Inquérito SP_DID_023

SPEAKER 0: : Bom, doutor Brotero, nós gostaríamos então que o senhor nos descrevesse, nos falasse de uma casa de que o senhor tenha recordação, qualquer que seja ela, pode ser da sua atual ou de uma outra que o senhor preferisse descrever.

SPEAKER 1: : Não precisa ser de metralhadora não, né?

SPEAKER 0: : Não, não, não po não precisa de maneira nenhuma.

SPEAKER 1: : Bom, ahn descrever a casa de minha avó, acho que seria interessante a casa de vovó ou a minha casa? Qualquer uma das duas. ### sua avó

SPEAKER 0: : depois nós podemos até fazer uma comparação, não é?

SPEAKER 1: : ### (risos) é difícil né Deixa eu ver se me lembro. Bom, as primeiras as primeiras recordações que tenho em casa de vovó são do quintal. Evidente que é quando a gente é pequeno, a primeira coisa que a gente que a gente lembra é o quintal. O quintal da casa de vovó era muito grande. Tinha mais ou menos quatro mil metros quadrados de terreno. E Tinha um jardim muito bem cuidado pel pelo vovô. O vovô era um sujeito cuidadoso ao extremo. Mas ia lá tinha um jardineiro que cuidava, um ajudante jardineiro. Era um negócio que hoje em dia não se vê mais. Pelo menos eu não tenho encontrado. Nem nesses casarões que hoje em dia são feitos aqui em São Paulo, no Morumbi. A gente vê que o zelo pelo jardim, pelo quintal, não existe. O vovô tinha uma estufa onde ele plantava e semeava. Tinha... uma outra estufa mais aberta. () Tinha a planta, inclusive, planta carnívora. Um negócio que é raro a gente ver, né? E me lembro das palmeiras imperiais, que a entrava a entrada de casa de vovó era era toda ladeada de palmeiras imperiais. Palmeiras extremamente altas, palmeiras altíssimas. (pigarro) Elas eram tão altas que ahn, de cima da casa, a casa de vovó tinha quat tinha três andares e ainda tinha uma torre no quarto andar, essas palmeiras eram mais altas do que a torre. Depois a entrada de Casa de vovó, a Casa de vovó foi construída ah pela pela Condessa Angélica. Era uma ca uma casa típica da época do café. E a ma dona Maria Angélica Monteiro de Barros, Condessa Angélica, fez construir essa casa no auge do dinheiro do café. Ela era fazendeira e tinha uma riqueza muito grande. Então ela fez construir aquela casa, uma casa que ela julgava ah luxuosíssima, de fato não era tão luxuosa. ### Fez chamar um engenheiro alemão, e esse engenheiro alemão construiu essa casa baseado, segundo eu ouvi falar, num ahn num palacete alemão. A a casa, a gente... então ela era voltada para o fundo. Porque a entrada dela tinha era era voltada para uma outra rua que nunca foi aberta. Então a aquela entrada, que era a entrada nobre da casa, no fim, era a entrada dos fundos. a rigor era uma espécie de varanda que daria para um lago. Tem até um quadrinho, em casa de vovó, que mostra perfeitamente isso. Mas a gente entrava, então, pelos pela entrada principal, mas lateral. onde tinha uma sala... que a gente chamava, quando eu era pequeno, de sala de passarinhos. Pode interromper. Está gravando?

SPEAKER 0: : ### está Está gravando. ###

SPEAKER 1: : Por que era a sala dos passarinhos? Porque tinha um... um monte de de passarinhos... eu acho que uma... uma dúzia de passarinhos... tinha... ahn canário... que não cantava... nenhum deles cantava, sabe? Era tudo muito bonitinho, mas nenhum deles cantava. Cheio de gaiola, cheio de passarinho, mas nenhum cantava. Depois ahn a gente passava para uma outra sala, que pra mim impressionou muito quando eu era pequeno, porque diziam que era a sala que não pegava fogo. Depois eu soube que as paredes eram de amianto. E que condessa fez, na hipótese de um incêndio, ela abrigaria os móveis dela naquela sala, porque era todas as paredes eram de amianto, grossíssimas. Do lado direito dessa dessa entrada, desse alzinho, que era quase o tamanho da minha sala hoje em dia, tinham acesso a uma escada de serviço que ia até a torre, praticamente. No fundo ah havia o banheiro, banheiro separado em dois, que hoje em dia também não se vê mais. Um lado o sanitário, do outro lado a pia, separado, dois quartos separados. Passando novamente por essa salinha, que é onde tinha um telefone de parede, muito antigo, com aqueles aparelhos de madeira ainda, entrava-se no hall principal da casa. O hall era o... o o chão era de ladrilho, que mamãe, quando demoliu a casa, ainda guardou alguns. Estão na casa também. E uma me eh... tinha uma mesa imensa na s nesse hall. Essa mesa ah ah... ela... vovô Maneco meu avô deixou em testamento para o museu... para o para a Igreja do Carmo. E vovó nunca cumpriu isso. Então, quando ela tava pra morrer, ela me chamou e pediu que eu fosse levar. aquela mesa que estava no hall e esta cadeira que eu estou sentado para o convento do Carmo, que vovô tinha deixado para o convento do Carmo E eu então eu fui procurar o prior do convento do Carmo e o prior não queria, ah nem a levei não queria nem a mesa, nem a cadeira. No fim ele disse, olha, tá bom, a mesa serve, mas a cadeira eu não quero, se o senhor fica em pagamento, se o senhor me pagar o transporte da da da mesa até o convento. E eu então, disse é claro, a cadeira é autêntica, a mesa não é. E ele assim mesmo não ligou, sabe? Pegou e e quis a mesa. Então paguei um caminhão e levei a mesa pra lá. Hoje em dia essa mesa é o altar mor da Igreja do Carmo da Martiniana. Isso eu levei em sessente e cinco e hoje em dia ela é o altar mor lá daquela igreja.

SPEAKER 0: : Vou prestar atenção.

SPEAKER 1: : Preste atenção. Era a mesma que estava na casa da vovó no hall E vovô tinha deixado. Essa cadeira é Manoelina Autêntica. Um avaliador examinou o local e disse que essa mesa aqui é Manoelina Autêntica. Bom, depois do hall, a gente eh eh indo para a esquerd, para a direita, havia a entrada, a famosa entrada principal, a de Marne. Era uma entrada que seria bonita, imponente e que não se abria nunca. Abria-se uma vez por ano no Natal. Minha tia patrocinava o Natal dos Pobres. Então, ela convocava a molecada da vizinhança e distribuía presentes no na véspera de Natal. Foi um grande arrezo gozijo da família e da molecada. Bom, depois disso... Era de mármore, mas como como era? Era... tinha uma escada... ahn um patamar também de mármore... o teto era redondo, eu me lembro... era como se fosse um corredor de mosteiro... uma entrada... deveria ter sido imponente, mas eu acho que... não era tão quanto deveria ser. Depois desse, hall grande... havia uma escada prin... uma escada principal da casa... com um corrimão muito bonito... Minha mãe conservou também. Como era? Era uma escada. Tinha um vitrô no fundã Era uma escada grande, porque o pé direito de casa de vovó era muito alto. Era uma escada imensa. E e o corrimão embaixo desse dessa escada que deve ter caído. O o o o o falso Rui.

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 2: : ### Tá vendo a hora hein

SPEAKER 1: : Bom. De qualquer maneira, a gente subia essa esca ah Tinha a escada à esquerda e embaixo dela tinha o piano. Piano preto, que foi da minha tia-avó. Aliás, pertencia à minha tia-avó. Estava lá guardado. e E o hall onde ficava a família, engraçado. A família ficava no hall. Um hall frio, de pé direito muito alto, eh com a parede imitando mármore Não era mármore, mas imitava mármore Era muito frio, gelado, aquele hall escuro. E não sei por que a família gostava de se reunir ali. Tinha um sofá que é de fato era confortável, mas a família adorava se reunir ali pra conversar. Um negócio que eu achava chato à beça Não gostava daquilo de jeito nenhum. Mas se reuniam ali. Depois tinha o acesso ao lugar ao escritório de vovô, onde estavam onde estavam esses móveis, que estão aqui. Mais alguma coisa que estava em casa. E a biblioteca, que era o ponto meu ponto preferido. Eu gostava demais de biblioteca, estava em casa. Tinha uma coleção de... e entre outras coisas, eu encontrei na biblioteca de vovô uma uma obra inédita de Camões aqui no Brasil. É a poesia lírica de Camões, editada em mil s eiscentos e qualquer coisa mil seiscentos e quarenta e tal não diga Está tod está lá em casa ainda está muito comida de bicho, mas está lá. e éh Considerando que o Lusíadas teve autorização para ser editado em mil Quer dizer que foi seguida a obra seguinte de Camões, editada provavelmente, editada em espanhol. ###

SPEAKER 0: : Mas essa biblioteca assim, como como era ahn o o revestimento dela, no caso?

SPEAKER 1: : Bom, era empapelada. Eu me lembro que as paredes eram papel, papel bonito e tal, um negócio e rodeada toda de ahn estantes de livro. de de variadas, uma delas teria sido feita pelo pelo Liceu de Arte de Ofício, não sei, mas quando eu fui desmontar, não era desmontável, sabe? Foi feita lá. Assim mesmo, eu tirei e levei pra cá. mas ela está lá, rememendada, aliás ficou bem reemendada, não nem se nota quase. Uma estante bonita. Depois tinha uma outra estante que esteve no meu escritório da sete de abril, que agora eu vou levar pra um outro escritório. Tinha... esta mesa, esta cadeira, o chifonier, nós chamávamos de foniê, não sei aqui chama-se, um negócio que eu não... isso aí. O pato se chama de de de ossário. (risos) não sei. ### Hoje em dia eu uso como depósito, tem de tudo lá dentro.

SPEAKER 0: : Ah, sei eu pensei que fosse um fichário.

SPEAKER 1: : É, seria a rigor, um fichário não é Mas aqui tem um gavetão, aquilo ali, embora pareçam gavetinhas, na verdade tem um gavetão embaixo, com gaveta comprida no meio, e em cima, de fato, é um fichário. é possível até ter umas coisas ali de biblioteca Tinha uma cadeira de balanço.

SPEAKER 0: : De que material, assim, essa cadeira de balanço?

SPEAKER 1: : Cadeira de madeira, madeira e e e e e com palinha. Depois, deixa eu ver o que mais tinha tinha uma burra, ahn um cofre muito antigo que ahn vovô tinha tinha comprado da Light. O primeiro cofre da Light. Era a prova de fogo. E era tão a prova de fogo que eu bati a porta, da chave, que ficou pra mim também. E eu bati um dia eu fui fechar o cofre e bati com a cabeça e fechei a chave dentro O cofre está fechado e eu posso abrir. E não há quem abra o raio do cofre sem estragar. Precisa dinamitar. ### Bom, depois disso, ahn tinha o salão azul, que era um salão grande, era o salão nobre da casa e tal. Tapetes, móveis dourados, luís quinze luíz deze zesseis sei lá Era um negócio que eu não gostava muito, não. Mas era imponente, sem dúvida era imponente. Espelhos, vasos, imensos vasos chineses, diziam que valem uma fortuna, que eu também não gosto. A mãe deu um pra minha irmã e outro pra mim. Ficou pra ela dois vasos. E o meu eu disse, olha fica em sua casa que eu não quero. Não tem lugar em minha casa. Depois eu queria se derruba isso eu morro (risos) né Depois tinha a salinha azul, que era aquela que que que éh... que com aquele móvel chinês famoso, aquele negócio todo. Viviam cobertos, que era um costume também da família, éh acho que de pessoas antigas, de cobrir os móveis para não poeirar. Então tinham umas cobertas pavorosas, brancas, de um negócio horrível. Eu, pelo menos, achava aquilo detestável. E o lugar incômodo. Eram umas cadeiras duras, como essas aqui mesmo que a gente está sentado. Muito incômodo.

SPEAKER 2: : Então o que eram aqueles móveis? Eles eram brilhantes?

SPEAKER 1: : Era eram dourados, móveis dourados, luís quinze luís dezesse Mas não eram autênticos, não. Autêntico autêntico era essa cadeira au Algumas coisas eram autênticas, mas tudo não. aquela aquela Aquele armário que ficou para a minha tia, aquele armário chinês, Foi muito bonito aquilo. Uma beleza. Ficou lá. E sabe que em casa de minha tia de minha tia destacou mais ainda do que em Casa de Vovó. Casa de Vovó tinha um monte de coisa. Misturava tudo. né Ficava muito Tinha base, tinha quadro, tinha espelho, tinha o diabo. Em Casa de Tia ela botou numa parede só, fun no fundo de uma parede branca, então aquele imóvel destacou-se ehn Ficou lindo Muito legal. Bom, depois disso... ahn tinha aquela... estava nessa linha azul, né? Depois tinha a sala de jantar. A sala de jantar era imensa. Tinha, se não me engano, dezoito metros de comprimento. Devia ter uns oito metros, não, oito metros também é exagero, devia ter uns seis de largura. Lembra?

SPEAKER 0: : Lembro lá que eu vi a sua avó, sentadinha na cadeira de balanço. Lá perto de uma janela.

SPEAKER 1: : Isso, lá no fundo. A sala era imensa. Era uma coisa grande, grandiosa. As paredes eram de... eram lambri. Uma parte está em casa, a hall de entrada da minha casa. Só para mostrar o que era. ehn Lambri à volta toda. Em cima um papel imitando madeira. Em cima do lambri uma coleção de pratos antigos muito bonitos. ah Dois etageres.

SPEAKER 2: : Olha, tinha... um monte de coisa. descreva esses etageres.

SPEAKER 1: : Eram de mármore, eh de colunas, Vindo, em cima de cada um deles tinha um jogo de prata, q que um do Conde São Joaquim, o outro do outro... dos dois do Conde São Joaquim. Um deles tinha a coroa do Conde São Joaquim. Muito bonito. Tinha dentro dos dos etagés, tinha... eram todos de vidro e tinha... tinha uns... oh como é que era? Ah, o aparelho chinês. O aparelho chinês e o chinês imenso Que o avô usava só em grandes ocasiões. Tinha festa de fim de ano... ahn Natal... então tirava o tal negócio. Antes disso, de jeito nenhum. Não saía nunca.

SPEAKER 2: : ahn E os outros móveis dessa sala?

SPEAKER 1: : A mesa grande... ahn ela tinha os móveis de palha junto a essa janela na frente... então tinha um conjunto de palha... que eu levei para a minha casa também. Aqui estava já muito depredado, durou muito pouco, já estava no fim aquilo Móveis de palha e... E só. sala de jantar constava lixo. Só o jantar mesmo. Apesar de imenso, era uma mesa imensa, com cadeiras, devia ter umas quinze cadeiras.

SPEAKER 0: : Como eram as cadeiras?

SPEAKER 1: : Cadeiras eram o acento de palhinha e o encosto de couro, couro trabalhado. couro Não eram todas iguais, não. Tinha umas que o acento também era de couro. outras num Outras, o acento era de palhinha. As de palhinha, eu me lembro, eram mais altas. Tinha... Tinham uma tinha os cachepôs eh de madeira, com os tachos de de cobre, com planta dentro. deixa eu ver se lembro mais alguma coisa Os lustres. Ah, realmente, tinham uns lustres lindos. Tinham dois lustres. Um deles roubaram na na demolição. Tinha ficado para a mamãe titia, era um conjunto de lustres imensos que não cabem em casa de ninguém. E esses lustres tinham a característica de que eles eram lustres que tinham sido oh funcionavam a gás. e foram alterados depois para eletricidade. E tinham um sistema de pesos, então eles eram lustres pesadíssimos, mas pelo sistema de pesos podia baixar e levantar os lustres com um dedo, quase. Era um negócio fantástico, dessas coisas formidáveis. Levaram, roubaram, inacreditável né, roubaram.

SPEAKER 0: : E como eles eram? que tipo de material?

SPEAKER 1: : Eram de... eu acho que era bronze, latão, qualquer coisa assim do gênero, sabe? Uma cúpula de cristal e aquelas... aquelas... Como é que chama aquilo? oh meu deus.

SPEAKER 2: : Tem um nome aquele negócio. Agora não me lem . bro ah Ainda ontem a titia falou

SPEAKER 1: : Estava sumido Não me lembro como é que chama. Tem um nome aquele negócio. Depois, ahn os lustres... Bom, os lustres eram lustres grandes. oh Tinham braços, braços de cobre, com lâmpadas. Essas lâmpadas foram Engraçado, sabe que essas lâmpadas, tinha algumas lâmpadas em casa de vovó, que era um filamento de carvão. Nas primeiras lâmpadas, mil novecentos e dez Sabe que aquilo durou, assim, coisa de de trinta anos sem queimar? diferença das de hoje né A lâmpada, ah q ah lógico que a luz era mais fraca, mas durou, assim, trin ta anos Eu acho que eu não sei porque que eles não continuaram fazendo, né? Lógico que não continuaram fazendo. né me interessava muito Bom, então à direita dava na Copa. A Copa... O móvel de copa que está na minha sala de jantar tinha um outro etagére, um mais simples, que está em casa, também com um tampo de mármore, éh o resto de coluninhas de madeira, uma mesa de copa que está na sala de jantar da minha irmã, e os móveis mais modernos e uma e uma geladeira. Depois, à direita, entrava-se numa outra copinha, onde tinham um pequeno, um outro etagerzinho, que é a mania, acho que era de etagero. E a pia de lavar. A sala de estar das empregadas. Tinha uma salinha para as empregadas receberem visita. Depois tinha uma cozinha que cabia. Hoje em dia, cabia. Seguramente. Na cozinha e na despensa, cabia. A minha casa inteirinha. Mas inteirinha, hein? não Quando eu falo, isso não é um modo de dizer, não. Cabia inteirinha. Era maior que o salão, maior que a sala de jantar. () Era uma imensidão a sala.

SPEAKER 0: : O que que tinha nessa cozinha?

SPEAKER 1: : um fogão coberto, que não era usado, e um fogão de seis ou oito bocas, que era usado permanentemente. Sempre tinha uma chaleira, e a vovó adorava cozinhar. Tinha uma mesa grande de mármore no centro da cozinha, pias, ah panelas de de de cobre, que não eram usadas, eram mais para decorar, não sei, usavam panelas comuns. eh E era só, era uma cozinha imensa, toda pintada, o teto de treliça, de madeira, E o chão? O chão de azulejo, de de de madrilho, branco e preto. Abriu como um branco e preto.

SPEAKER 0: : Mas esse fogão coberto era era do que?

SPEAKER 1: : Como? Esse vão... O fo o fogão coberto. O fogão era um lugar de madeira. apesar que nunca havia. Acho que era um fogão de de... Era um fogão a carvão, um fogão à lenha, não sei. Eu sei que o f o fogão não era usado. ah Tinha uma mesa. Como se fosse uma mesa, sabe? Ficou todo o madrilho encaixotado. Só que era encaixotado como se fosse uma mesa. Em cima tinha um (). não tinha mais nada, aquilo funcionava como uma mesa também, para arrumar. Janelas imensas, janelas grandes, todas elas de grade, a parte de baixo era toda gradeada. Depois tinha uma dispensa no fundo. A dispensa era comum, não tinha nada que se notasse. O segundo andar, a gente subia qualquer uma das duas escadas, o segundo andar, isso eu sei porque uma vez eu tive que descrever, engraçado, quando eu era pequeno, agora me lembrei. Tive que escrever a casa de minha avó para a minha professora. isso aí eu já estava, acho que no primeiro ano primário. E eu contei. Tinha quatorze quartos Nunca esqueci disso. Segundo andar tinha quatorze quartos e dois banheiros. E, engraçado, a arquitetura da época, olha, que era comum se ver quarto enforcad né O que é quarto enforcado? Quarto enforcado é aquele quarto que não tem saída. É o que se chama quarto enforcado. Então era muito comum, antigamente, quarto enforcado é é Você tinha que passar pelo outro quarto para sair. né casa Sabe que daqueles quatorze quartos só tinha um enforcado? que coisa hein Imagina... uma casa bem bolada, né? uma casa

SPEAKER 0: : E como é que se distribuíam esses q

SPEAKER 1: : Em torno de um hall. Em torno de um hall grande que acompanhava aquele hall de baixo... e se distribuíam... tinha um quarto... Vamos dizer, subindo a escada, entrando a esquerda tinha o primeiro quarto de vovô Maneco. Era um quarto onde tinha um oratório, onde ele foi batizado e onde meu filho, o Rafael, foi batizado. Esse oratório, portanto, existia em mi . mil oitocentos e sessenta e cinco Ele foi batizado em mil oitocentos e sessenta e cinco, já existia o oratório em mil oitocentos e sessenta e cinco. cinco Ele foi batizado numa fazenda no litoral chamado Getúba. Ele nasceu em... no caminho de de de Caraguatatuba, como é que chama aquela cidade?

SPEAKER 0: : Paraitinga?

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : Paraibuna. ah Paraibuna

SPEAKER 1: : E foi batizado, engraçado, não foi batizado em Paraibuna, ele foi batizado em em São Sebastião, no litoral, nesse oratório, em uma fazenda chamada Getúba. Depois, éh esse era o quarto de vovô, tinha uma cama de médico, que tinha sido do tio Paulo, que tinha sido médico do império. E a cama de hospital era a cama dele. A cama de hospital era de madeira, enten A cama hospitalar era de madeira. que é esse oratório, alguns armários, e um banheiro moderno, que é onde é feito em quaren ta e dois Depois passava para o quarto da vovó, onde tinha um uma cama holandesa, autêntica também, uma coisa de duzentos anos, peça autêntica, que ainda não foi dividida, está em divisa na família. Ninguém quer a cama, todo mundo quer e ninguém quer. Sabe aquele negócio de briga? Todo mundo quer, mas diz, não, essa é sua, porque sempre falaram que era sua. Não, mas essa eu não quero, porque... Sabe aquele negócio? Então tá lá, tá inteirinha. ah Ninguém quer. diz que era para a minha tia, depois que era pra minha irmã. Eu tenho a minha cama estou muito satisfeito (risos) Não quero nem saber ()

SPEAKER 2: : Mas como é que era? aquela vintage

SPEAKER 1: : é daquelas assim de enrolar Como essa esse que era um gênero da época? Era comum assim, a madeira enrolada assim. nesses Como é que chama? Bolacha. Tem o nome bolacha, né? Chama bolacha ou

SPEAKER 2: : não sei O que mais?

SPEAKER 1: : O lustre era desses lustres que agora voltaram à moda. Era era um era um lustre de pano, desses ahn... com uma cúpula de pano virada pra cima, sabe? e E desce a lâmpada. Agora tá lá, () na moda esse negócio. Mas era um lustre comum.

SPEAKER 0: : Mas lá havia aquele negócio contra mosquito, assim, como é que chama aquilo na cama? Ah, não. Não ()

SPEAKER 2: : Cortinado? é é

SPEAKER 1: : É. (cliques) não Nunca se usou o cortinado lá. Na casa, olha, lá na na na... em Santa Cecília, nunca houve pernilongo até. quer dizer Tinha pernilongo, mas era pernilongo de não se notar de quarenta e cinco não quarenta e cinco não quarenta e sete quarenta e oito para cá ia começar a surgir os pernilongos, não sei por quê também Tanto que ninguém tinha, cortinado, ninguém usava nada de remédio, de coisa nenhuma. pernilongo não existia. punha as mães cuidadosas, elas zelosas dos dos filhinhos, então punham sim no berçinho. Mas fora disso, ninguém usava.

SPEAKER 0: : E essa cama que ainda está aí... unh ahn em litígio (risos)... amigável... como é que era?

SPEAKER 1: : Era uma cama altíssima. Primeiro, para subir... a gente precisava ah oh banquinho. Ela devia ter altura acho que pelo menos um metro e meio. assim () Alta... ah os ahn tinha um pé... ahn o pé era todo trabalhado, desse gênero... a cabeceira também, um pouco mais alta, também trabalhada, desse gênero... Uma cama comum, quer dizer, uma cama comum uma cama toda trabalhada, mas uma cama, segundo vovó, uma cama holandesa, que os rodovalho lá... rodovalho os rodovalho eram descendentes de... de... como é que chama eh de holandeses, segundo a família dos Proust, eram Proust e rodovalho. Aliás, é o pessoal aí os rodovalho também. Então, essa cama teria vindo... O vô teria comprado em razão desse negó Olha, eu não sei bem. O vô, como veio parar a cama na família, não sei. Mas era autêntico. Isso eu sei. Bom, saindo do quarto de vovó, tinha mais um sumiê lá no fundo. ahn Saindo do quarto de vovó, entrava num antigo quarto de mamãe, num estilo muito, muito... não era art nouveau, não era coisa nenhuma, sabe? Um estilo horroroso. Os móveis estão lá, ninguém quer esses, ninguém quer mesmo. Isso é autêntica. A vontade de não querer é autêntica. Estão, guardados, mas ninguém quer mesmo. Era de madeira. não sei que tipo de gênero de madeira. É muito comum. Um gênero que não chegou a ser cubista, eu acho que é uma fase intermediária entre o cubismo e o art nouveau Uma fase não identificada da da da da arquitetura mobilística, sei lá se pode chamar assim. Mas, enfim, é uma fase intermediária onde produziram coisas pavorosas. e que não é uma coisa nem outra. Está acabando, não é?

SPEAKER 0: : Não não estava olhando ali a agulhinha

SPEAKER 1: : Bom... essa... Depois o quarto de titia, vizinho do quarto de titia, que era o famoso quarto enforcado, eh que tinha os mesmos tipos de móveis, eram iguais, porque as duas imagina se poderiam ter quartos diferentes... Depois tinha o quarto de vestir de vovó, onde ela tinha uma outra mobília de casal, com cama e tudo, mas que ela não usava a cama, usava só os armários, etcétera, usava como um quarto de vestir. Era mobília preta. Hoje em dia, na moda, o pessoal acha que está ahn que esse negócio é bacana, que tá tudo ehn formidável, mas era uma mobília pesadíssima, horrorosa, pretona, com um armário imenso que não cabe em lugar nenhum. um Tinha uma penteadeira, penteadeira de marca, essa é bonita. Eu tava, inclusive, pensando em pegar a parte de cima dela, cortar o redondo no meio e transformar isso numa pia para o meu banheiro. estou precisando reformar o banheiro acho que isso ficava bonito no banheiro Depois tinha o quarto de estudo de mamãe e tia com a pequena biblioteca delas, biblioteca de moça, principalmente coisas francesas. () E o escritório de cima de vovô Maneco, onde havia uma rede. Muito gostosa. vovô gos vovô ficava lá em cima de manhã, lendo. Depois tinha o quarto do fundo do oratório, onde nasceu o Antônio Luacinto, aquele que foi reitor da da da da universidade. Totó nasceu lá.

SPEAKER 0: : Ele é parente também de vocês?

SPEAKER 1: : Não, mas ele era parente da Condessa Angélica. ah sim sabe Então, ele nasceu naquele quarto. Então, quando ele ia ele era médico de vovó, ele ia nem ia nem abandonou a clínica, não praticava mais, ia só de vez em quando e tal, mas vovó ricota, ele fazia questão. A vovó estava doente, podia chamar onde ele estivesse, na reitoria, na secretaria, onde fosse ele ia imediatamente. Ele gostava de vovó. Agora, mais do que a casa de vovó, um negócio que se que acho que devia falar era de vovó. Não de vovô que eu não cheguei a conhecer direito, porque vovô morreu eu tinha treze anos. Parece que foi uma figura ah extraordinária, advogado de valor, magistrado, Projeto de cultura, diz que com sete anos que falava latim. Imagina que absurdo. coisa maluca Mas ahn de vovó. Vovó eu conheci bem. Ela morreu em sessenta e três sesse senta e quatro em janeiro de sessenta e q e quatro E vovó é dessas coisas que... É dessas senhoras de idade que a gente às v raramente conhece. eh Foi uma pessoa, uma figura formidável. Ela realmente se destacava da família toda. Valenquaca, com oitenta anos de idade, ela adorava a Darcy Gonçalves. Adorava a televisão. Era alegre. Jamais a gente via a vovó ahn triste por alguma coisa, ou aborrecida. E quando ela ficava aborrecida, ela procurava se animar, animava os outros. () nunca teve qualquer tipo de de de pre ahn de preconceito com empregada, ou ahn recebia tão bem uma pessoa, um príncipe, um que às vezes iam lá em casa dela, o príncipe Raul Maçanguço, com o marido da da Janine Bouchard, recebia tão bem a coisa como as empregadas da casa delas as antigas empregadas. E era aqui lhe disse, olha que nunca vi uma pessoa tão querida, nunca vi um inimigo de minha avó. Nunca vi um inimigo de vovó nicota. Dessas coisas a gente, ahn não é p não é o pelos outros avós, nem vovó Cília que morreu agora, a pessoa formidável e tudo isso, vovó nicota realmente era Era fora do (). Era inteligente não é inteligente Era uma pessoa... Ela não teve cultura grande, porque na época em que ela nasceu, eu acho que não se dava cultura às mo moças As moças naquele tempo eram prendadas, sabiam cozinhar, sabiam costurar, sabiam bordar. Mas não sabiam mais nada além disso. Não sabiam cuidar de uma casa, de um filho, nada além disso. Mas era inteligentíssima e sabia utilizar a utili inteligência dela para o bem. Olha, ela é... a mamãe não é assim. titia, então, nem se fala. Não é assim de jeito nenhum também. As duas são ranzinhas, ranhetas, vivem se queixando da vida, vivem () vovó nunca, nunca vi vovó fazer isso. vovó v adorava televisão. Ficava fazendo crochê. Aqueles crochês dela jogando. Quando não tinha televisão, antes de televisão havia novela. Novela de rádio. via todas as novelas.

SPEAKER 2: : Todas, todas, todas.

SPEAKER 1: : E depois, então, ela jogava jogava paciência, paciência napoleão, essas coisas, né? Adorava. Nunca vi vovó sem ter uma ocupação ou triste, ou aborrecida, ou enfadada, ou cheia de coisa. Nunca vi. Nunca vi vovó () vovó era um ###

SPEAKER 0: : diferente ela tinha um espírito crítico tinha ###

SPEAKER 1: : (risos) () ela sabia os pontos das pessoas ### ### ### mas era () né ela, na minha opinião, inclusive, é a mais inteligente de todas as irmãs. () Mas ela realmente é uma for uma figura formidável, fora do comum. Bom, voltando à casa. Na casa, então, subia tinha um terceiro an tinha um banheiro também igual ao de baixo, separado em dois, além daquele de vovô maneco. E em cima era o terceiro andar, que era onde moravam os empregados. Tinha outros tantos quartos, outros quatorze quartos. Eles ocupavam os quatro quartos, os cinco quartos. E... E o resto eram guardados. Tinha o quarto de guardar o presépio. Tinha um presépio que vovô que eu fiz muitos anos depois que o vovô morreu. Até o vovô morrer eu fiz o presépio. Era um presépio imenso. Ocupava um quarto inteirinho. levava Eu levava seis dias armando o presépio. Dias inteiros. E esse presépio tinha, éh quando quando eu conheci, quando eu comecei a armar, já tinha sabe ointenta anos de armado, todo ano.

SPEAKER 0: : E as peças como eram?

SPEAKER 1: : estão em casa de titia são peças que foram substituídas aos poucos As últimas peças são francesas, ahn talvez de do início do século, alguma coisa assim. Não sei bem o valor daquilo, talvez não tenha tanto valor assim não viu Mas são peças bonitas, pelo menos para o meu gosto, estão muito bem estão muito bem guardadas. De que material? Acho que argila, ah sim qualquer coisa assim do gênero, não sei bem o que que é. Eu nunca quebrei uma na vida Não sei bem como é que é. Sério, a mim não sei. É louça. Louça não é. É argila, qualquer coisa assim do gênero Depois, esse quarto de presépio tinha muitos guardado. Tinha o quarto que tinha guardado brinquedos de mamãe. A mamãe e titia As bonecas despescoçadas. Acho que elas adoravam despescoçar bonecas. E... Depois a gente subia mais uma escada e tinha a torre. uma torre com um quarto guardado, onde eu encontrei ovos, encontrei... tinha tinha morcego, tinha mui . to morcego Na casa de vovó Nesse nesse terceiro andar. E era só isso. Mais ou menos, em resumo, era o que é a casa de vovó

SPEAKER 0: : E a parte de fora da to

SPEAKER 1: : A parte de fora da torre era um telhado de zinco. Um telhado... porque não usavam um telhado de folha. O telhado... a a a (pigarro) a parte lateral do telhado... era de um negócio chamado (), que nem se usa mais, né? Nem se usa mais... Eu acho que algumas casas hoje em dia tentam imitar a ardosa, mas não é. Os poemas de Berlino também. A ardosa também não se justifica para o clima tropical, né? Porque o negócio é para a neve, para escorregar neve. Aqui no Brasil a ardosa é um absurdo. Depois, quando quebrava uma folhinha daquelas, para substituir, ó, precisava tirar de baixo para botar no meio. Não se conseguia?

SPEAKER 0: : Ah, não. Não se fabricava não é é Era importa

SPEAKER 1: : é pedra aquilo, é importado.

SPEAKER 0: : Ah, sim.

SPEAKER 1: : Aquilo é pedra, eh num são marcos, tiras de pedras que vêm de fora. Aquilo no Brasil não tem. É um absurdo aquele negó Aquilo é sistema alemão. O sistema alemão não não tem cabimento num num país como o Brasil. Nem aquela casa não tinha cabimento. Tinha para-raio. Uma coisa importante, eu achava, formidável era que ela tinha um para-raio. sentia protegido lá dentro Depois, do lado de fora, tinha a edícula da casa de vovó. Era composta de uma garagem, que tinha sido cocheira. ahn Em cima ainda aquele tinha aquela po aquela porta grande, sabe? de guardar alfafa Acho que pra estocar, pra depois jogar pra baixo. Sabe aquela porta que abre assim, fazendo tipo em filme americano? Abria aquela. Tinha uma porta em cima que dava pra nada. Era pra guardar, acho que, alfafa pra jogar pra baixo. Não sei bem o que que era. Tinha lavanderia, tinha moradia do... chofer O chofer tinha dois quartos e banheiro. E tinha a moradia do jardineiro, que tinha outro tanto. E ainda tinha um quarto de ferramentas do jardineiro. E... Bom, e eu acho que era só... isso Ah, tinha lavanderia. do lado a lavanderia com ligação pra casa de titia. Tinha uma passagem. Passava por dentro pra passar pra casa de tia. Minha mãe morava em frente. Minha titia morava no mesmo, praticamente no mesmo terreno em casa de vovó. Tinha sido pomar, antigamente foi cortado. para fazer a a casa de titia. Ela ainda mora lá? Tia mora mora né Mora lá e nem sei como é que aguenta. Porque estão construindo agora um na casa de vovó, no terreno da casa de vovó, um vastíssimo prédio, e o pior é que estão derrubando coisas em cima da casa dela, arrebentando tudo. Está desesperado. Ontem ela se queixou (). Estive lá visitando, ela está doente, e se queixou () essas coisas. Bom, isso é a casa de vovó, que eu me lembro de.

SPEAKER 0: : Mas o senhor falou do jardim, que é que foi uma das suas assim sua sua primeira lembrança. ma Me conte como é que era esse jardim. O senhor se lembra do que se plantava, como é que ele era, afinal de contas? a entrada

SPEAKER 1: : A entrada principal era toda de pedregulho. Mas pedrinha redondinha. Não esse cascário que a gente vê, esse vagabundo que tem por aí. Mas era pedrinha redondinha branca. E areia. Muito cascário e areia. Depois, então, aquilo... eh entrava aquela avenida... Palmeiras Imperiais dos dois lados, um dos canteiros, nascia aquela auqela grama verde de sombra, sabe? Um dia na la tinha tinha um pé, entre uma palmeira e outra, tinha um pé de limão francês, que eu gostava, adorava comer. Chupava o limão francês como quem chupa a tangerina, sabe? Porque aquilo descasca que nem tangerina e dá pra chupar. Eu gosto muito daquilo. Mas é é é limão, () Limão... Então a gente seguia por aquele negócio, aquele caminho de cascada e de pedregulho. Lá no fundo tinha um paralelepípedo. Tinha um tudo um eh um uma área de paralelepípedo. Em frente a essa garagem era a lavanderia. Do lado esquerdo tinha um poço, que não era usado. Depois tinha o viveiro de passarinhos, também não usado, e uma pitangueira. Dava pitanga () se comia pitanga lá. ### Tod todo o aparelho do fundo era de camélias, cameleiras. E aquilo dava a camélia. tinha certa época do ano que ficava a camélia cor-de-rosa, a camélia branca. Era bonito. Depois, tinha a a a gente andando mais pra esquerda, no fundo o tinha o matinho, que eu me escondia lá. () (risos) ### ahn Aí vinha um pedaço já com com lado com não sei se é ladrilho lajota não é bem a uma Lajota lajota porque tinha que passar automóvel e ia ser lajota. e ah E tinha um pequeno lago. A volta é o terraço daquele salão. O salão o salão principal da casa. Então, o salão dourado. Ele dava para um para um terraço. Terraço também principal, que naturalmente se fosse no dia da baile, sairiam o pessoal sairia pra fora. É um negócio que a gente vê em filme, né? Muito legal. E embaixo desse terraço tinha um um um como é que chama-se um Um laguinho. Um pequeno lava-fonte. Um peixe enrolado, da boca saía água, e embaixo um laguinho cheio pei oh de peixes. tinha pe Muito tempo teve peixe vermelho lá. Era um lugar bonito e eu me escondia nesse terraço, porque a gente subia pelo laguinho, pisava na cabeça do peixe s, pisava em cima, e como aquele salão vivia fechado, a folha fechada, ninguém procurava lá, então a gente ficava naquele terraço escondido também, era um dos pontos preferidos. Em casa de vovó, criança quer sumir, desaparece mesmo, desap desaparecia. Ninguém me achava de jeito nenhum, mas não me achava. Pois a frente era o era o principal. Era o o o jardim bem cuidado do vovô, com aquele bucho.

SPEAKER 2: : Era uma... ah Bucho hoje em dia não se usa mais, né?

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : Era um negócio bonito.

SPEAKER 0: : O bucho era bonito. eh eh deve ser o outro bucho (risos) é

SPEAKER 1: : Era uma planta bonita, inclusive se recortava aquilo, ficava com um feitio bacana, um negócio bonito mesmo. Depois tinha aquela escada de pedra que se subia lá pro pro pro fundo, pra pra pra aquela entrada que era a principal, que não devia ser. Depois, passando aquela entrada de novo, tinha o terreno que dava pra Roção do Centro de Paulo. Lá tinha um outro lago com uma uma fonte, um menino, chamava José Menino, nem sei porque, ele carregava um uma ânfora, um negócio assim do gênero, e saía saía água lá de cima. Depois, a a as duas as duas os dois como é que chama esse as duas estufas de vov ô e um mato lá por trás. Aquilo não era tão bem cuidado assim, sabe? Mas também não era rodeado. E os galinheiros é Tinha galinheiro no fundo ainda, por exemplo. E o vovô criava carnizé solto. Tinha uma vasta criação quando era pequeno. Tinha o nome. Tinha nome. Tinha rolinha, tinha não sei o quê. Todos tinham nome. E o vovô chegou ao cúmulo de ensinar a galinha. Ele mandava cantar, o galo cantava. Era um negócio. Ele chamava onde ela ia a ga a galinha, a galinha garnizé ia, tudo atrás. E eu imitei o vovô, só que não tenho branca. Tem muito colorido. Aliás, um o meu galo tirou. Chama-se Philipe II. Tem uma igreja anglicana lá perto de casa bem pertinho de casa E eles fazem exposição exposições anuais de de animais de estimação. Então, meus filhos, o único animal de estimação que tinha lá em casa era o galo, (risos) e um casal de garnizé, sabe? Então, eu levei o galo garnizé na exposição tirou o primeiro prêmio.

SPEAKER 0: : Ah, que beleza!

SPEAKER 1: : Depois o vizinho acho que matou porque ele cantava demais, ou qualquer coisa assim.

SPEAKER 2: : Eu sei que ele sumiu, nunca mais vimos o galinho garnizé. Deixa eu ver o que mais que tinha cá.

SPEAKER 1: : Bom, o que eu me lembro eu acho que era só. Nunca teve cachorro. E janelas? Como eram as janelas? Janelas eram de folhas. Eram de folha, ela fechava, não é f não fecha com veneziana, ela fechava com folha pelo lado interno. Então ela vedava completamente a entrada de luz. Também tem um nome aquilo, acho que chama escuro, tem alguma coisa parecida. De qualquer maneira, eram folhas de madeira que se fechavam pelo lado de dentro. As janelas todas elas tinham uma tranca, uma tranca também que se colocava ah dos lados para proteger de ladrão. Uma única vez um ladrão entrou por lá e entrou. Aí ele não protegia tão bem assim. Entrou, quando deu pela casa, ele fugiu, porque ah alguém levantou, acendeu a luz, e acendia uma luz de um lado, acendia do outro, sabe? Ele acho que ficou tão assustado que fugiu.

SPEAKER 2: : mas entrou () as cortinas, como eram? enfeitando as janelas?

SPEAKER 1: : enfeitando as janelas, havia cortinas. É verdade, tinha cortinas muito bonitas.

SPEAKER 2: : Cortinas ahn com... como É que chama aquele pau de cortina de cima?

SPEAKER 1: : Galer, não é galeria propriamente, é um é um... como é que chama aquilo tem um nome também. Era um pau de cortina comprido, ah cortinas eram presas naquele negócio. Galerias, as galerias como a gente conhece hoje em dia forrada em casa de Vovó, acho que eram muito poucas as galerias, acho que no andar superior Embaixo era tudo aquele sistema, um pau comprido de oitão de de metal, onde corriam as cortinas de argola.

SPEAKER 2: : Aqui nós temos... deve ter algum nome, mas eu não sei. Na sala de jantar, eram cortinas pesadas, acho que damasco, ou alguma coisa parecida, bem ().

SPEAKER 1: : Na sala de visitas, no salão salão azul, eram azuis, também damasco, tinha uma cortina leve, de voal, coisa parecida, no meio também.

SPEAKER 2: : Então não era voal, era uma renda qualquer. Depois, na sala de de... no salão dourado... Era um outro tipo de cortina também, acho que branca, bege, isso eu não me lembro bem não. não me lembro ()

SPEAKER 1: : o assoalho O assoalho não era tão tão bonito como hoje em dia tá na moda, né? Que é um negócio de tabalaca. Não era tábua larga, era tábua estreita. Quer dizer, não era estreitinha, mas era uma tábua mais estreita do que essa que tá se usando. Se usando com o escândalo antigo, né? Na verdade era uma tábua muito, muito bonita e... E o chão era digno de ser mostrado nele.

SPEAKER 2: : Como era a conservação desse assoalho? era em cera ah cera cera e cera é um trabalho puxado.

SPEAKER 1: : Tinha até o trabalho marqueteria na sala de jantar e tinha pê gê gravado no assoalho, pê gê Guimarães. vovô mandou fazer quando reformou a casa em mil oitocen mil no . novecentos e vinte e dois Ele mandou botar pê gê no no assoalho em marqueteria Depois... ()

SPEAKER 2: : Pereira Guimarães.

SPEAKER 0: : Ah, assim era o nome dela.

SPEAKER 1: : vovô era manoel Pereira Guimarães. Deixa eu ver se eu me lembro mais alguma coisa interessante em casa de vovó

SPEAKER 0: : e na demolição, assim, alguma coisa lhe chamou a atenção? ahn

SPEAKER 1: : Chamou tudo. Aquele negócio, né? (), a única coisa que me chamava a atenção, viu, que era a tristeza.

SPEAKER 0: : O senhor acompanhou toda ela?

SPEAKER 1: : Opa, e aí, eu acho uma tristeza. Isso pra mim, o que me impressionou de tudo, foi isso. Uma coisa triste, sabe? que É como ver uma pessoa morrer quase, sabe? e É um negócio que está ligado à vida da gente.

SPEAKER 2: : Desde a infância, nós morávamos praticamente dentro da casa de vovó. Então, quando veio acabar a casa, demolir ah, entra pedreiro, arranca as... É como se estivesse arrancando pedaço.

SPEAKER 1: : Não digo que seja da gente no final das contas, mas éh ah a gente sente, sabe? Eu, pelo menos, senti profundamente. mamãe também ti tia também Tereza, nesse ponto, acho que ela sentiu um pouco menos, mas não sei, não tô dentro dela pra saber.

SPEAKER 2: : Vai lá também. Eu, pra mim, foi um choque. Pra mim foi um choque terrível. ver aquela casa demolida, arrancando pedaço daqui, arrancando pedaço dali. Tristeza total.

SPEAKER 1: : O que me impressionou, que gravou, foi o seguinte. Nós andamos vendendo algumas coisas da casa.

SPEAKER 2: : E... E não conseguimos praticamente preço nenhum. Depois, então, sobrou.

SPEAKER 1: : O que sobrou, vendeu-se para um demolidor por duzentos contos Qualquer coisa assim do gênero.

SPEAKER 0: : conta pra gente o que que se pretendia vender.

SPEAKER 2: : Na na na época. Na época?

SPEAKER 1: : O que que se pretendia vender? Deixa eu ver. Pretendia-se vender... ahm algumas portas... A cantaria da entrada, essa que eu falei que me impressionou. Porque ela tinha, era toda de pedra. E eh ninguém quis dar nada por aquilo. Então quando nós vendemos o demolidor, vendemos aquilo já que ninguém queria dar nada. Vendemos assim uma demolição, vamos dizer que fosse vendida por duzentos contos. No dia seguinte, o demolidor vendeu a cantaria por quatro mil contos. No dia seguinte, contou com qualquer do interior que fez um a entrada da fazenda dele. Qualquer coisa assim no geral, não sei bem o que foi, mas foi assim. Um milionário do interior comprou aquilo por quatro mil contos Isso nós tentamos vender. Tentamos vender grades. Algumas grades. Tentamos vender ahn folhas de janela. Algumas coisas ahn e que que teriam sair. E saíram mesmo. A gente não tinha era a prática de vender, sabe? aham Mas no fundo, no fundo, no fundo no fundo ah o assoalho

SPEAKER 2: : A gente vendia algumas coisas de mármore. Não, mármore não Mármore, não queríamos vender não Queríamos conservar o mármore.

SPEAKER 1: : Aliás, queríamos, não. Mãe, titia Eu acho que mármore não tem tanto aproveitamento A coisa que me surpreendeu na demolição, tá aí. Degrau de mármore. Todo degrau de mármore é feito aquela casquinha que tem um dedo ou dois. De de espessura, tá certo? aham

SPEAKER 2: : Esse não.

SPEAKER 1: : Era um mármore como se fosse um iceberg. na parte de baixo tinha mármore assim descendo. Quer dizer que eles puseram a pedra de mármore, lá uma pedra, uma vasta pedra de mármore, e depois poliram por cima.

SPEAKER 0: : É incrível, isso.

SPEAKER 1: : está lá a pedra pra quem quiser ver ainda, porque essa nós guardamos. E cá tinha a senhazinha.

SPEAKER 2: : Que coisa interessante, né? Com a pedra, a pedra bruta embaixo. Olha, estranho, nunca vi isso não Qual que tinha a senhazinha?

SPEAKER 1: : tia sinhazinha era a irmã de vovô maneco Morava também na alameda barros, e a casa hoje em dia é guarda-móveis. Tá guardando tudo isso que eu falei, mais alguma coisa, inclusive uma geladeira minha (risos), sendo guardada lá.

SPEAKER 2: : De lá eu tirei a

SPEAKER 1: : coisa Bom, acho que che ga Não de casa