SPEAKER 1: ### ### Eu queria primeiro ouvir, ãh no caso, eu queria a sua opinião sobre terreno. De uma maneira geral, o terreno agrícola. Você tinha me dado aquela explicação que eu acho, assim, genial. sobre as diferenças de terreno e eu gostaria que não não não perturbasse se o senhor repetisse para mim aquele tipo de classificação, porque isso para nós é é completamente inédito, né? SPEAKER 0: Absolutamente, isso para mim é sempre um prazer discorrer sobre esses temas que, como eu já mencionei, eu me considero de certa forma um fazendeiro frustrado, de modo que Na parte de classificação de solos do ponto de vista agrícola, a tendência recente nos últimos anos é de considerar as terras eh divididas em oito oito classes de solos, variando de um a oito, sendo que as terras de classe um eh servem para todo tipo de cultura, E as terras de classe oito não servem para nada, seriam um tipo assim um quase um penhasco, uma coisa completamente inaproveitável. SPEAKER 1: Podemos continuar. No caso, o o terreno mais bem classificado, por que que  ### SPEAKER 0: O terreno de melhor classificação é o terreno de classe um eee são terras planas, praticamente sem declividade, eh com propriedades físicas muito boas quanto a permeabilidade e com propriedades químicas também muito boas, ou seja, ah com fertali fertilidade eh bastante apreciável. As propriedades químicas estão diretamente ligadas com a fertilidade da terra. Essas terras de classe um, elas serviriam no caso do proprietário se dedicar à agricultura Então, serviria para qualquer tipo de de de cultura agrícola, sem restrição alguma. Mas também, se a pessoa preferir usar essa terra para pastaria ou para para engorda de gado, também serve, não há menor dúvida. Apenas que, do ponto de vista estritamente agrícola, seria um desperdício, uma vez que o proprietário poderia reservar nas terras mais íngremes ou de classe inferior, digamos de classe seis ou sete com restrição para pastaria. SPEAKER 1: Existe assim até um conceito popular de que quando a pessoa olha a terra e diz essa terra é boa. Quais são os indícios assim, por exemplo, para a pessoa menos instruída ou ou menos informada para dizer que a terra é boa? Quais são os sintomas? SPEAKER 0: Aqui no estado de São Paulo falava-se muito e ainda se fala nas glebas de terra roxa. Quer dizer, a terra roxa é tradicionalmente a terra que trouxe ah um progresso enorme para esse estado eee inclusive na na época do início do plantio do café e durante o apogeu do plantio do café e da cultura do café no no no Brasil a terra roxa foi o esteio e a garantia das grandes das produções elevadas se uma terra não fosse roxa não prestava então somente um trouxa iria comprar uma gleba que não fosse de terra roxa que não não ia dar uma produção adequada essa terra é facilmente reconhecível pela como o próprio nome indica pela tonalidade assim um vermelho bastante carregado, caminhando mesmo para para roxo. SPEAKER 1: Mas ela tem propriedades realmente químicas assim, favoráveis?  SPEAKER 0: Realmente tem. Aliás, a tendência, assim, na terminologia técnica ah, agrícola, ou essas terras, são denominadas de latossolo roxo. E tem propriedades químicas fabulosas. SPEAKER 1: Mas existe uma outra característica contrária, para dizer que a terra, por exemplo, não vale nada? Qual é o sintoma, assim, vamos dizer, visível para um leigo que aquilo lá não não vale a pena nem comprar? SPEAKER 0: As terras, assim, com muita consistência arenosa, no qual se observa à primeira vista um elevado teor de areia, ou então terras que têm, assim, uma aparência, assim, um tanto escura, aquela argila turfosa, aquelas terras assim mais escuras essas terras em geral tem péssimas propriedades químicas e tem péssimas propriedades físicas então essas terras para se ter um resultado precisa um corretivo que exija um investimento muito grande não é um caso perdido ainda porque elas poderão ser planas e salvar-se pela declividade. Mas, em contrapartida, nós temos dois dois aspectos desfavoráveis, ou seja, as propriedades físicas e químicas né. Essas terras ah são denominadas atualmente pelos agrônomos de regossolo. Aham. É. São terras, então, podendo fugir delas. Aham. É interessante. Não podendo fugir, ainda a pessoa poderá fazer um investimento, mas desde que que pague o justo valor para terra que. ### Não podendo fugir, ainda a pessoa poderá fazer um investimento, mas desde que que pague o justo valor para terra que. Há casos, inclusive, de propriedades que eu conheço que tendo ah se dedicado ou tendo plantado cana em terras dessa tiveram uma primeira safra boa eh uma produção no primeiro corte da cana e como vocês talvez saibam a cana ela dá economicamente de três a quatro cortes você planta cana aqui no estado de São Paulo de janeiro a março de janeiro a abril e vai dar o primeiro corte de julho a novembro do ano seguinte então este é o primeiro corte e sucessivamente poderá ser dado um segundo, um terceiro e até um quarto corte. Mas em terras desse tipo que eu descrevi a pouco, ou seja, o regossolo ah, o primeiro corte deu um resultado da ordem de duzentos e trinta arrobas ou perdão duzentos e trinta toneladas por alqueire e já e levando ao proprietário a arrancar a cana dessa gleba, ou pelo menos parcialmente nessa gleba, uma parte dessa gleba que deu uma produção mais baixa, mas insistir no no na na adição de corretivos, inclusive na adição de calcário para neutralizar e obter um melhor rendimento. Há informações de experiências recentes que após quatro ou cinco anos de tentativas, essas terras conseguem dar uma produção quase normal. Ou seja, uma média entre as quatro os quatro cortes em torno de cento e setenta, cento e oitenta toneladas por alqueire. SPEAKER 1: Mas enquanto há, vamos dizer, a aplicação do corretivo, se continua a cultivar ou se espera a conseguir, o vamos dizer, do terreno já o resultado para isso? SPEAKER 0: Não. O corretivo é aplicado e logo em seguida é feito um novo plantio. Agora pode haver uma solução diferente, pode haver uma rotação de cultura. Eh tentar-se nesse meio tempo um outro plantio. A pessoa pode inclusive desistir da cana e partir para um laranjal, por exemplo. O que poderia dar um bom resultado. Mas se a se o proprietário possui cota de fornecimento de cana para alguma usina de açúcar, é interessante que ele aproveite ao máximo as possibilidades de fornecimento dentro da sua cota. Porque aí entra o fator governamental. O governo brasileiro eh criou, há cerca há mais de trinta anos atrás, uma entidade coordenadora da economia açucareira. É denominado o Instituto do Açúcar e do Álcool. Então, Tudo que diz respeito a produção de açúcar e plantio de cana é regulamentado pelo Instituto. Inclusive as usinas são obrigadas a a dar um cotas para receber cana de terceiros. As usinas não podem ter cana exclusivamente sua para fornecimento de sua própria usina. Elas são obrigadas a receber fornecimentos de terceiros. SPEAKER 1: Aí no caso, o senhor falou que a cana dá até quatro cortes, por exemplo, e depois disso o que se faz com ela? SPEAKER 0: Depois do quarto corte é definitivamente arrancada a cana e aí então, vamos supor, se o último corte ocorreu de julho de julho a novembro, então após o corte, esse corte poderá ter ocorrido em setembro, outubro, em qualquer um desses meses de julho a novembro é quando ocorre a safra da da cana aqui no estado de São Paulo. É um período de cinco meses, cerca de cento e cinquenta dias. As usinas econômicas fazem com facilidade a safra nesse período. diferentemente das usinas do nordeste que tem um baixa uma baixa produtividade e que dificilmente conseguem fazer a safra num período tão reduzido. Bem, então após o quarto corte ah é arrancada a cana e logo em seguida preparada para novo plantio. Logo em seguida esse plantio poderá ser feito de janeiro a abril, como eu citei a pouco. Mas eu eu tenho eu eu SPEAKER 1: Fiz uma pesquisa em Piracicaba e  o o fogaréu tremendo assim e me diziam, não, é porque vão cortar ãh. Como é que o senhor explica isso? Por que se põe fogo antes? O SPEAKER 0: O fogo no no no canavial é ateado para facilitar para facilitar o corte. Mas aí não significa um corte no sentido de arrancar de arrancar a planta. É simplesmente para facilitar o manuseio. a operação de de corte da cana. Agora, o fogo também não é obrigatório. A cana pode ser cortada eh com toda aquela parte de folhagem, mas isso implica num manuseio muito grande, que inclusive a folhagem atrapalha. Implicam em operações mais numerosas, enfim, mais mão de obra. Por outro lado, Vamos supor uma fazenda que tem uma cota eh de quinze mil toneladas a fornecer eh durante a safra. Como sabemos são cento e cinquenta dias, então é uma questão de aritmética. cem toneladas de cana por dia devem ser cortadas. Ora, para dar cem toneladas de cana, em princípio nós precisamos pelo menos de meio alqueire. Então é feito um acero em volta desta gleba de mil alqueire e é ateado fogo a este esta gleba de terra plantada em cana ah. Este fogo ele queima apenas a folhagem da cana e não não destrói não destrói a a vara da cana em si. Agora, após ser ateado o fogo, não se pode ah esperar muito tempo, porque a o açúcar, a sacarose, sofre um processo de reversão, desdobrando-se em dextrose e levulose eh. Tem havido casos, assim, num dia, assim, ventoso, em que o o fogo passa de uma gleba para outra, e aí, então, é um desastre, porque A casa sim de de de termos cinco, dez, vinte ou mais alqueires de cana que pegam fogo né. Então é um trabalho, digamos, se se esse fazendeiro deveria cortar meio alqueire por dia, logicamente vinte dias é trabalho, ou melhor, vinte alqueires representa um trabalho de quarenta dias de corte. E se essa cana pegou fogo de uma vez, Então ele precisaria do do do auxílio de todos os vizinhos e realmente é o que ocorre. Quando há há um acidente dessa proporção eh, o pessoal em geral das usinas em volta, das fazendas em volta, os cortadores de cana vão socorrer aquele aquela fazenda na na qual eh a cana pegou fogo. Então existe verdadeiros mutirões envolvendo às vezes centenas de pessoas, às vezes passando de um milhão de pessoas trabalhando num corte intensivo. Porque se deixar de passar quarenta e oito horas ou setenta e duas horas, a usina vai pagando um um preço reduzido até zero. Porque a taxa de de sacarose baixa e e o químico da usina analisa a cana que vai chegando. SPEAKER 1: ### ### ### SPEAKER 0: Dá essa impressão. Dá essa impressão. Para quem observa e não conhece o fenômeno né, tem a impressão que vai acabar, vai destruir todo o canavial. Mas é uma sistemática e usada de forma generalizada. Quer dizer, a maior parte da cana aqui no estado é cortado dessa maneira. Mas aí, por exemplo SPEAKER 1: Para o o o replantio, como é que se faz? Para o plantio da cana o re o SPEAKER 0: Replantio eh, são usados toletes de cana. Ah O tolete de cana nada mais é do que a vara cortada em pedaços, pegando assim um gome mais um pedacinho. Então, após o trator abrir um suco de terra e respectivamente adubar. Então ah existe uma uma ferramenta, um dispositivo assim, um um implemento agrícola que já abre o suco, não é? Ah Em geral as moças são usadas no plantio, vão jogando aqueles toletes naquele suco e já o implemento agrícola já vai fechando aquele suco, já com tolete com adubo dentro. SPEAKER 1: Quer dizer que sempre é necessário reservar uma parte para o plantio. Perfeitamente. SPEAKER 0: E aliás, essa parte que é reservada para o plantio é de cana selecionada. O Instituto fornece mudas de cana de variedades controladas, em geral designadas pela sigla cê ó, traço seguido de algum número que identifica o tipo da cana. Existe então, em toda fazenda que planta cana, o chamado canteiro primário e o canteiro secundário. Então, o canteiro primário é justamente uma glebazinha de de de terra plantada com as mudas selecionadas e fornecidas pelo Instituto do Açúcar e do Álcool ah.  Nessa gleba de um, vamos supor, de um alqueire, ou do canteiro, eu estou supondo uma gleba de um alqueire reservado ao canteiro primário. Então, eh plantam-se variedades mais precoces e menos precoces para que. Tenha que a cana, após a o ciclo de amadurecimento, ela tenha diversas épocas de maturação que o corte não é instantâneo. Como como eu já mencionei, ele leva cerca de cinco meses. naturalmente as variedades mais precoces são cortadas primeiro e deixando-se as intermediárias para o meio e as mais tardias para o fim da safra ah. Podemos considerar o seguinte, que para cada para plantar um alqueire de cana nós precisamos de cerca de doze toneladas, de dez a doze toneladas de moldo. Então eh, supondo-se que o canteiro primário tenha um alqueire e esta cana foi plantada no ano anterior e como o plantio ocorre entre janeiro e abril, a cana ainda não atingiu a plena maturação, é razoável considerar que um alqueire de canteiro dá cem toneladas. Com cem toneladas podemos plantar com cem tone> necessário uma maior quantidade. Por isso é que existe o canteiro secundário. Então, do primário, planta-se o secundário. E do secundário é que se planta a  ### SPEAKER 1: E há sempre um um um um transplante da da mu da da muda, não? Ou ela ela já fica plantada ali em definitivo? SPEAKER 0: Ela planta o... Por exemplo, no canteiro primário, é plantado por esse sistema. Depois quando a a planta chega a um porte vegetativo já apreciado, já é quase pleno desenvolvimento. Não é pleno, total desenvolvimento eh, porque não deu tempo. Ela é cana de ano. Mas a própria cana, a própria vara de cana que é usada como muda para plantar as outras. Quer dizer, o replantio então é feito dessa maneira. SPEAKER 1: E é feito com ah ju justamente com a produção da liga, não é necessário que venha novas mudas? Ou ou há ou há sempre uma renovação? SPEAKER 0: Pode haver casos do fazendeiro não estar devidamente preparado, nem prevenido assim com com essa parte de canteiros primários e secundários. Então ele necessita adquirir essas mudas. Eu sei de casos, inclusive que Os fazendeiros adquiriram mudas para completar o plantio da sua da da cana, que ele não tinha mudas suficientes. Mas é sempre preferível a pessoa se organizar. E se ele todo ano vai renovar, digamos, vinte alqueires na sua lavoura, ele precisa ter a o correspondente canteiro, primário  SPEAKER 1: ### É verdade que, por exemplo, só se planta, um proprietário só se dedica a esse tipo de de de de de a agricultura? É uma monocultura só ou ou eles plantam outras coisas? SPEAKER 0: Não, realmente a a lavoura açucareira leva à monocultura. O que está se o que se observa nos últimos anos é uma tendência para que as propriedades eh cresçam e incorporem outras propriedades de tal maneira que eh grandes glebas sejam plantadas exclusivamente com cana e açúcar. Realmente a cultura da cana é uma é um é uma cultura extensiva. Uhum. Ela dá dará e dá os melhores rendimentos em grandes extensões. O lavador que se dedica à cultura da cana, ele não não vai, assim, se dedicar a outros plantios ( ). SPEAKER 1: Ela exige cuidados periódicos assim, não? Exige, a cana SPEAKER 0: ### Desde o início, eu poderia citar um cuidado muito importante, que já na oportunidade do plantio, e então após o término do plantio, seria muito importante a aplicação de um herbicida de pré-emergência. Uhum. Ah com a aplicação desse desses herbicidas de pré-emergência, fica assegurado o nascimento da cana e as ervas daninhas são liquidadas já, não não nascem. Então a cana nasce no limpo. Durante meses, praticamente três, quatro, cinco até seis meses a cana nasce no limpo, completamente limpa, isenta de de tiririca e outras outras ervas daninhas. Esse é um dos cuidados obrigatórios e que, uma vez que a cana já cresceu, aí ela já toma aquela força e aí depois já o mato não exerce tanta influência. Também, após os respectivos primeiro, segundo e terceiro corte, é necessário passar o o trator com o implemento agrícola para deixar a cana unir. E também adubar. adubar anualmente. Mas, diferentemente do algodão, que aqui no estado é plantado anualmente, digamos em outubro e é colhido de março a maio, já a cana, como eu mencionei, é plantada uma vez e dá durante quatro anos. De modo que os investimentos não são tão grandes quanto a cultura do algodão. Em contrapartida, os investimentos são grandes na parte da cana, Tanto no plantio, pela primeira vez quando se planta, depois a aplicação dos adubos e a despesa grande é o corte da cana, que é uma despesa paga por produção e as despesas são bastante elevadas. SPEAKER 1: Mas aí depois eles se contratam elementos de fora ou já existe existe equipe para isso? Já ãh dentro de vamos dizer de uma determinada fazenda já turma para fazer esse serviço. SPEAKER 0: ( )  ah na época do corte da cana, na época da safra, ah o trabalho de corte é executado por turmas volantes, que vêm das cidades, transportados em caminhões, e cortam a cana e depois retornam para a cidade. Agora, uma parte do serviço é feito pelos moradores da própria fazenda. SPEAKER 1: ### SPEAKER 0: Eu diria que é uma ocupação sazonal. Ah. Quer dizer, essa mão de obra das cidades, ah uma parte da mão de obra ociosa das cidades ocupam encontra uma ocupação durante o período da saga, que é um período apreciado, são cinco meses durante o ano, tendo-se considerado que nessas mesmas regiões, ou em muitas delas, não é o caso de Piracicaba, Limeira e Vizinhanças que estão se tornando e já se tornaram tradicionalmente mu municípios açuca açucareiros. Mas em municípios, por exemplo, como Araras e Leme, que eu tenho conhecimento, existe o cultivo da cana e o cultivo do algodão. E também um pouco de cereais e de café. Então é a mão de obra dessas cidades essas turmas volantes ocupam, encontram ocupação, digamos, em março, abril e maio colhendo algodão termina a colheita do algodão, começa o corte da cana logo em seguida que às vezes a colheita do algodão se prolonga até junho e às vezes mesmo até julho mas já não é recomendado, não é racional o ideal seria fazer a colheita em sessenta dias noventa dias ainda é bastante aceitável, então seria março, abril e maio junho mesmo então coincide com a com a colheita do café. Uhum. Maio, junho, ah maio, junho, julho, agosto é colheita do café. E, como eu já citei, a o corte da cana pegando a faixa de julho, agosto, setembro, outubro e novembro. Então o pessoal praticamente ocupa encontra ocupação durante o ano todo. E para dar uma ideia do de do nível de remuneração das pessoas nessa nesse tipo de atividade, eu poderia citar dados recentes obtidos agora no interior, em viagens que eu fiz há há poucas semanas, ah um colhedor razoável de algodão, ele consegue, eh ou pelo menos este ano, que é um ano bastante bom, ele consegue colher cerca de quatro arrombas de algodão, até cinco arrombas de algodão por dia. Essa a remuneração por esse trabalho está sendo feito eh na base de quatro cruzeiros, até quatro e cinquenta cruzeiros a arroba. Então nós observamos que a pessoa consegue uma remuneração de vinte cruzeiros por dia. Bastante superior ao salário mínimo da da própria. ### cinco arrombas de algodão a quatro cruzeiros, são vinte cruzeiros por dia. É verdade que aos domingos não há colheita. Aos sábados, em geral, eles largam mais cedo. Mas vamos considerar eh vinte dias, aproximadamente ( ). Levando sempre em conta a São Pedro. ### Isso ultrapassa uma determinação de um assalariado registrado eh pela Consolidação da Vida e Trabalho, com carteira profissional registrada, em que o empregador seria obrigado a pagar duzentos e vinte e cinco cruzeiros apenas. ### Tivemos um resto de vinte por cento. Então né, o salário mínimo aumentou. SPEAKER 1: E eu tenho, assim, uma certa ah relutância em dar nome a propriedades rurais ah. O senhor o senhor, por exemplo, tem um critério para fazer uma distinção entre uma e outra, assim, pelo ou pelo tamanho? Eu não sei, por exemplo, como é que o senhor distingue uma propriedade de outra e que nome o senhor dá a ela? SPEAKER 0: Essa divisão das propriedades, não existe assim uma classificação muito rígida. De tal maneira que podemos falar de chácaras até, digamos ah, talvez, três alqueires em volta disso. Já chegando na faixa de cinco alqueires paulistas, já se torna um pequeno sítio, e aí vai um sítiozinho Mais ou menos. Então é uma classificação muito elástica. Bem brasileira. Um bom sítio, então, seria de uns vinte, trinta alqueires. E um sítio, então a pessoa falando assim já pode chegar aos seus quarenta. Mas aí já é uma fazendinha. Né quarenta, cinquenta alqueires já é uma fazendinha. Né sessenta, setenta, oitenta Já vira uma fazenda. Se for quinhentos alqueires  É uma fazenda SPEAKER 1: É uma boa fazenda? Quando o senhor fala glebas O senhor o senhor generaliza aí ou não? SPEAKER 0: Uma gleba é uma extensão de terra assim bastante genérica. É uma gleba. Nós podemos ter até milhares de alqueires constituindo uma gleba. Mas no sentido que eu empreguei no no início da da gravação ah, eu me referi a extensões relativamente pequenas. ### SPEAKER 1: ### Menos? É possível se falar em em gleba assim, vamos dizer, de vinte alqueires? SPEAKER 0: Pode, perfeitamente. Uma gleba até de cinco alqueires, até de dois alqueires. Dentro de uma propriedade maior. Digamos, aqui eu tenho uma gleba de dois alqueires que eu vou plantar milho. É válida a expressão. É de uso corrente. Naturalmente o nosso roceiro não vai usar essa expressão. Essa já é uma expressão, assim, já mais intelectualizada. SPEAKER 1: Aí no no caso ah, o se o senhor falou de cultura anuais e e e de outras culturas. De cultura anual, o senhor citou a cana, no caso. Perdão. SPEAKER 0: ### SPEAKER 1: ### Ne nesse caso, por exemplo, há intercalação de cultura? Não. SPEAKER 0: Como assim? SPEAKER 1: Por exemplo, quando se planta um cereal, um determinado cereal, vamos supor milho, Se usa ainda intercalar nessa nesse plantio uma outra coisa ou é só milho? SPEAKER 0: Não, é de uso corrente ah. Dependendo da do proprietário haver intercalação de culturas. Nós podemos ter o um cafezal tendo intercalado nas suas ruas nas ruas, entre uma fileira de pés e outras. O plantio do feijão. Então, o tal do feijão das águas. Né ou então feijão da seca né. Isso, feijão intercalado com café. É muito usado isso aí. SPEAKER 1: E só com café? Outro tipo de cultura? SPEAKER 0: Pode haver algumas variações. Pode haver sim. Não me ocorre agora citar, mas o que eu me lembro bem é justamente o feijão intercalado no meio do cafezal. Há proprietários que detestam isso, acham que vai estragar o rendimento do café. E, por outro lado, é uma forma... Em geral, esse feijão, a tendência hoje em dia é de ser a parceria, é ser em regime de parceria agrícola. Também a cultura do algodão, que eu me referia, eh predomina o regime de parceria agrícola. Quer dizer, o resultado da produção eh não pertence não pertence exclusivamente ao fazendeiro, ao proprietário da terra. Mas é feito, eu já não digo meia ação, que meia ação dá ideia exatamente de cinquenta por cento. Mas a tendência da dos contratos de parceria é que o proprietário fica com sessenta por cento e o meeiro, ou melhor, o parceiro, recebe quarenta por cento Isto porque o proprietário, além de possuir a terra, ele fornece a terra arada, ah adubada e com todos os corretivos, inclusive com aplicação. Com aplicação assim dos eh eh herbicidas, eh enfim, dos diversos ingredientes químicos necessários ao combate das pragas. Inclusive, a assim, no algodão nós podemos citar aí o o curuquerê, a lagarta rosada, que são pragas bastante daninhas e que, se não forem combatidas, poderão acarretar um prejuízo muito grande para o resultado da produção. SPEAKER 1: E essa famosa aí do café, afinal de contas está dando muita, correndo muita tinta pelo jornal, o que que o senhor acha disso? SPEAKER 0: Eh a ferrugem está assustando muita gente, e eu acredi e eu acho que com razão. No momento, na atual conjuntura, nós não temos assim um corretivo eficaz para a ferrugem. Então, a ferrugem já chegou firme aqui no estado de São Paulo, inclusive é do meu conhecimento, no próprio município de Araras, que eu me referi há pouco, já existem diversas ah plantas atacadas de ferrugem. O governo, através do governo do estado e o governo brasileiro, está procurando desenvolver, ah criar uma série de variedades resistentes a ferrugem. Mas até que essas variedades sejam bem desenvolvidas, nós estamos num momento ante uma ameaça muito séria à à economia cafeeira no país. E é preciso dizer que essa economia que já foi tão pisada, tão ( ), eh nós estamos passando de uma situação de superprodução para uma situação em que o Brasil não vai dar conta dos seus compromissos. Não atribuo a ferrugem ainda não. Eu atribuo a uma série de fatores que levaram a essa situação. Nós temos anualmente o compromisso de exportar cerca de dezoito milhões de sacas de café Acrescidas de oito milhões para o consumo interno são vinte e seis milhões de sacos de café. Em média, os cafezais brasileiros não dão conta desse recado. Então, é necessário, tem sido necessário, o governo suprir a diferença com seus estoques. Estoques acumulados naqueles anos de superprodução, mas que já terminaram. Esses anos de superprodução já terminaram, devido a sucessivas campanhas de erradicação dos cafeeiros improdutivos. Me parece que a campanha de erradicação dos cafezais improdutivos foi muito radical. É. Para frisar bem aí o a questão. Então, hoje o Brasil deixa de ser... eh sai de uma situação de superprodução para entrar numa situação de faltar café. Por incrível que pareça. Então estamos novamente plantando café. Os governos, tanto federal como estaduais, tanto do estado de São Paulo como de outros estados, estão incentivando o plantio do café. Agora, ante a ameaça da ferrugem, eu não sei se se está havendo muita coragem. As facilidades de financiamento são enormes. No entanto, ah a motivação é pequena. SPEAKER 1: Mais rentável, por exemplo, assim no ponto de vista econômico, para o agricultor, o café ou a cana, no caso? SPEAKER 0: Pessoalmente, eu sou mais favorável à cana. Isto porque o café, ele oscila muito. Ele intercala um ou dois anos de boa colheita com dois, três, às vezes quatro, às vezes cinco anos de colheita medíocre. SPEAKER 1: E não há como, vamos dizer, prever ou remediar isso, não? SPEAKER 0: ### Um trato adequado e naturalmente uma aduba uma adubação bastante intensa pode melhorar essa situação. Mas o café é muito sensível a às variações climáticas, principalmente no estados no estado do Paraná e também em algumas regiões do estado de São Paulo. quando bate, quando a temperatura baixa muito durante o inverno, a geada atinge e devasta os cafezais. Eu esqueci de citar há pouco que além da além da erradicação dessa campanha violenta de erradicação dos cafezais, nós tivemos também a ação de uma geada ocorrida dois ou três anos atrás, não me lembro exatamente, no Paraná, que acabou com os cafezais do Paraná. Acabar é força de expressão, porque a a lavoura tem uma capacidade de resistência espantosa. De certa forma, eu acho que ela resiste mais aos impactos das vicissitudes do que o próprio comércio e a indústria. O lavador está sempre sofrendo, sempre sempre com esperanças voltadas para o ano seguinte, porque aquele ano não deu, mas ele está lá sempre firme, aguentando. Existem até algumas anedotas nesse sentido que dizem que a agricultura é a arte de de empobrecer alegremente (risos). SPEAKER 1: ### E funciona ainda, né? Mas aí no caso, por exemplo, uma boa colheita de café, o senhor acha que existem realmente técnicas novas para colher bem o café ou ainda a coisa é feita no sistema tradicional? ### SPEAKER 0: De um modo geral ainda, a colheita é feita pelo sistema tradicional e que é muito condenado, mas continua sendo feito, é o sistema da derriça. Quer dizer, quem colhe o café, ele pega o ramo de café, aperta os dedos assim e traz Direto. Então vem tudo, né? Vêm os grãos de café junto com a folhagem. Isso prejudica a própria planta. Quando a colheita é correta, devia ser eh com pano. Eu esqueci de de completar aqui na derriça, esse café jogado no chão e depois é varrido. Então vem café misturado com com torrões de terra e tudo isso tudo. Preciso lavar direitinho esse café antes de secar no terreiro. Agora a colheita certa, recomendada, mesmo sendo a mão, é feita uma colheita a mão, mesmo grão por grão e usando panos para recolher o ca> Uma mangueira assim como o nível de água, dá um nível satisfatório, então ia tirando as diversas declividades até ter um um declive uniforme. SPEAKER 1: Mas me diz uma coisa, a qualidade do café, ele é ela é afetada por isso com certa decantação ou não? SPEAKER 0: Eu diria que não o. A qualidade do café é afetada no que diz respeito a colheita, no em em um ponto principal. Nós podemos escolher o café quando ainda não está maduro ou então o café quando está se apresenta sob a forma de cereja. Então tem aquela tonalidade vermelha Há alguns tons ainda mescla entre o verde e o vermelho, porque a sequência naturalmente é o grão está verde, depois ele fica vermelho vermelho e depois ele vai escurecendo, fica pardo até ficar preto mesmo. Agora, os café os chamados cafés finos ah são os cafés que são colhidos assim quando estão cereja e são despolpados. Então há uma variante. Quando ele chega no lavadouro, ele não boia. Ele vai para o fundo, ele é mais pesado, é mais denso que a água. Então ele é conduzido para outras para outras bacias que alimentam uma maquinaria denominada despolpador, que tira apenas a película externa, mas deixa assim a película interna, não é? Então ele não separa os grãos. Já na primeira operação que eu descrevi antes, ele é só lavado e é secado mesmo com a película externa. Depois a ( ) que leva para a máquina onde ele é beneficiado e ensacado já em sacos, assim que serve tanto para exportação, sacos de sessenta quilos, como para o consumo interno. Agora o café despolpado, ele o despolpador retira a polpa e o café passa por um processo de secagem. Depois é que ele é definitivamente beneficiado. E conforme a cotação no mercado internacional, compensa ou não fazer essa operação. Há propriedades que possuem o despolpador, mas se reservam a despolpar o café se for conveniente, se compensar o preço. Durante muitos anos houve, o Assis Chateaubriand, inclusive, fazia eh muita promoção dos chamados cafés finos, justamente procurando incentivar, porque o chamado os chamados cafés finos chegam a concorrer em preço com o café colombiano. Eles atingem uma cotação bastante elevada. E o paladar deles, é para o mercado internacional, é bastante bom. Agora, de um modo geral, a classificação comercial do café não tem muito a ver com o paladar do café. Não. Nós podemos ter um café bom, considerado santo, tipo quatro, mas a classificação começar mais pelo defeito que os grãos apresentam ou pelo número de imperfeições ou mesmo sujeira ainda contida dentro do café, grãos de terra e tudo mais. Então o café poderá ser classificado em tipo quatro, tipo cinco, tipo seis, não é, sendo que os tipos piores não são exportados. Mas não quer dizer que o café seja pior no paladar. É por isso que o café brasileiro conseguiu fazer um verdadeiro reboliço no mercado internacional, principalmente no mercado americano. Porque internamente ah as fábricas de café solúvel brasileiras ah compravam a matéria-prima a um preço irrisório e podiam naturalmente oferecer o produto no mercado internacional por um preço que desbancava completamente as fábricas americanas. que eram obrigados a adquirir a matéria-prima por um preço de ouro, ou melhor, o preço não é de ouro, o preço do café exportado. Atualmente a cotação, acompanhando na bolsa, é na ordem de quarenta e poucos centavos a libra peso de café.