Inquérito SP_DID_052

SPEAKER 1: : ### Então, falar do so do vocabulário a respeito do vestuário. Vestuário feminino, no caso, né? Você está falando comigo que você acha que o vocabulário de uma pe, o vestuário de (fala rindo) uma pessoa, reflete muito a própria pessoa, ela mesma, né? Como será que você pode me dizer, me explicar melhor por que que acontece isso, no caso? Bom, é que agora vamos pensar mais no vestuário da mulher. Mas eu pensaria do começo do tempo. Uhm. Da expulsão de Adão e Eva do paraíso. Uhn É preciso vestir o nu. Uhm.  Quer dizer, até então ninguém tinha vergonha de ser nu. Uhn Mas depois apareceu a primeira roupa do homem. Uhn Quer dizer, a folha da parreira. (risos) A A primeira moda feminina. A Agora, acho que a roupa reflete realmente a pessoa. U Uma pessoa assim muito sofisticada, muito cheia de... de ondulações internas, muito cheias de dobra. E Então a roupa parece que acompanha, tem mais babado, tem mais prega, tem mais, é mais mais leve. J Já uma pessoa mais simples por dentro, mais montada, mais um montado reto, então a roupa já não tem tanta prega, tanto babado. Já uma roupa simples, então uma saia e blusa, então uma cor neutra, então pouca flor, então pouco enfeite. M Mesmo quando a pessoa está angustiada, vamos dizer, então até parece que a roupa fica mais escura, mais pesada, mais um cinza chumbo na roupa. E quando você está alegre, não. Quando você está alegre, você procura um vestido leve, um vestido esvoaçante, quase que uma gaze que vá junto com você e que que parece que diga para todo mundo, olha, olha como eu estou satisfeita, como eu estou conten Então é nesse sentido que parece que a roupa acompanha o homem num ciclo de evolução. D Da sua personalidade e da personalidade do mundo. E Eu comecei falando da da expulsão do Adão e Eva. E Então, o começo da humanidade, quer dizer, o homem nasce nu. Quer dizer, o bebê quando nasce, ele realmente está sendo expulso de algum lugar. E E ele é expulso nu. Depois a primeira roupa que ele ganha é a fralda () Então é a folha da parreira E depois, evidente, a humanidade caminhou. E o bebê também vai caminhando. Então, além da fralda, porque faz frio, evidente, então ele ganha uma camiseta. E E depois a gente vai passando no tempo e você chega nos gregos, então aquilo já tem um certo tom. E Embora fosse branca a (fala rindo) roupa dos gregos, tem um certo tom azul. Como tudo é azul na Grécia. E depois você chega na França, naquela época do rococó, aquilo tudo, então seria mais ou menos a época do adolescente, nós, em que ele procura com a roupa, com com a roupagem, éh com as rendas, encobrir uma porção de coisa dele, ou disfarçar, ou enfeitar a própria personalidade dele. Mas, por exemplo que éh éh, você não acha, no caso, que a roupa também de uma pessoa é muito influenciado pelo próprio clima, por exemplo, do lugar? Porque, por exemplo, aqui em São Paulo, além de de, realmente, o tipo de roupa refletir a própria pessoa, eu acho que aqui em São Paulo a gente se veste mais pelo clima (fala rindo) que mais do que Bom, eu concordo com você que o clima interfere, sobretudo aqui que nós temos as quatro estações. M Mas eu acho que mesmo na escolha que você faz para as quatro estações, quem escolhe é sempre você. É claro que no Rio de Janeiro então você, onde há mais o sol, a influência mesológica é muito mais quente, então as roupas são mais curtas, ou são mais decotadas, ou são mais de um tecido mais leve. A Ao passo que a nossa roupa do paulista já é já cheia da poluição das fábricas do progresso, mas assim mesmo já é mais sombria, já é mais escura. Mas mesmo assim eu in ainda continuo escolhendo a roupa. E no caso, que tipo assim de vestimenta você gostaria, você gosta de usar? Por exemplo, se você fosse comprar numa loja para você... Aí que está, a gente compra em função e porque a gente é como a gente é. Eu sou uma mulher extremamente prática em função da minha vida. Então eu sou uma pessoa que dou média de oito a dez aulas por dia. Então evidentemente eu estou mais na saia e blusa. Primeiro pela facilidade que, como você disse, se muda o tempo, põe um agasalho em cima, ponho um um pull over em cima, e estou agasalhada, se esquenta, tiro o pull over, fico de de saia e blusa. Mas eu uso muito (fala rindo) uniforme também. Uniforme? (risos) Eu uso a minha bata branca, como eu digo, porque senão eu como meio quilo de giz por dia (fala rindo) e saio com a roupa perdida. M Mas assim mesmo, eu gosto muito também de roupa de noite. Eu gosto de dois tipos de roupa, ou muitos esportes. Ou uma camisa muito bem talhada, um colarinho muito bem recortado, um botão muito bem escondido, ou então um botão muito bonito, e uma saia bem feita, uma calça muito bem talhada, com bom vinco, etcetera. O Ou então uma roupa bem sofisticada de noite. E Eu não gosto do meio termo, ou melhor, para mim não há sempre. Eu estou uma mulher que fico bem, ou bem em esporte, ou muito a habillé, entende? Um vestido muito decotado, exageradamente decotado, mesmo extravagante no feitio, às vezes na cor, com um (), sei lá, umas penas, umas coisas leves, mas muito sofisticado, para fazer um contraste com o meu tipo, que é tremendamente esportivo, já que eu sou uma pequena girafa de um metro e setenta e quatro, (risos) né? En Então, eu fico bem nesses dois tipos de roupa e é onde eu uso mais. E no caso, assim, dessa roupa biê, que você ahn diz que gosta, né? Né, no caso, você gostaria de dois tipos de roupa. Você poderia, no caso, descrever, por exemplo, uma roupa habillé que você gostaria? () descrever ela inteira. Bo om, não é difícil. Deixa eu ver um vestido habillé meu, que foi realmente um sucesso. É o vestido preto que eu fiz o ano... Acho que foi no retrasado que o chamalote esteve em moda, né? É isso mesmo, na entrega do mulher. Eu fiz um vestido preto de chamalote, negro com uma asa da graúna. (risos) E E e o vestido era muito simples. Eu a A única característica do vestido era o próprio decote. Q Que em vez de ser um ou dois, quer dizer, na frente e nas costas, tinha quatro. (risos) Tinha na frente um decote que vinha bem quase até a cintura. nas costas... para baixo da cintura... e a debaixo da cava que vinha até a cintura. Então, vestido, você olhava assim você tinha a impressão... que ele nascia quase que daqui... (risos) para baixo... então ficava o ombro nu, o braço nu, ficava todo nu... e as costas inteirinhas nuas. A Aí, evidentemente, quando eu me olhei, eu praticamente senti os meus pecados expostos (risos) na vitrine. E Então eu achei melhor cobrir os... os meus pecados e arrumei um buá... bem... um rosa-choque, uma cor assim bem viva, sabe? E Enrolei o o o o que restava do meu corpo de fora, pescoço e e e peito e ombros todos e saí toda dentro do meu buá rosa-choque. (risos) E E o meu vestido decotado, realmente, quando eu cheguei lá no mulher, foi um tal de tirar fotografia (risos), que estava enxergando a estrela, que evidentemente era mais exagerada da fes Mas esse eu acho que foi o vestido que realmente m mais eu me lembro vestida () foi esse. E no caso assim, além do vestido, os complementos, por exemplo, o sapato, assim, como seria? O O sapato. O sapato e a bolsa. Para mim são dois complementos mais importantes. São os mais importantes. Sobretudo o sapato. Eu acho que a gente, sapato, é preferível você ter um sapato, um par, um miserável e único par de sapato, mas muito fino. O sapato tem que ser uma coisa finíssima, não, porque senão vira joia. Quando você olha, diz, bom, isso é joia, isso é bijuteria, fantasia. Então, o sapato e a bolsa, para mim, é uma coisa que eu escolho com muito muito cuidado, que mando fazer igual, acompanhando a bolsa, o sapato, para toalete. Prefiro ter pouco, mas ter o sapato chique, fino, com uma quase que um ar de sapato estrangeiro. Desculpe falar, mas o sapato não sei nome. A Ainda está em desenvolvimento, como toda a nação. (risos) M Mas o sapato. E Esse sapato, por exemplo, desse meu vestido habillé, era um sapato de verniz preto, muito chique, porque era um tipo sapato de delfim, sabe? Com aquela fivela em cima, preta. Em Bolsa. Tenho a impressão que esta bolsa não devia ser nada de importante, (fala rindo) porque não me lembro. Já vi que era emprestada de al Que mais? Vamos ver o que é mais importante. J Joias. Joia também é roupa. Mas eu não não sou mulher de gostar de joia. Ach cho muito bonito um colar e uma pulseira. Mas brinco já não não gosto. Brinco dá a impressão que são duas âncoras puxando as orelhas para baixo. Não não Dá uma ideia que não não é lá muito estética. Agora um colar, um colar arremata. Um colar no pescoço arremata uma mulher elegan E uma pulseira discreta, sem muita joia. Muita joia vira fantasia, vira vitrine. Não O que tem que ser mostrado é o que está dentro. Não é o que enfeita, é o contrário. E E nessas, por exemplo, reuniões um pouco formais, não assim que você não usaria, por exemplo, não ficaria bem você usar um vestido habillé. Uhn Então, nem um traje assim, nenhum esporte. Sim, não uma blusa, um vestidinho de levezinho. Que Que tipo de roupa você usaria? Bom, aí temos que cair num... Um tailleurzinho, não é, porque o tailleurzinho, ou então vestidinho com casaco, porque você tira o casaco e está pronta para um jantar, por exemplo. E  Você põe o casaco, você pode ir ao cinema ou um teatro. Então, um vestido mais de de linha reta. E

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Do cinema ao teatro ou ao jantar inesperado. Eu acho que a melhor roupa para essas coisas, evidente considerando depois das seis, é o pretinho Toda mulher tem o pretinho no guarda-roupa, quer dizer, serve para se o marido traz um um amigo para jantar, serve se de repente você resolve sair e visitar alguém, serve para você ir no teatro, quer dizer, é um vestido que não fere o protocolo da noite, porque é escuro, e ao mesmo tempo não é um vestido que você se sente quase que fantasiada obrigatoriamente para ir a uma festa. E Então você, por exemplo, não pode sair e tomar um táxi com o vestido. Aliás, falando nisso, a coisa que eu achei mais engraçada... Outro dia eu tava saindo da faculdade e ali pertinho tem uma igreja. E tinha um casamento. E eu parei para olhar, porque eu gosto muito de olhar gente. E falei, isto aqui vai sair coisa muito interessante. Aí começou a chegar gente. Chegava gente, aflição, aquele negócio. A Aí chegou, parou um táxi. Por coincidência daqueles táxis de novecentos e trinta, quem não sabe como é que é. (risos) Tinha uma baleia desembocando na porta da igreja. O chauffeur devia ter nascido em mil oitocentos e trinta, porque era daqueles ainda que não existem mais, delicados, formais. Desceu e abriu a porta. Falei, quem descerá do táxi? E fiquei olhando. Desceu uma senhora, que eu não sei se era... Sei que era do sexo feminino, porque estava emperiquitada demais. M Mas de que espécie zodi zoológica, não sei. Porque tinha apenas... ### A mulher tinha um turbante ahn gris, bem gris bem gris foncé, com as penas saindo assim, mas num num leque de tons, que ia desde o da a transparência de uma nuvem até aquele cinza do () e londrina, né? (risos) D Depois, no peito, aqui do começo do do queixo até o início do do vestido, Vinha um leque também de penas, mas aqui as cores mudavam. I Iam do violeta escuro, passando pelo vermelho, rosa e tal, até um um rosa de bebezinho. (risos) D Depois o vestido, o vestido era solene. O vestido devia ser daquelas, daquele chantum de seda brilhante, sabe? Bem acinturado com umas pregas. E dentro das nervuras descia assim uma coisa que brilhava. Eu imaginei um lantejoula, mas acredito que não fosse. E Era uma coisa, um veiozinho que brilhava assim acompanhando. L Longo, não é? A Até o chão. E nas pontas despanta despontavam os pezinhos dela bem afinadinhos, meigos e delicados. E E na pontinha dos pés tinha um chumacinho de pena acompanhando o chumacinho do chapéu. Valeu, espetáculo, não é? (risos) A Ah, eu achei lindo. Então, é isso que eu estava dizendo da roupa que serve para tomar ta Essa roupa, evidentemente, (risos) ninguém pode tomar um táxi na vida com ela. A Agora, já o pretinho, você toma o táxi de manhã, de tarde e à noite, sem passar o vexame de que ninguém fica observando. (risos)

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 1: : A bo tinha. (fala rindo) Essa parafernália vinha complementada por umas luvas que adentravam quase que... Peito adentro, porque vinha até o ápice do braço. A Ah, não sei se tinham anéis por fora. E E uma bolsa que não era extravagante. A A única coisa que era (risos) discreta era uma (fala rindo) bolsa. Que tipo de bolsa assim, mais formal tam Não, não, era uma bolsinha redondinha. Aquelas de de contas que usava muito antigamente, sabe? Branca assim, pequenina, com uma alcinha. A a bolsa não tinha () O espetáculo era a mulher descendo da baleia negra, que parecia um Jonas sendo cuspido boca af

SPEAKER 2: : fora. Delícia. Isso não é coisa que qualquer um possa  ###

SPEAKER 1: : Eu gosto muito de olhar gente. Aham. Eu paro fila de ônibus, assim, na cidade, às seis horas. Quando eu estou na cidade essa hora eu paro muito para olhar gente. Eu gosto de olhar muitas caras. Não olho tanto a roupa. O Olho muito as mãos e muitas caras. A roupa é engraçada, é muito importante, mas... olho para me confirmar, às vezes. Eu comecei dizendo para ela que eu achava que a roupa é um reflexo da personalidade do indivíduo, entende? Então eu gosto de olhar a roupa para confirmar. Uhum. E Ela tem, por exemplo, uma roupa que acompanha o sorriso. ### ### Você não teve curiosidade de olhar as outras pesso Não, eu tive curiosidade, meu bem, de olhar a noiva. Ai, fala da no (risos) Que tal? (fala rindo) Não foi possível (risos). Ah () Eu tinha outros compromissos, não pude chegar lá (risos). M

SPEAKER 2: : Mas assim em si em situação e esportiva, você já disse a e vocês já conversaram sobre isso assim? Você pratica algum esporte que exija de você um determinado traje?

SPEAKER 1: : Não, eu na minha vida o único esporte que tentei fazer realmente foi equitação. Tentei o salto.

SPEAKER 2: : Mas equitação você precisaria realmente? Sim te

SPEAKER 1: : ria. Sem sempre tive, porque () fui criada em fazenda, então tinha uma espécie de fascinação por cavalo, e meu avô que saltava muito bem, era diretor da hípica e tudo mais, então quando ele vinha com aqueles cavalos, aquelas botas que ele punha, eu ficava meia fascinada com aquilo. Então sempre imaginava meus trajes como seriam. Então eu imaginava como que aqueles filmes da da Vivian Lee, sabe? Aquelas coisas maravilhosas que não existem mais. Um cavalo negro, então eu viria com as botas pretas, uma culote preta, uma camisa de seda negra e uma e um e um um colete, assim, cor de vinho por cima, não é? E um um chicote de cabo de madrepérola (risos). E E eu praticamente montaria num Pegas (fala rindo) e sai sairia voando. Evidentemente esse sonho de criança nunca se realizou e o dia que eu montei a cavalo, botei uma simples bota marrom com uma calça preta e uma camisa branca, montei de um lado, caí do outro, (risos) quebrei o braço (fala rindo) e nunca mais montei na na minha vida. Terminou a performance? Terminou. De modo que o meu único esporte hoje em dia é mesmo arremesso de cigarro e por aí eu fico (risos) (risos) Bom, então aí não precisa traje especial mesmo?

SPEAKER 2: : (risos) Não, não há nenhum traje especial. M Mas qua u você usa alguma coisa para levar suas coisas assim? um objeto especial para levar as coisas quando você sai. O que que é? A bolsa? Ahn Que tipo de bolsa você gosta? Estou vendo aí já as bolsas mais ou menos. É

SPEAKER 1: : É o que eu disse para ela, bolsa eu gosto muito de bolsa bonita, mas também evidentemente prática, não é? E Eu uso duas (fala rindo) bolsas. Uhn A minha bolsa que eu carrego dinheiro, documento, cigarro e tal. E E a minha pasta de trabalho. Eu tenho uma pasta de cor para botar material de trabalho, tudo isso. Mas normalmente a minha bolsa é prática, como é a roupa que eu uso em função do meu serviço. Porque eu saio de uma faculdade, vou para outra, venho para  cá, então eu tenho que estar sempre com uma roupa mais ou menos funcional e que me permita suportar as alterações do tempo, não é? Que que

SPEAKER 2: : O onde é que você carrega dinheiro?

SPEAKER 1: : Na carteira.

SPEAKER 2: : E você tem assim um um lugar especial para botar moeda, não? Moedeira? Você tem, não? Tenho.

SPEAKER 1: : Tem?

SPEAKER 2: : Tem. Separado da própria carteira? Tenho

SPEAKER 1: : separado da própria carteira e uso porque senão ou eu perco as moedas, então fico sem dinheiro. Não, tenho moedeirinho separado. Como diria minha avó, porta monê, minha ne ta

SPEAKER 2: : Aí precisava gravar com a sua avó para ver se ela ainda fala o porta monê também. Não. Hoje é 

SPEAKER 1: : Vovó fala. Fala. Fala porque minha avó até hoje ela fala vassoura elétrica. ### Encerradeira. ### Vassoura elétrica. Ahn

SPEAKER 0: : Vamos fazer uma gravação com ela. Eu já perguntei para ela se aspirador é (fala rindo) pano de pó elétrico. (risos) E Esse não, esse ela já aprendeu direto que é aspirador.

SPEAKER 1: : Mas vassoura elétrica é até hoje.

SPEAKER 2: : Isso é ótimo. E assim, o problema de comunicação com o empregado não existe? Na

SPEAKER 1: : ### (fala rindo) Todos evoluindo nos padrões da casa, quer dizer que já estão adaptados.

SPEAKER 2: : Não há problema. M Mas quando você era menina assim, que tinha que fazer educação física, por exemplo, no colégio, você não tinha exigência de um determinado traje?

SPEAKER 1: : Ah, eu usava calção. Ai, o calção azulzinho, xadrezinho e branco. A Ai, que coisa horrorosa. Não.

SPEAKER 2: : Calção. Menos mal, menos mal que o calção azul puro e simples, porque o preto é s

SPEAKER 1: : ### Era bem soltão, vinha preso até aqui no joelho. E a gente queria mostrar as pernas, porque era o único professor homem (risos) que tinha no colégio. Então a gente subia, mas quanto mais subia (fala rindo) o elástico, mais aquele babado do piolinho vinha, assim, formando uma abajur embaixo das pernas.

SPEAKER 2: : Ficava medonho. E quem que ia para acompanhar isso aí? O que que vocês usavam? A

SPEAKER 1: : Ah, tinha uma blusinha igualzinha também, bem fofinha, que era para disfarçar os mais pequenos resquícios de seios que despontavam. Então ficava bem disfarçado diante de uma blusa (risos) bem fofa.  E o calçado? É, no Calçado era tênis e meia branca, não é? Uhum. Aliás, tênis é uma coisa muito bonita. Também acho. Que agora está voltando, que os adolescentes estão voltando.

SPEAKER 2: : E não só bonita, mas cômoda, né? Eu acho uma delícia andar de tê

SPEAKER 1: : E eu gosto daquele nheque-nheque (risos) que ele faz quando ele pisa no chão. Quando você anda no assoalho, uhum, né? Quando pisa nos no encerado. Faz nheque-nheque.

SPEAKER 2: : ### ###

SPEAKER 1: : Por exemplo, eu eu que fico em pé no mínimo oito horas por dia, sapato para mim é fundamental, como diria o velho Vinícius, Os descalços, que me perdoem, (risos) mas o sapato é fundamental, porque se não chega no fim do dia, você não aguenta ficar em pé mais. O sapato tem que estar na forma, no pé, bem fei

SPEAKER 2: : to. Quer dizer que você nunca usaria um sapato, vamos dizer assim, (risos) que elevasse muito a sua altura, nada disso () muito ãh ãh incômodo, não? A

SPEAKER 1: : Ah, não. B Bom, também hoje em dia não se usa mais, né? Mas no tempo do Luiz Quinze, como a gente sofria. ponta, bicuda, quanto mais bicuda mais elegante o dedo do pé lá dentro assim ó, (risos) um montado em cima do outro e doendo e aquele salto fininho que parecia uma agulha entrando no cerebelo da gente. (risos) A Ai que dor! E a gente achava lindo. Mas é () Hoje não, hoje a onda está muito mais prática, aham, muito mais funcional. A

SPEAKER 2: : Ajuda muito mais, né, com esse tipo de sapato hoje que a gente usa. M

SPEAKER 1: : Muito para caminhar, mesmo as bolsas hoje em dia são São mais confortáveis, com divisões, com zíps g zípers grandes, com práticas, enfim. Mesma roupa de todo dia. Você vê em qualquer lugar gente com roupa que você viu que saiu de manhã, mas está bem aquela hora da tarde. Não é?

SPEAKER 2: : Você usa, assim, em cima da saia alguma coisa, separando a da blusa, não? Al Alguma coisa aqui, ornamente, assim ou Cinto? U

SPEAKER 1: : Uso cinto quando tem passador. Fora isso, n não? Sem passador não uso ci

SPEAKER 2: : E que tipo de cinto, assim, você prefere? Da própria, da própria tecido ou de outro material? Depende. S

SPEAKER 1: : Saia de verão, eu uso com o cinto da mesma fazenda. Porque, geralmente, a fazenda é estampada, é colorida. E Então, se põe um cinto diferente ou faz muito contraste ou você não encaixa um tom que combine bem. Então, eu mando fazer igual. A Agora, saias de inverno, onde, geralmente, as cores são neutras, não é? O Ou é uma saia cinza, ou é uma saia cor de vinho, ou é uma saia marinho. Então aí é fácil você pôr um cinto, inclusive dá um destaque se você puser, por exemplo, um cinto de verniz ou um cinto de couro com uma fivela bem exuberante, bem chamativa, então parece que complementa a roupa. Uhum. Então cinto só nessa sicu situação.

SPEAKER 2: : E enfeites você costuma usar? N ### Estou vendo que você é despojada. ### ###

SPEAKER 1: : (risos) Foi o que eu comecei dizendo para ela, a roupa começou na expulsão do paraíso. É

SPEAKER 2: : ### ### ### Às vezes a pessoa, quer dizer... Eu disse para ela, por exemplo, quando ela falou assim em clima, eu falei tempo, tempo é um assunto que eu gosto. Ah, mas a gente pode chegar a ele, por que não? Sim, não não podemos porque eu não tenho tempo. Não não mas É assim que ter () no seu tempo regulamentar a gente chega a ele. Mas escuta uma coisa, você não passa nada no rosto, nem em situação formal assim, para ficar... Quer dizer, dá um certo ar, vamos dizer assim, de ahn mais ahn chique, qualquer coisa assim. Desculpa os termos assim, mas... Não. Você não usa nada, na

SPEAKER 1: : nada? Base, base de maquiagem. S Simplesmente para dar o mesmo tom na pele, para tirar a diferença de tom que a gente tem. S Simplesmente para para organizar a pele. No máximo que eu faço, pintar meus ricos olhos (risos). Aham, que são ### (risos) Não, mas é com esses olhos você não precisa realmente mai E eu não sou uma mulher enfeitada, absolutamente.

SPEAKER 2: : Nada, nada. N Não, e não precisa. ### O que mais? Quem nos dera? Né? A Agora, você estava falando aí de clima, quer d izer e se interessa a gente saber, por exemplo, você acha que o clima afeta, por exemplo, você? Você acha que um deter um determinado tipo de clima afeta a sua maneira de ser, a sua maneira de se sentir no mundo? Me sentir no mundo? É É. Você acha que um po, por exemplo, um dia como hoje, o que hoje fez, assim, você acha que é um dia que ahn que alegra ou há um dia que você, por exemplo, o seu estado de espírito se altera conforme o tempo? E

SPEAKER 1: : Eu acho poderia dizer o contrário, não? Que o meu estado de espírito (fala rindo) que altera o tempo. ### Agora, se você está f ultra feliz, satisfeita, por mais chuva que caia, que te importa? Você ainda diz, puxa, que chuva gostosa. V

SPEAKER 2: : Você não acha que nenhum o quer dizer o o clima realmente não poderia re, ao inverso, alterar esse estado espírito?

SPEAKER 1: : Olha, eu sou uma pessoa de formação profundamente humanística. E Eu acho que acima de tudo vem o homem. Uhum. E Eu acho que o homem é que interfere na natureza. Evidentemente, a natureza reflete, mas eu acho que a a variante que que predomina é a variante da personalidade do homem, né? Ago

SPEAKER 2: : ra me diga uma coisa, você já teve, assim, experiência em relação à clima a co a assim, em situações ahn extremas, por exemplo, em relação à à à chuva, por exemplo? Ch

SPEAKER 1: : Chuva? É. J á. Eu tive uma experiência deliciosa com chuva e neve. Uhum Como boa brasileira, nunca tinha visto a neve. E Então, eu fui para a Espanha com uma bolsa de estudos e cheguei na Espanha em agosto. Tanto, estava calor e tal. E E a torcida geral da brasileirada era saber hora que ia nevar. (risos) Estávamos à espera da da ne E chegou outubro, novembro, já bem frio, mas a neve não vinha. Então aquilo foi dando uma decepção, uma coisa profunda nos brasileiros, e aquilo juntando saudade da casa e a neve que não vinha, o pessoal queria esquiar. E Eu sei que uma uma noitinha eu estava chegando da aula, devia ser umas sete e pouco, que lá nós jantamos às onze da noite só, né? Uhum. À Às sete horas a gente ou se está em casa, Vocês começa se preparar, se vestir, enfim, a se arrumar para o aperitivo e só vai jantar depois das onze. Mesmo que queira antes, não existe restaurante nenhum. E eu morava na casa do Brasil, em Madri. E o nosso quarto tinha... do lado... do lado direito da cama, a parede inteira era era vidro. N Não tinha... não era janela. O quarto todo era vidro. Com uma cortina. E eu cheguei da faculdade, tomei o meu rico do banho, me vesti, me perfumei e tal, porque embora não seja enfeitada, sou uma mulher muito perfumada. (risos) En Isso faço questão de um perfume. Quando eu fui abrir a janela, a cortina que tinha, quando eu olhei lá fora, eu comecei a ver aqueles algodõezinhos assim que parecia que... Não parecia que eles desciam, parecia que eles desciam e subiam, sabe? A Como a gente vê pipoca no pipoqueiro na rua, assim, aquele movimento. Eu digo, está nevando, eu não aguento, está nevando. Daí desci correndo, todo mundo já estava correndo. E Enfim, aquela foi aquela fuzarca, fazer boneco de neve, aquele negócio todo. M Mas aí eu não me contentei, eu achei que aquilo estava demais para mim. E E eu falei, não, eu só com esse boneco de neve não fico. Eu sei que isso eram sete hora Quando eu olhei o relógio, eu dei por mim, era a minha noite e trinta, eu estava andando por Madri. Uhum. M Mas andando, e a chuva caindo, eu estava sem roupa, não é? Preparada, porque lá a gente usa impermeável, aquela coisa. E E eu sem nada, estava com um pull over, que eu estava em casa, e assim saí. Quando eu olhei, não tinha mais onde ficar molhado. Tinha vazado tudo. T Tinha neve dentro, fora, de mim e água. E pior que, no fim, a neve acaba ficando feia, porque ela vira barro, né? Que você vai pisando em cima, que vai ficando horroroso. Quando eu olhei para os meus pés, eu estava com duas botas de de lama (fala rindo) e neve. Eu digo, gente, que horroronda que eu estou. Estava a léguas da faculdade, né? T Tinha andado, mas deixei entrar. Eu falei, primeira vez. Eu aqui estou nascendo na neve. Deixa eu levar o batismo de neve. E E assim eu deixei. E assim foi a primeira experiência minha com a neve. E

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 1: : Tive outra linda na minha vida. I Isto foi em Londres. Quando eu desci em Londres, eu desci no Victoria Station, que eu tinha tomado um navio na Holanda e atravessado a mancha. Cheguei lá, ahn fui para o para a casa onde eu ia ficar morando, deixei minhas coisas e tomei o o  O metrô, não é como se diz aqui? Uhum. L Lá a gente dizia o metro que estava na Espanha. E E é muito difícil, não é? Em Londres, porque aquilo é circular. Se você erra passar, aí você leva quatro horas e tal. Mas eu queria descer, queria ir no Big Ben. Queria chegar no Big Ben de qualquer jeito. A Aí, com o meu inglês miserável que eu tenho, horroroso, enfim, pela mímica internacional, consegui (risos) me virar e realmente desci no Big Ben. E E era novamente tardezinha. A As tardes sempre me puxam. Desci na estação, subi aquelas escadarias que não acabam mais, e me vi assim na frente do Big Ben. Aquela coisa linda. E Ee fiquei olhando para o Big Ben, sabe? E não achei uma coisa emocionante. Eu pensei que eu fosse sentir todo o peso da eternidade, o tempo no Big Ben, aquela coisa, sabe? N Nada. Fiquei muito decepcionada. ### Aí comecei a andar ali na beira do Tâmisa. Começou a ventar. Começou a vir um vento. E Era outono, mas ventou, ventou. Então aquele chão com aquele rodamoinho de folha, aquilo que vinha, que vinha, que vinha, que vinha. E eu comecei me sentir dentro do rodamoinho, quase com a sensação daquele conto do do Menino e o Vento. A Aquele negócio andando. A Aí eu estava perto da abadia de Westminster, né? E E ali bem na frente tem a a estátua dos Acorrentados, do Rondin, né? Hora que eu cheguei perto daquela estátua dos Acorrentado, me deu vontade de abrir e pedir para entrar no meio da corrente, dar mão para sentir o vento, com aquela pedra que estava sentindo. A Aí comecei a pensar na Virgínia Woolf, que tinha se jogado ali no Tâmisa e que tinha morrido. Então sabe quando você sente o tempo quase como se estivesse mesmo numa... no que eu imagino que esses meninos chamam de viagem quando tomam droga, entende? Que você perde a fronteira do passado, do presente. Então eu comecei a ver o futuro, o que que ia acontecer, como é que ia ser. I Iriam ser os elos da minha vida, da minha corrente, o que que ia acontecer, entende? Então eu me senti dentro de um rotopio de tempo, de vento, e foi muito bom.

SPEAKER 2: : E essa experiência de Londres, assim, a a célebre ahn ahn ahn tempera tem temperatura, a atmosfera de Londres tão famosa, etcetera. Q qual e conte essa experiência pela primeira vez para gente. V

SPEAKER 1: : Você sabe que eu não senti tanto esta coisa de Londres, não sei se porque quando eu fui a Londres eu já estava há mais de ano na Europa. E E já tinha estado vivendo, inclusive, na na Holanda, que é úmido, profundamente úmido. E Então eu não estranhei tanto o clima de Lon E tive muito céu azul em Londres. Coisa que eu mesma não esperava em virtude da época. A ### Fui no outono. Uhum. M Mas peguei um outono bom, entende? Quer dizer, que não não n Não me deu essa sensação. A Agora, em sensação de tempo, éh eu tive uma experiência muito interessante e f Foi na África, em Marrocos. Quando eu estive em Marrakech, chovia muito porque era dezembro. E nós tínhamos ido para lá com um grupo de amigas justamente para fugir do Natal, porque os brasileiros não queriam ficar na Espanha, porque era país católico, ia lembrar a família. Então, resolvemos ir para um país árabe, onde não haveria nada de negócio de Natal, nem nada. E Então, fomos para Marrocos e e cheguei a Marrakech. E chovia, mas chovia uma loucura. E E aquelas e aquele primitivismo, sabe? Me deu um certo mal-estar eu digo, ih, gente, eu gosto muito de coisa civilizada, né? Eu comecei a me sentir mal, mas o hotel era muito bom, era muito bem cuidado, muito limpo, muito limpo, muito asseado e tal. M Mas dormi. Estava cansada. Aliás, cheguei e dor mi. Dia seguinte me acordei. N Não chovia, nem garoava. Tinha ficado no ar um resto de garoa. Quase que um bafo de chuva. Sabe quando chove muito no asfalto, depois sai o sol, você vê aquele vapor, aquela aquela efervescência que vem de baixo? Tinha isso, uma reverberação de chuva no ar. E eu falei, gente, que coisa bonita isso, porque ali na praça, onde tem os engolidores de espadas, os homens que comem fogo, os os aguadeiros, aquelas coisas todas muito colorida, aqui em Marrocos é muito colorido. Quando eu olhei para trás, então no fundo tem aquela montanha, cobertinha de gelo, branca, branca, branca, aqui no meio aaquela praça de asfalto, com o resto de chuva, e do lado de lá, o começo do deserto, aquela areia, que parece que se tremeluzia, assim bzz... E eu digo, ai, que vontade de voar. (risos) A Aí saí montei num camelo dei primeira volta (risos) Que, aliás, era uma camela que foi devidamente fotografada, documentada, etcetera

SPEAKER 2: : Mas assim, em relação aqui aqui a Sã a São Paulo, por exemplo, quando você sai de manhã e tudo, é é você ahn é capaz de prever assim o desenrolar do dia em relação à temperatura e essa coisa toda? Como é que você faz para se virar com esse tempo em São Paulo?

SPEAKER 1: : Bom, eu já estou acostumada há (fala rindo) trinta e três anos ao clima de São Paulo, de modo que a gente já sai de manhã preparada para as quatro estações. Uhum. Quer dizer, o Ou você leva um pull over na mão, leva um agasalho na mão, Ou então vai sabendo que vai voltar batendo os queixos de frio. Uhum Você sabe que em Marrocos, falando em Marrocos, em Marrocos o vestuário é interessante. Ah, nos diga Porque tem o aquelas roupas com mida compridas, as jelabas, como eles chamam, né? E é aquilo, todo mundo diz, ah, os homens usam aquela roupa estranha. Mas aquilo é para proteger do vento, entende? É do vento. Não, também do vento. Porque eles têm embaixo a a calça, o terno, e por cima vestem a jelaba. Ah, pensei que não. Com o seu capuz, todo com o capuz, não é? I Inclusive a pintura dos olhos deles, que é uma... Hoje em dia nós não usamos mais essa sombra em pó, né? Ho Hoje a gente usa mais em pasta, que é mais fácil para pintar, não borra. E Eles têm assim, em vidros pequenininhos, que parece ponta de lápis, parece grafrite gafri grafite. E Então você, com um pauzinho, quase como daquele manicure nossos de contornar, com um pauzinho você enfia dentro do vidrinho, vira, para o pauzinho ficar bem embebido e passa Põe entre as pálpebras, fecha o olho e aí você puxa o contorno. Então fica aqui fora um risco reto. Mas quando abre, a os dois fins de pálpebras estão riscados com aquela gaf grafite. E fica bonito. Mas não é tanto beleza. É É porque aquilo protege da entrada da areia quando venta muito. Uhm. () É em função do vento. E Eles vivem lá no, sobretudo ali na parte Marrocos, muito em função do vento. A gente pensa que eles que as mulheres usam aqueles véus, aqueles tudo para se vendar, não é tanto, é mais para para se defender. Os camelos também têm um (risos) (fala rindo) Não é que sejam tão vaidosos, né? É mesmo para poder andar quando o vento vem em conta.

SPEAKER 2: : Mas é mu é o impacto do vento é muito grande? É

SPEAKER 1: : É muito grande. Quando venta mesmo para valer, é violento. E E tem, assim, barulho característico? Tem. Tem um barulho que é mesmo aqueles que a gente vê em filme. Ah (fala rindo) É igualzinho. (risos) A gente pensa que isso é de filme, não é não, é na verdade.

SPEAKER 2: : E, assim, uma al al alguma o chuva mais forte no deserto você não viu? N

SPEAKER 1: : Não, não vi. Não vi. U Um amigo meu assistiu um espetáculo que deveria ter sido muito interessante. Diz que estavam atravessando, evidente, numa caravana, quando o caravaneiro mandou parar, acampar, e disse que iam dormir ali. Então, ele perguntou por quê. Ele disse, temos que dormir aqui no alto porque o rio vem vindo. E Ele disse, bom, esse aqui, né, já tomou umas e outras. (fala rindo) O rio vem vindo.() Deitarem de madrugada, eles começaram a escutar um vum blum blum blum de água que vinha galopando, galopando, galopando. A Aí ele acordou e realmente a diz que há uns duzentos metros dele passou um leito de um rio como se fosse uma coisa um que você não adivinha da onde vem nem para onde vai. Um monte de água que veio vindo, veio vindo, veio vindo, vindo e passou e sumiu. Diz que Eles têm isso, são os rios do deserto, então eles sabem os leitos por onde passa aquilo. Então, na época certa que deve coincidir com algum rio que desemboca em algum lugar, que provoca algum degelo, alguma coisa, então aparecem essas águas misteriosas que depois somem outra vez na areia. E depois vão aparecer em outros lugares. Poxa, deve ser interessante. É i Isso eu gostaria muito de ver. Eu não me aventurei muito no deserto, não, sabe? E Esse negócio muito de escorpião, isso não é muito comigo não. S e Eu não tenho medo, mas de escorpião de areia eu não gosto. Eu acho que bicho pequeno ele não tem proteção, bicho grande você vê, você escuta o leão, (risos) mas aquele negócio do bichinho pequenininho que vem, eu disse não.

SPEAKER 2: : Realmente é a quantidade é assim?

SPEAKER 1: : Diz que há lugares que é impossível de ser atravessado, só com um... É como se fosse um campo minado, entende? Você só pode atravessar com as pessoas que conhece. Diz que é demais o que tem por causa do calor, né? O O calor e a umidade, então aquilo tudo... provoca realmente o fenômeno da ca procriação mais rápida. Uhum

SPEAKER 2: : Mas você assim, em Madrid, em matéria de temperatura, você passou por todas praticamente. Como é que foi a Qual foi a estação do ano mais agradável para você? Bom

SPEAKER 1: : Na Europa, tudo mais agradável é mesmo a primavera, não é? Uhm. A Agora, eu sou um animal que não sou tropical. Entende? Eu sou uma pessoa que gosto do frio e não sinto frio, entende? E Eu atravessei Euro a Euro o frio todo da Europa com um pull over. Então o pessoal olhava para mim e dizia que eu era doida. Mas que eu gosto de sentir o frio entrando. Entende? Me dá uma sensação. A Ao passo que o calor me deixa completamente largada, solta. Eu tenho a impressão que faz assim, plift e me desligam a minha mola mestra e as minhas partes se soltam, como uma boneca de pano. Então para eu fazer qualquer coisa é um sacrifício. ### E na Europa não. Como tem essa disposição bem nítida de de estação, você tem a impressão que até o seu organismo se beneficia. Porque depois daquele calor brutal, porque é brutal mesmo o verão. Pelo menos é em Madrid, muito quente. A Aí já começa a mudar. Então, quando parece que você não aguenta mais o calor, começa a vir aquela onda fresquinha, aquilo vai refrescando. Então parece que você está saindo de um banho fresco, entende? Você passou sua água de colônia, você está cheirosa e pode começar a andar. Aí quando você já está assim, achando que está na hora de tomar outro banho, realmente está, porque já está esfriando demais. Daí então você muda agasalho. Como você cansa de usar um tipo de roupa no inverno, você diz, ai não aguento mais ver o sol, quero botar um vestido leve, uma coisa colorida. Mesma coisa lá. Entende? Quando você está cansando, já mudou. Então você pode reformar todo o seu guardar roupa, guardar tudo que é de verã abrir tudo que é de inverno e começar tudo de novo.

SPEAKER 2: : Mas você, por exemplo, assim, em matéria de saúde, você não sentiu que nenhuma dessas estações fosse mais benévola para você? Não.

SPEAKER 1: : Ah, eu me sinto bem no frio. É so Em qualquer lugar. Para mim, fez frio, eu estou bem.

SPEAKER 2: : Você não teve nenhum problema de adaptação? Nada disso, assim, uma mudança? Não.

SPEAKER 1: : A única adaptação minha realmente foi comida, mas isso não... Uhum. Porque a comida na Espanha é violentamente pesada e e vem tudo boiando no azeite e tudo isso, então aquilo realmente mexeu com o meu vesículo e tal, mas... Em termos de adaptação, de de gente, de roupa, de vida... Ah. Uhum. Eu desci do avião meio-dia, às três horas, estava numa praça de toros gritando, olé, parecia a mais espanhola de todo

SPEAKER 2: : Como é que você dividia o seu tempo na Espanha, assim? Em que horas você levantava? B

SPEAKER 1: : Bom, como todo povo na Espanha, nós ninguém levanta antes das nove, não é? A e a Aliás, o que eu achei maravilhoso (risos) quinze para as nove, nove horas levantava, ia para a faculdade, tinha aula até meio-dia, voltava, era tempo de arrumar qualquer coisa, tomar um banho, esperar o almoço, porque vinha evidentemente às duas e meia, só o almoço. Mesmo na Casa do Brasil? ### Lá segue o horário espanhol, né? Mesma coisa. Mesma coisa. M Mesmo porque éramos a minoria, né, os brasileiros. Ah, sim. Predominava o elemento latino-ameri latino-americano, mas não de fala portuguesa, né? Sei. Fala espanhola. E os espanhóis também. Tinha muito espanhol na casa do Brasil, porque a casa do Brasil é realmente um hotel de primeira, entende? Como am americano que nós somos, tinha água quente todas as horas do dia para você tomar seu banho, tinha aquecimento, entende? Então, os próprios espanhóis queriam a casa do Brasil, que era muito disputada em função do conforto. E E aliás, moderníssima, estilo Brasília, uma coisa assim, muito bonita a casa. Depois eu almoçava e sa Aí vinham a sagrada da siesta, não é? Sempre ### Eu fui a primeira a adotar e acharam uma medida maravilhosa. Aham

SPEAKER 2: : Não se faz absolutamente nada? Nada

SPEAKER 1: : ### Fecha comércio, fecha tudo. Tudo, tudo. Para a cidade, né? Isso dura quanto tempo? D Duas horas, né? Vai das da o Ou das duas e meia às quatro e meia, ou das três às cinco. Quer dizer, na hora do máximo do calor. Então, para tudo. Depois recomeçava às cinco hora Ou eu ia perambular um pouco, ou ia ler um pouco, ou ia estudar, ou ia às vezes ia trabalhar na clínica. Enfim, o que tivesse que fazer. Depois, às onze horas, ia para a cena. Uhum.  E depois ia em um teatro, ou qualquer coisa assim. E dormir às tantas? A Ah, dormir às tantas. Mesmo porque quando a gente ficava em casa e não se conseguia dormir cedo, porque juntava uma no quarto da outra, então começava aquela fofoca um conta daqui, um conta de lá. ### Foi muito boa. Se bem que eu não me dei muito com brasileiro, porque em função da língua, o espanhol é muito parecido com o português. Uhum. E Então todo mundo diz, ah, imagina, falar espanhol não tem problema. E Evidente, não tem para você se fazer entender e para ser entendida. M Mas eu estava fazendo um curso, tinha que fazer a tese em espanhol. E eu falei, se eu começo a andar com o brasileiro, eu vou ficar no no portonhol, como a gente dizia lá, era imitar, imitar. Então eu digo, aqui eu não posso, eu tenho que realmente se aprender a língua como a língua é, quer dizer, manusear quase como se fosse português. E Então eu procurei me aproximar mais dos espanhóis mesmo, nem dos latinos-americano, mas dos espanhóis, e foi o que me salvou, porque na hora do exame eu realmente estava falando muito bem, o que não aconteceu com a maioria dos brasileiros, que ficava entre os brasileiros. Então falavam espanhol, mas não dava para você rebater um uma tese, uma coisa assim, em espanhol, e ficava mais difícil.

SPEAKER 2: : Mas, um assim, e em relação à Espanha, parece que o sul é mai muito mais quente do que Madrid. Sim. Você teve essa experiência ()? Tive ###

SPEAKER 1: : Tive. A A Andaluzia é linda. Todo o sul da Espanha. Toda a costa, né? Toda a costa do Mediterrâneo. A A costa do sol, a costa dourada que vai até a A Espanha toda é toda diferente. A A Espanha é um jogo de puzzle, um jogo de quebra-cabeça. Cada pedrinha tem a sua função. Cada cidade tem a sua função, cada região tem o seu papel, e é completamente diferente da outra. Tanto que eles eles, espanhóis, quando falam dialeto, eles não se entendem. Por exemplo, um um barcelo um barcelonês falando em catalão não entende um de Bilbao, que tampouco entende um da um da Andaluzia, entende? O O basco não entende o andaluz falando, que tampouco entende o galego, entende? Eles não se entendem. Tem como comum o espanhol, que é muito diferente, como é o nosso português, entende? O O espanhol de Andaluzia é completamente diferente do madrilenho, e que é diferente do... do Basco, por exemplo, uhn? M Mas as regiões todas são diferentes. O único lugar verde que você tem é a Galícia. Entende? O norte da Espanha. A Ali é verde. Santiago de Compostela, aquilo tudo é verde. comida é ótima, deliciosa. É mais nossa, porque já é misturada com Portugal. E o clima, assim, em relação ao... O clima é bom. É É um clima gostoso, ameno, muito agradável. N Não faz muito frio, tampouco muito calor. A Agora, mais para o lado de cá, mais na Biscaia, ali já é um... É um clima que lembra um pouco São Paulo, no sentido de que é a área industrial da Espanha, entende? Então a poluição que acompanha o progresso, né? A Aquilo já é cinza, já é um povo mais rápido, entende? De movimento, é um povo ágil, é um espanhol quase que mais esperto, entende? Já Mesmo para no sentido de explorar o turista, entende? Ele já sabe mais manusear o turista. É É um clima mesmo mais de fumaça, mais esfumaçado. Mas assim mesmo te dá praia, mas chove muito ali, né? É que ali já vem influência da Mancha, aquilo tudo, né? O O centro da Espanha é árido. O O centro da Espanha é todo cor de terra, entende? Não tem nada, não tem vegetação. Você anda, você anda, você vê só aquela terra batida, seca, dura, pisada, e aquelas oliveiras no meio, que são centenárias, então são maravilhosas. e você caminha por meio delas, você tem a impressão que você está ouvindo a Terceira Sinfonia de Brahms tocando o tempo todo. E E no meio tem as fazendas, os latifúndios da da criação dos miuras, né, dos touros. Então você tem as oliveiras de um lado e os touros negros e reluzentes do outro. Então você tem o poderio da Espanha, que é realmente a exportação da tourada e do azeite, né? Isso vive o espanhol.