SPEAKER 3: Darci e Maria Aparecida, gostaríamos que falassem a respeito de cidade. Vamos lá. () Cidade, bem. SPEAKER 1: São... São... São Paulo para mim... (risos) São Paulo para mim, assim, sempre foi, eh... Meio, uma cidade meio assustadora. Eh... Quer dizer, a cada dia menos assustadora, à medida que... se vai conhecendo mais a cidade. Eh... Mas mesmo assim, eh, é quase que, é quase assim como que uma sensação, de uma coisa enorme, muito grande. Embora eu me sinta perfeitamente à vontade em São Paulo. ### não me liberto disso, né? Mas a aproximação, assim, com a cidade, para mim, é um bocado assustadora, viu? SPEAKER 3: Agora, vamos tentar ver cidade como realmente elemento assustador, mas que assusta porquê e assusta onde. Porque ainda hoje, a gente estava comentando lá no, no serviço mesmo, agora no fim da tarde, né? sobre São Paulo, assim.. Não São Paulo () propriamente, não cidade. E quando a gente fala de cidade, agora não vamos falar só de cidade muito grande, né? Quer dizer, metrópole, satélite, nada disso não. Mas desde que ela tenha características de cidade, o homem, enquanto homem, perde um pouco das características de homem. Então, () a gente já comentou isso várias vezes, né? Só porque hoje apareceu isso. O fato de um homem socorrer um outro homem na rua, por exemplo, em São Paulo, já não acontece. Há muito tempo. Às vezes assusta as pessoas, né? Porque ainda é... Ontem, ainda hoje, tinha um colega, assim, assustado. Eu não, eu ()... SPEAKER 1: Eu não creio que seja, ainda, ainda, nesse, nesse nível, não, sabe? Eh, seja nesse nível. Talvez quem... Quer dizer, em princípio, no começo, em São Paulo, por exemplo, eh, isso me assu, me a, me assustava ou me deixava, assim, mais ou menos deprimido, simplesmente porque eu num, não tinha oportunidades e, eh, quer dizer, cidade interior, quer dizer, você não via isso, eh, na, na forma assim tão agressiva como você vê na grande cidade, né? Quer dizer, você, você  tinha lá as figuras comuns no interior, você tem o João Louco, o bebum da cidade, tá certo? Mas () era do, de uma forma, primeiro, que era um número bem, bem menor. Isso que saltava à vista, assim... De uma forma... () Com destaque, né? E em São Paulo, quer dizer, você tropeça com um indivíduo na rua, está ali, caído, não sei o que, pisam... Você tropeça com mil malucos na cidade sem ver nenhuma figura de... SPEAKER 3: de maluco. Você vê neles só um homem que não tem nada a ver com você enquanto homem também. Certo. SPEAKER 1: ### Bom... Se você não vê, se você não percebe, então... Então, isso num... Não te assusta. Você só passa a tomar consciência? SPEAKER 3: Não assusta, não. É isso que estou dizendo agora. Quer dizer, Não assusta, não. Quando isso chega a não assustar mais, é porque você já perdeu o tipo de sensibilidade para conviver, entende? Você já é instrumento da cidade grande. Te assusta ()... Quando você veio, você vem do interior, porque eu venho do interior, qualquer um venha para uma cidade grande de pequena, vamos chamar de comunidade, em meio de cidade pequena, de comunidade assim, quer dizer, (), esses lugares pequenininhos por aí, Você conhece os () da cidade. Se você tropeça com o João que tá caído na rua, você socorre o João porque ele é um elemento conhecido, sabe... ele mora, sabe quem é. Conhece o parente dele, sabe quem é o pai, quem é a mãe, sabe pode ser que não tem pai e mãe, etecetera e tal. Você pega o cara, leva o cara para casa, trata do cara, certo? Mas isso porque você conhece. Aqui você não faz não é pelo fato de você não conhecer o indivíduo, não. É pelo fato das implicações que isso pode trazer para você. Então você nem sequer percebe. Quer dizer, Quando você para para pensar, você percebe. Puxa vida, eu não parei para socorrer por causa das implicações. Mas no primeiro momento você nem pensa nisso, você já está desligado disso. Eh... Isso nem sequer te agride mais. Certo. Você tropeça num cara na rua e não percebe que o cara está caído na rua e que você poderia ter parado para socorrer ou para dar uma mão para o cara. Eh... SPEAKER 1: E aí já passou a ser o elemento na, natural da paisagem. SPEAKER 3: Aí é que está. Quando ele passa a ser o elemento natural da paisagem é porque a gente já perdeu o tipo de sensibilidade de homem com homem. Porque (risos) um colega hoje contou um negócio que eu achou uma (), porque assim que, tinha, assim, um japonês numa estação rodoviária, assim, não era São Paulo, numa cidade do interior aí, mas não é tão pequenininha a cidade. O japonês nessa, (), estava na estação rodoviária e ele é aleijado das duas pernas, estava com bengala dos dois lados, tinha que subir escada, o homem queria ir no banheiro, Então, o homem ficou tentando subir a escada com as suas bengalas, mas não conseguia. E se ele ficou um tempo observando, E assim, a pessoas subiam, desciam, esbarravam no velho, quase que derrubava a bengala do ve, do japonês. Ninguém parou assim, todo mundo percebeu que o homem estava com dificuldade para subir a escada para ir no banheiro. Quer dizer, ninguém sabia que ele queria ir no banheiro, mas sabia que ele queria subir a escada. Aí o rapaz chegou perto e disse: "o senhor quer ir aonde?" Ele falou: "o banheiro". Disse: "Então, eu vou ajudar o senhor" Eu não falei para ele, falei: "Mesmo porque se você não ajudasse, na hora que for ver, vai ter uma pocinha embaixo, né?" (risos) Porque não ia conseguir sair de lá. Mas... O indivíduo que tá subindo ou descendo a escada, ele nem sequer para de perguntar se o homem quer subir, se ele quer sentar, se ele está lá porque ele está simplesmente vendo a paisagem, né? Ele não se preocupa com o cara que está lá. () Ainda mais assustador, né, meu? SPEAKER 1: É... Ãh... Veja, veja... Pergunto para você assim, você acha que... Que... Por que que ocorre isso numa cidade como São Paulo, vamos dizer? Tá. SPEAKER 3: Então a gente vai chegar a saber assim... Quer dizer, não é uma cidade como São Paulo. Toda e qualquer cidade onde começa a existir, assim, uma complexidade nas relações entre os indivíduos, eles começam a se afastar. Então você hoje vê um acidente realmente na rua, você sabe de antemão, se você parar para socorrer, você vai ter, durante dois anos na tua vida, que ficar atendendo a mil solicitações, explicações e... De como aquilo aconteceu, como testemunha que você vai ser. Quer dizer, é tão complexo o, o desenvolvimento, que deveria talvez ser natural, mas por outro lado não pode ser natural, né? Porque as instituições acho que precisam de dados, que você, primeira vez, você não socorre conscientemente. Ah, Ah, não vou, porque eu vou ter mil implicações, meu vizinho teve, meu parente teve, eu já conheço a história, eu não vou me envolver, né? A segunda vez você já sente um pouquinho de dor, puxa vida, né? Estou me... Estou fugindo, né? De onde De um tipo de, de obrigação que talvez eu tenha para com um cara que tá caindo aí, porque amanhã pode ser eu, e se for meu irmão, se for minha mãe, porque sempre se sente mais no calo quando é alguém próximo de si, né? Aí quando chegado por um certo tempo, você não percebe mais. Porque você está correndo tanto, e você já foi tão treinado para aquele tipo de desconhecimento, que você não, não toma mais conhecimento dele, nem se quer sente que não tomou conhecimento. SPEAKER 1: Você está dizendo que as pessoas estão correndo, estão estanques.  Comprometidas, com compromissos de trabalho, obrigações, estudos, não sei o quê, o horário, essa coisa, essa coisa toda. Mas, eh...  Compromisso, sabe? Eh, seria, seria verda, eh, seria verdade, êh, esse fato, assim, que a coisa, eh, eh, depende um exclusivamente do tipo de vida que se leva de compromisso, quer dizer...  Não. Porque, vamos dizer, quando você, hoje, esse rapaz que, que, que, que atendeu lá o japonês, subir a escada, e não sei o quê. Ele tem mais ou menos compromisso que outros? Se você fizer... Não, agora... SPEAKER 3: Não, claro que não. SPEAKER 1: Deve estar ocorrendo aí na cidade um monte de, de, de pessoas que, de uma forma ou de outra, está... Eh, parando, observando. Ou então, não ajuda a qualquer coisa desse tipo. Esse é o indivíduo mais compromissado ou é o menos compromissado? Não... Não tem nada a ver com isso. () Compromissado no sentido, assim... De horário. De horário. SPEAKER 3: Acho que não tem nada a ver com, não tem nada a ver com o problema, assim, do ritmo de () paralelo. Não tem nada a ver. Quer dizer, num segundo momento pode chegar a ter, certo? Ninguém vai negar, assim, que um tipo de vida de comunidade seja eh tão exaustiva assim, quanto corrida, né? Não exaustiva como força, não, mas eh numa comunidade, por mais corrida que ela seja, ela é menos corrida que numa cidade média, certo? Porque ela dá, em última análise, ela dá, assim, tempo para o indivíduo poder Sei lá, o simples trânsito de um local de emprego para um local de residência, numa comunidade não acontece. Numa cidade grande acontece. () () o indivíduo perde uma boa parte do seu tempo, ou seja, tempo que ele poderia estar observando coisas, né? Ele perde no no trânsito, no transporte, eh exatamente, no trânsito. No trânsito subúrbio, no farol fechado, no guardinha pitando, né? ### Com estacionamento que você não encontra, ou no metrô, ou em qualquer tipo de metrô. Esse é um, esse é um detalhe só. Então devagarinho, devagarinho, os indivíduos começam a se envolver nesse tipo de coisa. E aí começa a gente a poder pensar até o que que acontece quando eles chegam na sua casa, né? SPEAKER 0: ### SPEAKER 1: ### SPEAKER 2: Aí quando ele chega em casa, ele pega a senta assim, estira as pernas assim no sofá, na cama né, onde tiver o seu aparelho de teve em casa, estica assim, estou morto de cansaço e liga a televisão. SPEAKER 3: O único tempo que ele teria para poder pensar o que foi que ele viu durante o seu dia, a televisão tira esse tempo e desvia desses pensamentos. SPEAKER 1: ### A gente volta lá ainda. Eh... (risos) SPEAKER 2: A percepção deles (risos). Quanto? SPEAKER 1: Quando eu falo assim em termos... ()... Eu posso chegar lá. Está vendo a coisa sob um aspecto de solidariedade humana só. E... Não, não ()... É levantar um, dar a mão ao outro, orientar um outro ou outro. SPEAKER 3: ### Ro>mântico, sabe? Eu não estou vendo como  coisa romântica, não. Estou vendo como coisa do dia a dia mesmo. SPEAKER 1: Eu acho que esse é o mínimo, eh, eh, é o mínimo aspecto, inclusive, eh... O fato de existir aí pelas ruas, estar cheio de, de, de mendigos, quer dizer, à medida que você sabe porque que ocorre isso, né? Está vendo que... Que... Solidariedade. Inclusive, a tua soli, solidariedade ne, nesse ponto é um negócio tão, tão pequeno, tão minúsculo, quer dizer, você levantar um aqui, ajudar um ou outro ali.. É... O () lá. Você sabe que o problema, que o problema realmente não está na, na, na, na tua vontade, no seu ato isolado. Quer dizer, Você, como indivíduo, é agredido diariamente na cidade, né? Eu sinto isso na cidade, sou agredido diariamente. Seja trânsito, seja por propaganda. Eh... A propaganda te agride furiosamente, eh... Durante todo o dia. Em cada esquina que você pamente, na periferia, no,  nos botear ou não. Poder fixarem. Inclusive no local de trabalho. Eh... Agora, pelo que se vê aí, parece que ninguém tem a mínima ideia disto aí, né? Se há alguma, alguma distribuição em São Paulo ainda que você ()... Eh... É feita em função de, de, de, da percepção do interesse, do interesse, às vezes. A percepção comercial, que é o caso de determinadas ruas, em... Eh, uh, os próprios indivíduos, os próprios comerciantes tomam a iniciativa de instalar, de instalar, assim, eh, lojas do mesmo tipo, né? Lojas de tecidos, então... É o caso da vinte e cinco de março, da Zé Paulino, certo? Eh... O Arouche está virando centro de loja. João Cachoeiro lá em cima, né? É. Ou, ou algumas outras áreas, como a Santa Ifigênia, de material elétrico. Ficou quase que determinado, isso ficou determinado por uma, uma conveniência dos próprios comerciantes, né? Quer dizer, é... Isso, inclusive, porque São Paulo sendo uma cidade grande, se tem uma casa de, de lâmpadas aqui, tem uma outra daqui a, a quinhentos metros, e se tiver até juntas... Ele vai para, para aquele centro comercial. Ãh... Agora, o fato é que nunca, ãh, se percebeu essa, essa, essa tentativa de, de, de diversificar uma, numa determinada região o, o comércio num determinado bairro. SPEAKER 3: ### SPEAKER 1: Isso tem ocorrido espontaneamente, (). Lapa tem um comércio mais ou menos diversificado, Pinheiros. que é um, ãh, um outro caso também, comércio mais ou menos diversificado. Eh... Você pega um bairro antigo de São Paulo, lá no, no Ipiranga, não tem isso. Pega, ah, a Penha, eh, isso é incipiente, quase também não, existe muito pouco. SPEAKER 3: Ãh... Eh... Então, mas se isso existisse, o indivíduo ficaria na Penha, entende? E não teria nem sequer a chance de... E ver outras coisas, porque tempo não lhe sobraria. SPEAKER 1: Ah, mas aí... Isso daí, né? Entra Entra como lazer, não é não? Mas não tem... Você acha que o fato de você se locomover com ãh, um determinado local, não sei o que, não é para, para, porque fazer uh, eh, fazer compras, não sei o que, está relacionado à, à necessidade, né? Eh... Teatros, ãh, cultura...  Não sei, não. ().... SPEAKER 2: Não sei o que seria sair (), não sei. SPEAKER 3: Agora você leva teatro em um bairro, por exemplo, e você vai terminar, ali, fixando o cara... lá dentro. Se bem que o objetivo não é esse, né? O objetivo é () esse tipo de população. SPEAKER 2: Não sei, não sei o que seria melhor, não sei o que seria melhor, deixar que o indivíduo realmente se movimentasse, ou provocar uma movimentação ou provocar uma fixação. SPEAKER 1: Você vai provocar movi, movimentação do indivíduo? Em função... Para atender a uma necessidade que ele tem. Quer dizer, se é termos de lazer, se é termos de, de, de livre opção... Mas não () em termos de lazer, não. SPEAKER 3: Estou vendo como um conhecimento, oportunidade de conhecer as coisas, oportunidade de ter relacionamento com coisas diferentes, só isso. Não é nem lazer, não. Quer dizer, sei lá, se eu trabalhasse, por exemplo, num outro bairro, pega um bairro distante, se eu tivesse ido para Osasco, por exemplo, para ser uma saída ()... ### Ter que viajar todo dia de São Paulo para Osasco (risos) SPEAKER 1: Eu estava desesperada da vida. () ### SPEAKER 3: ### ### Você já respondeu essa pergunta. Agora, enquanto planejamento, enquanto visão... Eu sei que eu teria, sim, oportunidade de ver uma série de coisas, de observar alguns comportamentos, algumas necessidades, problemas que você vê nessas regiões. Eu sentiria, talvez, muito mais na carne o problema de trânsito, entende? Que eu não sinto. Meu único problema de trânsito é o... Tanto melhor para você. Tanto melhor... Não, () passa para mim, quer dizer, outros passam para mim, mas eu não dirijo, eu não tomo ônibus, eu não tomo táxi. Percebe? Então, eu só consigo, ainda, saber que o trânsito em São Paulo é um sério problema porque outros trazem até mim esse problema e também porque eu tenho alguma percepção, ainda, de, ao atravessar a rua, perceber que o cara que está no volante ou o cara que está no ônibus está lá parado há meia hora. Mas não porque eu tenho oportunidade de, de acesso. Isso eu não tenho, não. Porque eu vou a pé. Eu transito por cinco ruas, especificamente, na ida e na volta. Como eu chego só à noite, né? Chega no sábado, domingo, também os botecos são esses daqui. Os restaurantes só nesses daqui. Os amigos são esses daqui. Então eu não tenho chance de perceber assim o que, por exemplo, Penha... Há quanto tempo eu não passo na Penha? Não sei há quantos anos eu não vejo a Penha. () SPEAKER 1: Se você, eh, se propuser a isto como um ato voluntário, né? Certo? Se... você escolher o ônibus que você quiser... Não, mas ()... O meio de transporte que você quiser, é uma coisa. É, se você... Agora, você fazer isto em função de uma necessidade, por exemplo... Você tem que sair da, da, da, da Penha para, para vir à cidade? SPEAKER 2: É... Ãh... Não acredito que eu realmente não sei o que seria. SPEAKER 1: Conhecendo uh, a situação de transporte que a gente tem por aí, esse indivíduo não tem condições, eh, de transporte próprio coisa desse tipo. Se tem condições () de transporte próprio, quer dizer, ãh, o problema do trânsito, é o problema do tempo que perde. SPEAKER 3: ### ... () isso também nos, em termos, assim,  planejamento. SPEAKER 2: ### ... que você monte as, as áreas, né? De... Sensitivas, assim, em vários locais. É, mas ()... SPEAKER 3: Então, () começo a ver, assim... Você vai cair num problema de isolacionismo, ou não, né... SPEAKER 2: Cidades do interior, como cidades, assim, lugares pequenos, comunidades... SPEAKER 3: Onde o indivíduo trabalha, né? Tem sua família e estuda, né?  Mas até um tempo atrás, por exemplo, ele não tinha... Espera, isso eu não enten... Eh... Ele não tinha...  Tra, trabalha, eh, ih... E, es, estuda. Trabalha, tem a sua família e estuda. Não, não é, não. Não, vamos pensar, o indivíduo consegue ter até um cer, uma certa idade, ele consegue ter lá dentro da cidade tudo isso. ### E ainda há outra variável aí, né? Muitos outros jovens teriam estudado Aí já é outro problema. Certo? Porque tinha maior... É lógico, mais facilidade, ()... Mais fácil o acesso e uma escola na sua cidade. Certo? Quem tem recursos para sair, sai. ### SPEAKER 1: Ah, sim. Quem tem chances para sair... Eh, para... Para continuar. ### SPEAKER 3: O fato de sair, quer dizer, quando você sai da sua cidade e vai para cidade vizinha, que já é maior, O que você tem, assim, de de abertura, em termos de, de visão das coisas, é mais rico, né? Talvez você comece a sentir a complexidade da vida com grupos maiores. SPEAKER 1: E.. Isso aí... Eu acho que aí, inclusive, é, eh, eh, é um problema assim, que... Quer dizer, uh, no interior... Quando você pensa em termos de interior ### SPEAKER 3: Ele é muito mais estratificado do que a grande cidade, né? Bom, eu não estou querendo chegar, não estou querendo (), estou querendo no indivíduo estagnado. SPEAKER 1: Não, não, mas o indivíduo não é estagnado porque ele quer... Espera aí. SPEAKER 3: Exatamente. É porque ele, ele é forçado a deixar de ser estagnado ou ele é forçado a ser estagnado. Certo? Então, aí é que eu estou vendo assim. Como... uma linha geral de atuação como um planejamento, que você força o indivíduo a sair, é uma política de atuação. Êxodo do rural pode ser uma política realmente, certo? Você força o indivíduo a sair do campo. É uma política adotada isso, ()... Ela pode ser questionada, certo? Ela pode dar mil entraves no desenvolvimento urbano, eh, ih, mas ela pode, por outro lado, provocar alguma, alguma mudança no desenvolvimento rural. Bom... Bom... Mas ele é provocado, né? SPEAKER 1: Então vamos chegar mais lá adiante. SPEAKER 3: Então se você provoca a saída do indivíduo de uma cidade pequena para uma cidade maior, você provoca, lógico, assim, oportunidades do indivíduo ver determinadas coisas. O problema que a gente sente é a volta desse indivíduo. Aí não existe nenhuma estrutura, realmente, não chego nem a chamar de infraestrutura, mas não existe nem estrutura para receber esse indivíduo de volta. Então ele volta... Desajustado totalmente com o meio que ele deixou, E aí ele vem para grande cidade e é desencontro total, né? Aí é o grande problema da grande cidade. Considere ()... SPEAKER 1: Considere o seguinte, eh, () São Paulo, por exemplo, São Paulo é hoje uma, uma, uma anomalia, né? Quer dizer, uma cidade num, num, num, num estado que tem em torno aí de, eu acho que deve estar hoje em torno de dezoito milhões de habitantes, e que reúne aqui na, na, no grande São Paulo, Aproximadamente uns dez milhões. SPEAKER 3: É, é a cidade de dentro e dentro de cidade de fora. Exato, quer dizer, é... SPEAKER 1: Isso é um, ah, é um, é um absurdo, quando, quando... Ter uma cidade de dez milhões de habitantes, eh, num país, eh, vamos dizer, subdesenvolvido. SPEAKER 3: ### Ninguém vai falar disso. SPEAKER 1: Você tem uma cidade de dez milhões de habitantes num país subdesenvolvido. O quê que você... O quê que você vai ter? O crescimento da cidade, o inchamento da cidade, foi feito assim, forçado, né? Pelo êxodo da zona rural... Mas, ()... O êxodo ()... Das pequenas comunidades do interior. SPEAKER 3: ### ### SPEAKER 1: () De uma cerblema de, de imigração, assim, de São Paulo, não é migração de interior, né? É imigração geral dentro do país. ### Mas, então, veja... São Paulo, na pior das hipóteses, você roubando come. Num lugar muito pobre, você não tem nem de onde tirar tua comida, você não tem nem de onde roubar. Mas... Aqui, em último caso, você pega a lata de lixo, realmente tem sobra. Lá não tem sobra. SPEAKER 1: Voltando a uma cidade como São Paulo...  Mas aqui você sobrevive, né? Quer dizer, é uma cidade, num país desenvolvido com... Há o outro aspecto da questão. Eh... Com, quase, o grande São Paulo com, deve ter hoje, mais de dez milhões de habitantes, né? ### Tem mais de dez milhões, né? Resultado. Eh... Não existem recursos, rede de esgoto, água, abastecimento, eletricidade. Certo? Eh... Não existe o mínimo de possibilidade de, de, de planificação para, para, para... Eh...() Não tem nenhuma infraestrutura para receber esse pessoal ()... Para receber esse pessoal. Previstas, eh, () um fluxo mais ou menos previsto. Quer dizer, o fluxo hoje é previsto, né? Mas é impossível atender. SPEAKER 0: Então, o pessoal vai se estalando aí nos morros, né? SPEAKER 1: Vila Nova Cachoeirinha, que a gente estava falando agora há pouco. Quer dizer, eh... É conhecido assim, ãh, ãh, porque como, eh, eu me referia, assim, em termos de gozações, não sei o quê, mas é, era referido como antro de marginais, não sei o quê. () Toda a nossa periferia, ### De uma forma ou de outra, o indivíduo está, eh, obtendo, tentando obter uh a sobrevivência, né? E não importa, quer dizer, ele não encontra, ou encontra trabalho, ou encontra um caminho razoável, ou então, ele apela para a marginalidade mesmo. SPEAKER 3: ### ### Existe um planejamento, existe a simplificação, onde você prevê a opção, por exemplo, em termos de desenvolvimento, a opção vai ser a indústria. Né? Que tipo de indústria inclusive, no nosso caso, com automobilística, né? Eh... Isso não foi feito, nem um pouco, pensando assim como... Não foi planejado. Foi simplesmente opção, mas não planejado Foi opção enquanto momento. Porque, se, na realidade, ela trouxe uma série de problemas, né? Que ela desviou todos os recursos para a indústria, ela retirou os recursos da agricultura, quer dizer, acaba a agricultura e provoca realmente o êxodo rural. Essa população todinha vem para a grande cidade, vem para o centro industrial. Certo. Enquanto centro industrial, o centro não está equipado para receber esse pessoal. Porque as coisas não foram feitas paralelamente. Que dizer, o... Hoje, realmente, quando a gente ouve o () dizer que São Paulo, uma cidade que () não tem solução pra ela, né? Não tem mesmo, porque chegou num certo momento em que você não dá mais. Quer dizer, se não planejou antes, meu filho, agora você não conserta, né? Você não deu remédio para o cara, agora o negócio é deixar morrer. SPEAKER 1: Depois a questão não está nem em...  Ãh... Mas aí, isso é uma... Planejamen jipes né e um... Como é que é o nome daquele carro preto que existia aí? ( ) Só governador tinha aquele carro SPEAKER 1: ### SPEAKER 2: ( ) Aeroiles ### ### SPEAKER 0: ### ### SPEAKER 3: Você podia ter gostado. Chefe de Esta> ### ### SPEAKER 2: ### SPEAKER 1: ### SPEAKER 2: ### ### ### ### ### SPEAKER 3: ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### SPEAKER 2: ### ### ### SPEAKER 1: ### ### ### ### ### SPEAKER 3: ### ### ### ### Preto Preto SPEAKER 1: ### ### ### ### SPEAKER 3: ### ### ### ### ### ### ### SPEAKER 1: Fizeram até fizeram até o carro, o carro executivo, né? Eu lembro que... Eu não sei em que... Mas foi logo nos nos primórdios, assim, que lançaram o Itamaraty, né? Então havia o o carro executivo com... Mas nesse lugar... Quer dizer, não resistiu... Não resistiu às buraqueiras do São Paulo. O carro executivo supõe que ande num tapete, assim, né? ### Um cafezinho, fazer anota anotações, né? SPEAKER 3: ### ( ) tá mas aí você chega de um lugar assim, onde existe no máximo, é aeroilis mesmo. Chegava ali no Itamaraty, vem de carro de Executivo não que é isso Dois jipes, né? Um candango E volta para São Paulo. SPEAKER 1: Até agora a pouco você estava reclamando do trânsito Não, eu não estou reclaman> SPEAKER 2: ### SPEAKER 3: Aí em São Paulo a gente empolga assim, com uma coisa assim, um elemento... é complexidade total. Eu me recordo, assim, de cada vez que eu voltava para São Paulo, isso realmente eu... eu comprovei, assim. O primeiro dia que eu saía, Na cidade, eu sentia tontura, ânsia de vômito, certo? Ânsia de vômito. SPEAKER 1: Isso era o gás carbônico (risos) Não era não era emoção, né? SPEAKER 3: ### Não confunda a coisa de emoção. É tontura enquanto movimento mesmo, certo? Você vê na tua frente, assim, de repente, duzentos carros cruzando, um farol verde, amarelo e vermelho na tua frente, quinhentas pessoas se atropelando, aí você para numa esquina assim, eu senti tontura e ânsia de vômito, porque fiquei um ano fora, depois fui outro, testei o negócio, era verdadeiro no outro, verdadeiro, certo? São Paulo, nesse momento assim, ele é um negócio importante, é um negócio que eu nunca conseguiria viver longe dele. Viver, hein? Agora, passar períodos, não só conseguiria, como sinto necessidade, Sabe, acho que qualquer tipo de pessoa sã precisa disso, gente não é Para que você não caia nesse nesse tipo de de esquema só de coisas complexas, sabe? Há a necessidade de você, às vezes, cair assim, por exemplo, quando a gente foi visitar os velhos lá, de ver as coisas simples, a relação simples entre pessoas. É, tudo isso é muito bom ( ) Porque isso te permite ter sempre um um contato com a complexidade e não perder a complexidade de vista. Agora, se você fica só aqui, ou se você fica só lá também, para gente, por exemplo, não dá mais para ficar só lá. SPEAKER 1: É, viagens e luz. SPEAKER 3: Não é no sentido de viagens e luz também. Aí você já começa a esbanjar aí, esculhambar, tudo que você sabe que é uma briga aí, é um problema de... Brasil é seden. tário Não, nós não chegamos a uma conclusão. SPEAKER 1: ### SPEAKER 3: Nunca na ( ) turismo, por exemplo, turismo acho um negócio idiota, realmente, só pode valer aí como divisa de ( ) pessoal. Mas aí é outro papo, o interesse não é meu. Não é turismo, não. É simplesmente contato com outros tipos de... Bom, isso é muito bom. Relacionamento. Outros tipos de comportamentos, outros tipos de atitudes, outros tipos de valores.