SPEAKER 0: ### o que que você tem ido fazer lá ou  para onde realmente vocÊ vai  o que que vocÊ faz o que que você encontra por lá a primeira vez que eu tive oportunidade de ir para o norte mais especificamente para a amazônia foi através de um convite do doutor paulo vanzolini que é o diretor do museu de zoologia aqui da universidade de são paulo  ele estava interessado que eu fosse estudar do ponto de vista genético uns animais mais especificamente uns lagartinhos e em que o doutor vanzolini já estava fazendo estudos de ecologia e distribuição geográfica como zoólogo que é bom então foi uma experiência espetacular porque nós como bicho de cidade certamente o pessoal daqui de são paulo é bicho de cidade pela primeira vez eu senti o que é a gente passar de um nicho ecológico para outro realmente lá eu era como uma criança como o próprio doutor vanzolini disse nós subimos o rio cerca de dois mil quilômetros entramos por alguns dos afluentes num período de dois meses e meio num barco de pesquisa subvencionado pela fapespe foi uma experiência como eu disse maravilhosa não só do ponto de vista profissional onde tudo ti teve que ser adaptado um verdadeiro laboratório ambulante foi improvisado mas também do ponto de vista humano  pela primeira vez eu descobri um outro mundo que felizmente ainda pertence ao brasil apesar de estar super contaminado por cerca de milhares de estrangeiros onde noventa e nove vírgula nove são comerciantes americanos e que infelizmente não estão interessados em construir alguma coisa ou fazer alguma coisa lá mas só tirar é uma pena  mas enfim ahn aos poucos eu fui descobrindo todas essas coisas e  e também não ahn não só isso e isso me def me me dava uma sensação de frustração profunda que eu me sentia uma formiguinha no meio de uma máquina monstruosa funcionante já há muitos anos uma espécie de pirataria de século vinte muito bem organizada mas também esse sentimento de frustração era porque eu recém tomava consciência da extrema ignorância que nós paulistas e o pessoal do sul em geral sul quer dizer rio de janeiro para baixo e é lógico a gente estando lá na amazônia é sul mesmo mas a extrema ignorância que nós vivemos a respeito do que é a amazônia em geral a gente imagina um monte de mato doença gente ruim forasteiro perigo daqui e de lá tanto é que quando eu comuniquei ao m aos meus pais esse convite e essa oportunidade maravilhosa de ir para lá a primeira tendência deles apesar de za já já ser uma marmanja quase coroa ah eles disseram como amazônia que coisa horrível você e eles não tinham outra desculpa porque eu estava tão entusiasmada e firme no meu propósito de ir eu disse eu não estou pedindo permissão isso é um comunicado é lógico eles não tiveram outra desculpa a não ser dizer você vai perder o seu namorado ridículo né mas enfim éh éh foi isso que aconteceu  e mal eles sabiam que naquela época meu namorado atual meu marido ele também trabalha em pesquisa e só teve motiv oh expressão de entusiamo e enfim ele só soube me incentivar bom então  entre algumas coisas que eu aprendi e que qualquer um de nós bicho de cidade aprenderíamos primeiro lugar como dormir numa rede a gente fica imaginando aqui né ih dormir uma numa rede durante dois meses e meio que coisa horrível  se não for quebrada não sei o quê não  é uma uma delícia  tanto é que quando eu voltei eu estranhei minha própria ca é que aqui a gente fica imaginando dormir numa rede assim ou na horizontal né  então fica todo assim com um arco  ou então de atravessado que também seria igualmente incômodo mas ninguém faz isso lá na verdade dormir numa rede é a pessoa colocar-se numa posição diagonal a gente põe os pés num lado e a cabeça do outro mas não de atravessado como eu disse diagonal e e acontece uma coisa muito interessante  automaticamente a gente fica numa posição horizontal não fica arqueada não fica nada e mais ainda bem mais confortável do que numa cama às vezes numa cama quando a gente vai começar a a dormir a gente vira para um lado vira do outro querendo se ajeitar daqui e de lá na rede não precisa nada disso a gente se sente carregada no colo  aconchegada não há problema de coluna não há nada e e a gente acaba se viciando tanto tanto é que agora na minha casa em cada quarto tem um gancho de rede (risos) aliás não um né um par mas realmente e eu éh eu tenho éh ganchos de rede no quintal num terracinho lá em cima e em cada um dos três quartos e o meu marido também já está viciado na rede porque ele sabe como usar a única pena é que por exemplo no inverno não dá mesmo o pé a gente usar a rede outra coisa muito interessante bom a pimeira noite eu acabei caindo da rede porque uma coisa é dormir na rede que não é nada difícil como eu já falei mas o problema é que dormir numa rede num barco andando é diferente (risos) o barco não era grande era um rebocador e um rebocado era um batelão ahn transportador de castanha que foi adaptado para ser barco de pesquisa então éh esse rebocado onde nós trabalhávamos onde era o nosso banheiro cozinha dormitório tem uma mesa no centro Durante o dia as redes eram desarmadas onde nós trabalhávamos. bom nós nunca viajávamos durante toda a noite nós sempre viajávamos de dia viagem começando às cinco horas da manhã viajávamos o dia inteiro e parávamos cinco e meia no máximo seis horas da tarde que é mais ou menos o trecho aliás a distância que separa uma localidade de outra quando as distãncias são muito grandes às vezes nós encontrávamos localidades intermediárias com menos de doze horas de viagem ahn rio acima bom mas como eu ia dizendo eu a primeira noite eu caí da rede  porque o barco parava perto como eu ia dizendo para perto de do trapiche todas as localidadezinhas ao longo do vale ahn tem a aliás são constituídas basicamente de uma fileira de casas na beirada do rio afastadas cerca de um uns cinquenta a cem metros da beirada e geralmente atrás dessa principal linha de casas mais duas ou trÊs fileiras se seguem e  e o trapiche é lindo  a meu ponto de v assim meu ponto de vista não sei porque ele é todo constituído de madeira com toras grossíssimas e muito elevado porque mais adiante eu vou falar do sistema de nível de águas que regula ou que controla também as estações do ano e praticamente toda a vida da região  mas enfim nós parávamos ali no trapiche e sendo uma embarcação leve cada embarcação mais pesada que chegava ou saía formava a marola da água o volume da água mesmo sendo dos dos afluentes que nós entramos era imenso resultado o barco balançava de lá para cá e a rede automaticamente também balançava eu tinha meio que me segurar na ali na balaustrada do barco e às vezes eu dava cabeçada na mesa ou no banco da mesa que era próximo e numa das vezes eu fui achei que eu podia me segurar muito facilmente me virei assim não estava acostumada e ploft caí no chão direto e estava tonta e enjoada de tanto balançar res resultado resolvi dormir no chão porque (risos) sentia menos enjôo e menos balanço da rede mas foi só aquela vez porque depois eu adorava aquele balanço de rede e acabava dormindo e pensando puxa vida quando eu era nenezinho eu acho que eu devia gostar de ser embalada por causa disso  e não ficava tonta não ficava nada agora um outro aspecto uma outro tipo de experiência muito interessante assim conversando com o pessoal não só da tripulação do barco como cozinheiro mestre e os marinheiros mas também o pessoal de cada uma das localidades que nós ficávamos parados dois três dias foi o vocabulário e para começar o o tipo físíco era diferente um pesso o fenótipo é índio misturado com europeu então a maioria do pessoal é morena com cabelos pretos corridos e muitos com olhos azuis tipo físico muito bonito aliás eu acho mais bonito do que o índio peruano por exemplo ou boliviano eu acho que é um tipo mais delicado e são muito sensuais muito atraentes tanto homens quanto mulheres e então o tipo físico em comparação meu era contrastante porque eu como neta de italianos que eu sou loira clara então a turma lá na hora todo mundo pensava bom essa daí é gringa e realmente todo mundo ficava pensando que eu fosse americana  começava a falar um portuguÊs bem devagar e eu ficava conversando com eles em portuguÊs claro né como brasileira que eu sou e eles diziam como você fala portuguÊs eu sou brasileira eu sou de são paulo tal como  você não é americana eu falei não não sou  ah mas seus pais são americanos eu dizia não  não eu sou neta de italianos  eu não sei quantas vezes eu tive que repetir essa frase mas nossa mas você fala um portuguÊs com sotaque mas um sotaque estrangeiro  eu falei não não é sotaque estrangeiro nada é sotaque de são paulo ah mas você usa um vocabulário todo estranho umas frases que a gente nunca ouviu falar ah o pessoal de são paulo fala assim e por quê com o tempo eu fui descobrindo  muitos dos termos lá no estado do pará onde eu estive mais tempo mas também no estado do amazonas termos de português eu acho que são de português castiço o português antigo por exemplo facão lá ninguém sabe o que é é terçado ahn  outra coisa ah peneira peneira eles não usam essa palavra é crivo não é peneira é crivo e eu também não sabia o que que era então ficava uma situação muito divertida o  outra coisa também e isso eu achei formidável e é uma pena que nós não temos esse costume por aqui  eu acho que antigamente a gente devia ter mas mudou com forte influência europeia sei lá é  é o número de palavras indígenas tanto para frutas legumes peixes objetos de uso comum tanto na cozinha como da casa e termos regionais mesmo que eu nunca tinha ouvido falar e às vezes chegava uma hora eu não sabia se eles estavam se referindo a comida ou a objeto era às vezes goz ### que aspecto você notou mais essa influência de nomes indígenas nomes estranhos para você né na comida na na vegetação nos objetos ao>