Inquérito SP_DID_074

SPEAKER 0: : Gravação do dia vinte e cinco de

SPEAKER 2: : () setenta e dois. Álvaro, você podia falar então assim para gente como é que você passa o seu tempo, horas de diversão? ()

SPEAKER 1: : () as minhas, os momentos de diversão que eu tenho são passadas () cinema, teatro, esses normalmente em passeios fora, fora de São Paulo, visita da cidade do interior, Santos.

SPEAKER 2: : Além disso, estudo lá. Mas tem () preferência ou não? A gente tem ido bastante ao teatro. teatro () tem alguma coisa especial que agrada ()

SPEAKER 1: : () tenho aproveitado para ver bastante shows Eu acho que é a minha preferência, não só a minha, mas também da () Então a gente geralmente vai a shows, principalmente música popular brasileira.

SPEAKER 0: : e o que que te agrada nesses shows

SPEAKER 1: : Bem, eu tenho, eu tenho um grande interesse em música popular brasileira. Sempre tive assim desde os catorze, quinze anos, eu tenho me dedicado bastante ao Instituto de Música Popular Brasileira. Então, já não só para assistir num show que pelo próprio show divirta, mas também sob o aspecto de pesquisa. Para sentir alguma coisa, assistir alguma coisa que venha do povo, uma coisa diferente.

SPEAKER 0: : () no caso desse lugar de () assistir show () assistir, uh () iguais ao () teatro ()

SPEAKER 1: : () às vezes a gente vai ao teatro, mas já tivemos a oportunidade também de ver a coisa em loco, assim, uma favela, certo? Ver como é que o samba nasce. conversar com aquela gente, sentir a alma daquela gente, sentir a presença viva daquelas, daquelas pessoas

SPEAKER 0: : O que que tem de característico, no caso, esse samba humano que nasce mais, mais natural?

SPEAKER 1: : () a gente sem te sente, uh, como () uma manifestação espontânea pode apresentar também aspectos culturais () a formação do, do brasileiro, certo? Quer dizer, a gente vê não dentro de uma, de uma, de uma expressividade culta, mas sim dentro de uma coisa mais, usando um termo que eu não queria usar, revés, de uma, de uma classe mais baixa, a gente vê quanto que eles podem for, fornecer de ideia ()

SPEAKER 0: : Mas assim, digamos assim, em termos de, de música, né? eles () construíssem alguma coisa () () em que sentido Tem algum recurso que auxilia a música para eles fazerem ()

SPEAKER 1: : O mais interessante é inclusive isso, quer dizer, a falta total de recurso, o aproveitamento dos recursos básicos, mínimos para fazer um negócio bacana, certo? O samba de O samba de morro () ainda se limita àquele cavaquinho, violão, pandeiro e nada mais que isso, certo? E a caixa de fósf Então a gente vê que ali, com aqueles mínimos de parques e recursos, a gente consegue fazer um negócio tão bacana, certo? Inclusive é bacana e depois é atualmente aproveitado para, pelos compositores mais, mais cultos ou melhor de uma outra classe social, são aproveitados para serem elevados até um nível superior. Um, um exemplo característico disso seria Esse último ele pê do Luiz Eça, certo? Que ele fez com o quarteto Villa-Lobos, quinteto agora, que, em que ele aproveita essas manifestações culturais desse, de, desse nível para elevar, inclusive, em aspectos de música clássica, de música erudita ()

SPEAKER 0: : E assim, quando você vai a esses lugares públicos, sem ser, sem ser assim O que que tem o samba de características?

SPEAKER 1: : Baduque. Baduque, batida. Negócio que a gente sente mais interiormente.

SPEAKER 2: : () falando que você vai ao teatro ver esses shows, qual é o efeito que tem o teatro? É possível levar da maneira que você descreveu do Morro diretamente para o teatro? Isso funciona ou não?

SPEAKER 1: : Funciona em parte, né? Toda manifestação cultural, você tirando do local onde ela se manifesta, ela se transforma, é () É o que acontece também nesse caso.

SPEAKER 2: : E há outros recursos para melhorar ou para adaptar, sei lá? Bem ()

SPEAKER 1: : aí é que está Talvez, nesses casos, a utilização de outros recursos possam, de certa maneira, uh, () desvirtuar a coisa, certo? Disfarçar. Então, é exatamente o que a gente já disse, que nesse local a gente encontra coisa de uma manifestação mais espontânea, certo? Nós assistimos há pouco tempo um, um show com Plínio Marcos e os () Pagodeiros no Teatro de Arena e a coisa foi feita dessa maneira, quer dizer, sem utilização nem de caixas acústicas, nem de microfones, nada, turma ali com o seu cavaquinho, com o seu violão, com a sua caixa de fósforo e fazendo samba, falando.

SPEAKER 2: : Você disse que você tem se interessado por pesquisa em música popular, quais seriam os outros caminhos e que tipo de recursos musicais seriam usados em outros caminhos? A música que não samba-típico que você descreveu.

SPEAKER 1: : Bom, hoje a gente passa por um aspecto de, de revolução cultural nessa parte, dentro do samba, dentro da música popular brasileira, que é difícil de prever qualquer caminho. Basta lembrar naquele naquela noite que o Caetano de Veloso fez aquela... é proibido proibir, e que houve aquela manifestação toda da turma contra ele e tal. Isso me lembra muito a Semana de Arto Moderna, certo? Onde havia aquela... toda a manifestação, então, teve, eh... de, de uma reforma das coisas, uma reforma cultural do, do movimento, implica num, em algo que vai mais além do que a turma está necessitando. para depois retornar e se adequar ao momento. Então, houve aquele movimento do Caetano Veloso. A coisa já está firmada. Mas e daqui para diante? O que a gente pode dizer? Há (), há bastante tentativas nisso. A gente pode lembrar o nome do Hermeto Pascoal, inclusive do Quinteto Violado, que tentam trazer a coisa do Nordeste e tentar fazer como o Luiz Eça fez com o samba de morro, tentar fazer coisa mais clássica, mais erudita, e jogar para ver o que que dá. A validade disso, a gente não pode dizer, afirmar ou negar.

SPEAKER 0: : É uma experiência, vamos esperar com o tempo... No caso dessa, dessa experiência do Evento Pascoal, né, ele, ele faz o que, especificamente, com essa música () para tornar, se dizer erudito, né ()

SPEAKER 1: : sei lá, () Pascual, eu quis aplicar isso mais ao quinteto violado, não () Pascual. A Método Pascual já tenta, uh, procurar uma miscigenação de tudo. Você encontra aspectos de música clássica, você encontra aspectos de música hip, uma denominação, assim, meio fajuta, né? E encontra também uma raiz muito grande de música popular brasileira, dessa do Morro e dessa do Nordeste ()

SPEAKER 0: : () assim, nessa, nessa mistura toda que ele faz, o que ele utiliza no caso ()

SPEAKER 1: : eu tenho uti, tenho utilizado, uh, principalmente instrumentos de, instrumentos elétricos () dá a validade intrínseca da coisa Não sei, () eu sou, eu era muito avesso a instrumentos elétricos em música popular brasileira. Talvez isso () fosse devido, inclusive, a um pouco de imaturidade na coisa. A primeira vez que eu ouvi o Caetano Veloso, eu senti a coisa doer (risos) Exatamente porque a gente tinha aquela formação, a gente pensava em samba só daquela maneira. Então, a gen, a gente viu aquilo mais como uma invasão de um, de algo alienígena na nossa música. Em princípio, eu não acreditei naquele negócio de som internacional. Para mim, samba era batida de morro, era violão, era cavaquinho, só. Mas depois, sei lá, eu comecei a sentir que, de fato, a gente poderia alcançar o mercado externo. Porque música é arte, mas também é algo que pode trazer divisas. É algo que pode funcionar internacionalmente. E na base de cavaquinho a coisa não funciona. Não funciona porque, uh Funciona dentro de uma certa área em que a gente está habituado àquela, àquele tipo de música. Não em outra que tem uma outra formação cultural. Então a gente pode levar a nossa formação cultural e adaptar aquela.

SPEAKER 2: : foi () isso que eu estou tentando () Mas agora parece que está misturando tudo, né? Porque você falou da, da inflação da música eletrônica dentro da música brasileira () () recursos eletrônicos dentro da música popular Agora me parece, por exemplo, você viu o show da Maria Bethânia, né? Uhum Então a música Honey Baby tem infiltração do instrumento clássico. () você acha dessa mistura, então? Aí é a reversão, né? Começou a eletrônica dentro da popular e agora entrou a clássica tam bém. Que que você acha

SPEAKER 1: : () dá efeito? () Por quê? Principalmente porque é lida muito (risos) () não sei, uh. Que instrumentos que eles colocaram mesmo A Honey Baby usava violino, né? Violino, foi... Rock elétrico, se não me engano, se não me falha a memória Acho que apenas, acho que só, não me recordo Ali é bacana, inclusive, porque você não sente o violino como um clássico, certo? Você sente o violino ali como, como um instrumento clássico adaptado à coisa. Não é como o ele pê () que você sente aquilo meio pesado, inclusive. Talvez, se você, uh, procurar ouvir aquilo como uma música diletante, você sinta um tanto cansativo até. Porque se vai, é música para você ligar, ouvir, acompanhar. cada movimento, sentir cada movimento, sentir que a estrutura da coisa é complicada. Mas ali não, ali o violino, sei lá, surge ali como um negócio estranho, você vai... mas que ao final você está se acostumando à coisa.

SPEAKER 2: : () passando aí, eu ouvi um disco, não sei se você conhece o disco dele, que houve a, a modificação de uma peça do () você já chegou no () É o contrário, sei lá, pelo que você falou, talvez você não aceita isso ou aceita?

SPEAKER 1: : Não, eu aceito () Inclusive você tem que aceitar ali, porque eu acho que o Mussorgsky, principalmente no quadro de uma exposição, ele apresenta um tanto de selvageria. Uma selvageria que não cabia na música clá Quando eu ouvi a primeira vez na, o Quase Uma Exposição, eu senti isso, que a música ali devia ser um tanto mais selvagem, devia ter mais movimento, devia ter mais barulho, barulho organizado. E o Emerson Leighton Palmer conseguiu fazer esse barulho organizado. Não () se prendeu à estrutura da música, mas conseguiu fazer () alguma coisa de criativa, alguma coisa de inédita.

SPEAKER 0: : No caso, o instrumento utilizado () ele fez o que, no caso?

SPEAKER 1: : Ele usou ali, uh, instrumentos eletrônicos, guitarra, baixo, usou efeitos de, daquelas máquinas, não sei como é o nome que eles dão àquilo. É uma máquina destinada a fazer efeitos sonoros, simplesmente. Ele, eh, procurou em cada procurando juntar todos ao final.

SPEAKER 2: : Você falou do violino como instrumento clássico, mas não haveria dentro da orquestra constituída nenhum instrumento que traduzisse a selvageria que você citou aí do quadro? Olha que tem instrumento na orquestra, hein? Tem

SPEAKER 1: : Tem () Você sente a selvageria, mas você não sente () que deveria ser mais ainda do que é. Qual instrumento que poderia provocar selvageria

SPEAKER 2: : () que mais Percussão não mudaria nada. Percussão.

SPEAKER 1: : Inclusive o bumbo ali no, no, no original, não existe aquele bumbo no início do quadro de uma exposição. E o Emerson conseguiu pôr esse bumbo, dando uma batida ali que demonstra a selvageria que vai se desenvolver em todo o concer

SPEAKER 0: : E outros, no caso, não um show de () música popular () Outros shows, você tenha () tenha tido a oportunidade de ver

SPEAKER 1: : Nós tivemos outro dia num show ali no... Não me lembro o nome do teatro. Ali na Bela Vista, um dos teatros, ali o... O Oficina. () promovidos pelo José Celso () que trás aquela uma turma de, de hips tocando sei, inclusive a gente já estava se sentindo estranho no momento que nós entramos, porque... Não tem nada a ver () (risos), não, a gente a gente se sentiu totalmente quadrado, porque a gente foi de camisa esporte, de, de calça comum, chegamos lá a turma toda () de cabelo por aqui, uh, de um jeito totalmente estranho () é (risos) () () calça bem discreta, né? Bom, começou, começou o espetáculo. Um barulho daqueles, ensurdecedor, e E cada vez aumentando mais. A certa altura, o fulano da, do conjunto disse que ia tocar uma música que ele achava fabulosa, que chamava Quanto Mais Alto, Melhor. A música está começando num crescendo até chegar o momento em que você não conseguia nem sentir os ouvidos () nossa (risos) () Considerar a validade disso, sei lá, né? () Eu me senti naquela, uh, naquela altura como um cara que estivesse assistindo a Semana de Arte Moderna em vinte e dois, né? () pensa, sei lá () É, cinquen () aquilo é, é o futuro da nossa

SPEAKER 2: : Já passou meio século, não se esqueça, né?

SPEAKER 1: : Já passou meio século. Aí que está () Isso que a, que amedronta a gente. Porque, será, será que a gente está sendo reacionário em não aceitar?

SPEAKER 2: : Mas () () sobrando cabelo ainda está na ()

SPEAKER 1: : () está sobrando um pouquinho () (risos) () compra uma peru ca () () Mas aí você só se modifica externamente e interiormente ()

SPEAKER 2: : () ()

SPEAKER 0: : () () E no caso assim, né, se você fizesse um paralelo assim, que que tem de (), além do, do aspecto assim da, do aspecto físico do show, que é diferente realmente desses shows mais típicos de samba, o show propriamente dito, né, a realização dele, o que tem de diferente em relação ao show de samba?

SPEAKER 1: : Você disse () em respeito a esse espetáculo ()

SPEAKER 0: : É, esse espetáculo que você viu. Do... Do Seu Celso

SPEAKER 1: : como (), bom, como realização, sei lá, e sem preconceito nenhum, sem esse medo que eu sinto interiormente de () estar sendo um tanto reacionário, eu acho totalmente () () A própria apresentação do show não tem sentido. Os hippies, eles dizem, sei lá, vamos demonstrar a nossa individualidade. Mas apareceu um cara apresentando o programa que só usava aquelas fórmulas já batidas, () fechadas e que todo mundo usa, sei lá, uh, bicho, uh, falou () então a gente fica pensado poxa () acho muito bacana esse movimento nisso, porque se a gente está massificado e a gente está realmente vamos mostrar a nossa individualidade mas dessa forma, voltando a uma outra massificação diferente, não resolve. Certo? Talvez () no modo de eles se vestirem, eu acho bacana. Cada um se veste como quer () como acha, inventa a roupa que quiser. Isso é bacana, mas nesse, no uso de um, de um código de expressão () falham totalmente, porque eles voltam exatamente a uma coisa que também está massificada, embora numa sociedade menor como a de

SPEAKER 2: : E com toda essa infiltração de show de música dentro dos palcos aí, dentro dos teatros, você acha que o teatro tradicional, o esquema de textos () como se cara () há lugar para isso ainda ou será que a música uniu-se definitivamente ao teatro ()

SPEAKER 1: : Não, eu () tenho a impressão que o teatro em si, sem a música, ainda tem, tem bastante validade. inclusive ainda voltando ao aspecto do teatro há pouco tempo nós tivemos () nossa vida, nova vida com papai, alguma coisa assim, nossa vida em família (risos) () Ele usa aquele texto tradicional, embora apresentando (), embora apresentando problemas do nosso dia, dentro de um esquema teatral que o Joracy Camargo usava. () então, sei lá, ainda é alguma coisa bacana.

SPEAKER 2: : E qual a diferença do antigo teatro, tradicional teatro, eu digo assim, no aspecto físico, do teatro de hoje em dia? Que mudança no aspecto físico houve?

SPEAKER 1: : Você diz em respeito ao modo de representação?

SPEAKER 2: : Ao modo de representação, ao lugar de representação, à sala em si, qual foi a diferença, a passagem?

SPEAKER 1: : Bom, antigamente a gente usava teatro com o clássico (), né? Que era um quadradozinho () onde ficava alguém que ditava as falas temendo que algum dos atores esquecesse o que devia falar hoje () já saiu totalmente do teatro Mesmo no teatro ainda considerado clássico, como é esse a nossa vida com o papai, não, não deu ponto. Agora, com respeito à representação Vamos pensar em Joracy Camargo e () que que tem de diferente, sei lá () No Joracy Camargo, as pessoas se vestiam como gente, andavam como gente, mas não eram gente E no () eles, eles não se vestem como gente, como, pelo menos como gente normal que a gente vê na rua, não andam como gente, como gente que a gente vê na rua, Mas quem sabe eles são mais gente, né? Uhum

SPEAKER 0: : E no espetáculo isso

SPEAKER 1: : no espetáculo () bom () Uh, nós não tivemos uma tradição teatral que (), que possibilitasse... nós temos uns autores que servissem de exemplo dentro do teatro brasileiro, além do Martins Pena, que são usadas hoje em dia por, por autores que se dizem super modernos () Uma peça deles é um () não me recordo o nome em que ele manda o, o espectador ver o cenário. O cenário simplesmente não existe, mas ele diz, bom, aqui você tem um jardim, aqui você tem uma casa, aqui você tem outra, nessa casa moram determinadas pessoas, essa casa é de certa cor, E através de um, de um locutor, ele faz o espectador visualizar todo o cenário. Então, talvez o () não seja um exemplo, uh, bastante marcante para coisa. Mas... Bom, mas isso só mostra uma diferença que existe, certo? Uh. Não se utiliza mais aquele cenário totalmente... realidade, mas se usa um cenário que dá muito mais margem à imaginação, ao sentimento do cara que está assistindo.

SPEAKER 2: : E quanto aos personagens? Porque antigamente, até vinte anos atrás, fazia-se concursos para escolher a melhor pessoa para representar determinado personagem da história. stória hoje parece que não há isso Por quê? Não se exige tanto assim das pessoas?

SPEAKER 1: : fazer esse concurso ()

SPEAKER 2: : É. Antigamente, por exemplo, agora com a morte de Sérgio Cardoso, estão publicando que ele prestou concurso para fazer, que ele ganhou um concurso para ensinar Hamlet. Então, não sei, exigia-se mais do ator, () da pessoa singularmente, ali ele tinha que ter todas aquelas qualidades e funcionar sozinho. Hoje o teatro é massificador, cheio de pessoas, como o Hering, que aparece quarenta pessoas de uma vez só, O Jesus Cristo aparece em quarenta, cinquenta ()

SPEAKER 1: : () inclusive, uh, no teatro clássico a gente () () quando a gente diz teatro clássico, teatro de cinquenta para cá, né, a gente, teatro, aliás, até cinquenta, a gente teria um excesso de individualidade, não é? Um, uma possibilidade de apresentação de um determinado personagem que é o herói e tudo girando em torno a, em torno dele. () existe esse herói, a gente sente, mas o que é mais importante não é aquele herói, é aquela turma que está em volta dele () Aquela turma, inclusive, que age sobre ele e que faz com que eles sejam mais importantes que o próprio herói. () não me lembro o nome deles ()

SPEAKER 0: : E as outras pessoas no caso do trabalho () () cigarro () eu só vou dar uma () ele continua () Essas pessoas que no teatro mais tradicional trabalhavam assim, não tinham tanta importância no caso, recebiam nome especial? Essas pessoas que trabalhavam nesse teatro um pouco mais tradicional () Tinha, tinha uma importância relativa dentro do teatro, no caso, como você diz, não tanto quanto de hoje () Recebia um nome especial () em termos de... Mas não se fazia, um caso de extinção () Entre o que tinha um papel mais importante () E hoje isso daí que você está dizendo que não existe mais no caso, é ()

SPEAKER 1: : Embora exista uma distinção, quer dizer, entre os atores que possa dividir, assim, academicamente, entre atores principais e coadjuvantes, essa divisão hoje não é totalmente nítida, como era naqueles tempos () e assim

SPEAKER 0: : () Outros, outros aspectos dentro da peça em si. O que ma, o que diferencia () mais ainda essa, essa ()?

SPEAKER 1: : além do cenário que não é realmente, o cenário () é mais imaginação () Talvez eu, o Fernando falou há pouco do problema de coletivização e é exatamente isso, sobre o aspecto de teia, sobre o aspecto de enredo, então esse teatro apresenta mais uma, alguma coisa coletiva do que um problema individual, de um problema que, que não é () por determinada pessoa, então ele fica naquele problema de fossa, tudo isso Então sobre () coletivização o problema de apresentar uma, uma massa humana com determinado problema, parece ser () o centro da coisa.

SPEAKER 2: : E antigamente, sei lá, () as pessoas que iam ao teatro () ultra bem vestido () pele

SPEAKER 1: : O que aconteceu hoje que a turma () () você vai num, num teatro como o teatro das nações onde existem ainda aquele () () quarenta anos atrá s. Então a turma vai de paletó e gravata, usa aquele, a mulher usa aquele melhor vestido, né, para ir, eh, casacos de pele e tudo. No outro dia nós formamos eu com a Ivone num teatro desse. Então nós saímos da faculdade, a gente tinha uma entrada gratuita, então, ah, vamos aproveitar e vamos Era um teatro de revista (risos) cheio de () () chegando lá () a Ivone de calça li () seta de malha () totalmente contrastante () (risos) () vestidas assim de paletó, gravata, uh, casacos de pele, a Ivone de, de calça li Ela ficou o centro () das atrações, todo mundo olhando para ela (risos)

SPEAKER 2: : () Não há condições mais para... apareci com uma roupa boa, com perigo de rasgar a roupa, () se você pensar em termos de teatro oficina, né

SPEAKER 1: : () Você vê que () não há possibilidade, né? Você vai no teatro oficina, você vai lá, senta no chão, senta em umas almofadas assim, não tão cheirosas, né? () Então você tem que ir com a sua, sua pior roupa, realmente, para formar assim determinado ambiente para o teatro.

SPEAKER 2: : E, enquanto ao, quanto ao tamanho () Eles continuam com a mesma dimensão?

SPEAKER 3: : () agora são menores ()

SPEAKER 1: : Olha, aí eu acredito que não seja um problema de técnica teatral. Eu acredito que seja um problema mais de desinteresse em teatro.

SPEAKER 2: : Mas os teatros não são construídos com o fim de serem teatros? () eles aproveitam ()

SPEAKER 1: : Bom, existe a técnica hoje de aproveitar qualquer qualquer local para se fazer teatro. Fazer teatro independentemente de... de um determinado... de uma determinada... de um determinado recinto E a coisa é feita em qualquer local inclusi () foi feito num, na fábrica de chocolate Lácta depois do incêndio dela (risos) Um teatro totalmente... () a coisa funciona pela adaptação, né sendo totalmente lúgubre, tétrico, para assistir uma coisa que tenha os seus aspectos lúgubres também, então você () antes de você assistir a peça, você já está adaptado espiritualmente, ao espírito que a peça vai apresentar.

SPEAKER 0: : É isso mesmo, em caso de um ponto positivo em relação, por exemplo... Seria um ponto positivo considerando sobre esse aspecto.

SPEAKER 1: : Quer dizer, você cria uma atmosfera anterior à peça. Mas, se a gente pensar nisso, Nós não vamos mais para o tea Cada teatro teria que ter uma determinada apresentação, uma determinada peça. Aquele teatro (), numa das salas, eles costumam fazer isso. Quando eu assisti, os monstros, eles criam assim um aspecto de, de casa mal-assombrada. No mesmo teatro eu assisti o Romeu e Julieta. Então, você entra, tem aquele teatro Shakespeareano.

SPEAKER 2: : camarotes, etc, ()

SPEAKER 0: : () assim de revista () que você estava falando () Além assim do folclore das pessoas que (risos) vão ao teatro também, Ele, o teatro em si, ele apresenta alguma coisa de particular?

SPEAKER 1: : Bom, o Teatro Revista teve seus tempos de glória, né? Eu me lembro quando eu fiz, eu tinha dezesseis anos, eu falsifiquei uma carteirinha para entrar no teatro do Valter Pinho. E eu achei aquele negócio fabuloso, não sei se hoje eu acharia, mas pelo menos, sei lá, tinha () um espetáculo visual bacana. Ele usava truques de luz, () determinado momento chovia () () (risos) a coisa () considerada ainda hoje seria cafona () () Me disseram que () eu não assisti, me disseram que também existem uns truques assim, né? Quer dizer () se você considerar a nossa época, é bacana, mas pelo menos é cafona. Mas pelo menos naquela época você sentia a coisa... Sei lá, era um espetáculo () mas hoje () a gente vai ao () não tem nada para ver () os maiôs das coristas totalmente rasgado () maiôs que já têm uns dez, quinze anos são usados em todos os () são usados os mesmos () Também não tem público () Porque para se fazer um espetáculo como o Walter Pinto () fazia hoje, teria que cobrar quanto? uns cento e cinquenta conto () não há possibilidade, não existe público que pague () Então, você tem que partir para isso ou acabar. Então, para ser teatro de revista, acaba o aborto da geração que vai, que está aí.

SPEAKER 2: : () você falou também que você foi ver um show do () no teatro arena Uhum. Como é que funciona o Teatro da Arena? Como é que é () ()

SPEAKER 1: : () é composto no foco central e é rodeado pela... pela audiência. De tal forma que você tem um contato por todos os lados do teatro, certo? Não aquele teatro em frente a você, apenas.

SPEAKER 2: : ()

SPEAKER 1: : Em determinados... em determinadas peças, eu acredito que tem. No, por exemplo, no... dois, dois perdidos numa noite suja. Você sente todo aquele ambiente, parece que você, uh, está mais dentro do ambiente, certo? Dois perdidos numa noite suja passa num, numa casa de pensão, num quarto de pensão. Então você se sente ali naquele ambiente, você se sente () agora em shows () tremendamente também Você sente o, a pessoa que está fazendo o show, sob todos () os ângulos, dá muito mais liberdade para o fulano vim ao seu lado, se dirigir à toda a plateia.

SPEAKER 2: : Nasceu de onde o teatro de arena? Tem alguma outra for de representação anterior ou já nasceu no próprio teatro? O teatro de arena? () () a plateia em volta

SPEAKER 1: : Olha, eu nunca pensei nisso. talvez () inclusi () quando a gente fala em arena, a gente se lembra da, das arenas sangrentas lá da, da Espanha e é mais ou menos o mesmo modo do, de apresenta

SPEAKER 2: : () bom agora você fa

SPEAKER 1: : () (risos) Arena me lembrou, primeiramente, Tourada, né?

SPEAKER 2: : Tourada?

SPEAKER 1: : ()

SPEAKER 2: : () (risos)

SPEAKER 0: : (risos) e os outros () tipos, no caso teatro (), não é () Você falou desse, no caso do Arena, que apresenta um tipo de palco diferente, que é o palco que centraliza, não é? Os outros mais tradicionais, como é que seria, no caso, esse palco, então?

SPEAKER 1: : Esse palco, o palco é na frente, com aquelas duas ou três cortinas, com aquela superposição de cenários, uhum, eh, pela, pelo tradicional sistema de cordas. E a plateia () ficaria em frente àquilo.

SPEAKER 2: : A plateia fica em ()

SPEAKER 1: : Não. Pode ficar num plano só, dependendo do teatro. Mas... Às vezes tem, existem a plateia e a parte superior, () balcão.

SPEAKER 2: : ()

SPEAKER 1: : () (risos) geralmente é mais barato, né? É o local que a gente faz sempre (risos)

SPEAKER 0: : Continuando ainda, assim, no teatro, ainda mais nos... esse aspecto mais físico assim do teatro A pessoa, se quisesse chegar, né, sei lá, se fosse mostrar para uma pessoa, ou indicar um teatro determinado para a pessoa, então você tem que explicar tudo o que tem que fazer. Digamos que ela nunca tenha ido. Então o que ela teria que fazer no caso? Para chegar lá e entrar? Ela tem que se dirigir à bilheteria.

SPEAKER 1: : Comprar uma entrada. Se for estudante apresen na hora de entrar.

SPEAKER 0: : E depois assistir E escuta assim dentro do teatro, por exemplo, né? Você indicaria um lugar especial, assim, e falasse, olha, tal lugar é melhor ou qualquer é indiferente

SPEAKER 1: : Geralmente os lugares da frente são melhores.

SPEAKER 0: : ()

SPEAKER 1: : ()

SPEAKER 2: : E os atores () onde é que fica

SPEAKER 1: : Os atores ficam nos bastidores. Os bastidores, nos camarins, né? Aliás, eu não sei se existe mais isso. Eu estou muito apego assim ao teatro que eu conheci, assim, quando, quando eu comecei a ir a teatro.

SPEAKER 0: : A gente acha que hoje em dia já não tem. Não existe () ()

SPEAKER 1: : () (risos) A palavra não se aplica () (risos) teatro.

SPEAKER 0: : () televisão

SPEAKER 1: : () (risos) () São palavras assim bastante cafona para o teatro.

SPEAKER 0: : Eu tenho a impressão que, que hoje a relação entre o público e o, e os atores está muito grande. Tem intervalo, a gente vai falar com ele.

SPEAKER 1: : Inclusive, tinha um teatro aqui em São Paulo que quando você terminava, terminava o teatro, você queria fazer pipi, você atravessava o teatro e ia exatamente pelos atores () estavam. Acho que é a oficina. ()

SPEAKER 2: : E quem que determina a entrada e a saída dos atores? O diretor. O diretor?

SPEAKER 1: : () () () () () às vezes () () ()

SPEAKER 2: : ()

SPEAKER 0: : () ()

SPEAKER 1: : () Cinema eu estou tão desabituado cinema, eu não consigo mais pensar em entrar dentro do cinema, ficar duas horas parado no escuro. Não sei, me dá, sei lá, uma vontade de fazer alguma coisa. () () Quando você está () então no teatro, você sente mais vida. No cinema, geralmente, quando eu estou, estou assistindo ao cinema, eu, me vem aquela ideia de que eu estou assistindo simplesmente um celuloide que está sendo, está sendo projetado. () ah é (risos) ()