Inquérito SP_DID_259

SPEAKER 0: : Francamente, eu acho um pouco mais fácil falar das experiências pessoais do meu desenvolvimento (riso) ãh do que ah discorrer (riso) ãh sobre ah a vida do ser humano em abstrato. Me parece que a vivência pessoal dos problemas do desenvolvimento ah podem revelar ãh certos problemas de comunicação ãh que eventualmente venham a ter ãh interesse para o linguista. Em relação à minha infância, tão longe quanto eu posso... ou melhor, ah mergulhando no passado, e isso me comove de uma certa maneira (riso), porque eu tive uma infância muito ãh assim muito contemplativa e muito Eu diria atualmente, como adulta, que essa infância foi muito poética (riso). Porque, é sendo a única a única menina numa constelação familiar ãh inteiramente masculina, ãh eu tenho cinco irmãos ah. Isto criou assi de relacionamento, de ah de vivências pessoais, eh que, eu creio ãh, uma menina nascida numa constelação familiar né, ãh em que haja equilíbrio né ãh entre o número de irmãos e de irmãs, não tenha eh não não não tenha experimentado né. O primeiro problema (riso) que eu enfrentei foi o do, como não podia deixar de ser, ah o da superproteção. sendo menina, com uma consti constituição ãh muito delicada e que naturalmente parecia mais delicada ao lado, ãh vamos dizer, da robustez e agressividade dos cinco meninos (riso) né ãh eh. Isto ãh hum provocou ### de certos tipos de brinquedo (riso) não é, ou de jogos né, ou de atividade lúdica, que pudessem trazer eh algum dano para aquilo que eles consideravam, dentro da família, uma violeta né (riso), uma violetinha ãh. Quando eu disse que hoje eu sinto a minha infância como assim um período poético, eh era nisso é que eu estava pensando. ### Tacto mesmo no sentido de... eh ah. No sentido de tocar. ### De pegar. Não é (riso) ãh que poderiam produzir, eh ou poderiam influir, talvez né, na ou provocar certos tipos de reação ãh que eles não gostariam de ver de uma menina. Se, por um lado, ah isto eh né esta atitude ãh contri contribuiu para esta vivência emocional né de assim ah delicadeza não é ãh no que se refere à presença de uma do elemento feminino dentro num num conjunto masculino. Por outro lado, ãh trouxe alguns problemas de desenvolvimento, porque eu me via constantemente assim é cerceada nas iniciativas né. Quer dizer, criou-se para mim um padrão assim de expectativa ah a que eu deveria corresponder, para obter, naturalmente, a aprovação (riso) do meio familiar, e que, vamos dizer, às vezes não era aquele, eh vamos dizer, ah e eh o uh que não era ou que não correspondia a a à minha necessidade íntima de atividade (riso), ou de iniciativas né, ou de desejos, et Pensar e tentar sentir a nossa infância ah é uma experiência ah que comove (riso). É o que eu estou sentindo agora mesmo assim, uma comoção ah. ### A pri Eu vou contar ãh duas experiências que eu tive com os meus irmãos (riso) né e que acho que eh revelam algo de duas duas fases da infância ah. Como também revelam características assim psicológicas do relacionamento entre entre irmãos. Eu tinha uma boneca que se chamava Lila (riso) eh. Foi presente eh de minha madrinha de batismo e que já é falecida atualmente. Ãh os meus irmãos ah tinham alguns amigos na vizinhança que costumavam vir brincar conosco, porque a nossa casa tinha um quintal muito grande e então e favorecia né ah o encontro da das crianças do bairro. Bom, ah o brinquedo proposto nesse dia que eu ãh né eh de que estou me lembrando havia sido eh eh hum foi o julgamento de Lila. da minha boneca (riso). Um dos meus irmãos vestia-se de de padre, o outro vestia-se de juiz (riso), com as roupas dos dos irmãos mais velhos (riso) e e e de meu pai ãh. Um dos vizinhos era um polícia e a As outras crianças menores, inclusive eu, a dona da boneca, éramos espectadores (riso) do julgamento (riso). Bem, a Lila foi presa porque havia cometido algum crime, que eu não me lembro mais, ou havia sido acusada de roubar qualquer coisa na cozinha, uma coisa desse tipo, e ah eh compareceu ao ao tribunal ãh, onde estava não, ao tribunal, acompanhada por um um um vizinho que era um policial, e diante do tribunal, ah o juiz a interpela pelo fato de ter se apropriado de algo alheio, etc., e o julgamento foi terrível porque ela deveria, como não podia restituir do que havia roubado, então ela deveria ser enforcada (riso). Enforcada e queimada. O julgamento parece que não não faz muito sentido né, mas ah revela um pouco acho que das normas morais (riso) muito restritas da infância, né. Bom, ah... Para a minha tristeza, ela foi condenada, julgada, amarrada num varal (riso), ãh e enforcada, Mas, nessa altura do jogo, já estavam todos tão entusiasmados que resolveram pôr fogo na boneca (riso). E puseram. Não é? Como a boneca era de (), o resultado é é que ela incendiou-se num (riso) instante. E eu, do outro lado dos espectadores né, eh ao mesmo tempo sentindo o entusiasmo e as palmas dos outros né, que estavam envolvendo a brincadeira fatídica, Saí, naturalmente, em lágrimas e chorando, porque tinha perdido a minha boneca né (riso). Bom, este eh esse incidente eh revela muito né do ah (tosse) dos laços ãh de ãh de ciúmes que, me me parece né, devem haver entre os irmão. Hoje eu tenho a impressão de que aquela boneca representava para os meus irmãos a própria irmã né (riso), a própria irmã de quem eles tinham ciúmes (riso) né, porque era a preferida dos pais né ãh. Um outro um outro hum acontecimento relacionado com a minha infância liga-se com uma outra boneca também. Essa chamava-se Maria Luisa. Era uma boneca linda de louça, com quem eu nem brincava muito, porque tinha medo de quebrar. Nesta altura eu já estava no no Jardim da

Inf :ância, e ah um dia volto da ah da escola, nesse tempo o Jardim da

Inf :ância ficava na Praça da República, e e era um jardim muito lindo, e eu gostava muito de de de frequentar esse jardim. Bem, eu volto uma tarde da escola e encontro a minha mãe extremamente preocupada, com revelando um mal-estar, No no meu íntimo, eu já já percebi que alguma coisa ia acontecer, alguma coisa e ela ia me contar de desagradável não é. Quando eu subi para o meu quarto, ah ela subiu junto e de e já foi me prevenindo com muito jeito para dizer, olha, sua boneca Maria Luísa já não está mais lá em cima da penteadeira. Ah aí eu perguntei, mas o que foi que aconteceu? tece é que o seu irmão foi apanhar, ãh não sei o que que ele iria apanhar, era algum objeto que estava em cima, e puxou a toalha e a boneca foi para o chão e espatifou-se (riso). Bom, É escusado dizer que o meu desapontamento foi muito grande e ah e que eh esse acontecimento somou-se ao anterior da outra boneca né. Ah, Um terceiro, ãh fato acrescentou-se a este não é ah. Eu e o meu irmão menor, e o o irmão ma maior, que era o terceiro na ordem né (riso), na ordem cronológica dos nascimentos, ah fomos a um ao João Minhoca, que funcionava no chá da cinco, da do ãh na da loja Mappin Stores, quando funcionava na Praça Patriarca em São Paulo. Uh o chá decorreu muito animado e lá houve eh um brinquedo que se chamava Pesca Mara Maravilhosa, de que, eh vamos dizer, todas as as crianças do meu tempo costumavam participar. Né? Bem, acontece que eu pesquei um guarda civil de (), que era muito gracioso, Um dos meus irmãos pesca, o menorzinho, uma língua de sogra. Ficou muito desapontado porque era um brinquedo insignificante ao lado daquele que eu havia pescado, não é. O maior ãh nem me lembro o que é que foi nessa altura. Parece que foi uma bola de tênis né. De qualquer maneira, os dois ficaram muito desapontados com o resultado da pesca (riso). Bem, ao voltarmos para casa, o maior me propõe o seguinte jogo. Ele disse, você quer ver uma ãh hum umas ãh a mágica que eu aprendi? Ah aí eu fiquei muito entusiasmada e muito ingênua também, disse, naturalmente que eu quero ver. Ele disse, olha, então põe esse guardinha aí no chão, e eu vou fazê-lo desaparecer né. Coloca um papel de por cima do do do guardinha para ãh dissimular, isto num num ladrilho, na copa né, e sem que eu percebesse, riscou um fósforo e pôs fogo por trás (riso) no papel. Era lógico que o guarda de guardinha tinha que sumir junto com o papel (riso). (riso) Bem, são acontecimentos que hoje, e eu me lembro não é, com todas as ah emoções que eles causaram né na minha infância, vamos dizer, o enforcamento da Lila deve ter se se dado mais ou menos quando eu tinha cinco anos, ah o da da boneca Maria Luísa, logo depois, e este outro, do guardinha, eu creio que nós devíamos estar, eu estaria com seis para sete, não é. Mas, então, eles ao mesmo tempo que revelam aspectos assim traumáticos do relacionamento né, da da da vivência emocional infantil, eles ah ah hoje aparecem assim com uma roupagem emocional, assim, poética, parece que isto aconteceu dentro de um assim de uma atmosfera de contos né (riso), com outros personagens né (riso) ãh. Mas, ãh vamos dizer, mas nem mas nem tudo era assim tão tão tão dramático né ah. Eu agora estou me lembrando de algo que aconteceu quando nós já éramos maiores. O nosso vizinho ãh havia recebido eh cabritinha ãh para as festas de Natal. Estávamos, portanto, não é nas nas semanas que precediam ao Natal ãh. Um dos meus irmãos ãh recebeu de presente do padrinho uma cachorrinha policial que estava com seis meses. Já crescidinha, mas ainda muito nova não é, e que fazia toda espécie de artes (riso) na. Uma tarde, eh brincávamos no quintal, e a cabri a cabritinha, sentindo não é as vozes da das crianças, as nossas vozes não é, e os latidos da cachorra, ãh começa a a berrar lá do lado do quintal não é. Ela estava amarrada ãh numa na viga do telhado do tanque, da casa do vizinho ãh. Telhado, esse que era o mesmo para o tanque no nosso quintal não é. Havia um vão no muro eh que facilitava a comunicação não é, ãh não só das vozes, como também era suficientemente suficientemente amplo para eh dar passagem a uma pessoa ou a um animal não é. E ah com a Assim, a reação da da cabrita, as nossas vozes e né e aos aos latidos da da da cachorra, ah o né o () eh entusiasmo se começa a a imitar os berros da cabrita. Eh de um lado, au, au, au, do outro (riso). Bom, os menores entravam no jogo. E daí a pouco, um concerto estava estava formado não é. Mas ele chegou a tal ponto de estimulaçã que a cabrita arrebentou a cordinha que a prendia na na viga do telhado do tanque, salta por aquele vão do muro e caiu no no ãh no meio das crianças né, ao lado da cachorra, () no nosso quintal. Ela se assustou com a cachorra, a cachorra com ela, e sai e sai a cabrita disparada pelo quintal, dando volta, a cachorra atrás, o meu irmão maior atrás da cachorra, e nós (riso) se seguindo todo o bando e dando volta pelo quintal (riso). ### Uma verdadeira (). Uh uma certa altura, o meu irmão o maior, ah para ãh completar a brincadeira, resolve sumir eh subir no no mamoeiro, ãh fingindo que estava fugindo da perseguição da cabrita e da cachorra né. Mas o mamoeiro não aguenta com o peso do corpo dele e () (riso) quebrando.

SPEAKER 2: : Aí é que o berro foi (riso) mesmo né (riso) muito (riso) muito natural. Eu vou morrer! (riso) (). () (riso) Eu vou morrer! (riso) Gritava de lá de cima do mamoeiro e o mamoeiro caiu e e

SPEAKER 0: : le caiu junto. (riso) Nessa altura os vizinhos já estavam pelos Minha mãe sai correndo de dentro de casa, acompanhada da empregada, para ver o que estava acontecendo conosco (riso) no quintal né ãh. O meu irmão menor, que era ainda muito pequeno, tinha quase três anos, a assustou, começou a a chorar (riso). E mas ah ah nessa altura, a brincadeira então foi interrompida pelos mais velhos, que já estavam assumindo aspectos quase trágicos (riso). Mas, felizmente, ninguém se machucou. Outro eh fato interessante, parece que foi a entrada para a escola (riso) né. Isto já caracteriza outra etapa do desenvolvimento né. (tosse) Aprender a ler, aprender a escrever né, ãh aprender a colocar no papel, as emoções ah que nós sentíamos e que, às vezes, não tínhamos ãh ãh estimulação suficiente para comunicar para os mais velhos não é e ãh. E, por outro lado, também é que, às vezes, nem sabíamos que ela que elas podiam ter interesse se colocadas no papel não é ãh e lidas por outros. Essa foi a experiência, acho que, mais emocionante da do tempo de escola primária. Ter aprendido a né a poder ãh comunicar por escrito ãh um meio que eu encontrei, vamos dizer assim, ah não sei se mais gratificante ou mais adequado para a comunicação. () Só me pede para falar sobre a orientação recebida de de meus pais ne nesta época eh (). Eu já disse que a coisa que que mais ãh eh impressionou-me nesse período foi justamente a a super proteção que eu recebia não é ãh. Horário para tudo. Horário para dormir, horário para comer (riso), horário para fazer lições. Ah, e principalmente um fator, este sim, eh foi, p pesou bastante, né? Ah Os meus irmãos podiam ter muitos amigos, os meus irmãos podiam brincar, os fora de casa, no quintal da casa dos vizinhos, mas eu não podia (riso) ai. Esta experiência não foi agradável (riso) ãh. Vamos... Vamos dizer, a escola primária ãh foi foi cursada ãh em classes femininas, e foi só, vamos dizer, na adolescência né, quando entrei para ãh o antigo ginásio, que no meu tempo era de cinco anos, e que eu passei pela experiência da coeducação né. Aí era um ginásio misto, um ginásio particular, não era um ginásio muito grande, muito agradável (riso) e de que eu guardo assim lembranças muito caras né. E onde também ah aquela ãh impressão que eu já trazia da da da escola primária, aquele valor que eu atribuí à comunicação ah escrita, vamos dizer assim não é, ah à descoberta do do, vamos dizer assim, do poder de escrever não é, acentuou-se na ah ãh nos graus da da (tosse) da escola secundária né. Nesse tempo, eu me lembro com mais ah ah com mais encanto, das ah vamos dizer das reuniões em que ouvíamos música, cantávamos né (riso). Comparando agora, O senhor me fez pensar nisso (riso) com a sua pergunta. Comparando agora a minha adolescência com a adolescência ah não é ah das moças, é com a adolescência não é, com a liberdade que os adolescentes atualmente desfrutam, eu vejo que a minha foi muito fechada. Eu só comecei a ir, por exemplo, sozinha para a escola quando eu estava na segunda segunda série ãh do ginásio. () atualmente sexta série? Que corresponde hoje à sexta série? Eh... Exatamente. Exatamente. E mesmo porque a a escola ficava apenas a cinco quarteirões de casa. As experiências que os adolescentes de hoje têm não é, de saírem em grupos né, irem a cinema, irem a clubes sozinhos não é, outra de fazerem, por exemplo, reuniões em casa de amigos ãh, na própria casa, sem a presença dos pais, dos irmãos, essas, essas por exemplo, eu não tive, eu estava sempre acompanhada (riso), e ou então não ia. Mas isto não era diferente para as as outras amigas adolescentes. Essas também tinham as mesmas restrições, um pouco mais ou um pouco menos né, mas ah as restrições eram impostas e e e, por outro lado, também a esti a estimulação am ambiental não era tão pesada quanto hoje né, eh a ponto de provocar os comportamentos de ãh agressividade que tem os adolescentes de hoje quando se veem (riso) não é impelidos a um comportamento que eles não ãh não gostariam de assumir né. Ou que não lhes causa prazer, ou que lhes possa restringir a liberdade ou a convi a convivência com os outros da mesma idade. li muito durante a minha adolescência ãh. A princípio, um pouco, ah imitando um pouco os meus irmãos, ah eu acho que eu esgotei os livros da coleção Terra Mar e Ar ah. E a esse a a esse respeito, ãh há algo interessante ãh. Eu gostava muito dos romances assim as aventuras de Tarzan na selva. Eu acho que aquilo restituía um pouco para mim, que era que menina de cidade, vivendo não é dentro muito dentro de casa, de apartamento, isso restituía um pouco da da da vida natural não é, ãh nos bosques, nas florestas, etc ah. E, principalmente, ah desenvolvi, acho que o meu espírito de aventura. E até hoje eu gosto desse tipo de (riso) ãh de de de literatura ah. E acho uma pena que esse tipo de de romance tenha sido assim transformado em histórias em quadrinhos né, ou então ãh, vamos dizer, limitado a pequenos episódios né que saem em fascículos né e que ah os adolescentes de hoje né eh leem, mas leem sem atribuir muito o o sentido total não é ãh que é da história e o o. Vamos dizer, ãh ãh o espírito daquelas histórias, o espírito do autor não é com que o autor as escreveu, aparece para eles tudo assim truncado aos pedaços não é, e sem falar nos prejuízos né da da porque eles leem pequenas frases em pequenos quadros né. Ãh ao lado dessa coleção terra de Terra Mar e Ar, eu não podia ter deixado de esgotar também a coleção das moças (riso), outra coisa e. E aí também, talvez por uma inclinação de espírito, eu gostava muito de romances policiais. Às vezes, ãh eu e os meus irmãos chegávamos a a a a entrar pela madrugada dentro, discutindo como e o que iria acontecer na investigação de um certo detetive (riso) ãh. Ah então, foram os romances do Edgar Wallace, né da ãh da coleção da Agatha Christie (riso), hum que eram os mais apreciados né naquela época. E ainda hoje são né. Isso me valeu como ah quase como curso de de assim de redação né, porque as informações todas que eu obtinha nesses livros me facilitavam muito depois a escrita, ãh a composição, as redações, etc., que foi sempre o meu forte dentro né (riso) no curso no curso secundário ah oh. Passada a adolescência, começaram as preocupações com a entrada na universidade né. Nessa,

SPEAKER 1: : ### ###

SPEAKER 0: : os horizon tes.

SPEAKER 1: : ### () sobre. A senhora falou sobre a sua família e essa família () vai se subdividindo, () a senhora falasse dessa dessa ampliação da família, que é comum para todas as famílias.

SPEAKER 0: : Nosso ãh no caso da nossa família, a ampliação ãh foi sendo feita muito morosamente, ah porque ãh os ãh vamos dizer porque os membros da minha família não são de se casar muito cedo (riso). O meu irmão mais velho, por exemplo, ah em virtude do seu trabalho, ele, a princípio farmacêutico e depois médico, foi exercer a medicina num outro estado e lá se casou né e. Então, quer dizer, que a ampliação da família se deu, ãh vamos dizer assim, eh de uma maneira ãh ãh em que os contatos não não eram, assim, muito próximos e diários. Não é? Deu, por outro lado, ah assim o sentimento de de que vamos dizer tínhamos ah ah outros ramos em outros estados, e é sempre assim uma emoção muito agradável ãh viajar né para outro estado e encontrar pessoas da família, ou parentes, ou parentes de parentes, ou às vezes até amigos não é (riso) de parentes que nos recebem como amigos não é. () e Este é esta essa experiência de ampliação da família ãh, eu acho que foi muito muito proveitosa nesse sentido né. Os outros irmãos ãh casaram-se com do interior de São Paulo e também da capital ãh. E aí, então, os contatos ãh puderam ser mais ãh eh mais constantes né, mais repetidos também, ah até um certo tempo, até enquanto, por exemplo, minha mãe viveu, porque ah depois, com ah os problemas de trabalho não é, os problemas de distância ah. Cada um deles mora num bairro diferente (riso). Isso, então, acaba hum ãh provocou o problema de de não podermos estar em contato diário, realmente né. Então, cada vez mais eles foram se espaçando e, vamos dizer que, ãh nós nos vemos mais ou menos uma vez por mês. Aliás, eu creio que essa é a situação de todas as famílias né grandes aqui em São Paulo né. A não ser que morem muito perto né, ah a dificuldade de de circular no trânsito de São Paulo desencoraja, às vezes, muitos ãh né ãh muitos esforços de contato e. E a comunicação fica mais ãh frequente pelo telefone. Aí que o telefone não é mostra toda a sua importância e acaba provocando às vezes também certos vamos dizer assim certas experiências emocionais eh neurotizantes, porque quando ele não funciona, na hora precisa (riso) não é, ou quando está ocupado não é, ou quando tem ah ah ou quando está mesmo com defeitos, que é o que está acontecendo ultimamente aqui em São Paulo. Isso desagrada muito, né? Ãh...

SPEAKER 1: : O senhor gostaria de fazer uma alguma outra pergunta sobre isso? () sobre (). Ah.

SPEAKER 0: : Eu acho que os meus pais foram muito sábios viu na orientação na na orientação da minha escolha hum profissional, porque quando eu manifestei vontade de continuar os estudos após a escola secundária, eles simplesmente aprovaram não é (riso). Acharam que isso deveria ser e a única coisa que me perguntaram é o que eu gostaria de estudar né. E naturalmente eu escolhi letras (riso) não é. E depois das letras, também interessando pelos problemas da educação, ah fui eh eh naturalmente também levada a estudar os problemas da educação e. E acabei hum achando que Uma for um tipo de formação é indispensável para a outra. Ah A formação em letras ãh e a formação em educação completam-se. () Hoje eu sinto nas minhas alunas uma ás vezes uma dificuldade muito grande para lidar com os textos pedagógicos ãh. Não só uma dificuldade eh na compreensão dos conceitos, como também ah a dificuldade, às vezes, na expressão do pensamento né, que uma ãh preocupação, vamos dizer, com as línguas, eh uma preocupação que poderia ter sido ãh simultânea com a escola secundária ou que poderia, inclusive, ser mais desenvolvida no primeiro ano de todos os cursos de ciências humanas, ãh ãh acho que viria beneficiar muito né e resolver ãh muitos desses problemas que elas hoje apresentam e que, por exemplo, eu não não não não encontrei porque ãh... () É. pelo não só pelo tipo de informação, mas como eu também já há longos anos vinha co colocando não é no meu computador (riso) não é muitas informações paralelas né aqui trabalhadas posteriormente, facilitaram muito o exercício da profiss

SPEAKER 1: : ão. Certo. Vamos mudar () um pouco de rumo, dentro da família mesmo, ah a saúde, a senhora falar sobre a saúde os problemas. O senhor me pede para falar sobre os problemas de saúde.

SPEAKER 0: : Mas em que ###

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : Que eu me lembre, ãh bom vamos dizer, eh tanto ### ### Como nós tínhamos muitos amigos médicos também, ãh quer dizer, os cuidados ãh eram assim muito precisos e (riso) feitos em casa mesmo ah ah. Eu só me lembro de agitação na família ah em relação ao problema de saúde ãh. Não assim relacionada com doenças, mas sim com acidentes né. Numa família onde há muitas crianças, os acidentes acontecem mesmo né. Um dos meus irmãos, por exemplo, foi atropelado por automóvel três vezes. E em uma das vezes, o acidente foi muito sério ãh. Um outro, uma vez, quebrou um braço. (riso) e, bom, mas isso não tem, propriamente, relação com doença. Quanto, vamos dizer, a doenças dos meus pais, nunca me lembro de tê-los

SPEAKER 1: : visto doentes. (). É. E fora do círculo da sua família, como a senhora via e vê hoje

SPEAKER 0: : como algo inevitável (riso). Eu (riso) vejo as doenças como algo inevitável. Parece que elas elas fazem parte né do do processo de desenvolvimento de ser humano ãh. É um problema, ãh ao mesmo tempo, ãh não é propedêutico e terapêutico não é. Exige um esclarecimento, ah eh um esclarecimento das pessoas, ãh vamos dizer, para evitar contraí-las né, e daí () e também, se no caso de ter contraído uma doença, saber tratar, isso é evidente ah eh. Essas duas essas duas posições ficam agora muito claras ãh, hum muito claras ãh aqui em relação ao ambiente da capital, porque a poluição está trazendo certas certos efeitos né sobre, eh vamos dizer, os pulmões, laringe eh, nariz, olhos, etc né. que precisam ser constantemente tratados etc para evitar agravamento né de sintomas. Bem, falar de doença é algo um pouco ãh triste, dramático, porque eh isso lembra (riso) as pessoas que não tendo acesso a informação, não sabem evitá-las ou não sabem tratá-las, ou então não tem os recursos ãh necessários para isso né ah. Como eu moro hum mais ou menos perto do hospital das clínicas, então é frequente estar vendo né (riso) o tipo de pessoas que procuram o pronto socorro do hospital das clínicas. E ah e como não é hum é impressionante não é o número das pessoas que dependem desta assistência pública né. () Desse ponto de vista comparativo, como a sua pergunta, as doenças vistas no no passado e vistas atualmente, ah ah o O primeiro aspecto, sabe o que me parece importante? Eh eu nem me lembro, por exemplo, na minha infância, na minha adolescência, é de ouvir comentários em família sobre ãh doenças neuróticas, ãh nervosismo. As pessoas me pareciam mais estruturadas, mas também mais equilibradas ãh. E tinham mais tempo também né para a convivência humana. Esse aspecto atualmente é característico de todos que () disso aqui na capital não é? É lógico que as minhas observações todas dizem respeito a uma pessoa que nasceu, cresceu eh (riso) e ah continua morando na capital de São Paulo né ãh. Eh hoje o comentário mais frequente que se ouve entre os jovens, até mesmo entre as crianças, entre as pessoas adultas, é este, né? Ei, estamos nervosos, () não é eh. Não só está nervoso porque o trânsito não funciona, porque os telefones não funcionam, porque não tem horário acertado para alimentação, ou porque está com excesso de trabalho. Ou porque não tem tempo para diversão e mais isso. E e né e todo isso e todos esses fatores somados eh, produzem mesmo uma doença nervosa gene rali zada. Terminamos? (riso) Terminamos.

SPEAKER 1: : Muito obrigado, Sra. E llen, sua participação no projeto. Colaboração valiosa, (), para o nosso es Eu espero ter ãh atendido né os critérios da entrevista, ah sem dúvida mas ãh não é fácil falar de si mesma (riso). ()