SPEAKER 2: Professor Rui, nós gostaríamos que o senhor falasse um pouco para a gente sobre a sua fase de infância, adolescência, vida adulta, tudo que o senhor teria de interessante para contar para a gente durante toda essa fase. SPEAKER 0: Bom, essa pergunta é fácil de ser respondida, porque ainda tenho em memória a evolução da minha vida. Posso dizer que a fase da infância era uma época de estabilidade no Brasil. O nosso país não conhecia muito progresso material e os laços familiares eram o traço dominante na vida social do Brasil. Então havia muito carinho, muita emoção no seio da família e tudo girava em torno dos pais e dos avós. Uma fase em que o dinheiro também era curto, mas sempre existia... quantidade suficiente. E os bens materiais eram quase todos de procedência estrangeira. Havia pouca coisa fabricada no Brasil. Havia o Os ah os meios de comunicação eram falhos, evidentemente, num país imenso como o Brasil, poucas estradas, O telégrafo ia até algumas regiões, não cobria todo o território nacional. E as estradas de ferro, tirando algumas de construção estrangeira, a maioria das estradas de ferro era de bitola estreita e trafegava também em baixa velocidade. E, por isso mesmo, oferecia comunicações muito lentas entre os grandes centros. que, aliás ah, seria um exagero chamar de grandes centros, mas os maiores centros e o resto do país. Havia, portanto, um grande contraste entre as cidades mais desenvolvidas, que receberam influência europeia, como o Rio de Janeiro, e as cidades do interior, que viviam praticamente como aldeias dentro da selva e da imensidão do Brasil naquele tempo. E> Essa foi a fase da infância. Já na adolescência, eu assisti, então, à Revolução de chefiada pelo Caldilho Getúlio Vargas, que marcou uma grande renovação no Brasil. Aquele tipo patriarcal da sociedade brasileira ah (tosse), a indústria que era como um feudo, tudo isso foi substituído por uma nova estrutura social, com a instalação das universidades federais e universidade de São Paulo, por volta de mil novecentos e trinta e cinco. Então, nós tínhamos já uma rede universitária em todo o país, nas principais capitais dos estados. Hum, então, eu acho que seria, eu poderia dizer, da mocidade. Agora, () evidentemente, ao entrar na maturidade, eu ah estou acompanhando esse progresso vertiginoso do Brasil, em todos os sentidos não é, de modo que o nosso país hoje está num desenvolvimento quer dizer ah geométrico em poucos anos. O que os Estados Unidos levaram duzentos anos, nós levamos vinte anos para atingir essa situação. Então veio a televisão, televisão a cores, a pavimentação das estradas, a melhoria da da do abastecimento. O Brasil passou a ser grande produtor de vinho, de cereais não é, milho, soja, e grande produtor de frutas cítricas. A verdura entrou na mesa familiar como ingrediente habitual. Certas frutas, que havia um certo preconceito de inferioridade, como a banana e o mamão, isso era dado para porcos, não se oferecia às visitas. O mamão passou a ocupar um lugar de destaque na mesa e sendo oferecido às visitas. Isso eu achei, então, uma grande modificação do que havia anteriormente. E o Brasil, então, passou de uma nação satélite a uma nação que está na liderança do desenvolvimento em todo o mundo. SPEAKER 1: Doutor Rui, o que o senhor nota de mais marcante na juventude atual em relação à sua, em todos os sentidos? SPEAKER 0: Eu acho que a juventude atual goza de muito mais liberdade, e por isso mesmo ela se sente um tanto confusa, porque ainda não tem elementos para de opção. Enquanto que, no meu tempo, nós tínhamos padrões europeus, padrões já estandardizados, e era muito mais fácil, então, nós seguirmos um determinado rumo. Geralmente, os filhos de famílias abastadas ou de famílias da classe média com um bom poder aquisitivo, se dedicavam à cultura. Todos procuravam ser advogados, médicos ou engenheiros, que eram as principais profissões daquele tempo. Então havia muito mais interesse da mocidade no meu tempo pelas artes, pela ciência. E assim nós tivemos ãh, nos jornais do interior, era muito comum que os rapazes do meu tempo fizessem versos, conhecessem literatura internacional com muita desenvoltura, falassem muito bem em público, com o português castiço, que era até tido como um cartão de visita. O rapaz que falasse bem era melhor recebido pelas moças do que os rapazes que falassem mal. Esse padrão era um padrão todo devotado ah ao desenvolvimento da inteligência. ao passo que, atualmente, a mocidade, recebendo meios de comunicação muito rápidos e muitas facilidades, muitas liberdades, ela se sente confusa, não sabe qual o rumo a tomar. Se dedica a maior parte do tempo à cultura ou se ela in inverte o seu cabedal de conhecimentos em profissões rendosas, profissões que propiciam status econômico maior. de acordo, justamente, com o gabarito da sociedade de consumo. Exige que o indivíduo, mais do que letrado, seja, antes de tudo, um indivíduo vencedor na parte econômica da sociedade. SPEAKER 2: O senhor lembra de ah de algo pitoresco que aconteceu na sua infância ou adolescência que o marcou? Seja ela agradável ou não? SPEAKER 0: Realmente, eh nos meus tempos do vamos dizer de adolescência, não havia muito divertimento. Quer dizer uh uh A mocidade se divertia assistindo espetáculos uh de circo, de cinema ou bailes. Então, não havia muita oportunidade para espetáculos, vamos dizer assim, pitorescos. O que mais ah atraía a mocidade naquele tempo era, antes de tudo, as tertúlias, quer dizer, as piadas que surgiam nas conversas, nas confeitarias ou nos bares, quer dizer, o tipo de gozação de fundo puramente intelectual. Nunca de fundo físico. Quer dizer, a mocidade não procurava de esforço físico absolutamente. Procurava sempre alguém sobrepujar o outro intelectualmente e não na força. De modo que eu não me lembro assim de nenhuma passagem desse de tipo pitoresco que marcasse. Pelo contrário, foi tudo muito... Tive uma infância muito calma, adolescência calma, de modo que não sofri nenhum impacto, quer desagradável, quer muito agradável. (risos) SPEAKER 2: (), mas eu vou fazer uma pergunta. O senhor poderia contar para gente como é que o senhor conheceu a sua esposa, fase de conquista e etcétera.? SPEAKER 0: Bom, a minha esposa eu conheci de uma maneira um tanto ãh fora do normal, do comum, porque Eu era para comparecer a um piquenique em que não sabia que ela ia, evidentemente, a esse piquenique. E E eu tinha acordado tarde e era Itaquaquecetuba, e de difícil acesso no meu tempo. De modo que, que como eu acordei tarde, de eu pensei, bom, eu não vou mais porque já está muito tarde. Depois eu disse, bom, mas eu acho que eu tenho elementos para chegar até lá. Então eu tomei um trem de de subúrbio da Central, fui até uma outra cidade, não me lembro agora, e dali eu ãh tomei outro trem, que vinha no sentido contrário, e depois eu andei a pé e cheguei lá no piquenique às onze horas da manhã. De modo que foi ah aí houve uma surpresa geral. ### Encontrar a condução adequada. De modo que foi aí que eu a conheci. Talvez ela ficasse impressionada pela minha capacidade de encontrar os meios de locomoção. E E foi aí que começou o namoro, então, nessa ocasião. Em um piquenique em Itaquaquecetuba. SPEAKER 2: O senhor se interessou por ela por quê? O que que o senhor viu de diferente nela em relação às outras, para o senhor se interessar? SPEAKER 0: Bom, eu me interessei por ela porque eu achei, tipo assim, com muita doçura, muita suavidade, que não era muito, vamos dizer assim, peculiar. aos meus amigos que ali estavam. As moças ali eram todas, vamos dizer assim, andarilhas, como eu era, que eu gostava muito da vida ao ar livre. É Eram todas (risos) esportistas. E ela era a única que se contrastava ali, parecendo uma mulher, ãh vamos dizer assim, do século passado, uma mulher tranquila. Ou mulher afável. Então, diferente das outras, que eram mais, ãh vamos dizer assim, não diria masculinizadas, mas mais esportistas. (Risos) SPEAKER 1: Então, não houve fase de conquista? Senhor conheceu no piquenique, já começou a namorar, casou logo? Como é que foi? SPEAKER 0: Realmente não houve nenhuma fase de conquista. Eu conheci ali, depois ãh o namoro ocorreu naturalmente, e o noivado, de modo que não houve nenhum problema quanto ao casamento. Foi uma sequência quase que natural de um de um romance da Madame Deli. (Risos) SPEAKER 2: Professor, me conte alguma coisa o senhor teria alguma coisa para contar para a gente, no que diz respeito à sua família? Filhos? Alguma coisa assim? SPEAKER 0: Bom, quanto à minha família, eu devo dizer que (tosse) os meus pais eram professores, meu pai ocupava um cargo que era era relativamente importante naquela época, como professor no Instituto Caetano de Campos, que era o primeiro instituto secundário do Estado de São Paulo, e um dos mais importantes do Brasil. No modo que eu recebi essa influência intelectual da parte dele. E desde cedo, então, eu me voltei para as atividades intelectuais. E E, no meu curso primário, sempre passei com boas notas. No curso secundário, também com notas excelentes. No curso superior também. De modo que eu não tive, assim, como aluno, nenhuma dificuldade intelectual. Sempre obtive as melhores notas e os maiores elogios dos professores pela minha dedicação ãh (tosse) como aluno. e pelo meu desempenho em todas as matérias. Eu não tinha, vamos dizer assim, ãh nenhuma matéria que eu fosse mal. Ia bem em quase todas as matérias. De modo que eu acredito que tudo isso eu deva ao meu pai, que era, sobretudo, um professor e procurava dar aos filhos todos os elementos necessários para que eles adquirissem cultura. Não sei se tem mais alguma coisa. Quanto aos filhos, eu acho que também não posso me queixar dos filhos, porque eu nunca precisei, que (tosse) vamos dizer assim, pressionar meus filhos para que eles estudassem. Todos fizeram os seus estudos naturalmente, nunca precisei contratar professores ou fazer ameaças. para que eles é (tosse) estudassem. Todos estudaram, obtiveram seus graus universitários, naturalmente, entraram para a vida prática e estão tendo sucesso, e (tosse) com seus empregos muito bem remunerados, de modo que eu não não não sinto sinto que eles corresponderam plenamente à minha expectativa e eu não precisei de nenhuma energia de nenhuma pressão, nenhum tipo de pressão, para que eles chegassem ao ponto que estão. Quer dizer, não me deram nenhum trabalho para que se formassem e adquirissem uma profissão e, por conseguinte, um status dentro da sociedade. SPEAKER 2: O senhor estava dizendo para a gente sobre a indumentária, né? da fase da sua adolescência. Gostaria que o senhor fizesse um paralelo da indumentária da fase da sua adolescência com a de agora. O que o senhor acha? Na SPEAKER 0: Na minha adolescência, a indumentária era uma parte, vamos dizer assim, (tosse) importante da personalidade de qualquer pessoa. A pessoa que se vestisse corretamente dentro do padrão, quer masculino, quer feminino, tinha, por assim dizer, assegurado já de antemão o seu status na sociedade. Se uma pessoa se apresentasse bem trajada, era recebida sem nenhuma reserva, a priori. Naturalmente, poderia depois é sofrer algumas restrições pelo seu comportamento ou por sua condição financeira. Mas o a simples apresentação de uma pessoa bem trajada, já constitui um cartão de visita que abria as portas da sociedade. E essa indumentária era muito formal, tanto para o homem como para a mulher. De modo que (tosse) é eu poderia dizer que, com a evolução que sobreveio posteriormente, a indumentária, tanto masculina como feminina, ficou mais funcional e perdeu com isso aquele caráter de cartão de visita. Quer dizer, hoje em dia, nós não damos muita atenção à maneira pela qual a pessoa se veste, ou berrantemente, ou extravagantemente, ou muito formalmente. Isso se tornou uma coisa secundária na apresentação da pessoa. Uh ### ### De modo que houve uma evolução no bom sentido, porque, realmente, Se havia aquele ditado que dizia que o hábito faz o monge, hoje nós podemos dizer que isso não funciona mais. E muito bom porque a indumentária de hoje é mais funcional e todos se vestem de uma maneira mais agradável e de acordo com as suas tendências, enquanto que antigamente nós refletimos apenas uma tradição () Hoje, não. () A indumentária é um reflexo da personalidade de cada um. ### ### ### Então, eu acho que... Houve uma evolução muito grande, no melhor sentido. A documentária passou agora a desempenhar a sua função, que é a de cobrir a pessoa, e não mais uma função de representação hierárquica ou de vestimenta como cartão de visita, como representava, vamos dizer assim, os trajes medievais, que eles representavam a pessoa. Quer dizer, hoje a roupa perdeu esse poder de representatividade da pessoa. Ficou só apenas nos uniformes. SPEAKER 1: O que era considerada uma pessoa bem trajada nessa época? Como é que ela deveria se apresentar? SPEAKER 0: Para o homem, a apresentação seria o chapéu, começando de cima para baixo, o chapéu, a camisa de seda, a gravata também de seda, é uh ãh o paletó, e colete e calça de gasmilha, principalmente inglesa, e sapatos de cromo alemão. Era o traje, vamos dizer assim, de maior gabarito. E nas solenidades era o smoking ou o fraque. É Predominando, ãh nos tempos mais remotos, o fraque, com cartola sobre o smoking. O smoking já é uma é uma introdução mais recente, quando eu já era adolescente. E E as mulheres tinham que usar vestidos de seda também, pouco estampados, geralmente de cores sóbrias, e abaixo dos joelhos. SPEAKER 1: E atualmente, o que o senhor considera uma mulher e um homem bem vestido? Como é que ele deve se apresentar? E SPEAKER 0: Eu acho que hoje ãh o homem bem vestido está mais ou menos de acordo com a estação e com o lugar onde ele vai se frequentar. Se ele vai em uma reunião científica, oh ele deve, evidentemente, usar uma roupa sóbria. Porque o uh assunto uh é mais ou menos formal, é intelectual. Enquanto se ele for numa reunião esportiva, ele deve usar uma roupa mais simples, mais funcional, mais agradável. De modo que eu acho que a indumentária hoje deve, de certa maneira, representar esta o lugar onde a pessoa vai e também A estação. Evidentemente, no verão não devemos usar nada de lã, nem blusas, nem malhas. E no inverno, é interessante o uso disso de uma maneira colorida, que fica muito mais bonito para a mocidade. Eu acho que o traje hoje, é vamos dizer assim, é muito mais é frapãão. do que antigamente. quer dizer o Hoje o traje, vamos dizer assim, ele é ãh transmite a própria vida da mocidade, enquanto que antigamente não, ele traduzia apenas uma tradição. De modo que eu estou de acordo com esse adumentário. Então, naturalmente, seguindo o local e a estação. SPEAKER 2: Professor Rui, o que o senhor considera uma mulher elegante? SPEAKER 0: Bom, eu não sou nenhum Ibrahim Swede para falar isso de cátedra, mas eu acho que a elegância é da mulher não importa muito o traje, uh é importa que ele seja adequado a sua personalidade e ao local onde ela vai. De modo que isso que eu acho importante. A mulher elegante é aquela que consegue realmente é vestir uma roupa que seja adequada à sua personalidade. De modo que não há, por assim dizer, uh pré fixadamente um padrão entre saia, ou calça, ou blusa. Ou O que existe é que a roupa que ela use esteja em perfeita harmonia com a sua personalidade. Aí eu considero uma mulher bem vestida. E E também, evidentemente, em última análise, a qualidade do tecido. Pois é claro que se essa pessoa usa um tecido mais sofisticado, um tergal, muito melhor do que um algodão. para a elegância. De modo que também a qualidade do do tecido é importante, porque isso também reflete o bom gosto. SPEAKER 1: E o senhor, qual o tipo de de traje que o senhor prefere para o senhor usar? Não o que o senhor deve usar, mas o que o senhor prefere. Eu SPEAKER 0: Eu prefiro para mim, ãh na minha idade, ãh para ocasiões formais, para o trabalho, quer dizer, o traje clássico ainda, mas, de preferência, mais esportivo, quer dizer, o paletó esportivo e diferente da calça, isso eu tenho preferência. E para ãh viajar ou para sair a passeio, então eu prefiro sempre o traje esportivo, quer dizer, uma camisa ou uma blusa e uma calça. Eu não sou muito partidário de trajes muito formais, a não ser em ocasiões especiais. SPEAKER 2: O senhor deu para gente o conceito de mulher elegante. É É válido também esse conceito que o senhor deu, no que diz respeito ao homem? SPEAKER 0: É válido também, porque o homem, como não possui a graça da mulher, ele tem que dar a roupa Em uma maior equação com a sua personalidade. Então, o homem não pode ser descuidado com a indumentária. Infelizmente, eu vejo que a maioria dos rapazes é é muito descuidado em relação à traje. É preciso que o homem se preocupe um pouco mais. Isso não significa adoção de padrões formais, mas que a roupa esteja, tenha um tecido melhor, caia melhor no corpo, tenha maior desenvoltura e não tenha um aspecto de relaxamento, de falta de zelo, o que é muito comum hoje entre os rapazes. Não entre as mulheres, mas entre os rapazes. Os homens precisariam se preocupar mais com essa parte. Inclusive também, o higiene do cabelo, e da barba, também acho isso indispensável para complementar uma boa indumentária. SPEAKER 1: O senhor disse que antes a mulher usava uma roupa abaixo do joelho, enquanto que hoje é bem o contrário. O que o senhor acha disso? Qual dos dois a senhor aprova mais? SPEAKER 0: Eu acho que... A mulher deve usar uh o a saia acima do joelho, porque é muito melhor para ela andar. Inclusive  Do ponto de vista funcional, racional, é melhor para a mulher se movimentar. A Agora, acho também que a mulher deve usar, de preferência, a calça comprida, como homem, porque é muito melhor para ela se movimentar nos centros urbanos e mesmo nas zonas rurais, porque fica com menor exposição dos membros inferiores aos raios solares, a picadas de insetos, num é e inclusive batidas também, que pode ocasionar, como homem. Então, eu acho que a mulher também deve ser como homem também, proteger seus membros inferiores. E Então, eu acho que a indumentária melhor para a mulher, para o uso diário, é justamente a calça comprida. A Agora, numa solenidade, numa festa, então, a mulher pode adotar, então, que será num recinto fechado, pode usar, então, a saia acima do joelho, estou de pleno acordo. Mas para o uso diário, acho preferível a calça comprida. SPEAKER 2: Se o senhor fosse um escolhido, para dar, assim, alguma opinião a respeito da moda de hoje em dia, tanto no que diz respeito ao homem como à mulher, o que o senhor modificaria? O que o senhor acha que está mais errado atualmente? Porque bem, sei lá, eu acho que pelo menos a idade do senhor, o choque de gerações, sei lá, deve ser muito importante, o senhor deve sentir. Então eu gostaria que o senhor dissesse o que mais o que o senhor acha, assim, é de negativo na moda atual. SPEAKER 0: Eu diria que, para o homem, seria, por exemplo, o uso da gravata. Eu acho que a gravata é uma coisa supérflua. É apenas para tornar o quanto que o macho, nas espécies, tem as penas mais coloridas, que é da fêmea. O homem, então, usa a gravata berrante para ãh (tosse) para substituir as penas berrantes, vamos dizer assim, das aves macho. Então, isso é uma reminiscência do passado. E Então o homem deve, definitivamente, eu acho que uma das coisas que ele tem que abolir é a gravata. Eu acho que é uma coisa indispensável. Outra coisa que também eu acho que deve ser abolida é o cabelo excessivamente longo para os homens, num é e também ah a barba, porque o cabelo longo, na vida normal, na vida de todo dia, é prejudicial, porque Na nos grandes centros, há muita poluição e o cabelo torna-se um armazém de partículas, então, de suspensão. Num é  E isso então, é muito desagradável para a higiene. Além do que também para a estética femi masculina, acho que o cabelo mais curto, não muito curto, evidentemente, mas mais cuidado, mais curto, é mais elegante para o homem. Mais elegante. E a barba também acho uma reminiscência dos tempos em que não havia gilete, não havia aparelhos para a gente cortar, como hoje nós temos. Então, os povos antigos eram realmente, uns todos os homens tinham barba e cabelo comprido. Mas não era ãh (tosse) pelo gosto, mas sim por um determinismo. Não havia elementos, nós num tínhamos aparelhos de corte. para cortar o cabelo. E Então, era preferível deixar ele comprido e a gente sofria menos. Hoje em dia, não. Hoje em dia, eu sou favorável para que o homem tenha a barba raspada, o bigode também raspado e o cabelo mais curto que o das mulheres. Agora, na moda feminina, eu acho que está muito bem. As mulheres têm uma uma sensibilidade maior do que os homens e elas conseguiram encontrar, realmente, uma indumentária adequada ao sexo e à vida cotidiana. De modo que as mulheres estão de parabéns. SPEAKER 1: ### Ou o senhor acha que hoje em dia há mais problemas? SPEAKER 0: Eu acho que a juventude atual tem mais acesso do que antigamente. Porque antigamente, ãh no nosso país, havia uma estratificação social. Quem pertencesse a uma classe A, já tinha seu lugar garantido. Eq Então, o filho de A continuava. E o neto de A continuava A e não havia problema nenhum. Agora, quem era de uma situação inferior, também não tinha possibilidade de acesso. Oh e Então, a mocidade dos degraus mais inferiores da estratificação social, estava sempre confinada a uma situação subalterna em todo o seu desenvolvimento social, durante toda a sua vida. O Hoje em dia, não. Hoje em dia, a mocidade não está mais presa à classe em que nasceu que do dos pais. Quer dizer, uh na Universidade de São Paulo mesmo, cinquenta por cento dos alunos têm pais analfabetos. Então, nós vemos que eles conseguiram chegar à universidade. E Enquanto que, no meu tempo, eu cheguei à universidade porque pertencia à classe A. Então, porque meu pai era professor, não havia problema para mim. E se eu tivesse nascido numa outra classe, eu nunca teria chegado à universidade ou a professor universitário. Hoje em dia, não. Hoje em dia, há colegas meus da universidade que vieram das camadas mais baixas da sociedade. E Então, isso é uma prova de que a mocidade de hoje tem muito maior ãh (tosse) diversificação na sua carreira e tem um poder de opção que nós não tivemos no nosso tempo. SPEAKER 1: Em relação ao ensino, o que o senhor acha do ensino atual em relação ao anterior? Eu SPEAKER 0: Eu acho que o ensino atual que (tosse) tornou-se horizontal. Isto é um ensino para as massas. Ele perdeu seu caráter vertical de aperfeiçoamento, de aprimoramento, porque nós temos que alimentar um país em desenvolvimento, onde o número de alunos que bate as portas da universidade é cada vez maior. Então, nós não podemos mais dar aquele tipo de cultura que eu recebia, cultura fina, cultura requintada, não só pelo tempo do curso, como também (tosse) porque (tosse) o país exige que esse pessoal se forme nas universidades. E Então, nós não podemos dar uh um curso muito sofisticado. Nós temos que dar um curso geral, muito bom, e de acordo com o número de alunos. Nós não podemos nos dar o luxo de recusar alunos nos cursos superiores como nós recusávamos antigamente. Por essa razão, eu acho que se houve prejuízo na qualidade do ensino, houve também uma uma expansão maior do ensino. Isso, portanto, é benéfico. Eu acho que o ensino hoje caminhou num sentido favorável, quer dizer, de dar instrução básica às massas, em detrimento de uma instrução muito superficial muito a perdão muito aprimorada, mas apenas a uma elite. Então, o conceito de elite hoje desapareceu. Nós temos que atender à demanda dos alunos que batem a universidade, ao curso secundário, ao curso primário. E, por isso, então, o ensino caiu, é verdade, em qualidade. Mas, se ele caiu em qualidade, ele também, naquilo que restou, ele pôde ser conferido a um número maior de pessoas. Então, houve uma, vamos dizer assim, comparando com a renda, houve uma distribuição da renda, Não é da educação que antes estava concentrada num pequeno grupo. O Hoje ela foi estendida a todos. Evidentemente, se nós dividimos cem por um pequeno divisor, o resultado será muito maior, o conciente. Mas se nós ãh dividimos por um divisor muito grande, evidentemente baixou, mas um número maior foi atendido. Então eu acho que o ensino levou vantagem nesse sentido. SPEAKER 2: Professor, (tosse) hoje existe muito maior procura de universidades pelos alunos do que antigamente. O senhor acha que isso se deve a quê? SPEAKER 0: Isso se deve, evidentemente, ao poder que tem hoje a mocidade de ãh bater as portas da universidade, independentemente do seu nascimento. E, com isso, então, num país em que a população cresce é três Isso é muito importante. Mostra que um país em desenvolvimento, ele pode ter, evidentemente, por questões ãh aritméticas, um maior número cada ano de alunos batendo as portas da universidade, do curso secundário e do curso primário. Ele é  É em razão do crescimento do Brasil e, em segundo lugar, da opção que a mocidade tem de fazer carreira, de escolher os seus cursos, que antigamente não havia. Quem nascia num determinado degrau da sociedade, aí tinha que morrer, como hoje ainda é, acontece na maioria dos países da Europa. SPEAKER 1: O senhor acha que hoje um aluno tem mais facilidades para entrar na faculdade, se a seleção dos exames é mais rigorosa ou menos? O que o senhor acha disso? SPEAKER 0: Eu acho que A seleção hoje é é menos rigorosa do que antigamente, porque, evidentemente, o padrão do ensino caiu, então ela é menos rigorosa. Mas, por outro lado, ela é mais complicada para poder haver uma seletividade. Então, se ela perdeu em qualidade, ela aumentou em complicação para poder ter o poder de seleção, senão não haveria seleção. SPEAKER 2: Professor, quais as profissões que o senhor acha que atualmente são mais valorizadas? () SPEAKER 0: Realmente é muito difícil dizer hoje em dia qual é a profissão mais valorizada. Nós podemos dizer, comparando o presente com o passado, que no passado havia apenas três profissões, médico, engenheiro e advogado. Com o crescimento do Brasil, hoje nós temos uma centena de profissões. E todas elas são requisitadas, todas elas são necessárias ao desenvolvimento do país. De modo que, desde o simples torneiro, quer dizer, do ferramenteiro até um técnico de educação, todos eles são necessários ao desenvolvimento do país. De modo que, eu acho que o Brasil é um dos poucos países que oferece uma maior ãh escala de profissões do que qualquer outro, onde todos encontram uma justa remuneração. De modo que eu acho que, atualmente, não existe uma profissão melhor do que a outra, porque todas são solicitadas com igual intensidade e, portanto, tem o mesmo valor. SPEAKER 2: Professor, o senhor poderia nos dizer quais as possibilidades profissionais dentro do campo da educação? SPEAKER 0: Nos ensinos Se eu entendo bem a sua pergunta, se refere quem milita no campo educacional, colé qual a possibilidade? Eu acho que essa possibilidade é muito grande, porque a tendência nossa é uma expansão do ensino primário, secundário e superior, de modo que existe grandes possibilidades. Agora, o que realmente dificulta a atração de novos elementos, ou de elementos mais competentes para a educação, é o nível dos salários. Eu acho que os salários são muito baixos para atrair os mais inteligentes, as pessoas mais esforçadas. E é preciso, então, que o governo, que é um dos maiores pagadores no ensino, é o governo, porque o nosso ensino pertence em maior escala ao poder ãh federal, estadual e municipal, enquanto que nos Estados Unidos o ensino está na maioria na mão de empresas ou entidades ou fundações particulares. Então o governo precisa se conscientizar que tem que pagar salários melhores para aqueles que militam no campo educacional, o que infelizmente não tem acontecido Porque o governo paga mal, contrata professores no curso secundário, no regime da consolidação das leis trabalhistas, e nem essas leis trabalhistas o governo quer cumpri-las. Então o governo está dando um péssimo exemplo de política educacional. Ele que é o maior pagador, vamos dizer assim, dos professores. De modo que as perspectivas ãh para o futuro serão de um êxodo, de uma invasão de pessoas no campo educacional. Justamente quando o Brasil precisa mais de professores, mais de pessoas cultas, ele terá menos, cada vez menos, porque o governo insiste em pagar pouco os professores. E aqueles que ele paga, ele dificulta ainda a o acesso a vantagens profissionais, que são, de certo modo, já consagrados em lei, mas que o governo apenas reconhece mediante é demanda judicial. SPEAKER 1: Quais as chances profissionais que o senhor acha que teriam uma pessoa que não tem nível universitário, atualmente? É a SPEAKER 0: Aqueles que não têm nível universitário, só vão encontrar chance no Brasil, daqui para frente, na indústria, na como técnicos. Então, essas pessoas, sem gabarito universitário, encontrarão um campo muito grande, porque realmente o Brasil precisa de profissionais de porte médio. Quer dizer, além do engenheiro, nós precisamos deste do mestre da engenharia, daquele que vai para o campo, que faz o trabalho mais grosseiro. E nós precisamos de enfermeiros. Em lugar de muitos médicos, há mais necessidade de enfermeiros. E Então, nessa parte média, nós ãh eu acredito que o Brasil tem grande necessidade, grande fome de especialistas. E, justamente, nós encontramos maior deficiência é nesse profissional de nível médio médio médio. Em lugar, por exemplo, que temos um engenheiro químico, devemos ter químicos em grande quantidade. São as pessoas, justamente, que manipulam. com (tosse) a o as profissões de nível intermediário. São pessoas necessárias ao desenvolvimento do país, de modo que eu acho que há grande possibilidade nesse campo no Brasil. SPEAKER 2: Professor, o senhor poderia dizer para gente qual é a diferença entre um um engenheiro de minas e um geólogo? SPEAKER 0: A diferença é parece difícil, mas na essência é muito fácil. O termo engenheiro significa aquele que constrói. Então o engenheiro de minas é aquele que constrói o equipamento para a exploração de uma mina. Então ele constrói os edifícios, ele constrói as galerias. as máquinas necessárias ao beneficiamento do minério, é constrói a estrada de ferro que vai retirar o material das minas e transportar para fora, os elevadores, tudo isso compete ao engenheiro de minas. Ele é, na essência, um construtor para a a lavra de minas. Ele não é um pesquisador, ele é um homem que para a exploração de uma mina. Então, ele constrói os edifícios, ele constrói a as galerias, as máquinas necessárias ao beneficiamento do minério, a constrói a as estrada de ferro, que vai retirar o material das minas e transportar para fora, os elevadores, tudo isso compete ao engenheiro de minas. Ele é, na essência, um construtor para Ãh a Lavra de Minas. Ele não é um pesquisador, ele é um homem que constrói, por isso se chama Engenheiro de Minas. Ao passo que o geólogo não, o geólogo não se é cuida dessa parte, vamos dizer assim, da construção dos edifícios, da instalação de equipamentos, na conservação das máquinas. Isso não compete ao geólogo. O que compete ao geólogo é o estudo e a pesquisa da jazida mineral, ver a sua cubagem, como se formou o minério, para que direções ele se dirige, em que sentido é nós devemos furar as galerias para obter melhor rendimento do minério, a (tosse) o valor do minério. Tudo isso é que compete ao geólogo, além dos estudos de geologia geral, da sequência das camadas, as camadas mais antigas, mais modernas, o tipo de rocha, tudo isso compete ao geólogo. De modo que o geólogo é a parte principal de uma mineração e de uma lavra de minas. O engenheiro de minas entra apenas como é um ãh construtor.