SPEAKER 2: ### SPEAKER 1: Bom, em relação ao cinema, naturalmente vocês não desejam uma resposta técnica, porque eu não entendo de cinema do ponto de vista técnico, não é? Eu sou uma espectadora comum, como qualquer outro, e realmente gosto do cinema. Gosto do cinema porque, no tempo de minha mocidade, o cinema era um dos ãhn divertimentos preferidos pela mocidade. Era mesmo uma espécie de ponto de encontro, não é? Onde as pessoas se encontravam para depois tomar um chá ou fazer um pequeno programa. num significado social muito mais profundo do que agora. Então, era quase uma festa, um programa, sábado ir ao cinema e domingo ir à matinê ou à (), não é? Então, este hábito ficou. Realmente gosto do cinema. Mas, atualmente, não tenho muita oportunidade de ir ao cinema porque os programas não me agradam muito. Eu vou ao cinema para me distrair e para fazer um pouco de higiene mental. E na medida em que os filmes só tratam de dramas e dramas psicológicos e sociais e urbanos e o problema de éh da técnica de chocar o público, aquela esta parte toda, então não me agrada muito. porque eu acho que o cinema deve ser uma distração, pelo menos para o povo em geral, não é? E, nessas condições, não vou muito ao cinema, escolho programas e gosto dos programas que realmente valham a pena. Agora, quanto a teatro, () teatro eu gosto muito de teatro. E, na minha mocidade, fui uma frequentadora assídua. Já agora, não tanto por razões de compromissos domésticos, familiares, meu marido não é tanto apreciador de teatro. Então, vou menos. Mas acho mais interessante, porque acho mais real, mais vivo, e põe um contato maior entre o público e o e o artista, né? o ator. Então, gosto muito. Hoje, por exemplo, éh, creio que vou ver Os Executivos, que está no São Pedro, dizem que é uma comédia Vejam bem, não quero drama. E, provavelmente, vou ver Roda, Cor de Roda, porque Leilah Assumpção, está mais ou menos na moda agora e parece que é uma boa teatróloga, né? Então, eu vamos ver alguma coisa a respeito. E em relação a ao teatro e o cinema, eu acredito que sejam veículos de difusão de cultura extraordinários, né? De modo que éh são elementos importantíssimos, né? Ah, tanto para nós quanto para o povo em geral. pena é que não haja no Brasil um cinema tipicamente nacional ou está havendo, agora não é Com o folclore nosso, com os costumes nossos, com a filosofia nossa, com a ambientação mais nossa. E teatro está havendo agora né. O teatro está se nacionalizando muito mais, está muito agradável, e Eu aprecio bastante. SPEAKER 2: então quer dizer que a senhora ãh... percebeu uma modificação no teatro? A senhora que foi assim... espectadora assídua do teatro, a senhora percebeu uma evolução ou ínvolun () eatro? SPEAKER 1: Ah, Eu acredito que muito grande, né? Porque antigamente você ia ao teatro, ele retratava a vida de uma maneira amena, romântica e literária. Os temas, então, eram temas que nós chamávamos gostosos, porque eram leves, né? e havia muita preocupação da cena, da indumentária não é, a pre a preocupação de agradabilidade estética não é, para o... digamos para a alegria visual do espectador. Hoje não, os temas são mais filosóficos, são políticos, são sociais e, principalmente, são temas que parecem, não sei, Mas parece que tem a a função específica de fazer o espectador pensar e, às vezes, até traumatizar o espectador. Não sei se essa fini finalidade seria muito legítima, porque a vida já tem aspectos muito traumatizantes. () um indivíduo vai ao teatro, eu penso que é para fazer um pouco de higiene mental, descansar e recrear. E se o teatro também fica com a função mais intelectual ou filosófica de lançar temas e éh... fazer o... espectador pensar em assuntos que são, digamos, básicos agora para a civilização, o teatro deixa de ser um... assim, digamos, uma espécie de recreação para ser outra coisa. Eu não sei, então, se ele atualmente cumpre bem essas funções de teatro. Porque, para os gregos, se eu não me engano, o teatro era para recrear, divertir-se né, e trazer harmonia, equilíbrio. Hoje, eu penso que o teatro principalmente procura o desequilíbrio. Ou porque o o... ator, o... digamos, o autor vive num ambiente de desequilíbrio, então ele projeta para fora isso através da sua produ, não é ou então porque é uma... digamos, é um imperativo da vida atual. Então, fazendo, por exemplo, uma... digamos, um paralelo entre o teatro do meu tempo e o teatro atual, de meu tempo, eu digo eu tinha vinte, trinta anos, não é? Eu achava muito mais agradável, porque... e outro aspecto que me é muito... Eu não digo traumatizante, mas pelo menos não é muito agradável para nós dessa geração. Não sei se o será para vocês. É... O aspecto de pornografia do teatro atual, como do cinema atual. Então, o indivíduo vai ao tipo um teatro de revista, por exemplo, ouvir piadas pornográficas e cenas grotescas de sexualismo. Ora, isso eu não sei se será bastante artístico ou bastante espiritual para nos recrear. Pode ser bastante excitante ou bastante interessante para um tipo de público. Então, nesse aspecto, eu não tolero o teatro atual, não é, de fo> SPEAKER 2: Quando rel bem relacionado com a peça e o fundo. Porque, às vezes, isso redunda também em pobreza. SPEAKER 2: Quanto ao local, o teatro, ãh, gostaria que a senhora fizesse uma descrição de um teatro, de uma sala de espetáculo. SPEAKER 1: Uma sala de espetáculo qualquer? SPEAKER 0: Pode ser. Geral, primeiro. SPEAKER 1: Por exemplo, uma das salas de espetáculo que eu mais conheço, ou que conheci, foi do Teatro Municipal de São Paulo. E o prédio é um prédio realmente muito interessante, um estilo muito bonito e muito bem cuidado. um teatro que é de categoria, tem um ótimo palco, e naquele tempo havia frisas e camarotes, agora, não com a reforma, ele está ãh... modificado para melhor, com mais simplicidade, e com a facilidade de, nesse tea, esse teatro municipal, poder comportar espectadores de qualquer condição social, porque nas galerias, mesmo por exemplo, o indivíduo mesmo sem condições econômicas pode assistir qualquer peça. E esse teatro também era muito importante porque eu gostava muito de balé e muito de ópera. Hoje, por exemplo, a ópera não tem mais sentido, não parece, não é? Pelo menos óperas de agora estão muito... pouco... interessantes, não? Mas há trinta anos atrás, as óperas eram realmente espetáculos belíssimos. E o balé também, como ópera, balé e teatro francês e teatro inglês geralmente só vinham para o municipal, eu era uma boa frequentadora de teatro municipal. Mas ocorre que papai, eu eu sou filha única, e papai era jornalista. Trabalhava no Correio Paulistano e no Estado de São Paulo, eventualmente. Então, ele... gora, gostava muito de teatro. E já gostava do teatro tipo mais popular. Então, nessa época, havia um teatro em São Paulo chamado Santana, m que agora não existe mais, está demolido. onde vinham as melhores companhias de revistas europeias e também do Walter Pinto aqui, nacional. Bom, esse teatro era o chamado teatro de revista, né? Leve, com cantos, shows e... pequenas cenas. E, realmente, o Teatro Santana teve uma época muito boa, em que a apresentação das peças se igualavam em sentido, em riqueza, em beleza de de... artistas e mesmo em conteúdo aos teatros europeus, porque o Walter Pinto ia tomar, arti ou melhor, empregar ou procurar as suas atrizes ou artistas na Europa, principalmente na França e na Itália. Esse teatro foi muito interessante também, como recreativo, e assim, de uma grande função visual. Eram muito bonitas as cenas. Não existe mais. Pelo menos no Brasil, não acredito que haja mais né. SPEAKER 2: Agora, ãh essa riqueza de cena, ãh a senhora percebe em circo hoje? Existe algum circo que tenha essa riqueza? Uma companhia que contrate assim artistas estrangeiros? Você conhece? Já ouviu falar? SPEAKER 1: Quanto Quanto aos circos, eu não posso dizer muita coisa a vocês, porque... Eu sou pouco frequentadora de circos. Conheci o circo russo, conheci um circo norte-americano que veio para cá, e atualmente há um circo, parece que de Rani, que eu tenho vontade de ir, mas que não tive a oportunidade ainda. Agora, em relação aos circos, eu... eu não sei se nós podemos chamar de espetáculo circense, aqueles espetáculos sobre o gelo, Se vocês classificarem como espetáculo circense essas demonstrações de danças e de, sobre o gelo, eu acho que, esse, nesse aspecto, nós podemos comparar com aquele teatro de revista antigo. Realmente, as artistas são muito bem vestidas, os efeitos de luzes ótimos. não é, e é... Já há um... certo cuidado na coreografia do né das danças, nos bailados. De modo que, se for, se isto for circo, eu acho que é muito interessante. Porque realmente aí é uma parte artística muito bonita né, muito agradável. Mas quanto aos outros circos, eu não posso dizer muita coisa, porque não não frequento. SPEAKER 2: O que se pode apreciar num circo? SPEAKER 1: isso é uma, eu acho uma resposta difícil de dar para você. Porque depende do circo, você não acha? Se o circo for, por exemplo, de chanchadas infantis, então sempre é... é mais para um público de crianças não é. Se for de animais também, é mais para um grup um... grupo de crianças. De modo que eu não sei, circo mesmo, o nacional, o circo típico nosso, eu quase não conheço. Conheci na época que meus filhos eram pequenos, então ia para acompanhá-los, e eles realmente adoravam. Mas depois, a não ser esses três ou quatro circos que eu fui de... assim de.... âmbito internacional, eu não posso dizer quase nada. Eu acredito que o circo seja ãh... um tipo de espetáculo éh... de tipo popular e do popular éh... para as camadas mais simples ou mais economicamente é, pobres, porque o tipo de apresentação é um pouco primária. de modo que atende a satisfa a né a esse a essa esse setor, ou digamos essa faixa da população. Não é? Mas quanto a esses, eu não conheço quase nada. Para não Aliás, a memória agora está me ajudando Eu conheci muito o Piolín. O Piolín, eu ia por causa das minhas crianças. Ele tinha um circo aqui perto de casa, a cerca de oito quadras né, perto da Praça Marechal Deodoro E as minhas crianças adoravam o Piolín. Agora, realmente eu acho que o Piolin era um era um uma um artista de circo excepcional, porque ele tinha sensibilidade, ele fazia realmente arte, né as graças dele tinham um certo nível, embora ele se dedicasse só ou principalmente às crianças. Piolin foi uma exceção, eu acredito, e eu achava extremamente simpá> SPEAKER 2: você não poderia co ãh... fazer um parale ãh um paralelo entre o comportamento da plateia de um circo de piolinos () e do municipal, de um teatro mais sofisticado, um teatro, uma peça, né SPEAKER 1: Mais séria. De uma maneira geral... Eu acredito ser muito difícil, Liz, você sabe por quê? Porque, em geral, quando nó ãh, eu estou, ou nós estávamos, meus filhos e eu, é assistindo a uma peça ou a um espetáculo circense, nós nos identificávamos de tal forma que não observávamos muito a reação do da plateia, sabe? De mo> Agora, quanto ao municipal éh... a plateia do municipal é, em geral, uma plateia culta. E mesmo agora, com os espetáculos populares realizados pela Prefeitura, É uma plateia que se comporta muito bem no sentido de realmente éh... procurar se identificar com o espetáculo, não é mesmo? Eu, por exemplo, das vezes que eu frequentei, raras vezes vi a plateia cometer uma gafe de um aplauso fora de hora ou de uma um barulho qualquer. Em geral, éh, m, quanto ao municipal, eu acho uma plateia excelente. em geral, sabe? Mesmo quando, mesmo quando os espetáculos são atrações populares. Eu acredito que o paulista seja um bom espectador, sabe? É uma crença, porque eu não posso comparar em relação aos outros, né? Mas parece ser um bom espectador, em geral. SPEAKER 2: Mudando um pouquinho, ãh, televisão. A senhora tem o costume de assistir televisão? SPEAKER 1: Bom, quanto à televisão, E eu teria uma série de coisas para dizer a vocês (risos) Eu acho que a televisão, em primeiro lugar, é uma... é um elemento muito interessante na família, porque a televisão traz, éh, quer queira ou quer não, Ela traz uma cer um... uma certa ãh... uma certa reunião familiar e o a pessoa fica em casa, em geral, liga a televisão para ouvir ou ver algum programa. Então, é um elemento interessante. Mas, ao mesmo tempo, eu acho que os programas de televisão são tremendamente deficitários, quero dizer, eles em geral não satisfazem do ponto de vista cultural, do ponto de vista artístico, não é mesmo? Então, a televisão, nesse sentido, é um mal. Agora, há.... a há programas bons, por exemplo, tê vê dois tem programas educativos agradáveis e ... a outras estações tratam, por exemplo, de música fina, de música brasileira, de entrevistas interessantes. Então, a televisão pode ter aspectos muito positivos, mas, infelizmente, tem também aspectos muito negativos. Em relação à criança, então, os programas infantis, às vezes, são m ãh muito mais deseducativos do que educativos. Mesmo as programações de... por exemplo, de... desenhos animados. Até vou contar para você um fato que... eu achei muito interessante no sentido de elucidar. Uma amiga minha tinha uma filha de três anos, ou quatro anos, e ela saía, E a empregada, então, contra a... orientação dela e a ordem dela, ligava a televisão para ver com a criança os programas de... é... desenhos animados. E havia nesse tempo, não sei se há agora, um... personagem que ele... ele conseguia voar, eu esqueço o nome, mas ele se punha no espaço e voava, ia daqui para ali com muita facilidade. E a menininha, ela tinha quatro anos, e tinha encantos por esse personagem, via sempre, etecetera né E um dia, então, quando a empregada se descuidou, ela sobe em cima, do guarda roupa e, lembrando do personagem, atira-se lá para o alto, né Então, isso mostra, de uma maneira muito clara, né, esses aspectos negativos. né, Que... é... A televisão para criança é muito pequena, não é? Para criança maior, com uma orientação e com certos programas, sim. Mas, do contrário, eu acho muito perigoso. Uma ótica em relação à televisão, eu acho () muita coisa que dizer, muita coisa que comentar e... e depende muito do aspecto sobre qual a gente analisa a questão, não é? SPEAKER 2: A senhora tem algum programa que tenha preferência e por quê? SPEAKER 1: Você se refere ao programa de televisão, né? Eu gosto muito do... dos programas do Canal Dois, porque, em geral, eles são muito elucidativos, informativos, não é Gosto também dos programas de... m noticiários internacionais e nacionais, porque, às vezes, não tenho tempo de ler jornal e, através do noticiário, me ponho ao par mai dos fatos mais importantes assim da, da vida, quer do Brasil, quer do... do mundo em geral. Agora, fora daí. Eu vou lhe dizer uma coisa. Eu não tolerava. E, na realidade, eu acho que, no fundo, ainda não tolero novelas. Porque eu acho essas novelas extremamente mal org> Quer dizer, dizem, Helena Silveira, por exemplo, que é uma expert no assunto, que as nossas novelas estão já de um nível excelente do ponto de vista de encenação, de artistas, de interpretação, não é? E eu estou de acordo, porque realmente eu acho que os artistas que ãh os artistas que têm entrado na... na... representação dessas novelas são excelentes em geral. Agora, o que eu não gosto é realmente do enredo, é do fundo das novelas. Elas são feitas, eu acho, que para um... com um intuito mais comercial, um intuito mais popular do que propriamente artístico. começam os detalhes tolos, começam as situações tolas, e nunca gostei portanto de ver novelas. Agora, com a idade, eu realmente estou, como se diz na gíria, amolecendo. Então, como é uma hora em que eu gosto de descansar, que é a hora das sete às oito ou das oito às nove, meu marido, em geral, ãh... janta tarde, às nove e meia, É minha hora de certa tranquilidade. SPEAKER 0: Então, eu sou obrigada a assistir novela (risos) E assisto com um espírito muito curioso, sabe? Que é um espírito de crítica e, ao mesmo tempo, de agrado, sabe? Então... eu fico ali ouvindo, vendo, às vezes torço um pouquinho, mas sempre com uma auto crítica. SPEAKER 1: Eu sinto que () sobre muita coisa ridícula. Mas eu vou abstraindo as coisas que eu não gosto e... e vou assistindo. Então, no momento, estou assistindo uma novela, que é realmente uma coisa excepcional para mim, nunca assisti. SPEAKER 2: Numa novela, como a senhora olharia os artistas, por exemplo? Numa novela. SPEAKER 1: Eu não entendo bem o que você me perguntou. SPEAKER 2: Bom, a senhora tem a história, a senhora tem um ponto de vista sobre a história. Agora, o artista, como a senhora encararia ãh... os artistas do novelo? SPEAKER 1: Eu tenho a impressão de que nós só podemos encarar um artista em função do papel que ele desempenha, não é? E achar que ele desempenha bom, bem ou mal esse papel. Realmente, às vezes, ele valoriza o papel e, às vezes, não. Mas o personagem mesmo, eu acho que é da responsabilidade do autor. e que o artista aí não tem grande possibilidade criativa, a não ser uma interpretação melhorada naturalmente. Não é, () depende muito daquilo que o artista faz ou representa. SPEAKER 2: Nós gostaríamos de perguntar para a senhora também, entre um programa e outro, entre uma novela e outra, Existe algum detalhe que chama a atenção da senhora? Existe alguma coisa na televisão que chama a atenção entre um programa e outro? SPEAKER 1: Eu acho que chama a atenção, e de uma maneira muito desagradável, é o problema dos comerciais, que são intoleráveis e abusivos. De modo que, por exemplo, às vezes você está assistindo um filme, e os filmes às vezes são muito agradáveis, são filmes históricos ou interessantes, Eles cortam todo momento a... as partes mais interessantes para comerciais. Eu acredito que isso não devia ser feito. Mesmo para o interesse da... da... televisão, da estação e do espectador. SPEAKER 0: Isso é muito desagradável. E sobre os noticiários, a senhora teria algum coment> SPEAKER 2: Você se refere a noticiários de jornais ou de televisão? SPEAKER 1: Na televisão. Você sabe, eu vejo, eu ouço e vejo sempre os noticiários do... po, por exemplo, da Globo, na parte da reportagem nacional e na parte internacional. E isto eu acredito que seja fe> Eu acho interessante, porque eles tomam o noticiário dos jornais e os fatos mais importantes né Em geral, esses noticiários são feitos sem comentários. Os comentários são poucos, de modo que ficam mais interessantes. Eu acredito que o que não é interessante no noticiário em geral é o comentário. Porque o brasileiro tem a mania, e, e essa é uma impressão minha, que pode ser ilegítima ou não, mas o brasileiro tem a mania de pôr a sua opinião como ponto de partida da verdade. Sabe eu tenho a impressão de que cada brasileiro tem a verdade no bolso assim. Ele tira a verdade, fala a verdade, ele é uma coisa incrível. Então, quando o noticiário é objetivo, não é, no sentido de dizer os fatos como eles são, ou pelo menos mais ou menos como são, eu acho excelente. O que não gosto realmente são os comentários. Eu acho comentaristas ou pobres ou se não muito ãh facciosos no sentido de sua própria opinião ser considerada exce exce é excelente, não é. Isso eu não gosto. Eu acho que deve deixar ao espectador a capacidade de interpretar, não é, e de comentar se quiser. Notícia é dizer o fato e dizê-lo bem o SPEAKER 2: Bom, a senhora colocou que a novela é... deu um passo além, né? A novela, ela se aprimorou um pouquinho, como a senhora se referiu à Carmen da Silva, né? Agora, generalizando a coisa, a senhora acha que a televisão de cinquenta para cá, de mil novecentos e cinquenta, quer dizer, o ano, o início da televisão brasileira, a senhora acha que houve, assim, uma modificação para melhor, um aprimoramento, ou nós estamos encaminhando? SPEAKER 1: Olha, eu sou uma leiga no assunto, de modo que a minha impressão é de que realmente houve um grande progresso. Um progresso que você vê até na televisão a cores. Assistir hoje em dia um filme a cores em casa é um prazer muito maior do que você ir ao cinema. Por razões várias. Então, nesse sentido, eu acho extraordinário o progresso da televisão. Outra coisa que eu acho que foi muito interessante foi A televisão tem uma preocupação, que às vezes é demasiada, é de se popularizar, no sentido de atender a uma faixa, se não média, pelo menos comum da população. Então, aquela parte de receituários, de consultórios sentimentais, de culinária, de moldes, que é realmente uma parte muito banal, muito desagradável, eu digo, mas muito simplória da televisão, não é mesmo? Mas, em compensação, há programas interessantes. Por exemplo, eu vi alguns programas da Nidia Lícia. Não é, Nidia Lícia? Aquela artista. E ela sempre focalizava assuntos de interesse artístico ou cultural. E focalizava muito bem. Se eu não me engano, também era na tê vê dois. Não tenho certeza, não é? Eu gostava muito dos programas dela, porque eram bem feitos, agradáveis, entretinham muito. Então eh, se houvesse na televisão... Aliás, algumas... Estações têm mais mesmo sentido cultural, outras mais popular, não é mesmo? Mas se houvesse um aprimoramento da televisão, eu acho que seria um elemento excelente de difusão de cultura, não é. Agora por ex, éh agora, depende da finalidade da televisão, se ela of> Se for entretenimento popular, se o objetivo for esse, então o Silvio Santos é um colosso. Porque realmente éh, ele tem um público que é o público que não tem capacidade econômica, que vai lá e que se diverte o dia todo. Se for esta função, então está extraordinário este programa. Mas se a função for um pouco maior e melhor, então nós teremos que aprimorar bastante. Então depende muito, não é, daquele objetivo. se der à televisão, porque a televisão é mais um veículo, propriamente, do que uma né, uma... uma coisa que siga uma finalidade própria. Ela é um veículo de cultura, um veículo de comunicação, não é mesmo? E um veículo de entretenimento. Então depende muito do conteúdo. SPEAKER 2: Agora, quanto à parte técnica, a senhora acha que nós temos ãh mão de obra técnica éh de alto nível na televisão? SPEAKER 1: Olha, eu acredito, eu não, também você vê, minha opinião é uma opinião de leiga. Mas se eu for comparar, eu estive, por exemplo, na Inglaterra e fui ver a a... televisão inglesa. Uma coisa que eu achei muito interessante é que o hotel em que nós estávamos tinha, naturalmente, tinha televisão no quarto e tinha também éh... som né, tinha o som. E eu, então, numa das noites que não pude sair, fui ligar a televisão. A primeira coisa que eu achei diferente é que você tem que colocar uma moedinha para o funcionamento da televisão e ela então dura meia hora, uma hora conforme a moeda que você coloca. Em segundo lugar, eu v, eu vi um programa né na Inglaterra que era um programa de teatro e francamente achei, não sei se foi oportunidade, foi acaso, pode ter sido porque eu não posso generalizar porque eu vi uma ou duas vezes só, uma ou duas noites, mas achei muito inferior a nossa Muito inferior. Muito inferior. E basta dizer a vocês que na Inglaterra eu, na ocasião em que estivemos, foi maio deste ano, né? Foi é maio deste ano. Você só tinha três canais de televisão. Em Roma, você só tinha... Não, perdão. Em Portugal, só tinha dois canais de televisão. Nenhuma coisa, viu? E... em Portugal, por exemplo, a pressão do governo era clara. Era clara. Você só via ali, era um veículo político. Claro. E aqui no Brasil, evidentemente, você tem liberdade de, né, uma liberdade muito maior. Então, comparando com essa experiência restrita que eu tenho, que foi ver a televisão na Inglaterra, a televisão em Portugal, em Roma não tive muita oportunidade, vi, mas nem me lembro realmente como foi. Não tive muita chance quis sair mais. Eu acho que nós estamos num nível bem superior, ah não há uma dúvida, comparativamente com essas duas. é, Há dúvida. E temos muito mais conteúdo, muito mais riqueza, muito mais encenação, muito mais, é... é técnica, não é, tanto que... Se eu não me engano, a televisão à cor já está se popularizando extremamente aqui, não é? Antes era é, para uma uma... uma área de elite econômica. Agora não. Agora, com os preços e as prestações mais ou menos fáceis, qualquer família de vida média e mesmo operária, com um certo nível, às vezes já consegue ter a sua televisão à cor. Isto eu acho muito importante. Pelo menos aqui em São Paulo, no sul, no norte, não tenho noção como seja. ### SPEAKER 2: () você não observou ãh, na televisão, no aparelho transmissor lá no seu hotel, alguma diferença entre o aparelho inglês e o nosso, de sua casa, por exemplo? SPEAKER 1: Bom, o aparelho lá era tipo menor. Mas a mesma coisa em preto e branco, viu? Quer dizer, quanto à apresentação e manuseio, eu não, não senti diferença. Né, Em Portugal também. Agora em Roma, o hotel onde eu estava, não sei se em função do hotel, o aparelho era muito melhor, muito mais sofisticado e muito mais interessante. Mas aí eu ouvi menos, porque nós saímos mais. Da televisão eu lembro, televisão, é. Nós ficávamos hospedados em Roma, no hotel, No momento não me... não me lembro o nome, mas um hotel eh de uma categoria média superior. Não era de luxo, mas média superior. E havia uma sala de visã, televisão muito boa, né, e um ótimo aparelho. E uma uma... a imagem muito nítida. Coisa que, por exemplo, eu não vi em Portugal. Não sei se em função do aparelho ou da estação. Mas Portugal está realmente muito atrasado em função de, do que nós temos. SPEAKER 2: Agora fazendo um paralelo entre televisão, essa improvisação que nós tínhamos, porque o mesmo Lima Duarte disse, ele viu nascer a televisão, né? Diz que havia aquela brincadeira com a, com as câmeras, etecetera Fazendo uma relação televisão-cinema que nós tínhamos falado no comecinho, a senhora acha que o cinema também ainda está no nível de improvisação, o cinema brasileiro? SPEAKER 1: Eu acredito que o cinema brasileiro esteja ainda no nível da improvisação, embora, de vez em quando, nós tenhamos a oportunidade de apreciar um bom filme. Mas a minha impressão é que o cinema brasileiro é feito em função do mercado econômico, quer dizer, em função do dinheiro que a fita vai produzir. Então, em geral, as fitas são de chanchada e são pornográficas. porque o maior público vai atender a esse tipo de fita. As fitas realmente sérias brasileiras são poucas. Eu até, no momento, não me recordo. Eu sei que assisti algumas, mas, no momento, não me recordo do nome dessas fitas. Então, eu acredito que seja uma improvisação em função de um público maior. Agora, tecnicamente, eu acho que esses filmes estão muito desenvolvidos, porque nós temos fotografias belíssimas não é, e tomadas de câmera muito lindas, close-ups muito lindos. Quer dizer, a parte técnica, talvez nós est, possamos ombrear com qualquer outro cinema, mas quanto ao conteúdo e as finalidades e o público a, ao qual o filme se dirige, eu acredito que nós estejamos ainda bem no princípio. É a minha impressão. SPEAKER 2: Enquanto ao material humano no cinema, nós falamos, a senhora falou sobre o nível técnico, né? E ao nível humano de elementos que fazem parte do filme ou que, ãh digamos, participam do filme ou que estão atrás do filme? Quer dizer, os elementos que aparecem que estão, digamos, dirigindo o filme. SPEAKER 1: Bom, quanto a isso eu não poderia dizer, eu Você me falou em cinema, eu lembrei de Paulo Emilio Salles Gomes, que foi meu colega na faculdade e é um entendidíssimo de cinema, né Se não me engano, ele foi até professor da USP, da parte de cinema. De modo que eu me lembrei dele agora, bem que ele podia me auxiliar para responder (risos) Mas, bom, em relação ao a... aos artistas, Eu tenho o e ah... impressão de que não há maior cuidado na seleção dos artistas do ponto de vista da sua capacidade de interpretação. Há o maior cuidado do ponto de vista da beleza física ou do da em... da impressão do impacto físico que possa causar. É verdade que grandes artistas nossos, como Chagas e outros, Valmour Chagas e outros né, e principalmente artistas, mulheres, grandes artistas nossos têm participado do cinema nacional. Mas vocês notem que elas têm uma ou duas experiências que se afastam, porque eu acredito que não encontrem ambientes realmente bons ou propícios para a sua interpretação. Então, quando vamos ao cinema nacional, nós encontramos, em geral, um bom artista ou dois bons artistas, e todo um elenco de pessoas improvisadas, onde é, eu penso que a... parte de apresentação física de beleza ou de atração se sobrepõe a qualquer outra capacidade propriamente artística de interpretação. Essa é a minha impressão. SPEAKER 2: E a senhora escolhe mais ou menos a hora do dia para ir ao cinema? Só tem preferência (risos) por alguma coisa nesse sentido? SPEAKER 1: Não, eu confesso a você que provavelmente não. É horário para ir? Não. Eu escolho, quando posso, escolho principalmente o filme. Então, eu procuro ler no jornal da tarde, que nós temos aqui na Folha de São Paulo. Eu leio a crítica, não é. Não que aceite os críticos de cinema, porque também eles, naturalmente, têm as suas opiniões que são válidas. Mas, pelo que dizem, eu posso inferir se o filme vai ou não me interessar. Agora, nesse sentido, eu confesso a você que eu sou um pouco comodista, sabe? Eu, quando vou ver um filme, é que eu vou para gostar do filme, e... E não gosto de perder tempo, porque, nesse caso, eu fico em casa selecionando um filmezinho melhor na televisão, ou batendo papo, ou ouvindo música com o pessoal aqui em casa. Gosto muito dos meus filhos e o meu marido. Então, quando vou ao cinema, eu realmente quero assistir um bom filme, sabe? Então, seleciono vendo a crítica ou lendo a crítica, ou a opinião dos meus filhos. SPEAKER 0: Aliás, eu tenho uma menina muito entendida nessas questões. SPEAKER 1: Olha, quanto a rádio, eu não posso dizer quase nada a você. assim eu só ouço rádio, é na hora de dormir, com a finalidade de... Descansar, então eu pego, um peg, um p geralmente, a Jovem Pan ou um programa de música clássica, erudita, que é mais tranquilizante, mais agradável, até o momento em que o sono chegue. Fora daí, não, não há nenhuma outra oportunidade de ouvir rádio. O rádio é rádio portátil, Philips, desse que você leva para qualquer lugar, principalmente na cabeceira da cama, que é muito agradável, não é? SPEAKER 2: Teria, assim, alguma... algum aspecto na programação do rádio que a senhora daria maior atenção? Quer dizer, dessa menor atenção que a senhora dá para o rádio, existiria um aspecto que só daria maior atenção no rádio, alguma... algum programa? SPEAKER 1: Bom, eu realmente me interessaria pelos programas, por exemplo, é de... de música erudita, onde, nos quais, Se fizesse, por exemplo, biografias dos músicos ou a interpretação é... das músicas tocadas. Não uma interpretação técnica, mas, por exemplo, ambientar a música na época, na história, na sociedade, no enfim, no ambiente no qual ela surgiu. Eu acho isso muito interessante para o bom entendimento de uma peça artística, tanto quanto o bom entendimento de uma obra literária. E isso eu acho extremamente interessante, porque geralmente esses programas, quando são feitos, são feitos por pessoas que conhecem muito bem a matéria. Então, nós, com meia hora ou uma hora de é... audição, ouvindo-se o programa, nós nos eeh nos enriquecemos muito. Nesta parte, eu gosto muito, mas isto é raro. De modo que, por essa razão, é que eu não uso muito rádio. não ouço muito rádio. SPEAKER 2: Quais seriam os tipos de transmissões que a senhora conhece pelo rádio? SPEAKER 1: Transmissões como? Em relação a programas que você fala? Transmissão? SPEAKER 2: éh, Transmitir para o público. Quer dizer, o rádio transmite para o público é, é de diferentes modos. Nós gostaríamos de saber quais seriam esses modos que a senhora conhece. SPEAKER 1: Como eu digo a você, eu conheço pouco. Porque, em geral, quando eu ligo um rádio e ele está num programa ou religioso, ou de futebol, ou de culinária, eu imediatamente desligo. Então, não tenho condições para falar para você a respeito desse assunto. SPEAKER 2: A senhora falou de novela na televisão, não é, eh... Parece que o rádio tem uma tradição maior de novela no rádio. A senhora já ouviu alguma coisa nesse sentido? SPEAKER 1: Olha, eu confesso a você que eu nunca consegui ouvir uma novela pelo rádio, porque eu tenho a impressão de que a novela, a parte... uma das partes preponderantes é justamente a sensação visual. E só na parte auditiva mata muito a novela. E geralmente, geralmente, as pessoas que recitam a novela, realmente recitam. E então, perde muita daquela espontaneidade, daquela vivacidade, não é mesmo? Ness nessas condições, eu não toleraria ouvir uma novela pelo rádio. Na televisão, sim. Quando, por exemplo, programas éh... Eu já ouvi um ou dois programas de declamação. Isso sim, eu acho agradável. Porque a declamação é uma arte. Realmente, é a arte de bem dizer e de bem interpretar. Certo? Então, tem-se que ouvir. Mas novela, não. Eu tenho a impressão que o essencial na novela é ver e ouvir na medida do possível sentir. E o... no rádio isso fica mutilado, muito mutilado, né? Então não interessa. SPEAKER 2: Bom, então... Você gostaria de fazer uma pergunta? Desagrada, assim, aah alguma interferência entre éh uma música e outra, () Quando a senhora está ouvindo, algum tipo de interferência? éh, Você fa>