SPEAKER 3: Nair, como é que você faz seus pagamentos? Através de cheques? É, bom, nem sempre. (riso) Eh Mas eu eu acho que a forma mais fácil hoje em dia de se fazer pagamento é através de cheques, porque com o preço que as coisas estão, não se pode carregar muito dinheiro. Dinheiro assim, na proporção exata. Aham. SPEAKER 1: () também. SPEAKER 2: A gente, na qualidade de funcionário público, você sabe que as disponibilidades já são bem resumidas. Aham. Mas eu também faço os meus pagamentos através de cheques. E você, Maria? SPEAKER 0: Também, da mesma forma, faço os pagamentos através de cheques. () SPEAKER 1: E cartão? () cartão de crédito? Olha, assim, eu tenho SPEAKER 3: Tenho uns três cartões, mas não uso nenhum porque eu esqueço sempre (riso). Eu esqueço sem deixo sempre em casa os cartõ> A forma mesmo é é cheque mesmo, a forma principal. SPEAKER 2: O cartão de crédito é realmente uma forma bem facilitada, mas ainda dentro daquela tese que também é resumida a diversas pessoas, né a diferentes pessoas, eu também disponho de cartão de crédito, mas com uma cota também bem limitada. SPEAKER 0: Eu uso muito o cartão de crédito da Cias, porque é fácil, eu chego lá, mando colocar na conta e depois vou ver como é que vem a fatura. Mas facilita numa compra assim de imprevisto, De uma hora eu vou a Sias rapidamente, com o cartão de crédito que eu tenho, ãh faço qualquer compra na Sias. SPEAKER 1: Vocês acham o funcionamento desse cartão é semelhante a um qualquer desse qualquer do outro tipo de cartão, por exemplo? Não, porque SPEAKER 0: Não, é bem mais popular. Não, porque o cartão de crédito da Sias eu só posso usar na Sias. O outro cartão ELO, qualquer outro tipo de cartão, eu posso fazer compra em qualquer loja comercial. E ãh Na Sias eu tenho um teto, para fazer a compra. Não sei como é que funcionam os outros cartões, eu não sei como funcionam. SPEAKER 3: Mas na Sias... Realmente realmente eu não gosto, realmente, realmente eu não gosto do do tipo de... desse tipo de uso do cartão de crédito, não gosto. SPEAKER 2: Há um limite, Nair, você que pode informar melhor. SPEAKER 3: Ah, sim, há um limite. Há um limite, sempre e. E isso é dado quando vo quando a pessoa faz o cartão. Certo. E é fundamentado em que esse limite? Ah eh É cadastro, né? E isso () Isso, como nunca foi feito por mim, sempre foi feito pelo Joanin, (riso) que ele disse, eu não sei muito bem como é que funciona. SPEAKER 2: Dá a você um limite, não? SPEAKER 3: Não, ele não dá o limite, porque ele sabe que eu não uso. (riso) Ultrapassa sempre, né? Ah deve Deveria ultrapassar se eu usasse o cartão de crédito, (riso) deveria ultrapassar sempre. Eu não tenho muito limite, não tenho muita consciência, não é que eu não tenho consciência, eu tenho bastante consciência do valor do dinheiro, mas acontece que eu não Eu não sei, eu não me atenho muito a vou gastar tanto ou vou gastar tanto, sabe? Para mim, eu posso gastar tanto um cruzeiro como cem cruzeiros. Eu acho que se a coisa vale a pena, para mim, é suficiente, entende? (riso) Quer dizer, eu sei que isso, eh eu estou dizendo, mas há pessoas que não podem usar do mesmo critério. Mas, ãh não sei, eu não não não dou muito valor ao dinheiro. Esse essa é, de SPEAKER 0: fato, a questão. Você se inclui, então, na sociedade de consumo? SPEAKER 1: Lógico, eu (riso) Regina, como é feito aqui o pagamento dos funcionários? É SPEAKER 2: É por folha, é a Prefeitura mesmo quem paga. Nós temos uma folha de pagamento, somos obrigados a registrar todos os funcionários que trabalham aqui. Não podemos fazer assim nenhuma contratação por conta própria e segue toda uma norma do funcionalismo. Eles são pagos através de folha da da do Departamento Municipal de Ensino. O dinheiro vem para cá? Não. Através de banco? Apenas os olerites, apenas os cheques, só os cheques. Me conta o que é holerite, eu sempre () tenho vontade de saber. Hole> e já está cadastrado no banco, ele só apresenta sua identificação. Então, mesmo que esse cheque seja ãh extraviado, roubado, ou desapareceu, ou qualquer coisa nesse sentido, não há condição de um terceiro receber. Eh eh eh eh SPEAKER 0: Nessa nessa nessa parte nós estamos... Mas mesmo assim tem ocorrido casos de pessoas que ao rece retirarem o pagamento no banco, ãh são assaltadas na calçada, Frente do banco. Bom, depois de ter recebido. Né? Pessoas desavisadas. SPEAKER 2: É, porque eles já sabem mais ou menos as datas em que o funcionário recebe, então este risco corre. Mas normalmente a gente já deposita em conta no próprio banco, nem manuseia dinheiro não. Vocês já, algum de vocês já sofreu assalto? SPEAKER 3: Eu não. (riso) Eu SPEAKER 2: Eu também, graças a Deus não, porque eu tenho a impressão que se sofrer vai ser o primeiro e o último, de susto. SPEAKER 0: Morro de susto. SPEAKER 3: (riso) Quem sofreu o assalto foi o meu motorista. Mas eu não eu não estava no carro, não. Ele estava próximo ao colégio, onde ele ia buscar a Janice, minha filha menor né, e ele estava fora do carro. Quando Aliás, não foi assalto assim de dinheiro, mas foi roubo de carro né. E quando ele foi entrar no carro, ele pôs a chave no contato, uma pessoa apareceu ao lado dele, pôs o revólver na cabeça e disse, isso é um assalto, você saia do carro. Mas ele loucamente né, porque ele é meio (riso) lo> Quando ele foi abrir a porta, ele abriu com toda a violência e derrubou a pessoa no chão. Ele não percebeu que do outro lado vinha vindo um outro. Quer dizer, ele correu um perigo muito grande né. Mas nesse rolo, nessa briga, ele conseguiu desarmar uh uh aquele que o tinha que tinha apontado o revólver né eh e e. E o outro fugiu. fugiu, mas fugiu, ãh aliás, não fugiu, ele deu a volta e entrou no carro e levou o carro, e depois deu umas voltas, bom, isso deu um caso tremendo, saiu no jornal, porque depois nós chamamos a Rupa, naquele tempo era Rupa, né? E a Rupa perseguiu o carro, conseguiu encontrar lá na Avenida Marina, Mari> SPEAKER 0: Quer dizer, nós, com as nossas limitações de funcionário, né de classe de nível médio e tal, não podemos, assim, pensar em grandes empréstimos bancários. Mas nos socorremos daquilo que nós podemos né porque é um. (riso) SPEAKER 3: Eu me lembrei agora de uma coisa muito engraçada. Quando eu fui fazer a pós-graduação, a professora, a entrevistadora, (riso) perguntou ãh se eu dispunha de tempo integral para fazer pós-graduação. Eu disse que sim, que eu dispunha de tempo integral. Ela, então, perguntou, Então, qual a sua fonte de subsistência? Eu, muito simplesmente, disse ela, meu marido. (riso) (riso) No fim, acabamos rindo, mas era verdade. (riso) É um emprego vitalício, né. SPEAKER 1: Pois é, e é bem conveniente, né? (riso) () É, mesmo. SPEAKER 3: Não, mas eu fiquei preocupada depois que eu dei essa resposta, porque eu não sei se eles preferem uma pessoa que possa, suponhamos, acompanhar o ritmo, e ou se preferem uma pessoa que que esteja mais necessitada de fazer essa pós-graduação. Pelo que eu ouvi falar, eu estou em dúvida agora. SPEAKER 2: Uma coisa não tem a ver nada com a outra. Não é porque se você tem vontade, quer se dedicar a isso, pelo simples fato de você ter um emprego vitalício, não tem nada a ver uma coisa com outra. É a minha opinião. Não, olha, Regina, eu eu acho... Também com esses argumentos que você está dando, se não sei se eles preferem alguém que tenha maior vivência, ou maior experiência de vida, ou que trabalhe, ou isso, aquilo. Não, eu acho que os interesses são são os SPEAKER 3:  mesmos. Não, Regina, eu acho o seguinte, suponhamos, eu não visando nada monetariamente, eu acho que então eles podem perceber que eu estou fazendo isso por um idealismo. E talvez eu faça com muito mais, ãh com muito mais com muito mais vontade, com porque é por desejo, por vontade, e não por uma coisa que eu sou empurrada. Às vezes, muitas pessoas fazem porque são empurradas e precisam de um posto maior para ganhar mais e tudo isso. Quer dizer, eu não. Está espontaneamente. Eu estou espontaneamente, eu não estou visando, eu não estou visando, eu não estou visando, assim, re remuneração nenhuma. É. Eu estou visando apenas ãh aprender e entregar, se puder, é aquilo que eu aprendi. Quer dizer, então, eu não sei qual é o pensamento deles, Não sei até que ponto eles consideram isto, né. É, mesmo SPEAKER 2: Mesmo em termos de reciclagem de cultura de um maior nível ainda você encontra muita gente indefinida você encontra muita gente que não sabe ainda dizer o porquê da coisa. Está lá porque aconteceu que teve uma oportunidade porque ouviu falar em cursos de reciclagem ou porque pensa em fazer um aperfeiçoamento em melhorar a sua condição de vida quer dizer. Provavelmente existem. Existem pessoas que fazem porque sentem naquilo um um mérito próprio. Existem pessoas que fazem por necessidade. Exi> Mas justamente, quem trabalha quem trabalha não pode ter tempo integral para se dedicar ao estudo. Então, eu chego à conclusão de que se essa pergunta é uma pergunta muito importante na pós na na entrevista de pós-graduação, talvez pese muito você ter tempo integral para fa> SPEAKER 2: ### SPEAKER 3: A falta de consciência, eu acho, por parte dos professores, que eu acho que deveria haver muito. Não só a parte dos professores, como diretores, todo mundo. Eu acho que há uma falta de consciência no ensino que vem prejudicando a educação. Não se pode culpar só o governo. () Não se pode culpar só o governo. Porque, suponhamos, eu já fui eu já fui convidada várias vezes para ser professora, eu nunca quis ser professora. Eu digo, não, eu quero adquirir um conhecimento maior, porque na hora que eu for transmitir, eu vou transmitir com absoluta segurança aquilo que eu sei ou aquilo que eu aprendi. Agora não. Você vê pessoas que não têm a mínima condição de dar aula e se se arvoram em professores e em diretores, e abrem escolas, então nós temos um baixo nível. Agora, talvez a gente possa culpar, o talvez, o governo por por uma falta de fiscalização, apenas. Ele deveria fiscalizar melhor. Mas eu acho que a falta de consciência das pessoas, das próprias pessoas, está prejudicando o estudante desde nível primário até a faculdade, eu acho. SPEAKER 0: Mas desde que há essa competição de mercado de trabalho como existe, o governo tem que estar atento para isso. Quer dizer, o medíocre, o incapaz, o incompetente, ele vai ser. apresentar para dar aulas. Ele quer é ganhar o dinheiro dele no fim do mês. Ele não está aí, a essa altura, eh fazendo, estabelecendo parâmetros de como está a cultura dele, como está a capacidade de desenvolver o processo ensino-aprendizagem. Ele quer ter um meio de de de subsistência própria. Então, o governo é que tem que estar atento a isso, porque ele é que autoriza o funcionamento da faculdade. Se, em última análise, essa responsabilidade vai caber a ele, que ele seja, por primeiro, o responsável. Não permita o funcionamento dessa forma. Porque o grande prejudicado é o estudante. A faculdade arrecadou, o professor recebeu, e o estudante pagou e não recebe o seu diploma. Isso traz um desencanto. Cria-se assim uma onda de desestímulo ao à cultura, ao estudo. Se bem SPEAKER 3: Se bem, Mário, que ãh há agora muito mais eh, uma proporção muito maior de exigências ãh por parte de formação de professores. A Elza sabe disso, que nós estamos fazendo o curso (riso) lá na educação. E há uma uma exigência muito grande para a formação de professores. É, quer dizer, não não não é Ah eles não não não aceitam assim o professor de qualquer qualquer maneira, principalmente nessa parte professor do estado né. Agora, professor particular, eu não sei como é que andam os colégios particulares, pode ser que haja muita coisa por aí que a gente não conheça, né, Regina? SPEAKER 0: Oh se existe. E daí daí eh há um ditado muito antigo que diz que de médico e louco todos nós temos um pouco. Mas ah ah o ditado tem que se modi modificar um pouquinho. É de professor e louco todos nós temos um pouco. Não, todo mun> Porque nenhum professor se apresenta numa faculdade de medicina, por exemplo, para dar aula para médicos, a menos que ele seja um especialista naquela matéria. Mas se nós encontrarmos um engenheiro, um advogado, um médico, que entenda de alguma coisa dentro da área de educação, ele vai lá fazer a palestra, vai dar aulas, e, no entanto, ele não tem didática, que é um dos elementos mais sérios no currículo, é a didática do professor. E isso não é levado em consideração, apenas a experiência que o indivíduo tenha numa atividade profissional. Esse é outro também, para mim, um dos grandes fatores de de des desacerto no currículo de uma faculdade. SPEAKER 3: Olha, eu acho que todo mundo devia ler esse livro. Professores para quê? De Georges Gus Gusdorf. Eu estou sem óculos, não consigo ler a. É Martins? É Martins É da editora Martins Fontes. Esse livro é maravilhoso. Diz tudo o que um mestre deveria ser. Esse livro me emocionou do começo ao fim. Diz tudo o que um mestre deveria ser. Tudo o que ele deveria fazer. Tudo o que tudo o que beneficiaria o aluno. Porque o ensino não é realmente só transmitir transmitir conhecimentos. O ensino é formar pessoas. Então, esse livro, olha, todo professor, e mesmo quem não é professor, deveria ler esse livro. Eu faço propaganda dele porque ele me emocionou deveras. (riso) Eu acho que resolveria, não sei se se tal lendo com consciência, assim com com bastante atençã> Eu acho que muita gente desistiria de ser professor, viu? SPEAKER 0: Se não conscientizar o professores para quê? Daqui a pouco vamos fazer outra pergunta. Escolas para quê? SPEAKER 3: É, e vamos seguir nisso. SPEAKER 0: É. Porque ah o âmago da da educação está na mão do professor. SPEAKER 3: É, porque não adianta você ter, suponhamos ãh... Você não pode prescindir do professor. Nunca. Nem que apareçam as máquinas de ensinar, você não vai possi poder prescindir do professor. Porque o professor é o guia. É o guia que vai te abrir caminhos. Vai te abrir horizontes. Quer dizer, então ele te mostra os caminhos e e você nunca vai vai poder prescindir dele. Mas SPEAKER 2: Você reparou... Como pessoa, Como humano. Você reparou uma coisa, Nair? Quando se fala em educação, e nós agora estávamos conversando a respeito desse projeto de estruturação aqui do Instituto Surdos, e projeto esse que nós vimos trabalhando há alguns anos e você sabe disso, mas toda vez que a gente pensa em montar alguma coisa em termos de educação, as últimas pessoas a serem ouvidas são aquelas que trabalham diretamente com a causa. Isso está acontecendo conosco. Então agora... Só os teóricos,  né? É. É. Então agora o que acontece? () Nós estamos, nós estamos com esse projeto na Câmara para ser aprovado, eivado de erros porque a forma de provimento, os cargos criados não não atendem as nossas necessidades. E> SPEAKER 2: <é? É, é exatamente isso. Por isso que esse livro aqui, qualquer coisa me arrepia viu. SPEAKER 1: ### Nair, você que estava fazendo falando de obras literárias, você se lembra de alguma obra assim que trate desse problema, por exemplo, do ãh da mudança de comportamento do indivíduo por causa do dinheiro? Ah SPEAKER 3: Perfeitamente, Senhora, de José de Alencar. (riso) Ela compra um marido. (riso) Ora, aí está aí está ah ah uh uh maior prova do valor do dinheiro naquele momento da sociedade, e depois foi aumentando, né Mas ah a senhora de José de Alencar ãh trata exatamente disso né, o poder do dinheiro. Porque ela você sabe o poder era tanto que ela comprou o marido né, era um objeto. Quer dizer, tudo mais se tornava um objeto diante do dinheiro né. E nós estamos caminhando cada vez mais para isso, e desde aquela época caminhamos sempre, progressivamente, para para nos tornarmos, nós todos, objetos, mercadoria né. Eu penso assim, pelo menos, não sei. A gente deseja fugir, às vezes, do esquema, mas a gente vive dentro do esquema e acaba se tornando ãh uma parte do esquema. Né? Você não pode fugir totalmente. A gente pode fugir, suponhamos, como pessoas que têm ideais, que se colocam acima um pouco, através dos seus ideais, através das coisas às quais eles se dedicam. Mas você está vive dentro dessa sociedade assim formada e você não pode fugir totalmente ao esquema. Mas, senhora, eu acho que é um exemplo bastante elucidativo. SPEAKER 0: Assim, de pronto, de impro> ### Mas é preciso que cada um, na sua parte, contribua para que isso aconteça. Para que o mundo seja menos dividido pelo dinheiro. Que seja mais unido pelos ideais, pelos ideais humanos, do () uh ideais de amor ao próximo, de compreensão da da razão de ser de cada um na vida. sem se preocupar tanto quanto ele vale em termos de dinheiro, em termos de status. Eu acho que nós todos, cada um, principalmente o professor, tem essa missão de inculcar nos seus alunos uma finalidade muito maior na sua profissão, no exercício profissional, desvinculando ao máximo do dinheiro. Fazendo com que ele procure mais acertar o seu passo na vida, ser gente, através de a da sua capacidade, da sua competência, não aquilatando essa competência em termos de dinheiro. Eu acho que a nós, professores, cabe muito () de doutrinar o aluno no sentido dele não, ao sair da faculdade, já não ficar pensando quanto eu vou ganhar, quanto eu devo me valorizar. SPEAKER 3: Não, a formação do aluno, que eu sempre enfatizo que na educação, não não não uh uh o primordial não é a transmissão de conhecimentos, é a formação da personalidade é que é o importante. Eh eh eh a Aquela parte de humanidade que existe na educação é o mais importante. E é justamente o que sempre me assustou. Porque, suponhamos, você imagina o que é colocar na cabeça de um adolescente ou de uma criança, de uma pessoa que está se formando, ideias erradas e. Ideias que o levarão amanhã. Mesmo inconscientemente, às vezes, você pode fazer isso. Então, para ser professor, você precisa ser muito consciente daquilo que você está dizendo, daquilo que você está ensinando, daquilo que você está está transmitindo. Porque é formação de personalidade. E esse e sempre foi essa parte que me assustou um pouco, de nunca estar totalmente preparada. Apesar da experiência que eu tenho, apesar de ter criado filhos, tudo isso, graças a Deus, bem criados, eu acho, são pessoas excelentes, tudo, mas não mas no campo da educação eu vou lidar com pessoas estranhas a mim, quer dizer, pessoas de quem de quem eu não sei o passado, não sei quais são os hábitos, mas eu acho que o papel mais importante do professor não é o de transmissor de conhecimento, é o de formação de personalidade. Não não há dúvida agora que a gente deve fazer o mundo à parte, a gente deve. Mas eu acho que, mesmo com esse mundo à parte, nó mesmo se cada um conseguir fazer esse mundo à parte, eu acho que nós não vamos conseguir fugir do esquema realmente, não. Não vamos. Eu acho que você... Porque o homem é um ser social. Você não pode se afastar totalmente das outras pessoas. Você não pode conviver só com pessoas idealistas. Você deve conviver com pessoas que não são idealistas. Então, quer dizer, então você não pode se afastar do totalmente. O homem, sendo um ser social, ele tem que conviver com outras pessoas. Você vai ouvir certas coisas que você não gosta, mas você não pode fugir. Você tem que se relacionar, porque não não é só uma palavra que está na moda, mas o principal é a comunicação humana, né? Eu acho que isso é o ponto principal, o ponto o ponto básico. Quer dizer, então nós temos que suportar certas coisas que que são provenientes de uma sociedade em que nós vivemos e procurar melhorar no no no sentido, no máximo no no possível, no máximo que a gente possa fazer. mas não fugir totalmente eu acho difícil. SPEAKER 1: () Qual é o assunto? Ensino (riso) Não eh Formação. SPEAKER 3: O esquema de sociedade em que se vive. Se você pode fugir desse esquema de sociedade. E se se você lembra de alguma obra representativa assim que fale sobre o valor do dinheiro. Que você tenha lido. SPEAKER 1: Pai Goriot. Uhum. SPEAKER 3: Lembra do Pai Goriot? Euge> Então, a nossa preocupação, e isso tem sido a minha preocupação, a razão de ser assim, de todo um trabalho que eu venho desenvolvendo já há quase dez anos, a necessidade de se estruturar a linguagem do deficiente auditivo. Modernamente, chegamos à à formação, então, de dois tipos de técnicos. O professor especializado na educação do deficiente auditivo e a do fonoaudiólogo, que é um técnico que lida com o problema de fono, de fala e de audição. Mas existe um aspecto muito importante que está sendo um pouco descurado, que é o problema didático, pedagógico, metodológico. O fonoaudiólogo não tem a formação pedagógica, o professor especializado tem. Aí Eu convenho, eu ah nós temos de convir que ãh o professor de de es especializado na educação de deficiente auditivo tem um curso realmente fraco, em tendo em vista as exigências que ele vai encontrar na vida prática, no trabalho diário dele. Temos certeza que o curso de fonoaudiologia é um curso bem mais em nível unive universitário, não há dúvida quanto a isso. Mas nós nos pe nós apegamos ao problema, assim, didático, problema de ensino, de reeducação. Então o professor o professor de deficiente auditivo, ele tem que conhecer elementos da linguística e et cetera. O curso dele não traz isso. Na nossa escola, nós podemos dizer que estamos suprindo essas deficiências dos cursos de formação, Porque nós desenvolvemos, através de pesquisas, através de contatos, leituras e et cetera, toda todo um trabalho nesse sentido. Chegando até a ponto de desenvolvermos um método, que nós chamamos aqui de método estrutu de estruturação sistematizada da linguagem. Porque não adianta eu ficar falando com a criança surda uma frase normal e pedir que esse menino decore essa frase. A nossa linguagem social, Ela ela não é fechada, ela é aberta. Nós temos várias formas de dizermos, de nos comunicarmos da dentro da mesma ideia. Então, há necessidade de que esse menino tenha noções de estruturas da linguagem. Por exemplo, o que é um sujeito numa frase, o que é um predicado, o que é um complemento. Então, dentro desse aspecto, nós desenvolvemos a estruturação sistematizada. Onde, através do processo perguntas e respostas, eu vou levando o meu educando a conscientizar o que seja um sujeito de uma oração. Quando eu pergunto para ele, por exemplo, Quem é você? Ele tem que se identificar, ele tem que saber qual é o nome dele. Como Quem sou eu? Quem é seu pai? Quem é sua mãe? O primeiro e elemento, então, que nós damos a ele é o sujeito, é a pessoa que vai praticar qualquer ação. Então ele fica sabendo que eu sou o Paulo, você é Mário, meu pai é João, minha mãe é Maria. E já tem o primeiro elemento da estrutura da linguagem que é o sujeito. Depois nós vamos desenvolver as ações, os verbos. Então ele vai saber que aquele sujeito pratica uma ação. Se ele está ingerindo um líquido, ele está ele dirá, eu tomo água, eu bebo água. Se é no sentido de se alimentar de um alimento sólido, ele vai dizer, eu como, eu comi. Ele comeu com todas as suas flexões. Então daí ele começa a estruturar a sua linguagem. Sempre através de perguntas e respostas. Para que eu faça com o que? A linguagem venha espontaneamente e através desses mecanismos de assimilação que ele como indivíduo inteligente possui. SPEAKER 3: Mas, então, isso não foge muito ao programa de comunicação e expressão de um professor normal? Não. Não foge? () De maneira nenhuma. Pois é, porque é o que nós temos, é o que nós é o que nós estudamos, principalmente no livro do (), Treinamento e Criatividade, ele chega a fazer o aluno compreender toda a estrutura da língua através dos exercícios. Primeiro os exercícios, primeiro conscientizar, para depois dar a sistematização. Quer dizer que não foge muito. Eu acho que, além de todas essas pessoas especializadas que vocês têm no para para esta escola, vocês deveriam ter também professores comuns que ensinassem a a criança a estrutura da língua. Porque depois que ele entende, depois que ele consegue ler o lábio, depois que ele consegue falar, eu acho que ele vai conseguir conscientizar a estrutura da linguagem através de exercícios com professores normais, talvez, até. SPEAKER 1: Eh que ele quer dizer que uh a apreensão da língua vai se dar em forma de estrutura? De estrutura, eh e SPEAKER 0: E É, não é isolado. Agora acontece o seguinte, o professor especializado, ele é um professor comum. () Ãh uh O professor comum aqui viria a fazer o que? O mesmo que um professor especializado faz com essa criança, com a desvantagem de que esse indivíduo deficiente auditivo, ele apresentará ao longo de algum tempo problemática na sua articulação. na sua compreensão de fala, porque ele vai ele entende apenas os movimentos da fala, movimentos onde o o aparelho fonoarticulatório está em exercitação, em em os mecanismos estão deflagrados. Então, se eu falo, por exemplo, para um aluno meu, que está acostumado comigo durante vários dias, vários meses de trabalho, a a entender uma leitura labial mais rápida, porque eu, inclusive, articulo bem as palavras para ele, se ele for fazer essa leitura labial com uma pessoa que não tenha conhecimentos de fonética, de articulação, et cetera, ele vai ter uma dificuldade de leitura de fala in in inarredável. Então ele poderá ter prejuízos na assimilação. em função de articulação do seu interlocutor e não em relação à compreensão daquilo que ele está falando. Entenderam bem? Problema de fala linguagem. Fala-linguagem. Então a nossa preocupação aqui é ele desenvolvendo conceitos para essa criança. Conceito nominal, conceito de ação, conceito de propriedade. Porque se eu pergunto para ele, por exemplo, de quem é o lápis, basta que ele me diga, é meu? É uma palavrinha, mas tem todo con um conteúdo de uma frase, ele estará dizendo, o lápis que você está apontando é meu? O lápis que você está perguntando é m> SPEAKER 1: Não, para leitura labial, é diferente, faça um teste, faça um teste. Olhe para um espelho, sem usar a voz, olhe para um espelho e diga papai ou babai. Ou mande uma pessoa falar para você, que é uma coisa mais fácil. SPEAKER 3: Eu sinto a posição do lábio diferente. Não, você sente SPEAKER 0: ### Não, não não é a explosão. É o mecanismo de emissão de emissão que e pressiona as cordas vocais. Num bê, eu para pronunciar um bê, eu tenho que pressionar minhas cordas vocais. Eu tenho que usar algum som. É mais fácil verificar isso, por exemplo, com um vê, em que eu faço, por exemplo, vá. Com o efe eu não posso fazer isso, eu tenho que dizer fá, ele é explosivo, imediato, entendeu? Então está aí o problema, se eu digo para um aluno faca e vaca, ele não sabe. Então veja, na palavra papai e babai, ele consegue fazer a seleção, porque não existe no nosso vocabulário a palavra babai. Então ele entendeu que eu falei papai imediatamente. SPEAKER 1: Mas... Essa posição não é fácil de pê eh pê e bê SPEAKER 0: Não existe babai. Então por isso que a criança imediatamente ela é capaz de separar. () para ela seria (). É é Então depois nós teríamos, por exemplo, ah ah uma outra colocação. Por exemplo, o banco é grande. Se eu disser o barco é grande, eu estou dizendo uma frase. Como é que esse menino vai entender o que eu estou dizendo? Se é ba o barco é grande ou o banco é grande? pela conversa, pela ideia. Então é a seleção lex ãh i ideológica que eu chamo. Daí, nós chegamos àquilo que você já colocou. É muito mais importante, no nosso treinamento, já conversarmos com a criança surda, já irmos usando pequenas frases, estabelecendo conceitos para ele, para que ele possa manter uma conversação. Ele nunca terá a possibilidade de conversar com uma pessoa fazendo leitura de cada palavra pronunciada. Mesmo porque nós temos palavras em que, principalmente as últimas sílabas, nós engolimos, nós não pronunciamos. Então ele perderia sempre essa última sílaba. Na le seleção lex ãh ideológica, ele é capaz de acompanhar. Porque se eu disser para ele, hoje o dia está bonito, nós vamos passear num barco grande. Ele não vai pensar que eu vou passear num banco grande. Então, imediatamente, ele sintoniza a conversa. SPEAKER 3: Criança, ela disse que é em nível primário. Em termos. Nós fazemos SPEAKER 0: Em termos de escolaridade? É. Depende do potencial do educando. SPEAKER 1: Mas eu não quero dizer () em termos profissionalizantes.  Não, não, isso em termos de cultura mesmo,  SPEAKER 0: De escolaridade. Aonde você consegue? Ãh depende do Uh do potencial do educando, de uma série de outros fatores, como ambiente familiar. Em termos de escolaridade? É SPEAKER 1: Depende do potencial do educando. Mas eu não quero dizer () em termos profissionalizantes. SPEAKER 0: Não, não, isso em termos de cultura mesmo, de escolaridade. Depende do do potencial do educando, de uma série de outros fatores, como o ambiente familiar. () a Regina disse que teve um moço que se formou em advocacia. Nós temos (). Eh SPEAKER 2: En engenheiro agrônomo. Eh () apresentou aquele (). Engenheiro agrônomo. SPEAKER 0: Nós temos uma menina que está fazendo faculdade de medicina no segundo ano, mas verifique uma coisa. Ela tem, por exemplo, uma perda auditiva que ãh que com o uso do da prótese, ela recupera um pouco. Ela recupera, então, um pouco dessa perda, em com quanto essa ãh prótese não lhe dê todo o ganho que ela precisa para manter uma audição normal. Mas é uma moça de uma inteligência muito privilegiada, então ela consegue fazer o seu curso de medicina, que, no entanto, é um curso difícil para outras pessoas bem dotadas física e mentalmente, não é. Porque existem outros fatores, fator de motivação, fator de interesse, aprendizagem, a bagagem que a criança vem desenvolvendo durante o seu trabalho. Então nós temos aqui conscientizados estamos aqui conscientizados bem a respeito disso e. De imediatamente estabelecermos o diagnóstico ãh pedagógico para essa criança, no sentido de podermos estabelecer o o futuro prognóstico. Então de nós entendermos que esse menino que tem um ritmo de aprendizagem muito lento, que é um menino sem muito interesse para a aprendizagem, que é um menino que sofre toda uma problemática existencial dentro da estrutura socioeconômica da família, do grupo em que ele convive social, ele não terá possibilidades, pelo menos imediatas, de desenvolver a sua escolaridade. En>   Quer dizer, mantermos aqui um ginásio especial para crianças sur> Porque eu parto desse princípio. Se ele tem potencial, que vá fazer o ginásio no meio comum. Se ele não tem, não adianta eu dar um um ginásio à moda da casa. Porque ele ficará sempre em defasagem com o mundo lá de fora. Todas as matérias que são dadas para ele aqui, de ginásio, serão sempre adaptadas à condição dele. Então é preferível que ele procure uma outra atividade profissional. E depois atentando-se para uma outra realidade imediata, que é a situação financeira, a situação econômica da família. É um rapaz que está com treze, quatorze, quinze anos e que vai perder mais seis, oito anos na sua escolaridade. E a família necessitando imediatamente da sua colaboração financeira. Então ele vai para um curso profissionalizante como o do Senai, por exemplo, e esse é outra mentalidade que tem que se deflagrar no Brasil, acabar com a mentalidade do curso acadêmico. Então o pai tem dinheiro, põe o filho de qualquer maneira fazendo curso objetivo, curso não sei o quê. SPEAKER 3: Precisa aí precisa ver qual é a qual é a ah... como é que se diz? Vocação do do do aluno, se ele se ele tem uma vocação para curso superior, você tem que deixar ele para curso superi> ### SPEAKER 0: ### É a preocupação acadêmica da família. O meu filho tem que ser doutor eh. Regime patriarcal. Não é? Regi> SPEAKER 1: É é um pouco contra  essa a esses recursos tecnicológicos, essas coisas, mas aqui ele é fundamentalmente importante nessa escola, o recurso visual. Você vê como as coisas são diversas, dependendo do campo em que se ocupam as  coisas. É um problema de ca> SPEAKER 0: ### SPEAKER 2: SPEAKER 3: É que então ao invés do governo fazer uma programação através do rádio.. Fizesse uma tran uma programação através com o.. Está, certo. Mas já que o governo não faz através de outras coisas.. pelo menos se aproveite aquele que se tem.. É o que eu digo.. não que eu acho excelente.. eu não acho.. a absolutamente, eu sou estou com ele, não substitui o professor nunca, eu acabei de dizer, que nunca nós vamos prescindir do professor, nunca, porque o professor é o orientador, é é o contato humano, é o contato humano, o professor com o aluno, é o diálogo do aluno com o professor que nada substitui, máquina nenhuma substitui, mas acontece que se nós não tivermos essa possibilidade, usemos aquelas que a gente tem, que não tem cão caça com gato. (riso) () SPEAKER 1: () Usei o lugar comum. Acho que até ultrapassamos oitenta minutos, então eu vou parar e nós continuamos a conversar sem o gravador.