Inquérito SP_DID_059

SPEAKER 1: : ### () Bom com, você falou de Pompeia, mas por quê? É uma cidade que tenha, que impressionou você especialmente por alguma coisa?

SPEAKER 0: : Sim, porque as cidades vivas são lindas, mas você já tem sobre elas uma certa expectativa. Agora, Pompeia, como cidade morta, como lembrança de um passado que Está, inclusive, distante, que muitas vezes você não entende. Então, Pompeia, realmente, para mim, foi assim visitada como uma espécie de sentimento religioso, inclusive. De passar, nós fomos a Nápoles, ficamos pouquíssimo tempo em Nápoles, e de lá, então, viajamos para Pompeia. O O Vesúvio, como paisagem de fundo constante, aquelas ruínas, Aquela mescla, inclusive, de... casas mortas... com uma vegetação extremamente viva. E é engraçado, uma das coisas que ficou assim... uma de uma imagem que ficou gravada... com muita força, foi a imagem... de umas flores amarelas. Lindas, lindas. Que se cobriam, assim, toda... a vegetação. Nós f estivemos em julho. ### Era assim realmente uma descoberta. Uma Porque a cidade está ali assim à sua disposição para que você visite, para que você a veja. Em cada pedra de Pompeia, a gente procurava recriar a vida daquela gente. Ou seja, aquilo que eles poderiam ter sentido no momento do da grande do gran Então, me parecia assim tão terrível... olhar por aquelas janelinhas pequenas e... enxergar lá embaixo, nos porões das casas... ainda aqueles restos, aquelas figuras humanas... que estavam conservadas nas grandes... Ãh uma espécie de... de mol de sacos de de plástico, de moldes de plástico. Então, você podia perceber... inclusive assim os últimos movimentos daquelas criaturas. Você via ãh mulheres agarrando crianças, por exemplo. Tudo isso, assim, preservado desde aquela época.

SPEAKER 1: : Mas não reconstruído, no caso, não? Alguma coisa reconstruída, não?

SPEAKER 0: : Sim, há muita coisa reconstruída porque nas escavações se foi procurando conservar aquilo que que era possível manter em pé. Sei e E no caso de... corpos humanos. Muitas destas coisas estão reconstruídas. O Pelo menos se procurou... ãh colocar isso na posição que deveriam estar, etc. É terrível você ver aqueles restos... de pessoas... com tudo aquilo que havia sido construído. Então você procura imaginar realmente o que poderia ser Pompeia... No ao meio-dia... quando...

SPEAKER 1: : aconteceu o o desastre. Mas dá para assim para imaginar, além da vida familiar, dá para imaginar ou exterior também, assim quer dizer, fora da vida familiar, quer dizer estabelecimento comercial, essa coisa toda, dá ainda para ter uma ideia de uma atividade fora de casa.

SPEAKER 0: : Dá. Você pode perceber. Inclusive eu lembro de uma loja. Uma casa que nós visitamos e que nos mostraram como loja. Sim. Em que você via ainda balcões de pedra com cacos de vasos colocados sobre eles. Você visita casas onde você encontra ah a sala de banhos perfeitamente guardada. Aquelas relíquias em termos de pintura, por exemplo. Que são lindas.

SPEAKER 1: : Mas que éh pinturas como, ãh?

SPEAKER 0: : Principalmente pinturas de parede. Inclusive nós trouxemos uma quantidade de material aí que talvez a gente pudesse aproveitar. Tudo com pinturas, com detalhes de mosaicos. Inclusive aconteceram aconteciam coisas assim muito interessantes, porque os guardas que mostravam a cidade, naturalmente mostravam até um certo ponto. Certo Se você desse um jeitinho, en então era possível visitar e ver muito mais coisas. E eu lembro numa casa que nós visitamos, havia um mosaico, um dos poucos mosaicos coloridos. E foi engraçadíssimo, porque a casa estava repleta de gente, assim, na frente. E nós, então, como o Luiz havia dado uma gorjeta a um dos guardas, ele nos deixou passar. Claro, as outras pessoas pretendiam imediatamente invadir a casa atrás de nós. Mas ele fez assim uma encenação tão grande. Lacha passare professore. Então, (risos) realmente, só nós dois passamos com ele e pudemos visitar a casa inteirinha.

SPEAKER 1: : Mas por que ela atraía assim? Pe pe pe pela pe pela

SPEAKER 0: : Porque havia estava muito próxima da casa onde estava a lacé aquele célebre mosaico do () E depois, como eles viram que a casa estava sendo aberta etecetera, então correram para perto. E nós visitamos assim com um ou dois guardas, com os quais nós conseguimos fazer assim uma boa amizade, visitamos uma porção de locais onde os turistas em geral não entram. 

SPEAKER 1: : Não entram porque há má vontade ou porque o turista só se interessa por uma visão superficial da coisa?

SPEAKER 0: : Não. Não entram porque essas casas estão fechadas, estão preservadas como patrimônio histórico, ah artístico, etecetera  E é lógico, não se pretende que essas casas sejam invadidas por turistas que muitas vezes não têm ah clareza de espírito suficiente para deixar dentro da casa aquelas aqueles objetos, aqueles inclusive pared pedaços de parede pintados, etecetera, que a casa tem. Então, isso é realmente trancado para que se evite depredação.

SPEAKER 1: : Eh Agora, dava para sentir assim, ãh por isso tudo que você diz, dava para sentir assim, porque você disse que ãh, não sei se a minha impressão seria a mesma, eu fico pensando assim que eu talvez eu ficasse deprimida com a coisa que seria o pelo o contrário de você, quer dizer você se emocionou com aquilo e você consti reconstituiu emocionalmente a a a vida daquelas pessoas, mas essa reconstituição foi até onde? Quer dizer, foi só do ponto de vista emocional ou você pôde ter elementos para reconstituir mesmo a vida das pessoas na cidade?

SPEAKER 0: : Bom, por força da minha própria profissão e da maneira de ser, eu tenho facilidade muito grande de visualizar coisas. Então, aquilo que se via... era elemento suficiente para que você pudesse imaginar... naquelas ruas de pedra... as carroças passando... inclusive ãh... podendo perceber nas ruas... Pelo pela disposição das pedras... se naquela rua passava... se passavam duas carroças ou se passava uma só... pelo museu onde você encontrava peças e ilustrações... era possível você tentar descobrir... aquela gente andando. E há coisas lindas que marcam realmente a gente. Eu lembro a casa do Fauno, por exemplo, que tinha um... bem no centro do jardim, no meio de um... como se fosse um pequeno lago, todo de ladrilho, a imagem do Fauno. Era possível imaginar aquela aquela gente com seus mantos coloridos e aquelas mulheres de cabelos presos andando por ali, assim encarregando suas bilhas de água etecetera

SPEAKER 1: : E assim, ah vamos dizer, profissionalmente dava para sentir de que que vivia a cidade, assim, de uma maneira geral ou não?

SPEAKER 0: : Dava. Sentia-se que era uma cidade que vivia de comércio.

SPEAKER 1: : Que tipo, assim, de comércio? Generalizado ou havia especificidade, assim, na coisa?

SPEAKER 0: : Não, não parecia mais esse esse comércio de dia a dia. E era uma cidade de gente que sabia viver muito bem e que vivia... Bom, não sei, era uma uma forma muito diferente da de encarar a vida.

SPEAKER 1: : Por exemplo, o lu o lugar de divertimento... dava para perceber on se as pessoas tinham... um um lugar para se divertir?

SPEAKER 0: : Dava. Inclusive, nós visitamos uma casa... onde se realizavam aqueles célebres banquetes... onde s a glutonaria existia... assim... na sua maior, mais alta secção... onde, inclusive, do lado de fora... havia um imenso... Vomitório rodeado de de figuras pornográficas, não diga, onde as criaturas saindo da sala de banquete e vinham até o jardim fora e voltavam para a sala de banquete para continuar suas funções. Inclusive, éh engraçadíssima, tais figuras pornográficas eram assim guardadas zelosamente pelos pelos guardas da da cidade. Então, geralmente elas estavam cobertas ou fechadas... e você só podia ver realmente se você conseguisse a boa vontade de um guarda. E em grupos mais ou menos grandes... eles preferiam mostrar todas essas figuras aos homens. E me aconteceu uma vez na casa da Ivetre... nós estávamos... Luiz estava vendo... foi chamado por um grupo de homens e estava vendo... a imagem de Pria, porque havia um pequeno altar na frente da casa, como deveria ser né  E no momento em que ele me chamou para ver a imagem... o guarda fechou a porta assim com uma violência terrível e disse... isto não é para mulheres verem. Mas depois...es essas casas que nós visitamos praticamente sozinhos... então... eh nós pudemos ver... Todas as s obras de arte que havia na casa. 

SPEAKER 1: : Imagina-se, é é é como é que você assim visualiza para mim eh essa eh eh essa cena de banquete? Quer dizer Fora de de alguma gravura e fora de filme, a gente não tem muito quer dizer. Corresponde exatamente aquilo que a gente pensa?

SPEAKER 0: : Eu acho que ultrapassa. É 

SPEAKER 1: : Em que sentido?

SPEAKER 0: : No sentido de você... Procurar se colocar. Se é a experiência de comunicação, né? Procurar se colocar nos sapatos daquela gente. Ali, naquele ambiente que era o ambiente deles. E que, de uma certa forma, está mantido... está bastante preservado. Onde você não encontra um cartaz de Coca-Cola, por exemplo, né? Arrã Então (risos) ... Não é não não é muito difícil. você procurar sentir o que o que eles sentiam, como pelo que já se liam sobre sobre a vida deles, e filmes que exploraram o assunto muitíssimo. Então, não é preciso um esforço muito grande. Aliás, esse essa foi um uma das maneiras pelas quais nós viajamos pela Europa. Eu lembro também, e aí já saindo de Pompeia, quando nós visitamos o Coliseu, nos sentavamos... lá em cima... e ficávamos realmente num esforço de imaginação... procurando sentir o que poderia ter sido... aquilo... num dia de espetáculo. Porque é realmente enorme. Então... procurando rechear aquele coliseu... com a o cenário que s deveria ser. É assim, nós trocávamos ideias durante algum tempo, depois nós ficávamos muito quietos olhando as pedras, como se dali, de repente, pudessem brotar as pessoas.

SPEAKER 1: : E assim, dava para sentir, vamos dizer assim ãh, o espetáculo, eu fico pensando assim, num estádio de grande proporção, a manifestação, então você, ãh pela proporção, dava para sentir assim, o que poderia ser de manifestação popular, a coisa não.

SPEAKER 0: : Dava, porque é é como um imenso estádio. E você podia tentar perceber, o tentar imaginar o que era aquilo.

SPEAKER 1: : E assim, em Roma, que que imagem impressionou você, além do Coliseu, assim, ãh como cidade?

SPEAKER 0: : As fontes de Roma. É  A gente romana, O italiano é assim tão extrovertido, tão carinhoso, tem um calor humano tão grande, que nós pudemos sentir muitíssimo, porque nós vínhamos de Holanda, de Inglaterra, da França, e chegamos à Itália. Então, depois desses desses países, quando nós chegamos em Itália, foi realmente como se nós estivéssemos em casa. Porque... não sei... as pessoas começam a olhar para você... você de repente começa a sentir que existem novamente. Deixa de ser anônimo, né? Você deixa de ser assim um pedaço de carne com olhos... mas passa a ser uma criatura... um ser humano que está andando pela 

SPEAKER 1: : Mas não um turista... no caso?

SPEAKER 0: : Um turista... mas mais do que um turista... quase que um amigo. Porque nós procurávamos conversar com as pessoas. E a recepção que nós tínhamos era sempre muito boa, no sentido de, o italiano com raízes no (risos) Brasil, impressionante, de imediatamente, ah, vocês são do Brasil, então nós temos um um amigo que está em São Paulo, ou um parente que viajou, e eu conheço o Brasil, eu conheço muitos brasileiros, então a acolhida era sempre muito boa.

SPEAKER 1: : E vocês nunca assim foram tratadas, no seu caso de mulher, assim por exemplo, que você falou você estava acompanhada, mas se fala muito da és do excesso de galanteria do homem i éh ah es é italiano, que parece que explora isso inclusive como material turístico. Você não (tosse) teve nenhuma experiência nesse sentido, não? É verda Mas é por é realmente é por natureza mesmo ou é por quê? Se criou essa imagem, e ele explora isso?

SPEAKER 0: : Não sei eu Eu acredito que seja por natureza. Ele é assim. Nós nossa primeira A Ci A primeira cidade que nós viemos visitamos na Itália foi Veneza e. E... chegando a Veneza... Luiz precisava ir a um barbeiro. Então, claro, eu não podia ir junto com ele. Então, nós estávamos num hotel em () de Espanha... e... Luís encontrou um barbeiro logo... bem próximo ao hotel... e foi... ao barbeiro. E eu fiquei, então, vendo vitrines, esperando que ele saísse. Eu a Eu ti havia andado uns cinquenta metros... sozinha... e já tinha um italiano ao meu lado.

SPEAKER 1: : É o calor humano realmente presente. (risos) mas foi. Mas chega a ser assim desagradável ou é apenas assim galanteria pura e simples?

SPEAKER 0: : Não, não chega a ser desagradável (risos), mas o indivíduo era bastante insistente. Ah, é, ah? Sim, porque ele se postou ao meu lado e imediatamente, carinho né  Eu fiz de conta que não não tinha entendido, não era comigo. Ele então começou a experimentar todas as línguas que ele conhecia sabe Perguntando... você fala francês? E eu... não. Você... fala italiano? Você fala inglês? (Risos) sabe Até que eu disse a ele, em inglês, que... falava inglês, mas que não tinha nenhuma vontade de conversar com ele. Não foi muito fácil me desvencilhar do rapaz, não. mas você sente... você... passeia pela França, por exemplo... ninguém toma conhecimento da sua existência. Você... passa em... para a Itália... então você percebe que as pessoas... estão vendo que você existe. Elas olham para você. Elas sorrirem para você. Elas perguntam se você precisa de alguma coisa. Quando, na outra parte, você pode assim estar manifestando o desejo de de perguntar, de tomar uma informação, se você não agarra alguém pela manga, realmente ninguém para para is

SPEAKER 1: : Se eu tivesse muito pouco tempo para visitar Roma, vamos dizer assim, no máximo três dias, você poderia me fazer um roteiro do que eu deveria ver? assim, do seu ponto de vista, quer dizer, não do ponto de vista turístico, tradicional, etecetera., mas daquilo que você acha que realmente valeria a pena ver.

SPEAKER 0: : Há uma quantidade tão grande de coisas para se ver em Roma. Bom, há o Vaticano, a Catedral e existem os museus. São realmente dignos de ser vistos. E a parte de ruínas. O Fórum Romano, por exemplo, é um espetáculo extraordinário. Nós passamos no fó no Fórum Romano um dia inteiro. Batemos uma quantidade enorme de slides Realmente... É, assim, uma experiência diferente.

SPEAKER 1: : Mas por que do caso o Vaticano? Você acha que pelo pela, pelo vamos dizer assim, pelo valor histórico da coisa ou por uma certa assim obrigação tradicional de ver o o lugar ou se ou Ou vale a pena por si mesma?

SPEAKER 0: : Vale a pena. O vale ah Eu achei a Catedral de São Pedro uma coisa linda, inclusive pelas obras de arte que ela contém. É assim, aquela imensidão da qual você inclusive na qual você inclusive perde o sentido de proporção. Se você vai medir aqueles anjos enormes de pedra que estão lá, você se assombraria com o tamanho que eles têm. Mas dentro do contexto geral, eles perdem o seu tamanho. Existe um equilíbrio muito bom de de de massas, de formas, Depois, as obras de arte que ali estão, a Pietá, que agora está mutilada né  Pobre  E o Museu do Vaticano é excelente. Você encontra absolutamente ah de tudo que você possa procurar em termos de arte. Inclusive, eu me lembro bem da parte dos Egípcios, por exemplo. Ah, eles têm também isso é? Têm. Uma parte grande de estátuas, de pinturas.

SPEAKER 1: : Mas de arte moderna, nada.

SPEAKER 2: : Não.

SPEAKER 1: : Além do museu, você visitou alguma outra coisa em relação, do Vaticano mesmo, alguma outra coisa que causa impacto? Não olha para o Luís, não que ele perturba, olha para mim. No Vaticano? É, eu est estou pensando justamente numa coisa. Na Capela Sistina? Não, na biblioteca. É uma das coisas que eu tenho sempre na cabeça, assim a intenção de ver essa biblioteca, porque eu acho que tem coisas fantásticas nela, do ponto de vista do próprio português. conservam coisas magníficas e por isso que a gente fica condicionado a isso né, além do do dos outros monumentos. Mas de todas essas cidades, você veja bem, você sentiu o calor humano e tudo na Itália, mas assim, como cidade, como um monumento assim, ah além de Pompeia que é uma coisa extra nao é, de todas elas, a que mais lhe causou impacto, não só do ponto de vista humano, mas assim como cidade mesmo.

SPEAKER 0: : Eu gostei muito de Amsterdã. Por quê? Por uma série de razões, poque Primeiro hã, Amsterdã é linda. Por uma dessas um desses motivos ocultos que você não dificilmente descobre, eu sempre quis visitar a Holanda. Desde menina, é meu sonho era visitar a Holanda. E quando surgiu a oportunidade da viagem, uma das primeiras coisas que eu disse quando nós pensamos no planejamento da viagem foi, eu quero ir à Holanda. Inclusive o Luiz não tinha entendido muito porque Holanda. Depois ele lembrou que estava lá o Centro Internacional de Aviação Agrícola, então encontrou inclusive um motivo para ele também ir à Holanda. E Bom, a Holanda foi também o o nosso ponto de reencontro. Porque Luiz havia saído do Brasil um mês antes. Enviado pela firma, aos Estados Unidos. E depois desse mês, ele foi diretamente de Nova York para Amsterdam. E eu viajei do do Brasil para Amsterdam. Eu não estava há um mês separados. ### Achei importante isso. Aí nós nos reencontramos em Amsterdam. Isso é muito importante para que uma cidade fique linda. Claro Ah É lógico. E se essa cidade já é linda em si mesma, então, prazer é dú

SPEAKER 1: : Mas assim, a beleza dela, você além do do de tudo isso quer dizer, o que que você acha fundamental nessa harmonia, para dar essa beleza na cidade?

SPEAKER 0: : É aquela unidade de construção de casas. São os os canais que você encontra assim a cada a cada momento, atravessando, cortando a cidade toda. É aquela mistura de cidade antiga com alguma coisa de nova, de novo, de moderno no meio. São todos aqueles costumes que você conhecia através de livros e que você, com uma surpresa muito agradável, verifica que existem na realidade. E que não decepcionam. E que não decepcionam de maneira alguma. São todas aquelas cortininhas brancas engomadas que estão nas janelas de todas as casas, acompanhadas dos seus vasinhos de flores. E que são encantadores. É aquele amor pelo detalhe, aquele amor pela pela estética, pela beleza das coisas, e que inclusive nos surpreendeu muitíssimo. Nós fomos na Holanda, nós tivemos a oportunidade de viajar através da Holanda, e che indo até uma fazenda típica holandesa. E no caminho, nós passamos por uma cidadezinha pequena e de interior, Passeando assim por uma das ruas dessa cidade, nós vimos uma casa que tinha na sua fachada uma placa advertindo as pessoas de que aquela casa estava em perigo de ruir. E que, portanto, era absolutamente proibido morar na casa. Mas essa casa também tinha sua cortina engomada e o seu vasinho de flores. Porque os vizinhos não podiam, de maneira nenhuma, se conformar com a ideia de que naquela rua existisse uma casa com uma janela fechada, sem cortina Então se mantinha a tradição, mesmo numa casa onde os vizinhos entravam com o perigo de ()

SPEAKER 1: : Em matéria assim de de monumento e de comércio, eu não sei se você fez compra em em Amsterdã, mas você teve alguma experiência disso ou não?

SPEAKER 0: : Não, em Amsterdã nós quase, praticamente não compramos coisa alguma, porque éh primeiro era a nossa primeira, a nossa primeira etapa. Depois nós achamos que as coisas estavam todas muito caras. Então a única coisa que compramos lá foi um relógio.

SPEAKER 1: : E nada mais. Mas vocês visitaram lojas e essa coisa toda assim por por curiosidade ou não tiveram tempo?

SPEAKER 0: : Não, não visitamos lojas. Nós ficamos mais no no sightseeing em geral.

SPEAKER 1: : E assim, em matéria de museu, qual foi o em que vocês se deteram mais, ativeram mais e que mais agradou? Ou qualquer coisa desse tipo. ### É?

SPEAKER 0: : Mas em Amsterdã, nada? Bom, em Amsterdã nós tivemos no no no Museu Nacional, vendo todos os flamencos né  Inclusive, um pintor que eu gosto muitíssimo, que lá eu aprendi que a gente fala Van Gogh Neste museu, eu tive, do ponto de vista didático, uma experiência que me pareceu linda. Numa das pequenas salas do museu, onde só havia quadros de Van Gogh em toda a volta, nós encontramos um grupo de crianças sentadas no chão, ao redor do professor, e o professor estava utilizando a sala do museu como sala de aula. Nós não entendíamos o que ele dizia, porque na Holanda nós nos comunicávamos em inglês. M Mas nós percebíamos que o diálogo estava assim, es era extremamente franco, alegre, as crianças participavam muitíssimo, inclusive muitas vezes levantavam dos seus lugares, iam apontar detalhes nos quadros, completamente esquecidos de turistas que estavam passando, então você percebia que aquela devia ser uma atividade muito comum. Foi extraordinário. Poxa vida. Aquilo me pareceu assim, tão lindo, porque, eh, nós que vivemos falando em ensino vivenciado, em processo de participação de aluno, et cetera, e que nos parece tão difícil de obter, estava ali. Assim, mas com uma tranquilidade tão grande, sem nenhum formalismo, sem nenhum arranjo especial, as crianças sentadas em roda, no chão, uhum, vivendo a experiência de um museu, E para a felicidade delas, estudando os pintores nas suas próprias telas (rindo).

SPEAKER 2: : () Maravilha, não? Puxa vida. E

SPEAKER 1: : E em Paris, não causou  assim um impacto em você como cidade, ou não?

SPEAKER 0: : Paris é outra coisa, completamente diferente.

SPEAKER 1: : Você acha, quer dizer, que fora de qualquer, assim, ãhn... Porque isso eu eu ouço com frequência, mas eu não tenho muita experiência de viagem e sempre me diz que () Sempre que () dão a resposta, que você dá e

SPEAKER 0: : Não sei, talvez Paris esteja envolta na, principalmente para nós, latino-americanos, que vivemos, somos filhos de de uma cultura francesa, em grande parte. Paris tem uma quanti uma série de expectativas enormes. Uhum. Re Então, o simples fato, você que aprende francês, e que no nos livros de francês, nos quais nós estudamos, você tem necessariamente uma descrição do Arco do Triunfo, da Praça da do Lago da Concórdia, de Versailles. E Então, é e é um encontro com velhos conhecidos. Uhum. Quando você está lendo todas aquelas coisas, muitas vezes você pode dizer, puxa, mas que coisa cacete. Aham. Mas no momento em que você chega lá e que você começa a andar na praça, eu me lembro perfeitamente da da Place de la Concordia, daquelas lições nas quais nós ficamos há muito tempo (rindo). Ãh Então, no momento em que eu pude pisar a praça... e ver que ela existia... e andar à à beira do Sena... e pas e ver todas aquelas pontes... e subir a Torre Eiffel... e ver Paris lá de cima... foi uma experiência assim... completamente diferente. Ou ir à à à Catedral de Notre-Dame e poder andar assim toda a Catedral, e subir até as torres e e poder sentir a experiência da da Catedral, sentir o que o que é aquilo como um monumento. Uhum. E

SPEAKER 1: : () um bosque imenso. Né? Agora, Você gostaria, por exemplo, assim, de morar na França? N Não. Não Por que?

SPEAKER 0: : O não foi muito redondo. Eu acho que eu não gostaria de morar em Paris. Talvez numa cidade de interior.

SPEAKER 1: : ### Por que não? Você sente assim que a cidade é hostil de uma certa maneira?

SPEAKER 0: : Eu acho que sim. ()

SPEAKER 1: : Em que sentido que () Você teve alguma experiência pessoal nisso ou é observação generalizada sobre a coisa?

SPEAKER 0: : Não, é uma observação geral de de Paris... como um um grande todo. P Paris é aquela grande cidade onde você se sente... Abafada. Uhum. É a mesma experiência de Nova York, por exemplo.

SPEAKER 1: : Você acha que se comparam duas? E Em termos de vivências Se você tivesse que optar pelas duas, você ficaria, assim, na mesma... objeção em relação a uma e em relação a outra, ou não?

SPEAKER 0: : Não sei, nunca pensei nisso. Paris seria mais suportável que Nova York? Em que sentido? A A possibilidade de você ter uma vida de cultura muito maior. Uhum. Você teria... maiores possibilidades de defesa e de refúgio numa quantidade de coisas, em arte, em literatura, em teatros, et cetera. O que você q Eu eu sinto que não teria tanto em Nova Iorque, por exemplo. Uhum. Nova Iorque é aquela vida de loucura, onde uma pessoa pode cair morta na rua e os outros veem e passam por cima, porque realmente não existe a preocupação com com o a criatura humana que está passando ao seu lado.

SPEAKER 1: : Uhum. Agora, até certo ponto, você não acha que esse anonimato, quer dizer, que é desumano, não resta dúvida, mas você não acha que, às vezes, é uma vantagem para a própria preservação da liberdade do indivíduo? Como indivíduo? N

SPEAKER 0: : Não. Porque o indiví, o, eu acho que o ser humano não existe sozinho. Então você... pode ser muito interessante vocês passar anônima por uma cidade, mas num certo momento você precisa de... você precisa de gente. Uhum.

SPEAKER 1: : Você acha que, por exemplo, nem Paris nem Nova Iorque oferecem essa e essa possibilidade de de um contato humano assim mais facilitada? E

SPEAKER 0: : Eu acho que não. Dependeria, talvez, do tempo. Certo. Nós passamos pouquíssimo tempo em Paris e eu passei pouco tempo também em Nova Iorque. Uhum. Talvez, indo com uma finalidade específica, se eu fosse viver num desses países, minha atitude seria completamente diferente da atitude do turista que passa e que sabe que aquela cidade será o seu lugar por uma semana, duas semanas. E o simples fato de você ir procurar se, o local para se estabelecer, ter o seu local de trabalho, ter o grupo de pessoas com as quais você vai trabalhar obrigatoriamente durante um certo período do dia, já te cria uma disponibilidade diferente. Uhum. E Eu sei por experiência própria que não sou uma pessoa difícil de se adaptar. Nos Estados Unidos, por exemplo, quando nós tivemos que viver numa universidade durante um ano inteiro, eu tive pouquíssimos problemas de de relacionamento e de de vida, uhum, em comparação com outros brasileiros do mesmo grupo. E Eu posso, inclusive, afirmar que alguns dos brasileiros que estiveram conosco naquela ocasião passaram todo o em em crise de adaptação. Hum Voltaram ao Brasil sem poder dizer realmente que se sentiram bem durante algum tempo.

SPEAKER 1: : Certo. É, isso acontece com muita gente, mesmo.

SPEAKER 0: : E é aquela experiência que a gente tem quando vai em grupo de realmente procurar fugir do grupo, uhum, de de patrícios que foi junto, porque estes que se a não se adaptam, geralmente passam todo o tempo em recriminaço Isso, de uma certa forma, vai minando o grupo todo, hum Então, criam-se aquelas republiquetas, onde só falta... Falta hastear a bandeira e cantar o hino nacional (rindo). É  É horrível, não? Ho Onde não se tem oportunidade nenhuma de conhecer o o povo lá fora, de falar a língua que eles falam e de procurar entendê-los de alguma forma. Uhum. Sempre é muito mais fácil criticar do que procurar entender as outras pessoas.

SPEAKER 1: : E assim, como locomoção, você sentiu assim que qual das duas cidades, agora comparando Nova Iorque com Paris, qual das duas cidade é mais fácil o in o estrangeiro que chega por pouco tempo se virar na cidade? () Quer dizer, o sistema mais lógico de co locomoção. Não sei se você teve essa experiência ou se você... Não, eu não tive problema em nenhuma nas duas cidades.

SPEAKER 0: : Você acha que é perfeitamente possível se entrosar dentro delas e... Sim, porque você chegando a uma cidade completamente diferente, a primeira coisa que você faz é realmente apanhar um mapa da cidade, estudar esse plano da cidade e procurar descobrir quais são as melhores formas de você se dirigir àqueles locais que você quer visitar.

SPEAKER 1: : E vocês não estranharam quando vocês saíram do Brasil assim, o preço cobrado para a visita a museus, essa coisa toda assim, porque a gente não tá muito acostumado com isso, né? Vocês não estranha Ou vocês tinham incluído isso já no orçamento? Eu não sei se vocês fizeram uma previsão de orçamento.

SPEAKER 0: : Nós não tínhamos incluído isso no orçamento e em alguns lugares realmente nós deixamos de entrar porque nós achamos um absurdo ter que pagar uma taxa para ver determinada coisa. Nossa  Em alguns lugares nós chegamos à conclusão de que não era tão importante ver aquilo e que aquela taxa era realmente abusiva.