Inquérito SP_DID_286

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : Bem, eu acho que a tem que ter um uma esperança muito grande de que o país possa caminhar para um uma normalidade cada vez maior. Embora a gente sinta que o aspecto do mundo todo está se refletindo aqui no no Brasil e que a as consequências estão se fazendo sentir, O Brasil ainda é um país onde se pode viver. Quando a gente olha, por exemplo, a Argentina, aqui na nossa vizinhança, Uruguai, os outros países de língua falada espanhola, a gente nota que os outros estão em pior situação. ### morrendo, estão sendos comido pelos urubus, porque a carne está tão desvalorizada que não não há vantagem em vender a carne. Então, tiram a pele do boi e deixam a carne entregue aos animais. E nesta base, eu acho que, apesar de sentir um certo temor pelo ano que se aproxima, principalmente no setor econômico, eu acredito que ainda o Brasil é o país onde a situação está melhor. Tudo que se sse nota aqui, a meu ver, pelo meu meu sentir, é consequência da crise mundial ligada nitidamente ao petróleo, a questão do petróleo. E E se o petróleo encareceu, e se nós dependemos dele, tudo mais encareceu, tudo mais se tornou difícil. E E mesmo a economia brasileira que estava se situando numa perspectiva, com Delfim Netto, de aparente prosperidade e de aparente saída de buraco, parece que agora há uma estagnação e um certo temor de que aquele aquele progresso brasileiro tenha sido um mi ito. Então, essa é a minha

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 1: : O nosso governo? ### Uma revolução que não foi consumada. O que eu estou dizendo é uma coisa muito séria. Porque apenas metade dos antigos governantes de que nós nos queixávamos é que foi excluída. E Excluiu-se totalmente o pê tê bê E que fazia parte o gov o presidente da república. que aliás não passava de um fantoche. João Goulart não passava de um fantoche na mão de uns tantos áulicos, que dele faziam o que queriam, prejudicando totalmente até o bom nome do Brasil, que ia afundando a cada momento. N Nós que fizemos parte da Revolução Branca, pensávamos que fosse coisa muito mais séria, E acabamos verificando que era um leão de manteiga, derreteu-se. Desapareceu, fugiu. E com ele fugiram muitos dos áulicos que o cercavam e que eram grandes delapidadores da fortuna brasileira e grande ganhadores dos recursos do Brasil. De modo que, como foi só metade dos antigos asseclas de João Goulart, que foi banida, porque ficaram aí muitos e muitos que faziam parte ainda. E o que estou dizendo agora Eu disse ao próprio Castelo Branco, reclamei como mulher, como líder feminina que sou, liderando um grande grupo de mulheres, eu interpelei como Nós, mulheres, que toda a vida demos o nosso esforço, o nosso trabalho, o nosso sacrifício, podemos ver ainda aí campeando ladrões, outros ladrões que fugiram, todos eles ridicularizando a nossa grandíssima esperança de melhores dias. Como isso ficou meio a meio, pê esse bê ficou todo aí, dando as cartas. L Logo depois, nós tivemos Filinto Müller dentro do governo, o terrível Filinto Müller, dominando uma situação, e ainda temos hoje mais dois ou três egressos daquele grupo. Eu ainda não estou satisfeita. Eu não sinto aquela segurança que devia haver depois de uma revolução. E E tanto é assim que a mensagem que o Márcio vai mandar ao governo tem essa pergunta, mensagem de Natal. O povo pode estar tranquilo? A A esperança é de que sim, porque todo todo ano que acaba deixa um pouco de saudade, embora cheio de apreensões, e traz, dentro da inquietação, uma esperança renovada. Pode ser uma coisa um pouco infantil, um pouco sentimental, mas a gente sempre espera que o ano que vem será melhor, né? Se nós perdermos a esperança, então não há mais o que fazer, porque esperança é a última que morre, né? (risos) De modo que nós não estamos satisfeitos. N Não vemos na organização do Brasil, e nem do Estado, aquela firmeza, aquela segurança que nos dá tranquilidade. É preciso que tenhamos tranquilidade. É preciso que tenhamos confiança. M Mas, qualquer de nós, quando vai aplicar uma sobrinha de dinheiro, pensa dez vezes. Por quê? É proibido importar. Então, as pequenas indústrias absolutamente não podem mais agir. Porque a importação é de tal forma difícil hoje, naturalmente vocês conhecem. Naturalmente vocês sabem. que se você quiser importar no no valor de vinte mil dólares, você tem que depositar no banco central vinte mil dólares, que ficarão presos lá por um ano, sem juros, quer dizer, capital morto. Olha, só os grandes podem fazer isso. Há uma iniquidade nesse setor. N Nós não podemos nos arrogar fazer um cartel de qualquer coisa. como o ministro disse que deveríamos fazer um cartel de soja e de milho. Conversando com uma alta autoridade, ela me disse, isso é piada de palhaço, cartel de milho contra cartel de petróleo. A Agora, a crise do petróleo está refletindo também neles, nos vendedores de petróleo, porque eles estão no ponto de beber petróleo, vestir petróleo, éh comer petróleo, porque eles estão cheios do dinheiro do petróleo, estão quase numa situação de desespero, que assim que ele pode, propõe que se reduza o preço do petróleo para voltar ao equilíbrio. De modo que a situação do mundo é de inquietação para nós e para eles. Nós porque não temos petróleo Eles porque tem petróleo demais e não sabem o que fazer de tanto petróleo. Estão capazes até de fechar poços. ### Soubemos de fonte segura que no sul da Argentina, no sul da Argentina, mata-se o boi, tira-se o couro e joga-se o boi inteiro aos corvos. Porque eles não sabem o que fazer as sobras de carne que eles não podem exportar por falta de transporte.

SPEAKER 2: : Deixa eu pensar um pouquinho.

SPEAKER 1: : Nós pensamos muito sintonicamente porque vivemos juntas, estudamos juntas, participamos de muitas associações juntas. De modo que há uma sintonia, embora às vezes haja discrepância de ponto de vista, não é? Eu, como muito mais velha, muitas vezes sou muito mais pessimista, porque muito mais vivida. Eu me lembro de ter conversado uma vez, quando eu tinha sessenta anos, eu conversando com um um bispo que tinha oitenta anos, num certo ponto eu discordei dele. da opinião dele, lá num num ce rto assunto. Ele disse, viva mais vinte anos e pensará como eu.

SPEAKER 2: : Eu acho que aí é ponto de vista mesmo. Ahn Cada um tem um (tosse) uma linha de conduta, né? E, por exemplo, a a tia é muito política, e eu já não sou. Então, ela pende muito, tudo ela vê em termos políticos, e eu já não vejo. E E, às vezes, ela é pessimista nesse sentido, ela acha que está tudo perdido, que não há não há jeito, e eu acho que não. Então aí que a nesse ponto que ela falou, que a gente se concorda em muita coisa, discorda em certos pontos, acho que é o o centro está aí, porque ela vai logo para o lado político, e eu não vou. Então, acho que o a diferença está nesse sentido. A Agora, a respeito do da questão do petróleo, vocês me perguntaram a antes sobre a situação do Brasil, Eu vejo também o seguinte, agora ahn o governo está proibindo a importação, né? É proibido importar e é obrigado a exportar. Exportar muito, importar pouco. Mas a gente sabe perfeitamente que a balança comercial se faz em termos de da cá, toma lá, né? Se eu não importo, o outro não importa o meu produto também. E Então, nós vamos chegar ao que está acontecendo na Argentina e no Uruguai, que eles estão com carne em abundância e não tem importador para a carne. Eu estive conversando com um rapaz uruguaio e ele me disse que estão comendo carne a seis cruzeiros o quilo e carne de primeira, que a carne de segunda nem está sendo comida. E eu disse, mas por que essa situação, não é, no Uruguai? Então, ele estavam me dizendo que é porque não importam, que a Europa simplesmente fechou a importação de carne do Uruguai. E Então, eles alegam que a carne está contaminada, que a carne não não é bem cuidada. Então Qualquer pretexto, e pron pura e simplesmente, não importam mais a carne uruguaia. E com o Brasil, o o receio é que fechem a importação de produtos brasileiros. Porque se nós não im não podemos importar, eles também vão fechar, isso não há dúvida nenhuma, vão diminuir e muito. E como nós estamos sofrendo as consequências da situação econômica, os outros países também estão sofrendo as consequências, somente que lá eles têm condições para aguentar mais tempo. E o Brasil, as a gente sabe perfeitamente que a situação aqui, nós estamos emergindo de uma situação difícil, né? Começando a pôr a cabeça de fora, até se falava tanto no célebre milagre brasileiro Agora a gente vê que o milagre brasileiro parece que era um mito.

SPEAKER 1: : E acho que essa situação é que... Não é que o milagre brasileiro fosse um mito. A A questão é que, por uma teimosia do presidente da república, alterou-se a linha de conduta. A Alterou-se. Trocou-se um homem que era uma máquina registradora em matéria de economia e finanças, por um meio poeta, que ora diz, ora desdiz. Não tem aquela firmeza, porque indiscutivelmente, no governo passado, houve uma ditadura econômica, ditadura econômica que eu conheci quando estive na Secretaria da Educação, porque nós, outros secretários, tivemos que nos submeter à ditadura econômica do Carvalho Pinto.

SPEAKER 2: : A senhora não acha que essa ditadura econômica Essa ditadura econômica foi muito drástica para o povo?

SPEAKER 1: : Um povo que não tem o nível de cultura suficiente, um povo que ainda não pode dizer que não há analfabetos no país, um povo que se está fabricando alfabetizado para eleitor, precisa de autoridade, precisa de disciplina. E essa falta de disciplina é que perde muitos programas.

SPEAKER 2: : Mas não não é nesse aspecto que eu vejo, não. E Eu vejo no no aspecto econômico, que o povo, com aquela com aquele cin cinto apertado do Delfim Netto, ficou com o salário muito baixo, que este governo abriu.

SPEAKER 1: : Ficou com o salário muito baixo, mas o custo o crescimento do custo de vida não foi vertiginoso como foi agora. Eu tenho a experiência dolorosa de ter gasto num semestre neste ano, com a associação beneficente que eu dirijo, num semestre eu gastei o total do ano passado. E Eu passei de uma despesa de quinhentos, seiscentos mil por dia para O que se fez agora por essa indisciplina? Primeiro some o produto. Primeiro some o produto.

SPEAKER 2: : Depois sobe e aparece. Eu acho que precisa ratificar. Seiscen tos cruzeiros por dia passou a mil cruzeiros por dia. Mil e seiscentos. Mil e seiscentos por dia a senhora ### falou seiscen tos mil por dia. Bom então foi

SPEAKER 1: : Um lapso ### Agora, a questão é que eu tenho uma escala de valores. Porque as cri eu o número de crianças é o mesmo, o tratamento é o mesmo, o pessoal é o mesmo, mas eu, neste mês, pagando as despesas do mês de novembro, neste mês, que é o terrível mês dos do décimo terceiro, ainda se fala até em décimo quarto salário, como se um ano passasse a ter quatorze meses, era só modificar, era só modificar, fazer o mês de vinte e oito dias, né? Nós teríamos os ca Esse mês eu deixei quarenta mil cruzeiros lá para pagar as as despesas. É uma coisa absurda. E E de modo que se nós conseguíssemos aquela disciplina durante três anos mais, nós não estaríamos nessa situação. ###

SPEAKER 2: : Sim, mas o Delfim Netto não pegou a situação que este pegou, né? Porque o Delfim pegou uma situação calma, de política externa tranquila. E E agora este pegou o o problema do petróleo que eu queria ver como é que o Delfim resolvia.

SPEAKER 1: : Chamaram o Delfim agora. Chamaram o Delfim e ele está aí. O telefone entre entre o Brasília e o Delfim manteve-se há três ou quatro meses que se mantém. Estamos na situação de pedir àquele que pode, que sabe, qual é o remédio agora. Porque nós não esta estávamos numa medicina preventiva.

SPEAKER 2: : Eu acho que uma coisa é dar palpite, outra coisa é pegar, pôr a mão na massa e fazer. E

SPEAKER 1: : Ele fez. Ele fez. E nós tivemos, como eu disse, a experiência aqui. Quando eu fui chamada para a Secretaria de Educação, é uma secretaria dispendiosa, muito dispendiosa. que não deve fazer política, e foi declarado pelo governador que haveria uma ditadura econômica porque São Paulo não teria meios de continuar a pagar as suas dívidas, nós todos os secretários nos submetemos à ditadura econômica. Desta arte, nós saímos do poço, porque basta não roubar para que se consiga e, aos poucos, equilibrando as finanças. A A nossa situação no Brasil é tremenda. Por quê? Primeiro, falta aquela disciplina. E E, segundo, eu não confio nos no ministros que estão aí. E digo isso alto, não tenho medo de de represálias, porque não dependo do governo, não preciso dele. De mo

SPEAKER 3: : do que os. E os outros órgãos governamentais? N

SPEAKER 1: : Não confio.

SPEAKER 3: : A senhora pode cita-los?

SPEAKER 1: : Eu não con não confio absolutamente no ministro da Fazenda, que é o pivô no momento. ### Ora, se nós não temos firmeza nisso, nós acabamos de ver a crise dentro do Ministério, em que os principais assessores declaram que há um ano vinham aconselhando isso que se fez agora de chofre, porque o que se fez foi uma explosão, uma explosão do dia para a noite. Faça ideia, você e seu marido amanhã e diz, não temos mais um tostão, vamos mudar aí para um quarto de hotel. É a nossa situação no Brasil, é a nossa situação no Brasil. A Agora, Então, todo mundo tem que apertar o cinto. E E do dia para a noite. A Agora, por outro lado, sendo um ano político, o governo tem que desapertar o cinto (risos) Tem que satisfazer o povo. Satisfazer no lado que ele acha que é mais eficiente, que é o lado econômico, dando aumentos de vencimentos. N Nessa época, um aumento de vencimentos é engolido pelas festas de Natal.

SPEAKER 2: : Eu acho que o povo não tinha mais condições de sobreviver sem que viesse esse aumento de vencimentos. No ano passado, nós tivemos trinta e cinco por cento de aumento salário mínimo, né? E Este ano, acho que vem mais trinta por cento, trinta e cinco por cento de aumento. E A a e o povo está sempre na mesma situação, porque a distância continua a mesma. Porque o a A subida do custo de vida foi tal. A gente vê pela por cada uma de nós, pode dar a sua experiência pessoal. Quem vive de ordenados, quem vive de de do que entra mensalmente, sabe que precisa equilibrar. para dar certo no fim do mês. E o operário, o pequeno funcionário que ganha o estritamente necessário para sobreviver, não para viver, mas para sobreviver, eles devem estar em situação de penúria. E E con conversando mesmo com pessoas assim, eu gosto muito de conversar com motorista, com pessoal assim, e eles dizem que... eles olham as coisas de Natal, que estão muito bonitas, mas que eles não têm condições para comprar. Não têm condições para comprar nada. E mesmo ahn quem foi ano passado às lojas e vai este ano, nota uma uma queda de freguesia muito grande. E E também uma queda de mercadorias muito grande. Há muito menos mercadorias este ano do que ano passado. A

SPEAKER 1: : A questão, eu quando é eu olho a coisa do outro lado. Por que aumentar? os salários e deixar que o comércio aumente o dobro, o preço das coisas? O governo não tem força, não tem autoridade, não tem disciplina para conter o aumento do custo de vida. N Não adianta dar mais dinheiro para quem não tem a educação econômica. Como educadora que eu fui toda a minha vida, aos quinze anos eu era já professora e com classe, e atravessei a minha vida como educadora e trabalhadora social, quanto mais ele gastar, ele ganhar, mais ele gasta. S Sem conta, sem medida. O Outro grande erro é esta bola de neve estabelecida pela venda à prestação. ### O problema, o grande, o grande, o máximo problema do Brasil e do mundo será a falta de educação em todos os setores. Educação moral, educação cívica, educação doméstica, Educação econômica. Toda Todo problema reside nesta educação. Eles não sabem gastar, não sabem ganhar, não sabem economizar. E ###

SPEAKER 2: : A esse respeito de de prestação, eu tenho oportunidade de lidar com moças, mocinhas que começam a trabalhar em pequenos empregos. Por exemplo, auxiliares de enfermagem, ahn lojas, e casas, es escritórios. E E essas meninas ganham bem mais que o salário mínimo. Chegam a receber aí mil todas elas têm uma situação de vida dificílima. A As que moram em pensionato estão pagando seiscentos, setecentos cruzeiros para morar duas, três num no mesmo quarto. E o que sobra tem que se vestir, que tem que se apresentar bem e tem que ajudar a família. E E todas estão em situação difícil. Algumas apenas trabalham para receber, para comer e nada mais. Período de férias, elas não têm condições de sair de São Paulo, então ficam enfurnadas dentro do pensionato e nem querem férias. I Isto não é nem uma nem duas que fala me que me conta esse problema. E eu então fico pensando, que fazer com este grupo de meninas que está iniciando o trabalho e com um salário razoável para se ver. Mas como não mora com a família, não tem condições de sobrevivência. E Então, o único jeito de ter alguma coisa é o a prestação. Então, elas querem, por exemplo, um rádio, querem uma televisão, querem uma roupa melhor, o único jeito é a prestação. Não há outra alternativa. E uma me dizia, como, se eu não não comprar a prestação, eu não tenho não posso me vestir? De modo que é uma situação de fato, eh e o comércio diz a mesma coisa, que se não houver a prestação, o eles não podem subsistir, não podem sobreviver.

SPEAKER 1: : Foi o que eu chamei uma bola de neve. A Agora, há o há uma obrigação de que eles, ao anunciarem, Digam, tantas prestações de tanto, à vista, tanto, para que a pessoa faça o cálculo, se ela é ou não é capaz de mobilizar mensalmente uma certa quantia para esperar um pouco. Mas é questão de uma certa pressa. Todo mundo quer tudo hoje, agora, nesse momento, aqui. Ninguém quer ter paciência. Falta de educação em todos os setores.

SPEAKER 2: : De fato, há falta de educação mesmo. M Mas nós estamos com uma televisão e um rádio gritando a noite inteira, porque a hora que eu me acordo, eu ligo o rádio, está gritando o rádio. E E a televisão gritando o dia inteiro. Compre isto, isto é melhor. Isto custa tal pouco. Apenas. E isto traz tais e tais vantagens. Não jogue seus encantos no tanque. A A cozinha não precisa mais ser feita. Você compra pronto a co pronta a comida do neném. É só comprar as latinhas e e mexer as latinhas lá e está pronta a comida do neném. De modo que cria necessidades e cria ahn um desejo de ter tudo aquilo. que é irresistível. Não há condições de resistir. Se nós não resistimos, o que dirá o povo que não tem outro outro meio para se distrair, para pensar, para julgar?

SPEAKER 1: : Ele tem que que entrar mesmo. Vê como nós pensamos diferente? Porque eu cresci e estou com oitenta e quatro anos, não nasci em berço de ouro absolutamente. Nasci de uma família que tinha uma vida equilibrada, em que havia disciplina, éramos onze irmãos. M Mas com aquela disciplina, o pai é o chefe da família, o provedor da sua manutenção, a mãe é a dona de casa, a mãe de família, pode, pode, não pode, não pode. () A máxima do meu pai era esta, o superfluo é sempre caro. Quanto ao necessário, não se discute. Ora, isso é uma máxima que todo mundo deveria guardar, mas não. É É o imediatismo. É já, é agora. E Eu vejo muitas vezes meninas aí que querem começar onde eu acabei, depois de quase cinquenta anos de trabalho.

SPEAKER 2: : E começam mesmo. E começam mesmo. Por que que eu vou começar a vida hoje e não vou ter uma geladeira e uma e uma televisão? Eu quero uma geladeira e quero uma televisão. E por que não? Se eu posso comprar a prestação, eu compro a prestação.

SPEAKER 1: : E eu tenho hoje. Ficam depois incapacitadas de pagar as suas dívidas. A A quantidade de devoluções nós vemos nas liquidações que fazem de vez em quando, né? Quer dizer, quer hoje, daqui a dois, três meses, não pode continuar a pagar, então fica sem ela. E E lá foi o dinheiro todo que tinha dado.

SPEAKER 2: : Mas dizem que quando a gente tem crédito, a gente compra a prestação. Quando a gente não tem crédito, que não pode comprar de jeito nenhum.

SPEAKER 1: : porque não fazer imediatamente esta abstenção. Mas nós estamos falando de coisas muito terra a terra, que é o pão nosso de cada dia.

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 1: : ### caderneta de poupança.

SPEAKER 2: : Está certo, né? E essa medida de de defesa do consumidor? Bom, nós fizemos

SPEAKER 1: : essa campanha

SPEAKER 2: : A caderneta de poupança eu acho uma medida muito interessante, porque a pessoa se habitua a economizar e se entusiasma com os aumentos trimestrais, e ela, então, se poupa um pouco de despender tudo nas prestações. Desde que ela tenha uma sobra, principalmente o décimo terceiro, que entra, às vezes assim, numa hora que ela não está bem sabendo o que vai fazer com ele, então torra, aquele dinheiro em presentes que depois não não voltam mais. Então, a a caderneta de poupança eu acho uma boa medida. Educativa. Educativa é construtiva. A Agora, oh os comerciantes viram a a possibilidade e de ganhar dinheiro dentro da caderneta de poupança e começaram a aplicar grandes quantias em poupança. Foi quando o governo, parece-me que deu uma brecada, exigiu que eles retirassem o dinheiro no fim de cada ano. Não tenho muita certeza de qual é esse mecanismo, mas eu sei que há qua uma medida qualquer nesse sentido. E E que só até um teto xis é que há possibilidade de manter esta poupança. Então, esses grandes magnatas que estavam usufruindo de um benefício que seria mais de cunho popular. Mas eu acho uma medida muito boa. produtiva e acho que foi um meio do povo se voltar um pouco para um uma economia sem ser miséria, é no sentido construtivo. Ah

SPEAKER 1: : A questão da cadeira de poupança? Foi um meio de mobilizar dinheiro, o governo precisava de muito dinheiro, E só a Caixa Econômica não atraía, porque os juros eram mínimos. E com a correção monetária, mui o o governo atraiu tantos capitais que os bancos ficaram assustados. Porque muita gente que tirou dinheiro do banco que estava parado, porque foi proibido pagar juros além de de uma miséria. E Então, esse dinheiro todo foi carreado para o governo. Foi carreado para o governo. E houve, então, uma folga para o governo. () Deu um bom resultado, mas como era recíproco o interesse, não se pode condenar. A Agora, há um pes os pessimistas, principalmente os esquerdistas, que não chamam a isso caderneta de poupança, mas sim de papança. (risos) ### ### ### Agora, como eu disse, é uma forma de educação muito remunerada. ### É um crime de lesa pátria, porque eles substituíram o jogo do bicho pernicioso por esse jogo da lo da loteria esportiva perniciosíssimo. Se vo Não sei se vocês sabem, mas há pessoas que chegam a jogar mil cruzeiros num dia. L Logicamente, gente que tem mais dinheiro, mas isto tudo é tirado da economia do mês. Isso tudo não cai do céu. E Essa gente deixa de comprar, muitas vezes, o leite para criança para jogar na loteria esportiva. E aquilo todas as semanas, todas as semanas, todas as semanas. S São os duas imputações contra o governo do Médici. Eu sempre apoiei o governo do Médici. A Achei que ele é um homem de muita sorte, que passou o governo todo dele na mais doce serenidade. mas ter aprovado a loteria esportiva, uma, e ter dado o dinheiro do ouro para o bem de São Paulo, para não sei quê, sem ser ouvido o gove o o povo de São Paulo, são os dois crimes que eu imputo ao Médici, com quem eu nunca falei. Eu falei com Castelo Branco para reclamar dele, Falei com o o outro... Como é o nome dele? Eu, quando não gosto da pessoa, esqueço o nome.(risos) Como é o. O mi Minhocão. Costa e Silva. O Costa e Silva. E Ele se queixando a mim. Eu sei que o os estudantes são subsidiados, eu sei que eles recebem dinheiro de estrangeiro. Eu simplesmente disse, sabe por que não pune? Não sou eu que posso punir. Não somos nós as mulheres que estamos aqui para conversar com o senhor que vamos punir. É o governo que tem que agir. Que haja com firmeza. Que é o que nós estamos pedindo ainda agora na mensagem do MAF. Que nós possamos estar tranquilos porque sabemos que o governo está com segurança em ação preventiva e repressiva. Sem isso nós não podemos ter tranquilidade. Mas voltando ao setor econômico, continuo a dizer que muitas vezes essas pessoas de poucos recursos estão com os seus salários empenhados até o fim do ano que vem. Justamente por esta prática comercial. Compre agora e começa a pagar em abril. Quando for começar a pagar, às vezes já gastou a coisa que eles compraram. Agora, quem compra à vista exige, escolhe, seleciona. Quem compra a prestação recebe o que vem. Muitas vezes é um refugo. É uma coisa que precisa imediatamente entrar para o concerto e tudo mais. () Volto ao meu problema. E Educação do povo. M Muito mais do que decorar geografia e história, deveria aprender a ganhar e gastar. S Saber escolher. Foi essa publicação que o Movimento da Regimentação Feminina distribuiu. Baseado no trabalho que o Neder fez nos Estados Unidos, nós lançamos aqui a campanha de educação do consumidor. E hoje tivemos notícia de que parece que está feita a coisa aí, um uma uma espécie de consulado para onde a gente possa reclamar quando é enganada por um comerciante ### Bom, nós vivemos naquele sonho de democracia. Não sei se vocês sabem que quando foi proclamada a república, não havia no Brasil, eu creio que nem doze mil pessoas que fossem capazes de votar. Porque alfabetização estava muito atrasada, Menores não votavam, mulheres não votavam, de modo que as primeiras eleições na República dizem... Os eleitores eram péssimos, as eleições eram péssimas, porque dizem que tudo era feito a bico de pena, mas os eleitos eram bons. O que veio a ser invertido mais tarde Em que as eleições são ótimas, mas nem sempre os eleitos correspondem, né? De modo que ainda estamos nessa situação de escolha, porque com o Mobral, então, vai haver uma... Houve uma fábrica de eleitores capazes de, talvez, ler o o questionário e escrever o próprio nome, mas incapazes, não tenho dúvida, de discernir como escolher um eleito.

SPEAKER 2: : O problema da eleição se põe também no sentido de que o povo tem que escolher um um candidato do qual ele não conhece nada. A Às vezes va o candidato vai para a televisão e faz um uma propaganda, um protocolo, um programa dos do seu trabalho, mas que é só. Então ele ele vota no escuro. Então o que faz o candidato? vota no artista de televisão que ele conhece, vota no jogado, o elei o eleitor, vota no no cand no que ele conhece, no artista de televisão, vota no jogador de futebol que ele conhece, vota no amigo ou vota porque o ca o candidato prometeu alguma coisa.

SPEAKER 1: : É ainda o coronelismo, queiram ou não queiram, ainda há os chefes de clã que levam os eleitores. Voltamos ao meu tema, educação. O O Mobral não educa, o Mobral ensina a ler e escrever e faz eleitores. E

SPEAKER 2: : o povo, ultimamente, vota contra. En Então, vota num animal, vota, como aconteceu em uma cidade do interior, numa pessoa anormal, era um bobo assim de rua, um tipo de rua, e os estudantes, os estudantes, para fazer brincadeira, reuniram o povo e disseram, vamos votar em fulano? Pois o fulano foi o que teve maior número de votos. Quer dizer, foi uma forma de votar contra.

SPEAKER 1: : Chegou este... homem que andava descalço pelas ruas a ser presidente da Câmara, porque havia um equilíbrio entre os dois grupos de vereadores, e dependia do voto dele passar um projeto que o prefeito queria. E Ele disse, eu só voto a favor, sempre insuflado por terceiro, se vocês me derem a presidência da Câmara. E deram.

SPEAKER 2: : Esse caso não é único? Há muitos por Brasil afora. E o que prova, mais uma vez, o que já se falou aqui tanto tanto, né? Falta de educação. Nós não temos educação política. Nós mulheres não temos educação política. Se nós perguntarmos... Nós não, nós temos. Se nós perguntarmos a uma mulher aí na rua quem é o presidente da república, ela não sabe. Se perguntarmos quem é o governador do estado, ela não s

SPEAKER 1: : sabe. Mas sabe

SPEAKER 2: : Eu estou falando das mulheres. A Agora, operário, o trabalhador, talvez saiba. Talvez. Ainda ponho um talvez. Porque se fala na fábrica, se comenta, o governo não presta, quem é o governo e tal. E Então, ele talvez saiba. M Mas nós não temos formação política. A Agora, quando chega na hora de votar, ele tem que escolher. Escolher inúmeros deputados. Como é que ele vai escolher os deputados? Ele não é não pertence a um partido. Não há sentido de partido. E Então, eles não con não são se não são filiados a partidos. Eles não não sentem necessidade de se filiar a partidos. Não sentem o que o partido possa fazer por eles. E, realmente, parece que não faz nada mesmo. E Então, não há educação política. A As eleições são fracassadas.

SPEAKER 1: : E é o que eu fo foi o que aconteceu agora nestas eleições. A A Arena fez como aquele português que queria que o filho nascesse na França, porque assim, português, ele já nascia sabendo e aprendia a falar francês. A Arena fez esse caso. N Nós já estamos no governo, para que vamos fazer força? Então, e os outros que não estavam no governo e pretendem estar, tiveram essa vitória espetacular, estrondosa, vergonhosa.

SPEAKER 3: : Para. Quais seriam as implicações, do seu ponto de vista, dessa vitória dentro do mecanismo internacional? Do mercan n

SPEAKER 1: : Não entendi a sua pergunta.

SPEAKER 3: : Essa vitória, que implicações teria no mecanismo internacional? A

SPEAKER 1: : A vitória da Arena? do eme dê bê?

SPEAKER 3: : Tem muitas. A senhora poderia citar?

SPEAKER 1: : Ligações, porque o número foi muito grande de vencedores. E a espécie não tanto. E talvez haja, talvez, fique bem claro isso, haja entre os elementos vencedores alguns que interessem ao mecanismo internacional que nos ameaça. que ameaça o Brasil retirar desta calmaria, porque já não é calma, dessa calmaria em que estamos vivendo. Porque, infelizmente, é preciso a gente clamar sem cessar, é preciso sacudir. A a Há muitos anos um poeta clamava aí na escola, longe se desamore, feia indiferença. E é o que existe. é o desinteresse, eu tenho muito menos medo do Partido Comunista do que do Partido Comodista. Porque indiscutivelmente nós estamos entre um partido contra o comunismo atuante, mas um partido pró-comunista duas vezes mais atuante. E E entre um e outro, uma planície de estagnação. Pronta a gritar, eu já era. E Esse é que o nosso perigo, tanto nacional como internacional. Há os que clamam, ah o governo não faz nada, mas eu pergunto sempre, e você, o que está fazendo? A Afinal de contas, nós não temos só que esperar. Ou Ou atuamos, ou temos depois que aceitar o que vier. Eu como nunca transigi, eu nunca fiquei ausen Eu entrei sempre de cabeça em todos estes problemas. N Não sou política, não sou filiada a nenhum partido.

SPEAKER 2: : Sou contra (risos) O desinteresse, éh talvez vocês já tenham notado, na faculdade e em todos os meios por onde a gente anda, o desinteresse é total. Quando se pergunta numa reunião, porque eu pertenço a vários grupos de estudo, Quando a gente pergunta numa reunião quais foram os fatos que ocorreram nesta semana, você, com surpresa, vê que o pessoal não lê jornal. A A não ser a implosão do Mendes Caldeira, que acho que se falou tanto, tanto, tanto, que todo mundo sabia. Ainda a Na última reunião que eu tive neste ano, de um grupo de umas dez pessoas, Eu fiz a pergunta intencionalmente. Quais foram os fatos que ocorreram nesta semana? Tinha havido a a mudança do governo na Espanha, tinha havido revoluções em Portugal, tinha havido a a independência de Angola, tinha havido, isso no exterior, o sionismo, a questão sionista, e eu disse O governo tinha assinado o acordo internuclear. O acordo nuclear Tinha havido a questão do petróleo. Ninguém sabia nada. Os contratos de risco. Perguntei o que eram multinacionais. N Ninguém tinha noção de que fosse multinacionais. E Então, nós fizemos o propósito de, para o ano, começarmos ahn semanalmen Nós temos reuniões semanai que, semanalmente, nós iríamos focalizar os assuntos nacionais e internacionais de maior importância. E E se comprometeram a ouvir ou ler alguma coisa para podermos trocar ideias. En Então, eu deixei como sabatina. Então, uma vez que vocês não sabem o que são multinacionais, vocês vão procurar saber o que são multinacionais. Vão procurar saber o que é contrato de risco. e vão procurar saber o qual foi o acordo que o Brasil assinou com a Alemanha. E vão le ver qual é a sua opinião a esse respeito. Estou esperando, agora deixei o as férias para voltarmos ao assunto. Mas é doloroso, né? N

SPEAKER 1: : Nós aqui, quando não temos a certeza, nós dez, quinze, vin ### Quando estourou essa questão do fechamento dos supermercados, nós fomos ao presidente da Associação Comercial, para que ele nos explicasse. Mas a explicação dele, absolutamente, ele não assumiu a responsabilidade de dizer que estava certo ou estava errado. Marcou uma audiência com o prefeito, na nossa vista. E o prefeito, sabendo que nós estávamos contrários ou pretendíamos apresentar sugestões, não recebeu o mote ### De modo que o o atual prefeito não ouve, não fala, não quer ouvir, e faz e vai fazendo por paus e por pedras. Faz hoje para desfazer amanhã. Faz hoje para desfazer amanhã. Porque absolutamente ele não sabe o que está fazendo. É É um perfeito macaco em loja de louça. Ele não é engenheiro e assume a prefeitura de uma capital como São Paulo. Com toda a complexidade. com toda a complexidade. ### É como o ministro da Educação. Perguntaram a ele, como? Você nunca foi do setor de educação? Como você aceita um ministério de educação? Ele disse ah eu também não entendia nada de agricultura e fui ministro de agricultura. De modo que tem que errar. E errar, quando se é pequenininho, não faz mal. Mas quando se está lá em cima, não pode.

SPEAKER 2: : Nós estávamos tratando da questão das eleições, né, da questão... Você fez uma pergunta? Os órgãos do ### Mecanismos. En Então, foi falado a respeito da de eleições, né?Democracia. E Eu sou pela democracia c cem por cento. Eu acho que eu nasci democrática desde... Toda a minha vida, nasci e cresci.

SPEAKER 1: : Mas. Democracia para um país de gente alfabetizada e de nível alto.

SPEAKER 2: : Mas, quando foi a um participei de uma reunião, e tive a maior decepção da minha vida. E Era um grupo grande e havia um grupo que estava liderando os demais membros, de forma a obter um resultado que elas desejavam, o que eles desejavam. E eu achei que, democraticamente, a gente podia conduzir a discussão e depois fazer a votação em termos leais e vencer o aspecto que vencesse. Estava disposta a perder ou ganhar. Perder, se fosse o caso. Mas qual foi a minha surpresa? O O grupo liderava os demais, de tal forma que faziam a pergunta e faziam a votação. A A votação era na linha do grupo dominante, do grupo de liderante. Então, eu vi que a democracia estava furada, que as pessoas não eram livres, que o que aquele grupo manobrava os demais. E Então, Não adiantava você argumentar, porque o número favorável àquelas àqueles líderes daria sempre ganho de causa a eles. Então, era inútil qualquer discussão, era inútil qualquer estudo, era inútil qualquer ahn trabalho no sentido. Eu me levantei e eu me levantei e me retirei, se não há o que fazer, porque vocês já ganharam.

SPEAKER 1: : O que acontece nesse grupo, acontece no Brasil. Pois se o eleitorado não está capacitado a uma escolha. Houve uma lei, se não me engano se chamava Lei Saraiva, em que deveria haver uma gradação, uma primeira escolha no ambiente conhecido de um representante que se reuniria com outros representantes até chegar a uma eleição verdadeiramente, em que compareceriam representantes de grupos levando a ideia da maioria. M Mesmo isso num ambiente de analfabetos, porque não é só analfabeto que não sabe ler, é analfabeto que não entende o que lê, é um analfabeto que não lê, porque há inúmeras pessoas para quem ler é artigo de última necessidade. Como na nossa família, em geral, a leitura é um vício. Havia até uma pessoa que podia estar fazendo o serviço que fosse. Se encontrasse um livro, parava o serviço e ficava com o livro. Liga, né? Minha irmã mais velha. Ela parava o serviço e esquecia até da vassoura que ela estivesse usando naquele momento. Nós temos todos na família a livraria que nós descartamos para vir para o apartamento que nós sempre moramos em casa. A quantidade de livros que foi preciso descartar, porque não cabiam no apartamento, é uma coisa enorme. E, ainda assim, a gente se topa com livro de todo lado. A Agora, há pessoas que não leem um livro por ano, que não lê jornal, como ela acabou de dizer, e não estão a par de coisa nenhuma. Agora, como essa gente vai participar da escolha dos seus governantes? Agora, por exemplo, está muito restrito, e a gente se revolta com isso. meia dúzia escolhendo um, porque um mandou que aquela meia dúzia escolhesse. Não está certo. Eu, por exemplo, tinha um candidato para ser governador de São Paulo, mas esse candidato tinha brigado com o Geiser anteriormente, então não foi governador de São Paulo. E Essas coisas que acontecem, de modo que não pode, não estava bom, E, não vamos dizer como o nosso o meu grande amigo Ibrahim Novar, tenho saudade do pior, (risos) porque é doloroso. Nós vemos essa inquietação, inquietação. O meu grande diretor espiritual, Dom Gastão, dizia a inquietação é a pior das situações porque Deus não está na inquietação. Que inquietação é a falta de confiança na providência divina. Porque Deus tem que olhar para baixo. Isto assim não vai ou, pior, vai para baixo. Não é possível. Não se confia em ninguém. E E a minha situação, então, mais desagradável. Nisso tudo, quer dizer vocês sabem e todos os meus amigos sabem, a minha palavra é ouvida. E E isso é muito sério. dizer uma palavra e não assumir a responsabilidade. E Eu brinco sempre. O O meu grande mal, ou a minha grande virtude, é dizer não ao rei quando o rei não tem razão. Por isso levei muitas trombadas na vida. A senhora () sindicatos federativos. Sindicatos

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : ### é uma forma

SPEAKER 2: : O sindicato é uma faca de dois gumes, a meu ver. É É um bem quando ele congrega pessoas que trabalham no mesmo setor e que ampara essas pessoas no seu trabalho, nas suas reivindicações, nas suas promoções e orienta e conduz. M Mas... ajuda a resolver os problemas, realmente ele é um bem. Nos lugares onde há sindicatos bem organizados, os trabalhadores em geral, porque não são só os operários, se sentem amparados e se sentem defendidos. E Eu estive com um grupo de pessoas sindicalizadas de da França e eles falam em termos ahn assim muito positivos a respeito do sindicato. Então, perguntavam a mim como era o sindicato no Brasil. Disse bem, o sindicato no Brasil é o seguinte, todo funcionário, todo operário tem que recolher um dia de salário por ano ao sindicato. M Mas, para ele ser sindicalizado, ele precisa se filiar a um sindicato e pagar um uma contribuição mensal dentro do sindicato. Quando há rescisão de um contrato de trabalho, depois de um ano, pode ser feita essa rescisão dentro do sindicato e o sindicato ampara o sin o sindicalizado, mesmo por essa forma de um dia de... Defende os direitos. Defende os direitos do do do sindicalizado. E se há qualquer erro em relação ao à lei trabalhista, ele exige que seja cumprida até as o até o último tostão. De modo que é uma defesa. Indiscutivelmente é uma defesa. M Mas no Brasil, como o sindicato está ahn ligado ao governo diretamente, então, os os presidentes sindicatos estão ligados ao governo. E me parece que é inoperante. A Agora, por outro lado, se ficar ligado somente aos partidos políticos ou aos operários, É é como eu disse de início, é uma faca de dois gumes. Então, ele vai se tornar uma potência dentro de outra potência, uma potência ahn trabalhista dentro do governo. E E vai pressionar o governo, ahn como fazem outros países, de forma ahn impedir, às vezes, que o próprio governo governe. Porque ele vai fazer exigências tais, como aumentos salariais, o que está acontecendo Portugal e Argentina e outros países, em que os sindicatos pressionam fortemente o governo para os aumentos salariais que o governo não teria condições de manter. Então, é é um bem, mas é uma faca de dois gumes.

SPEAKER 1: : Nós tivemos no governo oficial do João Goulart aquilo que se chamava o peleguismo, não é? E Ele manobrava essa gente Ele chegou a dizer claramente que apertando um botão, o operariado inteiro estava nas mãos dele. E estava mesmo. N Nós escapamos, em sessenta em quatro, de uma guerra civil. Por milagre. A Assim aí foi milagre. Porque ele tinha tudo nas mãos. U Um sindicato, não escapava ao controle do Jango Goulart e dos que o cercavam. E Ele não teve tempo de apertar o botão. Porque com um aperto de botão, ele levantava todos os sindicatos que, por sua vez, levantavam todo operariado contra o país. Porque o operariado age contra nós, da classe média. E Esse que é o grande perigo. Não é preciso que venha de cima a coisa. Estão todos no nosso meio. O

SPEAKER 2: : tro aspecto que eu notei, con conversando com essas moças da França, é que todas elas têm um sentido de classe muito nítido. Então, elas perguntavam, a que classe você pertence? E Eu me vi meio atrapalhada para saber que classe eu pertenço. En Então, eu disse, mas por quê? Mas porque nós pertencemos a uma classe. Ela disse, eu pertenço à classe operária. mas como você pertence à classe operária? Você é médica. Ela disse, não, mas eu sou de origem operária. Meus pais eram operários, eu sou médica, mas eu sou da classe operária, porque eu so pertenço àquela classe. Eu disse, olha, eu sinto muito, mas aqui no Brasil nós não temos isso, não. Hoje uma pessoa é operária, amanhã ela é de gerente de de empresa, depois de amanhã ela é dona de banco e acabou-se, não não é essa estigmenta estigmatização de uma pessoa por ter nascido nessa ou naquela classe. A Agora, naturalmente que a gente nota que há níveis, mas a pessoa passa de um nível para outro com uma rapidez fantástica. ### E amanhã os netos são presidente da república. Não há essa separação, não há esta esta distinção de classe. () Mas nós temos. Nós temos, então nós pertencemos à classe, nós percen pertencemos aos sindicatos. Agora, voltando ao sindicato. A Aqui, também, outro ponto positivo éh são os acordos salariais. Porque cada si cada sindicato pleiteia anualmente para o seu pessoal os acordos salariais, que são acordos além do salário mínimo e que vão subindo ahn anualmente. Então, num ano dezessete por cento, no outro ano trinta por cento, no outro ano trinta e cinco por cento daquela categoria, por exemplo, a cate categoria dos metalúrgicos, dos bancários, dos professores, categoria dos o operários que trabalham em determinados setores, e dos funcionários que trabalham em escolas. E E eles, então, têm os acordos salariais que fogem ao ao salário mínimo. Estão muito além do salário mínimo. E eles levam a sério e controlam e fiscalizam a aplicação dos acordos salariais. E

SPEAKER 1: : E exatamente agora o que querem fazer é o sindicato das donas de casa. Para onde as donas de casa apelem, e reclamem, aliás, há mais de três anos que o movimento da regimentação feminina lançou. Lançou até uns volantes de aconselhamento, mas o então secretário da prefeitura avocou assim, e quando ele caiu, caiu, pronto, acabou. Mas nós não temos para quem apelar, nós não temos sindicato. As donas de casa não tem sindicato. Para quem apelar? Estávamos justamente conversando com aquela moça que estava aqui, você não viu. Sobre esse assunto, porque como eu contei a você, ela é uma pessoa muito capacitada. Estávamos discutindo esse caso. A gente compra uma coisa, não presta. A A gente volta a reclamar, volta outra vez. E E acaba cansando de reclamar e não consegue nada. Porque a desonestidade comercial é muito grande, como a industrial também. Compra-se uma máquina, não funciona direito, mas é consertável, sabe? Nós não temos sindicato. E Eles têm, os operários têm sindicato. Tem para quem apelar, que reclama e consegue. Porque sempre o empregador tem que ceder diante das imposições do sindicato. De modo que é um bem e é um mal. E Eles se sentem protegidos, mas os patrões continuam desprotegidos. N Nas leis trabalhistas em geral, Pode saber. Quando um patrão é chamado, é para perder. Porque, indiscutivelmente, o operário é que tem razão. A Agora, quando o operário deixa o patrão na mão, porque não dá o para o não respeita o o o aviso prévio, ou comete faltas, o patrão não tem recurso. É se conformar com o prejuízo. E Essa desigualdade é muito séria. Muito séria, porque os sindicatos dão sempre razão.

SPEAKER 2: : Mas aí, outra vez, o mesmo problema, é que gente é gente mesmo, e há os que burlam, os patrões que burlam as leis, e burlam porque os funcionários desconhecem os seus direitos. E Então, eles burlam, e por causa de alguns, os outros todos pagam. E E há muita burla, por exemplo, não pagam não dão férias, não dão aviso prévio, ahn não não registram, registram por uma importância, ahn depo ahn marcam outra outra importância na caderneta, dão salário mínimo na caderneta, dão tudo mais por fora, e o por fora, não registro na caderneta. Então Quando ele é dispensado, ele sai com aquilo seco. Então há Há uma série co de de situações que são criadas pelos maus patrões, de modo que

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 2: : Os sindicatos prestam serviços ahn assim como os metalúrgicos, tem colônia de férias, tem escolas, tem bolsas de estudos e a maior parte está atendendo para isso, um serviço médico dentário, colônia de férias e aulas, aulas de datilografia, aulas de aperfeiçoamento, ma um tipo, assim, SESI em pequena escala, mas aperfeiçoando os seus próprios ahn sindicalizados de cada setor. É talvez o que melhor funciona Por exemplo, os meus funcionários pertencem ao sindicato de auxiliares de de escolas, auxiliares de administração escolar, e eles receberam um convite para fazer datilografia gratuitamente. Só o aquele problema, eles precisam pagar mensalmente a associação.

SPEAKER 1: : Agora, o mal é que eles se prendem ao governo. E E o governo se prende a eles. E eles, então, se transformam naquela potência que intimida o povo. ### ### ### ### E nós que não somos estrangeiros não temos esse consulado. Não temos para quem apelar. ### ### É das melhores coisas que pudessem existir. Volto a falar do meu diretor espiritual, Dom Gastão. E Ele achava que cada quarteirão devia organizar uma cooperativa. Todas as pessoas que morassem no quarteirão deveriam participar de uma cooperativa. Como um prédio como este tem um síndico, para onde a gente leva re reclamações. E Ele diz, num quarteirão devia haver uma diretoria de cooperativismo para baixar o custo de vida, porque tudo seria comprado por atacado e, portanto, resultaria num preço menor, numa economia. Mas é coisa que não existe, cooperativa, a não ser a de Cotia,

SPEAKER 2: : O problema da cooperativa vai bater num outro polo. É É que, o quando uma pessoa resolve estabelecer-se comercialmente, comercialmente ela se supõe que seja capacitada para aquilo, né? A Assim, o industrial, o comerciante, Supõe-se que goste, que seja ca capa capacidade para gerir o negócio. E quando se abre uma cooperativa, põe-se uma pessoa não credenciada, põe-se funcionários não credenciados.

SPEAKER 1: : Há uma eleição também sem conhecimento.

SPEAKER 2: : Então, não credenciados, só porque tem boa vontade. Então, no fim de pouco tempo, o a cooperativa afunda, quer dizer, dá prejuízo. Todas as cooperativas dão prejuízo. Por quê? Há Há os mantimentos perecíveis que se estragam, porque é um jogo complexo, não é só entrar num numa cooperativa e fazer funcionar a cooperativa. É complexo, tem que comprar, tem que éh escolher o o os mantimentos, tem que saber se são bons ou se são bom, ah a tabela de preços, coleta de preços. Quer dizer É uma engrenagem complexa que o pessoal que assume uma cooperativa não tem. Então, o resultado, em pouco tempo, dá está dando prejuízo. E todas elas se abriram, todas elas se fecharam. No entanto, como disse a tia, é uma medida ótima, mas que falha por falta de pessoal especializado e técnico.

SPEAKER 1: : Falta de educação. Para tudo é preciso educação. N Nós temos aqui, por exemplo, uma síndica. E É uma pessoa de boa vontade, com capacidade, porque é uma pessoa que vive sozinha, tem um filho, mora com o filho e com a mãe, quer dizer, é uma pessoa que sabe gerir a sua casa. Então ela também sabe gerir aqui e atender aos compromissos. Porque é muito complicado essa história de apartamento, né? Porque tem administrador, tem a necessidade de uma síndica, tem a heterogeneidade das pessoas que habitam. E Então as reuniões periódicas para tudo mais não é o caso do grito na televisão, não. Mas há este problema, né, do respeito mútuo, porque nós temos que respeitar a vida de todos os que moram no prédio. A Assim, numa cooperativa, que é uma coisa ótima, não chega nunca. O Ou por falta de educação, ou por falta de honestidade de quem assume a direção. De modo que é um caso muito sério, Muito sério. Seria uma das formas de melhorar, de diminuir o custo de vida. M Mas só conheço uma. É a de Cotia. Porque japonês, sim senhor, sim senhor, sim senhor. É outro tipo de cooperativa. É uma cooperativa que dá lucros. E todos que se valem da cooperativa têm lucros tam

SPEAKER 2: : Mas essa é outro tipo de cooperativa. É coop cooperativa de produção. É a Nós nós estamos falando de cooperativa de consumo.

SPEAKER 1: : E de consumo também, porque eles são filiados. Todos o os japoneses são filiados à cooperativa, de modo que eles usufruem, participam e usufruem. É É uma coisa que ainda não se realizou e eu participei ativamente de um congresso de cooperativismo, em que eu usei de uma frase de uma figura, dizendo que que faria o riozinho Solimões lá na no Peru para chegar ao oceano se não fossem os afluentes. Agora, ninguém quer entrar, ninguém quer participar, todos querem receber os proventos

SPEAKER 3: : Aqui fica o nosso profundo agradecimento às senhoras pela colaboração ao proje