SPEAKER 0: Gravação do dia três de setembro de Mil novecentos e setenta e dois. Gravação do dia três de () E dois. Bom, então, Zé, uh uh você podia falar para nós um pouquinho sobre cinema e teatro, no caso né, que que nós havíamos combinado? Podia até fazer uma comparação, digamos, entre o cinema e o teatro. Hoje em dia ou então mais antigamente? (riso) Pode. Posso. SPEAKER 3: Posso e até fico muito à vontade para falar sobre mais antigamente. Me sinto mais ou menos à vontade porque conheço algumas particularidades do início do cinema, pelo menos aqui. Meu avô foi um dos primeiros indivíduos a fazer cinema em São Paulo. É, na época em que o cinema começava no Brasil também. Não foi, lógico, dos primeiros em ah no Brasil, mas em São Paulo foi dos primeiros, dos pioneiros. Nos tempos em que se fazia cinema no fundo de casa. E ele, lógico, como todo velhinho que só se lembra das coisas de muito tempo atrás, conta com uma riqueza de detalhes muito grande, as coisas que fazia, os artifícios que ele usava, O que ele chama de um sucesso extraordinário dos filmes que ele fazia? Infelizmente, quase todos os filmes que ele fez pegaram fogo numa época. É sério isso, ele perdeu quase tudo o que fez nessa parte de cinema e. E ele agora vive das dos trechos pequenos que existem na Cinemateca. La no Rio de Janeiro eles fizeram recentemente umas reproduções, Não sei se é isso aí que chamam de copião ou não, mas fizeram uma cópia a partir de de originais muito estragados, e se não é isso o copião, pelo menos o copião dá bem aquela impressão de uma coisa ruim. E passaram, fizeram, gravaram e filmaram alguns trechos com ele, contando essas aventuras. Com ele e com o câmera que ele tinha naquela ocasião, que era também o sócio dele, era um sócio técnico. E uma das coisas que ele conta com uma glória muito grande foi que fizeram um filme de quarenta minutos, em uma manhã. Um filme a respeito de um indivíduo que saía de casa, bebia, voltava e encontrava a mulher chorando. Um dos dramas de toda a época do cinema. Esse filme eles ele conta como fez a a iluminação, usando folhas de zinco para servir de holofote, refletindo o sol e coisas assim, coisas bem primitivas. Dizem aqueles que entendem que ele tinha alguma arte naquele ou para aquele tempo. Lógico que agora os recursos são São outros, inclusive, o cinema está enveredando para um lado que a mim particularmente não agrada. Este tal do cinema novo, que praticamente a gente sai do cinema com dor de cabeça. E não aquele descanso que foi procurar. Eu, pelo menos, vou muito procurar descanso no cinema nas poucas vezes que vou. Ele também critica bastante isso. Lógico, já é de de outra escola. Agora, de cinema atual, francamente, eu muito pouco tenho visto, porque não não não dá tempo, a gente tem outras coisas para fazer. No momento, estou preocupado com uma tese que eu espero defender ainda esse ano. Então, todos as os minutos têm sido preciosos. Para recordar, a última vez que eu fui ao cinema, eu tenho a impressão que faz uns três meses e. E antes dessa, eu devia ter passado outro tanto. O que eu mais vejo mesmo é televisão, porque essa está em casa, está fácil, está ligada. () Pelo menos uma novela que a gente sempre segue, então essa a gente vê mais. Não, não sei. Isso eu não tenho ideia. Eu acredito que eram salas suntuosas, como eram ### teatro> <ão não devia não se devia ter nada preparado já para isso. Eu acredito que eles usassem coisas já existentes e o. Que tinha em voga era o teatro. Acho que eram as mesmas salas, não sei. Mas sei de um cinema que eu ia muito, que era um cinema que tinha no Guarujá, que aliás ainda tem, só que agora Pouco diferenciado, já é quase um cinema de verdade. Era um cinema que tinha sido feito num hangar, ou coisa que vale uma garagem, um negócio desse tipo, que aquele, se não era igual aos do início, (riso) era um pouco mais primitivo. (riso) Aquele era realmente um cinema que caiu aos pedaços. A Gente entrava pelas paredes, porque as paredes eram perfeitamente permeáveis a pessoas, Quando a gente não tinha dinheiro para entrar pela porta da frente, porque também tinha uma porta da frente com bilheteiro e as coisas convencionais. Mas daquele do daquela época que eu me referi SPEAKER 2:  () Isso eu não sei, não tenho ideia. E hoje em dia, oh Carlos, quantas vezes que você vai ao cinema ()? Ah uh SPEAKER 3: Atualmente, pelo menos aqui em São Paulo, a gente observa uma um aprimoramento de de decoração, de requintes, coisas que a gente não vê em todo lugar. Aliás, eu não sei se isso é particular do cinema ou se isso acompanha mais ou menos o estilo arquitetônico da cidade de São Paulo, que se diferencia de outros centros grandes, por hum procurar amenizar um pouco esta agressividade de concreto que é uma cidade desse tamanho. E eu acho que isto também se reflete dentro da sala de espetáculos, como também na maior parte dos ambientes em que a gente possa se reunir. Ainda que seja para ficar no escuro, olhando para um lugar só. Uma outra coisa que você tinha sugerido antes era uma uma ideia de se isto é ou não semelhante aos teatros e. E é nitidamente diferente. Não sei se pela queixa eterna do pessoal que faz teatro, de que não tem verba nem para comprar roupa para os para os artistas, mas se essa queixa é só fingimento, eles fingem muito bem, porque as próprias casas acho que são bem precárias. Pelo menos a maioria delas. Lógico que tem algumas indivíduos que já fizeram aquários onde eles conseguiram criar muitos peixe. é suficiente para poder melhorar a casa ah ah. Esse teatro, lógico, que eu estou me referindo, está agora com uma decoração que não tem nada de extraordinário, mas pelo menos é é decente, é atapetado, e a maioria é um bocado rústica. Lógico, sem o exagero do balcão, mas a maioria SPEAKER 2:  é um bocado rústico. E no caso o cinema, como é que seria? SPEAKER 3: Ah, de um luxo bem maior. Acho ãh... Não, acho que não é só em luxo, não. É mesmo em aparelhagem de sistemas de som e e comodidades que pode oferecer... Atualmente quase não tem mais bombonière dentro de cinema, mas pelo menos você tem uma sala confortável, de espera, você tem uma iluminação SPEAKER 2: dentro da sala de projeção, que te permite andar... E o teatro, no caso, como é que seria? Você falou que eh é rustico né pelo que () rústico, mas esse rústico em que sen> SPEAKER 2: SPEAKER 2: SPEAKER 3: Bom, eu não voltei mais, não. Tem ah eu nunca vi nada encenado lá dentro. E mesmo assim, por exemplo, no Aquário,  SPEAKER 2: Já existe uma diferença entre teatro Aquarius e o e a encena> <ção do do Missa Leiga né. No no no aspecto físico mesmo do teatro né?. Uhum. Então, o que que apresen>  entre o Aquarius e o aspecto ()? Aspecto físico do teatro ou da encenação em si? SPEAKER 3: Do teatro mesmo. Do teatro, da arquitetura dos dois? Bom, um era um barracão, o outro é um teatro. Eu não sei onde é que está sendo encenada agora a Missa Leiga, mas quando eu vi era um barracão, pura e simplesmente. Que era uma fábrica que nem o pró nem o próprio dono quis continuar lá dentro e eles aproveitaram aquilo. Entendeu? () de teatro. um palco bastante limitado, onde eles procuraram adaptar, acho que, a cenografia da peça ao tamanho do palco, e a gente via que eles estavam meio espremidos, coisa que não tem na no... neste Jesus Cristo Superstar, por exemplo, onde ele lá se sente perfeitamente à vontade. uma entrada que a gente passa por caminhos os mais perigosos, subindo hum escada de madeira e andando por cima de tábua, dando a impressão de andaime de construção, para depois chegar lá dentro. No outro, não, uma entrada normal de uma casa de espetáculos razoá> que justifica, até certo ponto, o dinheiro que o o dono lá, como é que ele chama, uh como é que chama uh, o Altair Lima disse que gastou. Me sinto mais à vontade no outro do que neste da la> <á esta outra, uh o Superstar, eu a> Ela está querendo viver um pouquinho a sombra do Do Aquarius. Não sei também se vocês viram as duas para... E se  a opinião de vocês concorda com a minha. SPEAKER 2:  A minha é essa. () (riso) E no caso, assim, de... () falado no Balcão? Não sei se você assistiu ao Balcão. SPEAKER 3: Não. Não assisti. Nem assisti nada lá dentro. Apenas soube... por terceiros, como é que é lá, diz que é uma coisa bastan> SPEAKER 2: <á já assisti algumas peças assim. e continuo preferindo o tradicional. () É uma história que tem pé e tem cabeça, né? Ou eu não estou ainda preparado para ver o pé e a cabeça das peças mais modernas, o que também não é nem um pouco difícil, às vezes que eu sou meio relutante em entendê-las e aceitá-las. Mas eu prefiro outro estilo. Eu acho mais mais agradável da gente assistir. N> <ão sou favorável sempre à historinha Água com Açúcar, ou de filme americano, que acaba muito bem obrigado, mas não é isto. Acho que isso não não tem nada que ver, mas acho mais interessante uma história contada do começo ao fim. Uma das coisas que me dá mais raiva é eu chegar em casa para pegar um gibi e descobrir que meu filho rasgou a última página. Não tem muita graça, né? Uhum. E é mais ou menos o que eu acho dessas peças. ### Não, não é isso. É que a gente corre muito o dia inteiro, sabe? SPEAKER 2: E quando a gente chega em casa tem vontade de ficar. Certo (riso). () também né que tem que ir, pelo menos algum tempo. () SPEAKER 3: Não, porque tem cinema aqui perto. Que senão a gente acaba ficando acordado em casa sem descansar essas mesmas duas horas. Mas eu não tenho outra hora para conversar com a minha mulher. Então é mais importante. Costumo, costumo assistir. Em geral durante o jantar ou um pouco depois, para que a gente  também não roube mui> SPEAKER 2: Tem pouco a falar bem da televisão. (riso) Mas pode falar mal () (riso). SPEAKER 3: Não, isso é é claro. Acho que é mais ou menos indiscutível que esgotaram os temas para esse pessoal né. Ainda não apareceu nenhuma cabeça ou brilhante ou brilhantemente paga a ponto de poder produzir algo de diferente. Eles estavam calcados, quase sempre para as mesmas coisas, e buscando alguma coisa diferente para fa> Atualmente eu acho que já existe concorrência suficiente para nós produzirmos mais Volkswagen só. (riso) SPEAKER 2: Em termos assim de programas de de televisão, como é que você você falou de um tema () específico né. Alguns programas em geral. E nos intervalos assim do programa? O que tem SPEAKER 3: Se eu ve> SPEAKER 2: Os programas propriamente ditos? SPEAKER 3: Muito mais a imaginação. Por isso que eu digo que está faltando ou alguém genial ou alguém genialmente pago, porque os propagandistas ou os criadores de propaganda são bem pagos. Eles acabam produzindo. Lógico, um indivíduo que tem uma vida tranquila, que não tem os problemas, ele pode pensar no seu trabalho. Não sei se é verdade, mas os artistas vivem chorando de fome. SPEAKER 2: Você escolher algum programa, você escolhe alguma ãh ãh estação especial? É difícil SPEAKER 3: Achar alguma estação que tenha um programa de nível cultural bom. Depois que morreu o Silveira Sampaio, a televisão ficou meio vazia né, de qualquer coisa mais sóbria, mais mais profunda. Tem, de vez em quando, alguns debates interessantes hum. Mas, de uns seis meses para cá, eu estou debatendo muito mais quando eu trabalho com minha tese do que com a televisão. ### Vamos continuar falando a respeito de Formas de comunicação em massa. () É. O rádio, você me perguntou se eu escuto o rádio. Escuto. E é uma das coisas que eu tenho mais tempo para fazer dentre essas todas. Entre teatro, cinema, televisão e rádio, eu dedico muito mais tempo ao rádio. E não devo, isso eu não devo ao Detran. Errado a gente é obrigado a escutar um pouco mais do que aquilo que quer. Mas no rádio até que a gente tem boas coisas. Eu ouço um pouco a rádio Eldorado, que () tem uma programação agradável e um pouco mais séria daquele programa da Hebe Camargo. Dá para gente ter lá bom bons noticiários. Ouço também a a rádio a Jovem Pan, mas fora dos horários dela. (riso) Também lá tem bom um tem dois bons noticiários. Depende da época do ano. Tem uma época em que eu não não consigo escutar o programa, os noticiários, que vão dar sete horas em diante, porque essa hora já estou trabalhando. Tem outras que eu consigo até sete e meia escutar noticiário. mas aqui em casa também, eu escuto rádio de manhã, fazendo a barba e tal, sempre tem uma uma musiquinha caipira ou uma boa notícia para a gente escutar. Você deve ter percebido que eu procuro muito ãh tomar conhecimento do mundo, vamos assim dizer, através de de outras formas, porque também para jornal eu não tenho muito tempo. A gente vai se fossilizando de uma forma Incrível. Eu procuro lutar contra isso. Eu não tenho não estou vencendo a luta, não. Eu acho muito mal Isso () não ter tempo para ir a um cinema, não ter tempo para ir a um teatro, não ter tempo para ir visitar os outros. Não poder evoluir. Acho muito mal e. E sei que estou passando por uma fase e também não tenho escolha. Tenho que fazer assim mesmo. Acho que o ano que vem eu já vou poder me libertar disso. Até o fim desse ano eu tenho o prazo, não posso prorrogar para defender esse trabalho, então eu estou realmente apertado com ele. A> <í aí em diante eu vou vou liberar um pouco mais já. () Não, não é descansar, mas poder dedicar um pouco mais de tempo às outras coisas que são importantes. Lógico que eu não deixo de de fazer outras coisas também, mas não na intensidade que eu gostaria, não deixo de passear num fim de semana com meu filho quando eu posso, ir para um sítio com um amigo, mas também isso não é muito frequente, pelo menos não é tão frequente quanto eu gostaria que fosse. Eu Na minha vida de de estudante, fui um emérito passeador, sabe? Não passava Um fim de semana sem sair. Principalmente quando isso juntava com o feriado. Então era () bem mais mais. Só deixei disso quando comecei a a namorar a pro> <ão eles fizeram todo o esforço Ninguém se interessou. (riso) Saíram frustrado. Saíram. Devem ter saído, devem ter saído. Eu estava no ginásio, ou coisa assim, que faz muito tempo. Não é do tempo de vocês.