SPEAKER 0: Gravação do dia onze de julho de () > novecentos e setenta e dois. Bom, então eu gostaria de perguntar como é que você organizou a sua viagem, quer dizer... Isso tudo que você está falando está sendo gravado? SPEAKER 2: Apesar de... é? SPEAKER 0: Sim () A organização da sua viagem, quer dizer, como é que você preparou papelada, essa coisa toda? Então, se você se lembra dessa fase que geralmente é meio desagradável, né? Como é que foi? SPEAKER 2: Bom, a minha viagem foi preparada assim, meio de... sopetão de improviso, no dia trinta e um de dezembro, numa festa, minha viagem grande, né? Certo. Aquela de um ano de agosto. No dia trinta e um de dezembro, numa festa de fim de ano, eu conversei com um ex-aluno da Universidade de Nova Iorque. Eu falei, olha, eu também estou querendo ir para Nova York, não dá um jeito? Eu escrevo uma carta para lá, vamos ver. E... Então ele mandou uma carta para Nova York, E a coisa fica assim. Temporada que não acontece nada, até que um belo dia, acho que foram uns quatro meses depois, acho que foi em abril, chegou uma carta falando, olha, apresenta a documentação (risos) Óbvio que apresentar, pedir () carta de apresentação e xerox, xerox não era fotocópia daquele tempo (risos), foi um diploma e daquela coisa arada toda, mandar. Alguém nos manda uma cartinha, já impressa, tá escrita assim, sua, seu pedido está under consideration. Uhum. E... E você fica pensando aí no assunto. E até que chegou uma cartinha dizendo, você foi aprovada, faz favor de vir para os Estados Unidos, você tem tantos dias para estar aqui, tempo era mínimo () Quer dizer que daí eu tive que desmontar a minha casa, eu morava numa casa de aluguel, desmontar a casa, pegar todos aqueles móveis para tudo num guarda-móveis e foi um trabalho (risada)... você imagina, né? SPEAKER 0: Mas você recorreu a alguém assim para ajudar a fazer a papelada? () Para a própria viagem, não? () SPEAKER 2: () eu e Teresa que fizemos tudo né () SPEAKER 0: O que você precisava fazer essa documentação para se locomover, para sair do país? SPEAKER 2: Para sair do país é pelo... simplesmente um passaporte. Veio com um visto especial. A Teresa tinha um visto () de acompanhante, de bolsista, não é? Uhum () SPEAKER 3: E não teve problema nenhum () () Eu fui um mês () Eu fui dois meses antes. Eu fui no dia trinta de junho. E a Teresa foi no fim de, de julho, quase agosto. SPEAKER 0: Mas você foi como? () Daqui para lá? SPEAKER 3: Eu fui de avião. Uhum () SPEAKER 2: Deixei a Teresa e as crianças na casa da minha mãe. E > SPEAKER 3: E, como nós não tínhamos muito dinheiro (risos), ou melhor, ao contrário, era bem pouco. Sabe o que nós fizemos? () deixei o... Eu tinha um Volkswagen. Então, a Teresa ficou com o carro aqui () () a programação era vender o Volkswagen. transformar em dinheiro e levar para lá para completar a nossa pão de cada dia lá. () fui comendo o Volkswagen durante um ano né (risos) () limpador de parabrisa () Isso aí é aquele negócio. O ano inteiro de () SPEAKER 0: E como foi () essa viagem de avião assim quer dizer SPEAKER 3: Houve muita... A viagem de avião teve uma característica muito especial que hoje eu ainda estava comentando aqui na hora de jantar com o Fábio Mercier que eu não estava muito feliz da vida. Uhum Eu fui meio, meio triste para os Estados Unidos (risos), mais incrível que pareça, porque quando eu fui para lá, Eu não podia levar todos os quatro filhos. Eu só tinha quatro filhos. Então eu falei, eu vou levar dois. Que era o que dava. Uhum E eu só pude levar os meninos. Porque como as meninas eram muito pequenas, eu fiz um raciocínio. Bom, menina pequena não vai sentir muito (risos) E meninos, eles já estavam mais conscientes, ia ser pior. Então eu falei, pronto, eu vou levar os meninos. Levei os dois. () chateado de largar as meninas Quando eu saí daqui, eu estava vendo que elas iam ficar um ano longe, né? Não é? Então, eu fui no tristeza do diabo, a casa... no guarda-móveis, eu sozinho. () Eu não fui nada feliz, né? Então, eu entrei no avião. Fazia cinco anos que eu não punha um cigarro na boca. Entrei no avião, naquela abofação, aquela chateação, virei para o fulano do lado e fui dá um cigarro (risos) () (risada) () cigarro () (risada) Cheguei no Rio, comprei um maço de cigarro na Galeão e foi aquela beleza (risada) Mas foi só no Rio a parada? Foi. () direto a Nova Iorque. Uhum Cheguei em Nova Iorque e foi interessante. Cheguei lá, eu nunca tinha ido para lá. tinha um prazo fatal para chegar em Princeton, que era onde eu ia fazer um curso dois meses antes de ir para Nova Iorque. Então cheguei Eu cheguei lá e fui à Universidade de Nova Iorque para tratar principalmente das acomodações quando nós fôssemos passar o ano inteiro. Então eu cheguei lá, era período de férias, não tinha ninguém. Então, perguntei lá, olha, eu quero um apartamento bom, porque eu vim aqui com dois filhos. A moça também começou a falar, pode estar de esperança, porque aqui é contra o regulamento. Com duas crianças não pode () Aluno só com uma criança no máximo (risos) () E eu não consegui resolver o assunto, fui para Princeton, porque tinha que chegar naquele mesmo dia em Princeton e me apresentar para não perder a bolsa. Corri para lá tal, fui de trem, pensando que sabia inglês, achou, fui conversando no ônibus, no trem, tudo certo que sabia. (risada) Isso é ótimo, isso é ótimo. (risada) É, porque você vai ficando vendo a ignorância aos poucos (risos) SPEAKER 1: () () SPEAKER 3: () (risos) () você advinha a pessoa () (risada) É, aos poucos você vai percebendo (risos) A sua primeira vista, parece que você sabe que dá para quebrar o galho, né? SPEAKER 0: E.. Mas como é que foi essa viagem de trem? Notou uma diferença em relação ao Brasil? () SPEAKER 3: () O trem era horrível, né? () O trem era horrível. Era um trem muito vagabundo. Não me causou grande impressão, não. E tinha um cara lá que vendia... Vendia amendoim no trem. Ah, que delícia! O cara estava gritando... () (risada) e... O trem era ruim SPEAKER 2: Depois ele parava num, num desviço, se fazia uma baldeação. SPEAKER 3: A viagem era bem... Era pista, assim () (risada) () era um espetáculo () Ah, é uma maravilha () Bom, para começar é uma universidade tradicional. Universidade das, das cinco... mais famosas americanas, aquelas que fazem parte da chamada Ivy League, né? É bacana aquele negócio lá, sabe? () enorme Um lugar, uma paisagem muito bonita. SPEAKER 2: E um campo de golfe bem em frente, assim, da, da nossa, do nosso curso, sabe? SPEAKER 3: Lá da sessão que nós estávamos hospedados. Então é aquele verde, aquele gramado bem tratado. Espetáculo. Negócio muito boni> () ah era uma beleza () muito bonito () O lugar todo é bonito. E... () Fiquei lá dois meses em Princeton () SPEAKER 0: Havia locomoção assim quer dizer Possibilidade de locomoção interna? Ou era tudo a pé? SPEAKER 3: Tudo a pé. Em Princeton era tudo a pé () SPEAKER 1: Não havia grande distância () SPEAKER 2: Não. Tudo a pé () Era razoável. Acho que tinha uns três quilômetros. da universidade até o centro da cidade. Mas a gente fazia tudo a pé. Não tinha condução. SPEAKER 3: Não existia ônibus, nada disso. Tinha que andar a pé mesmo. Mas era gostoso. A gente sempre andava em grupo, batendo papo. SPEAKER 2: Ultimamente, existiam outros brasileiros lá. Lá é interessante porque eles faziam, fizeram uma reunião de candidatos a cursos de pós-graduação SPEAKER 3: em escolas de direita americanas, nas candidatas de toda parte do mundo. SPEAKER 2: Então nós tínhamos colegas hindus, hindu de turbante, hindu sem turbante, todo tipo de gente, né? E era então variável, você conversava com aquele monte de gente, tinha gente da África, de tantos países que você nem sabia que existia (risos) Países africanos, não. Você nem sabia que existia aquilo. SPEAKER 3: Então era, era divertido. Mas os brasileiros lá se formavam um grupinho, né? Uhum No geral, os ocidentais se agrupam, né? Inclusive, sabe por quê () () É que se plantaram razoavelmente. Não costumam, né? SPEAKER 2: Para jogar futebol não jogavam direitinho, viu? (risos) SPEAKER 3: Mas o negócio lá dos brasileiros era um cinco. SPEAKER 2: Tinha um, mais um paulista, tinha um carioca, Um gaúcho e um mineiro. () SPEAKER 1: cinco né. Falta um, não é? () SPEAKER 3: () mais um paulista () (risos) SPEAKER 2: E tinha uma moça, mas a moça não, a moça preferia ficar com os alemães (risada) SPEAKER 3: Ela de brasileiro não queria saber (risada) () SPEAKER 0: E depois, para Nova Iorque, como é que foi a vida de vocês lá, em matéria assim, quer dizer Como é que vocês conseguiram se situar na cidade? SPEAKER 2: Não, Nova Iorque, todo mundo diz que é uma cidade tímida, tortil, complicada, ninguém gosta, você fica esmagado, indiferenças de todo mundo. SPEAKER 3: Toda essa conversa chega lá e se instala perfeitamente, se adapta maravilhosamente. E eu não tive problema nenhum, nem na Tereza, ninguém. A Tereza também quando chegou lá nos Estados Unidos estava abalada, triste () SPEAKER 2: Mas se adaptou tão bem lá nos Estados Unidos, e... E nós ficávamos na, ao lado da escola, uhum, numa praça. Você conhece Nova York? SPEAKER 3: Ali é uma praça justamente onde inicia a quinta Avenida. SPEAKER 2: E essa praça fica toda rodeada de prédios da universidade. Uhum Um dos quais é a residência. Então, gente, para, para ir para faculdade era simplíssimo. SPEAKER 3: Cinco minutos, eu saia de casa e chegava na escola, né? SPEAKER 2: Mas... Eu lá estudei muito. Quer dizer que eu não... Dia de semana era programa rotineiro. Eu levantava cedo, SPEAKER 3: Ia para aula, ficava até a hora do almoço. SPEAKER 2: Voltava para casa, almoçava, ficava mais um pouquinho. Tava até me decochilar depois do almoço. (risos) Mas depois eu voltava para faculdade e ficava até a hora do jantar na biblioteca estudando. Estudava bastante lá. E... fim de semana a gente ia passear. Nós inscrevemos em tudo quanto era passeio de... Programado pela universidade, né? Sim SPEAKER 0: () E como é que eram os passeios? SPEAKER 2: Passeios... Por exemplo, nós fomos uma vez para... para Connecticut Tinha lá um aviso. Quem quiser ir para Connecticut passar um fim de semana e tal. Tem gente que hospeda e não sei o quê. () se inscrever. Eu me inscrevi e punha. E eu? Mulher e dois filhos. já causavam um certo impacto (risada) Mas nunca deixávamos de ir por causa disso. Sempre fomos. Inclusive, fomos muito bem recebidos em uma opção de lugares em Boston, na Pensilvânia. Nós tivemos hospedado uma fazenda na Pensilvânia. Passamos lá uns dias. Tonico caiu dentro de um, de um lago de água gelada () (risada) Já era começo de inverno. Uhum Tonico... Roupa, de casacos, tudo (risada) SPEAKER 0: E como é que você, quer dizer... a viagem também era financiada ou não? SPEAKER 2: Essas viagenzinhas? Não, essas viagens... Em geral, a gente tinha que contribuir com o preço da passagem. SPEAKER 0: Mas vocês iam de quê? SPEAKER 2: Ah, variável. Para Connecticut nós fomos de trem, para Pensilvânia fomos de automóvel, Para outro lado ia de ônibus, isso variava muito. SPEAKER 0: E assim, que tipo de viagem que vocês achavam que era assim, mais compensadora em termos de aproveitamento? SPEAKER 2: Todas elas foram boas, viu Porque a gente era muito bem recebido, o pessoal procurava mostrar tudo. Nós fomos lá, por exemplo, para Boston. Em Boston nos levaram passear na Universidade de Harvard. Nós passamos uma tarde inteira, um dia inteiro lá, né? Nós fomos em dias espetaculares, nevava para chuchu e nós passamos sem raiva de tudo. Lá fomos à biblioteca, foi um bonito passeio. O pessoal chegava ao cúmulo de emprestar automóvel para gente. Uma gente simpática mesmo viu SPEAKER 0: Alguns não se tem ideia disso. Não é? Eles têm ideia justamente ao contrário. SPEAKER 2: Emprestavam automóvel, nós fomos lá. Uma vez fomos lá de Boston visitar aquela... onde chegaram os peregrinos do Mayflower. E fomos de automóvel emprestado, assim. Chegamos lá, tinha uma, uma réplica do Mayflower bonita, uma coisa espetacular, bonita. SPEAKER 0: Pois é, mas isso é que estava estranho. e, justamente, Boston não como cidade tradicionalista, ela não é fechada, assim. () SPEAKER 2: Nós () nós não estivemos nos meios tradicionalistas, deve ser Deve haver um grupo fechado, assim como deve haver em Nova York mesmo. Aqueles grupos fechados, né? () () gente... classe média, gente... que leva um padrão muito alto. Por exemplo, em Boston nós ficamos hospedados... na casa de um casal lá... o cidadão era dentista... E a mulher era, como é mesmo, a administradora do lar. lar (risada) Ela era a administradora do lar. Tinham quatro filhos. Quatro filhos, né? Dois da idade dos meninos aqui de casa. Quer dizer que foi uma perfeição. Interessante que nós chegamos lá de noite. Chegamos bem tarde da noite e a criançada da casa estava toda dormindo. Então chegamos lá e o... Os meninos foram dormir também. E nós ficávamos conversando com os donos da casa até de madrugada. Aquela conversa ali... e... surpreendente. Nós éramos uma surpresa. Brasileiros. Eles ficavam muito surpresos. A gente devia aparecer de tanga lá (risada) () vestidos normalmente E ficávamos até de madrugada conversando. E depois de manhã, nós custamos de acordar, né? E quando acordamos... os nossos dois já tinham acordado... já tinham se encontrado com os dois da casa... já tinham tomado café juntos... já estavam brincando juntos perfeitamente à vontade. Engraçado, né? Criança inclusive, como se integra. E naquele tempo eles não falavam, acho que nada de inglês, viu? Era pura mímica e... foram se entendendo. Tinha um problema, né? Porque depois eles foram aprendendo inglês. Sabe que uma coisa que nós conseguimos lá em Nova York também, que foi formidável? Primeiro uma bolsa de estudo para os dois. Imagina só. Nós descobrimos uma escola que dava bolsa de estudo e que era só para filhos de estrangeiros. E os dois ficaram lá uma temporada. Depois colocamos numa outra escola. Ali nós tivemos que pagar. Não me lembro o quanto. Era, mas não era, era coisa bem razoável, porque nós não tínhamos dinheiro para nada que não fosse bem irrazoável (risos) Mas eles iam para a escola, almoçavam na escola. Então, naturalmente, eles começaram a aprender um certo inglês, né SPEAKER 0: Eles se entendiam entre eles. Que tal assim o regime de escola no nível deles? Depois eu queria saber o seu também. Mas no nível deles, vocês acham assim que a coisa é mais funcionável? SPEAKER 2: Acho que não. Acho que não fazia muita diferença do nosso nível aqui, não SPEAKER 0: Porque além disso, eles tinham... era uma escola comum. SPEAKER 2: Era uma escola comum, perfeitamente. Mas eles eram... mas era kindergarten, né? Eles estavam com três e quatro anos. Quer dizer, o negócio era brincar, brincar no colégio. não dá muito, não dá Não dá não SPEAKER 0: Quer dizer, mas vocês, assim, do ponto de vista de formação deles, vocês acham que a escola deu, essa escola deu alguma contribuição ou não? SPEAKER 2: Essa daqui não SPEAKER 0: Não? () Agora, e a sua experiência, assim, como, não só como bolsista, mas como estudante, assim, no regime de, de estudo norte-americano? Você já disse que estudava () () conta para gente como é que a coisa se dividia, assim. SPEAKER 2: Eu achei formidável do esquema americano porque, pelo menos no nosso curso, era um curso que tinha uns quarenta alunos só na classe, e nós tínhamos uma programação perfeita do curso inteirinho. Então, antes, no primeiro dia de aula, antes do primeiro dia, você já recebia uma programação completa. Tais dias, tais aulas, e o que você devia ler para preparar as aulas daquele dia, compreendeu? Então você já tinha o programa completinho. Então você sabia, tal dia, tal hora, tenho aula de Direito Comercial, por exemplo. Então você deve ler para essa aula tais artigos do Código Comercial, um artigo de revista, ou tantas páginas, tais páginas de tal livro, entendeu? Então você lia tudo isso e estava preparado para acompanhar aquela aula. E a aula era na base do seminário. Você chegava lá... e o professor começava... puxando... de você o assunto. Depois é que ele ia completando as coisas. SPEAKER 0: Sim, porque já havia muita participação, então. SPEAKER 2: Muita participação. A primeira coisa ele já,  já... ele já começava a aula perguntando. Você, por exemplo, você leu tal artigo, o que você achou? Por que que você chegou a essa conclusão? você acha que está certo, ou então uma decisão judicial () E o negócio era todo na base do debate, da conversa, troca de ideias. E o professor, naturalmente, completava, dava uma corrigia, ou chamava atenção para algum aspecto especial. Era espetacular esse sistema. SPEAKER 0: Isso durava quanto tempo? SPEAKER 2: () duas horas SPEAKER 0: E depois tinha alguma atividade complementar, ou não? SPEAKER 2: Não. Era só aula de duas horas e a biblioteca muito boa. Então você tinha condições, como eu disse, eles indicavam os livros que tinham que ser lidos, mas todos os alunos tinham condições de consultar aqueles livros na biblioteca, porque existia número suficiente de volumes para todos procurarem () É. Exato. Isso é uma facilidade extraordinária, né? E... E a pesquisa, portanto, era facilitada mesmo. SPEAKER 0: E o tipo de avaliação, como é que era feita? assim de rendimento do aluno () SPEAKER 2: Bom, nós tínhamos exames, exames escritos. SPEAKER 0: Assim, tinha um prazo para esses exames? Não () SPEAKER 2: () final do curso () () no, no final do semestre Sei Tinha exames escritos e os exames, agora, os exames eram na base de problemas, em geral. Não de, não era dissertação, não era () resposta perguntas, era um problema. Eles davam uma, um, um caso e mandavam você ou decidir como juiz ou argumentar como advogado de uma das partes, de uma ou de outra. Então você tinha que dar os argumentos. E é um negócio muito bom mesmo. E às vezes eles pediam concomitantemente. Vamos dizer, você argumenta como advogado de á e de bê Ou você argumenta como advogado de á e decide Você tinha várias, várias maneiras de encarar o problema. Sei... Era então muito bom o método mesmo Gostei. Gostei, e aqui em São Paulo eu procuro às vezes dar uns problemas desse tipo () Mas (tosse) o nosso aluno aqui é completamente desabituado. () E ele reage, ele sente () a dificuldade. E depois o, o aluno aqui, eu vejo que ele não tem o hábito de trabalhar, né, de pesquisar. E é um hábito difícil (risos) de impor, não é mesmo? () Pois é, é um hábito difícil de impor. você pede para eles pesquisarem e o resultado em geral é pobre, viu? Muito pobre. Lá não, lá o sistema é um hábito, eles fazem desde o início, né? Agora o curso de Direito lá é de três anos () E aqui é de cinco. Uhum Agora o curso de Direito lá é três anos, mas em geral, pelo menos nas boas escolas, porque lá também tem as escolas Naquelas escolas, é (risos). Mas nas boas escolas, o curso é tempo integral. É tempo integral, quer dizer, o cidadão tem aula de manhã, tarde ou à noite, e o resto do tempo é exigido. Porque a, a proporção que eles calculam é a seguinte, para cada hora de aula, duas horas de preparação. Então, você veja, é um negócio que não é? Tem duas aulas de duas horas por dia, você veja? É lógico. Vai longe o negócio. SPEAKER 0: É, mas isso geralmente quando se organiza curso de pós-graduação nunca se leva em conta a atividade que o indivíduo deve desenvolver para se preparar para aquilo. Quer dizer, a coisa aqui é feita assim muito sem senso da própria realidade ou das próprias necessidades. Eu acho muito isso. Quer dizer, não se planeja realmente um curso de pós-graduação aqui. A coisa é feita assim mais ou menos aos trancos e barrancos. SPEAKER 2: Aqui as dificuldades são muitas. Aham Para começar pela biblioteca que é deficiente () Depois, por exemplo, na faculdade, nós temos poucas salas de aula. E as salas que nós temos são enormes, auditórios, você faz as conferências, precisa de microfone para falar, gritar, né? Senão o fundo da sala não escuta. Então já é um negócio que não é adequado, né? Tudo isso já é impróprio para você... ter uma aula boa, né? SPEAKER 0: Depois daquela sala monumental, com aquelas divisões todas, como é que esse tipo de atividade seminária já fica praticamente impossível, né? SPEAKER 2: É bem impossível. Exatamente a própria sala Depois são turmas, são em geral, de mais de cem alunos () cento e vinte, cento e trinta () Não é possível fazer um trabalho de seminário na turma dessa. E depois, aluno de curso noturno, em geral, trabalha o dia inteiro. Que hora que ele vai pesquisar? () Você fazer, você exigir pesquisa, trabalho, é difícil. Porque já o próprio esquema que ele está metido não permite, né SPEAKER 0: Agora, lá nos Estados Unidos, por exemplo, você tinha, além do estudo teórico, você tinha que ter alguma atividade prática? () dentro da profissão ou da especialização, não Não. SPEAKER 2: No curso de pós-graduação não? Pós-graduação, não () () O que nós fizemos foi visitas a tribunais. Nós fizemos visitas a tribunais, a outros estabelecimentos, a penitenciárias, essas coisas nós fizemos. SPEAKER 0: () Mas tinha uma obrigação, por exemplo, de fazer relatório, documentário a respeito? SPEAKER 2: Não. Não. Nós fomos, por exemplo, No fim do curso, era a parte mesmo de complementação, nós fomos a Albany, que é a capital do estado de Nova York, e lá nós fomos visitar... Essa famosa... Albany. SPEAKER 0: () não tem uma penitenciária famo> SPEAKER 2: Não, a penitenciária que nós fomos é uma penitenciária em Nova York mesmo, uma penitenciária famosa, que tem a cadeira elétrica, aquelas coisas todas. SPEAKER 0: Não, eu estava pensando naquela, naquele levante todo, não foi em Albany que houve, não? SPEAKER 2: Ah, me lembro agora pouco, eu acho que foi sim, é. Mas em Albany nós fomos ao tribunal, que é um tribunal muito bonito, famoso também, teve juízes dos mais, dos melhores juízes americanos lá, Inclusive um de nome português, Cardoso. É, um dos mais famosos juízes americanos é () o Cardoso, que realmente era neto de portugueses. E ele foi juiz nesse tribunal. Tem um relógio, uma maravilha na parede (risos) Tribunal bonito mesmo. Estivemos lá, estivemos no Palácio do Governo, onde já era governador o Nelson Rockefeller. Estiveram lá com ele, ele nos recebeu. E fomos também à Assembleia Legislativa. E essas coisas, uma visita meio turística e um pouquinho... E depois fomos a Washington. Em Washington nós fizemos também o mesmo tipo de passeio. Fomos à Suprema Corte. Depois () jantamos com os ministros, né, da Suprema Corte. Foi muito interessante, porque daí foi um contato bom mesmo. Jantamos, conversamos muito com os ministros. E E, inclusive, um dos ministros esteve aqui em São Paulo depois. E... eu só perdi a visita do ministro porque eu tive uma hepatite (risos) naquela ocasião. Ah, meu Deus! (risos) Engraçado porque eu tinha preparado toda a viagem do homem, né? Eu tinha preparado, eu organizei aqui o programa. Eu que organizei o programa em São Paulo, né? Fui ao consulado, tratei de todos os problemas. E nas vésperas do homem chegar, fui para... Peguei uma hepatite, perdi a... O sonho. SPEAKER 0: Mas e o Rio Master aí, no caso, o que que se exigia da pessoa para, para poder obter o título? SPEAKER 2: Bom, o Master... Na Universidade de Nova Iorque, esse master que eu, que eu tenho exigia a aprovação no curso, isto era o requisito, aqueles créditos, aquela coisa toda. E depois a apresentação de um paper, como eles chamam, né, uma tese, uma dissertação sobre um tema qualquer. Essa tese, primeiro a gente devia fazer um plano, um programa, levar o professor, o professor especialista no assunto. SPEAKER 0: Você podia escolher o professor ou não? SPEAKER 2: Podia escolher a matéria, porque você tinha várias matérias, você tinha direito comercial, direito civil, contratos, você escolhia a matéria e o professor era o professor daquela matéria. Ele teria que verificar se o seu plano estava bom, dava palpites, sugestões, etc. Depois que fosse aprovado o plano, você passava a fazer o trabalho de pesquisa e apresentava a tese. Desde que seja aprovado, você recebia o master. SPEAKER 0: Havia, assim, uma, uma necessidade de defesa, ou não? SPEAKER 2: Não, não há defesa. Simplesmente a apresentação do trabalho. SPEAKER 0: E aí, ele recebe também menções ou nota, no caso. SPEAKER 2: O trabalho não. O trabalho simplesmente é aprovado ou não. As notas se teve durante o curso. SPEAKER 0: Ali tem as notas, aquele sistema á, bê, cê. Sim, o sistema de crédito, né () E para o sujeito ser eliminado do curso (), por exemplo, o que ele precisa pecar? (risos) Diga aí os pecadinhos do curso. SPEAKER 2: Bom, para ele ser eliminado do curso, a primeira coisa é a falta de presença. Ah, é obrigatória. A presença é obrigatória. SPEAKER 0: E é controlada de que jeito? SPEAKER 2: É controlada porque tem um caderno de cada aula, anota a presença. Mas o professor que anota ou é o próprio aluno que anota? Assina né SPEAKER 1: () SPEAKER 2: Ah, sim E depois da () falta de presença, a falta de notas nos exames. SPEAKER 0: Quantos, quantos créditos assim negativos no caso? Lembra () SPEAKER 2: Olha, eu não lembro não. Não, a nota de... as notas de exame eram essas notas, tipo á, bê, cê SPEAKER 0: Sim, mas cê já era negativa, não? SPEAKER 2: Você acha que não Tinha á, bê, cê e efe efe era negativo. SPEAKER 0: Sim. Por exemplo, quantos efes a pessoa precisa... Não, se não fosse aprovado, o num já estava eliminado. () A seleção rigorosa, então, no caso. SPEAKER 2: () eu acho que, eu acho que não era muito rigoroso, não Não. Teoricamente, sim. Agora não sei se eles reprovavam muita gente não (risos) () realmente a turma era pequena, uhum, e em geral o pessoal ia disposto a acompanhar o curso () O aproveitamento, em geral, era razoável, pelo menos, né () Tinha sempre os melhores e os piores, não é, mas que chegasse ao ponto de ser reprovado era muito pouco. SPEAKER 0: Agora, assim, sobre Nova Iorque, a gente tem muita assim uh ideia de literatura e de, de cinema, etc. Mas há alguma coisa assim que realmente tenha impressionado vocês assim na vida de Nova Iorque, por exemplo? Algum bairro que vocês tenham visitado e que tenham decepcionado ou não pela ideia anterior que vocês faziam? SPEAKER 2: Bom, Nova Iorque tem o seguinte () () o dia que eu cheguei a Nova Iorque Não me causou impressão nenhuma. Uhum Nem favorável. () não chegou a impressionar () Depois, quando eu estava em Princeton, eu fui umas três ou quatro vezes a Nova Iorque. E Princeton fica... para você entrar na cidade de Nova York, você tem que passar pelo West Side () West Side é muito feio. É horrível. É um lugar pobre, feio, velho, caindo aos pedaços, sujo, viu? Então, aquelas primeiras vezes que eu cheguei em Nova Iorque, ali, vindo pela West Side, eu falei, poxa, mas que, que azar ficar logo em Nova Iorque. Pena que eu não fui para outra universidade, em outro lugar, porque essa cidade aqui (), acho que não é um lugar bom para se ficar, sabe? Uhum Não gostei da cara da cidade, daquelas passagens rápidas. Agora, depois, aos poucos, você vai, quando eu cheguei, mudei, me instalei, Eu tive um período muito bom, porque eu fiquei uns vinte dias de férias mesmo entre o término do curso de Princeton e o início do curso de Nova Iorque. Né? Então, nesse período eu fiquei me adaptando, andando por ali. Primeiro fomos fazer compras, por exemplo, nós tínhamos que arrumar roupa de cama, uh, talher, louça, tudo isso nós fomos comprar. Então, a gente ia () para as lojas e andava ali para cima, para baixo. E a cidade aos poucos é que vai se revelando. É uma cidade que não é fácil da gente... Não é à primeira vista que você gosta. É uma cidade que você vai gostando aos poucos. Você vai aprendendo a gostar. Aprendendo a ver as coisas. E depois que você aprende (risos), então você gosta mesmo () SPEAKER 0: E assim, por exemplo, uh, em, em bairros especiais de, de minorias raciais, assim, vocês tiveram alguma experiência ou não? () SPEAKER 2: O nosso bairro era um bairro interessante, porque era um bairro... era o Greenwich Village. O Greenwich Village é um bairro famoso porque é um bairro de boêmios e hoje dos hippies e cabeludos de todo tipo. E naquele tempo já havia uma turma bastante extravagante lá. Uma vez meu sogro estava lá, ele foi, passou uns dias lá, uma temporada lá, e uma vez ele nos chamou correndo para () () tinha um cidadão passando com um ganso na praça () () em vez de andar de cachorro vai andar de ganso () (risos) Puxando o ganso assim pela cordinha (risos) Tinha de tudo, quer dizer, os tipos mais extravagantes. E era, e era formidável porque a gente andava por ali no meio daquele pessoal extravagantíssimo, né? gente com cabelo, com roupas, com... sei lá, era tudo diferente. E a gente andava ali e não dava uma menor bola para... eles nem olhavam para você. Então você andava ali e tinha plena liberdade de andar no meio daquele pessoal. Aqui em São Paulo, se a gente fosse dar no meio, no ambiente daquele, acho que ajudava a ter medo, viu? Porque era uma turma fascinorosa, uma cara assim, esquisitíssima. Lá eles não tomavam conhecimento de você, você também podia andar tranquilamente no meio. A gente andava por ali tudo, morava no meio do Greenwich Village. Então () É... Era interessante. E, e logo ao lado do nosso, do bairro ali era um centro italiano. Então, a gente conseguia ter pão, tipo, mais parecido com o nosso. Porque lá nos Estados Unidos é todo esse pão de forma, né? Confesso que não, não apetece muito (risos) Não é? Não apetece muito (risos) aham Mas lá a gente encontrava coisas. Tinha cantina, a gente podia comer pizza, uma pizza excelente, né? Essas coisas que a gente vai... Sentindo falta, lá tinha. Nosso cantinho ali tinha tudo. SPEAKER 0: Preços mais ou menos razoáveis ou não SPEAKER 2: Tinha... Tem uma cantina na nossa rua que era bem razoável, a gente > ia lá, inclusive, tinha um garçom que tinha trabalhado em São Paulo (risada) sempre a gente chega A gente falava português e ele falou, vocês são brasileiros, vocês são de São Paulo () Ele era italiano, mas ele trabalhou aqui no Trastevere () () qualquer coisa né Mas... nós só andamos lá para aquele lado dos italianos. Inclusive vimos uma procissão saborosa lá. Uma procissão. Pessoal comendo sanduíche, carregando andorro, viu? As roupas riquíssimas. Procissão. () porque estava numa procissão Negócio era sério Aquelas gravatas, aqueles paletós E... comendo sanduíche, comendo frutos () Um negócio divertido SPEAKER 0: Né? Mas muita gente assim, não? SPEAKER 2: Bastante, bastante () Inclusive uma... uma quermesse, que olha, era bem parecida com quermesse brasileira, de interior e tudo, em plena Nova Iorque, do lado, o lado dos italianos () Mas muito parecida. Era São Gennaro. negócio qualquer () mas era muito parecida () mas o que que tinha assim na quermesse Tinha essas barracas todas Essas coisas vendendo () Vendendo as coisas. () a gente vê em barraca de interior () () logo se sente (risos) à vontade () Mas... Minorias raciais (), por exemplo, dos negros. SPEAKER 0: chineses e portorriquenhos no caso SPEAKER 2: Olha, nós passamos pela, pela região lá dos negros de ônibus e nunca fomos à pe lá Os negros americanos são realmente hostis () uhum, isso que eui ia () Eles são hostis, é completamente diferente dos negros brasileiros. e a gente não se sente muito à vontade de se meter por ali, não. Inclusive... é desaconselhado () Durante o dia já é uma temeridade... e à noite é uma loucura... porque... pode... frequentemente há os crimes... e o branco que entra ali está arriscando a pele mesmo, né Então nós nunca fomos no Arlen... passear, não. () não havia nenhuma condição para a gente ir lá passear () Agora, passamos de ônibus algumas vezes, principalmente em ônibus interestadual, né? Para sair da cidade, a gente passava por lá. E... E é isso mesmo que a gente vê ()em jornal, em revista, em cinema, né, aquelas () Aqueles prédios velhos caindo aos pedaços, aquela, aquele pessoal assim... aparência de pobreza não é, é bem diferente do () bem diferente do nosso ()