Inquérito SP_D2_348

SPEAKER 3: : Darci e Maria Aparecida, gostaríamos que falassem a respeito de cidade. Vamos lá. () Cidade, bem.

SPEAKER 1: : São... São... São Paulo para mim... (risos) São Paulo para mim, assim, sempre foi, eh... Meio, uma cidade meio assustadora. Eh... Quer dizer, a cada dia menos assustadora, à medida que... se vai conhecendo mais a cidade. Eh... Mas mesmo assim, eh, é quase que, é quase assim como que uma sensação, de uma coisa enorme, muito grande. Embora eu me sinta perfeitamente à vontade em São Paulo. ### não me liberto disso, né? Mas a aproximação, assim, com a cidade, para mim, é um bocado assustadora, viu?

SPEAKER 3: : Agora, vamos tentar ver cidade como realmente elemento assustador, mas que assusta porquê e assusta onde. Porque ainda hoje, a gente estava comentando lá no, no serviço mesmo, agora no fim da tarde, né? sobre São Paulo, assim.. Não São Paulo () propriamente, não cidade. E quando a gente fala de cidade, agora não vamos falar só de cidade muito grande, né? Quer dizer, metrópole, satélite, nada disso não. Mas desde que ela tenha características de cidade, o homem, enquanto homem, perde um pouco das características de homem. Então, () a gente já comentou isso várias vezes, né? Só porque hoje apareceu isso. O fato de um homem socorrer um outro homem na rua, por exemplo, em São Paulo, já não acontece. Há muito tempo. Às vezes assusta as pessoas, né? Porque ainda é... Ontem, ainda hoje, tinha um colega, assim, assustado. Eu não, eu ()...

SPEAKER 1: : Eu não creio que seja, ainda, ainda, nesse, nesse nível, não, sabe? Eh, seja nesse nível. Talvez quem... Quer dizer, em princípio, no começo, em São Paulo, por exemplo, eh, isso me assu, me a, me assustava ou me deixava, assim, mais ou menos deprimido, simplesmente porque eu num, não tinha oportunidades e, eh, quer dizer, cidade interior, quer dizer, você não via isso, eh, na, na forma assim tão agressiva como você vê na grande cidade, né? Quer dizer, você, você  tinha lá as figuras comuns no interior, você tem o João Louco, o bebum da cidade, tá certo? Mas () era do, de uma forma, primeiro, que era um número bem, bem menor. Isso que saltava à vista, assim... De uma forma... () Com destaque, né? E em São Paulo, quer dizer, você tropeça com um indivíduo na rua, está ali, caído, não sei o que, pisam... Você tropeça com mil malucos na cidade sem ver nenhuma figura de...

SPEAKER 3: : de maluco. Você vê neles só um homem que não tem nada a ver com você enquanto homem também. Certo.

SPEAKER 1: : ### Bom... Se você não vê, se você não percebe, então... Então, isso num... Não te assusta. Você só passa a tomar consciência?

SPEAKER 3: : Não assusta, não. É isso que estou dizendo agora. Quer dizer, Não assusta, não. Quando isso chega a não assustar mais, é porque você já perdeu o tipo de sensibilidade para conviver, entende? Você já é instrumento da cidade grande. Te assusta ()... Quando você veio, você vem do interior, porque eu venho do interior, qualquer um venha para uma cidade grande de pequena, vamos chamar de comunidade, em meio de cidade pequena, de comunidade assim, quer dizer, (), esses lugares pequenininhos por aí, Você conhece os () da cidade. Se você tropeça com o João que tá caído na rua, você socorre o João porque ele é um elemento conhecido, sabe... ele mora, sabe quem é. Conhece o parente dele, sabe quem é o pai, quem é a mãe, sabe pode ser que não tem pai e mãe, etecetera e tal. Você pega o cara, leva o cara para casa, trata do cara, certo? Mas isso porque você conhece. Aqui você não faz não é pelo fato de você não conhecer o indivíduo, não. É pelo fato das implicações que isso pode trazer para você. Então você nem sequer percebe. Quer dizer, Quando você para para pensar, você percebe. Puxa vida, eu não parei para socorrer por causa das implicações. Mas no primeiro momento você nem pensa nisso, você já está desligado disso. Eh... Isso nem sequer te agride mais. Certo. Você tropeça num cara na rua e não percebe que o cara está caído na rua e que você poderia ter parado para socorrer ou para dar uma mão para o cara. Eh...

SPEAKER 1: : E aí já passou a ser o elemento na, natural da paisagem.

SPEAKER 3: : Aí é que está. Quando ele passa a ser o elemento natural da paisagem é porque a gente já perdeu o tipo de sensibilidade de homem com homem. Porque (risos) um colega hoje contou um negócio que eu achou uma (), porque assim que, tinha, assim, um japonês numa estação rodoviária, assim, não era São Paulo, numa cidade do interior aí, mas não é tão pequenininha a cidade. O japonês nessa, (), estava na estação rodoviária e ele é aleijado das duas pernas, estava com bengala dos dois lados, tinha que subir escada, o homem queria ir no banheiro, Então, o homem ficou tentando subir a escada com as suas bengalas, mas não conseguia. E se ele ficou um tempo observando, E assim, a pessoas subiam, desciam, esbarravam no velho, quase que derrubava a bengala do ve, do japonês. Ninguém parou assim, todo mundo percebeu que o homem estava com dificuldade para subir a escada para ir no banheiro. Quer dizer, ninguém sabia que ele queria ir no banheiro, mas sabia que ele queria subir a escada. Aí o rapaz chegou perto e disse: "o senhor quer ir aonde?" Ele falou: "o banheiro". Disse: "Então, eu vou ajudar o senhor" Eu não falei para ele, falei: "Mesmo porque se você não ajudasse, na hora que for ver, vai ter uma pocinha embaixo, né?" (risos) Porque não ia conseguir sair de lá. Mas... O indivíduo que tá subindo ou descendo a escada, ele nem sequer para de perguntar se o homem quer subir, se ele quer sentar, se ele está lá porque ele está simplesmente vendo a paisagem, né? Ele não se preocupa com o cara que está lá. () Ainda mais assustador, né, meu?

SPEAKER 1: : É... Ãh... Veja, veja... Pergunto para você assim, você acha que... Que... Por que que ocorre isso numa cidade como São Paulo, vamos dizer? Tá.

SPEAKER 3: : Então a gente vai chegar a saber assim... Quer dizer, não é uma cidade como São Paulo. Toda e qualquer cidade onde começa a existir, assim, uma complexidade nas relações entre os indivíduos, eles começam a se afastar. Então você hoje vê um acidente realmente na rua, você sabe de antemão, se você parar para socorrer, você vai ter, durante dois anos na tua vida, que ficar atendendo a mil solicitações, explicações e... De como aquilo aconteceu, como testemunha que você vai ser. Quer dizer, é tão complexo o, o desenvolvimento, que deveria talvez ser natural, mas por outro lado não pode ser natural, né? Porque as instituições acho que precisam de dados, que você, primeira vez, você não socorre conscientemente. Ah, Ah, não vou, porque eu vou ter mil implicações, meu vizinho teve, meu parente teve, eu já conheço a história, eu não vou me envolver, né? A segunda vez você já sente um pouquinho de dor, puxa vida, né? Estou me... Estou fugindo, né? De onde De um tipo de, de obrigação que talvez eu tenha para com um cara que tá caindo aí, porque amanhã pode ser eu, e se for meu irmão, se for minha mãe, porque sempre se sente mais no calo quando é alguém próximo de si, né? Aí quando chegado por um certo tempo, você não percebe mais. Porque você está correndo tanto, e você já foi tão treinado para aquele tipo de desconhecimento, que você não, não toma mais conhecimento dele, nem se quer sente que não tomou conhecimento.

SPEAKER 1: : Você está dizendo que as pessoas estão correndo, estão estanques.  Comprometidas, com compromissos de trabalho, obrigações, estudos, não sei o quê, o horário, essa coisa, essa coisa toda. Mas, eh...  Compromisso, sabe? Eh, seria, seria verda, eh, seria verdade, êh, esse fato, assim, que a coisa, eh, eh, depende um exclusivamente do tipo de vida que se leva de compromisso, quer dizer...  Não. Porque, vamos dizer, quando você, hoje, esse rapaz que, que, que, que atendeu lá o japonês, subir a escada, e não sei o quê. Ele tem mais ou menos compromisso que outros? Se você fizer... Não, agora...

SPEAKER 3: : Não, claro que não.

SPEAKER 1: : Deve estar ocorrendo aí na cidade um monte de, de, de pessoas que, de uma forma ou de outra, está... Eh, parando, observando. Ou então, não ajuda a qualquer coisa desse tipo. Esse é o indivíduo mais compromissado ou é o menos compromissado? Não... Não tem nada a ver com isso. () Compromissado no sen tido sen tido, assim... De horário. De horário.

SPEAKER 3: : Acho que não tem nada a ver com, não tem nada a ver com o problema, assim, do ritmo de () paralelo. Não tem nada a ver. Quer dizer, num segundo momento pode chegar a ter, certo? Ninguém vai negar, assim, que um tipo de vida de comunidade seja eh tão exaustiva assim, quanto corrida, né? Não exaustiva como força, não, mas eh numa comunidade, por mais corrida que ela seja, ela é menos corrida que numa cidade média, certo? Porque ela dá, em última análise, ela dá, assim, tempo para o indivíduo poder Sei lá, o simples trânsito de um local de emprego para um local de residência, numa comunidade não acontece. Numa cidade grande acontece. () () o indivíduo perde uma boa parte do seu tempo, ou seja, tempo que ele poderia estar observando coisas, né? Ele perde no no trânsito, no transporte, eh exatamente, no trânsito. No trânsito subúrbio, no farol fechado, no guardinha pitando, né? ### Com estacionamento que você não encontra, ou no metrô, ou em qualquer tipo de metrô. Esse é um, esse é um detalhe só. Então devagarinho, devagarinho, os indivíduos começam a se envolver nesse tipo de coisa. E aí começa a gente a poder pensar até o que que acontece quando eles chegam na sua casa, né?

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : Aí quando ele chega em casa, ele pega a senta assim, estira as pernas assim no sofá, na cama né, onde tiver o seu aparelho de teve em casa, estica assim, estou morto de cansaço e liga a televisão.

SPEAKER 3: : O único tempo que ele teria para poder pensar o que foi que ele viu durante o seu dia, a televisão tira esse tempo e desvia desses pensamentos.

SPEAKER 1: : ### A gente volta lá ainda. Eh... (risos)

SPEAKER 2: : A percepção deles (risos). Quanto?

SPEAKER 1: : Quando eu falo assim em termos... ()... Eu posso chegar lá. Está vendo a coisa sob um aspecto de solidariedade humana só. E... Não, não ()... É levantar um, dar a mão ao outro, orientar um outro ou outro.

SPEAKER 3: : ### Ro mântico, sabe? Eu não estou vendo como  coisa romântica, não. Estou vendo como coisa do dia a dia mesmo.

SPEAKER 1: : Eu acho que esse é o mínimo, eh, eh, é o mínimo aspecto, inclusive, eh... O fato de existir aí pelas ruas, estar cheio de, de, de mendigos, quer dizer, à medida que você sabe porque que ocorre isso, né? Está vendo que... Que... Solidariedade. Inclusive, a tua soli, solidariedade ne, nesse ponto é um negócio tão, tão pequeno, tão minúsculo, quer dizer, você levantar um aqui, ajudar um ou outro ali.. É... O () lá. Você sabe que o problema, que o problema realmente não está na, na, na, na tua vontade, no seu ato isolado. Quer dizer, Você, como indivíduo, é agredido diariamente na cidade, né? Eu sinto isso na cidade, sou agredido diariamente. Seja trânsito, seja por propaganda. Eh... A propaganda te agride furiosamente, eh... Durante todo o dia. Em cada esquina que você pa ssa, pa ssa, um quarteirão... Você tem lá um, uma propaganda, eh, te agredindo, te agredindo, te forçando... Te... Te.. Inclusive, em muitas vezes, de muito mau gosto, né? ###

SPEAKER 2: : Eh... ...você falou, não? Cachaça São Francisco, um mal gosto desgraçado (). Então...

SPEAKER 1: : Ou seja, vo, você é agredido... Quer dizer, cada pessoa é agredida de uma forma diferente, certo? Quer dizer... Eu sou agredido por isso. Sou agredido quando... Eh... Por um trânsito assim que...

Inf :ernal.dfgfhdhfghdfghfhhfhhfhdhghghghgfhfghfghhfhhfhdfhdffhdhffghdghghdfhdhdhdhdhddfdfddfghdfgdgfhfghgdhfhfghggdfddffhdhdfdfdgdfghfghdfghdfghdfhdfhdfhfhdfhfhfhdfghdghdhdfhdhdfhdfhfghdfghdfghfdghfghfghdfhfdghgfhfdhdf sou agredido. Eh... Assim, inclusive, quando, quando eu vejo, o descaso, a... Quando eu passo pela Marginal (). Andando pela Marginal, daí, quinze dias estou passando pela Marginal, naquelas bos, bocas de, de esgotos ali de, de Marginal, você passa e tem uma casinha, dali quinze dias você passa e tem dez casinhas, dali quinze dias tem uma favela. Está ali, não é? Então, Sou agredido quando vejo, assim, eh... Indivíduos que, de uma certa forma, seriam responsáveis por, por medidas de controle da cidade. Dizer assim... São Paulo tem que crescer, né? Quando... ### sem o mínimo de preocupação em termos de tempo, em termos de, de, de, de dimensionamento do. do, do, do que será isso daqui cinco anos, quatro anos, seis anos, dez anos, vinte. () Certo? Então, tudo isso vai, vai te agredindo. Então, São Paulo, São, São Paulo, quando, quando eu disse que São Paulo me assusta, me assustava, era antes de conhecer isso daqui. Quer dizer o... Hoje São Paulo não me assusta mais, São Paulo me agride.

SPEAKER 2: : Está certo, eu não acredito, nesse sentido de regressão.

SPEAKER 3: : Mas a agressão está em todo nível. Porque agressão, sei lá, a gente quando, quando colocam as coisas, não está colocada em termos de solidariedade não, porque é um negócio muito besta, muito idiota, é linha de assistência social, é () furado, besta, certo? ### O negócio de você ficar dando a mão para o teu irmão na cabeça, daí a campanha de... para enganar algum tipo de... É agressão no sentido de que você perde a sensibilidade para esse tipo de coisa. Suponhamos, você consegue perceber assim que não estou pagando de agride? Você consegue perceber ainda? Ainda, hein? Não eh eu eu eu eu

SPEAKER 1: : Não, eu disse, é o que eu disse para você, quer dizer, me agride de uma forma eh para outras pessoas, para outras pessoas também agredir profundamente, ficar numa fila duas horas depois de eu trabalhar dez horas, esperando um ônibus.

SPEAKER 3: : Não, e ainda tem outra pessoa do tipo de agressão. Tem aquele que realmente sai de manhã, vai para o trabalho, talvez com seu Fusca lá pagando pagando a prestação dele, mas tem seu carrinho já pelo status de vida e tal, é funcionário do escritório, trabalha no quarto da gravata, é prestigiado, volta para casa, tem comida na mesa, não tem problema, liga a televisão, ih.  Só que de vez em quando dá uns pontapés na vida que ninguém entende porque ele deu os pontapés na vida. E nem eles sabem porque ele deu os pontapés na vida. Ele não percebe que foi agredido e por isso teve que descarregar sua agressão de uma outra forma qualquer. Esse indivíduo é tão agredido, certo? Quanto a gente que percebe em que níveis a gente está sendo agredido. A gente conversa muito sobre isso, quer dizer, a preocupação, quando eu digo ainda, quer dizer, você ainda passa pela marginal e percebe o crescimento de uma favela, o surgimento e crescimento de uma favela, né? A instalação dela, a gente vê a instalação dela desde o primeiro barracão. Eu não sei, eu me pergunto até que ponto, até quando a gente vai ter sensibilidade para perceber o surgimento de uma favela. está, não, está envolvido assim em uma série de conhecimento, na realidade não é só conhecimento, mas é uma sensibilidade que você cuida para não morrer.  Você cuida dela. É um problema de, realmente, formação, é um problema de como você vê as coisas da vida, valores que você tem. A cidade grande, até certo ponto, Tenho medo de que ela destrua até esses valores. Quer dizer, você vira um bichinho... Você vira um bichinho, você sabe que você tem preocupação de tempo... Eh... Sem, primeiro, sem consciência de que virou um bicho. Enquanto à propaganda, a gente comenta sempre sobre isso. ###

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 3: : Bom, então essa me deixa pê da vida. Agora... Quantas e quantas não são as propagandas que me atingem, que foram feitas especialmente para atingir o tipo de gente que pensa como eu, e que eu não percebi. ### Quer dizer, em alguns momentos, a gente está aqui dentro vivendo tantos anos, a gente percebe isso. Em alguns momentos você percebe, poxa, estou usando esse negócio aqui, quer dizer, Até que ponto eu fui influenciada por tal comercial ou por tal propaganda ou por tais amigos que usaram, certo? É. Eh, o... Mas tem outros que nem isso nós não percebemos mais.

SPEAKER 1: : O fato é que é extremamente difícil ter um espírito crítico hoje, né? Exato.

SPEAKER 3: : E até que ponto... A ci... Não é a cidade... Você vê, a gente... Da cidade, a gente vai acabar caindo em outras coisas, né? Quer dizer, até que ponto a cidade, como cidade, hein? Sem muitas implicações, ela é responsável... Eh... () Pela destruição nesse sentido.

SPEAKER 1: : Então... Eu não. Eu não sei, aí, aí, aí eu, eu quase não... Eu não quero acreditar que seja... Seja cidade. Certo? Seja cidade. Seja cidade a responsável. Porque... Numa... Situação... Vamos dizer... Seria... Então, às vezes me perguntam assim, seria possível a existência de uma cidade com oito, dez ou quinze milhões de habitantes? ### O... Sim. Às vezes me perguntam isso, seria possível uma cidade com, com vinte, trinta milhões de habitantes, um con, conglomerado humano, em que, uh, lógico, eu percebo que o indivíduo não possa manter as mesmas relações que ele mantém na, na, na (). Numa comunidade. Numa comunidade de, de, de interior, onde as coisas são mais simples. a maior proximidade, pessoas, isso é.... Mas não só...  Mas não, não só nesse aspecto. Ãh, mas é que oportunidade também não signi fica. Não, não só nesse aspecto, no aspecto inclusive de, de, de fluxo de pessoas, de, de, de locomoção, de trabalho, de, de, de, de... Eh, infraestrutura. Eh...

Inf :raestrutura, assim, que eu digo assim, em termos de, de, de, de vias, conforto, e... Eh... Em termos de ter uma vida razoavelmente Uma vida, (), digamos assim, completamente diferente do que você vive hoje em São Paulo. (), seria possível ou não? Então às vezes me perguntam. Quer dizer, ()... (). Por isso é que eu não quero acreditar que seja assim, porque você vê a cada momento, ãh, ãh, erros, erros em cima de erros. Quer dizer, não é só a favela que você vê, você vê o prédio que está sendo construído ali, ãh? Prédio de, de cinquenta apartamentos, sessenta, cem apartamentos. Onde... () sentido. Onde daí a pouco tem a fábrica de carro, eh, ãh, a televisão em cima: "compre o seu carro, compre o seu carro", não sei o quê, eh "adquira uh, o seu, o seu televisor, adquira"... Em suma, eh, uma série de bens, de bens de consumo, entendeu? Então você sabe que daí há um ano, dois anos,

SPEAKER 3: : Mesmo naquele prédio, onde tem cem apartamentos, você já não tem mais local para estacionar, já não tem mais condições de, de... Gozado, você vê, esse nível de agressão, esse nível de agressão, na realidade, não é nível de agressão de cidade, né? Cidade enquanto aglomerado, quer dizer, número grande de pessoas convivendo com relações complexas, né? Esse é um nível de, de problema de consumo, certo? Isso é opção de consumo.

SPEAKER 1: : Só isso. O consumo existe onde existe... Mas, mas... O congo, o conglomerado. Mas não só.

SPEAKER 3: : Quer dizer... Quer dizer, hoje se você pegar uma cidade pequena do interior, e a gente tem exemplo disso, né? O frango de vitrina aí, o frango de, de, de padaria... Né? Quer dizer, ele chegou, foi um grande sucesso, e acabou a galinha de quintal. ### Porque apareceu, ele não aparece sozinho, ele aparece com uma imagem de uma cidade grande, a imagem de progresso, a imagem do desenvolvimento, imagens falsas, certo? Mas só quem entendeu foi o consumo, claro. O objetivo único aí é consumir aquele frango de gan, de, de, de  granjas, de granjeiros que controlam o negócio. Mas ()...

SPEAKER 1: : Nesse, nesse aspecto, outro dia, outro dia... Às vezes, () está cheio de ()... Surgiu um negócio, su, surgiu uma situação, ãh, extremamente, assim, eh, cômica e ao mesmo tempo trágica, né? Nós estávamos conversando com um, uma pessoa, eh, que viveu a vida toda na, na, na zona rural. Ah... Quer dizer, pequena cidade de zona rural e, ent, e trabalhava especificamente com, com gado e laticínio. Então o que conhece... Conhece assim a, a fundo... Conhece a agricultura, conhece o gado... Eh, tem o, tem o  conhecimento, ãh, prático de, de, de leite, quando fermenta, quando... Eh, do creme, da manteiga, do processo, não sei o quê, o gado, só de olhar assim no... no leite, sabe? Inclusive percebe se esse leite é mais ácido ou menos ácido, não sei o quê, essa coisa toda. (riso) Realmente, é um... Viveu a vida toda nisso. É ()... (). O natural mesmo. É... Aí, es, estava... Vim aqui comprar leite, leite bê. Então, falou, ó... Viemos conversando, falou, ah, foi bom você ter comprado o leite bê porque, êh, esse leite é tirado, com muito mais higiene, eletronicamente, tal, tal. Eh... Até me assustei assim com a palavra eletronicamente, né?

SPEAKER 3: : Bom, ().... E o leite cê é misturado com água, não sei lá o quê, não sei o quê. Agora, ouvir isso, ouvir isso de alguém da cidade grande, quer dizer, alguém que nunca viu uma vaca, né? Que nunca viu tirar leite, que não sabe o que é o leite, que nunca tomou leite puro, é uma coisa, né? Quer dizer, realmente o cara vê na televisão. Leite bê é bom para a saúde. Quer tirar? Não, isso...

SPEAKER 1: : E nem (), eu nem, eu nem conhecia essa, essa propaganda. Depois ()... Não e eu ()... Você conhecia, ãh? É.

SPEAKER 3: : É, eu tinha visto propaganda, quer dizer.. Quando eu ouvi essa pessoa, que veio, aliás, mora no interior, mora, veio passar o fim de semana aqui com a gente. Repetir exatamente a frase que eu ouvi assim: Ah, então o leite bê é bom. Porque o leite bê, ele é, é retirado através de produtos, de, de instrumentos eletrônicos e tal. E ele não sofre processo com a mão do homem, então não sofre influências da mão do homem. E o leite cê, não. O leite cê, sabe lá, Deus, como é que ele é (), como é que ele é feito. Ele é misturado com muita água e tal. Eu levei um susto, meu amor, de verdade. Eu levei um susto danado, porque esse homem é um homem da zona rural, gente Quer dizer, é um homem que conhece um leite, né? Então, aqui a gente é enganado. Se a propaganda já enganou o homem que lida com esse tipo de... Não, acabou. Em termos de, ou seja, ela atingiu seus objetivos naquilo que é de mais profundo no homem, que é a parte do conhecimento. Porque, uma coisa é você enganar o homem que não conhece. Agora, você enganar o homem que conhece... Então, ela chegou... ### Senão eu não posso ficar aqui no... Diálogo do...

SPEAKER 1: : ### Aí, viu, senhorita? Eh... Isso aí... Aquilo que qualquer...  Eh... Qualquer...  () Qualquer desses filmes de, de publicidade, né? Porque a televisão está difícil, né?A televisão... Não só a televisão, como o rádio...  Não, qualquer meio de Um, um índice de credibilidade impressionante, né?

SPEAKER 3: : Eles acre ditam, né?

SPEAKER 1: : Acreditam realmente, quer dizer, quando o, quando a... A gente vê na, nas propagandas aí, estúpidas, né? O médico apresentando um determinado produto, né? Ãh, na televisão, receitando, não sei o que, para a gente, você percebe, assim, o que há por trás daquilo tudo, né? Mas o, o, o, in, o, o, in, o uh, ah, a grande, a grande maioria do, do, de quem é, do, do pessoal que assiste televisão, quer dizer, ele realmente recebe aquilo como uma informação, com uma credibilidade, É impressionante. Ele acredita. O médico receitou, e... Esse é o leite, é o leite bê. É o leite indicado para criança, porque se eu der o leite cê agora... Bom, diga-se de passagem () realmente. (risos)

SPEAKER 3: : (risos) Aliás, fazia, assim, há uns dois, três, quatro, cinco anos, sei lá, acho que... que a gente está casado. E a gente, então, não tomava mais leite cê. Não comprava mais o leite cê. () não tem, né? Pra vender aqui na cidade não vende leite cê. Só vende o leite bê () E eu tomei, outro dia, um leite cê na casa da minha mãe, mas eu fiz um mingau, que é o mesmo que eu faço em casa. Na hora que eu fui tomar, gente do céu, que diferença que aquilo estava. Eu não sabia se eu tinha (), se eu tinha posto coisa a mais, coisa a menos. Fiquei imaginando, assim, qualquer erro, né? Na... Não era não, era o leite. ()

SPEAKER 1: : Não, e isso, in, in, inclusive, () chega à patifaria, né? Eh... Conversando outro dia com Eu sou ligado a aí... A esse, esse mercado de leite. Eles distribuem o leite cê na periferia, porque é o leite que está pelado e tal, então o preço é menor. Então... Ele é de consumo na periferia, né? Não, mas aí é que está. Então o que argumentava o indivíduo aqui, que se o, se fosse, se o leite bê viesse para o centro da cidade, onde o poder aquisitivo é maior, quer dizer, sobraria o leite bê para a periferia. Então... uma grande visão, assim, de, de, de... 

SPEAKER 3: : De comércio, de comércio, ali... ().

SPEAKER 1: : Mas o que ele estava querendo dizer, assim, () visão humanitária né? ()... Não é humanitária... ###

SPEAKER 2: : ().  Está bom... É, se dá um (). Eh...

SPEAKER 1: : Então, o leite bê seria desviado, ãh... Para a cidade e o leite cê seria servido, justa mente justa mente, na periferia, no,  nos bote quins bote quins, esquinas, padarias de esquina de periferia, né? Quer dizer, algumas casas, em 

SPEAKER 2: : Porque só se vende na lanchonete de luxo Não é? Porque não é de consumo popular.

SPEAKER 3: : Não, mas... Já que... Bom, nisso aí a gente tá num negócio de consumo, né, não... Isso aí a gente sai da cidade grande. Isso aí a gente cai na cidade pequena. Eu já vi esse exemplo nosso aí de um agricultor ser enganado, () leite. Por exemplo, estar com leite  bê é melhor que o leite cê. () porque é sinal de que não conhece nem leite bê nem leite cê, né? Não, não, não, não é que ele não conhece, eh... Ele acredita. Não é, é que ele acredita, ele acredita.

SPEAKER 1: : (), bom. Ele conhece... Esse fulano, esse indivíduo, ele, ele é muito mais, está muito mais sujeito, assim, a uh, a uma promoção dessa, inclusive, do que, do que eh, a dona de casa aqui na cidade, que tem que, que, que enf, enfrenta o problema dia a dia, vai lá, tal, não sei o que, pega o leite... paga mais caro, eh, então ela começa a perceber que existe uma série de, de, de, de, de falcatruas () nessa propaganda, nessa promoção. É? (Risos) Não, mas é isso mesmo, né? Quer dizer, ela começa a perceber, quer dizer, você, você entra hoje, veja bem... Você entra hoje...  Não, () mais facilmente enganado. Ainda, as, as, as feiras livres de São Paulo, uh... Eu estava conversando... As feiras livres de São Paulo, aos sábados e domingos, os preços... Sobem. São... Sobem, né? Por quê? Eh... Nos sábados e domingos, eh... Vão maridos, né?

SPEAKER 3: : Ou vão... As mulheres trabalham fora.

SPEAKER 1: : As mulheres trabalham fora. Vão fazer compras. Durante a semana... Não conhece muito bem o preço das coisas. Durante a semana vai a dona de casa mesmo. Então ela vai, ela pechincha, ela briga, ela, ãh, apronta qualquer coisa, né? E então o preço é mais baixo. Sábado e domingo, ãh, aumenta, né? A tabela, a tabela de preço. E aqui na () não tem () (risos).

SPEAKER 3: : Só domingo. (risos) Domingo, só, é a nossa. (risos) E olha, domingo é a nossa. Eu fui umas duas vezes só nessa daí, né? Linda, maravilhosa, divina essa feira aí.

SPEAKER 1: : Não é linda.

SPEAKER 3: : Linda, maravilhosa, divina. Domingo, né? () (). Qual que é? Fica aqui embaixo do Minhocão. fica entre São João e a Ala meda Ala meda Rocha. A minha avó foi domingo (risos). Domingo, (). ### Se for comparar... Mas comparado... A feira de domingo, como é que tá o dinheiro do japonês desgraçado aqui debaixo? Nossa senhora! Eu fui assim, eu fui duas vezes só, né? Depois não fui mais, mas eu vou começar a ir mesmo. Porque você vai assim, realmente se você vai com cinquenta cruzeiros, você compra a verdura da semana. ### Subiu não madame, subiu não madame, subiu. Só isso que o japonêsinho fala. Choveu né, madame, choveu, e depois assim: tá seca né madame, tá seca. É a única coisa que a gente fala, quer dizer, pelo menos o feirante é um cara que tem o () e não tenta me enganar nesse nível, né? Lógico, (risos) ele tem muito mais anos de (risos), de janela. E não adianta eu querer discutir, lógico, não adianta eu querer discutir com o japonêsinho de baixo, porque... Por falar em japonêsinho, o que, o que a gente encontra em quitanda... bomboniere, né? Buraquinho onde chocolate agora. Eh...

SPEAKER 1: : (risos) Ah, agora já começamos agora. (risos)

SPEAKER 3: : Do que? ### Colônia japonesa, exatamente. Eh... Colônia japonesa. ###

SPEAKER 1: : Colônia japonesa, é colônia por, eh, colônia portuguesa tomando conta das padarias.

SPEAKER 3: : Portuguesa, mas Darcy não é, nego, olha, de verdade, nego. Eu já comentei isso com você uma vez, né? O que eu tenho observado aqui no nosso, aqui no bairro mesmo, aqui no bairro, assim, papelaria, eh, quitanda, e não é só quitanda, aqui vai virar armazenzinho... Eh... Eh, eh, eh, é quitanda... Mas, você veja bem uma coisa. Já é armazém (). E, lógico, buraquinho de artigos importados. Hum... E buraquinho de... Chocolates. Começa com chocolates e bombons. Interessante... Eh... E eles não falam uma palavra em português. Isso é a primeira coisinha que aprende, né? Isso é a primeira coisinha que aprende, né? Conhece o cruzeiro. Sabe fazer troco. Agora, uma palavra em português não entende. Então tem um empregado,  ### ### Um empregado, assim, que fala um português, que ela pode atender. Mas quem fica na caixa, é o companheiro. Aí você passa por lá daí, assim, dois meses. Aí já não está mais aquele empregado. Tá o Patrício, né? ### E mais três japonêsinhos. Aí ele já ampliou mais uma portinha do lado. Eu tenho acompanhado aqui. Faz cinco anos que eu acompanho essa evolução aqui dentro desse bairro.

SPEAKER 1: : ### Está sendo tomada. (risos)

SPEAKER 3: : Qualquer dia eu vou tentar levantar. Assim, o quê, nesses cinco anos, japonês abriu aqui dentro desse bairro?

SPEAKER 1: : Só () cinco ()... Ah, eh, e aí tem... Veja bem. Seu bairro mesmo. Se você pensar em termos de mercado... É a () isso... Não sei o quê, são produtos horti-grangeiros. Então, normalmente, quem é que ()? Não, mas...

SPEAKER 3: : Quando chega a produtos importados e, e exportados ()...  Também tem uma explicação.

SPEAKER 1: : Também tem. () (risos). Quer dizer, o pessoal que está chegando conhece. Quer dizer, o... Hoje, hoje, eh, Hong Kong, eh, Japão... Tem...

SPEAKER 3: : ### Porque, se encontra coisa made in Japão, você justifica, né? A loja. ###

SPEAKER 1: : É simplesmente porque tem mais, ãh, tem mais facilidade de, de, de, de, de obtenção disso. Eh... Deve ter, eh, uh, eh, alguma razão mais ou menos assim para isso, né?

SPEAKER 3: : Eu queria ver o João da Silva montar uma lojinha de, de chocolate e ir para frente.

SPEAKER 1: : (risos) () o João da Silva não está aí, (), nessa de chocolate, né? Não está nessa aí de fazer comércio. ### O problema, inclusive, muitas vezes, é falta de, até mesmo de estrutura, viu? Eh... Eh... A gente vive dizendo, os portugueses, e não sei o quê, controlam, dominam o negócio de padarias por aí, não é? O fato é que existe em São Paulo hoje, eh... Quer dizer, uma padaria, ela é dona, ela pertence a  Quer dizer, é, são associações de indivíduos que têm, hum, () lá suas economias, não sei o quê, e compram uma padaria. Daqui a pouco eles compram outra padaria, outra padaria. Então, você, ãh... Cada um toma conta de uma, então... É, você vê que, que eh, é uma, é uma forma, inclusive, de, de, de organização deles.

SPEAKER 3: : Mas a gente justifica enquanto, realmente, indivíduo estrangeiro. E que tem...

SPEAKER 1: : Você entendeu? Um mínimo de, de, de, de...

SPEAKER 3: : De capital, né? Porque... Tem um problema de se garantir. Aí é um problema de se garantir e sobreviver num país estranho. É um tipo de atitude que a gente já comenta, assim, há muito tempo, todo estrangeiro parece ter, né? Não sei até que ponto o brasileiro, saindo daqui, teria esse mesmo tipo de atitude. Parece que em países daqui da América do Sul a característica é a mesma, né?

SPEAKER 0: : Não sei se fora. Não, não.

SPEAKER 3: : Eh... Na América do Sul a gente sabe, assim, quer dizer, brasileiro vai lá...  Não, brasileiro...

SPEAKER 1: : Um brasileiro na, na, na, na, na Bolívia... Eh, é o, o comerciante. Uma lojinha de batidas, () mas é... ###

SPEAKER 3: : É a mesma imagem que a gente tem aqui, do japonês.... Colônia libanesa, de um modo geral, montando suas lojinhas e um garantindo o outro. O problema é a sobrevivência em terra estranha.

SPEAKER 2: : Sobrevivência em terra estranha é sinônimo de dinheiro. O brasileiro, como está em terra pátria, num... Está seguro, né? O chão é seu, então não precisa ter esse tipo de preocupação. É.

SPEAKER 1: : É, mas, eh, ãh, a coisa não fica só ao nível de preocupação, não, entendeu? O indivíduo que tem aí... () Não, ()... Está muito ligado, assim, inclusive ah, a oportunidades, né? A oportunidades de de... Começar alguma coisa. Quer dizer, o indivíduo que hoje... () Então vamos lá. () que hoje mora lá em Vila Nova Cachoeirinha.

SPEAKER 3: : Que queira progredir uma vida... Nós chegamos conhecer esse bairro? Você conhece esse bairro?

SPEAKER 1: : Conheço, sim. ### Onde fica? Depois da, da... Para cima da Freguesia Do Ó.

SPEAKER 3: : Porque eu tenho usado esse bairro como exemplo ()  situação de trabalho. Eu tenho usado Centro da Cidade, o Higienópolis, () Vila Nova, Cachoeirinha, todo dia. Eu quero pegar um outro bairro como ponto de referência e não consigo. Só pego Vila Nova Cachoeirinha. Não sei onde fica, não conheço o bairro.

SPEAKER 1: : Ele fica depois, depois da freguesia atual, mas bem, bem de pois.

SPEAKER 3: : de pois. Bem depois, sabe? Porque assim eu já começo a usar como um (), sabe?

SPEAKER 1: : Pelo menos o que é. O pessoal já está, está subindo aquelas serras ali, da, da, da, da, da ali para (), né? ### Então já está... Loteamento, não sei o quê, estão entrando por aquelas serras todas. Eh... Não, a Vila Cachoeirinha é (risos)... É como Niterói? (risos)

SPEAKER 3: : ### É?  É. Como é que é? Não tenho...

SPEAKER 1: : Não, é como Niterói, não. Como, é... É usada, como um recurso, assim, né? Que quer falar... Bom, esse cara é de Vila... Não, porque (), () assim...  Vila Nova Cachoeirinha, está () por aí.

SPEAKER 3: : Barueri, não é? Você estava em... Exemplo, assim, de seguro e tal, né? Se você pegar Barueri, você pegar a Penha, né? Teve até, um tempo atrás, que você podia usar a Penha, assim, como... Refúgio de um tipo de população. Agora não, eu não sei por que que eu estou vindo aqui na Nova Cachoeirinha, inclusive. Acho que alguém me deu esse exemplo e eu não tirei mais da cabeça. E eu preciso pegar, porque não deve ser o pior bairro de São Paulo, né? Não deve ser o bairro mais pobre de São Paulo, é evidente.

SPEAKER 1: : É, infelizmente não é o pior, né?

SPEAKER 3: : Não é, quer dizer, não é o mais pobre. Como eu tenho usado para situações assim, eu preciso pegar um que não seja aquele bairro preferido, seja um realmente mais estrepado em São Paulo.

SPEAKER 1: : Ah, vai ser difícil escolher. (risos)

SPEAKER 2: : (risos) Não, você pode pegar qualquer um de periferia aí, ()...

SPEAKER 1: : Não, tem bairros, tem bairros de periferias aí até... Bem, bem, bem razoáveis, certo? Assim, bem, bem... Até mais ou menos, favorecidos, até? Sabe? Agora... Ãh, em bairros mais centrais, aí, você vê a situação é... Muito pior.

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 3: : Esses dias, conversando com a, uma amiga da gente que trabalha no metrô.

SPEAKER 2: : ### (), fichinhas aí de orientação ao público, né?

SPEAKER 3: : Para poder usar o metrô, usar o ônibus de integra ção Mas (), quer dizer a menina não é daqui, foi de ()... E não tinha noção do que era São Paulo, assim, não conseguia nem andar aqui dentro, né? Não conhecia o nome de uma rua. Em dois meses né? () Em dois meses, realmente, ela conhece. Então, temos um bairro de localização dentro de São Paulo, muito mais do que... Pelo menos, ela me diz nomes de lugar, porque eu moro aqui há trinta anos e não conheço. ()

SPEAKER 1: : A locomoção den, dentro daqui, grande São Paulo é... Muito pequena, realmente. Então...

SPEAKER 3: : E, é, e, é colocando essas coisas para a gente fazer, até que ponto? O pessoal que mora nesses bairros de São Paulo não é subúrbio não, né? É bairro de São  Quer dizer, o indivíduo não conhece a Praça da Sé.

SPEAKER 1: : Não, é a, a Praça da Sé. A Praça da Sé é um dos lugares... Não Praça da Sé como ponto () central. É um dos locais mais, mais conhecidos de São Paulo.

SPEAKER 3: : Mas ele não conhece realmente, quer dizer... Assim... Como ele trabalha. Quer dizer, ele trabalha em bairro distante do seu, certo? Pode trabalhar em bairro distante do seu. Mas é bairro com bairro. Então, dificilmente, esse indivíduo tem acesso a São Paulo. Então, assim, se você passar pela Avenida São João, que a gente já sentiu isso, né? Domingo à noite, A São João, a Direita, esses lados ()... () da São João, né? () agora aquele é feito com o... Considerados o centro de São Paulo. Ele é ()... Do, da população...  Interioranos, é... População suburbana, de um modo geral. Sim, mas que, que em sua maioria são...  Do interior, que veio para cá e parou, não parou, parou aí () de São Paulo. Não conseguiu entrar em São Paulo, parou na entrada. Lá eles estão morando e estão trabalhando em outros bairros e tal. Mas São Paulo para eles, enquanto o centro da cidade se resume em São João, que no domingo eles vêm no cinema. Vêm no metro, vêm em outros lugares, () um pedaço de pizza, vêm comer uma pamonha. (risos)

SPEAKER 1: : Não, não vem comer pedaço de pizza.

SPEAKER 2: : (risos) Vem comer pamonha.

SPEAKER 3: : (risos) Eu falei pizza porque me deu fome Agora... E eu não gosto dessas coisas. Mas pamonha. Vem comer. Aquela lojinha de pamonha é permanente. Eu nunca vi milho dar o ano inteiro, mas aquela lojinha de pamonha é permanente na São João. () () o ano inteiro. ###

SPEAKER 2: : Acreditam... É, um milho falso, mas eles...

SPEAKER 3: : Alimenta o pessoal da periferia que vem para aí comer. Agora... Esse é o pessoal que vem para cidade passear. Não, mas, e, e... Alguns... ###

SPEAKER 1: : Mas, in, in independente disso, mesmo, mesmo o fulano assim, mais ou menos, eh, não tão da periferia assim, não se locomove muito de São Paulo, né? Não, não se locomove. ### Pelo tipo de vida que se leva, realmente. Vamos dizer. Agora, isso não é só São Paulo, né? É, ué... É. Então, eh, é o seu exemplo, né? É o exemplo assim, Não, o meu era um exemplo terrível. Você vai para o serviço, volta para o serviço. () um exemplo terrível. Serviço, trabalho... É isso aí.

SPEAKER 3: : É terrível. Você... Se você tem chance... Eu até chego à conclusão, às vezes, de que trabalhar longe de casa é... Quer dizer, é um negócio, assim, terrível quando a gente vai pensar em transporte, trânsito, na locomoção e tal. Mas é uma oportunidade que o indivíduo tem de, de saídas do seu local de residência, né?

SPEAKER 1: : Mas isso sempre...

SPEAKER 3: : Se não... () É um incômodo, entendeu? Mas sabe o que você vai provocar? () Você vai provocar aquela, assim, eh, aqueles objetivos que a gente encontra por aí em alguns projetos, né? Eh... O objetivo é fixar o homem à terra, por exemplo. né? Então é fixar o homem no bairro, porque pensa bem, se ele mora no bairro, trabalha no bairro, se alimenta do bairro, no seu bairro, com vida própria, né? Enquanto comércio e tal, E se fixou só o cara lá, o cara não sai de lá mais para nada. E tem uma tendência, assim, a sentar, né, o traseiro em qualquer lugar e fica sentado naquilo lá, não sai de lá, não.

SPEAKER 1: : Isso daí supõe uma, uma organização, uma organização, um planejamento, assim, inclusive, orientado pelos, pelos órgãos competentes, aí.bgfhfghfghgfhfghfkjhkhj

SPEAKER 3: : Fixar ou não fixar? É, da, da()...

SPEAKER 1: : Não, da, da fixação de determinadas, eh, áreas de comércio, diversificação do comércio do mesmo bairro. Para poder fix ar... A obra... fix ar ou não. Poder fixarem. Inclusive no local de trabalho. Eh... Agora, pelo que se vê aí, parece que ninguém tem a mínima ideia disto aí, né? Se há alguma, alguma distribuição em São Paulo ainda que você ()... Eh... É feita em função de, de, de, da percepção do interesse, do interesse, às vezes. A percepção comercial, que é o caso de determinadas ruas, em... Eh, uh, os próprios indivíduos, os próprios comerciantes tomam a iniciativa de instalar, de instalar, assim, eh, lojas do mesmo tipo, né? Lojas de tecidos, então... É o caso da vinte e cinco de março, da Zé Paulino, certo? Eh... O Arouche está virando centro de loja. João Cachoeiro lá em cima, né? É. Ou, ou algumas outras áreas, como a Santa Ifigênia, de material elétrico. Ficou quase que determinado, isso ficou determinado por uma, uma conveniência dos próprios comerciantes, né? Quer dizer, é... Isso, inclusive, porque São Paulo sendo uma cidade grande, se tem uma casa de, de lâmpadas aqui, tem uma outra daqui a, a quinhentos metros, e se tiver até juntas... Ele vai para, para aquele centro comercial. Ãh... Agora, o fato é que nunca, ãh, se percebeu essa, essa, essa tentativa de, de, de diversificar uma, numa determinada região o, o comércio num determinado bairro.

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 1: : Isso tem ocorrido espontaneamente, (). Lapa tem um comércio mais ou menos diversificado, Pinheiros. que é um, ãh, um outro caso também, comércio mais ou menos diversificado. Eh... Você pega um bairro antigo de São Paulo, lá no, no Ipiranga, não tem isso. Pega, ah, a Penha, eh, isso é incipiente, quase também não, existe muito pouco.

SPEAKER 3: : Ãh... Eh... Então, mas se isso existisse, o indivíduo ficaria na Penha, entende? E não teria nem sequer a chance de... E ver outras coisas, porque tempo não lhe sobraria.

SPEAKER 1: : Ah, mas aí... Isso daí, né? Entra Entra como lazer, não é não? Mas não tem... Você acha que o fato de você se locomover com ãh, um determinado local, não sei o que, não é para, para, porque fazer uh, eh, fazer compras, não sei o que, está relacionado à, à necessidade, né? Eh... Teatros, ãh, cultura...  Não sei, não. ()....

SPEAKER 2: : Não sei o que seria sair (), não sei.

SPEAKER 3: : Agora você leva teatro em um bairro, por exemplo, e você vai terminar, ali, fixando o cara... lá dentro. Se bem que o objetivo não é esse, né? O objetivo é () esse tipo de população.

SPEAKER 2: : Não sei, não sei o que seria melhor, não sei o que seria melhor, deixar que o indivíduo realmente se movimentasse, ou provocar uma movimentação ou provocar uma fixação.

SPEAKER 1: : Você vai provocar movi, movimentação do indivíduo? Em função... Para atender a uma necessidade que ele tem. Quer dizer, se é termos de lazer, se é termos de, de, de livre opção... Mas não () em termos de lazer, não.

SPEAKER 3: : Estou vendo como um conhecimento, oportunidade de conhecer as coisas, oportunidade de ter relacionamento com coisas diferentes, só isso. Não é nem lazer, não. Quer dizer, sei lá, se eu trabalhasse, por exemplo, num outro bairro, pega um bairro distante, se eu tivesse ido para Osasco, por exemplo, para ser uma saída ()... ### Ter que viajar todo dia de São Paulo para Osasco (risos)

SPEAKER 1: : Eu estava desesperada da vida. () ###

SPEAKER 3: : ### ### Você já respondeu essa pergunta. Agora, enquanto planejamento, enquanto visão... Eu sei que eu teria, sim, oportunidade de ver uma série de coisas, de observar alguns comportamentos, algumas necessidades, problemas que você vê nessas regiões. Eu sentiria, talvez, muito mais na carne o problema de trânsito, entende? Que eu não sinto. Meu único problema de trânsito é o... Tanto melhor para você. Tanto melhor... Não, () passa para mim, quer dizer, outros passam para mim, mas eu não dirijo, eu não tomo ônibus, eu não tomo táxi. Percebe? Então, eu só consigo, ainda, saber que o trânsito em São Paulo é um sério problema porque outros trazem até mim esse problema e também porque eu tenho alguma percepção, ainda, de, ao atravessar a rua, perceber que o cara que está no volante ou o cara que está no ônibus está lá parado há meia hora. Mas não porque eu tenho oportunidade de, de acesso. Isso eu não tenho, não. Porque eu vou a pé. Eu transito por cinco ruas, especificamente, na ida e na volta. Como eu chego só à noite, né? Chega no sábado, domingo, também os botecos são esses daqui. Os restaurantes só nesses daqui. Os amigos são esses daqui. Então eu não tenho chance de perceber assim o que, por exemplo, Penha... Há quanto tempo eu não passo na Penha? Não sei há quantos anos eu não vejo a Penha. ()

SPEAKER 1: : Se você, eh, se propuser a isto como um ato voluntário, né? Certo? Se... você escolher o ônibus que você quiser... Não, mas ()... O meio de transporte que você quiser, é uma coisa. É, se você... Agora, você fazer isto em função de uma necessidade, por exemplo... Você tem que sair da, da, da, da Penha para, para vir à cidade?

SPEAKER 2: : É... Ãh... Não acredito que eu realmente não sei o que seria.

SPEAKER 1: : Conhecendo uh, a situação de transporte que a gente tem por aí, esse indivíduo não tem condições, eh, de transporte próprio coisa desse tipo. Se tem condições () de transporte próprio, quer dizer, ãh, o problema do trânsito, é o problema do tempo que perde.

SPEAKER 3: : ### ... () isso também nos, em termos, assim,  planejamento.

SPEAKER 2: : ### ... que você monte as, as áreas, né? De... Sensitivas, assim, em vários locais. É, mas ()...

SPEAKER 3: : Então, () começo a ver, assim... Você vai cair num problema de isolacionismo, ou não, né...

SPEAKER 2: : Cidades do interior, como cidades, assim, lugares pequenos, comunidades...

SPEAKER 3: : Onde o indivíduo trabalha, né? Tem sua família e estuda, né?  Mas até um tempo atrás, por exemplo, ele não tinha... Espera, isso eu não enten... Eh... Ele não tinha...  Tra, trabalha, eh, ih... E, es, estuda. Trabalha, tem a sua família e estuda. Não, não é, não. Não, vamos pensar, o indivíduo consegue ter até um cer, uma certa idade, ele consegue ter lá dentro da cidade tudo isso. ### E ainda há outra variável aí, né? Muitos outros jovens teriam estudado Aí já é outro problema. Certo? Porque tinha maior... É lógico, mais facilidade, ()... Mais fácil o acesso e uma escola na sua cidade. Certo? Quem tem recursos para sair, sai. ###

SPEAKER 1: : Ah, sim. Quem tem chances para sair... Eh, para... Para continuar. ###

SPEAKER 3: : O fato de sair, quer dizer, quando você sai da sua cidade e vai para cidade vizinha, que já é maior, O que você tem, assim, de de abertura, em termos de, de visão das coisas, é mais rico, né? Talvez você comece a sentir a complexidade da vida com grupos maiores.

SPEAKER 1: : E.. Isso aí... Eu acho que aí, inclusive, é, eh, eh, é um problema assim, que... Quer dizer, uh, no interior... Quando você pensa em termos de interior ###

SPEAKER 3: : Ele é muito mais estratificado do que a grande cidade, né? Bom, eu não estou querendo chegar, não estou querendo (), estou querendo no indivíduo estagnado.

SPEAKER 1: : Não, não, mas o indivíduo não é estagnado porque ele quer... Espera aí.

SPEAKER 3: : Exatamente. É porque ele, ele é forçado a deixar de ser estagnado ou ele é forçado a ser estagnado. Certo? Então, aí é que eu estou vendo assim. Como... uma linha geral de atuação como um planejamento, que você força o indivíduo a sair, é uma política de atuação. Êxodo do rural pode ser uma política realmente, certo? Você força o indivíduo a sair do campo. É uma política adotada isso, ()... Ela pode ser questionada, certo? Ela pode dar mil entraves no desenvolvimento urbano, eh, ih, mas ela pode, por outro lado, provocar alguma, alguma mudança no desenvolvimento rural. Bom... Bom... Mas ele é provocado, né?

SPEAKER 1: : Então vamos chegar mais lá adiante.

SPEAKER 3: : Então se você provoca a saída do indivíduo de uma cidade pequena para uma cidade maior, você provoca, lógico, assim, oportunidades do indivíduo ver determinadas coisas. O problema que a gente sente é a volta desse indivíduo. Aí não existe nenhuma estrutura, realmente, não chego nem a chamar de infraestrutura, mas não existe nem estrutura para receber esse indivíduo de volta. Então ele volta... Desajustado totalmente com o meio que ele deixou, E aí ele vem para grande cidade e é desencontro total, né? Aí é o grande problema da grande cidade. Considere ()...

SPEAKER 1: : Considere o seguinte, eh, () São Paulo, por exemplo, São Paulo é hoje uma, uma, uma anomalia, né? Quer dizer, uma cidade num, num, num, num estado que tem em torno aí de, eu acho que deve estar hoje em torno de dezoito milhões de habitantes, e que reúne aqui na, na, no grande São Paulo, Aproximadamente uns dez milhões.

SPEAKER 3: : É, é a cidade de dentro e dentro de cidade de fora. Exato, quer dizer, é...

SPEAKER 1: : Isso é um, ah, é um, é um absurdo, quando, quando... Ter uma cidade de dez milhões de habitantes, eh, num país, eh, vamos dizer, subdesenvolvido.

SPEAKER 3: : ### Ninguém vai falar disso.

SPEAKER 1: : Você tem uma cidade de dez milhões de habitantes num país subdesenvolvido. O quê que você... O quê que você vai ter? O crescimento da cidade, o inchamento da cidade, foi feito assim, forçado, né? Pelo êxodo da zona rural... Mas, ()... O êxodo ()... Das pequenas comunidades do interior.

SPEAKER 3: : ### ###

SPEAKER 1: : () De uma cer ta cer ta forma, sim.

SPEAKER 0: : Por quê?

SPEAKER 1: : Bom, aí, então, vai chegar a... Aí você vai chegar a causas, assim, Como que é a organização, a organização, eh, social do interior?

SPEAKER 3: : () Não, você pode chegar a uma relação. Você pode chegar a uma conclusão muito simples. Eh... Assim, por exemplo, no momento em que você optou por um tipo de desenvolvimento de indústria, né? Você tem que provocar, sim, realmente um êxodo rural, porque o enfoque maior do desenvolvimento econômico não foi mais no rural. Não, depoisdo, to, to, todos...

SPEAKER 1: : Eh... Aí é que está uh, o problema. Quer dizer... São Paulo é um centro de atração, êh, econômica. Ou seja, o indivíduo não tem, ãh, a atividade. Porque a gente estava pensando agora há pouco em termos de oportunidade de estudo, não sei o quê, de continuar... Mas se você pensar em termos da grande população que se locomove para São Paulo... Também, para ()... Está procurando uma oportunidade econômica. Quer dizer...  No interior, hoje, que está na zona rural, primeiro, houve uma uma, uh, ma mudança, eh, razoável em termos de São Paulo, ou de estado de São Paulo, de uns dez anos para cá. Quer dizer, ah... Havia aquelas grandes fazendas de, de, de, de, de café. Então isso implicavam lá na, na concentração de, de, de famílias dentro da fazenda. certo? Eh... Não havia mecanização da, da lavoura na época. Certo? Então () eram necessárias aquelas famílias enormes, e tal... Aquelas colônias que a gente às... Vê frequentemente, aquelas antigas fazendas. Quer dizer, à medida que o café foi sendo erradicado em São Paulo, grande parte da, da, da, da, da, da da zona rural começou a receber, eh, a tecnologia de, de, de, de, de, de tratores, certo? Não é? Eh... Mudou-se o tipo de cultura, eh, de cultivo da, da, da, da terra. Então, onde você tinha um, uma fazenda com, com trinta famílias, num determinado momento, isso, eh, essas famílias começaram a ser empecilhos para o,  para o,  para o fazendeiro. Foi quando se deu... A grande... A grande evasão, assim, para a cidade, periferia da cidade. Bom, periferias e cidades, o quê que o indivíduo faz? Os... Os centros do interior de São Paulo não oferecem nenhuma oportunida de... Porque São Paulo polariza tudo, a cidade de São Paulo polariza tudo, todas as indústrias estão aqui. A grande maioria das indústrias estão aqui. As grandes, eh, eh, uh, eh, ah... As oportunidades de... Trabalho remunerado, mais ou menos regular, estão aqui. Então ele fica na periferia durante um certo tempo, depois ele não tem outra alternativa. Ele acaba vindo para São Paulo, então vai vir para a periferia da periferia de São Paulo. vivendo uma situação... Que, inclusive, é... Questionável, né? Não sei... Você... Não sei se você teve, êh, oportunidade, quando eu estava conversando lá, que, eh, que nós estivemos no interior. Você lembra que nós estávamos conversando né? Eh... A visão, ãh, a visão que a gente tinha era o seguinte, que o indivíduo vindo para São Paulo... Era, assim, até meio, mas ou menos idealista. Ele iria sofrer muito mais, reconhecendo O indivíduo, vem lá, semialfabetizado ou analfabeto. Vem para São Paulo, ou seja, primeiro, ele não vai conseguir nem, nem um... Um trabalho qualificado. Então vai ser simplesmente servente. Eh... () estava antevendo toda a trajetória do que seria esse indivíduo, eh, ganhando o insuficiente para, para se alimentar, para, para morar, para dar o sustento da família. A gente já estava antevendo a meninada cair na marginalidade, sabe? ### E, então, ah, (), argumentamos que lá, na pior das instâncias, ele... Na pior das instâncias, ele viveria, conseguiria viver... E evitar isso, né? Ingenuidade, porque Simplesmente é o argumento do cara. Bom, em São Paulo, pelo menos eu como. Quer dizer... Então, porque a situação lá, realmente, eles estavam sentindo na cara. Quer dizer, aqui, ele, como ele, ele consegue se alimentar? Bom, a garotada, eh, vai para lata de lixo. Lá não tem lata de lixo, né? É, mas é esse, esse é o pro blema Não tem lata de lixo para virar.

SPEAKER 3: : pro blema de, de imigração, assim, de São Paulo, não é migração de interior, né? É imigração geral dentro do país. ### Mas, então, veja... São Paulo, na pior das hipóteses, você roubando come. Num lugar muito pobre, você não tem nem de onde tirar tua comida, você não tem nem de onde roubar. Mas... Aqui, em último caso, você pega a lata de lixo, realmente tem sobra. Lá não tem sobra.

SPEAKER 1: : Voltando a uma cidade como São Paulo...  Mas aqui você sobrevive, né? Quer dizer, é uma cidade, num país desenvolvido com... Há o outro aspecto da questão. Eh... Com, quase, o grande São Paulo com, deve ter hoje, mais de dez milhões de habitantes, né? ### Tem mais de dez milhões, né? Resultado. Eh... Não existem recursos, rede de esgoto, água, abastecimento, eletricidade. Certo? Eh... Não existe o mínimo de possibilidade de, de, de planificação para, para, para... Eh...() Não tem nenhuma infraestrutura para receber esse pessoal ()... Para receber esse pessoal. Previstas, eh, () um fluxo mais ou menos previsto. Quer dizer, o fluxo hoje é previsto, né? Mas é impossível atender.

SPEAKER 0: : Então, o pessoal vai se estalando aí nos morros, né?

SPEAKER 1: : Vila Nova Cachoeirinha, que a gente estava falando agora há pouco. Quer dizer, eh... É conhecido assim, ãh, ãh, porque como, eh, eu me referia, assim, em termos de gozações, não sei o quê, mas é, era referido como antro de marginais, não sei o quê. () Toda a nossa periferia, ### De uma forma ou de outra, o indivíduo está, eh, obtendo, tentando obter uh a sobrevivência, né? E não importa, quer dizer, ele não encontra, ou encontra trabalho, ou encontra um caminho razoável, ou então, ele apela para a marginalidade mesmo.

SPEAKER 3: : ### ### Existe um planejamento, existe a simplificação, onde você prevê a opção, por exemplo, em termos de desenvolvimento, a opção vai ser a indústria. Né? Que tipo de indústria inclusive, no nosso caso, com automobilística, né? Eh... Isso não foi feito, nem um pouco, pensando assim como... Não foi planejado. Foi simplesmente opção, mas não planejado Foi opção enquanto momento. Porque, se, na realidade, ela trouxe uma série de problemas, né? Que ela desviou todos os recursos para a indústria, ela retirou os recursos da agricultura, quer dizer, acaba a agricultura e provoca realmente o êxodo rural. Essa população todinha vem para a grande cidade, vem para o centro industrial. Certo. Enquanto centro industrial, o centro não está equipado para receber esse pessoal. Porque as coisas não foram feitas paralelamente. Que dizer, o... Hoje, realmente, quando a gente ouve o () dizer que São Paulo, uma cidade que () não tem solução pra ela, né? Não tem mesmo, porque chegou num certo momento em que você não dá mais. Quer dizer, se não planejou antes, meu filho, agora você não conserta, né? Você não deu remédio para o cara, agora o negócio é deixar morrer.

SPEAKER 1: : Depois a questão não está nem em...  Ãh... Mas aí, isso é uma... Planejamen to... ### Pode planejar, no mínimo, né? Então, uh, os dados, os dados aí para os, os planejadores... Não, ()... Os dados para os planejadores terão as es, as estatísticas, não sei o quê, porque você está vendo a olho nu a coisa.

SPEAKER 3: : Certo, mas não vem o, não tem o... Não, mas eles teriam, é porque na realidade nunca...

SPEAKER 1: : É irônico

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 1: : () outros aspectos envolvidos, né? Né? São Paulo sempre se beneficiou da, da, da, da, da mão de obra. Barata, né? É. Eh... E... É interessante que é uma, eh, é uma coisa que a gente não... não percebe... não percebe, assim, à primeira vista, mas depois, conversando, tal, não sei o quê, com aqueles, aquele... Eh, pessoal mais antigo, eh, quando começaram as primeiras... a vinda dos primeiros... nordestinos, para cá, os grandes fluxos, grandes secas no nordeste e tal. Então, havia em São Paulo, (), por época de mil no, mil novecentos e vinte e por aí, na época, assim, da, do incremento da industrialização em São Paulo, um pessoal qualificado que ganhava um salário relativamente bom. A italianada do Brás, era... Quando começou o fluxo dos nordestinos, então.... ### O salário caiu. E, ah, existe uma, uma, um, um preconceito, inclusive, assim, do, do, do, do, do operário qualificado com relação àquela, ãh, aos nordestinos. Justamente por causa disso. Trabalhava... Quer dizer, eles estavam vendo, estavam percebendo na cara que estava piorando a situação deles. E esse preconceito, eh, a gente percebe assim quando conversa com esses velhos, operários, assim, qualificados, não sei o quê, (), que trabalham em indústria, você percebe, assim, quer dizer, que eles sentem o pessoal está vindo e vai piorar a minha situação, porque é uma mão de obra muito mais barata, quer dizer, eu não, eu não faço isso por tanto, mas ele faz, né? Então, se eu vou pensar, quer dizer, não é só a lenda do, do, do planejamento, há, há certas conveniências também, né?

SPEAKER 3: : Então, mas o planejamento implica em tudo isso, em prever tudo isso, Ele, ele é um elemento que, lógico, ele prevê, ele prevê a utilização. Ele não é nenhum instrumento vazio, certo? Ele é um instrumento, simplesmente. Para quê? Para ter mão de obra excedente? Para ter mão de obra mais barata? Ele, é lógico que ele prevê isso. Ninguém é besta se não prevê. Quer dizer, você sabe que no momento que você provocar o sério desenvolvimento aqui e realmente toda a migração começar a cair aqui dentro, você vai ter mão de obra, aí, abundante, assim, que você pode pagar dois cruzeiros a hora hora que o cara trabalha

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 0: : Porque nesse não está in terferindo in terferindo em nada. ###

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 2: : ### ### ### Mesmo assim, a formalidade existe. Não é sempre que existe um instrumento de controle. Então, não existe um aparelho... Eletrônico. À tua frente de controle. ###

SPEAKER 3: : Eu não acredito, realmente. Eu estou querendo voltar. ###

SPEAKER 1: : ### Eu só queria fazer uma observação aí. Que... Isto... Eh, esse fato de ser aproveitado, não... de obra excedente e não sei o quê, tenha sido, em um determinado momento, intencional. Porque... Não, não. Tenha sido intencional no sentido de, de, de, de planejado. Entendeu? O fato é que juntou-se uma necessidade com a oportunidade. Então juntaram-se as duas coisas num momento em que se percebeu que havia, eh... Se podia usufruir dessa mão de obra barata, dessa coisa toda. Si,. Né? Não... E saía muito mais barato, inclusive, porque o indivíduo vai se instalando, você... Eh, cai o nível do... O nível de vida, mas o indivíduo vai se acomodando numa, numa, numa outra periferia, na região, então não precisa água, Quer dizer, não precisa esgoto, não precisa eletrificação. Não é nem que não pre cisa...

SPEAKER 3: : pre cise. Não é nem que não precise. Não, não, não. ### Realmente a preocupação maior, na realidade, não é essa. Não precisa.

SPEAKER 1: : Não, eh, veja bem. Não existe, não, não precisa no sentido que não, não é cobrado, não é exigido isso.

SPEAKER 2: : Pois é. Ninguém cobra.

SPEAKER 1: : Então vão se espalhando esses bairros por aí, né? Quer dizer, eh, loteamentos, não sei o quê. Eh, chega num determinado momento e não tem mais solução. Quer dizer, é, uh, eh, é exploração oportunista, foi se prolongando durante longos e longos tempos, que hoje não tem solução. Hoje teria que ser retomado, mas retomado de que forma?

SPEAKER 2: : De que jeito, por exemplo?

SPEAKER 1: : Então, aquelas grandes hordas que vinham, hordas mesmo, né? ### O bairro do Brás (risos) é expulsado. (risos)

SPEAKER 3: : Olha, o que os italianos tão bravos, é porque os nordestinos ()... É, mas é uma, é uma invasão, né? Os italianos tão bravos, bravos, porque o Brás acabou, né? Quer dizer, é bairro de nordestino agora. ### Os italianos, os italianos estão todos saindo de lá. Quer dizer, o italiano conseguiu um dinheirinho melhorzinho na vida, ele sai do Brás. O Brás já virou nordestino. Não, e...

SPEAKER 1: : Quem não saiu até ô, ãh, quem não saiu até hoje é porque não está... Quem não saiu é porque não tem como...

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 1: : Não tem muito o que reclamar.

SPEAKER 3: : Está lá naqueles apartamentos pequenininhos. Então, porque ele mora num apartamento, () tem exemplo disso, né? Mora num prédiozinho, assim, de três andares, mas tem um apartamento com um quarto, e tal, nem que não pague condomínio, paga aluguel de dez anos atrás, aluguel antigo, não sei o quê. E é assalariado de nível baixo, né? Então ele fica por lá. Mas eles xingam o bairro da conco, o Largo da Concórdia, eles xingam aquele negócio todo, porque... E, inclusive, assim, tem preconceito, né? O preconceito, na verdade, é gerado por esse tipo de concorrência Quer dizer, né? Quer dizer, o cara é meu concorrente, se lasca, né? Brasa no cara. Então, um baiano desgraçado tomou conta do Brasa. ### ###

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 1: : ### ###

SPEAKER 3: : Tomaram.

SPEAKER 1: : Certo. ### ###

SPEAKER 3: : É se a gente for pensar assim, vou tomar conta de tudo, realmente.

SPEAKER 1: : Se alastrar, assim, com uma mancha negra, assim, com uma ferrugem, assim, que não vai... Agora, os responsáveis por essa mancha precisam... É, tem duas saídas, né?

SPEAKER 3: : Quer dizer, os responsáveis pelo fato da mancha ter crescido, é uma saída.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 3: : porque ninguém mais segura a mancha mesmo. Cidade, cidade... Sabe, mas é problema de de de de pessoal, de oportunidades, de de... de conhecer, assim, outras... Outras paisagens mesmo, né? ( )

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 3: : ### ### São duas... Duas questões dis distintas. Uma é que há realmente problemas de planejamento enquanto política de atuação né. Ou seja, desenvolve-se um tipo de economia em prejuízo de outra e isto provoca um tipo de movimentação de pessoal, certo? Bom Essa é a movimentação forçada, né assim...no seu sentido mais geral. Agora, a outra locomoção Em termos de indivíduos que possam sair dos seus locais e irem para outros locais, e é aí que eu acho que a mobilidade é um negócio que não existe aqui dentro. O indivíduo nasce, vive e morre dentro de um lugar sem sequer conhecer o lugar que está do seu lado. O...o

SPEAKER 1: : Hoje, se você pensar em assim, em termos de desenvolvimento tecnológico, certo? ### tanta velocidade, se teve tantos meios de locomoção certo, se teve tanta facilidade, facilidade no sentido técnico de se locomover de um lugar para o outro, certo? Então, tecnicamente, hoje a situação é completamente diferente do que era dez anos atrás, vinte anos atrás, há quarenta anos atrás. E apesar disso, é... nunca houve tanta dificuldade de se locomover. ###

SPEAKER 3: : ### É só quem tem recursos para isso. Então... Então, realmente, eu posso ir daqui para... daqui para para Paris em... metade do tempo, né, que eu faço. Quantas horas que eu faço para Paris? Dois. Então, eu posso fazer em seis, né? Se eu for de de Concorde, né? Só que para eu ir de Concorde, eu preciso do teu dobro do dinheiro que eu teria para ir para o museu. Então, não resolve nada, a gente estar na era da comunicação, na era dos transportes, na era da tecnologia, né? Se eu não um tutu para poder financiar a otimização desses trecos todos, né? Eu tenho telefone falando dê dê dê para o mundo inteiro e o indivíduo continua em carapipiba sem conhecer os ( ).

SPEAKER 1: : Não, senhora, eu falei Carapicuíba, todos conhecem Osasco. Passagem.

SPEAKER 3: : Tomada, passagem, (risos) passagem você percebe, nega? Passagem se ele trabalhar fora de Carapicuíba, além de Osasco.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 3: : Aí que está. Mas se ele for alguém de lá e se tiver assim, dentro de Carapicuíba ele tem emprego, comércio, educação,

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 3: : Não eu falei que Osasco é uma cidadezinha horrível, feia, suja. Então vamos colocar aah

SPEAKER 1: : Eu conheço Carapicuíba, tá. Eu trabalhei lá. Então Aqui está reduzido aquele conglomerado lá de barracos tá. Oa. Oitenta por cento. Ou talvez mais da população que que trabalha, população ativa de Carapicuíba,

SPEAKER 3: : não trabalha em Carapicuípe, trabalha fora. É assim con considerada cidade dormitório.

SPEAKER 1: : Exatamente. Então, veja o que signifi  o que significa  isso, né? Quer dizer, o fulano tem que se locomover. Éh aa Às vezes, para para Santo André, que é que é um polo de industrialização, morando em Carapicuíba, se locomover para Santo André, ele tem que levantar quatro horas da manhã para estar sete lá na  na fábrica. E volta à noite, nove, dez, oito, nove, dez horas da noite para casa. Em condições que quem já viajou de trem de subúrbio conhece. Éeee Então, a oportunidade de se locomover para algum outro lugar, sem sem condições, seria criar infinitas Carapicuibas por aí, né?

SPEAKER 3: : O ideal não seria, assim, o cara morar em Carapicriba, né? Trabalhar em Carapicuíba, mas perceber pelo seu trabalho o suficiente para poder utilizar os meios de transporte, comunicação, para conhecer o que existe em seu redor. Olha  Então aí ele vai a Osasco, né?

SPEAKER 1: : Então o problema é outro. Se ele trabalha, tem um razoável ní é nível de vida, certo? onde está incluída, inclusive, a a a possibilidade econômica, de ele se locomover né ? Quer dizer, o indivíduo o indivíduo que mora em Carapicuíba e viaja todo dia, ele não não  sai no sábado ou no domingo. Porque é mais uma passagem de ônibus, antes de mais nada. Mais uma passagem de ônibus. Primeira coisa, que é mais... É, dois cruzeiros deve deve estar a passagem por aí, não sei. Mas seriam mais dois cruzeiros.

SPEAKER 3: : Não, e aí depois também  tem outro sentido né.

SPEAKER 1: : Não vai sair. ### Ele vai ficar por lá mesmo. Não tem outro sentido. O que 

SPEAKER 3: : O que é que provocaria nos indivíduos a Aí não vamos pegar só o indivíduo que não tenha condições de... De pagar mesmo, né? Assumir transporte para poder sair. Mas o que é que, na realidade, segura os indivíduos dentro dos locais em que vivem? Por exemplo, alguém que vive na  ( )... Podemos dizer assim, não tem que não é rico, mas que poderia perfeitamente pagar uma passagem de avião, que poderia perfeitamente pagar uma passagem de trem, que poderia pôr gasolina no tanque do carro, né?

SPEAKER 1: : Essa tem o endereço certo.

SPEAKER 3: : Não, mas sabe, não é só dirigindo a você não É que a gente vê as pessoas com uma com um comportamento, assim, muito acomodado, muito quietinho no seu canto, entende? Sem necessidade de... Quer dizer, é o próprio canto onde vive e basta. O indivíduo se basta enquanto indivíduo aqui dentro. Eu não sei até que ponto é medo de enfrentar a cidade, medo de enfrentar as coisas, eu não sei até que... Não não é caso individual, não é você. ### Certo ? Estou questionando o problema que muitas pessoas conhecem. É você que é bicho da ( ). É bicho. É bicho da Vila Buarque.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 3: : Bicho daquele que aprendeu a andar  três quarteirões, condicionamento Pavlov assim, direitinho, e que se atravessar uma rua e sair dela, daí há dois minutos fica assim, nossa, preciso voltar para esse aqui, porque esse aqui, entende? Esse é o meu campo de ação, quer dizer, esse aqui eu sou dona, lá fora eu não sou.

SPEAKER 2: : Não sabe. Não Mas não é só nesse caso não mesmo.

SPEAKER 3: : Não é neste caso não, certo? É no caso assim de de acomodação mesmo, sabe? Para mim vira vício. Vira vício no cotidiano. Tem um monte de gente que não se mexe.

SPEAKER 1: : Veja a coisa bom Bom, há há um aspecto aí que eu não sei se você está considerando. Primeiro, o o indivíduo hoje que mora aqui na Vila Buarque,

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 1: : Não,  Como exemplo, né? Certo? Éee Que tem um a grande maioria Tem um padrão eh, padrão de vida pagar um apartamento e tal, eh se abastecer no supermercado, de eh tomar o seu cafezinho ali, certo? É um indivíduo que normalmente ele trabalha, ele tem que se desdobrar em termos de trabalho. Ele trabalha de segunda, ### Quer dizer então são pouquíssimos aqueles hoje que moram em Vila Buarque e que não precisa, vamos dizer assim, que está fora, não estou tomando Vila Buarque como um exemplo, mas que está fora desse padrão. Então eles estão mantendo, lutando, né? para manter um determinado padrão, certo? Ter luz elétrica não sei o que elevador, ( ) bar de esquina, ou ou ou a livraria, que seja. Realmente, a grande maioria não tem recurso, cara, para grandes, assim, aventuras.

SPEAKER 3: : Mas eu não vejo como grandes aventuras, eu vejo como apenas saídas.

SPEAKER 1: : Sim, saídas em qualquer lugar implica em despesas.

SPEAKER 3: : Pois é aí são despesas possíveis.

SPEAKER 1: : Emprego e despesas. Possíveis.

SPEAKER 3: : Despesas possíveis.

SPEAKER 1: : Não, eu estou considerando isso no geral. No geral. Depois eh Há outros que, in inclusive tendo condições de fazer uma despesa extra no final de semana, não saem. Então, se você for a a  analisar isso, por que que não sai? É tem indivíduo que... ( ) de educação. Não, não, indivíduo que trabalhou a semana toda, né? Certo? Que vai en enfrentar depois do final de semana. E vamos pensar em termos de de atrativos, assim, para sair em em  final de semana?

SPEAKER 3: : Ah, qualquer tipo de coisa. Olha aqui. Você pega um fim de semana. Você vai domingo almoçar aqui no Arouche, naquele restaurante que eu não ponho mais os pés. Você pede um filé, duas cervejas, você deixa duzentos cruzeiros na mesa. Certo? Bom, com duzentos cruzeiros você põe. gasolina no teu tanque, você acampa em qualquer lugar tranquilo, que você possa respirar profundamente, tomar um banho de mar ou, sei lá, carregar pedra, entende? Para cansar o corpo, descansar a mente e voltar para casa. Hoje, você percebe, eu vejo um pouco nos outros indivíduos a gente, não estou só pegando como ( )  a gente não, certo? Procura ver ( )  uns anos atrás, é quando a gente não tinha carro, Aliás, eu não consigo, é tão abstrato para mim que isso possa ter acontecido, mas aconteceu, né? A gente não tinha carro, a gente trabalhava, não sei se mais, certo? Mas trabalhava, era uma desgraça, né? Trabalhava de manhã à tarde e à noite. É se a gente pensasse em termos de remuneração, naquela época era muito pior do que é hoje para gente, né? Então tinha menos dinheiro do que tem hoje. Pegava um ônibus e ia acampar na praia no fim de semana. Tinha disposição para isso. Nunca foi obstáculo o cansaço físico. Certo? Nunca foi obstáculo o quanto se ia gastar. Se gastava muito menos do que se gasta tomando cerveja ou comendo alguma coisa que não ( ). No entanto, se fazia. Certo? Hoje não é a gente que não faz não. É um monte de gente que não faz, Garcia. É um monte de gente, né?

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 3: : Não.

SPEAKER 1: : ### Não. Agora se você quiser. Por que que eu e você não fazemos isso?

SPEAKER 3: : Não, não é. Não é a gente. Estou pegando a gente como ponto de referência, mas... De um modo geral o grupo

SPEAKER 1: : Um outro grupo não faz? Um  Outras pessoas não fazem 

SPEAKER 3: : O grupo de relacionamento em geral a gente não faz. Relacionamento eu digo é trabalho e social. ### Certo ? Trabalho também. Chega no sábado e domingo, ( ) dentro de casa né. Segunda-feira vai para o serviço. É assim, descansei. Para mim, francamente. Quer dizer, eu também acho que é descanso. Eu chego e estico minhas pernas, por exemplo, quando estico minha perna na cama, uma sensação de alívio que eu tenho. Mas quando eu penso realmente, não é descanso. Descansar é mais do que isso. Descansar, no sentido de lazer, é você ter coisas diferentes na tua frente para ver. Isso que eu queria chegar se me parece que a população, de um modo geral, o fato de não haver mobilidade, né, mobilidade enquanto trânsito, né, não mobilidade social, parece problema de educação mesmo. Se você pega o interior assim, o pessoal realmente fica naquela cidade do interior e não tem, assim, Nin Ninguém foi despertado para... São todos nos cantinhos (risos) E não foram nem educados para isso Que é isso que é mais difícil

SPEAKER 1: : Aliás, talvez melhor assim, né?

SPEAKER 2: : Por que melhor assim?

SPEAKER 1: : Como se todos cantam na vida.

SPEAKER 2: : Mas você pode deixar de ser grande, no momento você foi educado para deixar de ser.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : Claro que é gozação, eu sei que é. Você está querendo se defender, no fundo ainda pega um... Ou você sai nesse fim de semana, entende?

SPEAKER 1: : Ou a gente pega e... Ah não, esse fim de semana já tá... já tá... mais ou menos certo, né? Graça da minha vida. Vai

SPEAKER 3: : Saber que a gente chega de novo na cidade, por exemplo, cidade para mim é um negócio assim, é bonito, é assustador, é agressivo. Mas ela me cativa realmente, eu não vivo fora de São Paulo, você também não vive fora de São Paulo.

SPEAKER 1: : Voltando assim, aquela primeira observação que eu fiz, que São Paulo é assustador, eu não sei, você foi criada em São Paulo,

SPEAKER 3: : Talvez pelo fato de eu ter sido criada em São Paulo, mais do que você, entendeu eu praticamente vivi a vida inteira, né? Você ainda ficou um pouco fora. Eu sinto a mais falta de sair um pouco daqui.

SPEAKER 1: : No meu caso, quer dizer, então, quando eu eu eu vim para quando em vim para São Paulo ### São Paulo seria eh Curitiba, ou seria o Rio, mas seria um um grande centro. As aspirações grandes despesas na época, a não ser essas mais imediatas.

SPEAKER 3: : Mas era diferente, era um momento que estava chegando em São Paulo, curtindo São Paulo, conhecendo São Paulo.

SPEAKER 2: : Era aquele mundão nas frentes.

SPEAKER 1: : A a curtição não era não era não estava não estava prevista.

SPEAKER 3: : Mas não é curtição enquanto enquanto curtição no sentido de... que está vivendo em São Paulo assim nos seus aspectos vazios, não. É curtição no no sentido de você viver, sentir a cidade grande, quer dizer, trabalho, problemática de trabalho, problemática de estudo, problemática de moradia, problemática de alimentação, certo? Que são problemáticas que numa cidade pequena você não tinha vivido, não tinha experimentado, mas sabia que ia experimentar aqui. E qualquer pessoa que vem para cá experimenta esse tipo de

SPEAKER 1: : É bem... Não é que não é que eu não tivesse experimentado isso. Eu não São Paulo me assustava no sentido de que eu não conhecia o o o mecanismo dessa grande cidade, certo? Ehh Não, e me assusta às vezes quando inclusive eu percebo que eu não... Mais que você viva aqui, você não conhece ainda todo o mecanismo né ?

SPEAKER 0: : É nesse sentido que me assustava.

SPEAKER 1: : Então eu tinha o conhecimento daquilo que eu era capaz, as minhas possibilidades, mas eu não eu não conhecia os mecanismos assim. cada vez mais o mecanismo. Então, eu fui gostando cada vez mais da cidade. Então, eu não vim para curtir São Paulo.

SPEAKER 3: : Não, não, eu vim para te conhecer.

SPEAKER 1: : Eu curto mais São Paulo hoje do que eu curtia ah do que eu curtia quando tudo para mim era muito estranho, muito inseguro, tá certo?

SPEAKER 2: : Eu curto em qualquer momento né  Ai eu quando fico assim, os anos que eu fiquei fora né, que fiquei  Norte lá

SPEAKER 3: : cada volta para São Paulo era a necessidade, assim, de, de, de viver a grande cidade a grande cidade enquanto um elemento assim to enorme na sua frente imenso na sua frente mil complexidades na sua frente a não nego Um lugarejo, como a gente ficou, certo? Você fica num lugarejo Pelo menos um ano Onde o máximo que você vê, assim, são dois ji jipes né e um... Como é que é o nome daquele carro preto que existia aí? ( ) Só governador tinha aquele carro

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : ( ) Aeroiles ### ###

SPEAKER 0: : ### ###

SPEAKER 3: : Você podia ter gostado. Chefe de Esta ### ###

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : ### ### ### ### ###

SPEAKER 3: : ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ### ###

SPEAKER 2: : ### ### ###

SPEAKER 1: : ### ### ### ### ###

SPEAKER 3: : ### ### ### ### Preto Preto

SPEAKER 1: : ### ### ### ###

SPEAKER 3: : ### ### ### ### ### ### ###

SPEAKER 1: : Fizeram até fizeram até o carro, o carro executivo, né? Eu lembro que... Eu não sei em que... Mas foi logo nos nos primórdios, assim, que lançaram o Itamaraty, né? Então havia o o carro executivo com... Mas nesse lugar... Quer dizer, não resistiu... Não resistiu às buraqueiras do São Paulo. O carro executivo supõe que ande num tapete, assim, né? ### Um cafezinho, fazer anota anotações, né?

SPEAKER 3: : ### ( ) tá mas aí você chega de um lugar assim, onde existe no máximo, é aeroilis mesmo. Chegava ali no Itamaraty, vem de carro de Executivo não que é isso Dois jipes, né? Um candango E volta para São Paulo.

SPEAKER 1: : Até agora a pouco você estava reclamando do trânsito Não, eu não estou reclaman

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 3: : Aí em São Paulo a gente empolga assim, com uma coisa assim, um elemento... é complexidade total. Eu me recordo, assim, de cada vez que eu voltava para São Paulo, isso realmente eu... eu comprovei, assim. O primeiro dia que eu saía, Na cidade, eu sentia tontura, ânsia de vômito, certo? Ânsia de vômito.

SPEAKER 1: : Isso era o gás carbônico (risos) Não era não era emoção, né?

SPEAKER 3: : ### Não confunda a coisa de emoção. É tontura enquanto movimento mesmo, certo? Você vê na tua frente, assim, de repente, duzentos carros cruzando, um farol verde, amarelo e vermelho na tua frente, quinhentas pessoas se atropelando, aí você para numa esquina assim, eu senti tontura e ânsia de vômito, porque fiquei um ano fora, depois fui outro, testei o negócio, era verdadeiro no outro, verdadeiro, certo? São Paulo, nesse momento assim, ele é um negócio importante, é um negócio que eu nunca conseguiria viver longe dele. Viver, hein? Agora, passar períodos, não só conseguiria, como sinto necessidade, Sabe, acho que qualquer tipo de pessoa sã precisa disso, gente não é Para que você não caia nesse nesse tipo de de esquema só de coisas complexas, sabe? Há a necessidade de você, às vezes, cair assim, por exemplo, quando a gente foi visitar os velhos lá, de ver as coisas simples, a relação simples entre pessoas. É, tudo isso é muito bom ( ) Porque isso te permite ter sempre um um contato com a complexidade e não perder a complexidade de vista. Agora, se você fica só aqui, ou se você fica só lá também, para gente, por exemplo, não dá mais para ficar só lá.

SPEAKER 1: : É, viagens e luz.

SPEAKER 3: : Não é no sentido de viagens e luz também. Aí você já começa a esbanjar aí, esculhambar, tudo que você sabe que é uma briga aí, é um problema de... Brasil é seden. tário Não, nós não chegamos a uma conclusão.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 3: : Nunca na ( ) turismo, por exemplo, turismo acho um negócio idiota, realmente, só pode valer aí como divisa de ( ) pessoal. Mas aí é outro papo, o interesse não é meu. Não é turismo, não. É simplesmente contato com outros tipos de... Bom, isso é muito bom. Relacionamento. Outros tipos de comportamentos, outros tipos de atitudes, outros tipos de valores.