SPEAKER 1: doutor Rui, o senhor poderia dizer para gente que é um sindicato, como ele funciona e quais as suas finalidades?

SPEAKER 0: Bem, eu conheço dois tipos de sindicatos. Sindicatos de empresas e sindicato de trabalhadores. ah Sindicato de empresas congrega empresas de um mesmo setor e procura cuidar dos interesses dessas empresas, principalmente do seu relacionamento com os trabalhadores.  No Brasil, o problema de inflação, o problema de aumentos salariais compulsórios, éh votados pelo governo, éh os sindicatos têm uma atuação mais ou menos ahn evidente. Os sindicatos de trabalhadores, pela sua própria finalidade, deveriam cuidar do bem-estar do trabalhador. Não só discutir essa parte salarial, como também discutir aspectos sociais, aspectos de bem-estar, aspectos de saúde,  Eu sinto, porém, que no Brasil a a o sindicato foi deformado durante uma certa época, a época do famoso trabalhismo do Getúlio Vargas. E eram os sindicatos dirigidos por homens políticos, muito mais dirigidos à política do que ao bem-estar do trabalhador. ### Aqueles pelegos trabalhistas foram afastados,  E os sindicatos hoje estão... () Os sindicatos hoje estão ahn atuando muito mais no sentido de tentar realmente amparar o trabalhador. A sua atuação, até onde eu posso perceber por por jornais, por informações, tem sido muito mais no campo do salário, no campo da remuneração.  O sindicato das empresas, de alguns grupos de empresas, também tem trabalhado ahn para obter melhores preços para os produtos. Isso é o que eu sei sobre o sindicato.

SPEAKER 1: O senhor poderia dizer qual é a finalidade do sindicato?

SPEAKER 0: Bem, a finalidade do sindicato, principal, básica, deveria ser realmente congregar pessoas de um mesmo ah de uma mesma função,  ou de uma mesma área de trabalho para defender os interesses dessa pessoa. E, paralelamente, cuidar dos desempregados, cuidar ah da saúde das da das famílias dos trabalhadores, dar assistência jurídica, dar assistência trabalhista. Essa, basicamente, deveria ser a função do sindicato dos trabalhadores. O sindicato das empresas deveria,  e deve cuidar de ah defender os interesses do conjunto de empresas quanto a preços, condições, exportação dos produtos dessas empresas, ahn lutar para que o governo procure ahn facilitar a colocação desses produtos através de leis especiais, redução de impostos, por exemplo, benefícios para exportação, ahn preços adequados  ser uma espécie de contrapartida contra o tra o sindicato dos trabalhadores nessa questão de aumentos salariais. Enfim, a a função é realmente agrupar pessoas de uma mesma função ou de um de uma mesma área operacional ou empresas de um do mesmo setor para defenderem juntos os interesses do setor.

SPEAKER 1:  E como é que é composto um sindicato normalmente? Por que membros?

SPEAKER 0: Bem, eu não tenho conhecimento exato de como é composto. ahn Normalmente, pelo que eu sei, tem uma diretoria que é eleita pelos ah empregados sindicalizados ou pelas empresas sindicalizadas.  Essa diretoria deve dirigir os distinto sindicato, creio que por um ano, mas também não tenho certeza. ahn Normalmente é um presidente, um secretário, um tesoureiro e outros diretores necessários, relações públicas, ahn jurídico, etcétera. Creio que essa deve ser a formação dos sindicatos.

SPEAKER 1: senhor  E quais os recursos que são usados para a organização de um sindicato, o senhor sabe?

SPEAKER 0: Sei. ahm Ainda no tempo de Getúlio Vargas, para poder formar e poder dar uma estrutura sindical ao país, foi criado um imposto chamado Imposto Sindical. Esse Imposto Sindical, por parte das empresas, é recolhido ao sindicato da classe,  mediante uma porcentagem do seu capital. Anualmente, a empresa recolhe xis cruzeiros numa tabela que existe publicada pelo Ministério do Trabalho, eu acredito, ou de indústria e comércio, eu não sei, ahn e a empresa recolhe xis cruzeiros sobre o seu capital. Os empregados pagam um dia de ordenado por ano de imposto sindical, sejam eles sindicalizados ou não.  E os empregados sindicalizados são aqueles que podem, então, utilizar os serviços sociais do sindicato, os serviços jurídicos. Pagam uma mensalidade, normal> <mente E, com essa receita, o sindicato procura sobreviver. Alguns, eu acho, que não sobrevivem. não (risos)

SPEAKER 1: Escuta, doutor Rui, e quando eles...  Quando os trabalhadores têm algum problema que eles precisam procurar o sindicato, como é que eles fazem? Eles vão diretamente? Eles têm algum representante? Como é que eles fazem para chegar até o sindicato?

SPEAKER 0: aí o problema é mais (pigarro) um problema de localização geográfica. Se o trabalhador está numa cidade como São Paulo, normalmente ele pode chegar ao sindicato, porque é fácil.  Mas se o trabalhador está numa cidade do interior, onde o sindicato não tem um representante ou uma sede, então vai ser muito difícil. Acredito, então, que nessas circunstâncias, eles ahm se utilizem ou, acredito só, não tenho certeza, se utilizem ou elejam entre os trabalhadores da localidade um representante que seria o homem em contato com o sindicato.  Normalmente, os sindicatos têm sede nas cidades grandes, São Paulo, Rio, Recife, enfim, nas capitais. Talvez, quando há uma concentração muito grande de trabalhadores no mesmo setor, numa região específica, vamos, por exemplo, ahm exemplificar, Móveis em Itatiba. Há uma grande concentração, de fábrica de Móveis em Itatiba, é uma cidade pequena. Pode ser que lá haja até um sindicato.  Eu devo esclarecer que, de acordo com a lei, os sindicatos abrangem regiões específicas geográficas. O sindicato não é um sindicato para o Brasil inteiro. O sindicato dos trabalhadores, por exemplo, na indústria de construção, tem um para São Paulo, tem outro para Rio de Janeiro, tem outro para Santos, tem outro para... enfim, nas grandes cidades tem o seu sindicato. Não conheço qual é a a a forma adotada ou quais os parâmetros que levam  a indicação da possibilidade de se formar ou não um sindicato numa região. Talvez seja o número de pessoas, talvez seja um número xis de assinaturas, talvez seja a expressão socioeconômica da região que indique isso, mas eu não conheço.

SPEAKER 1: Quando um operário é demitido de uma fábrica, de uma indústria assim, a quem é que ele recorre?

SPEAKER 0: Você naturalmente quer dizer demitido por justa causa, ou melhor, demitido sem que saiba porquê. Ele simplesmente foi despedido.  Ele recorre à Justiça do Trabalho através do seu sindicato ou pessoalmente. Não é necessário que ele vá através de um sindicato. Ele pode ir com a sua carteira profissional à Justiça do Trabalho e ir lá fazer uma reclamação se se julgar prejudicado nos seus direitos. Hoje, com a lei do Fundo de Garantia, a maioria dos empregados despedidos ahm recebe os seus direitos normalmente.  O problema existia muito mais no tempo da famosa indenização. Aí realmente era era bem mais complicado porque o empregado era dispensado geralmente por alegada justa causa pelo patrão e não se conformava com a justa causa alegada. Então ia ao s ia ao sindicato ou à justiça de trabalho e reclamava. Então formava-se um processo, discussão, audiências e finalmente a decisão da justiça.

SPEAKER 1:  Existe assim alguma atitude por parte dos operários, a não ser recorrer à justiça do trabalho?

SPEAKER 0: Existe, a muitas vezes existe. Dependendo do tipo de operário, do tipo de relacionamento dele com os seus superiores, eu tenho conhecimento até de assassinatos a res> <peito O cidadão é despedido e simplesmente não se conforma, pega um revólver, uma faca e mata o cidadão.  Isso é mais comum naquelas indústrias que utilizam a mão de obra bastante desqualificada. Por exemplo, ahm construção civil, ajudante de pedreiro, servente de obra. Esse é um tipo de operário ahn de formação muito muito baixa, sem sem cultura nenhuma, ahn muito sensível as as aos ataques dos seus superiores, que pode reagir dessa forma.  Mas, normalmente, com a com a o aumento do nível educacional, com os meios de comunicação mais modernos que podem, que propiciam, inclusive, a a 
 educação pelo rádio, etcétera, isso tem diminuído. Mas ainda existe. Você pode ler no jornal aí, tranquilamente, que o cidadão matou o seu chefe. Acontece. Obrigou, bateu, enfim. As reações são as mais imprevisíveis.

SPEAKER 1:  O senhor está lem o senhor está lembrado de alguma atitude a mais que eles possam ter a não ser o assassinato ou não? assassinato eu

SPEAKER 0: O assassinato eu mencionei como atitude extrema.

SPEAKER 1: Certo, entendi.

SPEAKER 0: O mais comum é o cidadão ahn brigar com o outro, certo? ahn Depredar a empresa, quebrar vidros, quebrar móveis. éh Procurar um advogado para reclamar. Enfim, as reações são imprevisíveis.  E elas variam exatamente de acordo com o grau de cultura e educação do empregado.

SPEAKER 1: Doutor Rui, quando a insatisfação é geral dentro de uma indústria, o que que fazem os operários?

SPEAKER 0: Bom, eles podem fazer muitas coisas. Até mil novecentos e sessenta e quatro, ainda vigorava no Brasil o direito de greve. E o direito de greve era uma coisa mais ou menos ampla, livre e total. Então os operários faziam greve.  simplesmente se reuniam. Normalmente, em cada grupo social, há alguém que se destaca como líder, né seja qual for o grupo. Esses líderes induziam o o o pessoal daquela empresa a parar d da produção. Depois, em mil novecentos e sessenta e quatro, como ah essa essa ebulição do setor trabalhista, esse peleguismo ahn político estava realmente criando situações muito difíceis para o país, a greve foi proibida. E a greve hoje é proibida.  Então, o que tem ocorrido algumas vezes quando os empregados estão descontentes é ou eles fazem através do seu sindicato pressão sobre a diretoria da empresa mediante convocação para reuniões, cartas, etcétera Ou eles fazem o que é chamado a Operação Tartaruga. Decidem trabalhar mais lentamente. Quando podiam produzir dez unidades por hora, passam a produzir três ou quatro só. Isso acontece. Isso acontece.  Mas ahn hoje, com esses aumentos de descídio coletivo que que o governo procura acompanhar a inflação, hoje com o fato de que as oportunidades de trabalho são muito maiores e famílias de operários ou de pessoas da classe média trabalham três ou quatro pessoas, ahn esses problemas diminuíram bastante. O que é evidente, o que provoca a reação do homem é a barriga vazia, está certo? É o filho pedindo pão.  Enquanto ele tem dinheiro para dar pão para o filho, e para para se alimentar e manter uma vida mais ou menos, ele não ele não ahn reage contra a sociedade. Reagir contra o patrão é reagir contra a sociedade. Isso é o que eu tenho observado.

SPEAKER 1: Certo. E quais os benefícios que um sindicato pode trazer para o empregado? O senhor acha que é importante ele ser sindicalizado ou não?

SPEAKER 0:  Eu acho realmente muito importante ele ser sindicalizado. Os benefícios são inúmeros. o o  O empregado, primeiro, tem uma orientação melhor sobre os seus direitos e os seus deveres. ahn Segundo, ele sabe que tem alguém que está defendendo os seus interesses. Quando ele tem um problema com a empresa, ele tem alguém com quem se aconselhar. Um empregado que não tem éh alguém com quem se aconselhar, ele poderá tomar uma atitude (pigarro) que será, no fim, prejudicial a ele próprio.  Mas se ele tiver um sindicato que dispõe de um advogado ou de um conselheiro que possa orientá-lo, ele pode encontrar lá uma orientação adequada. Por outro lado, como eu já disse, os sindicatos bem constituídos procuram ahn ahn ter um corpo médico contratado ou através de convênios que dá assistência médica dentária ao ao em ao sindicalizado e a sua família.  Muitos sindicatos têm biblioteca, onde o cidadão pode ir buscar um livro para ler. Outros têm sala de jogos, onde ele pode passar algumas horas de lazer. Eu acho que o sindicato realmente traz benefícios e deve ser ah estimulado. ele Ele pode ser perigoso se for mal conduzido, como foi perigoso no tempo de Getúlio Vargas e João Goulart. Hoje eu acho que ele é importante e deve ser mantido.

SPEAKER 1: o senhor falou em sindicato bem constituído, então eu queria saber o que é um sindicato bem constituído?

SPEAKER 0: Um sindicato bem constituído é um sindicato atuante. É um sindicato que realmente atende o seu o seu ahn associado. Há muitos sindicatos de determinados setores que não passam de uma salinha horrível, mal mobiliada, né num prédio caindo aos pedaços. E que não dispõe de nada, nem de um advogado para orientar o seu pessoal, nem de um médico para orientar o seu pessoal.  É apenas sindicato no rótulo ahn para para atender o empregado na homologação da sua saída, porque há um detalhe que eu não expliquei. De acordo com a lei, todo empregado que deixa uma empresa, tendo mais de um ano de casa, deve ter a sua saída da empresa, seja demitido, seja porque ele pediu demissão, homologada pelo sindicato ou pela justiça do trabalho.  Como a justiça do trabalho é um local muito demorado, há muita gente, muita fila, a maioria p prefere ir ao sindicato. O sindicato tem delegação de poderes para isso. Então há sindicatos que têm uma saletinha só para fazer isso, mas não prestam nenhuma assistência aos seus sindicalizados. Há outros sindicatos, e eu posso citar um sindicato muito bem organizado, é o sindicato dos contabilistas. Fica na Rua Formosa, eu conheço porque eu fui associado.  tem uma biblioteca excelente, promove cursos, tem um corpo médico, tem seguro de vida em grupo, tem sala de jogos, tem bar, tem lanchonete, tem tudo o que a gente pode pensar em termos de ahn amparar os seus associados. Mas há outros sindicatos que são que são ahn verdadeiras espeluncas. Não sei se por falta de verba, se porque a distribuição da verba do fundo sindical, que é aquele posto que eu mencionei, dá a eles um quinhão muito pequeno,  Se é por falta de alguém que possa realmente conduzir aquilo, desfaldar a bandeira do sindicalismo e levar para frente. Não tenho ideia. escuta e

SPEAKER 1: E todas as profissões têm sindicato?

SPEAKER 0: Todas as profissões têm sindicato por lei. Todas. Algumas profissões estão agrupadas. Por exemplo, existe um sindicato das indústrias ahn mecânicas e metalúrgicas.  Existem algumas que são profissões afins que estão agrupadas, mas todos têm sindicato, de acordo com a lei, todos têm.

SPEAKER 1: Quando é que o empregado pode se considerar ahn participante do sindicato? O que é que ele tem que fazer?

SPEAKER 0: É muito simples, o sindicato é mais ou menos como um clube, ele deve simplesmente aparecer no sindicato preencher uma proposta de de associado, mostrar sua carteira profissional de que ele é daquela categoria,  e é admitido como sócio e passa a pagar uma mensalidade, uma taxa, para ajudar a manter o sindicato. É só isso.

SPEAKER 1: E essa taxa seria anual?

SPEAKER 0: Isso varia também de sindicato para sindicato. ah Há sindicatos que cobram mensalmente, há sindicatos que cobram trimestralmente, outros cobram anualmente. ah Em geral, nos sindicatos de trabalhadores  de menor qualificação, essa taxa é bem baixa. Naturalmente, há uma limitação, eles não podem cobrar acima de um certo valor, devem estar restritos a uma certa gama de valores. Os sindicatos mais sofisticados, como o dos contabilistas, cobram uma taxa bem mais alta. A cobrança é feita de acordo com a conveniência do sindicato, ou mensalmente, ou trimestralmente, ou até anualmente.

SPEAKER 1: Então é como se fosse um clube, ele paga a parte, não é nada relacionado à firma?

SPEAKER 0:  Não, não é nada relacionado à firma. A única coisa relacionada à firma é o imposto sindical. Uma vez por ano, um dia de trabalho dele, salário de um dia de trabalho, a firma retém e recolhe ao ao Banco do Brasil num formulário próprio destinado ao sindicato daquela categoria. Isso é juntado num chamado fundo sindical e depois é distribuído em quotas por todos os os sindicatos. Não sei qual é o critério de distribuição.

SPEAKER 1:  Então o processo social do sindicato depende também da condição monetária da pessoa ou não?

SPEAKER 0: Quer repetir, por favor?

SPEAKER 1: Dependendo da para se associar ao sindicato, ah como esse sindicato que o senhor falou que é muito mais privilegiado, uma porção de coisas, de requisitos que ele preenche, certo? Então eu queria saber se para se associar ao sindicato depende da condição da pessoa, de posse, condições monetárias.

SPEAKER 0:  Não, absolutamente. Depende apenas da pessoa pertencer àquela categoria profissional. Por exemplo, para se associar ao sindicato dos contabilistas, é preciso ser contador ou técnico de contabilidade. Para se associar ao sindicato dos economistas, é preciso ser economista. Para se associar a sindicatos que não são representativos de profissões liberais, como, por exemplo, trabalhadores da indústria eletromecânica e metalúrgica, basta ter a carteira profissional e empregado ser registrado numa empresa  que ahn dese desenvolva atividades naquele setor. E ele se sindicaliza, mas a condição social não tem nem social, nem religião, nem cor, nem raça, nem sexo, nada. e

SPEAKER 1: E quem que cuida dos interesses de um sindicato?

SPEAKER 0: A diretoria do sindicato. A diretoria, cabe à diretoria, e ela é fiscalizada pelo Ministério do Trabalho, no caso do sindicato dos trabalhadores.  Existe uma fiscalização. Então existe a necessidade de prestar contas. Os sindicatos devem enviar relatórios, balancetes, aplicação de verbas, etcétera. que é analisado por um setor específico do Ministério do Trabalho e que procura verificar se os associados não estão sendo roubados pela diretoria do sindicato.

SPEAKER 1: O senhor disse que quando os empregados não estão contentes ou eles param de trabalhar ou eles deixam o serviço mais lento.  Normalmente, como é que um patrão procuraria resolver isso? Ou há uma outra pessoa encarregada para resolver essa situação?

SPEAKER 0: ah aí depende também do tamanho da empresa. Se é uma empresa pequena, vocês devem ter visto muitas, né? Um armazém de esquina, uma pequena oficina que que fabrica sapatos, por exemplo, o próprio patrão é o dono da empresa e é o chefe dos seus empregados e trabalha junto com eles.  Aí a greve é mais difícil e e a a reação do empregado é mais difícil. A reação é maior na empresa grande, onde a distância entre o dono e o empregado é tão grande que os empregados jamais viram a cara do dono, os operários pelo menos. Então as empresas estão organizadas, tem um departamento de relações industriais, ou um departamento de relações humanas, que é responsável pelo pelo relacionamento empresa-empregado.  Esse relacionamento ahn envolve um sem número de de aspectos. Envolve o aspecto salário, envolve o aspecto condições do trabalho, envolve o aspecto de higiene do trabalho, ah ah assistência social, assistência médica. Quanto maior a empresa, melhor organizado é esse tipo de atividade. A empresa dispõe de mais recursos para isso. Nosso empregado, por exemplo,  já que não pode fazer greve começar a desenvolver uma uma operação tartaruga. O que acontece? Vocês conhecem o que é uma empresa e o que é o escalonamento dentro de uma empresa, certo? Nós podemos formar uma pirâmide. Então, um monte de operários, divididos em grupos, cada um deles com um contramestre, esse su sujeitos a um mestre, o mestre sujeito a um superintendente, esse sujeito a um gerente da fábrica, aquele sujeito a um diretor.  Dependendo do grau que essa operação tartaruga está atendida, se for só operários, os próprios contramestres são têm o dever de ah informar ao mestre e esse, por sua vez, ao gerente da fábrica para que se reúnam e tomem uma decisão. Em geral, a decisão é a seguinte, pede-se aos empregados que nomeiem uma comissão para discutir o assunto com a direção da empresa. Esses empregados nomeiam, então, em geral, como eu disse, os seus líderes, que são aquelas pessoas que mais se destacam,  Eles se reúnem e discutem o problema. Se chega a uma solução, ótimo. Se não chega, a empresa pode usar naturalmente dos seus recursos mais violentos, que seja, despedir aqueles que ela acha estão provocando aquela situação. Em geral, esse tipo de de atitude não é  do grupo como um todo, espontaneamente. é De alguns que são líderes naturais e que incentivam os outros a acompanhá-los. Cortada a cabeça dos líderes, normalmente os outros voltam a trabalhar porque todo mundo precisa ganhar o seu pão de cada dia. né

SPEAKER 1: Doutor Rui, o senhor falou em distância entre o patrão e o operário.  Eu gostaria de saber, a que que o senhor acha que se deve essa distância tão grande entre o patrão e o operário, sendo que o operário muitas vezes, como o senhor disse, não chega nem conhecer o patrão?

SPEAKER 0: A distância é maior na razão direta do tamanho da empresa. Quanto maior a empresa, mais distante está o operário de de conhecer o patrão. Vamos dar um exemplo, a Ford, nos Estados Unidos. Ela é tão grande que eu tenho certeza que oitenta porcento dos operários dela nunca viram a cara do senhor Henry Ford. Porque simplesmente ele não tem tempo, não é que ele não queira.  visitar sua fábrica e ver os seus operários. Ele não tem tempo. A empresa grande tem uma tal complexidade de assuntos e de interesses para serem diariamente desenvolvidos pela sua diretoria, pelo seu presidente, que esse homem não tem tempo de de descer a detalhes de produção etcétera e de visitar a fábrica. Às vezes pode ser que ele dê um passeio lá pela fábrica, mas ninguém sabe quem é aquele cidadão, a não ser quem já viu a fotografia dele num jornal.  Isso ocorre em muitas empresas. Então, essa distância cresce na medida em que a empresa cresce também, em que a pirâmide alarga a sua base. Então, o seu ponto lá de cima, o ponto culminante, que é o presidente, fica mais distante da base. Só isso.

SPEAKER 1: E que medidas pode tomar um diretor de uma firma ou de uma indústria diante de uma insatisfação geral dos operários no caso de greve? Que medidas que eles poderiam tomar para que isso não acontecesse?

SPEAKER 0: ah Eu já expliquei. Normalmente éh as empresas procuram primeiro saber o motivo da greve. Nem sempre é salário. O motivo pode ser, por exemplo, uma máquina muito perigosa que está ali, que já que já decepou quatro ou cinco dedos ou quatro ou cinco mãos e que continua em produção. E pode ser que os operários se digam, okay, não pode continuar. Alguém tem que tomar uma previdência porque essa máquina vai continuar decepando mãos.  Então, eles se reúnem, como eu disse. Então, o que a empresa faz? Pede que se nomeie uma comissão de empregados, que eles próprios se reúnam, para tudo. Alguém chega na faixa e diz okay, para tudo. Reúnam, indiquem dois ou três para vir conversar conosco em tal lugar, uma sala qualquer. Se reúnem, então os empregados vão ah postular o as a aquilo que eles pretendem. Ou aumento de salário, ou uma redução de horas  ou mais tempo para o almoço, ou reclamar da comida do restaurante, que às vezes a comida realmente cai em qualidade. Ou reclamar. Não greve, porque a greve hoje está proibida, como eu disse. Mas pode causar movimentos de não é de de operações mais lentas, de quebrar coisas propositadamente. Acontece. O empregado deixa cair no chão de propósito alguma coisa que quebre. Então o índice de perda na produção por por quebra aumenta de c três ou cinco porcento para  vinte porcento Então alguém está fazendo alguma coisa.  A empresa tem que tomar medidas para descobrir o que está acontecendo. Bom, a melhor maneira é o diálogo. Eu acredito, e essas têm sido, pelo menos nas nossas empresas, a a política adotada. Nós fazemos um diálogo e procuramos descobrir o que está acontecendo. Dentro das possibilidades da empresa, e sem permitir que isso possa parecer um enfraquecimento de posição de chefia, nós procuramos encontrar uma solução de comum acordo. Se é uma questão salarial, procuramos prometer estudar um aumento de salário, sem ser promessa de aumento ainda,  Ou procuramos provar que não há condições. Que nem sempre a empresa (pigarro) paga mal o seu empregado ou paga menos o seu empregado porque ela quer. Muitas vezes ela paga menos porque ela não tem condições de aumentar o salário, porque se ela aumentar o salário o pr o preço do produto aumenta e ela não consegue vender. Então será muito pior. Porque aí não con não conseguindo vender não vai ter o dinheiro para pagar aquele pouco que ela paga hoje. Isso é uma questão de de de lógica, de diálogo, de pessoas de bom senso entenderem a coisa. Mas em geral é isso.  um grupinho de empregados, o líder, mais dois ou três, que vão discutir com a empresa e procurar encontrar uma solução. Afinal, todos trabalham no mesmo barco.

SPEAKER 1: seriam esses líderes que organizariam a greve? ou Como é que o senhor acha que seria organizada essa greve?

SPEAKER 0: Bem, ah no tempo em que havia greves, as greves eclodiam de duas fontes. Normalmente, elas eclodiam, como eu disse, por motivos políticos, por pressão política, e vinham através do sindicato.  Então, o próprio sindicato da classe mandava uma ordem aos seus... Cada sindicato tem dentro de cada empresa alguém que é o representante do sindicato dentro da empresa, que é o homem de ligação, que é o homem que procura arrebanhar mais gente para o sindicato, que é o homem que participa das reuniões do sindicato para ver como estão as condições de trabalho na empresa. Através desse desse elemento, os sindicatos davam a ordem de greve. Esse elemento chegava na fábrica, dizia amanhã ninguém trabalha. Fecha.  e fechava mesmo. Mas, normalmente, no passado elas eram motivadas mais pelo sindicato. Hoje, se fosse existir greve, poderiam ser motivadas pelo sindicato. Não podem também as greves ser de empresas isoladas. Em geral, as greves são de setor. Quando é de empresa isolada, então são aqueles líderes, aqueles quatro ou cinco que são os mais...  os mais violentos em termos de reagir contra as situações, os menos conformados ou os mais inconformados e que tem alguma ascendência sobre os seus sobre os seus colegas. esses se tornam verdadeiros líderes. Sempre há líderes em qualquer comunidade. né

SPEAKER 1: doutor Rui, e e quais os tipos de sindicatos que existem?

SPEAKER 0: Tipos de sindicatos? Bom, no Brasil há dois tipos, sindicatos de empresas e sindicatos de trabalhadores.  Dentro do sindicato das empresas há sindicatos por categoria, por setor de empresa. Dentro do sindicato dos trabalhadores também há sindicatos por categoria ou setor. São só esses dois tipos que eu conheço de sindicatos.

SPEAKER 1: Normalmente os membros dos sindicatos são pertencentes à mesma classe trabalhadora ou é livre-arbítrio a escolha dos membros no sindicato?

SPEAKER 0: ah eu acho que obrigatoriamente são pertencentes à mesma classe. O que pode ocorrer é que um cidadão, por exemplo, é eleito diretor de um sindicato na indústria de construção civil porque ele é... ahn ahn trabalha numa empresa de construção civil. E no decorrer da sua da sua gestão, suponha que ele sai daquele emprego e vai para um outro e vai trabalhar numa empresa mecânica. Pode ocorrer que ele  peça demissão porque mudou de categoria, mas pode ocorrer que ele fique até o fim do seu mandato, se ninguém exigir que ele saia, não há uma obrigatoriedade. Mas para ser eleito, ele deve pertencer à mesma categoria.

SPEAKER 1: Isso só o diretor ou todos os membros?

SPEAKER 0: Todos os membros, todos os diretores. os Quanto aos sindicalizados, não existe uma uma fiscalização sobre isso. O cidadão pode entrar para um sindicato como sócio, sindicato dos contabilistas, porque ele é contador, é formado, etcétera. E amanhã pode exercer uma função totalmente diferente. Vamos supor, ele des não quer mais trabalhar em escritório vai ser vendedor. E continua sócio do sindicato dos contabilistas, porque lá, como eu disse, ele tem salão de jogos, barbeiro, manicure, ahn biblioteca, cursos, e etcétera. Ele continua, eh o sindicato não vai investigar se ele ainda é contabilista ou não. Simplesmente se ele paga a sua mensalidade, ele tem um diploma, ele pode ser sócio.

SPEAKER 1:  Doutor Rui, agora eu queria saber o seguinte. O que é uma cooperativa? Para que que a serve a cooperativa? E quais os benefícios que uma cooperativa pode proporcionar?

SPEAKER 0: Olha, existem vários tipos de cooperativas. Cooperativa, o nome já diz, está certo? É uma cooperação em grupo. É diferente de sindicato, totalmente. Embora sindicato também sejam grupos. A cooperativa tem por finalidade Existem cooperativas, por exemplo, de consumo.  são as mais importantes do ponto de vista social. São éh entidades normalmente formadas para fornecer alimentação, artigos de uso pessoal a um preço mais acessível que o preço normal de mercado. Isso é feito  mediante a reunião dos empregados de uma empresa, só ocorre em empresas grandes, ou de uma categoria profissional, eu não conheço nenhuma cooperativa de catego de categoria profissional, mas poderia existir.  E se reúnem, cada um colabora com a parcela do capital, certo? Então a junção de pequenas parcelas de muita gente forma um capital grande. Com esse capital compra-se e vende-se, cobrando entre o preço de compra e o preço de venda apenas o necessário para pagar as próprias des> <pesas Quer dizer, não há intuito de lucro. Então como não há intuito de lucro, a cooperativa pode vender por um preço mais baixo que o supermercado ou que o armazém da esquina. Porque o armazém da esquina e o supermercado têm que ter lucro.  Eu conheço algumas cooperativas, eu já comprei em cooperativas. Elas funcionam exatamente como um armazém. Elas compram e vendem, emitem nota fiscal na hora da venda. Há algumas vantagens. Se a cooperativa pertence a uma empresa, a sua compra pode ser descontada em folha de pagamento, você não precisa pagar na hora. está certo Se a cooperativa pertence a um sindicato, pode ser que o sindicato faça condições de pagamento mais acessíveis para objetos de maior valor, um liquidificador, uma batedeira, etcétera  Existem cooperativas também, ah diferentes cooperativas empresariais. A Copersuca, por exemplo, que é está famosa hoje por causa do carro do Copersuca, Fittipaldi, famoso carro Fórmula um, é uma cooperativa dos produtores de açúcar. Então, os produtores de açúcar se reuniram em cooperativa, não num sistema sindicato, veja bem, o sindicato não tem função econômica, o sindicato tem função social, mas a cooperativa tem função econômica. Então, os cooperados da Copersuca  Toda a produção deles é entregue à Copersuca, que faz a colocação disso, faz a venda. Eles não têm que se preocupar em produzir e vender. Eles produzem o açúcar e entregam à Copersuca. A Copersuca vende ou exporta. eh Existem vários tipos de cooperativas. Existem cooperativas, por exemplo, eu conheço uma da Polícia Militar, dos soldados da Força Pública de São Paulo. É uma cooperativa grande, existe.  onde os oficiais e praças, etcétera., podem comprar artigos de primeira necessidade, de medicamentos, etcétera, por um preço bem acessível.

SPEAKER 1: E há uma quantia... Três minutos. Há uma quantia determinada que eles possam comprar, alguma regra? Como é que faz? Por exemplo, uma pessoa que é sócia de uma cooperativa, ela chega e compra quanto quiser ou há uma quantia certa?

SPEAKER 0: Normalmente, ela compra quanto quiser, se ela pagar na hora.  Então, é muito comum o cooperado comprar para si e para seus parentes, porque o preço é melhor. ah Se for uma questão de desconto em folha de pagamento, naturalmente há uma limitação para que ele não compre mais do que aquilo que pode ser descontado. Então, não não tem existido assim limitações maiores nas cooperativas. não Talvez existam regras  estabelecidas por cada cooperativa independentemente, mas não que exista uma uma uma norma geral para isso. e como é que é constituído uma

SPEAKER 1: cooperativa? como é que é constituída uma cooperativa uma Quando se resolve fazer uma cooperativa, quais os membros que são escolhidos para participarem dessa cooperativa?

SPEAKER 0: Bem, a cooperativa pode ser constituída por iniciativa da própria empresa,  Então, a empresa, através de uma atividade social, decide ajudar os seus empregados a comprarem produtos por um preço melhor e ela propõe aos empregados formar uma cooperativa, ela participa com uma quota de capital, sabendo que não vai ter lucro nenhum com isso, apenas ela colabora. Então, cabe aos empregados que querem ser cooperados, como eu disse, cada um reunir as suas economias e participar também com uma pequena parte de cada um, que no todo dará um capital suficiente para movimentar a cooperativa.  Ou pode ser apenas decisão da po do dos empregados. É feita uma campanha, alguém tem a ideia, reúne, e e estabelece uma série de regras, faz um estatuto, promove a ideia entre seus colegas. Se todos eles concordarem, forma-se a cooperativa. Não é fácil. Não é fácil, a cooperativa está sujeita a uma série de restrições da lei.  é obrigada a fazer uma uma escrituração ahn especial, está sujeita à fiscalização também, então não é fácil formar um cooperativa, não é bem difícil.