Inquérito SP_DID_004

SPEAKER 0: : É, eu recebi uma bolsa e fui estudar primeiramente em Paris. E, quando eu terminei o curso, então, eu quis ficar um pouquinho mais na Europa para, então, continuar minhas pesquisas e passei a trabalhar em Paris mesmo. Depois, então, através da literatura, o meu interesse foi despertado para o Oriente. Então eu resolvi chegar ao Oriente Médio através da África do Norte. Isso depois de ter conhecido ãh a maior parte dos países da Europa. Esse gosto foi despertado através da literatura, talvez um pouquinho influenciado por (), então quis conhecer o mundo em que aconteciam essas coisas que eram descritas nos livros dele. O que que você leu O livro que me influenciou mais ah a essa viagem para o Oriente foi talvez aquele quarteto de Alexandria. E existem alguns personagens que na época eu gostava muito, acho que talvez em parte por causa da idade que eu estava, então eu me influenciei pela personalidade de Lawrence. E eu quis conhecer então os problemas do Oriente, e então me dirigi aos países árabes e depois fui fazer uma pesquisa sociológica em Israel. ### Do outro lado lá. Ãh é o tipo de e a maneira que sentia, assim, uh o ser humano com outros hábitos, de certa forma, estava me proporcionando uma uma dimensão interior que eu achei que seria muito necessária para eu poder me conduzir ãh posteriormente. Mas, é como eu disse a vocês, foi só uma fase, assim, de adolescente e ()

SPEAKER 2: : E e depois?

SPEAKER 0: : Depois de ter visitado esses países, eu voltei ao pa ao pa ís. Ainda fiquei mais um pouco, mas eu sabia que uh ah a realização de qualquer coisa, ãh na minha vida, deveria ser feita aqui, em São Paulo. É uma questão, assim, de raízes,  é uma coisa muito íntima. Em

SPEAKER 2: : De... sei lá, (). Você diz com relação aos  países árabes? É, e ao Oriente também

SPEAKER 0: : Uh Completamente diferente. Na Tunísia, por exemplo, nós temos uma uma arquitetura que é toda feita em função do clima. () Então, o que dá uma paisagem, aliás, muito interessante, que são casas todas brancas, com abóbodas, assim, ãh e mesmo no interior das mesquitas ãh, aquela altura das paredes, acho que é justamente para dar um certo conforto, no no caso dos países ãh próximos do deserto, conforto é quase sinônimo, assim, de ãh estar num lugar refrescante. e é muito agradável realmente sentar numa mesquita e inclusive é hábito dos dos fiéis muçulmanos lavar os pés antes de entrar na mesquita, o que já proporciona, de certa forma, esse tipo de conforto físico ãh que deve propiciar o estado de espírito para a meditação.

SPEAKER 2: : Você pode dizer como é que é dentro de uma mesquita? E fora também o que que ela tem?

SPEAKER 0: : É muito simples. Ãh Pelo chão existem tapetes. () São... A construção é muito alta. E depois existe uma espécie de bandeirola assim que fica sempre em movimento, o que ajuda também a circular o ar no no interior. Porque fora é é abafante, né? () (riso) () Então, esse conforto físico eu acho que auxilia bastante a meditação e é, então, a arquitetura, nesse caso, hum servindo a finalidade do do projeto.

SPEAKER 2: : Ah, ãh você () você Ficou aonde quando você foi lá? Ficou em pensão, assim, hotel? Eh

SPEAKER 0: : Eu fiquei um pouquinho no () hotel, né que é essa essa associação que funciona mais ou menos como () ãh (). E inclusive parece que está vindo agora aqui para São Paulo. Né? A organização vai implantar uma cadeia Albergues para estudante. Como era estudante, então, me servi ãh dessa facilidade. Ou então eu ficava em pequenos hotéis

SPEAKER 2: : Acomodando. E como é que é esses como é que ()? (riso)

SPEAKER 0: : Não é muito diferente. Aqui a gente entra e é a ru

SPEAKER 2: : a, o parque.

SPEAKER 0: : Não é muito diferente daqui ãh. () em () .

SPEAKER 2: : ### Eu fiz muitas coisas... Foi você foi com menos dinheiro... Não, não. Dinheiro

SPEAKER 0: : Do do meu trabalho em Em Paris. Eu economizei...

SPEAKER 2: :  Sim, mas que tipo de dinheiro

SPEAKER 0: : Ah, à medida em que ia entrando nos países, eu ia trocando. Sim. Principalmente o dólar. Antes de sair do país, transformei tudo em dólar. E E o dólar funcionou assim como um denominador comum. Eu fui trocando à medida em que atravessava uma nova fronte

SPEAKER 2: : ira. Em que lugar você iria ()?

SPEAKER 0: : Casa de câmbio. Como? Casas de câmbio. Câmbio. Câmbio.

SPEAKER 2: : Você pedia moeda nacional?

SPEAKER 0: : Pedia moeda nacional. É verdade que há, como fazem com os turistas também. Eles oferecem para trocar uh populares, querem dólares. Mas normalmente eu troquei sempre

SPEAKER 2: :  em casa de câmbio. E não havia problema de ter divisão diferente do

SPEAKER 0: : Havia, sim principalmente na na Líbia, e já não falando dessa viagem, mas o que todo mundo sabe, na Inglaterra () Mas fora isso... Ãh... Você não sentiu dificuldade? Não, não não ()

SPEAKER 2: : Depois, você viajando, sim, você fez comparação, né? Lógico, né? Entre um lugar e entre outro lugar. Então, dizendo respeito à alimentação, o que que você

SPEAKER 0: : A alimentação, eh eu realmente não fui lá para prestar atenção nesses detalhes, né? Mas eu me lembro, por exemplo, que tinha um foi a primeira vez que eu vi sanduíche com tomate e batata frita. (riso) Sanduíche de tomate e batata frita. Foi lá na no Oriente e não fica mal, não. Não? Nã

SPEAKER 2: : mida típica que você não teve?

SPEAKER 0: : Típica? Tem um prato ãh na Grécia que é muito bom. Ãh deixa eu ver se eu me lembro o nome. É feito a base de berinjela com queijo derretido eh (). Nossa Meu para o meu paladar é muito bom. Chama se...

SPEAKER 2: : Moussaka. Moussaka. É. Como é que ele era feito?

SPEAKER 0: : Moussaka? Vem uma espécie de cumbuquinha, que é () para conservar o calor, né? Deixar o que queijo derretido. E você fa Eu estou falando nesse prato, hoje ainda não jantei. (riso) E realmente dá vontade de voltar para Grécia só para experimentar isso.

SPEAKER 2: : (riso) E onde é que você comeu esse esse

SPEAKER 0: : prato? Eles têm os restaurantes, assim, que ficam ao ar livre e alguns deles à beira da estrada. Naturalmente tem os restaurantes internacionais, mas como eles não apresentavam nenhuma curiosidade, eu não não tive nenhuma curiosidade em entrar nesses restaurantes internacionais. Porque desses restaurantes eu poderia encontrar aqui. Mas à beira da estrada eles costumam assar cabrito. () e carneiro também. Esse essa carne assada no meio da estrada, acerca próxima à estrada, dá uma ambientação assim muito primitiva que aproxima o homem da natureza e o fato de se alimentar é outro motivo para a gente se aproximar da natureza. De maneira que

SPEAKER 1: :  é muito agradável. E essa carne que você comeu, era carne pura, assim? Não tinha mais nada, nenhum acompanhamento, nada?

SPEAKER 0: : Não, não tinha não. Nada? Não. Carne de carneiro ### ### () assim, bem estilo bárbaro. Só ### ### e de preferência comendo com a mão, compreende, não tinha tempero especial, é com a simplicidade com que os nossos gaúchos fazem o churrasco deles né, mas o churrasco do gaúcho é só água e sal, não põe mais nada. Também, lá, eles preparam a carne assim com bastante simplicidade,  mas a ambientação é que abre a No caso, eu vou fic ar falando de co

SPEAKER 2: : mida, não. (riso) Você pode falar do que você bem entender. Sendo (). Pode falar do que

SPEAKER 3: : Somente no Oriente. No Oriente?

SPEAKER 0: : Ãh, justamente, ah inclusive a mulher oriental, ela esconde a boca numa demonstração de pu pudor ãh e. E tatua a pele também, que é uma maneira de se tornar mais bela. Mas isso tudo é feito somente para agradar o homem dela e. Enquanto que a mulher ocidental, eu acredito que se embeleze mais para ser vista para por suas amigas ou então para se sentir bem. E em terceiro lugar, talvez, para agradar o () (riso) ()

SPEAKER 2: : () (riso) () Eu tenho roupa de (). Ah, a tece

SPEAKER 0: : lagem deles é é fabulosa, quer dizer, há uma tradição não é de trabalhar no tecido. Então, como isso vem já de muitos anos, eles ãh purificaram as formas. Não é que eles conseguem sutilezas não é no desenho, que desenho nesse mesmo desenho em tecido feito na máquina é difícil de conseguir. Porque há um degradê na nas cores, E que só eu acho que com, assim, mai s milhares

SPEAKER 1: :  de anos é que se consegue. Isso eu tenho a impressão. Você sabe mais ou menos que material ()? Seda

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 2: : fazer que eu digo para fazer o tipo de ferramenta, você sabe... () Essa tecelagem simples, é manual.

SPEAKER 0: : Lembra esse material que é usado no Norte do Brasil. É o entrelaçado de de fios, feito manualmente com o auxílio de algum instrumento () () Não sei o nome do instrumento, não é, mas uma coisa bem simples. ganchos e tal, que ajudam a puxar o fio, que vai se entrelaçando entre outros os outros. E os desenhos são 

SPEAKER 2: : Também ()?

SPEAKER 0: : () Diversos desenhos, mas quase todos de inspiração assim em animais ou flores né. É o que se vê também no tapete persa, embora eu não tenha estado na Pérsia, Foi possível ver, assim, no tapete, o desenho é sempre de inspiraç ão, assim, na natureza.

SPEAKER 2: : E você falou em natureza. Como é que a natureza é () como é que é?

SPEAKER 0: : O deserto não tem muita (riso). (riso) muita areia. Mas, justamente, O fato de de ser, assim, uma um horizonte monótono faz com que isso influencie no sentimento das pessoas. E esse sentimento é traduzido através da música. Então, a música árabe, ãh do ponto ponto de vista de um ocidental, ela é monótona. Mas isso se deve, eu acredito, que ao clima e à paisagem. Porque eh a gente encontra também no nor no norte do do do Brasil assim algum algumas cantigas entoadas, uma espécie de baião, maxixe, que também é monótono. Porque a paisagem do nordestino também é monótona e o. E o calor, o clima leva. a uma inação né, que depois é traduzida, através da música, quando quando o homem quer botar para fora o que tem. Então, sai essa música típica de países quentes e de paisagens monótonas.

SPEAKER 2: : Você () música na popular, por exemplo, que só seria monótono ()? É mo

SPEAKER 0: : nótono, mas bastante ritmado. com instrumentos de percussão e... de so

SPEAKER 2: : pro. E música assim popular, () música ()? Assim mais tradicional que como como?

SPEAKER 0: : Tanto a música folclórica deles quanto a música popular, e obedecem sempre esse padrão.

SPEAKER 2: : E as duas são

SPEAKER 0: : São conhecidas lá, inclusive eles cantam na rua, assim.

SPEAKER 2: : Assim como, por exemplo, a música folclórica daqui? Por exemplo

SPEAKER 0: : Eu conheço... Eles cantam as músicas populares como a gente aqui é capaz de assobiar uma musiquinha do Chico. Ah

SPEAKER 2: : E a folclórica? Ah

SPEAKER 0: : A folclórica é já mais para demonstração, para turista, essa coisa toda. E E nesse ambiente eu não eu não eu não não estava muito interessado em coisas eh típicas no no sentido, assim, de... para demonstração. E sim as coisas que estavam acontecendo no momento em que elas estavam acontecendo. Minha curiosidade estava muito mais voltada para a realidade de um povo do que para o passado de um povo. Em todos os países em que eu andei. E mesmo aqui, Não, eu eu fiz o giro Medi Mediterrâneo. Então eu saí de Paris, fui para a Espanha. Na Espanha, atravessei o Gibraltar, fui para Ceuta. Dali, então, Marrocos. Marrocos para... a Tunísia, da Tunísia para Líbia, da Líbia... Então eu passei para o Egito, entrando pela Alexandria, fui ao Cairo, depois então procurei um porto eh mais próximo do Cairo, E lá fui para Beirute né. Uma vez no Líbano fui para a Síria. Da Síria para a Jordânia. Da Jordânia até Israel, onde permaneci mais tempo do que nos outros países. Fiquei três meses em Israel. Depois, então, eu fui para para a Grécia e depois já estava, então, dentro da Eu

SPEAKER 1: : ropa. ()

SPEAKER 0: : ### Nós ()

SPEAKER 2: : E uh e e o clima, assim, que que sentiu diferente, deve ter viajado horrores, né?

SPEAKER 0: : (riso) Ah, bom, depois que está da do do Oriente, uh quando eu passei para a Grécia. Na Grécia eu resolvi dar umas voltinhas, assim, para não fazer muito simples não, se complicar um pouco. Então, eu fui a Istambul, e de Istambul eu subi, então, aí para o (). Onde eu peguei, então, climas, assim, doze graus abaixo de zero. depois de (), que é para quem está saindo do deserto, então muito frio.

SPEAKER 2: : (riso) E como é que você fazia assim doze graus?  (riso) Eu tomava vodka, como e

SPEAKER 0: : les fazem, exatamente como eles fazem. (riso) Vodka, chocolate né e os agasalhos, mas só agasalho não resolve. casaco com capuz, né, com pele de carneiro, revestido de pele de carneiro.

SPEAKER 2: : Mas o forte mesmo é a vodka. É.

SPEAKER 0: : Vodka é para esquentar por dentro

SPEAKER 3: : Né? É, ()

SPEAKER 0: : Também, agasalhados, tem as botas também revestidas com pele de carneiro. É, e é bem protegido. Não, mas no no deserto eu andava sempre coberto também, porque se eu cometesse a insensatez de tirar a camisa, que é o que dá vontade de fazer, então eu correria risco de queimar a pele ah até um certo grau assim, que poderia machucar. De maneira que permanecia sempre coberta. E você não Principalmente o pescoço, porque é uma parte que que o sol castiga né. E as vestimentas nossas não protegem o pesco ço. Então eu tinha que adotar, eh debaixo do chapéu, um um lenço que me caía sobre os ombros para não queimar o pescoço. porque eu não estava vestido como um árabe. Mas eu tinha que adotar certas proteções, porque a roupa que eu estava usando  não não era adequada para aquele tipo de clima. Não é a que eu uso hoje, mas a calça que naquele tempo se chamava blue jean, hoje a gente chama Lee ãh e. É, porque no meu tempo, inclusive, o jovem rebelde se chamava (), hoje se chama hippie. Mas hoje hoje tem ### Já está ultrapassado o hippie, né? Então, como é que é? Eu estou por  fora. (riso) Como é que é,  Não é mais hippie? (Riso) Como é que é o nome? Não, não é. 

SPEAKER 2: : Acho que é hippie mesmo. É que hippie é o padrão, né? (riso) Mas não é mais o () que eu tenho () (riso). Então, é uma calça desse

SPEAKER 0: : Tipo Lee, né? Bota. ### e esse boné com com um lenço caindo no pescoço. Eu me vestia assim, mas é inadequado, porque é evidente que aquelas roupas esvoaçantes que eles usam são muito mais de verdade e com os movimentos a gente se refresca. Enquanto que a nossa calça justa uh não tem ãh nenhuma possibilidade de ventilação, durante uma caminhada longa. Como é que era a roupa? Se a gente passar quinze dias andando sobre o sol, é preciso que tenha todas essas essas as facilidades. Será ()

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 0: : Caminhada é sempre para frente.

SPEAKER 3: : (riso) Quinze dias sempre para frente. ()

SPEAKER 0: : É camelo. Sobre o camelo. Ou a pé? () Sozinho. Ah Agora, às vezes de um oásis para o outro, a gente encontrava um guia. E, embora a gente não pudesse dialogar, esse agente que eu estou falando, se você está fazendo pesquisa linguística, deve ser influência do () francês. Mas, em todo caso, eh é bom ter uma companhia. Ainda que não houvesse diálogo, só a presença de um outro ser humano eh ajudava muito a passar o tempo, independente de de di álogo. Não havia necessidade de conversar, mas só participar das dificuldades de uma caminhada com uma outra pessoa né, partilhar, já tornava a tarefa bastante, bem mais amena.

SPEAKER 2: : É, esses oásis, e um oásis para outro né, é muito longe, por exemplo? É, tem alguns que são bem

SPEAKER 0: : Longes. É? () é outros são mais pertinho. E vo

SPEAKER 2: : cê andava assim mais no sol mesmo? É, não tinha outro

SPEAKER 0: :  jeito. Não te m sombra. Não Você não encontra sombra.

SPEAKER 2: : E durante o dia mesmo? Durante o di

SPEAKER 0: : a. () Caminhar durante a noite é muito perigoso. Eu poderia perder a rota. E durante o dia a gente pode perceber de que lado está o mar. O sol tem dife rença. O lado o lado do mar, a gente acaba reconhecendo. Então se você sabe que o mar está sempre à sua esquerda, você sabe que você está andando sempre para a frente. Que se de repente O mar está à sua direita e você está voltando para trás. Quer dizer, tem umas coisinhas assim, para para a

SPEAKER 2: : gente se orientar. E como é que é o ãh o ar de lá, como é que é, tem?

SPEAKER 0: : Tem coqueiros, ãh água, pedra, e gente, em geral tem gente. E que Que servem, quando a gente chega, chá quente. Porque o sujeito estiver no deserto e resolver tomar uma Coca Cola gelada, vamos supor que aparecesse uma Coca Cola gelada, ele poderi pode, corre o risco de se desidratar. Porque ele vai transpirar muito mais do que o líquido que ele tomou. Então ele desencadeia a transpiração. Enquanto que a gente chegando com o corpo quente, hum naturalmente com sede, tomando chá quente, então não há choque com a temperatura do corpo, você consegue satisfazer a sede, nutrir o corpo com líquido e e não desencadear a transpiração. Por isso toma chá quente.

SPEAKER 2: : Uhum. Como é que você ia preparado para esse () de caminhada? Ah, eu levava minhas bagagens

SPEAKER 0: : Minhas, né? Né? Bo m, não não é o mais correto, mas era o que eu fiz. Eu levei mui ta lata. É, alimen tação de lata. Por que que não é o mais Acho que não é a alimentação mais apropriada. No deserto. O certo seria a gente se alimentar como se alimentam ãh os beduínos. Né? Então, à base de peixe seco, frutas não é, tâmaras. É, acho que essa alimentação é mais correta. Mas eu fui com todos os vícios de um bom oc ocidental, né? E levei minhas latinhas, né? Que saíram em seguida (). Bagagem tinha ãh... Esse saco de... Como é que chama? Mochila. Mochila, uma maleta, saco de viagem. e levava um saco de dormir também comigo. E, em geral, como corria a gente corria o risco de ter uma tempestade de areia, então, já deitava o camelo e me deitava atrás do camelo, que é para então ele formar uma proteção. no caso de de ter um uma tempestade de areia né, uma ventania muito forte, então eu estaria protegido pelo camelo. E a qualquer movimento dele, então eu eu estaria prevenido, porque ele sempre perceberia antes o perigo do que eu. O homem demora muito para perceber o perigo, e animal percebe antes não sei razões da sua natureza, sei  lá o que. Você teve oportunidade de ver uma tempestade de areia? É, eu eu estive dentro  de uma e fiquei deitado jun juntamente com o camelo. No início eu tentei andar, mas eu vi que então eu ia me afundar na areia cada vez mais, né? E à medida em que eu fazia movimentos, então, para o ah buracos dentro da areia, mas eu ia me me encaixando. Como o camelo deitou, eu falei, ele deve estar certo. Então eu deitei também. E ele, então, fazia pequenos movimentos que, então, me permitiam ficar à tona da areia. Conforme vinha a areia vinha se acumulando, trazida pelo vento, ele fazia pequenos movimentos somente para se manter à tona. Se ficasse parado, a areia cobria né. Então, esses pequenos movimentos a terra, então, A a ventania passar, a tempestade de areia passar. E E isso aí me valeu, assim, uns três meses, com os olhos super inchados, porque tem minúsculos grãos de areia que entram dentro dos olhos e não saem, não saem mais. Não (). De tirar Não tem jeito não, só o tempo. É, fica tudo vermelho, de fora Minúsculos grãos, de areia que entram dentro dos olhos e não saem, não saem mais. Não () De tirar não tem jeito não, só o tempo. Que nossa, deve ser irritante! É. Fica tudo vermelho, estoura aí os pequenos, as veias Mas faz parte da viagem, né? Quando a gente sai disposto a fazer isso, parecia, às vezes, é... Tem que saber que vai encontrar isso tudo, quando não encontra coisa pior, né? Serpente, escorpião... Você pode estar dormindo e acordar com escorpião em cima do peito,  Né? Tem essas Coisas mesmo. Mas A gente já vai preparado para isso. Não, tem uns que são divertidos, né? Avestruz, camelo, () muito simpático, não é? E tem esses outros que são perigosos, né? Escorpião e serpente. () Ele é inofensivo. Ele só brinca, não faz nada Faz nada (riso). E o camelo é útil. Avestruz é divertido, camelo é útil. E os outros são perigosos. Tem também um tipo de raposo, mas eu não vi. Ah, o ave struz tem um ãh bota um ovo. Enorme, assim, dá para fazer jantar. (riso) () É um ovo bastante grande, do tamanho de um coco. ### É a mesma coisa. É igualzinho o ovo. Só que é bem maior. E o gosto? Ah a A gema dele é assim, do tamanho de um um abacate. Nossa! E o gosto é de gema. Então você come toda aquela gema, né? E a clara Muita clara, né? ### () (riso) Você viu Como a sorveteria

SPEAKER 2: : () E e como é que faz por exemplo, () dá para fazer ãh ãh comida por uma semana, né? Como é que

SPEAKER 0: : Não, eu exagerei dizendo uma semana. Você enche uma frigideira só com a gema. Ãh. E o resto joga fora? (riso) É, vai fazer o que com a clara? Muita Se tivesse, assim, () condições de poder co cozinhar, né então daria para fazer coisas, aproveitar essa clara, tudo. Mas a minha cozinha era muito precária. Eu levava um bujãozinho de gá s e uma fri

SPEAKER 2: : gideira. E ia fazendo? Ãh? Ia fazendo.

SPEAKER 0: : Ia fazendo.

SPEAKER 2: : E na França? Deve ter () bastante, né? Bom aí

SPEAKER 0: : O tipo de vida é completamente diferente, né? Na França eu levava a vida de universitário Quando eu não estava no nos estudos, eu estava fazendo visitas a museus, galerias de arte. E os famosos ãh bistrôs, né? Bater um papinho com os amigos, tomar um chopp. () É, e dess a troca de ideias, assim, um vai aguçando a curiosidade do outro, com uma série de coisas

SPEAKER 2: : interessantes. O que que você fez no mus eu lá? Você falou museu, gale

SPEAKER 0: : Só no Louvre eu passei quarenta dias, eu não vi tudo. Eu fiquei quarenta dias visitando o Louvre e não deu para ver praticamente nada. Como eu gostaria de ter visto eh quadro por quadro, pensando e pintor por pintor, ãh obedecendo mais ou menos uma evolução ãh dentro do tem Das diversas formas em que a pintora foi passando, nas escolas que se substituíam. Mas é que não não deu... () E como é que era a organização ()? É muito bem organizada, inclusive eles têm, para quem quiser usar, monitores. Mas sempre, como sempre arredio essas coisas padronizadas, eu mesmo me organizava.

SPEAKER 1: : E você não teve problemas assim com a língua, por exemplo?

SPEAKER 0: : Não, na França, eu não tinha problema nenhum com a língua. Inclusive, eu estava esquecendo um pouco o português, pensando em em francês. É interessante, inclusive, a gente passa a sonhar na outra língua. Surpreendente. Quando eu voltei para o Brasil, então eu me surpreendi, não é? Acordando. Eu sur me surpreendi sonhando em em francês. Isso é bom, porque é sinal que a gente já está quase falando direitinho a língua, porque pensa nela, sente nela. Se queimar a mão, grita nela. (riso) Esse palavrão, né?

SPEAKER 2: : (riso) Ai ai... Nem no início você sentiu que você pudesse, por exemplo? Ãh no início é houve houve um peque

SPEAKER 0: : no esforço, mas eu já saí do Brasil sabendo falar. Agora, ainda pensava em português, mas depois des lanchou. Salve,  irmão. ()  Tudo bem? () Pode falar.

SPEAKER 3: :  Estão gravando? Esta mos. () (riso)

SPEAKER 0: : É um prazer, a senhorita vai bem? (riso)

SPEAKER 3: : Já conhecia o nosso ()? () E o que que está achando. () (riso)

SPEAKER 0: : Perfeitamente. Estão dormindo, vamos acordar