Inquérito SP_DID_274

SPEAKER 0: : Marília, nós vamos fazer uma entrevista com a senhora sobre profissões e ofícios. Então, eu gostaria de perguntar para a senhora o seguinte, quais as profissões que a senhora acha que são mais valorizadas atualmente? E por que a senhora tem esse conceito sobre elas? E o que a senhora lembrar de dizer sobre cada uma delas, conceitos positivos ou negativos e os porquês? Eu gostaria que a senhora dissesse para a gente ()

SPEAKER 2: : Realmente, como profissão, Eu nunca pensei em profissão nenhuma e estudei, tenho a minha profissão, mas não, não considerei nunca as outras, assim, especificamente, saber porque eu escolheria uma ou outra, a não ser medicina. Medicina possivelmente eu teria escolhido, mas seria uma péssima médica, porque eu acho que eu encararia demais, uh, os problemas dos doentes e isso não é possível como () em qualquer profissão (), dizem que a gente precisa ser afastada delas. dos, dos pessoas que a gente está cuidando ou dos interesses que a gente está cuidando, () a gente se envolve emocionalmente, atrapalha muito. Agora, no momento, as profissões mais, que estavam mais na onda seria a economia, administração de empresas, essas, pelo menos são, () totalmente distanciada das pessoas que as exercem. Pode apaixonar como cálculo, como uma coisa interessante como um todo, mesmo administração de empresas, geralmente eu acho uma coisa um pouco afastada () do, da pessoa humana, se bem que façam milhões de curso atualmente sobre, como se diz, relações humanas e então com psiquiatras, professores ou psicólogos que dão, mas eu acho que aquilo tudo é muita teoria e não sei, parece que não consegue haver uma comunicação entre o pessoal que está estudando e o pessoal que depois vai aplicar. Enfim, não sei porque realmente é tudo opinião de, de lei para o lado de fora, porque eu gosto mais de as profissões mais, não digo exatamente artísticas, mas que não sejam tão tão frias, tão () baseadas em cálculos, de, de, não pode sair um bocadinho do seu lugar. Mesmo arquitetura, por exemplo, é uma parte artística, mas depende também o perigo, porque se você fizer uma coisa muito bonita, mas mal calculada, desaba. Então, acho que tipo, profissão que eu gostaria mesmo era daquelas antigas, são a maioria artesanato, a coisa que o homem entrava com sua pessoa também, com seu amor, com sua dedicação, com sua iven, imaginação, Ou então, naturalmente, a arquitetura, a que me apaixonava realmente, era dos antigos, que faziam aque, aquelas catedrais sem, sem, anonimamente, apenas pelo amor de Deus, () como promessa, ou por um, um sonho Então faziam obras maravilhosas, incríveis de, de, de engenharia, e que não tinham absolutamente nome, porque raramente você encontra uma catedral assinada. Agora, voltando à medicina, eu, desde menina, eu gostaria, eu sempre achei que seria uma carreira interessante, mas eu não tinha, não, não, não tenho ginásio. Meu ginásio é escola particular. Então, por isso, no tempo que eu me formei, para poder ter ginásio e depois fazer uma, uma, uma, uma faculdade, eu teria que voltar para trás, fazer de novo o ginásio, e depois de formado em escola particular, o () Elvira Brandão, de modo que () me desanimou. E eu gostaria muito de estudar a parte de psico, psiquiatria, não, exatamente não, se bem que eu tivesse um tio que foi um grande psiquiatra. Eu estudaria mais uma espécie de psicanálise para cuidar, porque eu vejo tanta gente com tanto problema no mundo que a gente fica louco para resolver, né? Mas, infelizmente, também acho que, já por meio doente, eu me deixaria tão preocupada, tão aflita, que não dá. Agora, por exemplo, advocacia Uma carreira que nunca me ocorreria estudar. Porque, quando, uh, passou esta lei que permite que você, tendo um curso universitário, você pode entrar para outra faculdade sem vestibular, () uma porção de colegas minhas entraram para advocacia. Que, geralmente, é o mais fácil de entrar, né ()? Pelo menos de cursar. Porque se você pega de um ramo inteiramente diferente, você pega uma, uma faculdade de química, ou uma arquitetura, uma engenharia, () tem muito de, chão para você estudar, muita matéria que você não conhece, que não pode. () que a advocacia sempre é possível. E eu também teria a mesma chance que as outras, mas não () interessa mesmo. Se bem que eu acho interessante filme policial, a parte, a parte psicológica do criminoso, a parte do estudo dos crimes, mas a advocacia, nem a criminal, nem também a civil ou a administrativa, qualquer parte que estude uma, uma legislação, não me interessa mesmo, nunca consegui compreender, não acho atrativo, enfim, nessa, nessa profissão. Agora, certas profissões que surgem, depois somem, e algumas delas, o magistério, por exemplo, atualmente mudou muito de jeito, né? Antigamente, aquelas professorzinhas que pegavam as crianças na primeira letra, depois acompanhavam até o ginásio. Eu, no meu tempo ainda, tive professores que acompanhavam a gente de classe em classe. Hoje em dia, as professoras também passam, cada ano tem a sua, e é muito diferente o ensino. Agora, como eu estudei também uma faculdade, não peguei o tipo de faculdade moderna, nada disso, eu não sei, imaginar bem como é que são os professores modernos. Num... Não consigo imaginar. Não, não, não, não, uh, não... Nós não frequentando, não conhecendo, não, não dá mesmo. Me lembro de professoras antigas, primeiras letras, as professoras que me ensinavam no Elvira Brandão, que agora também já mudou bem de jeito. Quando estudei era aí na Alameda Jaú, e era uma escola que era das mais conhecidas mesmo aqui em São Paulo, mas ela não tinha ginásio. Era um curso () tínhamos até o nono ano, mas não, não... dava um diploma particular. Mas era uma escola tão... tão boa, que quando eu fui fazer o curso de biblio, biblioteconomia, eles disseram, bom, como é do Elvira Brandão, nós aceitamos o diploma. Então, meu diploma foi reconhecido por ter sido de lá, mas eu não, não... oficialmente, eu não, não tinha o diploma de ginásio () Quer dizer, que agora isso nem seria possível, porque precisaria mais do colégio e tudo isso. Quando eu fiz, não havia ainda essa... esta... necessidade () dos colégios, porque biblio, biblioteconomia ainda era uma carreira nascente. Agora, nos anos para cá, é que ela surgiu. Era uma carreira mais ou menos sacrificada, porque só tinha mulher que fazia o curso. E toda carreira só de mulher, embora não haja uma, uma distinção aparente entre, entre os sexos, a carreira ganhava muito menos. ninguém () os ordenados eram muito baixos, E os homens não se interessavam. Como os homens não se interessavam, os ordenados não subiam. ### ### ###

SPEAKER 0: : Dona Maria, a senhora estava falando em, a profissão de medicina, que a senhora se interessaria muito e tal. A não ser parte de psiquiatria, quais os outros ramos da medicina que a senhora conhece?

SPEAKER 2: : Conhecer, mas conhecer de vista, né? () de ouvido. Naturalmente, existe a... como é que chama? (risadas) ###

SPEAKER 0: : Quando a senhora quer fazer um exame completo, qual é o tipo de médico que a senhora procura?

SPEAKER 2: : ### clínica geral não é ramo bom, tem ortopedia que fodeu meu pé, não é? Tem oculista. toringora, laringologista Alergia, de dema Dermatologia.

SPEAKER 0: : E os ramos de engenharia? Quais é que a senhora tem mais conhecimento? Eu não digo assim, o conhecimento da matéria, mas o conheci, conhecimento da divisão da engenharia.

SPEAKER 2: : O engenheiro eletricista Havia, né? Agora eu não sei mais se essa divisão existe no tempo, porque eu era mocinha, tinha engenheiro eletricista, () o engenheiro agrônomo, que é agronomia, não sei também atualmente se ainda é considerado esse ramo. Havia engenheiro mesmo, provavelmente, dito que construía. E havia a parte da arquitetura que no meu tempo também não era uma coisa separada, era engenheiro e arquiteto. Atualmente é que está tudo fundido no, quer dizer, justamente ao contrário, hoje em dia está separado, Em faculdades separadas, tudo isso antigamente não. A pessoa ia para faculdade, entrava na, na Politécnica e de lá, do meio do caminho, é que escolhia os diferentes ramos. De modo que já está uma coisa muito diferente. Tem um tio atualmente está, que é engenheiro e ele está dedicado a, ao estudo do álcool motor. Então seria um engenheiro... Ele, ele estudou como engenheiro simplesmente. Mas hoje em dia eu não sei que ramo ele seria. que estudaram () o emprego do álcool no lugar da gasolina, uma coisa assim, seria um ramo de engenharia química, não sei. Qualquer coisa assim, né? Depois, atualmente, a engenharia, a parte atômica, a parte de que vai estudar coisas muito detalhadas, coisas muito complicadas, muito complexas, já é um ramo mais separado também, que eu também não sei o nome, porque no meu tempo não havia. tempo entrava engenharia, depois dali tinha que sair tudo. Do mesmo, da mesma, do mesmo cadinho saíam, saíam as diferentes coisas, mas com o princípio igual. E que agora estão se formando as diferentes facultades. De modo que, como eu te conheço assim, não, não, não penetrei no, no âmago da questão.

SPEAKER 1: : Numa firma, quais os profissionais que a senhora acha que são essenciais?

SPEAKER 2: : eu acho que depende da firma, né? Para começar. Depende do que a firma trata. Uma firma têxtil, naturalmente, terá que haver os engenheiros que tratam do estudo principal da matéria, há de haver os desenhistas, haver os () dos tecidos, () da pintura, os que cuidam das tintas, e depois o pessoal que cuida da, da, da, da tecelagem. Todos esses são uma cadeia que é essencial. Se for uma firma de contabilidade, evidentemente tem que ser conta E possivelmente o computador, para ele poder verificar se está certo ou errado. Agora, numa firma de advocacia, tem que ter os advogados. os chefes que cuidam e depois um grupo de, de, de, de pessoas que preparem os processos, que estudem as questões, que vejam, vão estudar as leis, vão fazer as pesquisas para eles, porque para depois tem que reunir todo esse material e que será levado aos donos da firma, ou pelo menos aos chefes da firma, para de lá ter o seu caminhado, para fazer o seu trabalho, ou sua defesa, ou sua... para pentear uma causa, uma coisa qualquer assim, né? De modo que eu acho, eu acho que nunca Desde, naturalmente, que as firmas que tem pessoas que não trabalham, esses não são essenciais. Mas acho que todas () as funções, todas as coisas que dão trabalho, todo mundo é essencial. () é uma peça menor ou maior, todas elas fazem parte daquele to () As pessoas existem e formam um, um desenho completo. Se tirar uma, possivelmente já fica um negócio mais remendado, mais, mais puxado para um lado. Não fica completo o quadro de, de, de assessores, ou pelo menos o quadro () para o serviço funcionar no ritmo necessário.

SPEAKER 0: : Se a senhora fosse construir uma casa, Pegar a casa assim, no cru mesmo, e fosse construir, quais os profissionais que a senhora contrataria para a construção dessa casa?

SPEAKER 2: : Profissionais? Tinha que haver alguém que realizasse o meu desenho, porque eu já não poderia desenhar, porque eu desenho muito torto, de modo que qualquer linha reta minha sai em curva. (risadas) Então, mesmo que fosse a casa como eu queria, eu precisaria de alguém que pusesse no papel aquilo que eu imaginava e desejava. E depois, naturalmente, precisaria a gente para fazer as, as, as fundações, quer dizer, especialistas em cavar o solo e tirar a água, se fosse como aqui nessa zona, que é toda () Então, se não fizesse uma, uma, uma justiça... esqueci o termo agora, () água, que a gente precisa para secar o chão, meu Deus do céu, deu branco, vai. E depois, pois () das fundações estabelecidas e firmes. Então, daí tem que haver um bom, bom profissional para fazer as paredes, né, e o resto da casa. E... Agora, eu jamais faria a casa dos meus sonhos porque eu acho lindo casa colonial. E hoje em dia, a maior dificuldade é um profissional que faça aqueles pequenos detalhes das casas coloniais. Diz não existe. Então, por isso que o pessoal agora adotou uma coisa moderna e que é tudo mais ou menos pré-fabricado, ou pelo menos pré-moldado, Você não encontra um profissional que faça um detalhe desses mais assim, não é requintado, é um detalhe mais personalizado. Não existe. Então, quer dizer que, daqui a pouco vão derrubar as casas antigas de São Paulo e depois não pode construir nem, nem cópia porque não, não, não, não há possi bilidade. Não existe mesmo que façam nada disso lá (). O artesanato, infelizmente, está morrendo.

Inf :elizmente, quer dizer, Eles (), é bom porque eles trabalham menos, fazem. Mas que é, é diferente uma coisa feita por uma artista realmente, uma pessoa que gosta e que sabe fazer. É... É uma coisa muito diferente dessas coisas que vêm as peças já feitas e tudo isso, como atualmente. Até os apartamentos já estão fazendo a toda, né? Porque eles vêm com, com já quase que o quarto moldado e vêm tudo isso. () apartamentos já é muito difícil a gente querer assim um detalhe mais bonito, uma coisa mais Mas a casa ainda, eu acho que é gostoso você fazer a casa conforme o seu gosto. E atualmente não, você tem que fazer linha simples porque senão (tosse) vai dar alguma complicação, não acerta o caixilho de janela e é uma coisa muito complicada. Eu acho que teria que pegar apenas os, os, os, uh, trabalhadores normais, operários, pedreiros e pintores para depois pintar a casa. que eu não gosto dessas de cimento aparente, que me dá a ideia de prisão (risadas) Pode ser muito moderno, muito funcional. Mas, ah, falar em funcional, bom, é mais ou menos como construção. Eu agora, estive viajando e eu andei muito de trem, na Europa vagão () noturno, porque para economizar tempo, nós andamos de noturno. O último noturno que eu peguei foi da Suíça para França. Quando eu entrei no noturno, eu digo, eu vou brigar com a companhia de turismo que me pôs nesse trem, eu estava certa que eu estava numa espécie assim () de trem pior que a gente tinha arranjado na Europa. Briguei com todo mundo e tal. Daí o, o guarda disse, não, a senhora, vou dizer uma coisa A senhora está no trem mais moderno, agora o vagão ali vai adotar esse trem em todas () agora em as linhas. Vai ser uniformizado, todos eles iguais. E depois do que eu vi, estava seguindo a linha do metrô. Então, para o metrô funciona muito bem, o metrô está ótimo. Agora, acontece que eles, para ocupar, para ser funcional e ocupar espaço, eles fizeram um tipo de cabine que uma se encaixava na outra. Em vez de ser duas cabines uma do lado da outra, uma entrava um pouco dentro da outra. Então, afinal, se estávamos, a gente já subia para entrar na cabine, no corredor. As camas eram duas e estavam mais ou menos da minha altura, quer dizer, eu tenho um metro e sessenta e sete, do chão Quer dizer que, porque na outra cabine as camas se encaixavam embaixo dessas, de cada lado. Então, agora essa cama tem um metro e setenta e cinco de comprimento. E ela é bem rente ao telhado () () dormiu no sofá, né? Porque eu digo, eu não vou subir naquela cama, depois para descer, como é que eu vou manobrar? Eu tenho () a cama tinha dez centímetros a mais que eu E ainda por cima, acompanhando a linha do metrô, o telhado é abaulado. O teto, aliás, do, do, do telhado. O teto do trem é abaulado. Então quer dizer que perto da cabeça, perto do teto, tinha uma alturinha bem pequena para gente se ma, manifestar e ma, manobrar. Então, é a última palavra em engenharia funcional. E todos os trens da Europa vão ser, que eram aqueles trens naturalmente antigos, pesadões, mais confortáveis do vagão (), vão ser substituídos pela () engenharia funcional do metrô. () Quer dizer, Não é, não é que eu seja contra as coisas funcionais, mas re, realmente elas às vezes não funcionam.

SPEAKER 0: : (risadas) escuta, dona Maria, além dos, (tosse) de uma pessoa que a senhora pediria para fazer desenho, né, uh, de pedreiros e pintores, quais outros profissionais que a senhora acharia que seriam essenciais para a construção dessa casa, que contribuíssem para a construção dessa casa?

SPEAKER 2: : Eu disse, eu não tenho muita noção do que, quem () a casa. Naturalmente, para mim, o pedreiro levantou a parede. E eu considerei, porque o pedreiro fez também o assoalho. Ou, aliás, a, a laje da, da casa. Agora, () existe um especialista com nome especial de fazer assoalho, eu não sei. Não conheço. De modo que... () A pessoa que faria o chão da casa, bom, evidentemente não seria nem pedreiro, nem pintor. Mas eu, eu nesse pedreiro, incluí a pessoa que já encaixa janelas, que já faz as esquadrinhas, que faz o vidro. Tudo isso, a gente quando contrata uma casa, eu imagino que o engenheiro saiba, tenha uma lista de, de, de pessoas que, que, que façam tudo isso a A gente geralmente, o leigo, enquadra todo esse pessoal em dois tipos, pedreiros e pintores. E depois da casa pronta, aí é diferente, vai pôr cortina. vai por os móveis, mas daí então já é uma coisa muito comprida, né? Armários embutidos, banheiro e tudo isso. Mas eu, como geralmente, quando eu visito apartamento, eles estão prontos, que a gente vai ver o apartamento, para alugar e tal, eu não sei lá quem é que está colocando as coisas (risadas) De modo que, realmente, as pessoas que estavam fazendo a casa, aliás, honestamente, eu entregaria ao, ao engenheiro, já faz a casa e me dá pronta, porque eu não ia contratar ninguém. Ia ser muito complicado, ia dar muita encrenca, ainda mais com tanto baiano aí, que eles não sabem qual é que sabe construir, que eles sabem cantar bem cedinho. Às seis horas da manhã já começam as pedreiras do vizinho a cantar Diz que baiano é assim mesmo. De modo que eu digo, não, a gente tem () eu ia contratar um já ia brigar de entrada com o contratado, que eu não queria ser acordada pelo canto, às seis da manhã. De modo que, realmente, assim, quem eu ia contratar, só de marinação,

SPEAKER 1: : Luciana, a mesma escolheria os móveis e o resto da, das coisas das casas ou só escolheria alguém para ajudar?

SPEAKER 2: : Não, os móveis acho que eu escolheria. Porque é () um decorador (tosse) e, e pode ficar muito bonita a casa e tudo, mas é, é difícil a gente ficar uma casa gostosa de a gente morar, coisa que a gente não faz. naturalmente, que assim, a gente, às vezes, tendo uma amiga que dê um palpite, ajude, sugira uma coisa, a gente gostando no móvel, a gente tem que ver se cabe na casa. Às vezes a gente pode encostar numa coisa que fica perdida numa sala, ou pelo contrário, o móvel é maior que a sala. Quer dizer, que às vezes a gente pode pedir uma opinião, mas agora, contratar um profissional, eu acho que raramente a gente consegue encontrar uma casa muito, muito gostosa de se viver, uma casa da gente que seja inteiramente feita por decorador. Fica bonito para os amigos verem, naturalmente, que é sempre mais bonito, quer dizer (), fazem uma combinação muito melhor de cores, de imóveis e de tudo, mas eu acho que não é tão boa a casa para ser casa da gente. É mais uma casa apenas para receber, para, para os outros admirarem.

SPEAKER 0: : Dona Marília, no campo da ciência, quais as áreas que são mais procuradas, a senhora sabe?

SPEAKER 2: : Não, realmente não sei. Porque, digo, eu poderia saber no meu trabalho, mas acontece que eu não trabalhava com o público. Eu trabalhava na, numa sessão de, de, de, de, de revisão lá em cima, de, de catalogação, de classificação, de modo que eu não... a... frequência dos leitores, eu não... Não sei. Eu sei, por, por exemplo, a estatística que as minhas funcionárias atualmente me mandam, mas as, as ciências tanto aplicadas como as ciências puras, realmente, uh, nós temos apenas o total. quer dizer que o interesse dos leitores em geral, das pessoas que procuram, em geral, é mais ou menos igual, mas nós temos uma, uma, uma estatística geral. Ciências públicas, puras e ciências aplicadas. Agora, se é muito, muito procurada mais uma, uma coisa mais para química ou mais () eletricidade, essa coisa, eu não sei. Eu sei que, por exemplo, é um setor muito procurado, mas daí saindo da ciência, é sociologia, não é? É um setor que, atualmente, ainda está muito procurado e tudo isso. Agora, na ciência, se destacar uma parte, é muito difícil, porque eu não tenho o mesmo conhecimento.

SPEAKER 1: : Das profissões liberais, quais que a senhora conhece e o que a senhora teria para falar delas?

SPEAKER 2: : Profissões liberais? Realmente liberal? (sino) (sino) Francamente, não sei. Porque todas são, são liberais em termos, porque elas acabam geralmente sendo filiadas a alguma coisa ou uma, ou uma firma. a uma, a uma, a uma entidade, é, são hoje em dia poucos os, os profissionais que são () independentes. Mesmo a gente ver, por exemplo, os médicos, a profissão é liberal. Mas mesmo os grandes médicos, eles, a profissão é liberal em si, mas elas, eles são, fazem parte de entidades, fazem parte de sociedades, fazem parte de convênios, de modo que... Acho que mesmo, mas atualmente a mais liberal é a artista. Assim, mesmo os próprios artistas já estão mais, já descobriram uma coisa, que eles já os tornam uma espécie de, de sociedade. Eles agora estão fazendo () convênio de quadros, né? Então você, como quem sorteia automóvel, sorteia quadro. Então você tem a sorte, você compra, quer dizer, cada um compra, compra os quadros sem saber bem de quem é, ou escolhe um pintor. E depois você tem sorte, ou seu quadro sai premiado, se o pintor foi premiado em bienal, então o quadro sobe, ou então, coitadinho (risos), não deu em nada, reconhecendo que ele não sabia pintar, e você perde o quadro. Quer dizer que as profissões são chamadas liberais, mas o conceito liberal que para mim existia, hoje em dia tá quase desaparecendo, né?

SPEAKER 1: : E qual era o que existia para senhora? que agora está desaparecendo?

SPEAKER 2: : () a profissão não está desaparecendo, o que seria liberal mesmo seria, por exemplo, aqueles () advogado, ou, ou médico, ou engenheiro, seria ele que tinha um escritoriozinho dele e a pessoa, então, ia lá consultá-lo, ou então o homem que fazia o móvel. O seu móvel tinha sua oficinazinha em casa, a própria costureira. Quer dizer, que eram profissões que não, não eram faziam parte de um todo. O nome continua, elas continuam sendo profissões liberais. Mas é () o liberal para mim são profissões livres. A () interpretação que (), a minha ideia do, do, do liberal. E hoje em dia, () quase () eles sempre dependem de alguma coisa para sobreviver. O que vai tentar a vida sozinho, custa muito. É muito difícil, quer dizer que, há, as profissões liberais continuam. Mas, mas o conceito de liberal é que está ficando mais, mais restrito, porque, em geral, () a pessoa, para sobreviver, tem que se apoiar em alguém. Então, () para mim, já não é mais, mais, é, já é uma coisa, faz parte de um todo. Então, a pessoa não está, não está se, uh, projetando sozinha. Então, é uma, é uma profissão liberal, mas já assumindo um aspecto diferente, um aspecto de, de, de... quase que, como é que se diz, sindicalizado, não seria um sindicato, mas seria uma, uma () parte de um, de um, de um convênio, de uma coisa assim, então já perderia esse caráter tão, tão livre.

SPEAKER 0: : Deixando de lado agora um pouquinho as profissões de, de nível, de pessoal de analfabeto ou semianalfabeto, dentre eles, quais as profissões que a senhora conhece ou que a senhora se lembra agora, que a senhora poderia dizer para a gente, e qual a função que eles exercem?

SPEAKER 2: : Bom, analfabeto e semi-analfabeto têm funções variadíssimas, porque eles podem ser, uh, domésticos, quer dizer, trabalhos domésticos, podem ser pedreiros, podem ser, uh, pintores, podem trabalhar, por incrível que pareça, em bibliotecas, dando livros aos leitores, podem ser, trabalhar, trabalhar em estradas de ferro, trabalhar em navios, como, como não, naturalmente, como marinheiro, mas () nesses navios pequenos, navios pesqueiros, navios em barcaças, podem trabalhar, ser pescadores, enfim, A infinidade de serviços existe para pessoa que tem pouca cultura e que depois, mas hoje em dia eles todos querem aprender também. De modo que todos eles procuram, certos serviços eles estão querendo abandonar porque eles querem estudar. E eles acham então que o trabalho mais ou menos, menos remunerado, atrapalha o estudo, eles Cada emprego que eles vão procurar, eles vão, mas eu quero hora para estudar. eles ficam, é um pouco difícil, porque eles na, na, na, na vida deles, eles, às vezes, não têm ainda condições para ter uma coisa melhor e também não querem ter () um serviço mais modesto, porque impede de estudar, e Mobral, Madureza e Mackenzie, que diziam eles também que essa outra faculdade, como é que chama a, a? () Não, é eme também, mas outra com ene, chama Mauá. Acho que é Mauá. não, não, não, não Mauá, não, é uma que tem ali na () () tanto a Mackenzie é o direito que, que eles dizem que é, que é de, dessa coisa Não sei, porque também não estudei o Direito no Mackenzie Mas é que quer dizer que o pessoal, eles têm essa, essa vontade de aprender, quer dizer, não, eles não têm vontade de aprender, eles têm vontade de estudar, quer dizer, de fazer o curso. Agora, esse pessoal todo, eles, eles () qualquer curso seja onde for e tudo isso, então, atrapalha muito, porque os que tem realmente valor vão para frente, os outros não, ficam estudando e sendo os () funcionários também, porque esse serviço também precisa de gente que faça. Não é só a pessoa de, de nível universitário que tem que trabalhar e as coisas precisam ser feitas. Um pescador, um, um bom, um bom pedreiro, um bom, () como se diz, () mesmo motorista de caminhão pode ser () um bom profissional e tudo isso o país precisa. Não pode ser, não é só de doutores que a gente vive. E, ao mesmo no campo, então () a evasão de, de gente do campo é uma coisa horrorosa, porque ninguém mais quer trabalhar no campo, eles têm que entender que mesmo que eles estudem, o campo precisa ser tratado. Então vão ser engenheiros agrônicos, vão ser o que quiserem, mas tem que voltar, porque se alguém não cuidar do campo, o que () vamos fazer? Vamos todos morrer de fome? Porque () eles, então, eles tomaram uma espécie de horror, () as profissões, que são ditas de pessoas analfabetas e semianalfabetas. Isso aqui tem que haver, naturalmente, uma regulamentação diferente, sei lá, como o estudo. Há certas profissões que podem desaparecer, que a máquina pode substituir, mas há certas coisas que têm que continuar de algum modo. Como é, não sei como é que vai ser, mas quer dizer, essas profissões se tornaram um pouco pejorativas, porque calhou que primeiro era só gente analfabeta que tinha. Então tinha que ser mudado o conceito todo, e ser reestruturado tudo, mas elas não podem desaparecer, porque senão vai haver carência de muita coisa no mundo. Porque os pequenos serviços, os serviços modestos também têm que ser feitos. Você não pode só viver de, de cultura grande, de conhecimentos profundos, de, de cálculos infinitesimais e cálculos () de, de, de foguete atômico e o resto? A gente tem que viver antes para cá para chegar até lá, né? E de modo que isto é que eu acho que isso que atrapalha, não só aqui () no Brasil, como em todos os outros, os outros países, é a falta de gente que se sente inferiorizada, porque trabalha em trabalhos modestos e que não é, tem que ser, eles também são necessários, também são, sao, são tão bons quanto os outros, né? De modo que é meio complicado a história (risos)

SPEAKER 0: : () dona Marília, quais (), quais as possibilidades de trabalho, uh, no seu ponto de vista? Que teria esse pessoal de nível não escolarizado?

SPEAKER 2: : O não escolarizado, a possibilidade de trabalho, eu acho que a pessoa querendo sempre arranja trabalho, sendo honesto e, e bom tem. Agora, eles precisam (), uh, procurar trabalhar numa coisa que eles tenham um jeito. Eu acho que isso, infelizmente, ainda não há, mas aí já poderíamos dizer que eles precisariam ser () escolarizados num sentido que precisaria ter mais escolas aqui de profissionais, não Não, não para nível muito superior, mas para um bom nível, porque o que nós mais precisamos, já disse que se alguém conseguisse aqui fazer uma firma, que tivesse ótimos encanadores, torneiros, () encanadores mais (), para consertar janelas, consertar portas, pequenos consertos, Então, se ele tivesse um bom pessoal, ficaria rico, porque o que todo mundo em casa precisa de tudo isso e não existe esse tipo de, de, de, de, de () De modo que a gente fica desesperado, com a torneira pingando, até a gente achar uma pessoa que saiba trocar uma, uma, uma, uma sola, uma torneira, você fica alucinada. Entupiu o encanamento, até você achar um encanador. Então, a pessoa que arranjasse, mas precisava, esse tipo de profissional é que essencial e é esse tipo que eles não querem, porque ou eles são analfabetos, então não vão ser nada, ou vão fazer esse trabalhinho, vão lavar automóvel, ou então já querem passar para faculdade. Não há, não há um tipo de gente que aceite esse meio de serviço, quer dizer, precisa haver um jeito que, se eles ganhem bastante, e sejam () condicionados para a ideia que eles não, que eles não estão sendo humilhados porque eles não, não, não chegaram à faculdade. O serviço do bom profissional é tão bom em todos () os níveis. O profissional do primeiro grau, do segundo, do superior, sendo um bom profissional, ele é um bom profissional e pronto. O resto a gente ignora. Quer dizer, não precisa saber (), sabe muito ou sabe pouco Fora do ramo dele. E é isso que () eu acho essencial no país para poder ir para diante, porque você não vive só de, de, de, de, de gente ma, magnífica, cultíssima, sabendo tudo muito bem, e uma turma de curiosos, como a gente chama. Ah, sabe, aquele sabe que arremendar chega com arame e arremenda aqui. Arremenda ali, mas no dia seguinte o arame estoura, né? E é esta parte que eu acho que precisaria que () esse pessoal aprendesse a ser profissional na profissão escolhida. Agora, como é que seria feito isso? Não tenho a menor ideia. () e, e vai se dizer, educadora, nem, nem criar cursos ou, ou, ou, ou pregar as massas, como dizer, mas gostaria que alguém descobrisse isso por mim. Uh, (tosse)

SPEAKER 0: : Se alguém pedisse a sua opinião, tivesse indeciso sobre a, a decisão De que caminho tomar para uma certa profissão? E pedisse o seu conselho. Que profissão a senhora aconselharia essa pessoa a seguir? Atualmente, né?

SPEAKER 2: : Bom, atualmente, mas a pessoa precisaria pelo menos ter uma opção.

SPEAKER 0: : Se ela não tivesse opção nenhuma... Nenhuma? () ajuda

SPEAKER 2: : Bom, eu acho que isso é uma ajuda que você não pode dar. Porque hoje em dia há tantas profissões, tantos caminhos, que, que eu não, eu não () fazendo parte de um, de um teste () de profissional, nada disso. Eu acho que é muito arriscado você dizer vai estudar () letras, porque pode ser que a pessoa, no fim, vai influenciado por mim e no fim eu tinha o mesmo jeito para matemática. Quer dizer que a pessoa pelo menos tem que, tem que me dar um, uma deixa, né? Porque é (), porque é muito perigoso. Minha Tainá, prima que tem dois filhos e eles eram amigos de um primo mais velho que estudou engenharia. E ele era engenheiro. E os dois se entusiasmaram muito. O mais velho entrou brilhante mesmo da faculdade e o segundo também foi atrás. Quer dizer, foi atrás para fazer o vestibular, não passou no vestibular. Daí o menino ficou cheio de complexo, ficou tristíssimo e tudo isso. Depois ele foi fazer teste, ele passa a queda dele na arquitetura. Quer dizer, era dentro da engenharia, realmente, mas ele não tinha, não era a parte, uh, da eletricidade que, que, que era o perdão dele, tanto que ele entrou vai se formar brilhantemente, está trabalhando com engenheiros lá, com arquitetos no Rio, quer dizer que a pessoa, por um, você veja que eram dentro da mesma profissão, mas foi apenas porque ele se foi levado pelo primo, como o primo era, ele foi, né? E quer dizer, estava errado, quer dizer, como é, então esse já tinha ainda a queda da engenharia. Agora, se um vem me perguntar se vai ser estudar engenharia ou grego, () Eu posso dizer, bom, você tem mais jeito para grego, mas ele vai dizer, de todas as profissões, qual é que eu escolho? Só fechando os olhos, fazendo com o dedo, marcando uma, né? (risos)

SPEAKER 0: : Mas aí a senhora, talvez, orientasse pela profissão, a gente é induzida a orientar a pessoa pela profissão que a gente mais admira, né? Não E no caso, qual a profissão que a senhora acha que é mais, do seu entender, né? Qual a profissão que a senhora acha que é mais valorizada atualmente, que a senhora gosta mais?

SPEAKER 2: : Não, como eu disse, () a profissão que eu acho mais bonita, mais interessante é médico. Mesmo. E se quiser, jamais induziria uma pessoa para ser médica se não fosse... se não tivesse jeito. Porque eu acho que médico que não tem jeito é uma calamidade. Porque não, não é, não, não, não, não tem o que a gente diz, a maneira de cabeceira, né, que não é possível. Agora, atualmente, no momento, ainda está administração de empresas, economia, engenharia, São as profissões que no momento estão. Mas também é, é perigoso você influenciar apenas pelo momento. Quem nos garante que daqui a, a dez anos, a profissão que vai ser mesmo interessante vai ser Arqueologia? Ninguém garante que você não é, mas é possível, porque (), é, vira. As profissões, houve um tempo, no tempo do começo do século e no fim do passado, a advogado era uma profissão muito bonita, hoje em dia é uma carreira que o pessoal está, agora estão tentando, uh, reestruturar tudo para voltar, porque são poucos agora que estudam a advocacia. Porque ela não, ela não, não, não variou muito, ela não dá campo para as pessoas. Então você não pode prever, se você quiser, para o, para o, para o dia de hoje, tais profissões são muito válidas. Mas quem garante que daqui a dez anos inteiramente desatualizados e a pessoa até pode ficar penando por aí porque não tem do que viver da profissão escolheu. De modo que eu acho que eu jamais daria conselho, a não ser que a pessoa já me revelasse uma queda para uma, uma, uma coisa. Então, se está com queda para aquilo, então vai. Mas você, assim, escolher porque eu gosto e você deve fazer isso, né, porque imagina, podia levar () pessoa a perder tudo, a não progredir na vida, ficar sem trabalho, daqui a dez anos, era uma responsabilidade muito grande.