SPEAKER 2: () É... Quando eu ãh solteiro, eu gostava muito de teatro, e nós éramos estudantes, a gente procurava () até entrar no teatro, por baixo do pano né. Em circo de cavalinho era comum. O dono do circo Piolinho, famoso, uh que até hoje é vivo, mais velho (), ele tinha um circo na praça, na no lá em Paiçandu. E estudante tinha carta branca para entrar lá. E fazer uma bela () para eles. (riso) SPEAKER 0: E o senhor lembra como é que era esse circo? Lembro. Tinha as mesm> SPEAKER 1: Em matéria de cinema, voltando a esse assunto, hoje, por exemplo, o que mais me agrada é bang bang bang. E às vezes costumo, como eu tenho lá no IPESP, porque minha mulher não gosta muito de cinema. O> Eram os filmes que apareciam, né? Isso me lembro bem. SPEAKER 0: E nessa sala, ãh como é que a gente se sentava? SPEAKER 2: Era banco. Puro banco desses. Banco sem encosto, sem nada. Banco inteiriço. O banco de hum Nem banco de igreja, porque banco de igreja tem encosto no. SPEAKER 1: Nesse não tinha, não. (riso) Banco de madeira mesmo. E SPEAKER 0: Existiam pessoas, assim, que... Tudo tudo as> SPEAKER 2: ### Mas eh era cinema de uma cor só e não tinha... E era falado. Quer dizer, não era não era falado, era cena muda. Aquilo era só se ouvia um barulho da da da máquina. Aquele () Aquilo era constante. Era a música do cinema. Era o barulho da máquina. SPEAKER 0: E para pagar para entrar era igual a hoje? Para pagar? É, uh... Era um vintém aí um c> SPEAKER 2: Importância mínima. SPEAKER 0: Guichê? Ãh? Como que era o guichê? Era SPEAKER 2: ()? Não, tinha um sujei> Quando saía na rua, passava uma senhora, ele olhou para trás da senhora, no ves no vestido da senhora atrás tinha uma porção de de botões, então ele chegou atrás dos botões da mulher e começou a fazer assim, (riso) () com os botões todos. () Quer dizer, é uma crítica do ponto de vista né da da... vamos dizer o que seria isso, é é a habitualidade o ah o costume de de de fi ficar aqui, eh se enchido aquele aquela ideia, aquela coisa, e o homem fica embrutecido, por assim dizer né, ao praticar um ato deste. Esse é uma das dos filmes que eu me lembro bem dele. E tinha o filme em que ele imitou Hitler. Esse foi... como é que se chamava? Também não me lembro os nomes. Mas esse foi um filme grade grande, notável e filme de fundo eminentemente político né, de crítica da ditadura da época. Agora, o Max () era um filme mais cômi> E as cenas eram muito interessantes, eu me lembro de diversas, principalmente, que depois eram reproduzidas e imitadas em outros filmes, porque a imitação serve bem, né? As primeiras cenas que eu me lembro de que havia desse tipo era a cidade em Paris, como lá ele era francês, em prédios muito altos, muito grandes, de de E há complicações na vida dele, ele sai pela janela e sai andando por fora do prédio, né? E numa () estreitíssima, e olhando para baixo a gente vê aqueles automóveis pequenininhos lá embaixo e tudo. E não Dá uma sensação de de de medo para gente que assistia, né? E de frio, de (riso) eh ele cair e essas coisas. SPEAKER 0: E, agora, comparando, assim, ãh depois do cinema mudo, o senhor assistiu o advento do do cinema falado? SPEAKER 2: Eu assisti o primeiro filme do cinema falado aqui em São Paulo. Quando veio o primeiro filme. Foi no cinema Paramount. Isto foi... ãh. Eu estava no primeiro ano de ginásio, em mil nove> Era com um grande artista alemão, hum () um um nome assim, um nome meio parecido com este, e só tinha um trechinho falado. Foi muito anunciado e o e lotou o cinema (riso) né. Lotou. E era cena muda, musicada, um pouco de música, que era música eh feita no no próprio palco, no próprio ãh no próprio cinema, não era música do filme, né? É ### SPEAKER 0: ### SPEAKER 2: Ah, era cheia. Era  O Paramount era um cinema que até ho até hoje ainda existe aí na na Brigadeiro Luís Antônio, né? Uhum. E Mas lotou inteiramente para ver o cinema falado. E e houve só um único trecho em que ele fez, uh esse artista, ãh fez uma cena dramática para matar um cidadão lá de faca () tal. ### E, antes disso, eh ele tinha recebido uma ordem do do do patrão dele, que era um negócio, um grupo de de gangster, mais ou menos assim. Então, havia isto em fran em inglês que não me esqueci mais. Ordem, a o ordem, né? Que ordens são ordens, né? Ãh. Isso em Isto em inglês. E, mais ou menos, mais umas umas frasinhas e ficou nisso, o tal de falado Posteriormente que aumentou e hoje é o que SPEAKER 0:  nós sabemos, né? Uhum. E quanto ao sistema de projeção do filme, modificou em alguma coisa? Bom, SPEAKER 2:  eu acho que houve aperfeiçoamento porque eh a gente ia em cinema como ho hoje ainda também há alguns cinemas de bairro aí que as projeções não são grande coisa, né? Mesmo no Clube de Pinheiros, onde eu s sou sócio, eh tinha filmes às quarta-feiras eu não gostava. Só se mudou ultimamente, porque eu não tenho frequentado (riso) né. Mas as projeções de lá não... A máquina lá não é grande coisa. SPEAKER 0: E o senhor po poderia nos descrever como é que era o Cine Paramount, naquela época? Bo> SPEAKER 2: Hoje é quatro quatro centavos que se pagava. E nós gostávamos, eu e o meu irmão mais velho, de irmos () nesse cinema e íamos em cima, e ficávamos num assento bem em frente da tela. E aí vimos os primeiros filmes coloridos, né? E era um entusiasmo. E E havia u u uma coisa que hoje não há. como há novela agora em rádio, em ãh em televisão, havia filmes seriados. E toda semana tinha um capítulo. () E começava no, finalizava numa cena emocionante. (riso) Né?  Né... O que vai acontecer no próximo capítulo e tal. () Negócio assim. A mão negra, havia um negócio da mão negra. A mão rubra. Ãh... Havia vário vários filmes. o pistoleiro inaudito, uma coisa desse tipo. De forma que terminava o capítulo numa hora que e havia e deveria haver uma tragédia tremenda, caíam a ponte com o trem inteiro e tal, mas não chegava até lá. O trem estava andando e a ponte estava para cair. Então diziam, o que poderá acontecer no próximo capítulo e tal? Venham ver, não o quê. SPEAKER 1: E a gente todo domingo ia lá, ou toda semana ia lá assistir aquele capítulo e isso não acabava nunca mais. SPEAKER 2: Levava aí seis meses, uh os filmes desse tipo. (riso) É. SPEAKER 0: E () e como é que eram, assim... Eram todos os dias que haviam projeções ou...? SPEAKER 2: Não, eh esses filmes e seriados era um por semana. Uma por semana. Um  por semana. SPEAKER 0: Mas e normalmente, assim, filmes comuns? Havia? SPEAKER 2: Bom, havia, havia todo dia, mas eu também não podia ir todo dia. Meu pai era duro como um diabo, né? SPEAKER 1: Severo. E a gente não ganhava dinheiro para poder poder ir no cinema. SPEAKER 2: Era já quinhentos reais ou ou dez (), que hoje é um centavo. Era uma coisa do outro mundo. SPEAKER 0: De semana mesmo. E quanto à televisão? Quando ela iniciou? SPEAKER 2: Eu vi a primeira vez na televisão, quer dizer, vi... havia... eu uh vi, parece que foi foi ou foi em cinema ou foi em retrato. Foi quando, durante a guerra, o presidente Getúlio Vargas ganhou o primeiro aparelho de televisão que veio no Brasil. Oferecido... pela fábrica da Telefundo. () SPEAKER 1: Não era nisso? (riso) Não. Uma coisa curiosa. SPEAKER 2: Eu acho que eu acho que eu vi isso no cinema, foi filmado, essa essa cena. Aham. Então montaram a televisão lá no catete, o Getúlio com a família né, e os ministros et cetera, era um negócio, um acontecimento. Isso podia ser em mil no> Foi o primeiro aparelho de televisão que veio ao Brasil, oferecido pela Telefunken, a um ao presidente Vargas. E exibiu, isso vimos na tela, muito tremendo, e muito passageiro, exibiu a Carmem  Miranda (riso) em demonstração, não sei se em Nova Iorque ou em Washington, lá nos Estados Unidos. que ela estava por lá se uh se exibindo e projetou nessa nessa tela a Carmen Miranda dançando com aquela ba banana e chapéu todo enfeitado de, vestido de baiana né. Isso me recordo bem. SPEAKER 0: Em quarenta e um. E foi o primeiro aparelho introduzido aqui no Bra> SPEAKER 2: Foi o primeiro que veio no Brasil. () E naquele tempo, então, diziam ninguém acreditava que pudesse ser divulgado de tal maneira que por hoje faz parte do equipamento de uma família, uma família média né, que não tem televisão. É esquisito, né? Eh... Até a gente percebe isso por criança. Uma das minhas netas um dia foi visitar uma família aí e perguntou, hum cadê a televisão? () Aqui não tem. Então ela ficou assim espantada. Mas não tem televisã> SPEAKER 2: Só me referindo a esses grandes esses grandes, ãh como é que se chama, speakers, como como a Hebe é um programa geral. regular, alguns bons, melhores, outros. Uh... O  Flávio Cavalcanti tem algumas cenas boas, mas também tem algumas... Isso tudo é natural, porque precisa agradar a todos a todos os os seus espectadores né. E tem ainda o Silvio Santos, que é... Ele é programa inteiramente comercial, né? Ele está revendendo o baú dele. Ele  enchendo o baú. SPEAKER 0: Uh o que o senhor gosta mais de assistir assim na televisão? Ah, é bang bang. SPEAKER 2: Bang ban> Ou no> Ficou famosa. A mesma equipe que que concluiu ah a novela do Tempo Não Apaga, está fazendo agora essa novela, Quero Viver. E tem cenas curiosas, interessantes. Eh... Mas é só para me distrair depois da janta, porque eu sou um sujeito que chega nove né nove e meia, dez horas, eu vou para a cama, leio meu romancinho policial, e gosto muito de ler policial, E eh também, na na na idade atual, quatro e meia, cinco da manhã, eu estou de pé. (riso) Já estou de pé. (riso) Já vou cogitando de arrumar o café, preparar o leite, buscar o leite na o pão na padaria, para me preparar para ir para o para o IPESP, porque entra a oito e meia, nove SPEAKER 0: () Como ela funcionava, o aparelho, como ligava () é igual? É, o primeiro aparelho que eu tive foi () SPEAKER 2: () de um negócio, porque as as finanças eram muito apertadas né. Foi Quando eu voltei do Rio, e pretendia até mudar-me para Mato Grosso. Mas voltei do Rio para vir morar aqui e logo que consegui vender o apartamento que eu tinha em casa com, que tinha no Rio, vim, comprei uma casa na Rua Tucumã, em frente ao Clube Pinheiro. Nesse tempo a era a casa sozinha, tinha um () que era no bairro e na esquina, na Rua Iguatemi, uma outra casa. E o Clube Pinheiro para o lado de cá. E era muito isolado, mu muito quieto, muito sossegado. E eu, como jornalista que estou registrado, consegui a isenção do imposto de de de () para a compra da casa. E com isso me sobrou quarenta e cinco contos. Comprei um combinado. Era um combinado da gê é, um baita de um móvel desse tamanho, dessa altura, parecia um móvel assim como esse, maior um pouco. Tinha televisão, tinha rádio, tinha toca-disco. Funcionou. No começo, uh foi entregue e eles pe disseram mesmo que que para ah adaptação e funcionamento precisava fazer regulagem et cetera, e por duas ou três vezes vieram lá os os técnicos da da gê é para regular. Mas regulou e funcionou. Eu tive esse aparelho acho que uns dez ou doze anos, por aí, não foi? () Foi. Por aí. E também tocava lá. Agora, esses combinados hoje não se usam mais, né? Porque se você liga a televisão, você não pode ouvir o rádio, né? Se liga o rádio, não pode ouvir toca-discos. E essas coisas. Um monte de disco ainda está aí, meio parado. Estou esperando a oportunidade para comprar um toca-discos. Hum... Uma vitrola. Uhum. Mas era só branco e preto e poucas estações aqui em São Paulo. E mais é futebol. Que eu detesto. Só gosto do joguinho, que faço todo sábado, toda toda toda toda semana, né? Para tentar um um uma uma dessas desses milagres. Mas eu não saio do cinco, e do seis, ou do sete de fazer combinação do futebol, porque não vai mesmo né. (riso) Mas é () precisa caprichar, né? Eu detesto futebol por mais por por raiva, vamos dizer, porque Gostei muito na mesma cidade de futebol quando era era profi era amador né, amadorismo. Então, havia entusiasmo. Colegas meus, de da faculdade e da escola de medicina, como que nós () mais () sentido universitário. Eu tive um jornal e uma revista chamada até Nossa Pena, que era uma revista de âmbito, vamos dizer, de caráter universitário. tinha colaboração da de colégios da Politécnica, Medicina, da Faculdade de Direito, da Odontologia, de forma que eu conhecia muitos rapazes e havia times de futebol de amadores e colegas né. E a gente ia assistir e to e torcer, não era profi profissiona profissional Depois que ficou como atualmente profissional, Eu eu vejo como esses homens, às vezes, são são homens de pequena cultura, de que mal alfabetizados né, e que nem sabem dizer, nem sabem se exprimir, nem coisa nenhuma, e tem um cartaz tremendo nos jornais e fotografias de de () incluídas. Eh... Não sei que paixão tem o povo por esses ih por esses cidadãos que é atleta né. Mas o fato é que gastam dinheiro e vão lá assistir eles ganharem dinheiro. SPEAKER 1: Nunca ninguém foi no meu escritório ou lá no IPESP pagar cinco contos. SPEAKER 2: para poder ver eu lá trabalhar e caprichar num parecer. Eu não vou pagar para assistir eles ganharem dinheiro. (riso) Porque eles são profissionais, não é? E quanto mais são capricham bem, ganham. ### SPEAKER 1: Eu também vou ganhar o meu pão e ninguém vêm pa> SPEAKER 2: Depois que proibiram que é para poder dar () Quando ficou profissionalismo, proibiram para poder dar renda, né? Então faz o () do (). A gente já sabe o resultado do jogo, mas ainda ah muito bobo. A () ainda vai ver, uh vai ver na televisão a coisa voltar né e ver como acabou. Ainda torce. SPEAKER 1: Já sabe que quem ganhou vai está torcendo. (riso) (riso) É curioso isso. SPEAKER 0: ### SPEAKER 2: Eh não Eram combinados Como é ou foi o meu, né? Que custou quarenta e cinco contos, imagina, ho> SPEAKER 1: Então, existia um chamado rádio de galena, vocês já ouviram uh falar nisso. ### ### E e é um havia uma espécie de ponteiro, a gente punha punha o negócio no ouvido. a não ser que tivesse um falante, mas era um som tão fraco que a gente punha o... como é que chama? Fone no ouvido. Punha Era assim, cavava no ouvido. E começava na pedra a procurar o lugarzinho onde dava melhor som. Aí deixava e ficava escutando. Uh. Mas precis> SPEAKER 0: Tinha uma canção, Pé de Anjo, ao Pé de Anjo, e e eram várias cenas curiosas, interessantes, mas e en enchia e lotava todo toda noite esse teatro. SPEAKER 0: E como é que era o teatro, assim? SPEAKER 3: ### SPEAKER 2: Era um barracão de madeira e cadeiras comuns. Cadeiras de de palhinha, né? ### E tinha uma fileira de (). E o galinheiro lá em cima também. SPEAKER 0: E os artistas ficavam aonde? Ficavam t> SPEAKER 2: Eram Dramalhões, né, Shakespeare, peças de Shakespeare, né. Assisti que mais que eu me lembre. Ãh. Não me lembro mais eh. Algumas peças de que eram escritas. Ah, havia uh uh peças de de Paulo Gonçalves. Este era um grande escritor brasileiro, paulista, jornalista, e deixou uma bagagem na literatura muito bonita, principalmente em peças teatrais. E o maior artista do meu tempo, que já estava na faculdade, era Leopoldo Frois. Não sei se já ouviram falar. () ### Teatro Leopoldo Frois. Esse ficou famoso, e a peça de maior fama dele, e que se generalizou, e que todo mundo assobiava para rua, ela chamava-se Mimosa. Eram umas quadrinhas, muito sentimentais né, e e que ele cantava e recitava, com o nome de Mimosa. Era Ãh parece que o nome o apelido que ele deu à namorada dele () trecho da peça. E ele era famoso. Nessa ocasião, estava começando a aparecer o Procópio Procópio Ferreira. Ele, Procópio Ferreira, devia ser moço, devia ter seus vinte anos por aí, e apareceu em algumas peças em que funcionou o Leopoldo Frois. Depois eu conheci o Leopoldo, o Procópio Ferreira já, mais é maduro, e e levando à cena peças de Rodovaldo Viana, que foi um grande teatrólogo. E ()