SPEAKER 0: É, eu recebi uma bolsa e fui estudar primeiramente em Paris. E, quando eu terminei o curso, então, eu quis ficar um pouquinho mais na Europa para, então, continuar minhas pesquisas e passei a trabalhar em Paris mesmo. Depois, então, através da literatura, o meu interesse foi despertado para o Oriente. Então eu resolvi chegar ao Oriente Médio através da África do Norte. Isso depois de ter conhecido ãh a maior parte dos países da Europa. Esse gosto foi despertado através da literatura, talvez um pouquinho influenciado por (), então quis conhecer o mundo em que aconteciam essas coisas que eram descritas nos livros dele. O que que você leu O livro que me influenciou mais ah a essa viagem para o Oriente foi talvez aquele quarteto de Alexandria. E existem alguns personagens que na época eu gostava muito, acho que talvez em parte por causa da idade que eu estava, então eu me influenciei pela personalidade de Lawrence. E eu quis conhecer então os problemas do Oriente, e então me dirigi aos países árabes e depois fui fazer uma pesquisa sociológica em Israel. ### Do outro lado lá. Ãh é o tipo de e a maneira que sentia, assim, uh o ser humano com outros hábitos, de certa forma, estava me proporcionando uma uma dimensão interior que eu achei que seria muito necessária para eu poder me conduzir ãh posteriormente. Mas, é como eu disse a vocês, foi só uma fase, assim, de adolescente e () SPEAKER 2: E e depois? SPEAKER 0: Depois de ter visitado esses países, eu voltei ao pa ao pa> <ís. Ainda fiquei mais um pouco, mas eu sabia que uh ah a realização de qualquer coisa, ãh na minha vida, deveria ser feita aqui, em São Paulo. É uma questão, assim, de raízes,  é uma coisa muito íntima. Em SPEAKER 2: De... sei lá, (). Você diz com relação aos  países árabes? É, e ao Oriente também SPEAKER 0: Uh Completamente diferente. Na Tunísia, por exemplo, nós temos uma uma arquitetura que é toda feita em função do clima. () Então, o que dá uma paisagem, aliás, muito interessante, que são casas todas brancas, com abóbodas, assim, ãh e mesmo no interior das mesquitas ãh, aquela altura das paredes, acho que é justamente para dar um certo conforto, no no caso dos países ãh próximos do deserto, conforto é quase sinônimo, assim, de ãh estar num lugar refrescante. e é muito agradável realmente sentar numa mesquita e inclusive é hábito dos dos fiéis muçulmanos lavar os pés antes de entrar na mesquita, o que já proporciona, de certa forma, esse tipo de conforto físico ãh que deve propiciar o estado de espírito para a meditação. SPEAKER 2: Você pode dizer como é que é dentro de uma mesquita? E fora também o que que ela tem? SPEAKER 0: É muito simples. Ãh Pelo chão existem tapetes. () São... A construção é muito alta. E depois existe uma espécie de bandeirola assim que fica sempre em movimento, o que ajuda também a circular o ar no no interior. Porque fora é é abafante, né? () (riso) () Então, esse conforto físico eu acho que auxilia bastante a meditação e é, então, a arquitetura, nesse caso, hum servindo a finalidade do do projeto. SPEAKER 2: Ah, ãh você () você Ficou aonde quando você foi lá? Ficou em pensão, assim, hotel? Eh SPEAKER 0: Eu fiquei um pouquinho no () hotel, né que é essa essa associação que funciona mais ou menos como () ãh (). E inclusive parece que está vindo agora aqui para São Paulo. Né? A organização vai implantar uma cadeia Albergues para estudante. Como era estudante, então, me servi ãh dessa facilidade. Ou então eu ficava em pequenos hotéis SPEAKER 2: Acomodando. E como é que é esses como é que ()? (riso) SPEAKER 0: Não é muito diferente. Aqui a gente entra e é a ru> SPEAKER 2: SPEAKER 2: SPEAKER 2: Eu estou falando nesse prato, hoje ainda não jantei. (riso) E realmente dá vontade de voltar para Grécia só para experimentar isso. SPEAKER 2: (riso) E onde é que você comeu esse esse SPEAKER 0: prato? Eles têm os restaurantes, assim, que ficam ao ar livre e alguns deles à beira da estrada. Naturalmente tem os restaurantes internacionais, mas como eles não apresentavam nenhuma curiosidade, eu não não tive nenhuma curiosidade em entrar nesses restaurantes internacionais. Porque desses restaurantes eu poderia encontrar aqui. Mas à beira da estrada eles costumam assar cabrito. () e carneiro também. Esse essa carne assada no meio da estrada, acerca próxima à estrada, dá uma ambientação assim muito primitiva que aproxima o homem da natureza e o fato de se alimentar é outro motivo para a gente se aproximar da natureza. De maneira que SPEAKER 1:  é muito agradável. E essa carne que você comeu, era carne pura, assim? Não tinha mais nada, nenhum acompanhamento, nada? SPEAKER 0: Não, não tinha não. Nada? Não. Carne de carneiro ### ### () assim, bem estilo bárbaro. Só ### ### e de preferência comendo com a mão, compreende, não tinha tempero especial, é com a simplicidade com que os nossos gaúchos fazem o churrasco deles né, mas o churrasco do gaúcho é só água e sal, não põe mais nada. Também, lá, eles preparam a carne assim com bastante simplicidade,  mas a ambientação é que abre a No caso, eu vou fic> SPEAKER 2: SPEAKER 0: <ão, assim, na natureza. SPEAKER 2: E você falou em natureza. Como é que a natureza é () como é que é? SPEAKER 0: O deserto não tem muita (riso). (riso) muita areia. Mas, justamente, O fato de de ser, assim, uma um horizonte monótono faz com que isso influencie no sentimento das pessoas. E esse sentimento é traduzido através da música. Então, a música árabe, ãh do ponto ponto de vista de um ocidental, ela é monótona. Mas isso se deve, eu acredito, que ao clima e à paisagem. Porque eh a gente encontra também no nor no norte do do do Brasil assim algum algumas cantigas entoadas, uma espécie de baião, maxixe, que também é monótono. Porque a paisagem do nordestino também é monótona e o. E o calor, o clima leva. a uma inação né, que depois é traduzida, através da música, quando quando o homem quer botar para fora o que tem. Então, sai essa música típica de países quentes e de paisagens monótonas. SPEAKER 2: Você () música na popular, por exemplo, que só seria monótono ()? É mo> SPEAKER 0: SPEAKER 2: SPEAKER 1: SPEAKER 0: <ço. Então eu tinha que adotar, eh debaixo do chapéu, um um lenço que me caía sobre os ombros para não queimar o pescoço. porque eu não estava vestido como um árabe. Mas eu tinha que adotar certas proteções, porque a roupa que eu estava usando  não não era adequada para aquele tipo de clima. Não é a que eu uso hoje, mas a calça que naquele tempo se chamava blue jean, hoje a gente chama Lee ãh e. É, porque no meu tempo, inclusive, o jovem rebelde se chamava (), hoje se chama hippie. Mas hoje hoje tem ### Já está ultrapassado o hippie, né? Então, como é que é? Eu estou por  fora. (riso) Como é que é,  Não é mais hippie? (Riso) Como é que é o nome? Não, não é.  SPEAKER 2: Acho que é hippie mesmo. É que hippie é o padrão, né? (riso) Mas não é mais o () que eu tenho () (riso). Então, é uma calça desse SPEAKER 0: Tipo Lee, né? Bota. ### e esse boné com com um lenço caindo no pescoço. Eu me vestia assim, mas é inadequado, porque é evidente que aquelas roupas esvoaçantes que eles usam são muito mais de verdade e com os movimentos a gente se refresca. Enquanto que a nossa calça justa uh não tem ãh nenhuma possibilidade de ventilação, durante uma caminhada longa. Como é que era a roupa? Se a gente passar quinze dias andando sobre o sol, é preciso que tenha todas essas essas as facilidades. Será () SPEAKER 3: ### SPEAKER 0: Caminhada é sempre para frente. SPEAKER 3: (riso) Quinze dias sempre para frente. () SPEAKER 0: É camelo. Sobre o camelo. Ou a pé? () Sozinho. Ah Agora, às vezes de um oásis para o outro, a gente encontrava um guia. E, embora a gente não pudesse dialogar, esse agente que eu estou falando, se você está fazendo pesquisa linguística, deve ser influência do () francês. Mas, em todo caso, eh é bom ter uma companhia. Ainda que não houvesse diálogo, só a presença de um outro ser humano eh ajudava muito a passar o tempo, independente de de di> <álogo. Não havia necessidade de conversar, mas só participar das dificuldades de uma caminhada com uma outra pessoa né, partilhar, já tornava a tarefa bastante, bem mais amena. SPEAKER 2: É, esses oásis, e um oásis para outro né, é muito longe, por exemplo? É, tem alguns que são bem SPEAKER 0: Longes. É? () é outros são mais pertinho. E vo> SPEAKER 2: SPEAKER 0: SPEAKER 2: SPEAKER 0: Só no Louvre eu passei quarenta dias, eu não vi tudo. Eu fiquei quarenta dias visitando o Louvre e não deu para ver praticamente nada. Como eu gostaria de ter visto eh quadro por quadro, pensando e pintor por pintor, ãh obedecendo mais ou menos uma evolução ãh dentro do tem> Das diversas formas em que a pintora foi passando, nas escolas que se substituíam. Mas é que não não deu... () E como é que era a organização ()? É muito bem organizada, inclusive eles têm, para quem quiser usar, monitores. Mas sempre, como sempre arredio essas coisas padronizadas, eu mesmo me organizava. SPEAKER 1: E você não teve problemas assim com a língua, por exemplo? SPEAKER 0: Não, na França, eu não tinha problema nenhum com a língua. Inclusive, eu estava esquecendo um pouco o português, pensando em em francês. É interessante, inclusive, a gente passa a sonhar na outra língua. Surpreendente. Quando eu voltei para o Brasil, então eu me surpreendi, não é? Acordando. Eu sur me surpreendi sonhando em em francês. Isso é bom, porque é sinal que a gente já está quase falando direitinho a língua, porque pensa nela, sente nela. Se queimar a mão, grita nela. (riso) Esse palavrão, né? SPEAKER 2: (riso) Ai ai... Nem no início você sentiu que você pudesse, por exemplo? Ãh no início é houve houve um peque> SPEAKER 0: