Inquérito SP_DID_020

SPEAKER 1: : E e apenas isto, eu leio o Estado de São Paulo. Eu tenho em casa a Folha da Manhã, mas leio só o Estado de São Paulo. A Folha da Manhã eu só leio no domingo.

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : ah vou pela ordem, da primeira página à última. Ah Às vezes leio primeiro, depois da primeira página a última, mas em geral leio a primeira página, de que Frequentemente só leio os títulos, porque é política internacional. Depois, na terceira página, começo a ler as notas, que raramente chegam ao fim, né, porque quase sempre o assunto não interessa muito, é política internacional ou nacional, menos interessante ainda no momento. Depois aquela nota de Brasília, que também não é interessante. Depois ah as páginas seguintes. Leio invariavelmente ah ah certas certas crônicas ah literárias, que que, aliás, não, não gosto, mas mas leio por vício, né, que sai todos os dias no Estado. Depois leio a página econômica, esportes eu pulo inteiramente e leio a his a histórias em quadrinhos. Depois vejo os programas de cinema e teatro. Eh Esse é o, essa é a minha leitura diária.

SPEAKER 0: : O senhor lê algum, algum periódico sem ser jornal?

SPEAKER 1: : ### Leio rara ### Aliás, não não tem nada de econômico. É um um jornal variado. Chama-se de econômico, mas tem de tudo. E é esse eu leio regularmente. E contém colaboração muito boa, colaboração de de de de bons escritores brasileiros. E outros desse tipo. Eh, quer dizer, não é, não é econômico. De econômico tem apenas o nome. Mas a minha leitu leitura diária é só isso.

SPEAKER 0: : O senhor não lê revista?

SPEAKER 1: : Não. Não. Ah Revista rarissimamente e regularmente não. Não compro revistas. Uma vez ou outra leio alguns números do do do do da revista inglesa, do Time. Mas uma vez ou outra. Não não não tenho o hábito nem gosto. De maneira que, em geral, não leio. Outra revista. E as daqui também. Eu eu não seria nem capaz de dizer qual é a que está em mais em em voga hoje. Não sei mais se é o Cruzeiro, se é a Manchete, Fatos e Fotos. Não sei. Sei que existem. ###

SPEAKER 0: : O senhor, assim, eh além desse noticiário de jornal, o noticiário chega ao senhor por outros para os out outros veículos, outros meios?

SPEAKER 1: : Não, só por informação, porque na na fábrica onde eu trabalho, almoçamos juntos todos os diretores, e E todos estão informados sobre os os mais variados assuntos, né? Uns têm preferência por assuntos econômicos, O meu filho, por exemplo, tem marcada preferência por economia, acompanha a indústria, a vida da federação das indústrias. Então isso me informa da vida da federação das indústrias e e das indústrias em geral, da economia, comércio exterior, tudo isso eu me informo por ele, por ouvir. O outros se interessam por outros assuntos mais diretamente ligados ao comércio local. Esportes, todos discutem futebol todos os dias, eu ouço, só, também só só me informo por ouvir, porque não tenho paciência de ler o jornal que está lá. Isso eu ouço todos os dias. Fora isso, outros uh outros elementos de informação eu não tenho.

SPEAKER 0: : O senhor ouve rádio?

SPEAKER 1: : Raramente. Ah Ah, aliás, ultimamente eu tido o hábito de ler, de ouvir no rádio um programa da manhã que dá o tempo e a hora. Esse é muito bom, que é o ah... Não sei qual é a estação. Jovem Pan, não sei que estação é. Eu sei que eu ouço de manhã porque dá o tempo com muita precisão e dá a hora também, de de minuto em minuto. Esse eu ouço quase todos os dias. E e no automóvel, em geral, ouço o Eldorado.

SPEAKER 0: : Como é que o senhor faz para ouvir o rádio do seu automóvel? Eu gostaria que o senhor contasse como é que o senhor ah atua para que o rádio funcione.

SPEAKER 1: : Deixo ligado, sempre sempre ligado no Eldorado. No automóvel, sempre no Eldorado. E em casa, sempre na Jovem Pan. Ah O rádio de de pilha que que eu levo comigo enquanto estou fazendo minha toillete. Porque fora disso, não ligo, não uso nunca. Como televisão, também não, não Não vejo nunca, nunca. Quando os outros ligam, eu vejo o programa que os outros ligaram, né? Mas ah eu não ligo.

SPEAKER 0: : Como é que o senhor faz para ligar o carro, o o o rádio do seu carro?

SPEAKER 1: : Bom, tem que levantar a antena primeiro e depois, e depois ahn os botões. É o quarto botão. É o quarto botão que que liga imediatamente e já está sempre marcado para para esse programa da Eldorado, que é o que eu ou

SPEAKER 0: : ### ### O senhor vê televisão? Nã

SPEAKER 1: : ### Eu gosto muito de ver na televisão fitas, ah re reprodução de fitas antigas, e, quan quando as cópias estão boas. Mas ah são os os poucos programas que me agradam. Fora isso, uma vez ou outra, por coincidência, eu vejo um jogo de boxe que eu gosto de ver na televisão. Raríssimamente futebol, só quando é internacional. E, em geral, não ligo para a televisão. Não não não gosto. Me dá sono. Imediatamente começo a dormir. Quando co começo a olhar (risos), começo a dormir logo em seguida.

SPEAKER 0: : Agora, me diga uma coisa, o senhor ah Esses seriam essas seriam a as suas fontes de informação. Ah como é que o senhor faz quando o senhor quer ah comer fora de casa?

SPEAKER 1: : Bom, em geral, eu... pelo menos uma vez por semana, eu janto num restaurante fora. Mas ah eu não gosto de variar, vou sempre no mesmo restaurante, que é o La Casserole. Só isso. E Só isso. Não procuro, não saio em busca de de de comidas especiais, vou sempre diretamente ao mesmo restaurante e só lá.

SPEAKER 0: : ### Por exemplo...

SPEAKER 1: : principalmente o serviço. Mais do que a comida, o serviço, ah o bom serviço, o bom atendimento do pessoal, o dono, que trata muito bem, recebe muito bem, só isso. Porque, quanto à comida, não não creio que seja melhor que os outros. Mas eh o que me agrada é mais o serviço, mais mais aprimorado do que em outros restaurantes.

SPEAKER 0: : E o que, vamos dizer, se o senhor fosse ãh jantar hoje lá, o que o senhor pediria?

SPEAKER 1: : Bom, o que seria mais do meu agrado seria um prato muito simples, não é? Seria... um filé madeira e champignon, um filé rossini, isso é o, isso é o que eu prefiro. Agora no mais eu aceito qualquer coisa, com com exceções, mas ah eu prefiro um filé sempre, um prato muito simples. Ah

SPEAKER 0: : O senhor poderia nos contar, isso é é indiscreto, mas nos interessa saber, a sua dieta. Como é que o senhor se alimenta diariamente?

SPEAKER 1: : ### ### Enquanto estou fazendo a minha toilette, praticamente quase meio litro de leite, só. Depois, antes do almoço, um ou dois cafés, preto, pe pequeno. Também Apenas isso. Depois, no almoço, um prato só. Também, em geral, carne ou f ou carne ou Sobremesa, uma ou duas frutas. Café, outra vez. Depois, à tarde, um copo de leite. ### Sopa e um prato. Nunca... nem pão, nem nem massa. E à noite, um um... É, um copo de leite à noite, antes de dormir. Isso é sempre a mesma.

SPEAKER 0: : Nós estamos dizendo que dá bom resultado. ### Neste caso, o senhor não frequentaria, pelo que eu estou vendo, nenhuma casa onde se pudesse tomar lanche?

SPEAKER 1: : Não. Não, nunca. No Brasil, claro, o regime é completamente diferente em viagem. Eh O regime de turista é outro, né? Aí é completamente diferente. Mas aqui, não. Aqui, nunca, nunca. Eu ( ) Minha vida é regularmente sempre essa. Só ( ) Só é diferente sábado e domingo. E No sábado e e no domingo, Eu não não tomo um copo de leite de tarde. Eh, tomo só cafezinho. Eh E regularmente é isso. A minha vida é regular mesmo. ###

SPEAKER 0: : ### O senhor ãh alguma vez já cozinhou?

SPEAKER 1: : Não. Gostaria muito de cozinhar, mas não.

SPEAKER 0: : ### ###

SPEAKER 1: : Não sei nada, nada, nada do ( ) só sei fazer café. Eh Mais nada. Gostaria muito de de cozinhar, ( ) não tive oportunidade de aprender, né? Realmente tinha, tenho curiosidade de aprender, mas evidentemente passei do momento, né? Mas (risos) Mas não não não cozinhei nunca.

SPEAKER 0: : Eu queria justamente verificar se o senhor saberia assim os temperos que se usariam para esse ou aquele prato.

SPEAKER 1: : Não, eu ignoro tudo. Ignoro tudo. Só sei daquilo que eu abomino, né? E Isso eu sei. O vinagre eu não posso aceitar. A maionese não posso aceitar, de maneira nenhuma. E o queijo também não gosto. O mais pode vir, o ma (risos) o mais tudo passa. Isso eu sei. Agora, pa também não gosto de cebola, eu não gosto de alho, quando quando eu sinto o gosto.

SPEAKER 0: : Olha, eu queria que o senhor comentasse ah conosco ah o que que o senhor acha ah do lazer do paulistano.

SPEAKER 1: : Bom, a minha vida, a minha é muito especial, porque eu eu todos os os meus momentos disponíveis são para literatura de ficção, para o cinema, teatro ou para jogar xadrez. Eu não saio disso. Es eh Eu só faço isso. Agora, dos os demais, o meu meu filho, por exemplo, e meu genro só pensam no futebol. Para eles é obrigatório o futebol uma ou duas vezes por semana. Para mim, não. Mas, para mim, eh as horas disponíveis eu eu emprego em leitura de ficção, porque não são disponíveis, ( ) enfim, porque eu estou estudando, né? A leitura de ficção. ou raramente, porque, por falta de companhia, cinema ou teatro, a jogar xadrez. E ouvir discos e f e fi fitas gravadas. Eu tenho eh Eu gravo, passo de disco para para fita, para organizar as minhas faixas preferidas, né? Que ótimo. Mas já já que que estou sendo entrevistado, ( ) não música clássica. É bom é bom registrar que não é clássico o que eu ouço. Ouço música ligeira, música popular.

SPEAKER 0: : Que tipo de música?

SPEAKER 1: : Principalmente, eu prefiro americanas, populares, francesas, populares e menos brasileiras, né? Ou eventualmente italiana também, mas de preferência francesa e americana.

SPEAKER 0: : E o que gênero de música? Ãh ###

SPEAKER 1: : Melodia, não não não o, não o jazz, e francesas, cançonetas, né? É o que eu prefiro.

SPEAKER 0: : Mas eu gostaria, o senhor tocou num assunto que é dificílimo a gente ter aqui uma pessoa que possa falar alguma coisa a respeito, que é o xadrez. Ah, eu gosto muito ###

SPEAKER 1: : ### O xadrez é é meu passatempo de da vida inteira. Comecei a jogar o xadrez com doze anos, aprendi com minha mãe e... e fui me aperfeiçoando hoje, e desde mocinho jogo bastante bem, né? Jogo tão bem quanto pode jogar uma pessoa que não se dedica de de corpo e alma a isso, quer dizer, os que se dedicam inteiramente a isso são mais fortes. Aqueles que têm outras ocupações são da minha força, nunca nunca superiores. Uh O xadrez é é um passatempo ah convencional, o movimento das peças convencionais, Mas pela tradição de milhares de anos, ele se tornou uma verdadeira ciência. Porque estudos e trabalhos escritos, livros, artigos, crítica, comentários, se fazem há mais de quinhentos anos. De maneira que existe em bibliotecas de literatura, em revistas de xadrez. E Eu tenho livros de xadrez em todas as línguas que eu conheço. Não tenho em russo, mas até russo poderia ter, como muitos têm, Porque para ver os movimentos das peças, o as as revistas russas serviriam. Mas eu vou a apenas até o alemão. Mas eu tenho livros e revistas em todas essas línguas que eu indiquei aí. E leio regularmente, ( ) não não tanto porque o meu tempo não não não daria para tanto, mas leio sempre. E jogo hoje apenas partidas rápidas. Porque o xadrez se pode jogar de duas maneiras. Ou muito devagar, em que uma partida leva de cinco a seis horas, ou muito depressa, jogando-se em cinco ou seis horas umas quarenta ou cinquenta partidas. Eu jogo essa modalidade apenas, quarenta, cinquenta partidas em quatro, cinco horas. Eh Joga-se com o relógio e o o relógio, um relógio para cada jogador. Quando um está pensando, o relógio dele está está andando. Quando ele faz o lance, aperta um botão e passa a andar o relógio do adversário. De maneira que todos os lances, quer na partida longa, demorada, quer na rápida, têm que ser jogados dentro de um determinado período. Quer dizer, na partida longa, têm que ser jogados cinquenta lances, que é mais ou menos o que dura uma partida, em duas horas, duas horas e meia, para cada um. Portanto, um total de cinco horas. Ou na partida rápida, em que em cinco minutos, cada um tem que fazer todos os seus lances. Se não fizer, perde a partida. Agora, eu hoje em dia só pratico a partida rápida, Porque a partida demorada exige estudo prolongado e e e só mesmo tirando férias. Só mesmo não trabalhando, eu poderia jogar, por exemplo, um torneio. Porque joga-se à noite, digamos, de oito a uma hora. Acaba a partida, quando se vai para a casa, vai com a partida na cabeça, chega em casa, monta as peças e vai estudar a posição, porque vai continuar no dia seguinte, eventualmente. Ou então estudar para para corrigir erros na p na próxima partida. E o resultado amanhece no tabuleiro e não se dorme. Então, uma partida pensada só em férias, ou quem não tem profissão é que pode jogar, um profissional, ou um amador que se dedica só a isso, e que pode se dar o luxo de se dedicar só a isso. Fora isso, eu prefiro jogar como eu jogo, apenas partidas de cinco minutos. Então, eu jogo cinquenta partidas numa tarde, mas ah depois da última, acabou a sessão de xadrez, definitivamente posso ir para a casa e não penso mais no assunto.

SPEAKER 0: : ### O senhor poderia contar para nós alguns deles, os mais importantes?

SPEAKER 1: : Bom, uh eu não sei se isso pode oferecer interesse numa nu numa entrevista eh desse tipo. O que eu diria seria isso. Uh De alguns anos para cá, há uma grande variedade de de de de tipos de de de de aberturas e respectivas defesas. Quer dizer, hoje nós teríamos a considerar qualquer jogador que se dedica e que gosta do jogo, hoje teria de considerar umas cem, cento e cinquenta aberturas e defesas diferentes que que um jogador como eu conhece. Mas um um profissional ou um amador que se dedica de corpo e alma ao jogo conhece trezentas, quinhentas aberturas ou defesas diferentes, que sabe de cabeça, que não precisa nem examinar a posição, joga de cabeça. E... Mas... Há cerca de sessenta, setenta anos, as partidas eram mais limitadas. Jogavam-se umas dez ou doze diferentes. E não Não mais que isto. Eh Mas outros pormenores, acho difícil que... que que pudesse interessar, porque ( ) seria muito especializado já. Só quem conhecesse o jogo poderia apreciar o que eu dissesse.

SPEAKER 0: : Como é que termina o jogo? ( ) é no no esse

SPEAKER 1: : ### Rei, dama, antigamente chamava-se rainha. Hoje em dia, só as pessoas desatualizadas é que dizem rainha. Rei, dama. são as... A dama é é a peça mais importante. O rei é apenas uma peça, tem valor sim, apenas simbólico, isso é O objetivo é capturar o rei. Capturando o rei, venceu. Quando se captura o rei, chama-se dar mate Aí, a partida está ganha. A pessoa que que captura o rei ou dá mate no rei, que impede o rei de se defender, de vi de de de evitar de ser capturado, essa perde a partida. Ah Mas a peça mais importante é a dama pelo valor valor próprio dela. Depois as torres, depois bispos e o os cavalos com valor quase igual e depois os peões.

SPEAKER 0: : Agora, o o senhor veja, o senhor disse que os seus filhos gostam de futebol, o senhor gosta de uma música, o senhor gosta de xadrez, mas eu que, ah o senhor veja, fora ah, o que o senhor acha que a cidade de São Paulo pode oferecer, por exemplo, a um visitante que vem e que queira ter momentos de lazer?

SPEAKER 1: : São Paulo t tem casas de diversão, de dança e música excelentes e e para todos os gostos. São Paulo deve ter cerca de quinhenta Provavelmente. Existem o, e algumas excelentes de tipo clássico, que é o tipo tipo de de boates americanas, eh algumas dos países escandinavos, a França hoje em dia menos. Ah Da Inglaterra também é um pouco menos. Mas aqui em São Paulo temos de tudo isso. Temos boates como o Stardust, que servem para todos os gostos tradicionais. E boates em que só se dançam as músicas modernas, ah os pares separados, dançando cada um do seu lado. Acho que... Este é o maior... é o melhor divertimento que se pode dar para estrangeiro em em férias no Brasil. Futebol, ( ) todos gostam, claro, porque a qualidade do do do jogo é tão boa que que interessa a qualquer um, mesmo que não goste do futebol, né? Mas o mais é o passatempo internacional, qualquer um tem igual em toda parte. Cinema, que, aliás, aqui são melhores que em qualquer outro lugar. Os cine os cinemas daqui, o o o o aparelhamento e os edifícios são melhores que em qualquer outro lugar do mundo.

SPEAKER 0: : Em qualquer lugar. O senhor poderia se lembrar, e isso interessa muito para nós também, ah de um cinema de São Paulo que o senhor gostaria particularmente de descrever para uma pessoa que nunca tivesse entrado no cinema? Um deles.

SPEAKER 1: : Bom, eu eu sou eh... não não sou bem capaz de de de de descrever os cinemas, porque eu confundo todos eles. Porque, em geral, eu entro no escuro e não, e não sei qual é um, qual é outro. Mas eu eu acho que eu conheço. Talvez eu possa dar características do do Astor. na Avenida Paulista, naquele edifício na na na esquina da Augusta, né? O Astor. Entra-se pelo edifício Fazano, no nível da da da Avenida Paulista, em seguida a uma escada u uma es, uma escada não, um um acesso, um acesso em rampa, e entra-se numa sala muito cômoda, com poltronas estofadas, com bastante espaço de uma para outra, um belo salão com e com ótimo aparelhamento, com saídas boas também, para dois lados. Acho que isso é o Astor. Qualquer outro não seria capaz de descrever.

SPEAKER 0: : entrar no cinema, o que que tem, eh alguma coisa especial? No Astor ( ) não.

SPEAKER 1: : ### um pavimento térreo com lojas, livraria, cafés, algumas colunas, elevadores e várias entradas, uma pela, uma pela Paulista, outra pela Augusta, outra pela Alameda Santos. e uma a entrada para a garagem subterrânea pela João Manuel.

SPEAKER 0: : Mas o senhor tem que lançar mão de um recurso para poder entrar no cinema.

SPEAKER 1: : comprar o ingresso. É que o ingresso, a entrada, o bilhete... Ingresso, né?

SPEAKER 0: : O senhor diz ingresso. ### O senhor compra aonde?

SPEAKER 1: : Na bilheteria.

SPEAKER 0: : Existe algum ou uma pessoa que, por e... o senhor que chega a a no escuro às vezes, que o possa ajudar a encontrar o seu lugar?

SPEAKER 1: : eu por acaso estou me lembrando que se chama de vagalume. Eu me lembro de vagalume, mas eu nunca empreguei isso. Nunca, nunca me... tive necessidade de falar no vagalume, mas sei que se chama vagalume. (risos)

SPEAKER 0: : ### ###

SPEAKER 1: : Gosto, vou pouco, porque há pouco teatro aproveitável em São Paulo, mas gosto. Gosto de teatro de de de tipo... de... aproximado no clássico. Não o clássico. O clássico já não me agrada. Porque raramente uma peça clássica pode agradar, a não ser quando se se quer ouvir, por exemplo, o francês. uhn vai-se ao teatro clássico para ouvir o francês puro. Interessa, sim. Mas, em geral, prefiro o teatro mais, mais ligeiro. Mas não o o teatro de vanguarda, o teatro com com peças cujo sentido a gente precisa estar pensando, interpretando, decifrando.

SPEAKER 0: : Outro dia aqui com o arquiteto, nós estávamos falando, ãh fora da gravação, sobre o teatro municipal. Eu eu não sei se isso se impressiona o senhor também. O edifício, propriamente dito, né? Porque Excelente. A minha ###

SPEAKER 1: : ### Deve deve estar certo isso que eu estou dizendo. Eh evi Deve ter sido inaugurado em setembro de E um dia desses até eu vi que que no conjunto estava o Tita Ruffo. Ouvi Eu vi no no no jornal ainda esses dias. Mas sempre, sempre me impressionou muito o Teatro Municipal exatamente por ser um edifício de de de ótimo acabamento, de e de de excelente apresentação e proporções. E muito, muito... uh... A meu ver, aproxima-se muito do nível dos melhores teatros. O Rio de Janeiro é é mais fino que o nosso. Mas a a impressão que dá não é muito melhor. É mais ou menos a mesma coisa. O teatro do Rio é mais fino, com com mais mármore, mais material de de de de bom acabamento. Mas ainda agora, eu estive ah no mês passado em Paris, na ópera que acabou de ser reformada, que está uma verdadeira maravilha. É uma maravilha. Mas a a impressão geral, assim, não é muito melhor do que a que se tem aqui no teatro municipal. Na plateia, nos vários tipos de camarotes, frisas, no anfiteatro, no no foyer, nos corredores, é mais ou menos a impressão é a mesma. Só que, evidentemente, é muito mais luxuoso e muito e e muito mais rico. Mas o teatro municipal é um teatro de de ótimo padrão, a meu ver.

SPEAKER 0: : O senhor vê, ultimamente, se o teatro tem lançado uma on... não sei eh eh... Como todo teatro que se procura de ser de vanguarda, de recursos cênicos, ao invés do palco tradicional ou outro tipo de apresentação. O senhor conhece esse tipo de teatro?

SPEAKER 1: : Não, eu sei palcos giratórios ( ), mas não conheço nada. Eu sei que há muita coisa nova nesse sentido, mas não não conheço nada. Não, eu Eu não, eu gosto muito, mas nunca tive tempo de me aprofundar. Até pedi o ( ), eu queria ver como se trabalhava no teatro, e pedi ao Abílio eh de Almeida para... para ele me me me me permitir de assistir ah aos ensaios oh de de uma das peças dele, mas ele não entendeu bem o que eu queria e me recitou uma das peças dele em casa dele, que é uma peça que, aliás, eu já conhecia bem e eu fiquei nisso. Mas nunca vi uma uma um trabalho de direção de uma peça. Nunca vi. Gostaria bem de ver, mas não sei como é.

SPEAKER 0: : O senhor tem, assim, além do Abílio Pereira de Almeida, o senhor tem contato com outras pessoas de teatro que não sejam... Não. Só diretores?

SPEAKER 1: : Não. Não, eu eu... Pessoas que dirigiram várias peças, que eu me lembre, que escreveram várias peças, eu me lembro do Abílio e do Evaristo... Não me lembro mais nem o sobrenome dele agora. Que dirigia para amadores. Mas ah Mas parece que ele tinha tinha qualidade. Evaristo... Não me lembro o sobrenome dele agora. É um engenheiro. Mas ele eh foi casado com uma com uma irmã do Paulo Autran. Mas eu não conheço o Paulo Autran. Ah, o senhora não co

SPEAKER 0: : Nem conhece o trabalho dele para nos dar uma opinião a respeito?

SPEAKER 1: : Conheço, acho que o Paulo Autran ah talvez seja o nosso ator mais completo, né? Uh Do tipo de papéis que ele costuma fazer, ele ele ainda faz papéis de galã. Eu me lembro, por exemplo, u uma A apresentação que ele nos fez aqui do Otelo, excelente, eh com a Tônia Carrero. Eu me lembro do do Paulo Autran também no Seis Personagens em Busca de um Autor, em que ele era o diretor. Me lembro do Paulo Autran numa peça muito ruinzinha, La Petite Hutte. Não me lembro qual era o nome em português agora. (risos) Talvez fosse uma certa cabana. Acho que é uma certa cabana. Também gostei muito. Peça Roussin, ruim a meu ver. Mas não conheço, fora esse, não não conheço o pessoal de teatro. Assi de passagem, falei com um ou outro, né, mas não conheço.

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Apenas de ir ao circo, né? (risos)

SPEAKER 0: : O senhor se lembra como era o circo?

SPEAKER 1: : Lembro, perfeita

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Lembro, evidentemente, eh eh coberto com lona. A entrada é um um corredor cercado por duas... Duas ah cercas de de de de madeira com uma bilheteria, alguém recebendo os bilhetes. Depois, em volta do circo, junto ao pano, estão as galerias. Depois existe uma es uma espécie de camarote que dão diretamente para o picadeiro. E depois o picadeiro, com serragem, coberto de... em geral, com tapete. E às vezes tiram, para para demonstrações com cavalo e coisas, tiram o tapete. E os saltimbancos saltando o tempo inteiro e fazendo demonstrações, os acrobatas, né, uma moça e um homem em geral, uma moça muito bem arrumada, né, com pouca roupa, e e o e o palhaço. O palhaço, um que que é o que faz o papel de bobo e o outro que é o mais sabido. Sempre a mesma coisa. No meu tempo era o Chicharrão, o grande palhaço. Era o Chicharrão que era um dos irmãos Queirolo. Havia o circo Queirolo, quando eu era criança. O circo Queirolo, que era de vários irmãos Queirolo, um deles era o Chicharrão, e o companheiro dele chamava-se Harrys, se não me engano. Depois veio o Piolin, depois veio o Arrelia, e vinham, de vez em quando, os grandes circos estrangeiros, como o americano ( ), depois o Sarrasani, Hagenbeck, todos esses de proporções maiores.

SPEAKER 0: : O senhor se lembra, assim, de algum número que despertava mais a sua atenção ou o seu gosto pelo circo?

SPEAKER 1: : Bom, eu me lembro em criança da pantomima aquática. A pantomima aquática era uma coisa quase inacreditável que se possa fazer num circo. No meio daquele picadeiro, monta-se uma uma piscina do tamanho do picadeiro, enche de água e depois nadam, atiram-se, mergulham, navegam, tudo dentro do circo. ### ah ali na na Praça Marechal Deodoro, que não não era nem praça, ainda não tinha esse nome na na ocasião, né? Era um terreno vago. Pantomima Aquática. Uh Depois de de de de de todos os números, vinha a Pantomima, então punha-se lona no picadeiro, e enchia de água, e nessa... e punham tanta água que dava para mergulharem de do trampolim, para nadarem, para para navegarem, que era o último número de cada dia. Pantomima Aquática. Nunca mais eu vi. ### Foi, eu vi devo ter visto isso em mil novecentos e dezenove, vinte, por aí. Ali na Ali na Praça Marechal Deodoro. Não se chamava Praça Marechal Deodoro. Ali era a Rua das Palmeiras. Rua Sebastião Pereira. Não, ali é rua Rua das Palmeiras. E era só a rua. A praça veio muito depois, né?

SPEAKER 0: : O senhor falou aí também de um assunto que a gente gostaria de ouvir, ãh boxe. Boxe? É. O senhor gosta de boxe, não é?

SPEAKER 1: : Gosto, mas conheço muito pouco. Gosto, eu eu sei a história dos campeões todos, sei o nome de vários campeões, de fitas de todos os campeões. E Mas eu só estive em luta de boxe, de verdade, só uma vez na vida. Eu assisti a uma luta. Fora isso, eu tenho assistido quase todas as grandes lutas na televisão ultimamente, e no cinema antes da televisão. Mas acompanho e gosto muito porque o boxe é muito interessante e é uma luta muito interessante com a luta do do do que se trava na partida de xadrez. São dois esportes muito parecidos, muito muito parecidos, porque, como no xadrez, no boxe ah os dois contendores começam com lances cautelosos, sem se arriscar muito, sem atacar muito, cada um estudando o outro adversário, e depois vão, vão, pouco a pouco, se tornando mais agressivos, cansando o adversário a para, num dado momento, vencer com com um lance, que que é o nocaute no no boxe ou o mate no xadrez. E quando os dois contendores estão mais ou menos da mesma altura, A partida se prolonga muito e se esgotam uns quinze assaltos e um ganha por por pontos. Por isso é igualzinho ao xadrez, a mesma coisa. ### São dois esportes muito parecidos. Ah O xadrez e o boxe. É claro, técnica, equipamento, não é, diferentes. Mas a luta é muito parecida. Não Não não se dá isso, por exemplo, com o tênis, com o futebol. São completamente diferentes. Técnica completamente diversa. O boxe e o xadrez se parecem muito. Porque é uma luta entre dois adversários e os dois eh começam cautelosamente e vão pouco a pouco ganhando terreno. Um vai vai se tornando mais mais mais resistente, mais forte do que o outro. Outro vai se enfraquecendo, vai se debilitando. Num dado momento, o mais fraco é derrotado pelo nocaute. No xadrez, pelo pe E se os dois são mais ou menos iguais, chega-se até o fim da partida e um dos dois ganha. Quando não empata, não é? Um dos dois ganham, ah, um dos dois ganha ih por pontos. Ah eu O que no xadrez é mais ou menos ganhar coroando peões, que são o que resta depois de uma luta de de de algumas horas, né?

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Não, eu nunca tive tempo ainda. (risos) Não Eu gosto muito de de literatura. E de vez em quando, umas pouquíssimas vezes na vida, até já já já escrevi qualquer coisa, mas nunca publiquei, né? Mas Mas nun nun nun nunca tive tempo.

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : É o é o que mais se parece com xadrez é o boxe. Por isso era a minha predileção. Mas eu não vou nunca, porque é complicado para ir. Precisa comprar cadeira antes e depois... Eh, ter amigos, ter roda para explicar coisas que a gente não conhece.

SPEAKER 0: : ### ### Por exemplo, o senhor é capaz de definir, quando o senhor vê um determinado golpe, o senhor é capaz de definir aquele

SPEAKER 1: : Não. ### Eu não sei os nomes exatos. Eu ouvi Eu v ouvi umas tantas palavras, mas não sou capaz de de dar o... Eu eu sou capaz de repetir, mas sem saber ao certo o que é. ### Não sei, não conheço nenhum deles. Em português mesmo se escreve nocaute, né, com, escreve-se em português nocaute, mas eh... nocaute, knockdown, mas eu só eu só sei os nomes em inglês. Aliás, até no futebol eu também só sei os nomes em inglês. Eu No meu tempo, os nomes eram ditos em inglês. Eu até hoje nos, muitos muitas posições, eu digo em inglês, não digo em português. como Back, como Goalkeeper, como Halfback, que não existe mais. Aham.

SPEAKER 0: : Porque eu eu eu gos eu gostaria, assim, de até de pedir um favor ao senhor, que o senhor não se esquecesse de pôr no papel essa comparação. (risos) Qualquer dia eu faço. Ah não. (risos) ###

SPEAKER 1: : Muito, muito semelhante. E exige, a meu ver, o boxe exige até muito de de cálculo e de inteligência. Mas a inteligência, tenho a impressão de que, se a gente excluir os débeis mentais, todos têm em proporções mais ou menos iguais, apenas especializadas para determinados sentidos. O o Roque Marciano, por exemplo, que foi campeão mundial de boxe, era considerado um débil mental. Lutando, ele era um gênio. E aí com os campeões de futebol é a mesma coisa. Todos uns tolos. e no entanto, eles dem demonstram uma inteligência extraordinária na na na escolha dos lances, na rapidez de de concepção, de... e Quer dizer, a inteligência todos têm, mas especializada. (risos)

SPEAKER 0: : Inteligência para isso e não para aquilo. Exato. ###

SPEAKER 1: : Eu prefiro romances. Romances ou contos, mas prefiro romances.

SPEAKER 0: : Que gênero assim no romance?

SPEAKER 1: : Bom, para mim, ah ah tirando ah os romances que eu considero os maiores que eu já li até hoje, eu eu prefiro os romances longos, com história comprida, por vários volumes. O tipo moderno, ideal para mim, seria o do Paillard, em francês. Eh Agora... Sempre prefiro histórias desse tipo, mas ah de de de de feitura clássica, né? Não não com com com personagens simbólicos, com com ideias extravagantes, o sentido vai sa ser decifrado. Gosto da história do tipo clássico, convencional, né, tipo folhetim.

SPEAKER 0: : E e e poesia? ###

SPEAKER 1: : Eu gosto de algumas, mas não não não não tenho o hábito de ler. Eu tenho as tenho as coleções de todos os poetas brasileiros, leio de vez em quando, mas não não não é me não são de minha preferência. Eu gosto de um ou outro soneto, alguns eu sei de c de cor, eh mas ah mas em geral não gosto de poesia.

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : mas é o que eu menos aprecio na faculdade é exatamente essa mania de glorificar poetas, estudantes ignorantes e boêmios, em vez de em vez de de cuidar da daquilo para que a escola se destina que é ensinar direito. Sempre fui contra esses poetas da escola, embora fosse um um Álvares de Azevedo, um Castro Alves, que que foram os maiores poetas brasileiros, do dos maiores, não é? Mas, aliás, não não não sou entusiasta de nenhum dos dois. Os sonetos que mais eu admiro não não são deles. Eu prefiro sonetos que não são de de grandes poetas, né? Machado de Assis, por exemplo, que nunca foi grande poeta, né? Eu gosto do soneto da Carolina. Gosto do Círculo Vicioso. Gosto dos sonetos do Raimundo Correia, do Alceu Wamosy, esse gaúcho. É um poeta menos conhecido. É, não conheço. ### Ele morreu moço, entre vinte e trin ta. É um dos melhores sonetos que eu conheço, Duas Almas, Alceu Wamosy. Eh, esse eu me lembro só o começo. Ó, tu, que vens de longe, ó, tu, que vens cansada. Ah sim

SPEAKER 0: : ### não é? Tão bonito... E assim, no nono gênero, vamos dizer assim, chamado específico na sua profissão, o s o senhor lê alguma coisa além de...?

SPEAKER 1: : Não, eu eu como industrial sou muito mui Eu sou industrial por por mera coincidência. Eh Eu sou industrial porque o meu pai era comerciante banqueiro e deixou um grande conjunto de empresas em formação, em embrião, mais do que... nem nem sequer em formação. E como ele morreu relativamente moço, morreu com a idade que eu tenho hoje, ah os filhos tiveram que se distribuir pelas empresas que ele deixou em embrião. eu fiquei numa delas. De maneira que eu sou diretor de de um conjunto de empresas, mas eu não sou propriamente um industrial. O meu filho é. Meu filho, meu genro, eles gostam, têm aquilo com entusiasmo, acompanham com entusiasmo. Eu não. Eu Se eu tivesse de de de discorrer sobre assuntos de indústria, eu não teria o que dizer. Eu não, não Não é o meu... Não é a minha... Propriamente a minha profissão. Eu fui realmente professor, fui realmente advogado, Advogado eu fui, bem bem habilitado. E professor também, creio que que isso eu posso dizer.

SPEAKER 0: : Está feita a entrevista?