na Europa, aqui em cada bairro havia uma agência de correio muito bem montada, ãh, com todo conforto. E () isso aí a gente estranha. Realmente estranha muito. Mas Mas já melhorou, enfim, cem por cento, né? Outra coisa que eu ficava envergonhada na Europa eram os nossos selos. São os... os mais indecentes se> Agora também melhorou o selo, né? Mas eram os papeizinhos com aquele bendito... Era o Barão do Rio Branco, um um um tal Marechal não sei do quê. Todo mundo pedia selo quando eu dava, eu via a cara de desaponto das pessoas. São os selos mais horrosos do mundo. Papel sujo, feio mesmo. Agora o o... já melhorou um pouco também, né? Uh, ah, o selo tá boni... mais bonitinho com re> O correio tá bom. E sabe que funciona. porque eu recebi várias cartas, ãh, porque eu tenho uma letra infame, né? Minha letra, é... às vezes, só Deus lê, porque até eu estranho a minha letra. E eu assinava as coisas, cartas que eu mando e tudo. Quando vem a resposta, eles escrevem de do jeito que podem o meu endereço e sabe que chega. Chega o... a carta, chega, mas o nome todo estropiado, né? Chega. Quer dizer que o Correio é eficaz. A Aí eu escrevi uma carta para o diretor do Correio. Porque tinha assim, uma carta assim, eu morava na Rua Ministro Godói, veio uma carta assim, Rua, ãh, R Ministro Godi. Tú Uma palavra só. Minis... ministrogodi. Olha, ### ### Lá no correio, ministrogodi, é muita coisa, né? E o meu nome também, todo errado não me lembro como é que escreveram? Mas todo errado. Chegou direitinho na minha casa e logo. Não ficou retida anos, não. SPEAKER 2: () Não. Então, você sabe É, o correio funciona. Estranho, ela não ter acompanhado de códigos, não?() Não. SPEAKER 0: Não, não era no tempo do código postal, não. Não era. Era por Foi bem antes do... do Código Postal, até antes de melhorar tanto o... o Correio. Porque, ah... essa melhora do Correio deve ter sido há uns dois anos atrás, que começou a melhorar um pouco lá. E... foi realmente um... O fruto de um... de uma perícia, eu acho (risos), que eu descobri esse. E E para o seu trabalho, a senhora se utiliza muito do correio? Não. Nós não... é Telefone, sim. Mas co> Correspondência, sim. Correspondência de... propaganda que manda, mas em geral o pessoal vai pessoalmente, né? Esses livreiros que vão vão fazer propaganda de livros, de revistas, de material, ãh, educativo. Em geral o pessoal já tem os os endereços certos SPEAKER 2: e já vai lá, né? Voltando ao telefone, o que a senhora acha das instalações dos telefones que temos espalhados por aí em São Paulo? Eu acho que isso resolve. SPEAKER 0: Por exemplo, para mim, quando eu preciso, eu vou no orelhão, telefono e não tem problema, não é? Eu acho que o... que o povo é que não sabe usar, não é? É... o pessoal não tem noção de... Afinal, que que esse... que o telefone não é particular, fica horas falando bobagem, não é? Aí E... e tomando o tempo da gente, ãh, e também, mal estragam as... estragam as instalações. Isso é coisa dolorosa para gente, não é? Porque eu acho que o nosso povo é muito bom, mas, eh, supinamente sem educação. É uma vergonha o que o Brasil... Como o brasileiro é sem educação. A Aquilo é tanto, mas na Europa eu tinha vergonha das coisas que o pessoal fazia. Quando eu chega... eu chegava em qualquer lugar, eu via gente gritando, eu dizia, deve ser brasileiro, italiano ou português. Porque esses falam alto. Mas o... o italiano e o português não são não são distruidores como o brasileiro. Não são O brasileiro fora da Europa, ãh, fora do Brasil, é mais mal-educado do que aqui no Brasil. Então já saiu uma reportagem uma vez já sobre... sobre os turistas brasileiros, né? E É aquilo e muito pior. Não sei se você teve a oportunidade de ver () É aquilo e muito pior. Eles fraudam, o metrô, eles fraudam, ãh ãh, as máquinas de esses divertimentos eletrônicos, eles fraudam até os banheiros que precisa pôr... pôr, ãh, moedinha pra abrir a porta, eles fraudam. Eles queimam as coisas, eles estragam, eles rouba, eles grita. Um bando de cafajestes. É É uma vergonha. Uma Olha, eu passava Eu tinha saudade, porque eu sempre vi... eu morei lá sozinha. Eu não fui em grupo. Eu morava no meio de de estrangeiros, de franceses. Então, acho que a gente tinha saudade de ouvir falar o português, né? Porque eu tenho paixão por português. Eu acho uma língua doce, boa, agradável. Eu adoro o português. Eu tinha saudade de ver escrito o português, de Tinha saudade de ver, de ouvir falar o portu> Mas quando eu topava com os brasileiros, depois de umas duas ou três experiências (risos), eu digo, olha, eu mudava de língua, e eu falava outra língua, e eu fingia que não entendia o que eles falavam, porque eu não queria saber de conversa com eles. Sempre vivi no meio de estrangeiros e... e não queria saber de brasileiro não. SPEAKER 2: Algo que a senhora via por aí? Eu SPEAKER 0: Le monte. SPEAKER 2: Acho mais próximo ao estado. Ah é, () SPEAKER 0: ### ### A gente, (risos) sem querer, eu não sei se será mais próximo, não, é? Porque hum é... é assim, hum, é um jornal sério, mas próximo acho que não é. Não sei, eu... eu acho que o Le Monde é mais culto ainda. Porque o francês, aí, eu não... não sou apaixonada por francês, né? Mas eu acho que...é... mais próximo. (risos) E as notícias sobre o Brasil, a senhora ainda, a mesma coisa? Ah, a gente lia tudo, não é? Tudo que anunciavam Tudo que... que havia sobre o Brasil, é, todo mundo sabia que eu era brasileira, os colegas me cortavam as coisas, contavam, sabe? Porque sabiam que eu tinha muita saudade do Brasil. SPEAKER 2: Lembra-se, assim, de algum fato importante, pensando nos anos que estava... Quando eu estava lá SPEAKER 0: Não, não, eu...eu estive, porque lá estava quando, essa vez que eu passei e... morava em Paris, esse ano que eu morei, foi a época de Suez, não é? Então, a gente nem pensava, ãh, as coisas estavam tão pretas lá para nós, que... que eu acho que as coisas do Brasil não eram tão importantes, né? Realmente não, foi no fim de cinquenta e seis, novembro de cinquenta e seis, cinquenta e seis, cinquenta e sete. Então foi realmente. Papai me mandava tudo que era recorte de jornal, aí eu via quanto o Estado era pessimista, porque eu achava que aqui o... quando eu chegasse, já não haveria mais nada aqui, que estava tudo na última das decadências da da bancarrota (risos). E eu Eu escrevia para o papai, papai larga de ler esse jornal aí e não me manda mais, porque eu já não aguento a aflição que eu fico (risos) com esse esse jornal tão... tão pessimista. A Brasília foi justamente, foi o () de Brasília, foi o lançamento. Na Europa foi um sucesso. Papai me mandou até o Não sei se... se foi o Cruzeiro ou foi a Manchete. Foi a Manchete. O Juscelino, ah, o retratão do Juscelino, assim, na frente de um... de um... no Planalto, lá, mas, é, no no deserto na... de Brasília. E eu mostrava para tudo mundo, mas o pessoal dizia, mas vocês vão fazer uma cidade aqui? Mas que Uh! Aí foi aquela coisa. Realmente, eu ti.. eu recebi Uma, ãh, um jornal sobre... sobre o Brasil. Uma Ah, eu acho que era manchete mesmo. Número especial. Propaganda do Juscelino, não é? É Mas muito, foi muito falado. Muito Realmente uma coisa que eles se impressionavam muito. Outra coisa que eles se impressionavam muito com o... com o Brasil era a... a queima da Ah, eles não perdoavam a gente de queima café, sabe? Muita gente me... Porque eu só vivia no meio de estudantes, não é? Não só franceses, mas...ãh... rodas internacionais. Então, uh... todos, ãh, era raro aqueles que não... As coisas que eles sabiam do Brasil era isso. Brasília e a queima do café. (risos) SPEAKER 2: El... eles se revoltavam, realmente. () política de cá até eu entendo. É, e é. SPEAKER 0: Mas eu, eu também não entendo nada de... dessas coisas, mas e... eles ficavam muito, muito chocados. SPEAKER 2: A senhora chegou a mandar, então, através do correio, ãh, encomendas do Brasil? Ah, che> SPEAKER 0: Cheguei e perdi. SPEAKER 2: E a senhora acha que deve-se ao correio no> SPEAKER 0: Ah, eu não sei. Eu Eu prefiro achar que não foi (risos). Porque eu, quando fui para lá, eu levei muita... muita coisa inútil a primeira vez, né? Porque me disseram que tinha acabado a guerra recentemente, né? E que deveria haver falta de roupa de cama e não sei mais o quê. Então, eu levei Malas e malas de coi... duas malas. Eu nunca viajo com mala, tanta mala. Levei duas malas, uma com roupa e outra com livro. Que eu disse vou... vou comprar livro que eu também vou precisar lá, então é me... já levar. E E depois, eu... antes de vir, as roupas que eu Comprei muito livro, muita coisa lá, e eu pus nas malas. E a roupa que eu dava, que dava menos importância, eu fiz pacotes e mandei. Ah, perdi quase tudo (risos). Perdeu () Mandei de navio. Ah, eu não tinha dinheiro para mandar de avião. Eu lá comia uma vez por dia. Eu Eu... eu passei vida dura. Não foi... não foi so> Uma vida assim, apertada, de de olhar o dinheiro de um lado e de outro. Eu fui comer o dinheiro e cinquenta dólares por mês de Itamaraty. Para passar um ano. E Eu fui para passar dez meses, eu tinha dinheiro folgado para passar dez meses. Eu passei dois anos e um ano e oito meses. A primeira, essa vez. Então, eu passava estreito, não é? Morava no num sótão, eu comia uma vez por dia, quando tinha fome eu comia pão, bebia água, essas coisinhas, não foi brincadeira não. () é, em restaurantes universitários () Não, nem isso, aí isso já é caro para mim, era Já era caro, porque fazia comida em casa é muito mais fácil, não é? Eu tenho até hoje uma panelinha aí que eu fazia minha comida, eu comprava um bi> E todos os dias eu comia bife, to.. eu comprava um iogurte, um bife, ãh, pão e uma fruta. Eu durante, ãh, acho que quatro, cinco meses, só comi isso. No fim, me enchia água, de água a boca que eu não podia nem olhar aqueles bifes. E não era bife, era hambúrguer já pronto, assim, aquela carninha já... cem gramas de carne ou Eu via o estrito de calorias que eu precisava para não gastar mais. Eu acho bobagem comprar. Loja, eu nem olhava nas lojas para não ter vontade. Aquelas vitrines de doces, aquelas coisas bonitas. Então, eu tinha colegas aí eu dizia assim, olha, hoje é meu dia de olhar, você me puxa pela mão. (risos) A outra olhava e eu não olhava. Fazia aí por compensação. Eu fui a tudo que Foi teatro. Eu... eu aproveitei do outro lado. Se eu não estou aqui nem para comer, nem para dormir. Então, eu aproveitei viagens, eu fazia de tudo. Eu não Eu fiz mais do que gente que vai com muito dinheiro. Mas... o cinto apertava. SPEAKER 2: A senhora conseguia descontos para SPEAKER 0: Não, a gente... não, eu não não tinha, ãh... porque em ge... eu tinha o título de () de le... plano (). Isso só me deu aborrecimento, porque eu tinha que ir toda hora lá na na polícia, de três em três meses, me apresentar. Quer dizer, que não não dava vantagem nenhuma, nem para... Só eu acho que eu não paguei inscrição na universidade. Foi a única coisa. O resto não tinha vantagem absolutamente nenhuma. E também eu não... eu não tinha ma...eh, não conhecia, sabe? Eu Eu não conhecia nada, eu não sabia de nada. Eu sei que eu fui lá como um anjo. Agora, ultimamente, quando eu vou, mas aí eu já vou como profissional, eu já vou fazer estágios, eu já conheço muita gente, porque em cada lugar que eu vou, eu eu faço meus amigos e tudo, já é diferente, né? Mas a primeira vez só apanhei como uma danada (risos). A senhora morou aonde lá? Eu morei primeiro no (), Depois eu morei na... vizinho da Gale... Galeria Lafayette. Qual delas? A () É uma ruazinha que tem o Bra... o Banco Português. Ãh, bem... É perto da Ópera? É perto da Ópera. Do meu... Do meu quartinho eu via a... Do meu quartinho eu via a estátua lá da Ópera. As estátuas da Ópera, ali o ponto era ótimo, né? Mas para ser bom era longe. Mas com o metrô tudo vai, né? Ali E eu morava num sótão, eu subia cento e sete degraus. Você não fala estúdio? ### SPEAKER 2: (risos) É? Não brinca, Armando. Que teve uma amiga minha que ficou assim, ela disse que não era sótão, era... Estudio? Estu> SPEAKER 0: dio. Sei... não o dela é ### O nome verdadeiro era chambre de bonne. É, porque a gente... ãh, assi... e eu morava num num prédio antigo, ali aquele () todo antigo. Então, a gente... eu subia quatro de... quatro lances de escada e depois lá em cima eram quartinhos, cubículos. Eu Eu morava num... num corredor acimentado, de um lado tinha uma janela, Era a minha cama, do outro lado era a cozinha. Tinha uma mesa, um fogareiro e uma cadeira meio quebrada. A A cama, do outro lado, a cômoda. Eu morei lá, sim. Eu me achava uma rainha, mas era realmente um... uma... um quarto das empregadas. Não é estúdio. O que é estúdio? Isso aí é... E o feminismo? (risos) Não é nada, era o chambre de bonne mesmo. Subia cento sete degraus, descia. Chegava de tarde, eu... eu vinha para almoçar, para fazer economia, depois subia de novo. No começo eu dizia, mas por que será que eu estou tão cansada? (risos) Pois é, isso não é doença não, é realmente cansaço, exercício físico. ###