Inquérito SP_DID_253

SPEAKER 1: : ### Quais as profissões que a senhora acha que atualmente são mais valorizadas e por quê? E quais as profissões que atualmente são mais procuradas além de serem valorizadas?

SPEAKER 0: : eu precisava pensar primeiro, né? Pode pensar a vontade (risos) (risos) Agora, eu poderia dizer qual é a profissão que eu acho mais bonita? Po de, como a senhora quiser, à vontade. Ah, é a de maestro. É de maestro. O maestro deve ser uma criatura extraordinária. Primeiro porque ele deve fazer o que gosta. E depois ele põe de si no que ele faz. E depois conhecer música deve ser a coisa mais maravilhosa do mundo. Porque a música de é é das artes a mais espiritualizada. Porque ãh as artes em geral, elas são palpáveis. a escultura, a pintura, a literatura não tanto, mas pelo menos está escrito ali no livro, né? Mas a música é a mais espiritualizada, porque ninguém pode segurar o som. E e deve ser a coisa mais linda do mundo a pessoa estar ali no meio da música, porque a música expressa tanta coisa que eu acho que nem nós podemos avaliar. o quanto a música pode expressar. Inclusive, certas filosofias, as orientais, né, eh dizem que as coisas têm cor e têm som. Por exemplo, o pensamento. Então, as filosofias orientais afirmam que o o pensamento, ele tem som e tem cor. Então, o pensamento, sendo edificante, ele deve ter um som maravilhoso e uma cor também muito linda. Então eu acho que a música sintetiza, de todas as artes, ela sintetiza tudo em si e e. E o maestro, desempenhando aquela função de coordenar tudo aquilo ali, ele deve se realizar plenamente. Eu acho que Para falar mais alguma coisa, eu teria que parar e pensar. Porque () tem muita coisa que se falar.

SPEAKER 1: : Pode falar pode.

SPEAKER 0: : Agora, eu, pessoalmente, vocação musical eu não tenho.

Inf :elizmente, não tenho talento nenhum musical. Mas ãh ouvido eu tenho. Eu tenho um um ouvido razoável e e. E às vezes eu consigo, eh através da música, me colocar num plano muito acima do terreno, sabe? e e E a música realiza, realmente, eu acho que a música realiza maravilhosamente a pessoa. Agora, a música, ela tem que conter em si eh três condições que seriam que é coordenadas, logicamente, que seriam eh a harmonia, a melodia e o ritmo. Então, essas três coisas conjugadas, atingiria aquele o objetivo maior, que é de transmitir alguma coisa. Mas o que nós vemos no no no atualmente é o ritmo. O ritmo é bom também, mas o ritmo, isoladamente, ele... não sei, e ele num num num num é num é muito bom, ele entra em desequilíbrio, porque o ritmo serve para... para movimentar muito a pessoa e e cai num padrão assim, vibratório, muito denso. Então o ritmo sozinho não atingiria a finalidade maior.

Inf :elizmente a gente observa que as músicas atuais, não propriamente atuais do presente momento, mas atuais de ao de ao de muito tempo para cá, ãh as músicas contêm mais ritmo do que harmonia e melodia. E isso aí eu eu acharia que num num não seria um bom sinal para para satisfação humana. Parece que eh quem compõe música de de ritmo, aque aquele aquele barulho, aquela aquela coisa caótica, parece que tá colocando de si justamente o caos que sente dentro de si, está exteriorizando aquilo, sabe? E isso não é um bom sinal, porque Parece que nós estamos caminhando para o caótico. Que se se falam tantas coisas hoje em dia, assim, em comunicação. eh Eu vejo que se falam tanto em comunicação, mas ãh nós não temos muita comunicação. A gente fala uma coisa e não se faz entender, né? Né as pessoas... É difícil da gente conseguir transmitir alguma coisa que a gente consiga entender. Para começar, ãh a ideia Antes da gente mencionar alguma coisa, já existe a ideia. A ideia é pré-existente. Mas a ideia, para ser expressa, já há uma certa dificuldade, porque a a o que se expressa não é exatamente a ideia. Não é exatamente a ideia o que a gente se expressa. Eu fico impressionada aí com a rodinha que anda, viu? (risos)

SPEAKER 1: : Deixa agora, esquece da rodinha andando. (risos)

SPEAKER 0: : (risos) O que eu quero dizer é o seguinte, a gente pensa uma coisa e quando vai transformar aquilo em palavras, não é aquilo, não é exatamente aquilo que a gente pensou. Então, por isso é que está tudo tão caótico, porque ninguém se entende. Quer ver um exemplo mais rasteiro? O telefone, por exemplo. O telefone existe para servir a gente e servir a comunicação. Lógico, o telefone é um veículo enorme de comunicação. Mas você consegue falar no telefone? ### Não tem linha, ãh ãh do outro lado tá ocupado eh eh Geralmente mudou o telefone, não é mais aquele. Você não sabe para onde se dirigir. No fim, o telefone fica um monstro tão grande na mesa da gente, que a vontade que a gente tem é se desvencilhar dele, até jogar pela janela. E assim outros meios de comunicação. A condução, por exemplo, é um meio da gente se se locomover. E, no fim a, a condução fica um inferno na vida da gente. Porque a gente vai ali dentro como se fosse um gado. Não sei, eu eu tenho a impressão que que as coisas estão tão distorcidas que parece que nós estamos numa posição em que o animal parece que está acima da gente. Nós atingimos uma posição em que até o próprio animal nos dá lições de organização de organização social, eles eles parecem que, ãh seguindo o impulso da natureza, eles realizam exatamente aquilo que a natureza quer. Agora, a criatura humana, ela tem uma um um privilégio que o animal não tem, que seria o direito de opção né. E geralmente nós, eu acho que por termos várias opções, a gente escolhe Às vezes até pior, né? A gente escolhe uma opção que que já não é aquela que deveria. Então eu não sei, eu estou achando que tá havendo uma decadência total na criatura humana. Parece que a criatura humana está se esvaziando completamente. Possivelmente seja por causa da da explosão tecnológica, que foi uma explosão muito violenta, Vamos dizer, nos últimos cem anos para cá, ou talvez até menos, uns cinquenta anos para cá, houve uma explosão tecnológica brutal e parece que a criatura humana está perplexa. Ela parece que num num conseguiu ainda se adaptar, mesmo porque a coisa é tão dinâmica que a pessoa num, ela não não não se dá, num... Ela não se encontra, porque parece que é muita coisa numa hora só... Então, eu acho que que a explosão tecnológica, que talvez, não sei, a ciência social ache que é um progresso, pode ser que não seja, do ponto de vista mais transcendental, da realização interior da criatura humana. Ih... E eu tenho a impressão que isso é irreversível, do modo como nós estamos, Nós temos que caminhar para frente, não podemos parar e voltar atrás ih, e renunciar essas conquistas. Isso não tem jeito, não podemos fazer assim, porque a coisa tem que caminhar. E esse caminhar, eu não sei, parece que... o desfecho vai ser um desfecho imprevisível, né? um desfecho imprevisível, mesmo porque na nas civilizações passadas que se conhece, aliás, eu dou a minha opinião pessoal, não sei, não não querendo ferir os professores de história, mas, êh, sabe a impressão que me dá? Eu não posso falar de cátedra porque eu mal conheço história, até sou péssima aluna em história, sempre fui, mas a impressão que me dá é a seguinte, A história, a gente aprende aquilo que o historiador quer. O historiador quer, porque eu acredito que, ah, uh, o historiador, quando, quando vai pesquisar e tudo, e tá certo, ele pesquisa, ele verifica e tudo, mas um pouco dele também tem ali. Ele também coloca alguma coisa dele. Então, lá, pelas tantas, ele diz "é, o D. Pedro Primeiro, naquele dia, devia estar mal-humorado, quando ele tomou esta ou aquela decisão, etcetera" e tal. Então, eu perguntaria, e quem... Quem poderia julgar que D. Pedro Primeiro estaria mal-humorado? (risos)

SPEAKER 1: : ### A senhora acha que o maestro é bastante considerado de hoje em dia, é bastante valorizado pelo povo ou pelo público, vamos assim dizer? Caso contrário, eu gostaria que a senhora dissesse quais as outras prof... profissões dentro da arte que são mais valorizadas do que o maestro?

SPEAKER 0: : Olha, o maestro, coitadinho, eu tenho a impressão, eu não falo de cátedra, hein, mas é tudo assim de pura observação. ãh Eu tenho a impressão que ele não é nada valorizado. Ele é um esquecido. Ele é completamente esquecido. E do ponto de vista econômico, eu nem sei se ele sobrevive bem. Num é num sei, eu desconheço. Não fiz pesquisa nenhuma a respeito. É apenas uma uma ideia que eu tenho de que o maestro deve, ele ãh talvez se sinta realizado. Que ele executa ali um um trabalho de conjunto, ele toma conta daquele conjunto todo e e dá satisfação para muitas pessoas. Agora, a arte, em geral, ela é valorizada mais por um uma minoria. É uma minoria que gosta daquilo, que está naquilo, é que valoriza. Agora, o povo, a massa, não tem condições de avaliar a arte.

SPEAKER 1: : E que tipo de arte o senhor acha que essas poucas pessoas valorizam?

SPEAKER 0: : aí cada um cada um no seu no seu métier. né, As artes, em geral, elas são valorizadas, em geral, por por esse grupo de pessoas que se interessam por arte. Logicamente, a pintura, a gente vê sempre exposições de pintura, gravura, escultura, uma série de de assuntos aí que se referem, assuntos correlatos, eh a literatura. Logicamente, a literatura, por exemplo, que é uma coisa que poderia ter um melhor acesso ao público em geral, eh ela é valorizada restritamente né. Por exemplo, a massa humana que a gente lida aqui nunca teria condições de valorizar a literatura, que seria a arte mais acessível à massa. Né mas a massa não teria condições de avaliar a literatura Porque, você vê, o nível de alfabetização no Brasil é muito grande né, a porcentagem de analfabetos. E e então, quem valorizaria? Quer dizer, a massa popular não valorizaria a literatura que é mais acessível, e muito menos as demais, que são menos acessíveis, não é?

SPEAKER 1: : Então, na legião sua, para para a construção de um edifício, quais os profissionais que a senhora acha que são mais eh quais os profissionais que a senhora acha que são mais necessários pa ra a construção deste edifício? Um edifício, é

SPEAKER 0: : Bom, profissionais básicos né básicos bom teria que ter um engenheiro para estruturar para estruturar, vamos dizer, a parte de... eh como é que chama? Me foge a palavra agora. A parte de cimento lá, como é concreto, uhum concreto armado, aquela coisa, ele teria que fazer cálculos para saber o peso e tudo. Então teria que ter um engenheiro para estruturar essa parte do do alicerce, das lajes, () porque aquilo tudo obedece a cálculos. de acordo lá, prevendo o peso que vai conter, prevendo o terreno e tudo. O engenheiro seria uma parte muito importante. Agora Reunido ao engenheiro, a gente teria que pensar na parte estética, né? Então, teríamos que coordenar o engenheiro com o arquiteto para ver a a beleza do prédio, a parte estética, né? E a funcionalidade também. Depois aí teriam a as as profissões correlatas, quer dizer, decorrentes. Então teria que ter um eletricista para verificar as instalações elétricas, as instalações hidráulicas. eh Bom, somado a tudo isso, tem a a questão de ventilação, de iluminação, insolação. Bom, agora, isso seria a superestrutura, né? A As profissões de superestrutura. Agora, a infraestrutura tá certo que ela é indispensável também, porque não adianta ter toda essa superestrutura se não tem a infraestrutura que é justamente a quem vai fazer o pesado do trabalho, né? Que seria o pedreiro, o empreiteiro, que é o que toma conta, né? () o o o O empreiteiro que toma conta das obras, Então teria que ter toda aquela aquela escala, o pedreiro ãh, o encanador, possivelmente, e depois aquele pessoal de acabamento. Então teria que ter aquele que aplica os ladrilhos, aquele que a que faz o aquele aquele gesso, aquele acabamento em gesso, quem faz o estuque, quem faz a pintura. quem mais, bom, Resumindo, por último, teria que ter uma equipe de limpeza né, porque para en para entregar um prédio, teria que entregar o prédio limpo. Então teria que ter uma equipe de limpeza, porque às vezes o material sanitário está com todas aquelas eh aquelas etiquetas grudadas ali, que aquilo tem que raspar, tem que limpar, e aquilo é muito grudado, geralmente tem que colocar uma solução para derreter tudo aquilo. Então o prédio tem que ser entregue limpo. Então, por último, eu acho que caberia essa equipe de limpeza geral no prédio. Não sei se eu teria esquecido de alguma coisa. Se eu esqueci, esse prédio vai cair.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : Ah, não. Eu não tenho habilidade nenhuma. Não tenho habilidade nenhuma. Aí eu teria que verificar. Bom, eu moro num prédio-apartamento. Nessa hipótese, eu consultaria o zelador do prédio, se ele poderia fazer esse serviço, ele contratar o serviço de terceiro ou ele próprio fazer. e eu partiria do zelador. Agora, se eu morasse num numa casa, então aí eu teria que olhar pela vizinhança, se tem algum vidraceiro, alguém ali que pudesse me informar. E eu ia, então, ia procurando de informação em informação até chegar no ponto em que eu precisasse precisaria para para salvar a minha situação, né? Certo

SPEAKER 1: : Para a construção dessa casa, quais os materiais que são essenciais, que, por exemplo, o pedreiro usa, ou mesmo os outros

SPEAKER 0: : Bom, aí teria aí o cimento, é importantíssimo, o cimento, a areia, os tijolos, eh dependendo do tipo de construção, porque existe existem lajes, coisas assim já pré-fabricadas, né? Na hipótese de que não seria isso, então teria aquele ferro todo, aqueles varões de ferro para misturar, fazer aquela argamassa toda, para fazer aquela sustentação toda. Então, na parte isso seria na parte da estrutura do prédio né, que seria o cimento, cal, areia, tijolos, ferro, o que mais? Bom, eu acho que, sumariamente, seria isso. Será que está faltando alguma coisa? Bom, e fora isso, depois tem os complementos, né, de fios elétricos, canos para para água, canos para água, canos para água servida, para esgoto, aquela canalização toda. E depois teria o material de pintura, material de pintura, os revestimentos, né, os revestimentos de parede, que aí tem os mais variados, revestimento de chão, teriam os mais variados, o teto também, não é? Vidros para janelas, vitrais, às vezes tem prédios muito sofisticados que tem vitrais. Hoje em dia é mais ãh esses vidros fumê, né? aquela aqueles eh Aquelas escadrilhas de alumínio, que hoje em dia está muito em voga, não é? Eu acho que, de um modo geral, eu ci eu citei os elementos, pelo menos os básicos. (risos)

SPEAKER 1: : Você sabe quais são Os acessórios utilizados para pintura?

SPEAKER 0: : Pela pintura? Ah, não, aí eu não posso falar quase nada, viu? Quase nada, porque a pintura aí requer uma série de requisitos que só mesmo o profissional é que saberia. Aquelas misturas, aqueles solventes... Se bem que muita tinta já é preparada né, mas talvez tivesse que preparar a parede para receber a tinta, e isso eu desconheço completamente, não posso falar.

SPEAKER 1: : Sim, mas esses são os utensílios utilizados pelo pintor, a não ser essa mistura de tinta.

SPEAKER 0: : Ah, sim, os utensílios, bom, teria aqueles pincéis que variam de tamanho né, os maiores, os menores eh. Hoje em dia tem aqueles roletes né, aqueles roletes que torna o trabalho mais fácil, mais eficiente, que eu não sei qual é o nome específico. Eu sei que é um uma um rolete um, feito uma esponja assim, que rola dentro de uma armação. Deixa-me ver. Bom e fora isso eh, os os recipientes né, Os recipientes, onde ele ele mantém ali aquelas misturas, baldes e Não tenho muita ideia, não, viu? uhum fora isso isso eh é o máximo que eu posso falar, assim, a grosso modo.

SPEAKER 1: : Se a senhora fosse assistir a um espetáculo de música, que tipo de espetáculo a senhora escolheria? A senhora diz que aprecia o maestro, que não tem vocação para música. Fora o maestro, que tipo de músico a senhora apreciaria?

SPEAKER 0: : Olha, eu aprecio clássico, aprecio mesmo. Embora eu goste também da música popular, mas eu gosto extremamente do clássico, sabe? Embora eu não tenha uma formação tal que possa discutir, falar, trocar ideias sobre os clássicos, sabe? Eu Eu tenho a eu tenho a uma intuição só ãh da do que é da sutileza da música. Eu tenho isso por intuição, não por preparo. por ter convivido em ambientes assim de arte musical, não tem eh eh. É pura intuição interior minha. Eu eu fico muito satisfeita ouvindo música clássica. Música clássica, inclusive ópera também. Eu não sei se eu não sei se aí haveria uma separação entre a música clássica e a música de ópera, que poderia ser chamada de lírica, eu não sei, mas eu acredito que fizesse parte do clássico também. Eu acredito. Eu sei que a música de ópera é chamada de música lírica. Eu não sei se é porque há o canto também. Não é aquele lirismo todo. Não sei. Eu num não sei dizer eh não sei dizer a nomenclatura específica. Porque, na realidade, eu não tenho conhecimento nenhum específico. É tudo assim, coisa muito a priori, eh pela simples observação né. É uma tendência que eu tenho natural, de gostar de música clássica.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : Não liberais? Bom, eh são as profissões comuns, né? De, assim, secretária, eh escriturária, telefonista. Seria isso? Das que eu conheço? Bom, que eu conheço, assim, do modo global, né? Não que eu conviva. Não, não.

SPEAKER 1: : Toda que o que a senhora lembra agora?

SPEAKER 0: : Bom, como eu já mencionei, escriturária. A telefonista. Por sinal, a telefonista eu acho que é uma profissão horrível. (risos) horrível olha ### Telefonistas, elas elas e eu eu acho que elas são umas mártires. Elas têm que ter uma paciência, porque eh tudo a a aquilo tudo aquilo que ela que ela faz o dia inteiro reflete no ouvido. mas de um modo direto. Deve ser uma profissão muito sacrificada. Bom Então teria a escriturária. Quer ver uma outra profissão? Que eu eu dou valor, mas eu não teria condições. É de secretária. Porque a secretária, no fim, ela acaba sendo a empregada do chefe. Porque aí o chefe quer que ela ligue o telefone milhões de vezes por dia, geralmente ela não consegue a ligação. É é aquele drama no telefone que o chefe quer que ela ligue para fulano, beltrano, ciclano e por aí afora. Ela tem que lembrar o dia do aniversário da esposa do chefe, ela tem que providenciar, comprar flores e comprar presente e sei lá, no fim, ela ela já não é ela mais. Ela é monopólio do chefe. Então eu valorizo as pessoas que têm essa paciência de de de serem secretárias. Eu não teria essa vocação. Eu não teria. Porque eu tenho observado que com a idade, com a idade, o tempo vai passando e tudo, a gente vai ficando de idade. Eu tenho observado que eu me esforço para ser eu. Eu não consigo ser assim impulsionada por forças estranhas que me obriguem a fazer um negócio. Eu tenho que fazer porque eu quero. Porque eu acho que é bom que deve ser feito. Então, isso é é uma espécie de explosão, porque du durante toda a infância, juventude e tudo, a gente parece que obedeceu um um caminho em que a gente foi aquilo que os outros queriam que a gente fosse. Então, eu me conscientizei disso e eu não estou conformada, não. Então, eu quero ser cada vez eu mesma. Então, se eu fosse uma secretária, Eu já perderia o emprego no dia seguinte (risos). (risos) Eu já perderia o emprego no dia seguinte, porque a secretária, coitadinha, ela ela não tem direito a nada ela. Ela o o ela só tem o dever de satisfazer o que o chefe dela quer. E ela é o ela está monopolizada pelo chefe. Ela está bloqueada pelo chefe. Então ela, coitadinha, ela não é nada. Ela é um boneco que só faz aquilo que que o chefe quer. Ela não tem a liberdade de tomar uma iniciativa. Aliás, as iniciativas que ela toma são aquelas exatamente que o chefe quer num é. Não é que ela tenha tomado a iniciativa, porque ela acha que aquilo deve ser feito. Então, eu acho que uma das profissões mais difíceis é a de secretária. E, principalmente, quando a secretária tem que se comunicar através do telefone (risos). (risos) Que coisa demais Bom, eu eu citei a escritura citei a escriturária, a telefonista, a secretária. Bom, vamos dizer a faxineira, né? A faxineira. A faxineira é uma é uma profissão modesta, de infraestrutura, mas também ela não podemos dispensar. É uma mão de obra que que não podemos dispensar. Então nós temos que valorizar também também as faxineiras. E e eu acho que a situação das faxineiras é tão melancólica porque, não sei, se ela não sai disso, se ela não sai dessa profissão de faxineira, ela vai atravessar os anos sempre como faxineira, Isso é muito melancólico, porque é sinal que ela num ou ela não teria competência para subir um pouquinho mais na hierarquia social, ou ou ela não teria meios. Então a pessoa se acomodou ali. Então ela é faxineira e aceita aquilo e nem pensa que ela poderia melhorar um pouquinho se ela se esforçasse, se ela tivesse condições, se ela se esforçasse, ela ela nem pensa nisso. Então ela continua como faxineira e eu acho que isso é muito melancólico. A pessoa ficar sempre naquilo sem procurar eh galgar um degrauzinho a mais. Porque pensando bem, ãh o serviço de de faxineira eh é um serviço físico e que cansa. Então eu faço ideia, uma faxineira no fim do dia ela deve estar esfalfada. E e se ela não tem uma esperançazinha de melhorar um pouco, ou pelo menos ela nem se dá conta de que, quem sabe, ela poderia fazer isso, explorar certos potenciais que ela deve ter, mas estão ocultos, então eu acho que se ela não pode fazer isso, eu acho muito melancólico. Aliás, eu eu acho melancólico, em todas as profissões, se a pessoa tem que ficar sempre repetindo as mesmas coisas, ### Eu acho que a repetição é é uma coisa que embota a pessoa. Embota eh eh. Ela teria que, ou ir galgando pequenos degraus e e mudando um pouquinho de atividade, ou então, dentro de uma mesma atividade, a pessoa deveria eh procurar fazer trabalhos diversificados. Porque se a pessoa faz exatamente todo dia a mesma coisa e tudo, eu eu acho que isso embota tremendamente a pessoa, sufoca todas as potencialidades que, porventura, ela possa ter. Então, nesse aspecto, eu eu faço ideia das pessoas que trabalham com máquina, só trabalham com máquina, esses programadores, Eu eu mal conheço esse assunto de computação, não posso não posso dizer as nomenclaturas convenientes, mas eu tenho a impressão que aquela pessoa que trabalha numa máquina, fazendo sempre igual, todo dia manipulando aquilo, sempre da mesma maneira, todos os dias, eu não sei, eu eu tenho a impressão que no fim de um certo tempo essa pessoa vai ficar meio... ela vai ficar meio eh com com as faculdades mentais meio abaladas. Porque não é possível uma cristalização desse ãh desse jeito. Então eu eu fico imaginando essas pessoas que trabalham em fábricas, que fazem trabalham às vezes ãh com uma máquina, sempre fazendo igual aquilo, sempre igual, sempre igual. Vamos supor eh uma uma fábrica de embalagens, vamos dizer que a pessoa fica numa máquina grampeando aqueles aquelas cartolinas, aqueles papelões e tudo, e fazer isso oito horas por dia, mas sempre esse movimento mecânico, eu acho que é de enlouquecer, realmente é de enlouquecer. Eu estive observando uma coisa, A evolução tecnológica trouxe a repartição do trabalho. Então, o trabalho é repartido entre milhares de pessoas, cada um faz um pedacinho do trabalho. Então faz aquilo, todo dia, sempre igual, aquele pedacinho, sempre igual. Então eu acho que isso dá uma frustração total, dá uma frustração brutal na pessoa, porque a pessoa não pode dizer, aquilo que terminou, aquele aque o o produto do seu trabalho, que não é só dos daquela pessoa, é de uma equipe enorme, ficou pronto aquele produto, aquela unidade. Geralmente é é uma utilidade, aquela unidade de utilidade ficou pronta lá. Mas cada uma dessas pessoas, ela não pode dizer, eu fiz isso, eu realizei essa peça. Ela não pode dizer isso, porque ela realizou uma mínima parte Então, eu acho que aí aí está uma grande frustração. Então, eu fazendo um paralelo, eu fico eu fico verificando uma coisa. Um artista, por exemplo, vamos dizer, um pintor, um escultor, ele ele realiza um trabalho do começo a fim. Então, aquele trabalho pronto, ele diz, não, esse trabalho é fruto, é fruto de mim, do meu esforço. Eu coloquei de mim neste trabalho. Então, eu acho que é um motivo de realização. Agora, aquela pessoa que fez um pedacinho de um de uma utilidade, que vai sair pronta lá longe, ela não pode dizer o mesmo. Então, eu acho que daí a a grande frustração da maioria das pessoas. Porque, na realidade, nós não realizamos um total, nós realizamos um mínimo Ele não aparece, então a pessoa não pode dizer, eu fiz isso. E eu acho que isso aí dá uma grande frustração. Então, ãh a gente costuma verificar na sociedade, no conjunto social, e geralmente os artistas são meio assim, vamos dizer, a gente diria desajustados. Os artistas são desajustados, porque às vezes os artistas eles rompem com as com com a com os preceitos sociais, com as convenções sociais, eles rompem. Então, a sociedade se abala e fala, ah, é um desajustado, que pena, porque tão inteligente, tão talentoso e, no entanto, é um desajustado. Mas pensando bem, eu acho que nós que estamos naqueles quadradinhos da sociedade, que a sociedade estabeleceu, eu acho que os desajustados somos nós, viu? Porque (risos) nós não... eh nós não... Primeiro, não tivemos a coragem de romper. uhum Não tivemos a coragem porque nos acomodamos. E também realizamos um trabalho que não fomos nós que realizamos no total. E e então a gente julga que o artista é desajustado. Possivelmente ele não seja um desajustado. Ele é que está certo. (risos) Primeiro que ele realizou um trabalho e com isso ele se realizou. E segundo que ele teve a coragem de romper com as prescrições sociais. Porque as prescrições sociais bloqueiam completamente a pessoa. Tanto que, se a gente observa a natureza, a gente vê que a natureza e as prescrições sociais são antagônicas. completamente antagônicos. Então, eu perguntaria, quem tem a razão? É a natureza ou são as convenções sociais? Agora, conciliar esses dois opostos é que são elas. É o difícil, né? É que é o difícil, se bem que o o oriental é que diz que a o verdadeiro equilíbrio está na conciliação dos opostos. Agora, eu perguntaria, como Como conciliar os opostos? Isso só isso eh A a solução é só mesmo para os orientais. Só mesmo para os orientais, porque aqui no no nos ocidentais, nós costumamos dizer a a eh opção é esta ou aquela. Então uma coisa ou é certa ou é errada. O oriental, a concepção do oriental já é diferente. A coisa é certa e errada ao mesmo tempo. E eu acho que eles têm razão. Eu acho que eles têm razão, porque dentro do que a gente considera certo, se a gente for examinar bem, existe o errado também. Para nós está certo. Agora, aquilo em relação a uma terceira ou uma quarta pessoa, pode ser que não convenha. Então, para aquele outro lá é errado. Então, o que a gente julga certo, ele está certo e está errado ao mesmo tempo. E assim, em todas as coisas do cotidiano, nós encontramos essa polaridade. O difícil é coordenar essas duas coisas. Quer dizer que se a gente conseguir isso, então nós estamos em equilíbrio. Nós estamos atravessando o fio da navalha. (risos)

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : Olha, você tocou num ponto que é fundamental. Eu eu trabalho com médicos há muitos anos. Já tem mais de uns quinze anos. Então a gente conhece aquela sistemática toda. Vou falar a verdade. Eu tenho medo de médico. (risos) Olha, o médico, para mim, é o último que eu recorro. Primeiro eu recorro aos chazinhos, aos remedinhos caseiros, (risos) e eu conheço uma moça que é técnica de laboratório, que ela ela tem uma experiência extraordinária. Às vezes eu prefiro recorrer, eu confio mais nesta técnica de laboratório do que em qualquer médico. Se eu tiver opor ãh se eu tiver oportunidade, naquela naquela situação, vamos dizer, eu estou doente, tenho qualquer coisa, se eu tiver oportunidade, eu procuro essa moça. Ela já me faz alguns exames e já me diz, olha, isso, isso, isso, faça isso, isso, isso. Se eu não tiver oportunidade, eu, então, uso os meus métodos caseiros. Agora, o médico está em último lugar. Eu tenho medo de médico. Quer dizer, parece uma piada, porque, afinal de contas, estamos no século vinte, a medicina está tão adiantada, Mas eu tenho medo de médico. Sabe por quê? Porque o médico de hoje não é como era de antigamente. O médico de antigamente, ele ele praticava um pouco de sacerdócio também, ma mas eu já num num entraria nesse nesse mérito. O médico de antigamente, ele ele examinava o cliente mesmo e e ele dava o remédio que ele mandava preparar, fazendo a fórmula. E o médico de hoje, ele dá o remédio já preparado. Então, aquele remédio já preparado, eh cada um de nós responde de um jeito. Nosso organismo, cada um é um, cada um responde de um jeito. Então, o aquele remédio já preparado, se a pessoa tem certos sintomas, então todas todas as pessoas que tenham aqueles sintomas vão tomar o mesmo remédio, quando que cada indivíduo responde de um jeito, cada natureza responde de um jeito. Então, por aí, eu acho que já é uma aberração. E e no meu conceito, eu acho que dentro da medicina, embora eu num eu seja absolutamente leiga, mas isso é uma ideia minha própria eh. Eu acho que a a cirurgia dentro da medicina é uma negação da própria medicina, porque a medicina serve para curar e a cirurgia tira o pedaço. Então, é é é uma terapia que nega as bases da medicina. Isso, na minha opinião pessoal de leiga, de simples observadora. Então, o que a gente vê hoje em dia é o aprimoramento da cirurgia uhum E o olho clínico mesmo do médico não existe mais, porque tudo vai para o laboratório raio-X. Tudo vai para o laboratório raio-x, que também pode se enganar. O laboratório raio-x também pode se enganar. Às vezes, uma uma película de radiografia, ela pode ter uma mancha e vai aparecer uma mancha e a pessoa... Então, o médico pode diagnosticar um cálculo, uma qualquer coisa e, no fim, não é nada daquilo. Foi um uma falha técnica. Então é precário também. Então eu acho que o que vale mesmo, que deveria valer no médico ainda é o olho clínico. Que aqueles médicos do passado tinham. eh Quer dizer que a coisa é transcendente. O olho clínico no médico é uma coisa transcendente eh eh. É a intuição que ele teria para diag diagnosticar uma doença. Coisa que hoje não existe. uhum Estamos encerrados ou ainda temos alguns minutos?