Inquérito SP_DID_265

SPEAKER 2: : Bom, doutor (), nós gostaríamos de começar esse bate-papo falando um pouquinho sobre animais, rebanhos, alguma experiência que o senhor ãh tenha tido, assim, em uma fazenda.

SPEAKER 1: : É a fazenda de meus parentes lá em Tatuí. Ah Tatuí é uma cidade pequena da Sorocabana, perto de Itapetininga, cerca de duas horas de viagem de automóvel, mais ou menos. É uma cidade de... cerca de trinta mil habitantes, pequena, tem um ginásio, tem três grupos escolares, tem a praça da matriz, com o correto ao centro. Nessa praça, aos domingos, o pessoal festivamente vestido passeia, as moças de um lado e os rapazes de outro. É bem interior, bem gostoso. E perto da de Tatuí, nós temos uma fazenda, É uma fazenda de café e gado. A fazenda tem mais ou menos cinquenta alqueires, não é muito grande. É uma fazenda pequena, mas muito bonita. Tem o velho casarão, onde meus avós nasceram. E E com a varanda a toda volta. Da varanda a gente avista o cafezal, que se perde de vista, no horizonte da até a gente vê o verde do café, e de um lado a pastagem. Nessa pastagem, então, nós temos gado, ou melhor, tínhamos gado ãh zibu, os primeiros melhores daqui de São Paulo, tínhamos também uh o gado caipira, que nós chamamos, e eu tinha como o meu, desde menino, um touro. Era o Tostão, que, por sinal me deu um, saindo do curral, me pisou no pé. Era um touro manso, muito bonito, de raça, e malhado, branco e preto. Dessa varanda, eu costumava, quando menino, olhar o cafezal e tinha uma velha taiobeira no meio dele, mais ou menos de uns vinte e poucos metros de altura, onde tinha um ninho de papagaios. Nesse ni esse eh Nessa taiobeira, eu não deixava ninguém chegar perto por causa dos papagaios. E os papagaios parece que entendiam a gente, tanto que eles iam no no ah perto da casa onde tinha... cercado, onde o gado se recolhia antes de entrar para ser ordenhado, tinha o coxo. E ali no coxo nós depositávamos milho, depositávamos sal para o gado. E os papagaios vinham voando comer sal e E eu chegava perto deles, eles vinham comer na minha mão. Esse casal.

Inf :elizmente, um raio abateu essa árvore, incendiou e matou os papagaios. Bom, nós vamos ver voltar para o gado, que é o que nós estávamos falando. Uh o gado era é, como eu disse, um gado zebu, manso, e de grande porte. Pelo menos para mim parecia enormes, porque eu era bem menor né. Mansos, as vacas davam bastante leite. Enfim, a vida que eu passei, em Tatuí, estudando, indo à cidade e voltando para a fazenda, era uma vida muito gostosa. Meus pais, sempre a testa da nossa educação, e olhando por todos, nós éramos dez filhos. Tínhamos também a casa na, ainda temos a casa na Praça da Matriz, em frente à igreja, um casarão que tem duas alcovas, quatro quartos, tem uh o pátio interno, onde tem um poço, embora na cidade já tenha água de eh encanada. É uma cidade pacata, sossegada, onde eu gostaria de viver meus últimos dias. Mas a cidade maior, imprime a necessidade de se né reviver para a educação melhor aos filhos. E aqui estou vivendo, meus filhos mais velhos já na colegial, as meninas, uma terminando o ginásio, a outra também no ginásio. E assim, cá estou para esta entrevista.

SPEAKER 2: : Agora, em casa, o senhor tem, assim, algum animal doméstico? Ou não há possibilidade?

SPEAKER 1: : Há possibilidade, perfeitamente, porque eu vivo numa casa-terra no Ibirapuera, de modo que há possibilidade, mas não é meu animal, é de meus filhos, é um casal de coelhos e alguns passarinhos em gaiola, porque a minha as minhas raízes caipiras ainda me prendem né com gaiolas, passarinhos, de modo que eu tenho os coelhinhos.

SPEAKER 0: : O senhor poderia descrever o coelho? Já o senhor falando sobre o coelho. Tipo de alimentação?

SPEAKER 1: : Falar em alimentação? A alimentação terminou ontem. Eu preciso comprar na Casa Orestes.

SPEAKER 0: : O senhor está falando sobre os coelhos.

SPEAKER 1: : Perfeitamente. Uh Os coelhinhos são roedores, brancos. já de cinco meses. É um casalzinho. Eles se alimentam de verduras, em geral, e também de uma ração especial que eu não sei do que é feita. Eh São grânu grânulos, assim tipo de de cevada, coisa comprimida assim Enfim, isso aí eh é alimentação preparada. Se vende aos quilos. E os coelhinhos, São mamíferos e de cada quatro, cinco meses tem uma cria.

SPEAKER 0: : Doutor (), nós gostaríamos que o senhor enumerasse os animais domésticos que o senhor conhece. Pode voltar à fazenda, inclusive, novamente.

SPEAKER 1: : Bom, agora lá tem ba tinha bastante. Lá nós tínhamos uh quatro cão cães de fila. Enormes, por sinal, que terríveis. Eu ficava dado à rede. E E quando eles botavam a caratonha em cima da gente, a gente levava até susto. E eu, para distraí-los, passava a mão assim. Geralmente tinha pencas assim de espiga de milho. na varanda que mamãe costumava debulhar para jogar pros frangos assim, pras pombas, quando eles vinham voando assim. E eu então pegava o milho, de eh debulhava assim na minha mão e o cachorro comia. Barbaridade! Eram ferozes. Também eram animais tão grandes que quando se atiçava num eh num num gado qualquer, eles pegavam pelo nariz o animal e não soltavam. Parava. Tínhamos, além desses cães, tínhamos os outros pequenininhos do dentro de casa, tínhamos também quantidade enorme de frangos, galinhas, que para alimentação nossa. Tínhamos também, além disso, hum três chiqueirões de porcos, onde o papai costumava cevar os porcos para a fazenda mesmo, Tinha também, além disso, na parte de baixo, o viveiro enorme, cercado, melhor falando, onde existiam galinhas de angola, perus, esses ani essas aves que voam. Então, a cerca era bem mais alta. E e lá, eu vivia espantando os bichinhos.

SPEAKER 0: : O senhor poderia caracterizar, por exemplo, esses animais, dando assim detalhes maiores da vida deles.

SPEAKER 1: : Perfeitamente. Bom, então, primeiro eu falei nos porcos, no chiqueirão. Bom, os porcos eram... não me lembro de... talvez nem tivessem raça. Eram porcos. Mas eram porcos que estavam destinados à engorda e para a manutenção da fazenda, porque papai fornecia para os colonos onde nós tínhamos cerca de vinte e cinco casas, ah o a banha do porco, carne de porco, fornecia o feijão, o arroz e eles tratavam da nossa terra e recebiam o correspondente.

SPEAKER 0: : O senhor já estava falando dos porcos, então eu gostaria que () continuasse.

SPEAKER 1: : É verdade. E E hum esses porcos eram destinados, então, como eu falei, para o sustento da fazenda. Depois tinha a parte dos frangos, das galinhas, ah onde se via aquela ninhada, esparramada. Quando tinha os fi os pintinhos, então uh os as galinhas tinham o direito de ficar soltas. Soltas e para pastar né com os os pintinhos. Também nós tínhamos, como eu falei, mais embaixo tinha a parte cercada, onde tinham os pirus e a galinha-de-angola. Eram essas aves que eu me lembro muito bem. Era aquela gritaria né? Porque os pirus gritando, as galinhas-de-angola gritando, e eu provocando, e eu provocando. Até que uma mulher disse, para com esse negócio. Entende. Era muito gostoso. Aliás, é gostoso a gente lembrar disso, está vendo? Uma coisa que eu estou lembrando agora. E também a nossa casa em Tatuí, que é na Rua (), número trinta e seis. Lá está ainda é um casarão colonial. Que tem sala, a sala de jantar, é enorme, com aquelas tábuas largas. não foi encerado até hoje, está lá mesmo de de tábua raspada, tem no canto da sala ainda o relógio que vai até o forro desse de de repetição, relógio de de de dar corda com manivela. E jun eh Perto da da da da de Tatuí, existia a chácara que era de meus avós também, e foi onde o único tio, irmão de mamãe, cresceram. É uma chácara enorme que fornece hoje ainda, até hoje, a água de Tatuí, que a água encanada vem de lá. É do açude, onde mamãe pescava.

SPEAKER 0: : Os tipos de peixe. Ah os ### () Aproveitando já. Bom

SPEAKER 1: : Pois não, eu conheci, puxa vida. Tinha uh o lambari, de rabo vermelho, de rabo amarelo, de dez centímetros, quinze centímetros. Tinha também, além do mais, uh hum bagres. Tinha... ah como é o nome daquele peixe? Não é piaba, piaba é de rio. Esse lá era açude. Era... Não me lembro como é o nome. É um peixe também de escama. Muito gostoso, por sinal. Não me lembro do nome. E tinha também, além disso, jacarés. No na eh eh É, jacarés. Tanto que, uma ocasião, isso mamãe nos contava né. Eh e a atitude de de lembrança que estamos falando no açude, ela estava pescando. e o anzol enroscou entre os dentes do jacaré. Mas era quando viu o negócio saindo, ela pensou que fosse algum peixe muito grande. tão ela puxou. Quando saiu só a cara tonha do bichão, ela saiu correndo. Então foi aquela gritaria. Aí meu avô desceu lá com uma espingarda e atirou. Atirou porque o jacaré tinha mais ou menos um metro e pouco de tamanho. Não era tão pequeno assim. Poderia causar dano ah às galinhas também que tinha na chácara. Ele saía à noite da água e come caçava também. Como é o nome daquele rojãozinho? Taboa. Isto mesmo. ende e e não () nunca houve possibilidade. Quer dizer, esse era um dos jacarés que tinha lá. E agora a parte pitoresca. Esse jacaré, que foi caçado assim, isso ela contava. Tinha um um italiano que morava em Tatuí. Ele estava de passagem pela chácara, ele apanhou o jacaré e levou. No dia seguinte, ele trouxe uma carne muito bonita preparada num prato, dizendo que era carne de anta. Coisa assim. ão, aproveitaram, comeram e tudo mais. Depois que comeram que ele disse que era do jacaré que ele tinha levado. (risos) Isso é uma coisa engra Ouvi isso mesmo. Entende? É Essa chácara perto de Tatuí tinha, e ainda tem, os restos lá dos tijolos, eh aquele tijolo de de de tijolo largo, velho, batido, que está lá ainda, que era onde ficava a senzala, porque meu avô teve escravatura sabe teve em Tatuí é. E Aliás, ele era muito amigo, Porque eu não sei, isso isso é de cada um, com o meu pai também, porque papai e mamãe foram primos. É o Os meus parentes assim, do do meu ramo, sempre estavam casados assim, primos. Eh A mesma família sempre. Eh que nós temos a honra de pertencer a uma família boa né. De modo que Sempre sempre tivemos eh eh o casamento assim, entre parentes. Tanto assim que uh uh o pai de papai e o pai de mamãe eram irmãos. É São primos mesmo. É e e E já também eles casaram com outras senhoras também que eram parentes entre elas não é? É do Do ramo Rodrigues e Rodrigues Garcia de um lado, e leite roxa do outro, não é? Por isso que eu disse aí na na nos papeizinhos meus pais, foram meus avós também, foram e meus bisavós também são paulistas, dos dois lados, entende? Eu Por isso que eu falei que eu julgo ilustre nesse sentido, porque, sei lá, a gente gosta, né? Porque eu tenho uns quatrocentos mesmo. Entende? Isso não não não ofende ninguém, absolutamente, eu só estou contando, né? Porque eu tenho Tenho esse lastro, sabe do do, na minha família.

SPEAKER 2: : Bom ãh, nós queremos voltar um pouquinho agora para o animais ainda, né? O cafezal, alguma vez, foi atacado por algum animal? Ele foi destruído? Ou não? Vocês nunca tiveram um problema assim?

SPEAKER 1: : Não uh o. O gado nunca... Às vezes que arrebentava a cerca, isso é normal também. Porque o gado, quando ele está na pastagem, que ele não é como o homem, Ele vê uma cena que ele respeita a propriedade alheia. O animal, não é irracional né, ele via, por exemplo, lá entre um pé de café e outro, uma ervinha assim que ele achava que não é? Então ele vai Mas não ah ah, o cafezal nunca foi destruído absolutamente. Praga sim. Praga houve, que destruiu o cafezal e naquele tempo já existia a ferrugem dele né. mas que que não tinha esse nome, porque eu não me lembro. E esse nome eu fiquei conhecendo mais tarde, eu já era mais moço quando falavam em ferrugem, quando houve a penetração do de Instituto Café, no insti do pessoal do Instituto do Café nas fazendas, e orientação para melhor cultura ãh, plantas selecionadas. Então, houve realmente ah a distinção E chegamos a conhecer a ferrugem do café. Antes falavam já é praga não é? Era a praga do café e destruía mesmo.  Não restava nada a mais. Mas, a respeito ainda do café, ah o papai teve uma fazenda, outra fazenda, ali do lado de Bofete. É Era uma fazenda grande. Aliás, ainda temos em casa aqui em São Paulo, pedras pretas, ah que era do subsolo da fazenda, que era eh indício de petróleo. Tanto que nós tivemos, eu lembro o papai contar, que tinha um córrego que tinha cheiro de querosene na água. E essa água era justamente é a região onde, posteriormente, o Monteiro Lobato, falou sobre isto e que depois andaram fechando e tal, não é? Foi daí a razão, era daquele lado. Essas pedras pretas ainda estão, devem estar em casa de meu falecido irmão mais velho, o (), na Rua (), que era da lá da fazenda. Essa fazenda era uma fazenda grande também e muito gostosa, porque eu era muito pequeno, para lembrar de tudo. Chegava nas férias, a gente queria ir para para  fazenda. Então, para para proteção maior assim, mamãe nos mandava. Mas mandava assim, por exemplo, para Tiramboia. Piramboia é uma cidadezinha perto de Bofete é junto de Bofete. Piramboia tinha lá a chacra que era também de papai. Mas que tinha um caseiro que tomava conta dessa chacra há quantos anos, nem sei. Era Paulo Leitão o nome dele e. Era compadre até de papai, que o papai e a mamãe batizaram os filhos dele. Aquela coisa, então a gente falava, papai, eu quero ir para chácara do seu Paulo Leitão. Que era de papai mesmo, mas? Porque lá a gente tinha maior proteção. E era uma chácara deliciosa junto da cidade de Piramboia, que era uma cidade mínima. Areião bravo, aquele areião bem branco. Uma rua ah... tinha um paredão. Perfeitamente que eu me lembro, tinha a parte de cima, assim, uma rua em cima, tinha aquelas escadinhas, assim, na pedra, descia na outra rua de baixo e. E nessa nessa chácara, o que tinha de forte lá eram as melancias. Era uma região seca, onde papai, então, cultivava melancia e essas melancias chegavam. Já agora em Botucatu, onde eu nasci, eu me lembro quando chegavam caminhões com melancias. carregados com melancia, e lá iam para para o mercado, aquelas coisas ah. A venda, no afinal das contas. Mas vinham todos dessa chácara de de Tatuí, de de de piramboia. O que mais vocês querem saber?

SPEAKER 0: : Nós gostaríamos que, tanto quanto possível, o senhor descrevesse a vida de um animal, ou dos animais, desde as...

SPEAKER 1: : Qual é o animal que nós poderíamos eh...  Você pode falar de tudo, o a tostão? Ah, o tostão, o tos (risos) o a tostão. Essa eu me lembra o branco e preto. O tostão... Bom, o tostão era um um touro para reprodução. Ele tinha uma argola amarela, me lembro até da cor da argola. E como vivia úmida na ponta do nariz do bicho, brilhava. E a gente de longe via, e eu com assim com pouco capim na mão, qualquer coisa, me aproximava do touro e chamava, ele vinha à minha mão. pente eu montava no touro, ele deixava. Eu, Mozart, Darcy, a minha irmã, nós podíamos fazer isso, mas outras pessoas nem perto podiam chegar. Que ele é e Ele atacava, atacava mesmo. Era um animal assim, manso, que eu digo no desde o começo, eu digo manso manso, porque manso para nós, né? Mas outras pessoas estranhas, ou mesmo da casa, mas que não fôssemos nós, ou papai, assim eu me lembro muito bem que ele dava aquele bufo e crespava aquele couro que ele tem na costa ah. Ah, daí a pouco já estava partindo para cima, você é bravo nesse sentido. Mas o Tostão, Eu vim para Tatuí, de vim para São Paulo, e ele ficou na fazenda. E aí eu fiquei sabendo que ele tinha sido abatido a tiros, talvez porque tivesse ficado louco. Uma coisa estranha, que eu nunca soube que touro ficasse louco, mas como todo animal pode ficar, né? Ele deve ter sido isso. Ele foi abatido a tiros, infelizmente. É um é um animal gostava bastante.

SPEAKER 0: : Não sei se o senhor se lembra, não sei se chegou a presenciar, mas uma porca, se é assim se é que assim que se chama eh, quantos filhos ela tem cada cria e como se desenvolvem? Ah, bom.

SPEAKER 1: :  () Bem bom ah Porcas que não eram destinadas ah ah ao corte, assim como os porcos também, que eram castrados, Então, esses eram separados em outros mangueirão, que nós chamamos. E nesse mangueirão eh, as porcas tinham suas crias e variava desde um bacuri, como nós eh com nós chamávamos na fazenda, é um bacuri. É Desde um bacuri até oito, variando mais ou menos nessa proporção. Todos eles bons, cresci cresciam bem e tudo mais. E E os melhores, como eu disse no começo, não eram porcos assim de de de grandes raças, eram porcos comuns. Então, eram separados exatamente, por não serem todos de raça, a gente separava os mais bonitos né, mais perfeitos para ah deixar para criação. E os outros eram castrados também e soltos no outro mangueirão de baixo. lá mais próximo do córrego, onde, então, eles cresciam alimentados por mandioca, abóbora, laranja, tudo que tinha na fazenda né, que para para corte também. E E assim, o que mais? ()

SPEAKER 2: : Eu gostaria de perguntar uma coisa para o senhor. Vocês comercializavam animais ou não? Era só para ãh, digamos assim, para a fazenda mesmo, consumo da fazenda?

SPEAKER 1: : Também tinha era comercializado, sim. Uma  Uma parte, logicamente, porque um um hum boi, por exemplo, ou uma vaca abatidos, eles davam carne suficiente, não havia geladeira para se guardar. A carne que não era posta ao sol, como a gente fala, para secar, ou a carne seca, que era aquela que era salgada e também posta ao sol, se não era esse tipo de carne que se reservava para a fazenda e consumo da casa, a outra parte ia para Tatuí e e lá era vendido, acredito, porque eu não me lembro disto, mas com toda certeza. Não é Tinha também um mercado em Tatuí, que era na parte baixa, () descendo a Rua onze de Agosto, à esquerda. Então, lá tinha um casarão com um pátio enorme no centro, que era o mercado, o mercadão, como () e eu acredito que pra lá fosse alguma coisa assim. A Agora, dos porcos, não, esse eu me lembro muito bem. E Esses eram abatidos e era aquela festa, né, porque negócio de torresmo, gordura, os pedaços, os narcos de carne, todos eram cozidos ligeiramente e todos colocados dentro daquela banha em latas, lembro muito bem até hoje, latas de querosene jacaré, naquelas latas de de querosene, que eram com as tampas abertas completamente. Isso eu sempre conto para os meus filhos. (risos) (risos) E eram mergulhados aqueles pedaços de carne, todos naquela banha, e é ficava na dispensa. E na dispensa eh, a gente ia lá as vezes com um, tirava aquele escondido e comia até né, tão gostoso que era estava cozida né e conservada, já temperadinho assim no na gordura. E aquilo era a comida a comida normal das casas, porque não é como hoje que se vai à geladeira, tira a carne, abre-se o armário, tira-se o azeite para a panela, não é? Naquele tempo era a banha mesmo do porco que se cozinhava. Então eram conservados assim, a banha e a os pedaços de carne de porco. Aliás, muito gostoso, sabe? É muito gostoso. eh da da dos miúdos, dos animais, dos porcos, assim, ou se não, por exemplo, da tripa, eu me lembro quando se fazia linguiça, entende? Fazia, tinha uma máquina de de moer, que já adaptava, na própria máquina tinha um funil, e a tripa depois de limpa, e bem limpa, assim, dos dois lados, interna e externamente bem limpa, ela era presa nesse funil, e conforme já ia a car sendo moída ali já com o tempo, porque a carne e os pedaços já eram postos no tempero junto com outras gorduras, com tudo, e já ia pondo () na na na máquina e já ia enchendo a linguiça. De cada, assim, sessenta, setenta centímetros, amarrar um barbante. Entende? É a separação, né? Essa linguiça era posta posteriormente no fumeiro. Deixava descansar no fumeiro, da cozinha. Naquele tempo, não é como hoje, que se tem o gás, era fogão a lenha mesmo. Aliás, ainda temos na cháca Aqui é muito gostoso, a comida é diferente, o feijãozinho feito no no fogão, a lenha. Vocês gostam também, não gostam? (risos) Pois é, é muito gostoso.

SPEAKER 2: : Eu queria perguntar, o senhor falou de galinha, assim, a galinha de Angola, mas essa era só para... não tinha utilidade? Não () é

SPEAKER 1: : Ora, como não? A galinha de Angola também dá põe os ovos como os pirus também, e quando os ovos não eram destinados à choca, a gente comia. ### Da galinha de Angola? Eh É normal como frango mesmo, eh como galinha é a mesma coisa. Separa-se conforme ela vai pondo os (). Só que tem eh essas aves como são mais assim selvagens, vamos chamar assim, não são tão domésticas, embora sejam domésticas, mas não são assim no sentido mansas como as galinhas. E Elas não não se acostumam, por exemplo, com o caixote onde você bota e a galinha vai pondo os ovos ali. Elas não, elas costumam. Pode pôr o caixote, que elas não aceitam. nem o peru. Eles se escondem, eles vão por baixo de de de de moitas e ali, às vezes eles ficam, a gente procura pelo mato e a gente encontra uma linhada, como a gente chama, quatro, cinco, dez ovos, assim, () de galinha de angola, de peru. Então, esses ovos eram tirados, recolhidos. E pelo peso, que eu não entendo como é isso, mas é o tempo que eu me lembro muito bem, que vinha Maria, era uma cozinheira nossa, que viveu toda a vida em casa e... Ela só saiu, vamos dizer, para morrer, que ela o filho dela era o motorista do cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, que era o Dom hãn Dom Car ### ### pela ficha, você vê? Papai que batizou, que papai também batizava. () E o Dito, como nós chamamos, ele era o motorista do do cardeal no Rio de Janeiro. Ele foi pequeno para lá. E papa () Nós somos de uma família assim, vamos dizer, religiosa. Gostamos muito da da da religião. e mamãe era católica, papai também, e nós sempre tivemos ligações, assim, temos parentes que são hãn hãn moças moças, que são irmãs, entende? São freiras, e nós tínhamos ligação, tanto que em Botucatu já em Botucatu tinha o um frade, Frei Daniel, da igreja de Nossa Senhora de Lourdes, do convento de Lourdes, lá em Botucatu, que não saía de casa, entende? O próprio bispo de Botucatu, cada quinze, vinte dias, eu me lembro, ele almoçava em casa, entende? Lá em casa e te, então era posta aquela mesa melhor não é, com talheres melhores, louça melhor, o copo do bispo que está em casa, que ainda hoje eu apanhei né, que eu disse que ia tomar água nele (risos), né filho? (risos) É um copo dourado, Entende que servia Dom Lúcio, que era o nome dele,() de Botucatu, sabe? Esse bispo e E ah eu estou falando isso por quê mesmo? Por causa da eu dei uma digressão. ah Ah, é do Benedito, do Dito, é exatamente. Porque exatamente uh uh uh o Dito, ele era o motorista do arcebispo do Rio de Janeiro. E ela sa saiu já de casa, de Botucatu, foi morar com ele lá. É lógico, a mãe, né? Mas toda a vida ela queria ir. E eu me lembro muito bem que ela ah corria atrás da gente, porque nós íamos furtar ah a carne na na na dispensa. A gente enfiava o garfo naquela lata de banho, onde tinha aquela carne. E (risos) Mas eu estava voltan voltando ao aos perus e as galinhas de Angola entende. Esses animais não acei De modo que a gente recolhia os ovos. E após o que então selecionava assim pelo peso, que ela conhecia bem isso é isso que (). Pelo peso na mão ela sabia quando os ovos, por exemplo, já estavam velhos. Não sei que que segredo. Então ela separava os ovos melhorzi Esses ovos pode guardar para choca e ()  Então deitávamos, não também em galinha de angola, nem em peru em perua, mas na as galinhas que nós () e criam os piruzinhos, criam também as as galinhas de Angola. Aí é que está o segredo da coisa. () Mais alguma coisa? ãh

SPEAKER 2: : Vocês tiveram morando numa fazenda, assim algum problema com inseto, é existia?

SPEAKER 1: : Existia. Existia, sim, o problema de inseto. A Aliás, esse problema era um problema até sério, porque existia em algumas casas assim, porque geralmente eh eh nas fazendas. () Essa casa feita com barro e madeira, com cipó trançado.  Havia o barbeiro. O barbeiro é o chupão, não é? Esse que transmitia a moléstia de chagas. Então, de vez em quando, eram as casas, para nós naquele tempo, o que seria hoje detetizado, seriam pulverizadas com querosene. Então o papai fazia, mandava fazer pulverização com querosene nas casas, nas paredes, e ficava dois dias a casa do cidadão cheirando daquele jeito bárbaro, mas pelo menos era a maneira, se não matava, espantava o animal, uh o inseto.

SPEAKER 0: : Não é? E quais eram esses insetos? E

SPEAKER 1: : ra o chupão, esse barbeiro, esse que é o perigoso. E E além desse, tinha uh os insetos que nós temos hoje nas nossas casas aqui em São Paulo, né? Em Tinham as moscas e uh Os mosquitos? () não havia Ah, insetos. Não, existiam os insetos que nós temos hoje. Borboletas não é.  Borboletas. Vespas. Ah, por falar em vespa, tinha também uma coisa interessante. Me lembro de uma passagem interessante. Vespa. Vespa, não. A

SPEAKER 0: : belha.

SPEAKER 1: : Ah abelha. Exatamente. Havia uma um uma passagem interessante. Tinha num num... Isso, não sei se se é lendo ou não, o que eu vou contar. Existia um cidadão que na na igreja em Tatuí, isso eu ouvi contar também, por isso que eu estou contando, ele falavam que o Cristo estava dentro da hóstia. E ele, então, um dia ele se aproximou a mesa do de comunhão recebeu a comunhão e pôs no lenço a a hoste e guardou e saiu, pegou seu cavalo e foi embora, saiu da cidade porque ele morava fora da cidade de Tatuí. No caminho ele examinou a hóstia, virou olhou contra o sol, olhou, olhou, não viu nada. Ele quis jogar, mas diz que ele se sentiu assim, remorso. Ele quis botar na boca também, mas Ele só quis, a título de verificar se existia mesmo o Cristo dentro da hóstia. Então, ele resolveu uma coisa. Ele botou aquela hóstia num barranco. Assim, tinha um meio buraco e ele botou ali a a hóstia. E foi embora. No dia seguinte, houve um comentário e tal, e de principalmente mulheres que, próximo da entrada da cidade, e chegaram lá Ele ficou sabendo e todos ficaram sabendo que existia junto a um barranco, uma hóstia posta no barranco e ao redor dela as abelhas estavam fazendo uma colmeia assim, com cobrindo com com cera. ### E contava, eu ouvia contar isso aí, como verdadeiro, eu não não era pequeno, não me lembro disto, mas eu ouvia contar isto. mas contavam de pés juntos. Como verdade que tinha acontecido que que na na uh ah a hóstia estava guardada num num hum buraco no barranco e ao redor as abelhas, essas abelhas pretinhas do mato né, tinham feito uma uma colmeia e estavam preservando a hóstia. Aí então diz que o padre sabendo da coisa, foi até lá, acompanhado já já de muitos crentes, católicos, e recolheu a hóstia e levou de volta para a igreja. isso que eu estou contando que, por falar em abelha, eu lembrei desse caso. Né, interessante também.

SPEAKER 0: : está falando de abelha. Quantos tipos de abelha o senhor conhece?

SPEAKER 1: : Bom, eu conheço a nossa abelha nor, essa abelha comum amarela, Conheço a abelha do mato. Conheço que é uma abelha preta pequenininha que enrola no cabelo. Qual o nome dela? Eh Não me lembro bem o nome dela. É É... É um nome assim... Sai Saiporá. É um nome assim. Não me lembro. Não posso falar o. O que eu falar não não não vai corresponder à verdade. Parece Saiporá É um nome assim. É uma abelha pequena. Do tamanho assim de uma mosca, essa mosca doméstica. É pretinha e que dá um mel muito bom. É É um mel mais forte, que diz que é muito bom para bronquite. Ela Ela faz a colmeia dentro dos troncos de árvores. Quer dizer, árvores que já estão mais ou menos bloqueadas. E ela então, ali dentro, ela faz o... faz a... A colmeia. Conheço também, por ouvir dizer, nunca tive a oportunidade de ver. Foi uma abelha africana. Abelha africana e acho que são esses três tipos de de abelha que eu conheço. Aliás, eu ouvi dizer essa africana, nunca vi também. Já viu?

SPEAKER 2: : Não, só que é muito perigosa, não ()?

SPEAKER 1: : É, que ela ataca as pessoas. Não sei se é verdade. Pode ser que seja verdade que ela ataque mesmo, né? Que seja uma abelha selvagem, como dizem. Porque ela foi... trazida para o Brasil para eh mesclar com a nossa abelha, porque ela tem uma coisa, ela não fabrica muito mel, não produz o mel em abundância, é pouco mel, mas ela é uma abelha forte e ela trouxe, então vamos dizer, com o casamento não é, melhor vigor às nossas abelhas, que são boas fabricadoras do mel. Então emfi eh, isso emprestou às nossas abelhas maior produção. É o que eu tenho com notícias disto. Mais alguma coisa?

SPEAKER 0: : Sobre os animais selvagens agora, nós gostaríamos que o senhor nos desse assim uma relação e que caracterizasse algum.

SPEAKER 1: : Bom, o animal selvagem mais normal para nós, que nós chama aqui no Brasil, seria a onça. A onça tem no () Nós temos a onça-pintada, a sussuarana, Temos também a jaguatirica. Temos a amarela. Por sinal, nós temos uma pele dela, que um cunhado nos trouxe lá de Mato Grosso. Ele foi prefeito de Campo Grande e ele, então, tinha o, tinha mesmo criava, ele chegou a criar uma onça. Bom, isso não é novidade que nós temos um vizinho na nossa chácara, que eu não vou dizer quem é o nome, porque é uma pessoa muito conhecida, mas também que cria uma leoa, né o () (risos) Leoa, é. Mas tem essa a onça pintada e selvagem mesmo. Nós temos uh ah a queixada, o porco do mato, cuja carne é muito gostosa. Por falar em carne muito gostosa, vou fazer uma contar uma coisa interessante. Vai dar risada, ah em Tatui, ainda, tinha um cidadão que, assim uma vez por mês assim, ele fazia um almoço para nós estudantes. A gente e e E nós comíamos variedade de carne. Nós sentávamos na mesa e sabíamos, por exemplo, que sabendo que íamos comer carne de capivara, sabendo que íamos comer, por exemplo, na outra vez, ãh carne de tatu, na outra vez carne de macaco, eh carne de gato, carne de cachorro. E, por sinal, a gente experimentava meio assim não é, com aquela repugnância, mas... curioso para saber e e e se alimentando daquilo que a gente sabendo que estava comendo mesmo. Isso é pitoresco né que eu estou contando, mais nada. Mas foi foi uma das passagens da minha vida também. Mais alguma coisa?

SPEAKER 0: : Acho que já deu tempo e nós queremos fazer agradecimento ao senhor pela sua colaboração tão gentil a esse projeto linguístico.

SPEAKER 1: : Eu que fico agradecido pela oportunidade. Muito obrigado.