Inquérito SP_DID_104

SPEAKER 0: : Gravação do dia três de setembro de Mil novecentos e setenta e dois. Gravação do dia três de () E dois. Bom, então, Zé, uh uh você podia falar para nós um pouquinho sobre cinema e teatro, no caso né, que que nós havíamos combinado? Podia até fazer uma comparação, digamos, entre o cinema e o teatro. Hoje em dia ou então mais antigamente? (riso) Pode. Posso.

SPEAKER 3: : Posso e até fico muito à vontade para falar sobre mais antigamente. Me sinto mais ou menos à vontade porque conheço algumas particularidades do início do cinema, pelo menos aqui. Meu avô foi um dos primeiros indivíduos a fazer cinema em São Paulo. É, na época em que o cinema começava no Brasil também. Não foi, lógico, dos primeiros em ah no Brasil, mas em São Paulo foi dos primeiros, dos pioneiros. Nos tempos em que se fazia cinema no fundo de casa. E ele, lógico, como todo velhinho que só se lembra das coisas de muito tempo atrás, conta com uma riqueza de detalhes muito grande, as coisas que fazia, os artifícios que ele usava, O que ele chama de um sucesso extraordinário dos filmes que ele fazia?

Inf :elizmente, quase todos os filmes que ele fez pegaram fogo numa época. É sério isso, ele perdeu quase tudo o que fez nessa parte de cinema e. E ele agora vive das dos trechos pequenos que existem na Cinemateca. La no Rio de Janeiro eles fizeram recentemente umas reproduções, Não sei se é isso aí que chamam de copião ou não, mas fizeram uma cópia a partir de de originais muito estragados, e se não é isso o copião, pelo menos o copião dá bem aquela impressão de uma coisa ruim. E passaram, fizeram, gravaram e filmaram alguns trechos com ele, contando essas aventuras. Com ele e com o câmera que ele tinha naquela ocasião, que era também o sócio dele, era um sócio técnico. E uma das coisas que ele conta com uma glória muito grande foi que fizeram um filme de quarenta minutos, em uma manhã. Um filme a respeito de um indivíduo que saía de casa, bebia, voltava e encontrava a mulher chorando. Um dos dramas de toda a época do cinema. Esse filme eles ele conta como fez a a iluminação, usando folhas de zinco para servir de holofote, refletindo o sol e coisas assim, coisas bem primitivas. Dizem aqueles que entendem que ele tinha alguma arte naquele ou para aquele tempo. Lógico que agora os recursos são São outros, inclusive, o cinema está enveredando para um lado que a mim particularmente não agrada. Este tal do cinema novo, que praticamente a gente sai do cinema com dor de cabeça. E não aquele descanso que foi procurar. Eu, pelo menos, vou muito procurar descanso no cinema nas poucas vezes que vou. Ele também critica bastante isso. Lógico, já é de de outra escola. Agora, de cinema atual, francamente, eu muito pouco tenho visto, porque não não não dá tempo, a gente tem outras coisas para fazer. No momento, estou preocupado com uma tese que eu espero defender ainda esse ano. Então, todos as os minutos têm sido preciosos. Para recordar, a última vez que eu fui ao cinema, eu tenho a impressão que faz uns três meses e. E antes dessa, eu devia ter passado outro tanto. O que eu mais vejo mesmo é televisão, porque essa está em casa, está fácil, está ligada. () Pelo menos uma novela que a gente sempre segue, então essa a gente vê mais. Não, não sei. Isso eu não tenho ideia. Eu acredito que eram salas suntuosas, como eram ### teatro s naquela época, porque provavelmente as salas de espetáculo eram as mesmas. Aquele tempo, que eu imagino no tempo do cinema mudo ainda, era praticamente início de cinema. Ent ão não devia não se devia ter nada preparado já para isso. Eu acredito que eles usassem coisas já existentes e o. Que tinha em voga era o teatro. Acho que eram as mesmas salas, não sei. Mas sei de um cinema que eu ia muito, que era um cinema que tinha no Guarujá, que aliás ainda tem, só que agora Pouco diferenciado, já é quase um cinema de verdade. Era um cinema que tinha sido feito num hangar, ou coisa que vale uma garagem, um negócio desse tipo, que aquele, se não era igual aos do início, (riso) era um pouco mais primitivo. (riso) Aquele era realmente um cinema que caiu aos pedaços. A Gente entrava pelas paredes, porque as paredes eram perfeitamente permeáveis a pessoas, Quando a gente não tinha dinheiro para entrar pela porta da frente, porque também tinha uma porta da frente com bilheteiro e as coisas convencionais. Mas daquele do daquela época que eu me referi

SPEAKER 2: :  () Isso eu não sei, não tenho ideia. E hoje em dia, oh Carlos, quantas vezes que você vai ao cinema ()? Ah uh

SPEAKER 3: : Atualmente, pelo menos aqui em São Paulo, a gente observa uma um aprimoramento de de decoração, de requintes, coisas que a gente não vê em todo lugar. Aliás, eu não sei se isso é particular do cinema ou se isso acompanha mais ou menos o estilo arquitetônico da cidade de São Paulo, que se diferencia de outros centros grandes, por hum procurar amenizar um pouco esta agressividade de concreto que é uma cidade desse tamanho. E eu acho que isto também se reflete dentro da sala de espetáculos, como também na maior parte dos ambientes em que a gente possa se reunir. Ainda que seja para ficar no escuro, olhando para um lugar só. Uma outra coisa que você tinha sugerido antes era uma uma ideia de se isto é ou não semelhante aos teatros e. E é nitidamente diferente. Não sei se pela queixa eterna do pessoal que faz teatro, de que não tem verba nem para comprar roupa para os para os artistas, mas se essa queixa é só fingimento, eles fingem muito bem, porque as próprias casas acho que são bem precárias. Pelo menos a maioria delas. Lógico que tem algumas indivíduos que já fizeram aquários onde eles conseguiram criar muitos peixe. é suficiente para poder melhorar a casa ah ah. Esse teatro, lógico, que eu estou me referindo, está agora com uma decoração que não tem nada de extraordinário, mas pelo menos é é decente, é atapetado, e a maioria é um bocado rústica. Lógico, sem o exagero do balcão, mas a maioria

SPEAKER 2: :  é um bocado rústico. E no caso o cinema, como é que seria?

SPEAKER 3: : Ah, de um luxo bem maior. Acho ãh... Não, acho que não é só em luxo, não. É mesmo em aparelhagem de sistemas de som e e comodidades que pode oferecer... Atualmente quase não tem mais bombonière dentro de cinema, mas pelo menos você tem uma sala confortável, de espera, você tem uma iluminação

SPEAKER 2: : dentro da sala de projeção, que te permite andar... E o teatro, no caso, como é que seria? Você falou que eh é rustico né pelo que () rústico, mas esse rústico em que sen tido, assim?

SPEAKER 3: : Bom, eh... Rústico em que sentido? Rústico n o sentido de acomodações. Que você senta numa tábua dura, Rústico no sentido de decoração, porque você vê uma parede fria com, às vezes, alguma coisa aplicada simulando uma decoração. Algo assim muito moderno, que nada mais é do que a a falta de dinheiro que eles alegam ter. Porque, com certeza, se eles tivessem dinheiro de sobra, eles não deixariam daquele jeito. A moda do concreto aparente é muito bonita para quem quer gastar pouco. E e diferente também porque no cinema a gente vê bons espetáculos quase sempre, e no teatro nem sempre a gente vê. A gente tem aqui ainda uma carência muito grande de artistas, pelo menos de artistas de grande valor. Lógico que tem artistas de valor, mas não tem número suficiente para os espetáculos que estão por aí. Então tem que sobrar algum espetáculo com gente de nível inferior. Não que eu seja um profundo conhecedor de teatro, mas a gente sempre lê um pouquinho de jornal e de  vez em  quando a gente vai ao teatro. Pode sentir isso. Você acha que talvez seja por isso que se diz no caso né que o teatro () as moscas ()... As poucas vezes que eu fui não estavam as moscas, não. É? Não. Por isso que eu disse que eu não sei se o pessoal chora de verdade ou se encena também fora do palco. Eu acho que eles também encenam fora do palco. Não sei o quanto custa uma peça, não tenho a mínima ideia de qual é ah o lucro que eles possam ter em relação ao número de espectadores por noite, se tem dez por cento, vinte por cento ou cinquenta por cento da casa cheia que eles conseguem manter eh pagar as despesas. Não tenho a mínima ideia, mas sempre tem bastante gente. Ou talvez eu, como vou pouco, procure escolher peças que são as mais comentadas, as mais as mai s citadas como boas.  Aliás, quem escolheu a ()

SPEAKER 2: : minha mulher. (riso) Ela é que gosta mais disso do que eu. E essa carência de verba se reflete só na sala do espetáculo ou também no espetáculo em si? Não,

SPEAKER 3: :  eu acho que também no espetáculo em si a gente aqui tem uma tônica mais ou menos constante em um grande número de peças que são os cenários de imaginação, as situações criadas para situar um fato independente de de recursos materiais, que também é uma técnica válida e muito bacana, sem dúvida, mas quem sabe não se chegou a ela por causa disso. Não sei. Não sou e nem pre

SPEAKER 2: : tendo ser crítico de teatro. (riso) E no caso assim do teatro, assim você teve o oportunidade de de entrar em contato com um teatro tipo mais tradicional, um outro assim de tipo mais moderno? Tive, eu fui ver

SPEAKER 3: : ### Aqui algumas peças que a gente pode chamar das mais mais modernas. Desde o do Aquários até a A Missa Leiga, que gostei bastante, e já fui tam

SPEAKER 2: : bém assistir ópera. E então,() seria muito interessante você fazer assim uma comparação entre os dois tipos de espetáculo. Olha, eu acho que é meio difícil co

SPEAKER 3: : mparar, porque são são coisas diferentes. Vistas... inclusive em em lugares diferentes. Eu vi a ópera que eu assisti assisti em Roma, num numa numa ruína, a céu aberto ãh. Foi uma encenação da Aida, que é uma ópera maravilhosa. Você que tem sangue italiano sabe disso. (riso) E com com um elenco quando você não consegue distinguir propriamente interpretação, porque isso chega a ter vezes com mais de cem pessoas no palco, fora os animais, elefantes e cavalo. Então, você não tem propriamente interpretação para você poder comparar. Você tem um cenário que é, como o teatro clássico, muito estanque. Ela Ah ele segue aquela unidade de lugar-tempo-espaço né, acho que é isso. Tempo, ação e E espaço. É uma coisa distinta. Então, você não tem a as mesmas variações que teria num teatro moderno e. E lá, fundamentalmente, é é a coreografia e a e a música

SPEAKER 2: : () Algum algum eh efeito especial para... ou algum meio especial para... Para? Para se valer dessa música que eu ()? Não

SPEAKER 3: : Não. Uma boa orquestra, bons cantores e um sistema de som muito bom para poder transmitir aquilo para um lugar de céu aberto que precisa ser realmente muito bom. Porque a gente tem... tinha lá, não não não sei assim, avaliar com precisão, mas a gente devia ter lá pessoas a quase cem metros do palco, com boa visibilidade. Lógico, aquilo ali é imenso e escutando muito bem. Então, tem coisas especiais, mas nesse sentido. Eles não têm nada especial de encenação para chamar a atenção, né? É um... Tende a transcorrer de uma ópera que eu acho classicamente representada, não não tinha nada de diferente. Lógico, então vi outra outra encenação da Aida, mas para que uma ópera seja encenada, eu acho que ela precisa ser religiosamente do mesmo jeito, a não ser que seja uma adaptação, uma modernização que se pode fazer perfeitamente e que tem até quem faça. Agora, já, por exemplo, a Missa Leiga é uma coisa completamente diferente. que eu tive a oportunidade de ver aqui, neste prédio que está, se não está caindo, está quase caindo, (riso) que era onde eles começaram a encenar no prédio da Lacta e. Um lugar fechado, quente, até certo ponto aconchegante, rústico, onde a gente tinha realmente banco de madeira, e mais falada do que propriamente cantada. Também com coreografia, mas já uma uma coreografia interpretativa, não de movimentação só, como é no caso da Aida. Então, eu acho que são coisas difíceis de se comparar. Se você me perguntasse qual tinha me agradado mais, eu ia te dizer que era a ópera. Mas isso não é comparar, isso é uma interpretação subjetiva.

SPEAKER 2: : Conservam ainda a aquela arquitetura tradicional, et cetera.  Por exemplo, Teatro Municipal né. O que que apresenta de diferente no caso, em relação a essas () essas encenações ()?

SPEAKER 3: : Eu só fui ao Teatro Mu nicipal. Para assistir à so lenidade de colação de grau. (riso) E, assim mesmo, não há pouca, porque é difícil a gente conseguir um lugarzinho lá den tro. A última que eu lembro Foi a L inha. (riso) E não vol Bom, eu não voltei mais, não. Tem ah eu nunca vi nada encenado lá dentro. E mesmo assim, por exemplo, no Aquário, 

SPEAKER 2: : Já existe uma diferença entre teatro Aquarius e o e a encena ção do do Missa Leiga né. No no no aspecto físico mesmo do teatro né?. Uhum. Então, o que que apresen  entre o Aquarius e o aspecto ()? Aspecto físico do teatro ou da encenação em si?

SPEAKER 3: : Do teatro mesmo. Do teatro, da arquitetura dos dois? Bom, um era um barracão, o outro é um teatro. Eu não sei onde é que está sendo encenada agora a Missa Leiga, mas quando eu vi era um barracão, pura e simplesmente. Que era uma fábrica que nem o pró nem o próprio dono quis continuar lá dentro e eles aproveitaram aquilo. Entendeu? () de teatro. um palco bastante limitado, onde eles procuraram adaptar, acho que, a cenografia da peça ao tamanho do palco, e a gente via que eles estavam meio espremidos, coisa que não tem na no... neste Jesus Cristo Superstar, por exemplo, onde ele lá se sente perfeitamente à vontade. uma entrada que a gente passa por caminhos os mais perigosos, subindo hum escada de madeira e andando por cima de tábua, dando a impressão de andaime de construção, para depois chegar lá dentro. No outro, não, uma entrada normal de uma casa de espetáculos razoá que justifica, até certo ponto, o dinheiro que o o dono lá, como é que ele chama, uh como é que chama uh, o Altair Lima disse que gastou. Me sinto mais à vontade no outro do que neste da la ta. Que, aliás, nem sequer a censura permitiu que continuasse né. Eles já já caíram fora. Não me lembro desse detalhe. Eu gostei Das duas. Ou das três, já que eu citei essas três. A cho que o ponto alto delas, dessas três, ainda foi Missa Leiga, apesar do... o teatro fisicamente ser inferior. Não tenho não tenho dificuldade nenhuma para entender. Aliás, só não entendo quem não tem nem um pouquinho de coragem de olhar para dentro. Não sei se vocês viram. Mas, se não viram, vejam, porque vale a pena. É uma boa bofetada que a gente  leva. Faz a gente realmente pensar um pouco no mundo. Para mim, conseguiu mais essa transmitir alguma coisa do que as outras uh. O Aquarius, sem dúvida, é uma uma revolução no mundo do teatro moderno. Revolução agradável. Princi palmente por causa das músicas que fa fizeram sucesso pela peça antes dela. J á esta outra, uh o Superstar, eu a Ela está querendo viver um pouquinho a sombra do Do Aquarius. Não sei também se vocês viram as duas para... E se  a opinião de vocês concorda com a minha.

SPEAKER 2: :  A minha é essa. () (riso) E no caso, assim, de... () falado no Balcão? Não sei se você assistiu ao Balcão.

SPEAKER 3: : Não. Não assisti. Nem assisti nada lá dentro. Apenas soube... por terceiros, como é que é lá, diz que é uma coisa bastan te rústica Até certo ponto, impressionante né. Não não sei, não fui, nunca fui lá dentro. E, assim, ho hoje em dia, no caso você fa

SPEAKER 2: : lou que teve a oportunidade de ver duas peças né, quer dizer, pelo menos aqui em São Paulo, que é o Superstar, né, agora, e Missa Leiga. Do ponto de vista assim da representação, no caso existe hoje, uma divisão  assim de papéis () para os artistas? Determinado artista tem um determinado papel considerado importante ou não e?

SPEAKER 3: : Não. Pelo menos nesse tipo de de representação, eu acho que não. Eu acho que todos fazem parte de um todo importante. Lógico que tem aqueles que têm o privilégio de ter uma voz um pouco melhor, ou uma dicção um pouco mais nítida, ou serem musicalmente um pouco privilegiados em relação aos outros, e esses acabam tendo um papel de destaque por força da necessidade de ter alguém nessas condições. Mas, a maioria das vezes, o que a gente nota é que todos fazem parte de um todo, com exceção dos dos donos da bola, que se eles não jogarem na linha, acaba o jogo de futebol porque eles não jogam no gol. Mas, de uma maneira geral e, são todo  do mesmo nível. E não são poucos.

SPEAKER 2: : E assim, a reação do público, em rela em geral assim, com respeito a essas interpretações? Qual tem sido? Bom,

SPEAKER 3: : Do público, a  minha? Bom, sim, a sua, e em geral. É. É a minha. Eu sou um indivíduo meio rebelde a esses modernismos muito grandes, sabe? Eu sou um pouco conservador, um pouco tradicionalista. Acho bonito, não tenho dúvida, mas ainda prefiro a Aida. Acho que esta coisa que a gente às vezes vê, portagens ou em comentários né de gente que se levanta e aplaude de pé. Não tenho dúvida, tem a sua razão de ser, mas deve ter um bom quinhão de entusiasmo por aquilo que é diferente, simplesmente. Nem sempre isso pode refletir uma... um entusiasmo natural. Eu acho que tem um pouco de de contaminação de moda. ###

SPEAKER 2: : Eu acho, não sei. E sem ser a ópera Aida, você não não assistiu  nenhum teatro assim dito para (). Você poderia comparar com () teatro ()?

SPEAKER 3: : Assisti j á já assisti algumas peças assim. e continuo preferindo o tradicional. () É uma história que tem pé e tem cabeça, né? Ou eu não estou ainda preparado para ver o pé e a cabeça das peças mais modernas, o que também não é nem um pouco difícil, às vezes que eu sou meio relutante em entendê-las e aceitá-las. Mas eu prefiro outro estilo. Eu acho mais mais agradável da gente assistir. N ão sou favorável sempre à historinha Água com Açúcar, ou de filme americano, que acaba muito bem obrigado, mas não é isto. Acho que isso não não tem nada que ver, mas acho mais interessante uma história contada do começo ao fim. Uma das coisas que me dá mais raiva é eu chegar em casa para pegar um gibi e descobrir que meu filho rasgou a última página. Não tem muita graça, né? Uhum. E é mais ou menos o que eu acho dessas peças. ### Não, não é isso. É que a gente corre muito o dia inteiro, sabe?

SPEAKER 2: : E quando a gente chega em casa tem vontade de ficar. Certo (riso). () também né que tem que ir, pelo menos algum tempo. ()

SPEAKER 3: : Não, porque tem cinema aqui perto. Que senão a gente acaba ficando acordado em casa sem descansar essas mesmas duas horas. Mas eu não tenho outra hora para conversar com a minha mulher. Então é mais importante. Costumo, costumo assistir. Em geral durante o jantar ou um pouco depois, para que a gente  também não roube mui to tempo. Frequentemente não depois de nove hora

SPEAKER 2: : Tem pouco a falar bem da televisão. (riso) Mas pode falar mal () (riso).

SPEAKER 3: : Não, isso é é claro. Acho que é mais ou menos indiscutível que esgotaram os temas para esse pessoal né. Ainda não apareceu nenhuma cabeça ou brilhante ou brilhantemente paga a ponto de poder produzir algo de diferente. Eles estavam calcados, quase sempre para as mesmas coisas, e buscando alguma coisa diferente para fa zer. Ainda não acharam. bons artistas maus aprovei mal aproveitados e maus artistas muito aproveitados, no sentido de muito tempo (). De coisa boa.

SPEAKER 2: : E o que que você prefere assim?

SPEAKER 3: : Noticiário. É o jornal mais curto da gente ler. (riso) E... Um filme, de vez em quando, um espetáculo diferente que aparece, mas de (), e uma novela que eu assisto religiosamente, quando não estou trabalhando.

SPEAKER 2: : E no caso assim, do aparelho de televisão mesmo né, você acha que aqui, por exemplo, a gente tem bons aparelhos? Não sei, o meu não é nacional. Ah, não? (riso) Mas acho que a gente tem sim.

SPEAKER 1: : Por que não? (riso)  Não, eu

SPEAKER 3: : Acho que a gente tem. Sim (). Ele não pode se queixar mui Atualmente eu acho que já existe concorrência suficiente para nós produzirmos mais Volkswagen só. (riso)

SPEAKER 2: : Em termos assim de programas de de televisão, como é que você você falou de um tema () específico né. Alguns programas em geral. E nos intervalos assim do programa? O que tem

SPEAKER 3: : Se eu ve jo as propagandas, vejo. Vejo sim. Tem algumas que são geniais. Aliás, a melhor hora de televisão, em geral, são os intervalos. (riso) Tem coisas muito interessantes. Tem também aquelas que nun ca vão sair da lojas  Marabraz, conhecem? (riso) Tem tem o tem propagandas ge

SPEAKER 2: : Os programas propriamente ditos?

SPEAKER 3: : Muito mais a imaginação. Por isso que eu digo que está faltando ou alguém genial ou alguém genialmente pago, porque os propagandistas ou os criadores de propaganda são bem pagos. Eles acabam produzindo. Lógico, um indivíduo que tem uma vida tranquila, que não tem os problemas, ele pode pensar no seu trabalho. Não sei se é verdade, mas os artistas vivem chorando de fome.

SPEAKER 2: : Você escolher algum programa, você escolhe alguma ãh ãh estação especial? É difícil

SPEAKER 3: : Achar alguma estação que tenha um programa de nível cultural bom. Depois que morreu o Silveira Sampaio, a televisão ficou meio vazia né, de qualquer coisa mais sóbria, mais mais profunda. Tem, de vez em quando, alguns debates interessantes hum. Mas, de uns seis meses para cá, eu estou debatendo muito mais quando eu trabalho com minha tese do que com a televisão. ### Vamos continuar falando a respeito de Formas de comunicação em massa. () É. O rádio, você me perguntou se eu escuto o rádio. Escuto. E é uma das coisas que eu tenho mais tempo para fazer dentre essas todas. Entre teatro, cinema, televisão e rádio, eu dedico muito mais tempo ao rádio. E não devo, isso eu não devo ao Detran. Errado a gente é obrigado a escutar um pouco mais do que aquilo que quer. Mas no rádio até que a gente tem boas coisas. Eu ouço um pouco a rádio Eldorado, que () tem uma programação agradável e um pouco mais séria daquele programa da Hebe Camargo. Dá para gente ter lá bom bons noticiários. Ouço também a a rádio a Jovem Pan, mas fora dos horários dela. (riso) Também lá tem bom um tem dois bons noticiários. Depende da época do ano. Tem uma época em que eu não não consigo escutar o programa, os noticiários, que vão dar sete horas em diante, porque essa hora já estou trabalhando. Tem outras que eu consigo até sete e meia escutar noticiário. mas aqui em casa também, eu escuto rádio de manhã, fazendo a barba e tal, sempre tem uma uma musiquinha caipira ou uma boa notícia para a gente escutar. Você deve ter percebido que eu procuro muito ãh tomar conhecimento do mundo, vamos assim dizer, através de de outras formas, porque também para jornal eu não tenho muito tempo. A gente vai se fossilizando de uma forma Incrível. Eu procuro lutar contra isso. Eu não tenho não estou vencendo a luta, não. Eu acho muito mal Isso () não ter tempo para ir a um cinema, não ter tempo para ir a um teatro, não ter tempo para ir visitar os outros. Não poder evoluir. Acho muito mal e. E sei que estou passando por uma fase e também não tenho escolha. Tenho que fazer assim mesmo. Acho que o ano que vem eu já vou poder me libertar disso. Até o fim desse ano eu tenho o prazo, não posso prorrogar para defender esse trabalho, então eu estou realmente apertado com ele. A í aí em diante eu vou vou liberar um pouco mais já. () Não, não é descansar, mas poder dedicar um pouco mais de tempo às outras coisas que são importantes. Lógico que eu não deixo de de fazer outras coisas também, mas não na intensidade que eu gostaria, não deixo de passear num fim de semana com meu filho quando eu posso, ir para um sítio com um amigo, mas também isso não é muito frequente, pelo menos não é tão frequente quanto eu gostaria que fosse. Eu Na minha vida de de estudante, fui um emérito passeador, sabe? Não passava Um fim de semana sem sair. Principalmente quando isso juntava com o feriado. Então era () bem mais mais. Só deixei disso quando comecei a a namorar a pro fessora aí e tal. Mas era  man tinha uma rédea um pouco mais

SPEAKER 2: :  curta. Mesmo assim a gente fugia. () É. E voltando um pouco a ao cinema. Nós queremos saber assim,  que tipo de filme você

SPEAKER 3: : Em geral, eu prefiro o que ela quer ver. (riso) Mas se for assim, é. Porque ela é quem se ressente mais disso. No fim, eu estou ocupado e ela não. Uhum. Ela está esperando que eu me desocupe. (riso) Então, eh eh É um pouco ruim também para ela nesse sentido. Mas quando eu tenho a suprema felicidade de escolher, eu procuro escolher um filme policial, Uma boa comédia. Gosto desse tipo de cinema. E do bang-bang também né. Que agora tem muito pouco né. Todo o bang-bang atualmente eh é falsificado né, quase tudo italiano. É (). A gente não tem muito o que ver. Ver Um, () os outros todos são iguais. Uma hora e vinte e cinco, uma hora e vinte e sete. São as variações. Mas eu gosto muito de ver filme policial, filme que obriga a gente a pensar, mas pensar no no bom sentido. Não pensar para poder entender o que estava se passando na tela, feito os filmes que que ela gosta um pouco de ver, (riso) lá da sala, lá do do do Belas Artes. Pensar em em procurar resolver um um um problema da Agatha Christie, uma coisa assim desse tipo. Que, aliás, ela também lançou () uma peça, como é que chama? Roteiro, né? Genial. Aquilo... É teatro clássico, no meu modo de ver. É uma história que tem uma sequência muito nítida, com unidade de de... Como é que é? Tempo, lugar e espaço? Não. Tempo, lugar e ação. Tempo, lugar e ação. Com alguma pinceladinha... (riso) Hum. () (riso) É, com alguma pinceladinha a gente tem. Eu já tive chance, pelo menos, de ter visto coisas muito bonitas da comédie française. Eu não vi. Não (riso) Eles vieram aqui, fizeram uma demonstração que era o teatro, que era a comédie française, para que a gente pudesse se interessar. Ah eu subi no Pasteiro, lá do lado do Rosário, e lá eles dão uma ênfase muito grande à francesa né. Ent ão eles fizeram todo o esforço Ninguém se interessou. (riso) Saíram frustrado. Saíram. Devem ter saído, devem ter saído. Eu estava no ginásio, ou coisa assim, que faz muito tempo. Não é do tempo de vocês.