SPEAKER 1: Bom, eu gostaria de saber como é que na sua casa vocês dividem as refeições do dia  SPEAKER 0: Curiosamente, apesar de todas as transformações socioeconômicas e, portanto, de conotações culturais, e a sociedade brasileira no geral, e em particular a sociedade paulista, e particularíssimamente a sociedade paulistana, que dis difere por uma série de características que você sabe, Apesar de todas essas transformações, de todas essas transmutações, eu diria até de todas essas revoluções, a verdade é que na minha casa o horário das refeições é mais ou menos o tradicional. Evidentemente que não vamos reportar o tempo de papai de mamãe, quando afazendados e necessariamente tendo outros horários, precisavam ter o almoço, o jantar e a ceia em horários diferentes dos de hoje. Eu quero lhe dizer, para ser bem claro, que nós temos hoje os horários vigentes, digamos, na década de trinta, quando eu ainda era menino e morava no então aristocrático bairro dos Campos Elíseos, onde eu nasci. E Não é do seu tempo, não é da sua idade, mas você é suficientemente culto e bem informado para saber, através das pesquisas que você já terá feito, que os Campos Elíseos foram o primeiro bairro dos chamados Barões do Café, que eram os fazendeiros com propriedades em diferentes regiões do estado, mas que aqui mantinham as suas residências. eram aqueles casarões que ainda hoje podem ser vistos, embora defasados pelo tempo, pela falta de trato, pela ausência de cuidado e... não é brincadeira, não. E principalmente pela falta de dinheiro. De maneira que todos esses casarões foram alienados e se transformaram em cabeças de porco. Mas voltando à questão da alimentação. Nós almoçamos normalmente entre meio dia e meia, Duas e meia. E E jantamos também normalmente entre sete e meia e oito e meia. É claro que estes dois horários, estes dois parâmetros sofrem oscilações. Quando existe a possibilidade de recepções, não apenas na nossa casa, senão na casa de amigos. O que nos leva também a inverter, sob certo aspecto, estes horários. Agora, como nós ainda temos filhos pequenos, pelas anotações você viu que nós temos uma filha de trinta anos, já casada e temos três netos, agora temos também uma filhinha de doze, aluna do Dante Alighieri, e um filhinho de oito. De sorte que nós precisamos estar atentos também às necessidades deles. O Elcinho, o garotão, levanta-se muito cedo, porque ele entra no colégio às  E nós mantemos o hábito de estarmos todos à mesa do  SPEAKER 1: café antes do caçulinha sair. E que tipo de alimentação vocês têm na parte da manhã, perto ao meio-dia e à noite? SPEAKER 0: Na parte da manhã é um detalhe muito pitoresco. É um detalhe muito pitoresco e muito curioso, talvez, é que nós ainda gostamos, e até os pequenos gostam, de canjica, a canjica paulista. É um hábito herdado não apenas de meus pais, senão de meus avós. Então nós comemos canjica com leite, canjica você sabe o que é o milho de de canjica. Nós comemos canjica com leite e açúcar, café com leite, pão, manteiga, bolacha, bastante queijo e o queijo fresco. Nós preferimos não nos deixar envolver pelas maquinações da sociedade de consumo e da propaganda e ainda vamos descobrir pela aí, como dizem os da sua geração, e como dizia o Aníbal Ponte Preta, meu saudoso amigo, Sérgio Porto, nós vamos descobrir pela aí o queijo fresco e aquele queijo úmido, aquele queijo puro, aquele queijo não industrializado no mau sentido. Eu pessoalmente não gosto, mas minha mulher e meus filhos gostam muito de geleia, de maneira que pela manhã a nossa alimentação básica é esta. Eu troco a le a geleia por dois ovos quentes, que é um hábito que também me veio da infância. Desde menino que eu todas as manhãs ingiro dois ovos frescos. A hora do almoço não há nenhuma sofi sofisticação na nossa alimentação é  É na base paulista mesmo do feijão, arroz, carne, verduras é legumes e Já hoje em dia, com a intromissão de hábitos que nós capturavámos ou recebemos de correntes migratórias. Então você veja que nós usamos bastante também as massas de feitio italiano. E em virtude das remembranças e das relembranças culinárias de uma antiga cozinheira nossa, já falecida e que era portuguesa, que meu pai meus pais trouxeram de Portugal, trouxeram lá de trás os montes, nós também aceitamos variações culinárias da cozinha portuguesa incorporadas aos hábitos culinários que são tipicamente nossos. Quanto ao jantar, o carro segue Pela mesma rota. Naturalmente com as variações devidas em virtude da hora. Agora, o que não falta no jantar, nunca, é uma sopa de muita variedade, que é difícil para mim estar entrando nesses detalhes, porque eu não sou um expert em cozinha. Eu sou um expert em degustar as produções da cozinha. Mas é eu acredito que ainda nos mantenhamos mais ou menos fiéis aos nossos hábitos. Por exemplo, um detalhe importante, nós detestamos hã alimento enlatado. Nós Achamos isso de uma violência. E Nem em estado de necessidade nós levaríamos para casa alimento enlatado. Nesta hipótese falta cozinheira, empregada oh falta gás, que às vezes acontece, o combustível, em lugar de nós recorremos aos enlatados, SPEAKER 1: nós vamos a um restaurante qualquer e vamos jantar ou almoçar fora. (Bem) o senhor disse que normalmente o senhor tem comida brasileira, né? Perfeito. Todo dia. E no domingo o senhor tem alguma particularidade diferente dessas de todo dia? SPEAKER 0: Poderia realmente haver, e a sua pergunta é muito inteligente, mas no nosso caso particular específico não há, porque é um hábito que nós adquirimos desde que nós nos casamos, aos domingos, almoçarmos fora. Sempre. E E como São Paulo é uma cidade de uma diversificação de restaurantes fabulosos, realmente fabulosos, eu posso lhe dizer sem incorrer em mentira e nem em imaginação. Nós nunca repetimos aos domingos (nenhum) restaurante. É claro que se nós gostarmos de um restaurante, nós iremos lá qualquer noite, de dia de semana. Mas é quase um hobby nosso, é não repetir restaurante. E ao longo de todo o nosso tempo de casado, nós sempre conseguimos ir em um restaurante novo, que brota como cogumelo em São Paulo, nas cercanias de São Paulo, na periferia de São Paulo, nas cidades circunvizinhas. Você veja aí Embu, Itapecerica da Serra, São Roque, Cotia. É um deslumbramento de restaurantes de todos os tipos. Então, domingo, o nosso arte é completamente conflitante com o dos nossos antepassados, que reuniam a família, porque as famílias eram muito numerosas. E havia sempre um patriarca ou uma matriarca, uma figura em torno da qual a família girava. Hoje não, hoje nós somos, comigo, seis irmãos, ou melhor ainda, o mais novo faleceu. E então somos cinco casais. Com os respectivos filhos, essa coisa toda. E Cada um tem a sua vida. Embora o núcleo continue sendo representado por papai e por mamãe. Mas papai e mamãe também não tem hoje. ### Agora que os filhos estão criados, que eles têm netos, bisnetos, essa coisa toda. Nós não nos Reunirmos, não nos reunirmos mais todos os domingos em casa deles, como fazíamos antigamente. A> SPEAKER 0: <ós gostamos muito, por exemplo, de vagem. Gostamos muito de couve picadinha, à maneira mineira. Eu não sei se você sabe que a couve à mineira, na verdade, é a couve paulista, à maneira paulista. Imigrantes paulistas, aqueles que demandaram Minas Gerais, que pertencia a São Paulo àquela época, foram os paulistas autênticos, foram os bandeirantes, os seus descendentes imediatos, que levaram hábitos culinários para Minas Gerais, para Goiás, e até absurdamente para o Rio Grande do Sul. De maneira que essa couve à mineira, que eu prefiro chamar de couve à paulista, é é muito usada lá em casa, aquela couve picadinha, aquele negócio todo muito bem temperadinha. Alface nós usamos usamos com abundância e na salada cebola é um ato mais ou menos português e italiano, a incorporação da da cebola na salada. Ovos cozidos na salada, a salada tem sempre também. Com o emprego principalmente desta espécie de brócolis, usa-se muito, também, se não me engano, se não estou longe da verdade, um hábito incorporado graças à influência italiana na questão típica do brócolis, como foi o negócio da rúcula, que nós usamos também, usamos em casa. Agora, giló, essa coisa toda, não. Uma vez ainda me perguntaram por quê. Eu não sei por quê. (E ainda) nós estávamos, não vai nisso nenhum preconceito, por favor, mas tão distanciados da cultura norte e nordestina que o jiló não conseguiu penetrar. nos mistérios culinários da minha casa. Então é uma comidinha paulista mesmo  SPEAKER 1: A que nós usamos em casa. E quanto a tipo de aves, quais são as de sua preferência ou normalmente que as pessoas preferem ou não preferem? Pelo menos duas vezes por semana SPEAKER 0: Pelo menos, em casa come-se Frango e galinha, preparados de maneira diferente. O frango como frango e a galinha como galinha, embora aparentemente seja a mesma coisa. É diz minha mulher e diz minha mãe que há diferenças fundamentais na maneira de preparar ou de ensinar a preparar hã tipo e outro. De maneira que que no tocante a aves nós gostamos muito. Aos sábados, aos sábados, mas não com habitualidade. Digamos uma vez por mês. ### A família aceita, gosta e tal. Mas e e nasceu de mim essa preferência. É Pato. Nós gostamos muito de pato. Mas isso também tem vinculações antigas, vinculações anteriores. É que nas viagens que fizeram meus pais e na viagem que nós fizemos, nós aprendemos na França a gostar de pato. E então trouxemos para cá, que a primeira viagem que eu fiz com minha mulher foi viagem de lua de mel, viagem de núpcias. Nós permanecemos na Europa seis meses. Ficamos bastante tempo na França, não apenas em Paris, mas na França. E o pato tem grande incidência na cozinha francesa. Tanto que o nome do pato é mesmo pato à la Rochefoucauld, pato à la Marseillaise, essa coisa toda. De maneira que o pato é uma incorporação da culinária francesa à nossa mesa. Então, sábado, em matéria de ave, é pato. Né? Não todo sábado. Não todo sábado. E E outras aves sofisticadas, ficaria bonito, engraçadinho eu dizer, mas não seria verdadeiro. Porque faisão, por exemplo. Fai> Segundo porque ah a compra do pescado envolve uma série de perigos de que eu próprio como jornalista dou notícia quase que todo dia. É poluição de rio, é poluição de mar, é a poluição do próprio pescado. É a quase impossibilidade de se saber se o pescado é fresco ou não. Porque os vendedores, os distribuidores, os antigos peixeiros, hoje substituídos pelos comerciantes das peixarias, eles usam técnicas industriais, também muito sofisticadas, para modificar o aspecto do pescado. Você mesma, como mulher que é, e naturalmente dessa ou daquela forma, inclinada com maior facilidade do que eu a entender do problema, você vai a uma peixaria e dificilmente você saberá se aquele peixe é ou não fresco. Apesar de uma série de regras que a gente procura seguir, ver o olho do peixe, ver o cheiro do peixe, ver a contextura da carne do peixe, Mas como eu disse a você, tudo isso é modificado por técnicas existentes aí e que não nos é lícito ignorar. Então, entre correr o risco e deixar de comer o peixe, eu prefiro deixar de comer o peixe. Quanto a peixe do mar, ocorre exatamente a mesma coisa. Tudo quanto eu disse a você a propósito de peixe de rio, atualmente acontece com peixe de mar. Como nós temos uma pequena propriedade no litoral, quando nós vamos lá, por hobby, por despacio, por relax, eu mesmo pesco. Eu mesmo pesco com linha de fundo, com carretilha. Aquele peixe eu como tranquilamente, mas aquele que eu peguei mesmo ( E como que prepara ele?) O O preparo agora do peixe de mar, esses que às vezes eu costumo pegar, nós comemos tanto em postas fritas como em postas cozidas sempre com bastante tempero, quanto grelhado na grelha, o peixe feito na grelha, ele por inteiro, depois de escamado, tirados as escamas, e temperado também, é óbvio. Comemos sempre com acompanhamento do pirão, aquele pirão que eu falava a você, que é uma recíproca, ou uma réplica, melhor dito, daquela farofinha do frango, do frango assado, do frango recheado. E gostamos muito de robalo. Gostamos muito de namorado. E gostamos muito, mas muito mesmo, de um peixe que a gente pega sem muita facilidade, que não tem grande valor comercial, mas que, cortado em postas e muito bem temperado, é uma delícia. É o peixe chamado cavala ou cavalinha. O tamanho é o mesmo, uns chamam de cavala outros de cavalinha. Agora, muito dificilmente, apenas quando há tempo suficiente, digamos, período de quase-férias, daí eu mesmo faço. Na praia é um peixe que eu aprendi com (nome), um notável cantor, um notável seresteiro que ainda está vivo por aí e o maior intérprete das músicas de (nome) Dê sorte que nós comemos este peixe... Carvalhinho, como (bagre)? Nós comemos este peixe feito à maneira do... ensinado pelo (nome). Ele é colocado em um recipiente com bastante tempero. Este recipiente é muito bem fechado. É colocado em um buraco que se faz na areia e o fogo vai sobre a tampa do recipiente. Depois de determinado tempo, tira seu recipiente para que se vire o peixe no seu molho, no seu tempero e vai outra vez para o buraco feito na areia. E o fogo vai em cima outra vez. Enquanto isso a gente vai tomando caipirinha, tocando violão e e cantando samba, né? Não é o samba que você gosta, é o sambão mesmo. Ah, isso é interessante, é cuminho, é coentro, é louro. A pimenta em pequena quantidade, porque depois a gente dosa a a vontade de cada um depois do peixe pronto. Vinagre. misturando vinagre branco e vinagre tinto. Vinagre bom, o vinagre precisa ser muito bom. É Óleo, salsinha e outros temperos verdes, essa coisa toda. SPEAKER 1: Este é o tempero que nós usamos para o peixe.() Não e> SPEAKER 0: SPEAKER 1: SPEAKER 1: SPEAKER 1: