Inquérito SP_DID_119

SPEAKER 0: : A minha família () ### Minha mulher e cinco filhos. Se você entender a família no sentido mais amplo, quero te dizer que tenho só pai vivo, dois irmãos, um homem e uma mulher, E ainda no sentido mais amplo, a sogra e uma cunhada e um cunhado.

SPEAKER 1: : E a família da sua esposa? ()

SPEAKER 0: : ### Indiretamente já já te respondi dizendo que só tenho sogra. Meu sogro faleceu há uns trinta anos mais ou menos. Tive duas cunhadas. Uma já morta e um cunhado.

SPEAKER 1: : Sentido mais amplo ainda. () Parentes de pai... Ah, bom, mas aí nós vamos, não sei em número, que seria difícil () mas assim por alto, ()

SPEAKER 0: : Em número ou em  Em grau. Em grau. Em grau, muito bem. Então vamos. Da família do meu pai, tenho alguns primos em segundo grau. Meu pai tem uma irmã só, que tem um filho só, e uma prima e irmão da parte de meu pai tem um só. Da parte de minha mãe teve ela três irmãs e dois irmãos, só um casado. Então primos e irmãos por parte de meu pai e de minha mãe, talvez uma meia dúzia. Agora, por incrível que pareça, não se teve um contato muito () com os parentes do lado materno. Talvez por ser meu pai, ter uma única irmã, bem mais nova do que ele, casada bem depois do que ele, de modo que praticamente, quando meu pai casou-se com minha mãe, a irmã veio junto. Então essa ligação que eu tenho com a irmã do meu pai, é muito maior do que  Com os tios do lado materno. Exclusão feita a duas irmãs solteiras e minha mãe, que sempre moraram conosco.

SPEAKER 1: : ### ###

SPEAKER 0: : Bom, a mesma coisa que aconteceu... com o meu pai e minha tia, acontece comigo e minha irmã. Vocês que foram colegas, uma de minha filha e outra de minha sobrinha, sabem da relação muito... muito grande, muito funda, que eu posso dizer, A grosso modo, tenho cinco filhos meus e quatro filhos de minha irmã. Porque, vira e mexe, ou os meus estão na casa dela... ou os dela na minha casa.

Inf :elizmente, eu creio que esse sentido de família... está se... não é muito comum hoje em dia. Talvez pela evolução do próprio sentido de família... E isso eu noto tremendamente na minha profissão. Da minha advocacia talvez noventa porcento seja de advocacia de família. Leciono há cerca de seis ou sete anos na maior parte do tempo direito de família. De modo que se eu não sinto na minha família os problemas, sinto de uma maneira muito grande na família dos outros. E apesar de muito bem casado, Sou francamente divorcista. Eu separo o casamento no seu aspecto civil, no seu aspecto religioso. Casamento, no sentido religioso, é uma coisa, é um sacramento. E é algo que não se discute ser insolúvel ou não. Ou se aceita, ou não se aceita. Agora, caindo-se para o lado do () civil, não há razão da insolubilidade do casamento permanecer. Então dizem alguns, não, mas o divórcio vai criar filhos de () E o retruco, e o desquite, além de criar filhos de pais (), vai criar duas famílias totalmente legítimas, que tanto a mulher como o homem, depois de se desquitarem, não vão vestir o cinto da castidade Ela vai procurar ter com um terceiro aquilo que não teve com o marido. É humano, é normal, é biológico. Se se entender o sexo biologicamente, é uma função orgânica como qualquer outra. Precisa ser exercitada, deve ser exercitada, sob pena de danos muito maiores. E é o que acontece na realidade. É um problema que não cabe só ao jurista da É o sociólogo, é o religioso, é o filósofo. Enfim, é um problema muito complexo. Também o divórcio em si não resolve nada. Parece ser mais um problema de educação. ### A constituição diz que o casamento é insolú O Código Civil diz que só se dissolve com a morte, o vínculo do casamen Agora eu pergunto a vocês, um casal feliz, que vive bem, pouco importa para ele saber se o casamento pode ser dissolvido ou não. Pouco importa saber se a Constituição diz que há ou não o divórcio. Ele vai viver com a sua mulher, não porque a lei manda, porque ele se sente bem. Por outro lado, um casal infeliz, pouco importa se a lei lhe dá o divórcio. Se ela não dá o divórcio, ele vai para o desquite. E se não existe o desquite, ele pura e simplesmente larga da mulher e se junta com outra. Não é algo que possa ser resolvido com um texto de lei. Absolutam

SPEAKER 1: : Agora, passando um pouquinho para para fora da família, a gente continuando nisso, a gente queria que o senhor falasse um pouco sobre o ciclo de vida. Então, como é que Foi a a sua vida desde o início, como foi, como ela vem vindo até agora e se o senhor puder depois fazer uma comparação com a dos seus filhos, a gente pode... Que faixa de idade, o que mais caracterizaria cada faixa de idade?

SPEAKER 0: : () eu começaria a responder pelo fim. Eu preferiria fazer uma comparação da vida de hoje com a vida que da faixa etária dos meus filhos, com a minha faixa etária naquela época. Eu tenho um filho com dezoito anos, filho homem, e vou me comparar a ele, porque obviamente poderia haver comparação com minha filha mulher. Porque ainda por uma questão de educação, por uma questão de criação, são, () ainda que não se queira, são situações diversas. Eu posso dizer que a vida hoje é muito mais moral e muito menos hipócrita do que era na minha época. Vocês podem achar esquisito. Eu vou trazer um exemplo só. da própria música que vocês dançam hoje, que nós dançávamos quando eu tinha dezoito anos. Eram aqueles blues lentos em que você dançava mais com as segundas intenções do que com as primeiras. Hoje não acontece isso. Hoje é o iê iê iê, e entre o homem, o moço e a moça há uma distância de dois, três metros às vezes. Mais moral nesse sentido. Retrucarão alguns. Bom, mas hoje... a mulher nem sempre vai ao casamento virgem. É onde a () que os moralistas gostam () de bater. Eu acho que não se mede a moral de uma mulher... por uma membrana que ela tenha ou deixe de ter. A mulher vale, como o homem também vale pelo seu todo. E se, e repito, é uma questão, é uma função orgânica, ela tem que ser realizada. É evidente que não defendo o amor livre. Esse também já se iria chegar a um extremo. Mas também dizer que a mulher não presta só porque em determinadas circunstâncias ela perdeu aquela condição de virgem. Não... Não vejo por onde se... Se condenar a mulher nesse ponto. ### Me perguntaram, se acontecesse isso com sua filha, qual seria a reação? Eu não sei. Porque talvez eu não reagisse como teórico, como professor. Eu reagiria como animal, como bicho. Mas eu estou falando num plano ideal. Não, se isso acontecesse comigo, talvez a minha reação fosse totalmente diversa, não sei. Agora, felizmente, (riso) que não aconteceu. Então, é um problema que não me preocupa. Eu, quando tinha dezoito anos, indiscutivelmente não tinha as condições que meu filho tem. Que era econômicas. Ele tem um automóvel e eu só tive automóvel depois de casado. Eu estudei com muito mais dificuldade que ele. Eu me casei ainda estudante. Não existia no próprio ambiente aquelas facilidades que hoje os jovens têm para estudar. Basta dizer que havia uma faculdade de Direito exclusivamente, que era do Largo de São Francisco. A própria Católica, () não me engano, foi a segunda. É posterior  Então havia um verdadeiro funil. Funil que não começava na faculdade. Eu estudei no ginásio do Estado. O único ginásio do Estado que havia. Porque os outros dois era a Escola Normal da Praça e o Padre Anchieta. O Padre Anchieta e Escola Normal. E a Escola da Praça, o Caetano de Campos, que era mais era mais a parte feminina da parte masculina. Então, ainda que se junte esses três estabelecimentos oficiais, eram três ginásios do Estado. Hoje, em cada bairro existe três. Se as condições eram realmente mais dificultosas. Não deixa de ser verdade que hoje a média cultural está bem acima do que estava há vinte anos. E essa talvez seja uma das consequências. Uma da das causas. Bom, eu não posso dizer que () Uma vida de Dificuldades. Meu pai sempre foi um homem que teve uma situação econômica razoável. Talvez possa se dizer mesmo da média para cima. Sempre tivemos automóvel. Sempre moramos em casa própria. Quer dizer, nesse aspecto talvez a vida a que eu levei e que meus filhos estão levando não tenha muita diferença. Fui, estudei, fiz o curso primário em colégio particular. Entrei no ginásio do estado porque era o que de melhor gabarito possuía. Fiz a faculdade do Largo de São Francisco de graça, porque era a única que existia. Quer dizer, não tinha o o aspecto econômico aí que me parece que, no meu caso, não difere muito dos meus filhos. Agora, não fiz cursinho para entrar na faculdade, porque não precisava. Porque o o cabedal que você trazia do ginásio do estado te dava condições de você ingressar direto na 

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : E no vestibular, como até hoje, cinquenta porcento em conhecimento, cinquenta porcento de sorte. Apesar de não ser sob a forma de teste, né? E se bem me recordo, eu fiz exame de latim, de inglês, apesar de de hoje ter abandonado completamente o inglês. E explico, depois explico o porquê E se eu não me engano, de português e história, ou português e conhecimentos gerais, uma coisa dessas. E tive a ventura de ser classificado no primeiro exame. Vocês, quando eu disse das línguas e te respondia, que eu falava inglês, francês e espanhol. Porque, no meu campo profissional, o inglês não não tem sentido. É difícil uma obra jurídica em inglês, mesmo porque o sistema inglês e americano é totalmente diferente do nosso. Talvez me faça mais falta o alemão do que o próprio ### Quarenta e sete anos () começar a estudar alemão

SPEAKER 1: : Em qualidade? É () o modo da aula. Como é que era o (), o currículo.

SPEAKER 0: : ### Eu, eu fiz o o grupo () o curso primário, em quatro anos. Como, aliás, até pouco tempo foi. Fiz um ano de admissão. Entrei no ginásio com cinco anos. Quando eu estava no ginásio, não sei se no último ou no penúltimo ano, houve essa modificação criando o curso colegial. Então eu já entrei direto no segundo ano do colégio. Então eu fiz quatro de primário, mais um de admissão, que não era obrigatório, cinco anos de ginásio e dois de colégio. Agora eu tenho a impressão que o ensino, pela quantidade de colégios hoje, ele ganhou na, o ensino ganhou na quantidade e perdeu na qualidade. O que, aliás, é perfeitamente compreensível. Estabelecendo um desnível muito grande entre o curso secundário e o curso superior. Que é a razão da proliferação desses cursinhos. Porque hoje, a não ser um gênio, Ele não consegue, saindo do ginásio, ou do curso secundário, ginásio, colégio, entrar direto na faculdade. Falta uma porção de coisa que deveria ter sido dada no curso secundário. Isso eu eu tenho um exemplo em casa. Meu filho está no colégio objetivo. com todas essas técnicas modernas de ensino, com aulas de videota em videotape, cursos intensivos e etc. Fazendo o curso normal de colégio, que já vem fazendo desde o primeiro ano. Todavia, agora, a própria direção da escola entendeu que eles devam fazer um curso intensivo para poderem se para poderem enfrentar o exame vestibular. no Objetivo. Eles estão no terceiro ano do Objetivo, fazendo juntamente com o terceiro ano no Colégio, onde eles arrumaram uma maneira que todos já passaram, agora diga-se de passagem, o Colégio puxou demais, e realmente eles têm condições de já serem aprovados, o Colégio praticamente já terminou as aulas em começo de em () de outu E eles passam exclusivamente a fazer um curso intensivo. Este problema, este problema no meu tempo não existia. Também não existiu. Ele quer fazer medicina com uma proporção de às vezes um por cinquenta, um por sessenta candidatos para  cara vaga. Se aumentaram o número de vagas, aumentaram o número de escolas, mas ainda assim é insuficiente o número das escolas superiores que nós temos. Sem se contar nas escolas particulares que os preços são uns absurdos. Ainda no domingo passado, não sei se vocês viram o programa do Flávio Cavalcanti, apareceram vinte e quatro estudantes do Rio de Janeiro que precisavam pagar cinquenta mil cruzeiros até o dia seguinte, sob pena de não fazerem o exame e perderem e perderem o ano. Cinquenta  ### Eram vinte e quatro alunos que não haviam pago taxa desde o começo

SPEAKER 1: : do ano. Isso seria um ano só? Um ano

SPEAKER 0: : ### Vinte e quatro () mas espera, vocês então... A Faculdade de Medicina de Bragança cobra dez milhões por semestre.

SPEAKER 1: : Por aluno?

SPEAKER 0: : Por aluno. E ainda assim é deficitária. ### Quem de vocês está na PUC? Você. Muito bem. Sorocaba está para fechar há quanto tempo? A Faculdade de Medicina da PUC? Todo ano ela ela fecha, porque não tem condiçõe Porque ela cobra trezentos cruzeiros por aluno. É, eu pago E não tem condições materiais para manter.

SPEAKER 1: : ()... num curso, por exemplo, como o de medicina, eu acho que realmente é mais difícil, porque existe maior aula prática... () É um curso muito caro. () ### Mas numa num curso como o seu, né, () letras. Então aí, o material já não é uma ()

SPEAKER 0: :  Bom, mas aí aí entra o aspecto comercial para o ensino. Então o direito  É pior ainda, porque direito desde que tenha uma sala com cadeiras e uma mesa com estrado, para o professor recitar as aulas, o que está errado também, não precisa mais nada. Então, normalmente, o que acontece? Os cursos de direito mantêm os outros. As escolas de educação, as escolas de letras, essas são faculdades que sustentam aquelas deficitárias. Psicologia, foneaudiologia, medicina, Essas são todas as faculdades que, por mais que eles cobrem, elas é deficitárias. Agora, é muito é muito fácil verificar isso. Veja o número de faculdades de medicina que nós temos e o número de faculdades de Direito, faculdades de Filosofia no ramo Letras, Administração de Empresas, Ciências Econômicas. São faculdades que não precisam de aparelhamento para fun

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SPEAKER 1: : Ideal. Ideal poderia exigir () ensino de línguas, nada melhor do que isso. Mas, como nada é assim

SPEAKER 0: : Quando muito, ele sai para o lado. Quando muito ele sai para o lado visual

SPEAKER 1: : Projetor de slides. E e dentro da faculdade, como é ()

SPEAKER 0: : Ao contrário do que acontece com vocês, nos quatro primeiros anos eu não frequentei um dia de aula assim tanto. E fiz os exames direto em segunda época, porque eu trabalhava. Já estava casado. () ### ### Você, se não tivesse frequência, ia para a segunda época direto. Senão você apenas perdia a segunda época. Se fosse reprovado, você ia direto à ()

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : ### E, a não ser no quinto ano que eu quis me formar com a turma que eu frequentei, os outros anos eu não () Praticamente não frequentei. Ia direto para a segunda época. E devo ter tido muita sorte que dos cinco anos fiquei numa dependência só. () Estudava só no só rm janeiro para fazer o exame em fevereiro. Não. Eu trabalhei com o meu pai desde os catorze a nos, até até praticamente os vinte e dois, vinte e três quando passei para o quarto ano e pude ser solicitador. E aí fui trabalhar com um compadre dele que era advogado. Então praticamente desde quarenta e oito, quarenta e nove que eu estou tendo ()

SPEAKER 1: : E já está aqui comigo. Já. Agora comparando, assim o o conteúdo.

SPEAKER 0: : É a mesma coisa. E tenho a impressão que o que o Rui Barbosa estudou quando era acadêmico de direito foi era mesma coisa. (riso) É a recitação. E seja em que faculdade for. Você apanha e vai a e vai aprender aqui fora. Aliás, quando eu disse... Não, não teve modificação nenhuma. Não teve modificação () Recitação. Os códigos se mudam, como agora devem mudar. Mudam mais na forma do que na essência. () Porque os nossos, ah sim, porque os nossos princípios são aqueles vindos do direito romano. E prova que isso é verdade. E quando seu pai soube que ela estava no terceiro ano de direito, a intimou a no ano que vem. Quando ela foi para o quarto, ficar uns meses junto com ele na vara, ficar uns meses no cartório para aprender a advogar Porque infelizmente () Apenas se dá a qualificação para você ()

SPEAKER 1: : () É porque o senhor disse que não frequentou às aulas, certo? Então não teve dificuldade a hora que começou a trabalhar? ()

SPEAKER 0: : Não, a dificuldade tive a mesma que Teve os que tiveram os outros. O curso é essencialmente teóri E com as aulas as aulas que eu recebi, que são as mesmas aulas que eu dou, é apenas uma recitação do que dizem os outros. Por mais que se procure variar, colocar algum caso prático no meio para tornar a aula menos maçante, na sua essência o curso ainda é o mesmo. Então, assistindo ou não assistindo a recitação, recitação essa que é transposta em apostilas, Então, além dos livros, você tem o resumo que o professor te dá. Não há efetivamente a necessidade, como no caso da medicina, por exemplo, em que o professor vai fazer uma autopsia, vai abrir um cadáver, vai mostrar como se corta, como se costura. Para nós não tem nada disso. E se vocês () vocês dizem que apanha aqui fora. Eu apanhei por ter sido um bom aluno no quinto ano. Eu tive um professor de processo civil. que talvez tenha sido um dos grandes professores de processo civil. Então ele dizia que tudo quanto se alega, você deve provar. Porque não chega a alegação, precisa a prova. E a primeira ação que eu fiz sozinho, eu estava cobrando uma nota promissória assinada pelo devedor. Então eu fiz uma petição, talvez muito bem feita, e pedi que fosse o devedor intimado a vir depor. juntei testemunhas e fui para a audiência. O advogado da parte contrária era um senhor já naquela altura, de cerca de seus setenta anos, doutor Carlos Moraes Andrade. Homem de uma barbixa, de uma figura que impunha respeito. Ele me puxa de lado antes da audiência. Diz meu filho, a primeira vez que você faz audiência, Eu olhei para a cara dele, achei que merecia confiança e disse sim, é? Então desista de toda a prova que você requereu. E eu fiquei meio assustado. Mas se eu não desisti, se eu não sabia o que eu tinha que fazer com a prova, então eu desisti. () agora o juiz vai mandar que você faça os debates orais. Você diz apenas o seguinte, que se reporta a inicial. E eu fiz o que ele mandou e ganhei a ação. Então me dizia ele, depois da audiência, se você já tem um título aceito, se o devedor já confessou com a sua assinatura no título, para que que você vai fazer prova? Isso a escola não te ensina. Pelo menos eu não aprendi. () Isso eu não aprendi. E é o que eu estou querendo evitar com minha filha. Ela está aqui desde o primeiro ano. Pelo menos ela sabe Quanto é que tem que pagar? Porque tem uma tabelinha que também nós não tínhamos. Eu não sabia qual era o selo que ia na petição. Eu tenho a impressão que eles se preocupavam muito com a parte teórica. e largavam comple tamente a parte prática. (tosse) () colegial. Sim, na parte Na () do colegial há essa possibilidade e o que o Objetivo está fazendo é algo que me parece muito muito interessante. Eles procuraram () estão procurando reformular aquele curso clássico, clássico não não na divisão clássico-científico, clássico no sentido tradicional que apresentava no ensino secundário. Mas também me parece de muita valia essa reforma feita no no no ensino secundário, reunindo ginásio e colégio, eh, curso primário e ginásio. Porque nós talvez somos exceções de termos ultrapassado o primeiro grau. Porque a grande maioria ou fica no grupo ou aqueles que passam do grupo chegam ao ginásio. Então, sendo () obrigatório o ensino dos sete aos catorze, esta faixa dos oito anos do primeiro grau viria indiscutivelmente dar à maioria dos indivíduos uma condição superior àquela que nós tivemos ou que nós teríamos se tivéssemos parado onde a maioria parou. () Eu não vejo. Me parece E não respondendo diretamente a sua pergunta, que essa modificação do ensino do primeiro grau apenas transferiu o funil que existia no fim do colégio para a universidade, do fim do ginásio para o colégio. Porque agora terminados os oito anos do primeiro grau, se prestam vestibular para o ingresso no segundo grau. Então se estabelecerão dois funis. O do antigo ginásio para o antigo colégio, que seria o atual primeiro para o segundo grau, e posteriormente o da universidade. Eu não sei, mas me parece que o defeito é de forma, de essência também. Os nossos cursos superiores estão muito mal postos. Nós ainda temos, e falo no direito que eu conheço, ele não passa de um curso de humanidades. () se preocupa com muita parte histórica, largando completamente a parte prática. Não quero com isso dizer que a parte histórica do direito não seja necessária, mas que se dividisse o curso de uma maneira mais objetiva e se tivéssemos conhecimentos teóri mas não se eliminassem ou que se tomassem mais cuidado com a parte prática. Porque o objetivo final de um advogado, de um concluinte do curso de Direito, é ser advogado, não é ser jurista. E o que me parece a preocupação da maioria das faculdades de Direito são a formação de juristas. ### () bacharel em direito, ele sai ou para ser delegado, ou para ser juíz, ou para ser promotor, ou para ser advogado. E a teoria vale. Mas se ele não souber como aplicar a teoria, ele naufraga. E isto é muito comum. Se formam, talvez por ano, em São Paulo, sem exagero, uns dois mil. Há dois mil novos bachareis em direito. No entanto, as caras que se veem no fórum são sempre as mesmas. Verdade que alguns querem o título só para terem o título. Mas a renovação do quadro, na prática, é muito pouca. É muito pequena essa 

SPEAKER 1: : E e parece que eles criaram uma barreira ###

SPEAKER 0: : Eu sou professor de direito de escola particular. E talvez, na minoria, sou daqueles que entendem a necessidade desse exame. Porque não aceito a forma de exame vestibular em teste. Fator de sorte prepondera. E eu tenho alunos que não sabem escrever. E às vezes, por fatores os mais variados possíveis, esses alunos conseguem sair da escola. A criação de faculdades de direito foi, até certo ponto, indiscriminada. Nem todas as que existem, e principalmente fora do estado de São Paulo, elas têm condições mínimas () de existência. Então acontece que grande parte dos bacharéis, e note-se, nunca uma faculdade de direito formou advogados. Ela forma bacharéis em direito. E para o bacharel ser advogado, ele deve se inscrever na Ordem, que é um organismo federal que controla todos os profissionais. Esta inscrição que dá a condição de advogado. A ordem apenas colocou, dentre aquelas exigências todas que existiam, digo a ordem em cumprimento a uma lei federal, que o estatuto da ordem é lei federal. Uma outra condição, ou um estágio prático, estágio esse que deveria ser incluído no currículo normal da faculdade, dois anos, depois dos quais seria feita uma verificação no aproveitamen ou a aqueles que não quisessem fazer esses dois anos de estágio, um exame. Um exame que é simples. Não é esse bicho de sete cabeças que pintam. Agora, indiscutivelmente, criaram, para o bacharel em direito, um outro obstáculo para serem advogados. Mas se vocês tiveram curiosidade de ver um comunicado do último exame que foi realizado em setembro, e cinco porcento dos inscritos foram aprovados. Então não é essa esta situação intransponível. Eles têm um argumento, os estudantes, que se fizessem esse exame os advogados militantes, talvez a metade também fosse reprovada. Mas se isso for verdade, não é com um erro que se vai consertar outro. Não, mas a função de fiscalização das história, das escolas, é do Ministério da Educação e não da ordem dos advogado

SPEAKER 1: : Talvez seja verdade. E esse exame consiste em quey? Em medir essa capacidade para para a vida prática?

SPEAKER 0: : Exatamente, da forma mais simples possível. Há uma prova escrita em que é sorteado um ponto, normalmente a redação de uma petição ou de um recurso, em que o candidato tem seis horas para fazer. com a possibilidade de consultar toda a legislação, menos formulários, evidentemente. E depois, ele se submete à uma prova prática. O ponto é sorteado com vinte e quatro horas de antecedência. E depois ele vai, esse ponto é um problema prático, em que ele tem que fazer alguma coisa, ou defender, ou acusar, ou recorrer, ou defender o recurso, Feita essa primeira parte do exame oral, então ele será () a respeito das coisas mais simples no no campo do processo, principalmente. Qual é o prazo para uma contestação, o prazo para um recurso, qual é o recurso que cabe. Eu tive a oportunidade de examinar num desses exames e uma candidata teve a coragem de dizer que o juiz mandava prender, ou melhor, o delegado julgava o processo e mandava o juiz para o juiz prender o criminoso. Não, mas ela repetiu duas ou três vezes, eh conscientemente ela disse isso. Bom, as perguntas as mais infantis possíveis Porque à medida que ãh que o candidato não consegue responder aquelas primeiras perguntas que talvez sejam realmente num nível mais elevado, o próprio examinador vai baixando o nível das perguntas. Porque o objetivo não é repro Agora, esse exame só está sendo feito, além de São Paulo em mais um ou dois estados. Já imaginaram os estados do Norte, o filho do coronel, que se formou em Direito e não poder advogar porque não passou no exame de ordem. ### morre, então eles querem eliminar esses

SPEAKER 1: : E agora falando um pouquinho dos dos filhos menores, em matéria de primário, ãh eu acho que por essa () de filhos e pela sua vida estudantil, o senhor teve uma oportunidade também de comparar principalmente os primeiros anos do primário. Esses realmente parecem que sofreram uma evolução tremenda 

SPEAKER 0: : Porque o meu primário também  foi recitação. Era a cartilha, era o livro de história que o professor lia e nós acompanhávamos. Eu nunca me lembro de ter feito uma pesquisa no meu curso primário. E o que eles fazem frequentemente. Nesse () No campo do do ensino primário eu tenho a impressão que a evolução já se fez sentir com muito maior intensidade do que no secundário, abrangendo, o ginásio, o colégio, na universidade. Ainda hoje, um deles estava fazendo o mapa do Brasil econômico, desenhando o mapa e pegando arrozinho, feijão, milho, pondo dentro de um saquinho de plástico e espetando no mapa. Eu garanto para vocês que eles não vão esquecer nunca de onde é que tem café, milho, também o as minas de ouro, Tinham que achar qualquer coisinha dourada para dizer que era ouro, ou a prata. () me parece muito mais um ensino, muito mais visua visualizado do que propriamente () Nesse aspecto, tenho a impressão que realmente evoluíram

SPEAKER 1: : bastante. E e na fase anterior à primária?

SPEAKER 0: : Eu não fiz o o pré-primário nem o maternal. Agora, os meus todos fizeram e queriam ir para a escola. que no meu tempo dizia que era uma judiação () a criança de menos de sete anos ir para escola. Minha filha foi com quatro, porque naquela altura minha mulher trabalhava e ela preferi e ela teve que ir para a escola. Mas no dia que pre podia ficar em casa, ela preferia ir para a escola. Que era brincar, era ter as suas companheiras, ter a sua aula orientada, e diga-se de passagem, todos eles já entraram alfabetizados para o primeiro ano primário,

SPEAKER 1: : coisa que () do pré-primário, do pré-primário. Depois mesmo nesse convívio, mesmo que não () não seja alfabetizado, né? Mas ãh os filhos convivem com outras crianças () vai abrindo um pouquinho, soltando a criança ()

SPEAKER 0: : Ah sim, daquele círculo familiar que é sempre muito mais fechado que o círculo escolar. Por menos que se queira () fechado, ele é. Agora, e também o próprio modo da apresentação da matéria é muito () o nosso A nossa matemática, a matemática que eu aprendi, era muito mais difícil () do que a de hoje. Apesar de eu não entender nada () matemática moderna, né? () conjuntos abertos e fechados. Mas como a criança aprende. E a dificuldade que eu tinha no aprender matemática, obrigatoriamente tem que ser muito mais simples. () É muito mais racional, é menos teóri O ensino no meu tempo foi essencialmente teórico Que é na fase do primário, do co do ginásio, do colégio.

SPEAKER 1: : () E em matéria de de professor ãh () de mestres

SPEAKER 0: : Bom, eu não eu não tenho condições de te responder porque não assisti às aulas dos meus filhos. Mas aí entra um pouquinho o saudosismo, viu? Nós sempre acham achamos que os nossos foram os melhores, que são os melhores, mas o que eu acho falso também. Porque se o ensino melhorou o aspecto como ele é apresentado, o professor indiscutivelmente deve ter tido seu mérito nisto. Eu tenho a impressão que a evolução se fez sentir também no cam Mesmo porque, hoje, noventa e cinco, para não dizer noventa e nove ou cem porcento dos professores são egressos de faculdades de filosofia. Em cursos especializados, inclusive, vocês devem ter um ano de didática. Os meus professores, não sei se eram autodidatas, mas positivamente não fizeram filosofia. Era eram autodidatas. Eram autodidatas e

SPEAKER 1: : E é é razão da própria evolução. E agora o aspecto de relação de professor-aluno? Agora que o senhor é professor e comparando ()

SPEAKER 0: : Ah, melhoraram indiscutivelmente. Nós não tínhamos condições. Eu tive um professor que não se dignava olhar para os alunos. E posso dizer o nome também, é um insigne jurista, já morreu, o professor Valdemar Ferreira. O o estrado onde estava a mesa do professor tinha talvez uns sessenta ou setenta centímetros. Ele entrava por uma porta atrás da cátedra. E sentado, setenta ou setenta centímetros acima do nível da classe, ele olhava re E não admitia que fosse feita uma pergunta. Não admitia que no corredor fosse abordado. O que não acontece hoje em lugar nenhum. Esse relacionamento professor e aluno evoluiu de uma maneira absoluta

SPEAKER 1: : Total. E quando ele chegava, tinha alguma cerimônia? ()

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Para sair?

SPEAKER 0: : Também. E paletó e gravata, né? Bom, paletó e gravata no Largo de São Francisco foi abolido só o ano passado, né? Esse ano, não foi? ### ### É possível, eh nó nós estamos no fim do ano, é esse ano. () Bom, e nesse nessa história de traje, inclusive a mulher hoje não entra no Fórum de calça comprida. E eu assisti a um incidente que foi notado, () uma mulher que estava de calças comprida e túnica, E o guarda não deixou ela entrar de calça comprida ### Não teve dúvidas, na frente de todo  ### ### ### ### ### ###

SPEAKER 1: : () ela estava de micro () eu tiro! E tirou.

SPEAKER 0: : ### ### Essa essa de tirar calça eu assisti. É ridículo () Não tem sentido.

SPEAKER 1: : Não tem sentido. ()

SPEAKER 0: : Não, não pode subir. Agora me parece que no fórum criminal eles deixam entrar. Quando a pessoa é testemunha ou quando a pessoa é... () Não, não 

SPEAKER 1: : No fórum civil não entra. ()

SPEAKER 0: : Não, o advogado não entra. Não, não entra ninguém. Ninguém, não. Pode entrar de calça comprida

SPEAKER 1: : () É ridículo aquilo.

SPEAKER 0: : ### É um contra-senso. Porque se o mundo evoluiu para fora com esse negócio da moda, se é bonito ou não é bonito, são outros quinhentos cruzeiros. É o que a maioria usa. Em qualquer lugar. Inclusive nas igrejas se vai de calça comprida. E por que que no fórum não pode entrar? Não te incomoda que no meu ramo tem cada uma que deixa... ### ### () É o mesmo estilo () mestrado

SPEAKER 1: : () para mim foi uma decepção. É, agora tem essa essa experiência nova

SPEAKER 0: : Para mim o mestrado foi uma decepção. Eu não sei se muito Caxias, mas pretendia receber realmente um curso de pós-graduação. Estou recebendo as mesmas recitações que recebi no curso bacharelado. No entanto, vou ter um título de mestre em Direito.

SPEAKER 1: : Só pelo título, né? (riso) Exclusivamente.

SPEAKER 0: : ### Estou continuando pelo tí

SPEAKER 1: : E o tipo de aula, o pro o professor, relacionamento e tudo? Do mestrado? É. Não, relacionamen

SPEAKER 0: : ### () também não tem cabimento. Porque nós somos cerca de Tem três professores, alguns procuradores da justiça, um desembargador, juízes, promotores, quer dizer, o nível é um nível exce extraordinariamente alto, é um nível excelente. Então esse relacionamento se impõe, ainda que não fosse em razão do nível, por uma questão de educação. São todos homens, já de mais de quarenta anos não há, apesar de eles terem criado esse curso de pós-graduação. para os recém-saídos da faculdade, ele tomou um rumo diferente. Então, esse relacionamento está se impondo, talvez, pela própria composição do corpo docente.

SPEAKER 1: : Nessa questão relacionamento...() E sendo o nível tão elevado, a as aulas não podem ter ()

SPEAKER 0: : Deveriam ter. Deveriam ter, mas não tem. Dizem o seguinte, que se esse curso de pós-graduação do mestrado e doutorado não fosse implantado no ano passado, não seria nunca mais. Então ele foi implantado, Contra tudo e contra todos. Sem qualquer base de organização, base didática. E nós estamos sendo as cobaias. É possível e ele deve, evidentemente, melhorar. Agora, não se compreende, por exemplo, que nós sejamos obrigados a assistir quatro horas de recitação. Em primeiro lugar, nenhum deles dá. Aquele que deu uma hora e meia, uma hora e quarenta, deu muito. porque nem o professor aguenta recitar durante quatro horas, e nem nós, depois de um dia de trabalho, que as aulas começam às cinco horas da tarde, temos condições físicas de assistir a essa recitação. Me pareceria muito mais lógico o trabalho de pesquisa, o trabalho de elaboração de temas, com o professor à disposição para a orientação, porque não adianta ele pegar, abrir um livro e recitar. Agora, me parece que esse curso seria muito mais racional se fossem criadas condi, se fossem dadas condições de pesquisa. Então essas quatro horas nós teríamos usado da mesma maneira em pesquisas, não em ouvir Então ele foi implantado contra tudo e contra todos, sem qualquer base de organização, base didática. E nós estamos sendo as cobaia É possível e ele deve, evidentemente, melhorar. Agora, não se compreende, por exemplo, que nós sejamos obrigados a assistir quatro horas de recitação. Em primeiro lugar, nenhum deles dá. Aquele que deu uma hora e meia ou uma hora e quarenta, deu muito. Porque nem o professor aguenta recitar durante quatro horas, e nem nós, depois de um dia de trabalho que as aulas começam às cinco horas da tarde, temos condições. físicas de assistir essa recitação. Me pareceria muito mais lógico o trabalho de pesquisa, o trabalho de elaboração de temas, com o professor à disposição para a orientação. Porque não adianta ele pegar, abrir um livro e recitar. Agora, me parece que esse curso seria muito mais racional se fossem criadas, se fossem dadas condições de pesquisa. Então, essas quatro horas nós teríamos usado da mesma maneira em pesquisas, não em ouvir.