Inquérito SP_DID_271

SPEAKER 1: : Doutor Luiz, ãh... nós vamos conver, fazer uma entrevista com o senhor a respeito de São Paulo Antigo. O senhor deve ter muita coisa importante para contar para a gente, então eu gostaria que o senhor dissesse como é que era o São Paulo antigamente, como é que era o comércio, tudo que o senhor se recordar de São Paulo Antigo, eu gostaria que o senhor contasse, por fa

SPEAKER 0: : Tem que falar próximo demais?

SPEAKER 1: : Não, pode falar.

SPEAKER 0: : como paulista, nascido no interior do estado de São Paulo, para que vim de bo, da cidade de Botucatu em março de mil e novecentos e vinte, quando nessa época São Paulo era praticamente uma cidade provinciana com cerca de quinhentos e cinquenta mil habitantes. Naquela época, quando eu vim para São Paulo acompanhando a minha família, cheio de ilusões, com quinze anos de idade, com a minha primeira calça cumprida, e vim aqui com o intuito de estudar, seguir os cursos que eu havia feito, os cursos primários em Butucatu. Mas, devido à situação financeira da minha família sempre modesta, eu preferi, no início da minha vida enfrentar o comércio como simples empregado, principalmente no ramo de automóveis e de perfumaria. Passados alguns anos aqui de... de rapaz ainda inexperiente, eu ingressei no ginásio do célebre professor José Marques da Cruz, um dos maiores, mais notáveis filósofo, filólogos de nossa que... convivência saudosa aqui em São Paulo, Eu terminei meu curso ginasial em São Paulo em mil novecentos e vinte e seis, quando, em, no início de mil novecentos e vinte e sete, eu ingressei na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, então chamada Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, diplomando-me e defendendo o tese de doutora, doutoramento em Obstetricia e Ginecologia em mil novecentos e trinta e três. Daí em diante, segui minha vida de malariologista no serviço da Light, a célebre compania canadense, e em seguida, um ano e meio depois, ingressei no Serviço de Saúde Pública do Estado, onde me encontrei durante longos anos, à frente de diversos serviços especializados, terminando a minha carreira como diretor-geral do Departamento de Saúde do Estado de São Paulo, de onde me retirei há quatro anos. São Paulo, naquela época, cidade de pouco mais de quinhentos e cinquenta mil habitantes, era realmente uma cidade encantadora, uma cidade pacífica, povo simpático, ainda não convivido com e pes De maneira que era um prazer imenso rever, éh... viver naquela época onde nem se pensava em assalto, nem se pensava em desonestidade. Era uma cidade praticamente pouco diferente daquela vida que nós leváramos no interior do estado de São Paulo. Quando aqui nós chegamos, desembarcamos nesta velha estação da Sorocabana, A Rua Duque de Caxias era apenas uma rua de comércio com casas pequenas. São Paulo, praticamente naquela época, não tinha prédio nenhum, a não ser na Rua Líbero Badaró e na Rua Direita, prédios modestos que hoje estão apagados no meio dos arranha-céus dessa floresta de aço e cimento. Da maneira que São Paulo, nesse tempo, evoluiu profundamente. Tanto assim que nossos primeiros contactos com a vida universitária em São Paulo foram feitos na Rua Brigadeiro Tobias, onde praticamente se desenvolveu a Escola de Medicina de São Paulo e depois se transferiu para o Araçá, na onde está até hoje conhecida celebramente como a Universidade de São Paulo ou a Escola de Pinheiros.

SPEAKER 1: : Dr. Luiz, como é que eram as ruas antigamente?

SPEAKER 0: : As ruas de São Paulo, naqueles tempos, praticamente não conheciam o asfalto. Era tudo quase paralelepípedo. São Paulo, naquele tempo, estava tão ainda cidade com aspec, ()irando que no próprio bairro das Perdizes, onde eu resido hoje, eu vi o começo da Rua Toriaçu, com a Rua Cardoso de Almeida ainda chão e cavalo amarrado na p na porta de um dos armazéns. Entre a Santa Cecília e as Perdizes, praticamente, havia um banhado, aí junto da... do viaduto Olímpio da Silveira, onde havia uma fábrica de farinha, banhados, brejo. O Pacaembu não era mais do que um regato, onde eu, menino, jogava futebol e a bola, de vez em quando, caía na água para a gente () e sujar as pernas todas. São Paulo, naqueles tempos, tinha os seus bairros aristocráticos, principalmente os dois Campos Elíseos e Higienópolis. Era um bi() avenida paulista, praticamente a célebre avenida dos fazendeiros. Era uma rua obrigatória para todos aqueles que vinham para cá para fazer um passeio de bonde, para ver a velha avenida do Espigão, que hoje é muito conhecida. De maneira que São Paulo daqueles tempos era uma cidade sem asfalto, sem ruído, se... somente bonde, poucos ônibus, quase nada, bondes ainda abertos e depois a introdução dos bondes fechados, os camarões e os bondes que transitavam de um extremo ao outro da cidade, se não me engano eram cinquenta linhas de bonde, mais ou menos. E eu conhecia todas elas de cor, porque eu mexia muito pela cidade afora, São Paulo hoje, que nós estamos aqui com uma linha de metrô norte-sul, a gente fica admirado de a distância que a gente percorre em tempo reduzidíssimo, quando nós levávamos praticamente, nos tempos antigos, do Bosque da Saúde à Santana, uma hora e meia de bonde passando pelo centro da cidade.

SPEAKER 1: : E a iluminação nas ruas, como é que é?

SPEAKER 0: : A iluminação do sã, São Paulo, principalmente nos bairros onde eu residi, os bairros dos Campos Elíseos, os bairros de Santa Efigênia, praticamente a iluminação era feita com gás. Todas as noites, ao cair do dia, um indivíduo com uma cana, tipo sacristão, ia acendendo lampião por lampião em cada esquina. E à noite a cidade aparecia iluminada com uma luz, tipicamente uma luz, de pirilampo, com uma luz azulada muito bonita, que dava um aspecto muito poético. A velha cidade de São Paulo, cidade das glicínias e da garoa, como era conhecida naqueles tempos.

SPEAKER 1: : E como é que era o centro da cidade?

SPEAKER 0: : O centro da cidade de São Paulo era apenas o triângulo conhecido que é constituído pela Rua Quinze de novembro, Rua Direita, Rua São Bento, Rua Líbero Badaró, Rua José Bonifácio e Rua Quintino Bocaiúva. Ali era o centro, era a vida de São Paulo todo. Não existia a Praça Patriarca, a Praça Antônio Prado era muito modesta, a Avenida São João era apenas uma rua estreita começando na Praça Antônio Prado e vinha praticamente até a atu, a atual Praça Marechal Deodoro Rua estreita, com bonde, casas todas pequenas, no máximo com três andares cada uma.

SPEAKER 1: : E quais os palácios que existiam naquele tempo?

SPEAKER 0: : Naqueles tempos, praticamente nem o próprio Palácio dos Campos Elíseos. Havia na Rua Quinze de Novembro, na Rua Líbero Badaró, uns prédios tipicamente paulistas, de grande projeção da época, Palacete Prates, onde funcionou a Câmara Municipal, depois construíram o Palácio dos Campos Elíseos, mais tarde construíram o... o Hotel Término, que chamou a atenção na Rua Brigadeiro Tobias, e quando começaram a construir o primeiro Arranha-Céu de São Paulo, o Célebre Martinelli, que deu praticamente, faliu duas firmas pelas funda, pela fundação que deu água durante muitos anos, O Martinelli ficou célebre em todo o exterior do estado, no interior do estado de São Paulo, e mesmo pelo Brasil á fora, como um arranha-céu notável para a época.

SPEAKER 1: : E a vida social naquela época como é que era? Onde é que vocês se encontravam? Que lugares vocês frequentavam?

SPEAKER 0: : A vida social de São Paulo naquela época era muito interessante porque naqueles tempos, Os acadêmicos de Medicina, Engenharia e Direito, que naquela época só três escolas funcionavam, além da Escola Álvares Penteado de Comércio, mas a Universidade tinha essas três escolas. De maneira que os estudantes dessas três faculdades eram muito bem vistos na sociedade paulista, porque nós éramos muito poucos. Na Faculdade de Medicina de São Paulo, nós éramos apenas trezentos alunos, cinquenta em cada turma. De maneira que a sociedade nossa de estudantes se diluía através de clubes, através de casas de família, muitos sarões, serões e soares, etc. E o centro da cidade, o Bar Viaduto, o Bar Guarani, e Castelões e outros, Rotecerias Porteman, todos esses pontos eram pontos de reunião. E, além disso, os clubes também sociais que () certa importância na cidade.

SPEAKER 1: : Doutor Luiz, como é que era feita a limpeza pública naquela época?

SPEAKER 0: : A limpeza pública na cidade de São Paulo naquela época era feita com carroções, puxado animal, né? E... E varedores de rua, praticamente os garis de hoje.

SPEAKER 1: : E as lojas, lojas do que se tinha naquela época?

SPEAKER 0: : Loja de fazenda, loja de... principalmente fazendas e muitas lojas de ferragens. de material de construção, porque São Paulo estava, como está até hoje, numa fase contínua de expansão. De maneira que fazendas, armarinhos e ferragens. E depois, mais tarde, com o correr dos anos, que vieram as novidades, os elétro-domésticos.

SPEAKER 1: : E quando o senhor queria comprar alguma coisa para lanche assim, onde o senhor fazia essa compra?

SPEAKER 0: : O lanche?

SPEAKER 1: : O lanche de hoje. aquele lanche à tarde, queria comprar alguma coisa diferente.

SPEAKER 0: : Onde o senhor fazia essa compra? Na faculdade de medicina da escola, nós tínhamos nos salões próprios de refeitó, refeitório. Mas, na prática, nós compravamos nos empórios. Todo mundo naqueles tempos comprava no empório do vizinho, no empório da esquina. Em geral, as compras eram feitas através de caderneta. O... vendeiro assinava e a gente pagava no fim do mês.

SPEAKER 1: : E o comércio no centro era mais ou menos como hoje? Já haviam lojas na rua direita, na São Bento?

SPEAKER 0: : Praticamente todas as lojas importantes, Casa Mappin e Casa Alemã, o Sloper, todo no centro tinha um movimento extraordinário em relação à época Casa Didier e outros, sitiada na... situada na praça hoje patriarca. Mas a mais importante, a mais conhecida, a Casa Sloper, a Mappen Stores, que ficava na Praça Patriarca, e algumas outras casas importantes na Rua Direita, principalmente na Rua quinze. A Rua Quinze de novembro, sempre foi como a Rua Álvares Penteado. Ruas, principalmente, ficam sediando os bancos de São Paulo. E depois, logo mais tarde, depois de alguns anos da nossa chegada a São Paulo, Iniciaram-se as lojas aqui, chamaram-se lojas americanas, ou casas (), onde se comprava de tudo e por preço muito reduzido, quer dizer, inteiramente à disposição da bolsa do pobre.

SPEAKER 1: : O atendimento era o mesmo que há hoje ou era diferente?

SPEAKER 0: : Naturalmente, o atendimento daquela época era muito mais agradável do que hoje, porque a oferta era muito maior do que a procura. Todo mundo procurava vender com muita cortesia, de maneira que hoje, que nós avançamos longinquamente através dos anos, nessas reminiscências praticamente até nem fazem bem à saúde, porque cada reminiscência que nós temos é um estresse a mais a perturbar a nossa tranquilidade, que nós tanto desejamos.

SPEAKER 1: : Quando o senhor queria comprar os seus livros de medicina, não sei se o senhor comprava na própria faculdade, mas caso isso não acontecesse, a quem o senhor recorreria?

SPEAKER 0: : Os livros de medi, era muito difícil a gente comprar livros em São Paulo, ou no Rio de Janeiro. Nós, em geral, mandávamos buscar livros na França, principalmente na França na It, e na Itália, o. através de firmas importadoras. Eu, por exemplo, adquiri meus livros de cir, medicina, cirurgia, de anatomia, tudo. em Paris, do Otávio Doyon.

SPEAKER 1: : Doutor Luiz, e as... os alunos do da universidade que não eram de São Paulo, onde é que eles costumavam ficar? Onde é que eles moravam?

SPEAKER 0: : Os alunos da de a... as das esc Os alunos das três escolas () Engenharia, Escola Politécnica, Escola de Direito, Escola de Medicina, em geral, esses alunos moravam ou em pensões familiares ou em repúblicas, como nós chamávamos, reuniam-se e moravam em repúblicas em conjunto de cinco, seis rapazes, onde eles tinham lá uma maneira mais fácil alimentar-se através de uma empregada, etc.

SPEAKER 1: : Onde é que o senhor guardava o dinheiro do senhor? O senhor deixava sempre em casa ou usava algum outro sistema?

SPEAKER 0: : Eu não posso dizer onde guardava o meu dinheiro, porque eu não tinha dinheiro. Era... Em geral, nós, ãh... poucos alunos naquela época tinham dinheiro. Eu lembro muito bem, na minha turma de medicina, nós éramos cinquenta, e duas mulheres, E o resto homens, dois deles apenas tinham seu automóvel. Nós outros todos íamos para a escola, principalmente de bonde, que era o mais barato. Lembrando que o dinheiro que eu tinha eu escondia no meu próprio bolso, porque era muito pouco para esconder em outro lugar.

SPEAKER 1: : E as pessoas que tinham dinheiro, onde que elas guardavam?

SPEAKER 0: : As pessoas, os colegas que tinham muito dinheiro, guardavam através dos papais ricos.

SPEAKER 1: : Havia medidas de segurança naquela época? E quais as que não haviam e que há hoje, que o senhor acha que são importantes?

SPEAKER 0: : As medidas de segurança daquela época eram relativamente modestas, porque naqueles tempos ninguém pensava em assalto nem nada. Eu me lembro que naquela época eu ia assistir festas à noite com meus irmãos na freguesia do Ó, e vinha de lá a pé até o bairro dos Campos Elíseos, sem jamais pensar no assalto, duas, três horas da manhã. A guarda civil de São Paulo, feita com portugueses antigos (), era uma guarda que praticamente nem usava revólver, usava só um bastão, porque o respeito mútuo entre as autoridades e o povo daquela época era muito grande. São Paulo praticamente não precisava de segurança, era difícil antes ler na imprensa ou saber de um crime, como o crime da mala, poucos que deixaram todo mundo arrepiado, porque é uma coisa excepcional. A tranquilidade era realmente muito agradável em São Paulo.

SPEAKER 1: : O senhor falou que vinha a pé da freguesia do Ó para os Campos Elíseos Por que que vocês vinham a pé? Porque os meios de transporte eram difíceis ou porque vocês gostavam?

SPEAKER 0: : Primeiro, nó, os meios de transporte eram difíceis. não existia diretamente, depois de uma hora () Depois de meia-noite, os bondes paravam de circular. E duas, três da manhã, nós não tínhamos outro recurso, senão fazer a pé a caminhada. E, além disso, nós tínhamos a nosso favor, a nossa mocidade, a nossa vontade de andar à noite conversando e trocando ideias.

SPEAKER 1: : Além desses detalhes que o senhor contou para a gente de São Paulo Antigo, O senhor poderia descrever a cidade de São Paulo assim, comp éh, ornamentada? As ornamentações que existiam na cidade ou em festividades ou em dia comum?

SPEAKER 0: : As ornamentações da cidade eram p, quase somente na Avenida São João, nas ruas centrais, durante o carnaval praticamente não existia, mas hoje essa ornamentação ostentosa como se vê atualmente no Natal, geralmente era muito modesta, só mais ela no Carnaval mesmo.

SPEAKER 1: : E como é que o senhor descreveria essa paisagem que o senhor recorda agora? Eu... e ()

SPEAKER 0: : Com muita saudade, porque eu não sou... acho que o saudosismo é natural da idade da gente, mas hoje que nós vemos essa falta de respeito, essa mocidade crescendo, no início nós praticamente sentimos chocados com o convívio, com a situação atual de falta de respeito, tudo isso que é o fruto da época. Mas não há dúvida que nós olhamos com muita saudade, muita recordação do início de nossa vida em São Paulo, principalmente na déc, nas décadas de vinte a trinta e trinta a quarenta. Praticamente a situação começou a tornar-se mais difícil ao partir do início da Segunda Guerra Mundial, em mil novecentos e trinta e nove, e principalmente após o fim da guerra, quando um grande número de estrangeiros veio para cá trazendo novidades e uma série de coisas que praticamente vieram modificar completamente o status de nossa situação social, vamos dizer, em São Paulo.

SPEAKER 1: : O senhor poderia fazer um paralelo da... da paisagem de São Paulo de antes e São Paulo atual? No que, o que que o senhor acha que melhorou e no que o senhor acha que piorou?

SPEAKER 0: : O que melhorou profundamente foi o transporte, a abertura de novas avenidas, principalmente quando o engenheiro Prestes Maia, com uma visão mais ampla, mais larga, de urbanismo, abriu a Avenida Ipiranga e avenida, e outras, a Avenida Radial, etecetera. De maneira que nós, realmente, o transporte coletivo em São Paulo melhorou muito em função da época, porque nós tínhamos um transporte bom, sossegado, que era o bonde, mas o bonde era transporte que hoje, de maneira nenhuma, nós poderíamos aceitar, a não ser na periferia, nos, na ligação interbairros.

SPEAKER 1: : O senhor disse para a gente que, antigamente, quase que não s, éh... era dificilmente havia assaltos. Como é que o senhor descreveria a situação atual dentro desse se etor. Não, eu. Eu vou perguntar (risos) outra vez. O senhor disse que, antigamente, dificilmente existia um assalto. Então, eu gostaria que o senhor descrevesse a situação de hoje dentro desse mesmo âmbito de assaltos. Como é que o senhor descreveria a situação de hoje nesse aspecto?

SPEAKER 0: : Hoje não é novidade que nós vivemos praticamente, como disse o próprio secretário da Segurança Pública, esse grande secretário que hoje está aí, o coronel Erasmo Dias, que entre dez pessoas praticamente cinco, seis tem medo de assalto, tem medo de morte. Hoje nós vivemos praticamente sob o signo do medo. A gente não deixa nada aberto, não sai mais à noite com tranquilidade, não vai mais a lugar nenhum quase, de maneira que a sensação hoje de instabilidade é sempre grande, porque é fruto da época, é fruto da questão socioeconômica do país, de tudo. Que, aliás, é muito boa, mas, mesmo assim, o número de assaltos cresce em proporção praticamente ao afluxo, principalmente, de pessoas de outros estados, de outros países, que afluem sempre, infelizmente, para os grandes centros que é um grande mal.

SPEAKER 1: : Doutor Luiz, e quais os tipos de assalto que existem? Os tipos de assalto?

SPEAKER 0: : Os tipos de assalto nós estamos vendo que são assaltos bancários, assaltos a casais, assalto de todo lado, principalmente em indústrias pagadoras nos meses de recebimento de, do operariado e tudo isso. O assalto hoje é variável, são múltiplas as formas, que o indivíduo tem de assaltar.

SPEAKER 1: : Quais as melhorias que o senhor acha que nós tivemos no setor social, na parte de diversões?

SPEAKER 0: : Depende de encarar as diversões para as ca, diferentes camadas sociais. Para as camadas de, do meu tipo, da minha faixa etária, nós temos a impressão que as coisas pioraram muito. Agora, a mocidade, Pensa diferentemente, acha que tudo que o excesso de liberdade trouxe muita facilidade para diversões.

SPEAKER 1: : Doutor Luiz, como é, voltando ao assunto das lojas né (risos), como é que o senhor descreveria a parte interna de uma loja?

SPEAKER 0: : O que existe dentro de uma loja? As lojas praticamente internamente eram praticamente diferente de hoje, porque o, os compradores também, as senhoras que procuravam, eram geralmente também pessoas muito bem-intencionadas, tudo isso, não havia más intenções em lograr ninguém. De maneira que, em geral, os funcionários das lojas antigas, as funcionárias, eram todos indivíduos muito bem-educados, muito bem-intencionados, porque era muito difícil naquela época ganhar dinheiro. Quem tinha um emprego, devia dar graças a Deus, de ter um sustento para o seu lar. De maneira que era obrigação era a... da reciprocidade de trato entre o que procurava a loja e os que vendiam.

SPEAKER 1: : E o que eles faziam antigamente para atrair a atenção do freguês?

SPEAKER 0: : Fazia-se para é, para atrair a atenção do freguês a concorrência né, oferecendo cada um o seu produto com as suas modestas propagandas, etece Mas em geral, naquela época, todos os produtos eram bons porque, vamos dizer com toda sinceridade, a industrialização maciça, a produção em massa, trouxe aparentemente uma melhoria para o povo em geral, principalmente com o advento do polietileno, com a construção dos plásticos, tudo isso. Mas naquela época, quando não havia nada disso, os produtos eram realmente muito bons. Roupa a gente comprava para durar o resto da vida. Hoje a gente compra para usar e, praticamente, botar de lado.

SPEAKER 1: : Doutor Luiz, onde, quan, ãh, em lojas de roupas feitas, onde essas roupas ficavam expostas por freguês?

SPEAKER 0: : Naqueles meus tempos, () os primeiros contactos com a minha vida em São Paulo, praticamente não havia roupa feita. A gente mandava fazer tudo em alfaiate. Depois, na década de, talvez, de trinta e que começaram a surgir as roupas de () e outros aí, roupas feitas tipo padrão, de acordo com números.

SPEAKER 1: : E as fazendas, elas ficavam expostas aonde? A hora que o freguês passas, para a hora que o freguês passasse, ele pudesse ver, se interessar e entrar dentro da loja?

SPEAKER 0: : Ficava exposta como hoje mesmo, em manequins, em vitrinas e portas abertas, fazendas e os produtos que interessavam. O senhor disse que antes tudo era comprado pela caderneta, certo? Naquela época, como dissemos, em geral, qualquer pensão, qualquer dona de casa não usava comprar dinheiro. Comprava no próximo armazém, com caderneta, e o vendeiro ia assinando, ia anotando mensalmente, minha mãe e outros, todos que eu conhecia, pessoa, dona de pensão, casa de família, comprava, pagava o padeiro, o padeiro entregava em casa, a gente procurava, em geral, pagando sempre no fim do mês.

SPEAKER 1: : E no setor financeiro, atualmente, quais são as vantagens que o senhor acha que um... um... () um dono de uma loja pode oferecer para o cliente?

SPEAKER 0: : A oferta é muito grande, é até demais. A oferta é de tal maneira hoje desproporcional e f() que quase sempre anunciam o valor de uma prestação da entrada e nunca quase anunciam o quanto esse indivíduo que vai comprar deve pagar. De maneira que eu acho praticamente que ilude muito, porque qualquer indivíduo de baixo padrão de vida, principalmente nos fi... de festa de fim de ano, atraídos por essas ofertas assim muito fáceis, acabam comprando aquilo que no fim não pode pagar.

SPEAKER 1: : O senhor acha que as facilidades são maiores atualmente ou menores? Para o fregrê Para o freg, ai nossa falar essa palav., Para o freguês.

SPEAKER 0: : Hoje a... a oferta, as facilidades são enormes para o freguês. Hoje oferece crédito para tudo. O indivíduo pode levantar com facilidade, empréstimo de todo lado, desde que ofereça certa garantia. Hoje o sujeito tem crédito para viajar, tem crédito para comprar, até comprar coisa que o sujeito nunca sonhara na vida.

SPEAKER 1: : Dr. Luiz, antigamente, antigamente ou hoje mesmo, quando se fazia alguma com, ãh, alguma compra de alguma propriedade, quais eram os princípios básicos para essa compra?

SPEAKER 0: : Naqueles tempos, praticamente, era muito difícil a gente adquirir um imóvel, principalmente porque A falta de dinheiro era muito grande, a vida era muito modesta. Pouca gente tinha, dispunha de... Naqueles tempos, havia gente que... proprietários, donos de casas de aluguéis, a gente tinha vinte, trinta, quarenta e mais casas. Mas o povo, em geral, praticamente não tinha recursos para isso, porque era muito difícil.

SPEAKER 1: : E hoje, quais os princípios básicos para a compra de um imóvel?

SPEAKER 0: : Hoje, para o compro do imóvel, eu sugiro ter garantia de que pode pagar e pode aguentar com a entrada e com as prestações de acordo com a tabela em vigor.

SPEAKER 1: : Ele precisa assinar algum papel, alguma coisa para a compra desta... desta propriedade?

SPEAKER 0: : Eu praticamente vou pedir desculpa, porque eu como médico e principalmente aposentado, estou afastado dessa questão imobiliária, mas acho que as exigências São, paralelamente, as ofertas. Ou seja, oferece muito e exige mais do que se oferece para o indivíduo comprar o seu imóvel.

SPEAKER 1: : E para viajar, quem é que o senhor procura quando quer viajar e quais as facilidades ou não facilidades que o senhor encontra?

SPEAKER 0: : Hoje, para viajar, não precisa nem procurar porque as próprias revistas e jornais anunciam viagens. da maneira mais fácil que o sujeito pode ter um plano de viagem que o indivíduo ou paga à vista ou então paga em prestações mediante a, uma avalista qualquer de acordo com o formulário que o indivíduo preenche.

SPEAKER 1: : Se não tivesse esses anúncios nos jornais a respeito de viagens e o senhor quisesse viajar, quem o senhor procuraria?

SPEAKER 0: : Se eu não houvesse esses anúncios assim, eu procuraria diretamente a, o que eu conheço através de livro, de geografia, de tudo, e procuraria um banco ou, nos recursos que eu pudesse dispor e, nada mais, uma companhia de navegação, ou navegação f marítima, navegação aérea, com muita facilidade.

SPEAKER 1: : Eu sei que o senhor vai falar que a sua esposa responderia melhor. Para uma dona de casa, quais as facilidades que o senhor acha em relação ao comércio que são oferecidas a ela atualmente?

SPEAKER 0: : Eu acho que para a dona de casa é muito fácil, porque a dona de casa entra num estabelecimento, principalmente supermercado, os preços estão todos à mostra, de maneira que não é nada difícil selecionar, encher o seu carrinho e sair. Ou vai numa loja, também em geral os preços estão afixados, Não há dificuldade nenhuma. Acho que nesse ponto de vista, apesar de não haver mais aquela simpatia, aquela reciprocidade dos tempos antigos, mesmo assim, hoje é muito fácil comprar. Só que pode-se comprar muita coisa que aparentemente é bonita, mas que na realidade não tem o valor da mercadoria dos tempos antigos.

SPEAKER 1: : Como o senhor definiria o trânsito atualmente e o trânsito há uns anos atrás, uns bons anos atrás? Quais as diferenças fundamentais que o senhor notou?

SPEAKER 0: : O trânsito de hoje é um trânsito infernal, porque principalmente devido ao grande número de carros novos, automóveis, que são lançados diariamente na circulação. cresce assustadoramente, de maneira que praticamente nem há meio de a gente comparar o trânsito de agora com o trânsito de trinta, quarenta anos atrás, porque naqueles tempos, embora a cidade fosse constituída de ruas estreitas, calçadas de paralelepípedo, e com todas essas dificuldades, o trânsito era muito modesto, praticamente era o bonde, depois o ônibus, poucos carros, mas depois que vieram as fábricas de automóveis de fora para cá, Volkswagen e outros, etecetera Então, a aquisição de um carro tornou-se muito fácil, de maneira que hoje não há quase empregado do comércio ou indústria que não tenha seu próprio carro. E a medida, a dificuldade do trânsito cresce paralelamente a em... a esse número de veículos lançados diariamente na circulação e, vamos dizer, a falta de educação de trânsito, principalmente de quem guia e do próprio povo, dos próprios pedestres.

SPEAKER 1: : Já havia essas medidas de segurança em relação ao trânsito ou não? E essas sinalizações também?

SPEAKER 0: : Naqueles tempos, praticamente, a sinalização era apenas o guarda na rua. Não existia semáforo. O semáforo veio muito mais tarde e praticamente os semáforos que vieram para São Paulo, não sei se para o Rio de Janeiro, foram até importados dos Estados Unidos.

SPEAKER 1: : Doutor Luiz, ãh... a parte de diversão de vocês, em reunião de amigos, assim, o que mais vocês gostavam de fazer, por exemplo, aos domingos?

SPEAKER 0: : Naqueles domingos, praticamente, em São Paulo, a gente não tinha onde ir. São Paulo era uma cidade praticamente pobre de diversão. Nós tínhamos que sair e sair e passar em Jaraguá, passar em certos parques, ou se não, sair para uma pescaria, ou uma caçada, que naquele tempo ainda não se andava muito.

SPEAKER 1: : Só existia esse tipo de diversão? Não existia nenhum outro?

SPEAKER 0: : A não ser para a mocidade que gostava de bailes e outros divertimentos. Mas eu, principalmente, que fui muito infenso a essas reuniões, nunca fui, nunca aprendi a dançar. Praticamente, as minhas diversões eram sair de São Paulo ou dar os meus passeios, quando pudesse, para o interior.

SPEAKER 1: : E diversões assim, no tocante à parte cultural?

SPEAKER 0: : Era uma coisa muito difícil na época, porque eram sociedades muito fechadas, tudo isso não era nada fácil, a não ser esses grupos mais selecionados dados a, dentro das artes, eles já tinham os pontos de reunião, de contato permanente. Mas, em geral, nós, acadêmicos e tudo isso, não tínhamos quase contato. Nós tínhamos os deveres nossos, em geral, Se eram alunos que pensavam mais no futuro e no dinheiro curto, então nós não tínhamos tempo praticamente de pensar essa