SPEAKER 1: Passando dia oito de junho de mil... Novecentos e setenta e dois. Bom, então, como é que foi essa sua viagem? Quer dizer, a organização dela, como é que vocês pensaram em organizar a viagem? SPEAKER 2: Bom, essa viagem é uma.... Era uma viagem tradicional, feita pelos alunos no ITA, que estão no quarto ano. Uhum. Então, no no fim do e era o período de (), de três meses de férias, ãh, a turma, com a maioria dos alunos da turma, viajava. Então essa, essa, é... (), a organização dessa viagem começava no início do quarto ano. Hum. Então, era feita uma, uma arrecadação de dinheiro através de pedidos a, a indústrias. Então, cada indústria, () era solicitada uma contribuição e cada um daria quanto, quanto quisesse. A finalidade da viagem era técnica, porque os alunos iam visitar indústrias na Europa e também cultural. Uhum. Ãh... Quase todas as indústrias que contribuíam eram indústrias que tinham a, a matriz na Europa. Então, ah, ãh, o donativo da indústria, podia ser feito ou através de dinheiro, ou através de estadia na Europa... Hum. Durante alguns dias, ou de qualquer maneira, desde que essa ma, essa maneira revertesse em benefício. Então, uma das grandes contribuições que nós tivemos foi da Varig. Da Varig... nos doou vinte passagens de ida e volta. Outra contribuição que nós tivemos foi da fa-bi. A fa-bi doou um avião para nos levar e trazer. Então, ãh, uma turma foi feito, eh, uma distribuição dos alunos que iam pela Varig ou iam pela fa-bi. Logicamente, é um critério () feito pela Varig. (risos) Então, para, para haver a escolha, era feita uma contagem de pontos. Então, aqueles que conseguiam mais dinheiros, mais dinheiro, uh, o valor, o valor que era conseguido eh, era, era... Ãh, transformado em pontos. Hum. E... Além disso, nós tínhamos uma rifa também de um automóvel. Aqueles que vendessem mais rifa também conseguiriam mais ponto. Então, no final, Esses pontos eram secretos. Ãh... Era se... Era, era contado secretamente para ninguém, logicamente, deixar outro para trás, né? Então, ãh, era formado inicialmente, no, no fim do terceiro ano, era formada a comissão de viagem. Essa comissão de viagem era composta de oito elementos. Presidente, tesoureiro tinha uh, o relações públicas, tinha todo, todos os elementos que éh, eram necessários para que tivesse a ligação com todo o pessoal. Tinham uh os elementos ãh encarregados de organizar, ãh, o fichário de indústrias. Porque, eh, eh, eh, nós temos um, um fichário de indústrias, que haviam contribuído nos anos anteriores, e esse fichário passava de ano para ano, praticamente para facilitar. Uhum. Então, ãh, essa viagem foi, ah, organizada e o objetivo era levar o maior número possível de de elementos. Foram, num total de cinquenta e uma pessoas, sendo, ãh, dessas cinquenta e uma, dois professores com as suas esposas. Então, viajaram a turma de eletrônica e a turma de mecânica. Então, a viagem, eu em particular, eu parti pela, pela fa-bi. Eu fazia parte da comissão de viagem. SPEAKER 1: Não fez muito pontos então? SPEAKER 2: Não, eu não fiz nenhum praticamente, mas existia uma regra que todo elemento da comissão, ele receberia uh, o número do, do aluno que tivesse feito o maior número de pontos. A comissão de viagem não, não entrava na competição pelo trabalho que teria que fazer. Então, eh, a opção era, os os primeiros colocados, eles poderiam escolher quem fosse de Varig, voltaria de fa-bi e vice-versa. Somente quatro alunos foram de navio, voltaram de navio também porque faltou, faltou quatro passagens. Então, eu em particular parti de um avião da, da fa-bi, nós partimos do Rio de Janeiro. ### Cê-quatro. Não dava medo não? Não. Dê-cê-quatro que não tinha, não tinha banda por franceses. Mas o fato que O fato que mais, que mais interessou que eu achei mais interessante na Ilha do Sal, foi que na Ilha do Sal não tem... Praticamente não tem rádio, não tem nada, não tem comunicação nenhuma. A não ser a comunicação do aeroporto. E... Todas as crianças da ilha conheciam o Pelé. Sem a gente ter falado nada. A primeira coisa que perguntavam era do Pelé. Isso foi em sessenta e seis. O Pelé já estava com uma certa fama. O pessoal conhecia o Pelé do Brasil. O café do Brasil, mas eles achavam que o café da África era melhor, né? Aham. Logicamente. Ãh... E a Ilha do Sal não tinha praticamente nada de interessante. SPEAKER 1: () Mas comeram bem lá, não? SPEAKER 2: Nós comemos razoavelmente. Era uma comida diferente. Eu passei por lá também. Você passou por lá também? Era uma comida diferente. Tinha um restaurante. razoável, a gente tem a impressão que está na... Está na... Na Índia, com aqueles restaurantes ingleses e... E praticamente não achei nada de interessante na, na Ilha. Da Ilha do Sal, nós fomos para Lisboa, e isso, nós fizemos a travessia durante o dia, porque o que não era explicado é porque que às vezes fazia, nós fazíamos uma travessia durante o dia, às vezes durante a noite, O comandante dizia que a noite era melhor, porque tinha menos problema de calor. Hum. Mas essa da Ilha do Sal até Lisboa, essa é durante o dia. Chegando em Lisboa, nós éramos convidados oficiais do governo português, do governo Salazar, e ao chegarmos ao aeroporto, nós tivemos algum problema na alfândega, mas quando souberam que nós deram os convidados oficiais, que veio representando o governo, aí não teve mais problema e passamos na alfândega sem, sem problema. SPEAKER 1: Mas havia problema por eh, ãh, por al, por alguma, ãh, coisa que levavam? Hum. SPEAKER 2: Não... Sim ou não? Não, num, num, não é. É que, ãh, eu acho que em Lisboa eles tem uma certa precaução, precaução contra esse, contra () de alfândega. A alfândega, pelo que eu percebi, a alfândega de, de Portugal e da Espanha é muito rigorosa. Não sei porque, eu acho que é muita desconfiança, né? Mas, chegando em Lisboa, nós ficamos hospedados em, em, em dois hotéis. Eu, em particular, fiquei hospedado num hotel que tinha... Ãh, é um hotel bastante antigo, Hotel do século passado. Era um hotel que não tinha água encanada. SPEAKER 1: ### Onde? Na Avenida Liberdade? SPEAKER 2: Não, na Praça do (). Era um hotel bastante antigo. Como o... Como a estadia era por conta do governo português, a gente não podia reclamar não. ### Claro (risos). Porque era de graça. E ficamos em, em Portugal. Em Portugal nós visitamos praticamente indústria nenhuma, Portugal é muito pobre em indústria. Visitamos a escola politécnica de Lisboa, visitamos a escola de aeronáutica e o que mais me impressionou na escola politécnica foi ah, a suntuosidade da reitoria. A reitoria era de um luxo ### SPEAKER 1: Não visitaram o laboratório que ele recebeu, não? SPEAKER 2: Visitamos também. E... Tivemos muito pouco contato com os, com os estudantes, porque justamente naquela época, naqueles dias, uh, um estu, um estu, um estudante que havia sido eleito presidente da União dos Estudantes de Portugal, como é tradicional, ele é expulso de Portugal. Então, eh, em Portugal, praticamente, visitamos essas escolas. De cultural, visitamos algumas casas de fado. Ãh... A casa que nós fomos foi a Canal Catrineta... Uhum. Que é muito conhecida. Lá, as cantoras conhecem muito bem as cantoras brasileiras, principalmente a Ângela Maria, que eu acho que é a cantora que tem, a cantora que tem... maior cartaz em Portugal. SPEAKER 1: E de Portugal... Mas como é que vocês se, se locomoviam dentro de Portugal? Houve, assim, já previamente combinado? Como é que vocês acertaram esse problema de locomoção dentro do país? SPEAKER 2: Bom, em Portugal nós não visitamos muito, nós, praticamente, ficamos só em Lisboa. E a locomoção era feita por um ônibus emprestado pelo governo português. Ah, sim. Então, O governo português ele pagou a estadia durante todo o tempo que ficamos lá, pagou essa, toda a alimentação, todo o, eh, almoço e janta, e principalmente a viagem que era feita por ônibus. Então todas as visitas que nós fazíamos eram feitas através desse ônibus. SPEAKER 1: O ônibus especial ou o ônibus comum? SPEAKER 2: Não, era um ônibus especial. Olha, o ônibus era um ônibus, ãh... Era um ônibus comum. Eu não me lembro direito como é que ele era, mas era um ônibus comum. Não tinha nada de, de particular. Inclusive, quando nós estivemos na casa de fado, foi patrocinada pelo governo português. ### Lis>boa nós ficamos praticamente uma semana. Ãh, de Lisboa, nós fomos para a Espanha. Fomos de trem. E, basicamente, toda a viagem na Europa toda, nós sempre procuramos fazer de trem. Raro, raras são as viagens que fizemos ou de ônibus, ou, ou de... SPEAKER 1: (), você podia comparar, assim, esse tipo de viagem de trem na Europa a uma viagem de trem no Brasil, por exemplo? A pessoa, o turista pode ir num, num, num determinado vagão ou eles tem... Porque aqui, ãh, geralmente, a gente, quando viaja de trem, evita, né? Uma, Um determinado tipo de passagem porque acha que não é muito confortável. SPEAKER 2: ### E... E na Europa? Eh, a gente não pode falar em trem, nos, nos trens da Europa, a gente tem que falar, tem que distinguir, ãh, de, tem que distinguir os trens de cada país da Europa. Uhum. Então,  se a gente pegar os, ãh, for falar nos trens de Portugal, por exemplo, a primeira classe de, de Portugal é praticamente igual à primeira classe aqui no Brasil. A segunda classe é muito pior aqui no Brasil. Se a gente for, ãh, analisar, ãh, os trens na França e na Itália, na, na França, Itália, na Suécia, nesses países, ãh, nos países nórdicos, na Alemanha, os trens, de, de segunda classe são comparados aos trens de primeira classe no Brasil. Agora, os de primeira classe, mesmo lá na Europa, Pessoas que viajam de, de primeira classe são praticamente as pessoas que no Brasil viajariam de, de avião. Então, uh, os trens, eles tem, são bem mais velozes que os trens no Brasil, eles falam nesses países mais avançados, e eles têm uma qualidade que aqui no Brasil é muito difícil de se encontrar, que é a pontualidade. Os trens, eles obedecem, inclusive, o horário no minuto. Eles chegam a tempo até no minuto. Se a pessoa chegar na estação um minuto atrasada, pode estar certo que perdeu o trem. Como aconteceu com muita gente que viajou conosco. (risos) Ah, é? Então, de Lisboa, nós fomos para, para a Espanha. Para a Espanha, em particular, para Barcelona, de, de trem. Em Barcelona não viaj, não visitamos nenhuma indúst, nenhuma indústria. Só passamos a noite, visitamos as cidades. Eu praticamente não, não gostei de Barcelona, achei que não tinha nada de, de mais. Depois de Barcelona, nós fomos para Madrid. Madrid eu achei uma, uma cidade muito bacana. E o que mais... Impressionou, não a mim, mas todos, todos nós que fomos para lá. ### São as mulheres mais bonitas da hiseus, Museu de Versalhes. E... O país, nós ficamos... () cinco dias. Mas se ficasse mais... SPEAKER 1: () E lá tinham, assim, um, um transporte especial para vocês, ou vocês mesmos se arrumaram? SPEAKER 2: Não, em Paris, nós, dependendo do, do dia, quando a gente faz, eh, estava decidindo fazer uma visita à indústria, então vinha e vi, viria um ônibus, né? Fretado pelo governo francês, Porque na França, nós éramos convidados, (). Então, viria um... Um avião, um... Desculpe, um ônibus, buscaram-nos no hotel e levaram-nos até a indústria. Almoçávamos na indústria e depois retornávamos à tarde ao hotel. Agora, nos dias de, de folga, quer dizer, eram os dias que nós não tínhamos visitas à indústria, então aí nós fazíamos transporte por nossa conta. SPEAKER 1: Como é que era? SPEAKER 2: O transporte no país, o transporte mais cômodo, mais barato, mais eficiente é o metrô. A gente consegue ir a qualquer lugar de Paris, eh, tomando o metrô, não andando mais do que um quarteirão. Coisa mais fácil andar de metrô, né? Uh, a gente nunca, nunca tinha conhecido nada, nem sabia como era aquilo. A gente só lendo a descrição da estação é suficiente para, para entender. A gente ia de uma estação a outra, então precisava saber qual era a estação de destino. () a pessoa tinha que saber, apertar um botão e... Num painel tudo, todo o caminhamento que a pessoa teria que fazer no metrô, inclusive as baldeações, era indicado. Ãh... () a gente, de vez em quando, andava de automóvel. () Nós alugamos automóvel durante um dia, só para sentir o trânsito. O trânsito é uma beleza porque ninguém usa automóvel, todo mundo usa, usa metrô. Se vê alguns ônibus... Uhum. Mas é muito raro. Os ônibus que a gente vê são os ônibus, que geralmente chamam de, de, de ônibus de dois andares. SPEAKER 1: Reparou na clientela dos ônibus, não? Quem anda de ônibus? Eu... SPEAKER 2: Eu não me lembro, eu num, num, não, não sou muito observador. SPEAKER 1: ### Ah, bom, eu sei, eu sei o porquê. É, a companhia fazia linhas e os aposentados (risos)... Porque todo mundo, ninguém anda, né? Só quem tem tempo, né? Porque... Entre metrô e ônibus, ah... O percurso e o... É uma diferença enorme, né? SPEAKER 2: Bom, nós já... Nós, nós, nós tivemos lá no inverno. Então, foi em Paris que nós vimos pela primeira vez a neve. SPEAKER 1: E que... Eh, qual foi, assim, a reação? Ah, ()... SPEAKER 2: É uma emoção completamente diferente. A gente se... Sente uma emoção muito grande, parece que... É uma coisa diferente, é difícil de... Vira um... Explite os quinze dias nos acompanhou a todas, a todas as visitas, tanto para indústria como para, para visitas Nós estivemos em Munique, e em Hamburgo, e só não fomos em Berlim, porque a situação naquela época, naquela época estava mais ou menos quente, não permitia. E visitamos a Floresta Negra, que é impressionante, muito grande, e é uma paisagem completamente diferente da que a gente vive normalmente. Chama Floresta Negra por cauos, dentro da Itália, cada um fez o seu roteiro. Literalmente a turma se, se rejuntou em quatro, alugaram um carro... Uhum. E, e aí vai fazendo diversos roteiros. Nós fomos, inicialmente, para Milão. Nós fomos ir... Para Suíça. até Milão por trem. Em Milão, alugamos um carro, fomos até Veneza. E de... Parando em diversas cidades, em Pisa, no... Veneza mesmo, fomos à, à cidade. ### ### SPEAKER 1: Parma, não? Não. ### SPEAKER 2: ### Não é Parvel. Verdade, é?  Verdade. Deve ser dos canais, é? Os canais. SPEAKER 2: É m, uma... É uma água... Parada. Um pouco parada, é. Um pouco suja, não é? Acho que é peixe também que coloca aquele cheiro. É um cheiro diferente, ãh?! Não é um cheiro muito ruim, mas é um cheiro desagradável. SPEAKER 1: Se mantém o transporte tradicional em Veneza, não? Hum... SPEAKER 2: Não, eh... De gôndola, não. Eles fazem... Eles fazem, tráfi... Tem, a gente vê... logicamente, mas, uh, a maioria do pessoal anda de barco, barco a motor, como o nosso. A maioria do pessoal anda. Gôndola mesmo, mas a gente vê muito em filme, né? Aham. Lá a gente vê muita gôndola, mas parada. Acho que é para fazer filme, sabe? (risos) A prioridade, sim. É.. É. Tem uma Bom, em Veneza nós ficamos, ãh, pouco tempo, porque lá é muito desconforto. Não tem um hotel muito bom, tem hotéis, hotéis antigos, como outras cidades antigas. E... () De Veneza nós voltamos, passamos de novo por Milão, e de Milão nós pegamos, Toda a estrada litorânea. Da estrada litorânea no Mediterrâneo. Hum. Fomos até Nápoles. Nápoles, em Nápoles, nós ficamos... Ficamos mais ou menos cinco dias. De Nápoles, nós fomos para Pompeia, para visitar as antiguidades. Fomos também para a ilha de Capri, que é uma ilha maravilhosa, paisagem natural, uma coloração de pedras completamente diferente, uma coloração azulada, acinzentada. () é uma ilha muito bacana. Depois da Ilha de Capri, nós voltamos para Nápoles. Nápoles é uma, uma cidade muito conhecida, e é realmente como aparece. uma cidade simples o povo é bastante simples a gente tem facilidade de se comunicar como toda a Itália a gente tem bastante facilidade de se comunicar por, por ascendência italiana e porque aqui o pessoal também fala muito a gente aqui co, conhece muita gente que fala com Como fala em Nápoles, o italiano aqui em São Paulo é típico de Nápoles. Depois de Nápoles, nós fomos para Roma. Em Roma, nós ficamos... Ficamos algum tempo, ficamos bastante tempo aliás, porque Roma representa muitas, muitos passeios, né? Muitas visitas a, a ruínas. Depois de Roma, nós fizemos... ah, a viagem até Lisboa, eu em particular, com, com alguns, porque a nossa passagem, na verdade, era Rio de Janeiro-Lisboa. Então, eu teria que voltar até Lisboa para pegar o avião. Nós voltamos de Roma até Lisboa de trem. Então, é aí que a gente vê a diferença realmente dos trens. Nós partimos com um trem italiano, quando entrou na fronteira francesa um trem foi trocado, um trem francês, quando chegou, entrou na, na fronteira da Espanha foi trocado por um trem português. Então a gente nota que há bastante diferença, o trem português é um trem que a gente vê aqui esses trenzinhos com banco de madeira antigo, e... Enquanto que Os trens franceses e italianos, a gente poderia dormir tranquilamente, sem problema. O grande problema () que eu senti, e alguns sentiram, no fim da viagem, foi a falta de dinheiro. Uhum. A falta de dinheiro é uma lá