SPEAKER 0: Dona Judite, gostaríamos que a senhora comentasse alguma coisa sobre a nossa cidade. SPEAKER 1: A nossa cidade hoje é tão mal falada. Todo mundo só vê nela os focos de poluição. No entanto, é tão bom voltar para São Paulo. Todas as vezes, na minha longa carreira profissional, em que trabalhei em em outros estados do Brasil, Tive essa sensação agradabilíssima de voltar para São Paulo. Eu não sei, eu nasci aqui. Gosto de São Paulo apesar de todos os problemas que ela tem. Reconheço que muitos deles estão praticamente insolúveis agora. Talvez se fosse possível tomar São Paulo como uma prova para passar alívio, nós devêssemos fazê-lo. Mas realmente isso é im> E nós sentimos, cada vez mais, ela se torna uma cidade... tremendamente agressiva. Mas eu não gosto que se diga isso. Agora mesmo, nessa viagem que fiz, quando se comparavam as cidades do sul, do sul da América, Buenos Aires, principalmente, e La Plata, e ou, ou Monte Miguel, com São Paulo, e se dizia, são cidades grandes, amplas, mas não são agressivas como São Paulo, e eu me revoltava. No fundo, eu acho que a cidade é agressiva porque os homens a fizeram. e os homens não os daqui. Infelizmente, nós temos que notar que todos os nossos serviços se esgotam com a migração interna. Não sou contra, não acho que se deva fazer barreira nas fronteiras do Estado, não, mas realmente regularizar essa situação. Nós estamos com cada dia recebendo contingentes imensos de brasileiros de todas as plagas e onde acomodá-los? como fazê-los viver aqui. É claro que isso arrebenta todas as previsões, as estimativas caem por terra e nós realmente não... não sabemos o que prevenir para atender esse pessoal que chega do Nordeste ou do Norte ou do mesmo do Paraná e outros esta outros estados do Sul. Fora os mineiros, porque os mineiros já são quase paulistas. Porque o que existe de mineiros aqui em São Paulo é uma coisa fabulosa. E () é claro que é para todos os padrões que se possa estabelecer São Uma das coisas mais tristes a meu ver é a maloca, a favela de madeira, de A favela de lata. Nós tivemos sempre pobreza em São Paulo. mas era a pobreza de alvenaria. Os imigrantes italianos, espanhóis, se localizavam no Brás, naqueles grandes casarões, onde cada família ocupava um quarto, os chamados cortiços do Brás. Era, sem dúvida, uma pobreza de alvenaria. Hoje, nós vemos as favelas nascendo aqui e ali, em torno da cidade, e isso é profundamente triste, Elas também servem para demarcar o tipo de indivíduo que está invadindo São Paulo. Porque, se nós olharmos as favelas daqui, elas são as mesmas do Recife, são as mesmas da região de Belém, que medeia entre o aeroporto e a cidade, quer dizer, eles transferiram para cá, é o... os habitantes de lá transferiram para cá o hábito de moradia que tem. Não sei se você já sabe que no Amapá, por exemplo, as casas são todas construídas sobre palafitas e elas têm apenas o solo, o telhado e uma parede. exatamente de acordo com o clima. A parede é para prevenir o vento e a chuva que vem sempre daquele lado. Ora, num clima como São Paulo, onde todas as estações ocorrem num dia, é, como que iria viver aqui? Mas, infelizmente, o pessoal do Nordeste e do Norte que se transfere para cá faz essa visão. Agora, tam, e o poder aquisitivo dessa gente é baixíssimo. O nível de saúde é baixíssimo. E tudo isso tem que ser atendido aqui, né? Essa Essas coisas todas fazem de São Paulo isso que se chama megalópolis. mas não, não vamos, não queremos, eu não tenho nenhum desejo de sentir São Paulo como uma Megalópolis. Eu prefiro sentir como uma cidade grande, com todos os seus problemas, com seus sofrimentos, mas que não tenha assim o crescimento amalucado que se impere da, do ti, do termo Megalópolis. SPEAKER 0: ### SPEAKER 1: As instituições públicas que fazem parte de uma cidade, naturalmente, dividem-se em o grupo que a administra. Então, aí, teríamos todas as cargas de governo, de fazer leis e tribunais de justiça. Então, seria uma forma de administrar a cidade. Em verdade, toda cidade é aquela estrutura garantida por um controle social, formal ou informal. e as casas de governo visam exatamente a parte do controle formal. Numa cidade grande, o controle informal se perde muito, porque cada indivíduo, exercendo inúmeros papéis sociais, certamente dispersa a... o con, esse controle sobre a, a pessoa. E, então, isto dá uma i ideia de como deve crescer o controle formal. Aí os tribunais, as delegacias de polícia e toda a estrutura de controle mesmo nesse aspecto, o trânsito, todos todos esses organismos que visam a estruturar a cidade, dando-lhe a organização administrativa mesmo. Por outro lado, existe a parte de promoção humana, porque os indivíduos que participam da Vila da Cidade são indivíduos, são pessoas, e essas pessoas devem ser promovidas. Eu não acredito que... em falar em instituições de caridade, de assistência social e tal. Não, eu acho que num sistema em que nós devemos considerar o próximo como o próximo realmente aquele que está perto de nós e que nós podemos ajudar devemos pensar sempre em promovê-lo. É uma das coisas mais bonitas e mais necessárias no dia em que todos nós tivermos esse ideal realizado e podemos promover o nosso amigo, o nosso próximo, o nosso irmão e fazê-lo na maior... possi, ãh, na... atingindo a maior potencialidade, desenvolvendo a, a sua maior potencialidade. Então, ficaremos numa terra ideal, talvez chegaremos ao paraíso. é, Essa parte de promoção humana aqui em São Paulo é muito desenvolvida. Toda a gente está fazendo alguma coisa nesse sentido. Encontram-se entidades incríveis ãh... A gente nem chega sequer a supor que possam existir. São coisas pequenas, são atividades assim de grupos de cinco ou seis pessoas, mas a intenção é válida. Toda a gente está buscando fazer alguma coisa, então esse essa organização que não segue aqueles cânones da organização administrativa formal, marcada pelo, pelos estatutos e pelos regulamentos das entidades, é é também uma coisa muito importante na na cidade de São Paulo. Fora isso, vem as organizações de trabalho, o comércio, a indústria e um pouquinho da agricultura, porque o Cinturão Verde de São Paulo é uma coisa muito precária, tão distanciada da realidade que a gente quase esquece que existe. Mas as grandes indústrias, química e comércio imenso de São Paulo, o que não existe em São Paulo, não existe no mundo. Tudo existe aqui, não é não é () Não é Basófia. É uma observação clara. Em todos os países que você visita, sempre as cousas que são comercializadas lá, são as mesmas comercializadas em São Paulo. De modo que não há nada a desejar. Uma cidade que tem por base o trabalho. Eu acho que foi o Stephan Zweig que disse, não peça um músculo para ser bonito, quando disse que São Paulo era verdadeiramente um músculo propulsor de energia no Brasil. São Paulo tem () muita beleza. Nós temos museus maravilhosos, mas eu pergunto, quanta gente os conhece? Nós temos clubes extraordinários com grandes programas culturais, mas quem os frequenta? Nós temos realmente poucas bibliotecas, também quem as frequenta, né? Ou parece que o, a estrutura de entidades culturais está montada mas lhes falta aquele estímulo, que seria a frequência ãh... ob, quase que obrigatória da população. Quando a gente fala o museu de arte sacra, todo mundo ah é ali, mas ninguém visitou. Quando muito assistiu um programa de televisão, porque a televisão é realmente um elemento de comunicação extraordinário, então assistiu um programa de televisão e viu, () museu de arte sacra, mas visitá-lo mesmo, isso, () A pinacoteca do estado, essa palavra pinacoteca até já saiu de, da linguagem coti> circunscritos a grupos que podem encontrá-los, encontrá-los livros ãh, difíceis de ser adquiridos, bibliotecas poucas, e muitas vezes com horários ríg> porque quase que nós poderíamos falar escolas antes da reforma de setenta e um e escolas depois da reforma de setenta e um Eu tenho a impressão de que São Paulo tinha o melhor sistema escolar público e realmente estava no caminho certo de uma estrutura escolar que, combinando a aceitação tradicional da es da... escalonação de cursos o ginásio, o colegial e as tendências modernas da educação ia chegar a um ponto () (tosse), mas a reforma realmente truncou isso. Nós temos hoje uma escola dentro de uma filosofia completamente estranha à tradição brasileira. Lidando com crianças pobres, esse é o meu hobby. Eu faço uma assistência às crianças pobres em todos os meus, todos os meus mo> Verifiquei sempre que os pais desejavam ardentemente que seus filhos po> () o ginásio. Isso consegui status da famílias () era muito importante, ho> SPEAKER 0: SPEAKER 1: Então, o que se vê é que a estrutura dessa nova escola está divorciada do plano tradicionalmente aceito. E até, que ela venha a ser aceita pelas famílias, pelo mu> undo, ainda vai demorar muito. Hoje, naturalmente, como reforma, eu acho que essa reforma realmente não é uma reforma, ela é uma revolução. () Ela quebrou E tem de colocar outra (), mas não colocou até hoje. E... O que nós estamos vendo é que o ensino em São Paulo é hoje dos mais precários. Os nossos alunos estão saindo da escola sem aprender nada, porque aprender não é mais fornecer ao aluno Aquele cabedal de conhecimentos sem os quais, o quais o homem não pode viver em sociedade, como dizia o Fernando de Azevedo. Hoje, você tem que fornecer ao aluno meios para enfrentar os problemas da vida diária. Ele tem que aprender, principalmente, métodos de trabalho, métodos de vida, para poder usá-los na situação da vida real. E quais são as escolas que fazem isso? Não há meu ver nenhuma esta Os próprios professores estão despreparados para isto. Então, a situação de escolas em São Paulo, escolas de primeiro grau, escolas de segundo grau, na minha opinião, esta situação é realmente muito precária. Nós estamos vivendo um momento duríssimo em que as escolas caíram demais, hoje Os nossos alunos merecem coisa melhor. Nós estamos subestimando a criança A criança mereceria escolas melhores, professores melhores, tudo de ótima qualidade. Por quê? Quando não havia nenhum desses recursos da tecnologia de educação, quando realmente nós tínhamos apenas a escola de giz e quadro negro, a criança era alfabetizada em um ano. Por que agora se demora três anos para alfabetizá-la. Mudaria a criança () realmente Ora, não não () lógica a conclusão (risos) A criança deveria ser alfabetizada muito mais rapidamente com os recursos que existem agora. Então, eu penso assim muito tristemente na e> éstico. Acho que o empregado doméstico tem que passar para uma categoria de indivíduo sindicalizado com sua carteira de trabalho ir à casa e trabalhar algumas horas e ser pago pelas horas de trabalho. Por quê? É um absurdo que um sirva ao outro dentro de uma casa e nas condições que nós estamos vivendo agora. Acho que isso é, eu chamo, um sinal de subdesenvolvimento. O indivíduo desenvolvido não pode ter o seu semelhante nessa posição. É out> Porque as agressões, os assaltos estão aí. Não se vai mais a um teatro, não se vai mais a um cinema, porque ao terminar você não dispõe de um meio de condução fácil e acessível. Bom, isto tudo é... aquele... éh, desestimula as entidades culturais, como eu disse. E vai também fechando o indivíduo, isolando. Até dinheiro que realmente me entra incrível, como nas grandes, nas mais modernas civilizações da Suécia, etecetera em que a solução veio a ser o suicídio. Este é um problema do qual eu não entendo muito bem, porque realmente eu gostaria que o aparato fosse quantitativo e qualitativo. só quantitativo, como é em nosso caso, absolutamente não interessa. Nós gostaríamos de ter uma polícia que realmente fosse qualitativamente apoio para a população e não como nós temos. Agora, o sistema penal também, eu discordo muito. Eu acho que a ociosidade é a mãe de todos os vícios e deixar prisioneiros numa cela sem fazer nada é um ab> Isso é um absurdo. Eu compro de tudo. Eu compro de tudo. Por quê? Como diretora de uma obra social, eu tenho de comprar desde o queijo, a carne, o pão, etecetera, para para as crianças do internato, ãh, como roupas, de modo que essas lojas eu tenho que frequentar todas Agora, como dona de casa, eu também tento fazer isso em (risos) escala muito menor aqui na minha casa, mas um tipo de compra diferente, porque aqui eu já seleciono mais ãh outros tipos de... de roupas, de tecidos, etecetera, para uso de casa. Dizer assim, quais as lojas que a gente mais frequenta, não é fácil. Acho que a gente frequenta todas as lojas, as utilidades domésticas, a Sei lá, os supermercados, as... éh, enfim. Todas, eu acho que todas, os elétricos domésticos, móveis, tapetes e as grandes lojas de serviços, né? Onde se conserta isso, onde se arruma isso, porque (risos) também esse é um problema que a gente SPEAKER 0: tem de enfrentar. () SPEAKER 1: no bairro. Aliás, eu acho muito importante a gente prestigiar o comércio do próprio bairro. É uma forma de... ganhar vantagens. Uma vez que o... o bairro, tendo uma boa clientela, melhora suas lojas, melhora os os seus recursos. E moro mesmo num bairro altamente privilegiado, porque aqui existe de tudo a toda hora e em todos os pontos por onde a gente andar. E uma das razões pelas quais também eu não me mudo desse bairro (risos). Está, o bairro está bem servido também. É difícil precisar se consertar alguma coisa fora do bairro. Assistência técnica e eletrodomésticos, que é uma coisa que toda hora a gente está precisando, aqui existe bem e também há aquela ah... distribuição que eu acho bastante interessante, de uma oficina colocada em cada bairro, com vários profissionais pedre ãh pedreiros, encanadores, etecetera, e funciona SPEAKER 0: muito bem aqui no nosso bairro. E demais estabelecimentos comerciais? SPEAKER 1: Bom, eu prefiro, sem dúvida alguma, aquelas grandes lojas onde a gente pode comprar de tudo. Não temos tempo para pesquisas muito grandes. É provável que um tipo de população prefira as ruas onde um determinado ou alguns determinados produtos são comercializados. Eu diria, por exemplo, roupas. Todo mundo compra na José Paulino, porque pode então fazer uma acariação de preços, uma avaliação do da do material em várias lojas. Isso é muito bom para quem dispõe de tempo e ajuda quem dispõe de pouco numerário. Agora, eu prefiro fazer compras nas grandes lojas, porque eu não disponho de tempo e ali eu encontro alguma variedade, talvez não tão grande quanto lá, Mas pelo menos eu posso comprar ao mesmo tempo um prato, uma toalha de banho e um televisor. Mas que essas lojas eu prefiro. Mas, é, as pequenas lojas do bairro também servem muito bem. Opelarias, etc, que a gente utiliza. Mas eu acho que São Paulo nesse sentido está muito bem servido de lojas. Eu não vou brigar com o prefeito Setúbal porque não abre mais o supermercado ao domi (risos) aos domingos. Realmente, eu fazia muitas compras aos domingos e achava ótimo poder comprar no supermercado. Mas é, de fato, as razões do prefeito devem ser ponderáveis quando ele determina que não se abram mais os supermercados aos domingos. E... os superm> E isso também ocorre em São Paulo, mas eu acho que em Buenos Aires a coisa é muito mais séria e muito mai, e em maior grau. O nosso comércio nessa parte de relacionamento eu acho que perde um pouco. Não sei também se nós estamos com uma invasão de vendedoras estrangeiras. Nós achamos muitas vendedoras falando quase que um castelhano, não português, nas lojas. E, afora, aquelas que falam os ês abertos do Recife e de outros lugares do Nordeste. É difícil mesmo essa adaptação. Mas, para um comércio tão grande como este, há possibilidade de escolha e algumas lojas geralmente são melhores, bem melhores e o tratamento bem melhor. Eu diria que, quanto ao comércio de São Paulo propriamente, ele é muito mais sério, Eu sempre lembro das tais ofertas, que eu acho bárbara, quando o indivíduo acaba comprando o que não quer, pelo preço que não é correto, somente porque a propaganda está se intrometendo aí. Isso, infelizmente, está ocorrendo muito aqui. E para um comprador despreparado, não é muito bom. Enfim, para o comércio, parece ser bom, porque todas as lojas têm as suas ofertas, num cantinho qualquer. Aqui fica então o nosso agradecimento pela sua colaboração ao projeto.