Inquérito SP_DID_079

SPEAKER 2: : E foi solicitada uma entrevista, por intermédio de uma aluna, de um cursinho. Equipe e o cursinho. Para que se tomasse conhecimento do português falado por várias pessoas nascidas em São Paulo, por várias categorias de pessoas. No meu caso, deve ser a categoria universitária, né? Certo, nó nós estamos fazendo só com pessoas ãh de nível universitário. Ah Bem. Então são só pessoas de nível universitário. No meu caso, teria que ser pau listano. Eu sou paulis tano, nascido no bairro do Pari. e pedem para que eu fale sobre as condições de ensino na minha época. Eu a Eu acredito haver várias diferenças nas condições de ensino na minha época e na época atual. A principal diferença é a aproximação hoje que existe entre os professores e os aluno. que não existia de maneira nenhuma na época em que eu estudei. A começar do curso primário, nós, os alunos, eu particularmente, considerava o professor como um ser até diferente da gente. Como eu sempre nutri muito respeito pelos meus pais, respeito que parece também não haver muito hoje, encarava o professor ou os professores quase da mesma maneira que eu encarava meus pais. Chegava a achar até que eles não eram não eram seres huma nos. De tanto respeito que eu tinha por eles. E o que eles diziam em classe, para mim, era lei. Meu ver, isso era uma forma errada de de encarar o professor e de o professor encarar o aluno. Porque inibia o aluno. E o aluno ficava às vezes a sem condições de se dirigir ao professor por por questões de medo. E não participava da vida escolar como hoje participam os alunos. Agora, houve mudanças no ensino. Isso estou me referindo a ao curso primário. Certo. No curso secundário, eu continuava e os meus colegas encarando os professores da mesma maneira. E é uma coisa que cala profundamente no espírito da gente. Nunca mais a gente larga, deixa essa maneira de ver as coisas como nos foi ensinada na infância. Até na faculdade eu ainda encarava os professores dessa maneira, se bem que na faculdade o ambiente é outro. E já quando eu fiz a faculdade, haviam algumas diferenças, os professores ou havia alguma diferença, já que vocês estão procurando ver a maneira de falar o português. Os professores já tratavam os alunos com uma com um pouco mais liberdade, davam um pouco mais de liberdade, tentavam conversar com a gente, mas nós nos dirigimos a eles mais fraternalmente, vamos dizer assim. Mas, mesmo assim, uh havia um certo respeito, muito mais do que existe hoje. Há uma diferença fundamental, é nesse ponto que eu queria tocar exatamente. Hoje, o aluno participa muito mais, isso faz parte da evolução, participa muito mais do da aula que o professor dá, do curso que ele faz. Ele participa ativamente. Por quê? Principalmente, ele não participa, ele não estuda sozinho. Geralmente fazem grupos de estudo. O estudo é mais na base de pesquisa. Lá na nossa época havia pesquisa, mas pesquisa individual. Hoje é pesquisa em grupo. Eu tenho Eu sou casado, a minha mulher atualmente está fazendo uma faculdade, está fazendo a faculdade de filosofia. O curso que ela faz é o curso de línguas e as línguas são português e inglês. E ela sempre está com trabalhos para serem feitos que os professores pedem e e sempre Esses trabalhos são feitos por mais de seis alunos, ou até seis alunos, ou às vezes até mais (tosse). E eu acho que o aproveitamento do aluno nessa maneira, nessa maneira de ensinar, é bem melhor e bem maior do que na minha época, que cada um fazia por si, que parecia um soldado isolado numa batalha. Hoje em dia não, hoje em dia está bem mais fácil e bem mais objetivo o en

SPEAKER 1: : sino. Certo. E existem espaços assim isolados na sua vida de estudante, que você puder contar? E relacionamento  entre os colegas e professores em aula.

SPEAKER 2: : Bem, entre estudan tes existe tanta coisa que acontece, mas existem coisas que marcam a a existência de um estudante. Eu acho que o que mais marca a existência de um estudante é a época do vestibular. Porque o estudante, o brasileiro, principalmente e principalmente na minha época, e eu tenho que defender um pouco a minha época né agora, é que naquele tempo parecia ser um pouco mais difícil ingressar na faculdade, devido às poucas opções que nós tínhamos. Hoje em dia se faz um exame generalizado, E parece que estão querendo fazer um exame para todas as faculdades vestibular. Lá na minha época, o indivíduo era obrigado a prestar um exame para uma determinada faculdade. E aquela faculdade tinha, por exemplo, na minha época, seiscentos candidatos para cem vagas. Dava uma média de seis para um. E o aluno que não passasse naquele exame, naquele ano praticamente estaria riscado dos vestibulares. Não havia as opções. Hoje em dia, o vi o indivíduo parece que tem duas, três, quatro opções. Né eu me isso eu não estou bem a par. Mas tem. Na minha época, não. E no vestibular, quando a gente verificava que tinha sido aprovado, era realmente uma mudança na vida do aluno, do indi do indivíduo. Porque ele sabia que se ele não passasse, ele teria que passar mais um ano estudando ou então mudar de rumo. Ia procurar outra coisa para fazer, ia trabalhar, se a condição financeira dele não fosse boa. Ou então, se fosse razoável, ele procuraria ingressar no outro ano, mas teria que esperar um ano a mais. Hoje em dia, eu sei que existem mais faculdades e mais exames vestibulares. Inclusive, no meio do ano, coisa que não existia na minha é Bem, mas uma coisa que você me perguntou, uma coisa que marcou a existência do estudante foi e exatamente ser aprovado no vestibular. Que a Depois de tanta luta, depois de tanto sacrifício e tanto nervosismo que a gente passa, verificar o nome da gente na lista de aprovados é realmente uma grande satisfação. Depois o trote, aquelas coisas todas que ainda existem hoje, eu acho que existe o trote ainda hoje.

SPEAKER 1: : Então, foi realmente a... E o trote naquela época e era pesado? É o

SPEAKER 2: : O trote sempre foi pesado, principalmente nessas faculdades da Universidade de São Paulo, eles procuravam marcar bem a entrada do estudante na na vida universitária né.

SPEAKER 1: : E quem dava os trotes ()? Sempre os tro

SPEAKER 2: : tes foram dados pelos alunos de mais velhos, os alunos de graus superiores. Agora, os que se excediam mais eram exatamente os alunos do do ano imediatamente superior ao ao daqueles que entravam, porque era o recalque de ter levado o trote no ano passado. Mas isso tudo era muito interessante, muito engraçado, alguns se excediam, mas no fim dava tudo certo, terminava tudo em baile de calouros, que geralmente todos fazem, e todos amigos.

SPEAKER 1: : Desde o curso primário, () assim como é que era o ensino? Como é que era... Que condições funcionava... Funcionava o ensino naquela época. Porque, às vezes, é uma época bem distante para nós. ()

SPEAKER 2: : No curso primá rio,  o ensino era da seguinte  forma. O a luno tinha três horas de aula e tinha uma professora só. desde o primeiro dia de aula do do ano letivo até o final. E ele ficava em contato só com aquela professora e tinha três horas de aula só com aquela professora, que dava todas as matérias. No meu caso era aritmética, linguagem, e linguagem seria a maneira de escrever ou a maneira de de escrever o português, história do Brasil, Eu não me lembro se havia mais alguma ciências, trabalhos manuais, mas tudo muito mal orientado, eu achava. Mal orientado. O aluno não aprendia direito em nenhuma dessas coisas. E aqui vai uma crítica que eu gostaria de fazer, já que estão me dando a oportunidade de falar sobre os professores em matemática que eu ti Eu acho que a matemática ela é uma das matérias mais fascinantes que existe em todo o currículo, de qualquer curso, de qualquer escola, mas ela é pessimamente ensinada no Brasil. Não sei se em outros países também. Tanto que ela chega a ser um bicho-papão para para os alunos. Oh Aí vai um bicho-papão para quem quer expressões idiomáticas. Ela chega a ser um bicho-papão Porque ela é mal ensinada e e geralmente ela é ensinada da seguinte maneira, o professor entra, dá a matemática como se ela fosse uma matéria descritiva. Matemática é uma uma matéria que não pode ser decorada absolutamente, é uma matéria que exige raciocínio. Depois chega num exame ou numa prova, o professor pede um uma a resolução de um problema. Aí o aluno não está habituado com aquele raciocínio. Ele não consegue resolver em uma hora uma questão que às vezes o professor, em três horas de aula, leva para explicar. E os professores realmente não foram bons em matemática. Hoje eu não sei como é que estão, mas na minha época não foram bons. Eles Eles incutiam mais medo nos alunos do que propriamente ensinavam matemática. E aí está uma crítica que eu queria fazer. É uma coisa que eu sempre gostei de falar.

SPEAKER 1: : tema de notas, como é que era naquela época? Aí precisa

SPEAKER 2: : Ver se você quer saber no primário, porque o primário era bem diferente do curso secundário.

SPEAKER 1: : Pode falar dos dois, fazendo uma comparação? Bem, o primário

SPEAKER 2: : No primário, aquelas professoras gordas que a gente tinha, elas davam nota por simpatia, por beleza, por cor dos olhos, um pouco também pelo conhecimento do aluno, e um pouco também pelas influências externas dos pais dos alunos e do diretor (riso). Agora, no ginásio, já o sistema mudava muito. Já havia um professor para cada matéria, embora também houvesse a mesma distância que existia no () no grupo grupo escolar né. Eram quatro anos de primário, eram quatro anos de ginásio, eram três anos de científico ou de clássico, que naquela época havia uma divisão científico e clássico. Científico para aqueles que iriam seguir determinadas carreiras e clássico para aqueles que iam para outras carreiras. O sistema de no gi o ginásio era esse. Havia provas mensais e provas bianuais né, deve ser bianuais, duas vezes por ano né. Certo, (). O aluno era aprovado juntando as médias das provas mensais, juntando as as

SPEAKER 1: :  média das provas anuais. Certo e se ele não passasse nessas provas, ele ficava reprovado?

SPEAKER 2: : Se ele não passasse, ele teria uma chance de segunda épo Se ele não passasse na segunda época, ele seria reprovado. Hoje em dia eu não sei como é que está o ensino. Pelo menos na faculdade já havia uma certa diferença. O aluno, ele poderia ser reprovado em uma matéria ou duas matérias até. Ele ficaria dependendo dessas matérias e iria para o segundo ou para o terceiro ano ou para o quarto ano, conforme o ano que ele estivesse frequentando. Mesmo, na faculdade, na época em que eu cursei, eu cursei a fa eu entrei na faculdade em mil novecentos e cinquenta e quatro, no ano do quarto centenário. Os professores, que ainda ocupavam as cátedras, Eles eram aqueles velhos medalhões, entendeu? Eram velhos em todos os sentidos, né? Na idade e na mentalidade. Então, eles realmente faziam questão absoluta de manter uma certa distância para com os alunos. Mas já haviam os assistentes que vinham com outra mentalidade. Eu não sei como é que é hoje. nas faculdades que vocês estudam, mas naquele tempo tinha um professor catedrático e alguns assistentes. () Eles faziam concursos para livre docentes, outros ficavam como auxiliares, et cetera. Esse já tinha uma mentalidade um pouco mais nova. Mas a cadeira era orientada pelos velhos. E eles mantinham uma certa distância. E u chego até a a achar que nem tinham muito interesse em ensinar tudo para os alunos, entendeu? () (riso) É, e Existe uma expressão muito comum nas faculdades de medicina e odontologia, porque são faculdades que ensinam uma profissão que tem que ser praticada depois, em que alguns professores escondem o leite, entendeu? E algumas técnicas mas que que resolveria um caso com mais facilidade, eles procuram esconder para eles próprios. Isso, eu acredito que possa fazer uma pessoa egoísta. Agora, um professor que não fosse egoísta, e existem muitos, ele jamais tomaria uma atitude

SPEAKER 1: :  dessa. E como é que foi quando terminou a faculdade? Be

SPEAKER 2: : o término de uma faculdade acho que é igual para todo mundo. () Nessa parte de festa ou de festa. Mas eu queria me referir mais ao igual para todo mundo, o fato do o aluno se formar, depois não saber bem o que vai fazer. Ele... No meu caso, e no caso de muitos colegas que estudamos o dia e não trabalhamos durante o curso, enfrentar a vida comercial não foi muito fácil. E é uma das deficiências das faculdades nossas, não digo das de filosofia, porque elas não têm obrigação, eles não eles não estão formando indivíduos que vão entrar para um ramo comercial. mas o o médico, o dentista, o advogado, teriam obrigatoriamente que ter noções de comércio. Não esse comércio de feira, nem de mercado, mas um comércio um um pouco mais refinado, mas tem que ter noções de como manejar o dinheiro. De como empregar a profissão dele de uma maneira ética também. sem ferir a ética, ganhar dinheiro, certo. Essa é uma falha fundamental nas nossas profissões. Eu acredito que o dentista, o médico, ele só aprende isso depois de quinze anos de de profissão. Eu estou atualmente com dezesseis anos de formado. (riso) Aprendeu recentemente. Nem sei se aprendi ainda. Porque aí existem muitos fatores que inf que influenciam a a maneira pela qual a gente pode viver ou ganhar dinheiro dentro da profissão. Mas ãh você falou que houve uma festa e tal, podia contar como é que foi a festa? Bem, é tradição na nossa faculdade, no último dia de aula, no último exame, se contratar uma bandinha e e fazer a festa particular só daquela classe que fez que que terminou o exame. E dão um banho de barro, banho de água, banho do que tiver hum ah perto das mãos, enten deu? Quer dizer, é uma farra de estudantes, é eu acho que é a última farra de estudante. É o final da vida de estudante e o começo da vida profissional. Isso nós fizemos. Depois houve o... evidentemente, a colação de grau. E, claro, o baile de forma tura. Tudo isso, eu acho que nem merece ser muito comentado, porque eu, naquela época, gostava bastante de baile e costumava ir em final de ano, assim, uns vinte bailes de formatura, mais ou menos, e eu não acho que o meu diferiu dos ou tros. O meu foi mais ou menos igual. Transcorreu tudo bem, não morreu ninguém, não houve briga.

SPEAKER 1: : E, voltando ao assunto de de vestibular, como é que era naquela época a preparação para entrar na faculdade? É, existiam os famosos cursinhos, só que eram poucos. Eram poucos

SPEAKER 2: : E, Evidentemente, a gente não... nós não tínhamos muita opção. Mas era obrigado, nós éramos obrigados a fazer os cur eram casos raros, os que entravam diretamente do científico para a faculda de. Eu   fiz o cursinho. Fiz o cur sinho, prestei o exame  e fui aprovado. Eu acredito que, como eu já disse, o aluno parece que encarava mais seriamente do que agora o estudo. Eu não posso basear muito na minha pessoa né, porque eu tive um tipo de criação ortodoxa. Embora meu pai fosse liberal, mas eu eu era or eu fui criado de maneira ortodoxa. Aquele regime paternalista, entendeu? E sempre prestando satisfações aos meus pais de todos os meus atos. Fazia questão de fazer isso. Tenho uma profunda admiração pelo meu pai e pela minha mãe. Mas hoje eu eu acho que está tudo muito diferente. Eu chamava meu pai de senhor e minha mãe de senhora. Hoje os os filhos chamam de você. Não que isso tenha alguma coisa de errado. Mas para mim tinha. Agora, não que E não vou obrigar meu filho a me chamar de... Senhor, absolutamente, se ele achar que tem que ser me chamar de você, eu não eu vou fazer o possível para não ser um pai quadrado. Embora isso seja quase impossível mesmo, porque sempre haverá o choque de gerações. Sempre haverá. Hoje em dia, nós observamos costumes sociais di diferentes dos costumes sociais da minha é E na minha época eram diferentes da época dos meus avós. E na época dos meus avós também eram diferentes dos meus bisavó s. Quer dizer que esse choque de gerações sempre existirá. O mundo evolui ou involui. Eu não sei se isso é evolução ou involução. Mas hoje em dia se vê muita coisa que não se podia admitir na minha época. Existem muitas diferenças. O estudante da minha época era um estudante de grava ta por exem Ele achava que a fa a e scola era um ambiente de tanto respeito que ele ia de gravata e eu ia estudar de gravata. Eu ci eu cito a gravata porque a gravata é um não é um objeto, é um é um abjeto, né? como é o guarda-chuva também. O guarda-chuva (riso). Mas o o estudante encarava a escola como quase como o católico encara a igreja. Havia mui muita diferença, muito respeito entre os mestres, entre os próprios alunos. Isso não não não não defendo essa maneira de ser. Eu acho que hoje em dia está melhor nesse a

SPEAKER 1: : specto. Agora, quanto

SPEAKER 2: : Honestidade em que sentido cola, você fala? É, havia ou não? A cola sempre existiu, embora eu fui um aluno que cursei todo. Todos os anos em que eu cursei, eu não colava. Mas e ao Eu não sei se era por medo, eu não sei se era por medo, não sei se era por princípios morais, não. Talvez fosse mais por medo do que por princípios morais, mas eu não colava. Agora, colava-se bastante, E os meus colegas, vários deles eu vi colando e falavam que colavam, quer dizer que isso aí, eu tenho a impressão que é muito antigo. A cola é uma prática muito antiga. Uhum, que recursos que eles usavam? Olha, eles usavam todos os recursos possíveis e imagináveis. Por exemplo? (riso) Escreviam na mão, escreviam na perna, usavam a a cola tipo sanfona. Tipo s anfona é aquela que pega um papel estreito, vai dobrando e deixa bem pequeno assim. Porque ali dá para escrever bastante coisa. Depois vai abrindo assim. (riso) Ou então punha dentro da manga e puxando por aqui. As moças às vezes escreviam na perna. Mata-borrão. Escrevia no mata  borrão. É. E... cola s empre foi uma prática muito usada e abusada aqui no Bra

SPEAKER 1: : sil. E e o relacionamento, assim, entre os estudantes dentro da da escola, da faculdade, como é que era feito? Existiam órgãos... () Bem, nós tínhamos o nosso centro acadêmico, como todas as faculdades têm o centro acadêmico.

SPEAKER 2: : Nós tínhamos esse centro acadêmico, havi Nele havia várias dependências, a parte de esportes, a parte cultural, a parte social. E eu participava um pouco da parte esportiva, eu gostava um pouco de jogar futebol, basquetebol, fazíamos viagens para as cidades do interior e para fora do estado mesmo. E já era, nesse nesse tempo já era semelhante ao que é agora.

SPEAKER 1: : E era muito bom isso. E existiam campeonatos científicos?

SPEAKER 2: : Existiam vários campeonatos. Naquele tempo, existia a Mac-med, existia a Pauli-poli. A Mac-med não, a Mac-med era a Faculdade de Medicina e a Faculdade Mackenzie. Pauli-poli era a Faculdade Paulista de Medicina e a E existiu a FOCA, que era a Faculdade de Odontologia e a Faculdade Católica de Direito. E não sei se existe mais hoje em dia, talvez exista. Parece que eles fazem agora um campeonato universitário. E esse campeonato parece que abrangeu todas essas competições paralelas. Que eu acho que é uma medida muito mais certa mesmo. Existia a FUP naquela época, não sei se ainda existe a FUP.

SPEAKER 1: : e ela que programava todas essas competições. E e existia e e o senhor acha que incentivava ()?

SPEAKER 2: : Isso melhorava bastante a parte de ensino, embora nós tivéssemos professores que diziam para nós que o aluno entrava para a faculdade com a única finalidade de estudar, todo o resto era secundário. Ele não deixava de ter razão, a nossa finalidade era realmente estudar, mas podia haver essa parte social esportiva que não não fazia mal nenhum, aliás, fazia  bem. Porque a escola deve ser um lugar onde o aluno vai com vontade de ir, e não como obrigação. Eu encarei a vida toda a escola como uma obrigação. Eu tenho um filho de dois anos, de um ano e meio, entrou para uma escola pré-maternal, hoje já existe até pré-maternal. (riso) Ele não falava quando ele entrou nessa escola, para ver como mudou o ensino hoje em dia. Nessa escola, ele aprendeu a... primeiro lugar, ele usava fralda (). Tiraram as fraldas dele nessa escola. Ele aprendeu a falar alguma coisa, aprendeu a a sentar direito, aprendeu a andar um pouco melhor, aprendeu a... a se relacionar com um ano e meio, com outros colegas, está aprendendo a nadar, aprendeu a dançar quadrilha, tudo com um ano. Agora ele tem dois anos, já está fazendo melhor tudo isso. Eu acredito que o que ele está fazendo com dois anos, eu não fazia com quatro. Acho que nem vocês faziam, porque na sua época também não existia essas escolas. Então, hoje em dia, o ensino já começa diferente desde o berço.

SPEAKER 1: : Está muito melhor. E dessa pré-maternal e ele vai passar para...

SPEAKER 2: : Deste pré-maternal, ele vai passar para o maternal. E lá o que que eles fazem? O maternal, ele já começa a fazer alguns trabalhos manuais e uma sequência que quase não se nota umas uma solução de continuidade entre uma coisa e outra. Eles fazem trabalhos manuais, continuam aprendendo a nadar, fazerem jogos entre eles, entendeu? Agora isso é muito importante, porque eu me lembro, e isso é importante eu dizer aqui, que eu fui para a escola com sete anos de idade. Foi a primeira vez que eu fui para a escola. Eu não fui para a pré-primária, como hoje em dia, nem jardim da infância, como existia na minha época, chamava-se jardim da infância. Eu fui arrastado e chorando para a escola. E era em frente da minha casa, aliás, aq Eu não gostava, fui, chorei na escola, não queria ficar, e durante um mês eu fiquei nesse estado de espírito até me acostumar, porque a criança que é jogada diretamente num ambiente estranho, ela leva tempo para se acostumar. Isso aconteceu com o meu filho no no mini-maternal, mas no primeiro e no segundo dia, porque a criança com um ano e meio, ela aceita muito melhor do que com sete anos, certo?

SPEAKER 1: : Intenção? Tanto () chocava assim ()

SPEAKER 2: : () Ambiente estranho, o cheiro da carteira, o cheiro dos cadernos novos, me apavorava. A cara da professora gorda me a me assustava. Eu e elas não faziam, nem tinham, coitadas, nem tinham o pre o mínimo preparo para ensinar u uma criança. Não não en não entendiam

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : Elas estudavam o curso normal. Anos de grupo escolar, quatro anos de ginásio e três anos de curso, que chamava-se curso normal. () É. A preparação era precária, né? Aliás, não era uma preparação, era uma falta de preparação. Hoje em dia, eu tenho eu acho que não mudou muito, hoje em dia, né? Embora... Acho que o curso seja mais, de caráter mais... Embora o curso seja melhor, e parece que com essa reforma de ensino, parece que agora o ensino são oito anos integrados, não é isso? É. E parece que eles vão exigir das professoras um nível secundário, ou nível universitário. Ainda não estão exigindo, mas parece que elas que fazer uma faculdade ou qualquer coisa assim. Isso foi dito para minha mulher, porque ela é professora de grupo escolar. Ela leciona atualmente em grupo escolar. Mas para lecionar no segundo grau, que seriam os últimos quatro anos, ela terá que fazer uma faculdade, como está fazendo.

SPEAKER 1: : E e desde esse ambiente de da sala do do primário, como é que e ra assim a ()?

SPEAKER 2: : Na minha época, o aluno entrava na sala de curso primário, cha (riso) a professora chamava de quarta posição. Eu até dei risada porque era uma posição com os braços para trás assim. (riso) Então a a professora achava que disciplina era isso. Era colocar o aluno numa determinada posição e e mantê-lo duran em durante o tempo em que ele ingressasse na sala. Toda todo o ensino era baseado mais em disciplinar o aluno do que propriamente ensinar o aluno. Eles achavam que essa disciplina militar funcionava muito. Haviam também castigos na na minha época. Quais os castigos? Os castigos. Algum Algumas professoras chegavam a agredir os alu

SPEAKER 1: : nos. E e como é que eram dispo

SPEAKER 2: : Essa disposição eu não entendo bem. Cada um tinha a sua mala com o seu material. Sentava na sua carteira e dali não levantava mais. E a professora sentava na sua mesa e também raramente levantava. Levantava às vezes para dar um cascudo na cabeça de algum aluno que estava fazendo alguma peraltice. Eram três horas de aulas ininterruptas. Ah, não não existia intervalo? Não existia intervalo. Parece que desapareceu... Parece que agora se faz o curso chamado colegial, se não me engano é isso, colegial, ele vale para qualquer das faculdades que a pessoa queira frequentar. Hoje parece que é isso, na minha época não, na minha época era científico,

SPEAKER 1: :  clássico. E o que o senhor a ()

SPEAKER 2: : Agora melhorou muito, não há motivo para se separar assim uh, se separar vocações para faculdades. Isso foi difícil na na sua época? Para para de resolver Foi difícil como é hoje em dia? É É tão difícil a gente escolher o que vai ser, não é verdade? Principalmente numa cidade como São Paulo. Eu tive um pai farmacêutico, eu sempre tive uma certa tendência para trabalhar em laboratório, trabalhei em laboratório muito tempo. Talvez isso fez com que eu escolhesse a profissão de de dentista. Ah tá, seu pai é farmacêutico

SPEAKER 1: : Meu pai era farmacêutico. Isso, o senhor acha que ()

SPEAKER 2: : Talvez, talvez o contato diário com com pessoas, com pacientes, com remédios, com prepara com pre preparados. Eu chegava a preparar pomadas com o meu pai, ajudava () coisa. Então, aquele contato diário com aquilo talvez foi isso que me levasse a escolher uma profissão das de carreira médica.

SPEAKER 1: : Não é? E de

SPEAKER 2: : O aluno saía do do primário, era obrigado a fazer um curso de admissão ao ginásio. Se ele fosse aprovado, ele estaria no primeiro ano do ginásio. Agora Geralmente esse curso podia ser feito no período de férias, então ele não perdia um ano. ingressava no primeiro ano do ginásio. Ao sair do ginásio, ele ingressava sem mais problemas no científico. Científico. E o que que ele tinha que fazer para ingressar além (). Para ingressar aonde? Para entrar () curso imediatamente ().

SPEAKER 1: : Para sair do ginásio e ir para o científico? Não, não, antes do... Quando ele sai do primário, ele tinha que fazer fazer esse curso

SPEAKER 2: : Ele fazia um curso de admissão e prestava exame no final do curso de todas aquelas matérias que foram dadas no grupo escolar. Quais ()? Era História, Geografia, Português e Aritmética. Eu cito Aritmética, porque Aritmética é uma é uma das partes da Matemática. Eles chamavam de Aritmética naquela épo

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : Os professores não a grediam os  os alunos do ginásio. Às  vezes, chegavam as

SPEAKER 1: : aos extremos. E existia também um relacionamento entre colegas? Existia, assim, como no centro acadêmico? Existia alguma coisa assim dentro do ginásio? Não.

SPEAKER 2: : começou a mudar um pouquinho no científico, que eles começaram a fazer eleições entre nós, alunos, para para en nos ensinar os princípios democráticos. Por quê? Eles achavam que fazendo eleições entre nós, hum nós iríamos nos imbuir de um espírito democrático. deu? Então, eles... fizeram que nós elegêssemos um representante da classe, depois um representante da escola, seria um presidente do de de um de um centro. Não um centro acadêmico, porque não recebia esse nome. Qual  era? Acadêmico seria o de uma faculdade. Eu não me lembro que nome se dava. Não me lembro que nome que havia naquela época para isso aí. Mas era o presidente.

SPEAKER 1: : E existia, além da do dos alunos, existiu algum órgão ainda que () a ideia de alguma coisa assim... Alguma influência externa, você fala? É.

SPEAKER 2: : Não, olha, eu nunca tomei conhecimento, principalmente de parte política, eu eu

SPEAKER 1: : ### lacionamento era só entre os alunos e professores? Era r

SPEAKER 2: : estrito a alunos e professores e era um mau relacionamento ainda por c

SPEAKER 1: : E como é que era a ordem hierárquica dentro do do colégio né? Exis tiam alunos, existiam professores, o que mais o que mais existia?

SPEAKER 2: : Existiam os alunos, existiam os professores, existia o diretor da escola e existiam os serventes.

SPEAKER 1: : Não existia nada que além disso?

SPEAKER 2: : Não existia. Se você está querendo chegar, por exemplo, numa associação de pais e mestres, por exemplo, isso não existia na minha época. Os pais se limitavam a ver as notas dos filhos em

SPEAKER 1: : casa. Não existia uma participação efetiva deles? Não.

SPEAKER 2: : Não existia uma participação. Eu tive pais que posso considerar cultos, mesmo assim, Eles me auxiliavam sempre que podiam, mas mesmo assim a participação deles na na minha vida escolar era pequena. Eles faziam ver a mim que eu não devia ser reprovado, que eu devia estudar, eles faziam ver. Mas jamais eles foram à à escola onde eu estudava, porque não era hábito ir mesmo. Nem sei se eles seriam bem recebidos se fossem. E eles jamais foram à escola para saber como eu me comportava, de que maneira eu ia indo, embora eu nunca tivesse dado esse tipo de dor de cabeça. Mas os que davam também, não os pais não iam. Se limitavam a a se zangar com eles em casa mesmo e e o assunto ficava restringido. casa deles.

SPEAKER 1: : E dentro do do do do curso secundário assim, o relacionamento entre professores, como é que se apresentava? Como? O relacionamento entre Profe ssores era um negócio completamente ligado ou entre eles existiam conflitos?

SPEAKER 2: : Entre os professores não existia nada, existia um uma relação muito fria também. Os professores não tinham também, porque não haviam aprendido, esse cunho de coleguismo, essa maneira que os alunos de hoje têm, de fazer tudo em grupos, se relacionarem melhor. Os professores eram individualistas também, quer dizer que ha havia pouca relação entre eles e entre eles e os alu

SPEAKER 1: : nos. Você você falou que você quando ia no primário, levava uma mala. Parece que hoje em dia ah o material é mais fácil. O que que você levava? Eu levava um caderno de rascunho.

SPEAKER 2: : Que a gente chamava, que era Para Escrever durante a aula as coisas que a professora falava ou ditava. Depois, esse Que a gente passava a limpo num caderno em casa. A professora geralmente solicitava trabalhos, lições para gente fazer em em casa. Nós fazíamos e depois levávamos no dia seguinte. Quem não levasse, tira va zero. Isso (riso) Isso eu me lem

SPEAKER 1: : bro. E e co e como é que começava, assim? A gente escrevia ãh como começava a aula. É é, não, assim, o apren aprendizagem, a gente primeiro aprendia a escrever, como é que era?

SPEAKER 2: : O aprendizado, naque ãh o primeiro ano de grupo escolar, o aluno tinha que ser alfabetizado. Era a preocupação maior do professor. Então ele começava a ensinar uh as letras. Agora as letras no sentido primário, não no sentido universitário. O a, o bê, o cê, o dê, desenhava, o aluno fixava aquelas imagens. Depois começavam a os monossílabos. Bá, bó, bi. Isso aí eu me lembro mais ou menos. E a classe lia toda em conjunto,  a professora repeti

SPEAKER 1: : a. Mas como é que ela apresentava isso? Ela ia de aluno em aluno?

SPEAKER 2: : Não, ela escrevia na pedra e pedia para os alunos repetirem. Depois pedia para os alunos desenharem aquela aquelas formas no caderno. Hoje em dia, eu sei que os alunos já entram alfabetizados no primeiro ano do grupo. O meu filho, provavelmente, já vai entrar alfabetizado. Ele vai aprender a escrever, acho que com cinco anos. Eu aprendi com sete, que ele já leva dois de vantagem.