Inquérito SP_DID_190

SPEAKER 0: : ### o que que você tem ido fazer lá ou  para onde realmente vocÊ vai  o que que vocÊ faz o que que você encontra por lá a primeira vez que eu tive oportunidade de ir para o norte mais especificamente para a amazônia foi através de um convite do doutor paulo vanzolini que é o diretor do museu de zoologia aqui da universidade de são paulo  ele estava interessado que eu fosse estudar do ponto de vista genético uns animais mais especificamente uns lagartinhos e em que o doutor vanzolini já estava fazendo estudos de ecologia e distribuição geográfica como zoólogo que é bom então foi uma experiência espetacular porque nós como bicho de cidade certamente o pessoal daqui de são paulo é bicho de cidade pela primeira vez eu senti o que é a gente passar de um nicho ecológico para outro realmente lá eu era como uma criança como o próprio doutor vanzolini disse nós subimos o rio cerca de dois mil quilômetros entramos por alguns dos afluentes num período de dois meses e meio num barco de pesquisa subvencionado pela fapespe foi uma experiência como eu disse maravilhosa não só do ponto de vista profissional onde tudo ti teve que ser adaptado um verdadeiro laboratório ambulante foi improvisado mas também do ponto de vista humano  pela primeira vez eu descobri um outro mundo que felizmente ainda pertence ao brasil apesar de estar super contaminado por cerca de milhares de estrangeiros onde noventa e nove vírgula nove são comerciantes americanos e que infelizmente não estão interessados em construir alguma coisa ou fazer alguma coisa lá mas só tirar é uma pena  mas enfim ahn aos poucos eu fui descobrindo todas essas coisas e  e também não ahn não só isso e isso me def me me dava uma sensação de frustração profunda que eu me sentia uma formiguinha no meio de uma máquina monstruosa funcionante já há muitos anos uma espécie de pirataria de século vinte muito bem organizada mas também esse sentimento de frustração era porque eu recém tomava consciência da extrema ignorância que nós paulistas e o pessoal do sul em geral sul quer dizer rio de janeiro para baixo e é lógico a gente estando lá na amazônia é sul mesmo mas a extrema ignorância que nós vivemos a respeito do que é a amazônia em geral a gente imagina um monte de mato doença gente ruim forasteiro perigo daqui e de lá tanto é que quando eu comuniquei ao m aos meus pais esse convite e essa oportunidade maravilhosa de ir para lá a primeira tendência deles apesar de za já já ser uma marmanja quase coroa ah eles disseram como amazônia que coisa horrível você e eles não tinham outra desculpa porque eu estava tão entusiasmada e firme no meu propósito de ir eu disse eu não estou pedindo permissão isso é um comunicado é lógico eles não tiveram outra desculpa a não ser dizer você vai perder o seu namorado ridículo né mas enfim éh éh foi isso que aconteceu  e mal eles sabiam que naquela época meu namorado atual meu marido ele também trabalha em pesquisa e só teve motiv oh expressão de entusiamo e enfim ele só soube me incentivar bom então  entre algumas coisas que eu aprendi e que qualquer um de nós bicho de cidade aprenderíamos primeiro lugar como dormir numa rede a gente fica imaginando aqui né ih dormir uma numa rede durante dois meses e meio que coisa horrível  se não for quebrada não sei o quê não  é uma uma delícia  tanto é que quando eu voltei eu estranhei minha própria ca é que aqui a gente fica imaginando dormir numa rede assim ou na horizontal né  então fica todo assim com um arco  ou então de atravessado que também seria igualmente incômodo mas ninguém faz isso lá na verdade dormir numa rede é a pessoa colocar-se numa posição diagonal a gente põe os pés num lado e a cabeça do outro mas não de atravessado como eu disse diagonal e e acontece uma coisa muito interessante  automaticamente a gente fica numa posição horizontal não fica arqueada não fica nada e mais ainda bem mais confortável do que numa cama às vezes numa cama quando a gente vai começar a a dormir a gente vira para um lado vira do outro querendo se ajeitar daqui e de lá na rede não precisa nada disso a gente se sente carregada no colo  aconchegada não há problema de coluna não há nada e e a gente acaba se viciando tanto tanto é que agora na minha casa em cada quarto tem um gancho de rede (risos) aliás não um né um par mas realmente e eu éh eu tenho éh ganchos de rede no quintal num terracinho lá em cima e em cada um dos três quartos e o meu marido também já está viciado na rede porque ele sabe como usar a única pena é que por exemplo no inverno não dá mesmo o pé a gente usar a rede outra coisa muito interessante bom a pimeira noite eu acabei caindo da rede porque uma coisa é dormir na rede que não é nada difícil como eu já falei mas o problema é que dormir numa rede num barco andando é diferente (risos) o barco não era grande era um rebocador e um rebocado era um batelão ahn transportador de castanha que foi adaptado para ser barco de pesquisa então éh esse rebocado onde nós trabalhávamos onde era o nosso banheiro cozinha dormitório tem uma mesa no centro Durante o dia as redes eram desarmadas onde nós trabalhávamos. bom nós nunca viajávamos durante toda a noite nós sempre viajávamos de dia viagem começando às cinco horas da manhã viajávamos o dia inteiro e parávamos cinco e meia no máximo seis horas da tarde que é mais ou menos o trecho aliás a distância que separa uma localidade de outra quando as distãncias são muito grandes às vezes nós encontrávamos localidades intermediárias com menos de doze horas de viagem ahn rio acima bom mas como eu ia dizendo eu a primeira noite eu caí da rede  porque o barco parava perto como eu ia dizendo para perto de do trapiche todas as localidadezinhas ao longo do vale ahn tem a aliás são constituídas basicamente de uma fileira de casas na beirada do rio afastadas cerca de um uns cinquenta a cem metros da beirada e geralmente atrás dessa principal linha de casas mais duas ou trÊs fileiras se seguem e  e o trapiche é lindo  a meu ponto de v assim meu ponto de vista não sei porque ele é todo constituído de madeira com toras grossíssimas e muito elevado porque mais adiante eu vou falar do sistema de nível de águas que regula ou que controla também as estações do ano e praticamente toda a vida da região  mas enfim nós parávamos ali no trapiche e sendo uma embarcação leve cada embarcação mais pesada que chegava ou saía formava a marola da água o volume da água mesmo sendo dos dos afluentes que nós entramos era imenso resultado o barco balançava de lá para cá e a rede automaticamente também balançava eu tinha meio que me segurar na ali na balaustrada do barco e às vezes eu dava cabeçada na mesa ou no banco da mesa que era próximo e numa das vezes eu fui achei que eu podia me segurar muito facilmente me virei assim não estava acostumada e ploft caí no chão direto e estava tonta e enjoada de tanto balançar res resultado resolvi dormir no chão porque (risos) sentia menos enjôo e menos balanço da rede mas foi só aquela vez porque depois eu adorava aquele balanço de rede e acabava dormindo e pensando puxa vida quando eu era nenezinho eu acho que eu devia gostar de ser embalada por causa disso  e não ficava tonta não ficava nada agora um outro aspecto uma outro tipo de experiência muito interessante assim conversando com o pessoal não só da tripulação do barco como cozinheiro mestre e os marinheiros mas também o pessoal de cada uma das localidades que nós ficávamos parados dois três dias foi o vocabulário e para começar o o tipo físíco era diferente um pesso o fenótipo é índio misturado com europeu então a maioria do pessoal é morena com cabelos pretos corridos e muitos com olhos azuis tipo físico muito bonito aliás eu acho mais bonito do que o índio peruano por exemplo ou boliviano eu acho que é um tipo mais delicado e são muito sensuais muito atraentes tanto homens quanto mulheres e então o tipo físico em comparação meu era contrastante porque eu como neta de italianos que eu sou loira clara então a turma lá na hora todo mundo pensava bom essa daí é gringa e realmente todo mundo ficava pensando que eu fosse americana  começava a falar um portuguÊs bem devagar e eu ficava conversando com eles em portuguÊs claro né como brasileira que eu sou e eles diziam como você fala portuguÊs eu sou brasileira eu sou de são paulo tal como  você não é americana eu falei não não sou  ah mas seus pais são americanos eu dizia não  não eu sou neta de italianos  eu não sei quantas vezes eu tive que repetir essa frase mas nossa mas você fala um portuguÊs com sotaque mas um sotaque estrangeiro  eu falei não não é sotaque estrangeiro nada é sotaque de são paulo ah mas você usa um vocabulário todo estranho umas frases que a gente nunca ouviu falar ah o pessoal de são paulo fala assim e por quê com o tempo eu fui descobrindo  muitos dos termos lá no estado do pará onde eu estive mais tempo mas também no estado do amazonas termos de português eu acho que são de português castiço o português antigo por exemplo facão lá ninguém sabe o que é é terçado ahn  outra coisa ah peneira peneira eles não usam essa palavra é crivo não é peneira é crivo e eu também não sabia o que que era então ficava uma situação muito divertida o  outra coisa também e isso eu achei formidável e é uma pena que nós não temos esse costume por aqui  eu acho que antigamente a gente devia ter mas mudou com forte influência europeia sei lá é  é o número de palavras indígenas tanto para frutas legumes peixes objetos de uso comum tanto na cozinha como da casa e termos regionais mesmo que eu nunca tinha ouvido falar e às vezes chegava uma hora eu não sabia se eles estavam se referindo a comida ou a objeto era às vezes goz ### que aspecto você notou mais essa influência de nomes indígenas nomes estranhos para você né na comida na na vegetação nos objetos ao onde é que é mais pronunciada essa essa influência indígena eu e eu senti mais em nomes de frutas ahn  verduras eles não têm muito  alguns legumes e animais tanto de qualquer grupo peixes aves mamíferos répteis ahn os nomes populares de animais são todos indígenas e e é claro nomes de cidades e e rios ou são de cidades de portugal por exemplo almerim monte alegre santarém óbidos ou nomes indígenas por exemplo gurupá ahn que mais urucurituba paritinhs itacoatiara breves é nome de cidade de portugal belém também  mas por exemplo aqui em são paulo a gente tem alguns nomes indígenas mas se restringiram mais a rios e algumas cidades em alguns bairros ou nomes de ruas mas consequência quer dizer eu acho mínima lugares por exemplo anhangabaú pacaembu que aliás nem se chama mais pacaembu agora mas enfim e esses nomes de frutas voltando lá para a amazônia são como são frutas regionais e a gente nunca ti eu pelo menos nunca tinha ouvido falar (risos) eh eu não sabia na hora outra coisa há termos éh com um signifcado diferente aqui a gente fala suco de uva suco de maracujá lá eles usam o termo vinho  então a primeira vez que me perguntaram você quer um vinho de graviola eu eu pensei que fosse assim uma bebida alcoólica um licor sei lá era um refresco de graviola por sinal espetacular o meu prefe eu sonho sempre em comer graviola sorvete de graviola suco de graviola  é uma fruta parecida com fruta do conde só que assim tem um tamanho acho que umas dez vinte vezes maior tamanho varia mas não é bem a jaca mas seria do tamanho de uma jaca (risos) mas é uma delí cia sabe muito mais gostosa do que a nossa fruta do conde que às vezes é meio aguada e uma série de outras frutas  em belém existe uma sorveteria famosa chama-se sorveteria santa marta eh ela ahn faz sorvetes de várias frutas e lá eles distinguem entre o sorvete e o creme o sorvete é feito com água e o creme é com o leite de várias frutas há algumas que não podem ser misturadas com o leite  há um grande número de coquinhos uma variedade imensa de coquinhos que são comestíveis mas são mais apreciados na forma de s de sucos ou de vinhos como eles dizem mas também sob a forma de compotas doces e sorvetes um um dos mais populares é o açaí  é escuro mancha a língua  a primeira vez que a gente toma o vinho do açaí a gente não gosta muito porque tem um gosto completamente diferente de qualquer outra coisa daqui  a farinha também é outra coisa interessante é  lá a comumente usada pelo pessoal é a farinha feita da mandioca venenosa que eles chamam da madioca () é um uma técnica indígena ainda na maioria dos lugares é a utilizada  não existe fábrica de farinha assim com grandes galpões etcétera toneladas de produção  há ainda o sistema de pequenas casas de farinha e eu acho que é por isso ainda que a qualidade da farinha fica tão go boa  a madioca que não é venenosa que é a que nós usamos aqui pela área de são paulo eles chamam macaxeira como no nordeste também e não é muito usada  inclusive a turma acha que é de baixa qualidade uma porcaria aí na verdade para se comer (risos) então fica chamando fica chamada a a mandioca puba fermentada né fica toda inchada e eu não não me lembro direito o tempo que fica se se é uma ou duas semanas em sacos ou em em cestos que eles chamam paneiros o interessante é que qundo eu estava nas minhas primeiras paradas nessas localidades e geralmente a gente chegava assim de tardezinha havia uma espécie de encontro social da localidade então eram ah mulheres crianças homens todo mundo tomando banho na beirada do rio ahn uns paneiros ahn cobertos de uns sacos boiando que eu não sabia o que era depois eu vim saber que eram as das famosas mandiocas (risos) pubando né ou fermentando  e ahn outro grupo acabando de lavar roupa um grupo jogando a tarrafa que é um tipo de rede daí a uns dez metros e conseguindo peixe facilmente apesar daquela movimentação toda e aí o doutor vanzolini se a gente estava chegando mais ou menos cedo ele dizia bom agora todo mundo põe maiô e também vamos tomar um banho e é claro que a nossa chegada chamava a atenção  não só pelo nosso tipo físico mas também por sermos de fora e era um acontecimento para a localidade  bom mas como eu estava falando da farinha vamos acabar a farinha  depois de uma ou duas semanas o pessoal tira a mandioca daqueles paneiros cestos ela está com a está inchada a casta está froucha então ela é batida com umas varas e em algumas muitas casas têm a sua própria fabricaçãozinha de farinha consiste de uma moenda então aquela mandioca depois de descascada quer dizer sai aquela parte branca às vezes é amarela geralmente é amarela é passada na moenda então aquele bagaço éh moído é que é o aproveitado é colocado éh numa espécie de um espremedor muito original chamado tipiti e esse tipiti é um objeto indígena também ainda hoje usado pelos índios pela maioria dos índios mas também usado  assim normalmente a gente encontra no mercado para comprar cada casa tem o seu tipiti ou coisa assim é é um sistema interessante é um cilindro trançado e que s éh éh quando é colocado lá dentro o a paçoca de mandioca é dependurado num extremo no teto de um barracão e embaixo uma pedra então ele é esticado  ao ser esticado aquele trançado se movimenta e então aquele cilindro fica mais comprido e estreito e espreme o bagaço da mandioca o caldo que sai é extremamente venenoso a tal ponto que é muito comum o pessoal falar que cachorro que lambe aquele caldo morre e crianças são avisadas desde cedo que elas não devem tentar experimentar o caldo que escorre porque é tóxico é venenoso eu não s não me lembro quanto tempo aquilo é deixado dependurado para escorrer o máximo de caldo  eu não sei se é é todo a tal ponto de secar mas enfim depois de algum tempo eles dese des despenduram o tipiti automaticamente eles en em fazem pressão com ambas as mãos então tipiti vai ficar agora mais curto e grosso e afrouxa aquela paçoca sai de dentro eles com a abertura facilmente é retirado o material e colocado em tachos em fogo ou em fornos a lenha e com uma espécie de rodinho de madeira eles vão mexendo mexendo mexendo e fica então aquela farinha meio embolotada o cheirinho é uma delícia eu j eu estou eu estou até com água na boca (risos) é uma maravilha sabe e para para fazer farofa eles usam o crivo para separar as bolinhas maiores das menores e aí novamente passam na frigideira com um pouco de manteiga e aquilo com um peixinho frito é espetacular e quer dizer que essa farinha então é diferente da nossa farinha aqui ah com cer completamente muito melhor (risos) cada vez agora que a primeira vez que eu fui para a amazônia que eu estou passei por tudo isso foi em sessenta e oito  depois disso eu voltei felizmente várias vezes pretendo voltar sempre que possível  mas já que você já foi lá tantas vezes e já voltou inclusive você já deve estar acostumada com a comida de lá principalmente os pratos típicos né é  os pratos típicos são também são uma coisa À parte  a gente ouve eu já tinha ouvido falar daqui o pato no tucupi e mas ah ahn eu não fazia ideia inclusive o que era tucupi né tucupi é exatamente aquele caldo tóxico o caldo venenoso fermentado da mandioca mas a aquele caldo eu também não me lembro direito ou na verdade eu não sei direito por isso que eu talvez não me lembre éh  como é que é tirada a toxidez do caldo venenoso da mandioca é um caldo amarelo que tem um gostinho meio azedo  então a primeira vez que a gente experimenta não é agradável  falta de costume apenas e  então há muitas coisas ao tucupi inclusive há muitos tipos de pimenta o pessoal lá gosta de comer pimenta eu acabei também ficando viciada em pimenta crua o pessoal () o pessoal do barco que me ensinou o seu chico o cozinheiro uma gracinha de pessoa eu  é um bruta de um preto de quase dois metros de altura de oriximiná no rio trombeta aliás por falar em preto lá na amazônia quase não há pretos mas os que existem são de um preto diferente daqui são pretos pretos pretos e eu acho que eles devem ter sido sido descendentes de algum quilombo que tenha se formado por aquela re na área de oriximiná a gente encontra uma certa concentração e talvez naquela área tenha se desenvolvido um quilombo s ahn o século passado por exemplo coisa assim bom inclusive esse nome oriximiná lembra muito coisa africana né é  mas na verdade eu não sei se o termo oriximiná é um termo indígena ou africano seria o caso de pensar  é eu não e a aí isso o senhor chico além de ele ter me ensinado umas músicas muito engraçadinhas e aliás ele vivia cantando ele me ensinou como preparar alguns pratos e explicou uma série de coi sas e inclusive foi ele que me explicou o processamento de mandioca e e ele comia pimenta  é uma pimentinha que eu nunca vi por aqui é uma bolinha amarela  do tamanho mais ou menos de uma cereja  ele abria tirava a semente e comia junto com uma salada por exemplo ou com tomate ou com arroz e a farinha e eu gostei não é tão forte assim agora quando ela é colocada no tucupi e fica curada  então é realmente forte além dessa existem umas outras compridas verdes ahn bolinhas verdes bolinhas vermelhas enfim uma variedade que eu pelo menos nunca tinha visto aqui em são paulo  mas voltando ao pato no tucupi a primeira vez eu fui comer num restaurante em belém com o doutor vanzolini eu me senti eu eu para mim foi uma decepção porque eu achei que ia ser uma coisa assim do outro mundo como algum prato baiano tal eu não gostei muito sabe na verdade o pato no c tucupi não deixa de ser uma canja de pato mas é uma canja toda especial por quê porque no caldo do pato né em vez de caldo de galinha seria o caldo do pato eles misturam tucupi então já fica um gosto assim que quando a gente come parece que faz toin na garganta sei lá mas enfim éh minha primeira impressão não foi boa além disso éh é colocado  por exemplo aqui numa canja de galinha à moda italiana coloca-se salsão um ramo de salsão  lá naquela canja de pato além de tucupi eles colocam o jambu jambu é um uma planta seria uma verdura assim parece rama de batata mas na hora que você vai comer daí a um pouq você não sente um gosto muito forte na hora mas daí a um pouquinho questão de segundos você sente os seus lábios completamente dormentes parece que você éh parece que você passou uma pomada de filocaína sei lá um anestésico porque você tem a sensação idêntica eu acredito que seja a sensação anestésica mesmo você vai comendo aquele jambu e você vai sentindo os lábios totalmente adormecidos com aquela sensação de alfine de alfinetes picando o seu lábio  então no começo você leva meio um susto fala hm será que essa comida está boa bom então essa foi a minha primeira experiência de pato e não estava assim lá muito temperado e ah aliás eles não usam para o pato no tucupi muito tempero  então eu achei meio sem graça  depois disso das outras vezes que eu voltei em mil novecentos e setenta quando eu fui sozinha e aí então aí foi uma outro tipo de  tipo de experiência inclusive eu não tinha barco à minha disposição ahn eu repeti e aí comecei a gostar mais  mas um outro prato que eu ach é muito popular eu acredito mais do que o pato no tucupi porque é vendido nas ruas em quase assim no centro de belém quase toda esquina tem uma senhora com um carrinho vendendo ta e não só em belém mas ao longo das localidades que nós paramos e que eu depois visitei nos anos seguintes é comum à tarde lá pelas quatro quatro e meia cinco depois que a turma toma o banho ou mesmo aqueles que não querem saber de banho vão tomar o tacacá e e essas carrinhos o lugarzinho onde a tacacazeira fica fica uma espécie de encontro social dos rapazes e moças com a desculpa de tomar o tacacá eles ficam batendo um papo então a existe assim bancos de cada lado do carrinho dela e a turma senta no banco e o tacacá é tomado ou comido em  cuia feita da fruta cuia que é cortada ao meio retirado o miolo e depois ele é deixado secar no sol e tratado com umas resinas a a textura da cuia fica preta eles trabalham com uma espécie de um canivete ou gilete fazendo desenhos lindíssimos isso é encontrado comumente em santarém  bom mas o tacacá consiste do sequinte basicamente de um caldo é tucupi quente com jambu  então é um caldo de jambu com o tucupi certo bom aí numa outra panela se faz um mingau para nós seria uma espécie de mingau de maizena éh de textura assim parece uma gosma uma baba de quiabo com água só não tem sal  então eles chamam lá goma porque é mesmo goma essa goma de passar rou de engomar roupa (risos) mas lá eles chamam goma então a goma assim é preparada com muito cuidado mas é usado não é usado maizena é usado ai meu deus do céu agora eu esqueci o nome é também feito biju é um um tipo de doce lá deles biju eu não gosto acho muito sem graça éh ai meu deus deus do céu como é que é  não é araruta é um outro tipo pozinho branco muito fino e é meio azedinho fermentado polvilho exatamente é pol vilho boa lem brança isso m mesmo mas eles chamam lá de outro nome também e  enfim feito aquela goma numa panela à parte é um é uma parte importante do taca e numa outra vasilha é importante haver o camarão seco camarão seco ah e esse camarão seco recebe um tratamento simplíssimo logo que ele é pescado éh ele recebe uma ligeira fervura de água e sal na verdade uma salmoura concentrada e depois aquela salmoura é escorrida e é claro fica um monte de sal no meio do camarão e é posto a secar no sol bom então aquele camarão que não é limpo não é nada são uns camarões pequenos e se é colocado na cuia assim mesmo com tudo  como é que a tacacazeira serve a gente ela põe umas duas ou três conchas do caldo com o jambu na cuia põe umas duas conchas do do da goma e depois põe cerca de uma meia dúzia a dez daqueles camarões e pergunta se a gente quer mais tucupi mas na hora quando ela fala mais tucupi ela quer dizer que quer se a gente quer pimenta ou não  porque aí vem o tucupi na pimen às vezes ela fala quer pimenta aí a gente enten da às vezes ela fala quer mais tucupi a gente (risos) não sabe o que quer dizer a primeira impressão é que a gente eu não sei se eu vou ser inconveniente agora (risos) mas a primeira impressão que a gente tem é de um vômito (risos) mas (risos) não é é apenas primeira impressão  bom pois é é apenas primeira impressão porque bom o gosto também é chocante a gente não está acostumada principalmente por causa do jambu e o camarão tem um gosto fortíssimo e é salgado e já está meio apimentado então dificilmente você acab consegue acabar uma cuia mas depois sei eu lá se se aquilo vicia ou não mas a gente acaba se acostumando e é uma delícia ô denise é essas viagens que você fez para lá não foram só de barco não  você usou outras coisas para viajar né é dessa primeira vez eu só usei o barco bom quer dizer barco a partir de belém porque de são paulo para belém eu fui num caravele da da cruzeiro ou no naquele eletra da acho que da vaspi né ou varigue (risos) bom eu sei dizer que eu não entendo de marca de avião tem esses aviões aí a jato e tal que duração de vôo mínimo é de cinco horas e meia e quando ele começa a fazer escalas além de brasília ele começa a parar por indo aqui pelo interior começa a parar em são luís do maranhão teresina piauí e depois finalmente chega em belém então são cerca de oito horas bom mas enfim de belém a santarém são cerca de novecentos quilômetros para mais de santarém para manaus outro tanto fora as nossas entradas através do rio xingu onde nós paramos em porto de moz depois pegamos um não voltamos pelo mesmo caminho nós pegamos um que ele chama um furo oh porque o rio amazonas não é um rio assim com um canal imenso de vários quilômetros de largura como a gente possa imaginar há certos trechos larguíssimos que v a gente não tem muita ilha no meio mas há há outros trechos que a gente tem impressão  puxa mas é só isso não é porque a gente não está vendo realmente as margens nós estamos passando em canais na verdade porque há muitas ilhas que às vezes também não são de terra tão firme assim devido ao regime das águas então nós pegamos um furo que é um canal grande chamado furo da kiki e saímos de novo no amazonas mas já na altura de almeirim rio acima depois na altura de santarém que fica na boca do rio tra tapajós nós entramos pelo tapajós ahn paramos em alter do chão que para mim é um dos lugares mais lindos que eu já vi ahn em termos assim de beleza natural é uma coisa emocionante e depois nós subimos passamos por aveiros até fordlândia e e o rio tapajós é uma das coisas mais lindas também e e e em santarém onde se dá o encontro das águas éh é muito bonito porque as águas do rio amazonas são barrentas ou com um aspecto barrento é um de um marrom ahn cor de barro mesmo né a agura as águas do rio tapajós são limpíssimas com uma tonalidade azul profundo provavelmente porque o leito é pede pe pedregoso tanto é que navios de grande calado que sobem até manaus entram algumas horas pelo rio tapajós es somente para se carregarem e se abastecerem de água e até um um fato interessante em santarém eu não tinha água destilada suficiente eu usei nas minhas preparações citológicas água do rio tapajós filtrada eu não tive nenhum problema a não é claro numa lâmina ou outra no microscópio eu via grãozinhos de areia mas não foi grave mas você me perguntou sobre os outros meios de transporte né na na segunda viagem eu não tive oportunidade de ter o barco  garbi e o lindolfo guimarães à minha disposição eu fui um pouco amedrontada devido ao peso da responsabilidade que eu tinha apesar de já ter conhecido mais ou menos a região era a primeira vez que sozinha eu tinha que depender dos próprios meios de locomoção ou melhor depender de mim e dos meios de locomoção locais aí aí também foi um outro tipo de experiência muito interessante descobri logo logo primeiro que a maioria dos meios de transporte não segue um horário rígido e nem podem seguir porque há um grande número de embarcações que são eminentemente comerciais elas não são só de passageiros e é lógico a gente que o ainda o meio de locomoção mais importante naquela área se dá através do rio ou então através do ar mas ainda há poucas localidades que têm pista de voo então algumas localidades estão diretamente relacionadas com barcos são batelões que vendem de tudo né são lojas ambulantes desde material de construção animais enfim farinha para pão carros instrumentos agrícolas e vende e  e várias tipos de gentes gente que está viajando de lá para cá via visitando parente mulher grávida gente bêbada que tendo delírio tremem e precisa ter tratamento e assim por diante éh  bom e outra coisa bom então em sendo eminentemente comerciais eles vão subindo o rio e às vezes em alguma localidade então é um sistema de trocas não é  à medida que eles vão vendendo eles vão comprando e assim por diante às vezes os batelões ficam parados até uma semana outras vezes ficam algumas horas só  e é muito interessante a chegada deles porque eles se chegam à noite  s ficam iluminados com luzes coloridas e bandeirolas a gente tem a impressão que é uma procissão que vem chegando com músicas de roberto carlos ligadas mas no mais alto volume então facilmente todo o pessoal da vila fica sabendo que tipo de barco está chegando não só pela disposição ou desenho das luzes, mas porque eles já esperam ao redor daqueles dias a chegada do vinte e três de maio ou do casa grande e assim por diante de uma série do tapuio e assim por diante n nomes de barcos e então o pessoal interessado em sair da localidade e ir para tal locali outra localidade obrigatoriamente precisa ir até a beirada do rio e falar com o dono ou o responsável do barco olha quando é que vocês vão sair bom nós achamos que vamos sair amanhã de manhã por exemplo ou amanhã de tarde mas vem aqui umas duas horas antes e e se tem muito passsageiro ou muita coisa ou é um barco muito concorrido ou uma linha muito usada então eles dizem bom você vem antes para garantir o teu lugar no barco na rede você tem que vir aqui antes pendurar antes a sua rede porque assim geralmente as viagens de um lugar para outro se dão durante a noite eu digo ah uma das mais frequentes que eu fiz em mil no mil novecentos e setenta eu bom eu fiquei naquela área e para vocês terem uma ideia para você ter uma ideia () eu eu era recém-casada então eu fiquei com o planejamento de ficar naquela área um mês um mês e meio  e coletar meus animaizinhos em algumas das localidades que eu já tinha visitado em sessenta e oito com o doutor vanzolini e em outras que eu não tinha ido ainda mas não trabalhar tanto com os bichos lá trabalhar um pouco em san concentrando na casa de uma família em santarém e voltar para são paulo com amostra viva e trabalhar o máximo aqui bom mas devido ao sistema de locomoção em que você não tinha horário rígido eu acabei ficando três meses e uns quinze d dias três meses e meio por aí mas foi espetacular  foi maravilhoso e e é uma pena eu  eu voltei para cá e eu achei um lixo a  ar ruim um cheiro horroroso uma gente neurótica ao meu redor tudo isso ao passo que lá não  o elemento humano é maravilhoso  lá eles dizem olha você tem que garantir o seu lugar na rede por quê dizem assim você vem lá pelas três quatro horas da tarde porque o barco vai sair às sete horas uma linha que eu peguei muito foi o trecho santarém-uriximiná que nós já tínhamos ido da outra vez a g ente entra pelo rio trombetas a a viagem rio acima dura quatorze horas e a volta como é rio abaixo nove horas é claro a correnteza é forte () quer dizer você não precisa ficar () aí você precisa ver que legal é é é andar num barco desse experiência maravilhosa bom mas enfim a gen ao s ao pegar o barco às sete horas aí é que você sente quão útil foi o conselho do mestre se a gente não dependura a rede e chega às sete horas exatamente não existe mais gancho para você de você dependurar porque esses barcos são as famosas gaiolas ahn têm um espaço livre aparentemente livre e e cheio de gancho que você fica pensando que é para dependurar roupa ou chapéu mas não é nada é para dependurar sua rede (fala rindo) rede então é rede rede rede rede uma do lado do outro de um lado as mulheres do outro lado os homens e  e a mercadoria vai embaixo no porão  quando é carro fica de um lado em cima  e tem um lugar aonde você () assim tem uma mesa onde eles servem o café da manhã e e qua e se você não encontrar gancho então tem o gancho do segundo nível  mas é como se fosse uma espécie de beliche não é você fica lá em cima e aí para você descer é muito mais difícil porque tem uma pessoa embaixo e e se você sente vontade de ir ao banheiro durante a noite azar  então eu sempre éh ficava ou preferia ficar no primeiro nível às vezes durante a noite a o barco pega redemoinhos e então ele balança muito e então ah uma rede bate na outra e há um encontro assim amigável entre as pessoas mas é todo mundo muito de bom humor todo mundo muito fraternal olha eu sei dizer que é um tipo de experiência espetacular a agora para você ter uma ideia de que o pessoal não têm pressa e nem pode ter eu estava em parintins tentando ir para urucurituba parintins uma localidade no rio amazonas rio acima depois de santarém e urucurituba é a localidade seguinte mas é também uma noite de viagem isto é sete horas da noite a gente sai e chega quatro cinco ou seis horas da manhã e o barco vai parando no meio da noite em fazendas em localidadezinhas entregando telha ah telhado de zinco tijolo ou saco de farinha e sobe e desce gente assim por diante mas s para eu conseguir chegar em urucurituba eu precisei ir duas vezes a parintins éh eu não podia ficar lá muito tempo então eu voltei para santarém de táxi aéreo é um avião desse ah eu não sei mais é um avião pequeno tipo teco-teco assim de quatro a seis lugares o avião voa baixo  então a gente tem a impressão que aquelas árvores altíssimas aliás altíssimas mesmo porque as árvores mesmo mais altas aqui de são paulo são arvorezinhas perto das de lá então a gente tem a impressão que as árvores estão fazendo cosquinha na barriga do avião porque ele não pode viajar éh muito alto aí é que a gente vê também aquelas feridas de des de derrubada de mata como aquilo é deprimente e chocante porque ahn não cresce vegetação depois a derrubada da mata éh depois o que fica cresce uma vegetação rasteira depois de algum tempo e olhe lá porque a gente fica pensando ah mas como o solo não é tão rico maravilhoso não é nada  a maioria do solo na amazônia é pobre é um solo argiloso e o que a gen e toda aquela exuberância a gente tem por causa do tempo quer dizer da idade da daquela imensa floresta e da quantidade de humus que existe mas não é um solo rico  há algumas faixas algumas estrias de terra roxa na amazônia e que tem sido aproveitadas para colônias do do incra e cuja produção é maravilhosa por exemplo em monte alegre existe uma coisa assim mas enfim a gente vê tudo isso pelo avião a  além das correntes de ar e o o o avião balança sobe desce como se fosse uma folhinha no vento e  e as pistas são em geral de terra  certo e e sendo as pistas de terra a gente ah quer dizer o pouso do avião também não é assim (risos) é  é macio nada mas é é é f