SPEAKER 1: Dona Cândida, eh a gente sugere para a senhora conversar com a Alba assuntos como alimentação, vestuário e corpo humano, todas as partes do corpo humano, tudo que implica com o corpo humano. Para começar, eu vou fazer uma perguntinha. Quando a senhora sai para fazer uma refeição fora de casa, A senhora vai ter que se preparar assim com roupas adequadas, vai escolher um um restaurante, um tipo de de comida. Hum, se a senhora tiver preocupações de regime, qualquer coisa assim, a senhora também vai escolher uma determ um determinado tipo de comida. Eh A senhora poderia contar para nós o que que a senhora faz, por exemplo, quando sai para ir? um restaurante almoçar fora? Bom, tudo depende da companhia e do lugar. Se for, assim, um um encontro com pessoa muito íntima, ( ) estou, com mais simplicidade, e sempre acompanhando o gosto da pessoa com quem eu ### E a escolha dos pratos é a mesma coisa. ( ) Felizmente, eu tenho um paladar muito bom, gosto de novidades, nunca me atenho a determinados pra> ### Eu sempre peço à à pessoa que me acompanha, ou a quem me acompanha, que escolha primeiro os seus pratos. Para para que ela não seja constrangida, às vezes, a querer uma coisa parecida com aquilo que eu pedi. (risos) E você, Alda? Bem eu já sou muito mais ( ) que a Dona Cândida. eu gosto de sair à maneira com que eu me sinta melhor. ( ) E nunca é, na maioria das vezes, como as pessoas saem. Eu Eu gosto de vestir muito informalmente em qualquer lugar que eu vá. Inclusive com o meu marido nós chegamos até a fazer certas agressões assim de propósito. Ir a casamento de camisa esporte, ele vai. Eu vou sem meias. (risos) Mas isso é proposital. Naturalmente é casamento de pessoas conhecidas em que a gente pode fazer isso sem estar escandalizando demais. E nós preferimos também aceitar convites informais, E dentro do maior formalismo, a gente a gente procura sempre estar estar à vontade, como gosto de sair, não é? Para comer fora, em geral, nós comemos bastante fora em fins de semana, mas só eu e meu marido, sabe? Nós saímos juntos, nós dois juntos, ou no máximo um casal, ou dois às vezes, e E sempre nessa base, né? calça comprida, hã sempre esporte. E ### Nós dois somos magros e não gostamos de comer muito. Então, ( ) a gente come sempre, assim aquele aperitivo, a gente bebe mais do que come, tá? Então, eh no vin no verão é chopp, no inverno é vinho, é conhaque, essas coisas assim. Nós não gostamos de de cantina porque a gente não come pizza, não come massa. Então a gente vai mais é é mesmo na churrascaria, essas coisas assim. Igual, eu gosto mui> Mas tudo na base assim da sa> Não, foi depois que eu me tornei dona de casa. Eu me vivi muito muito fora de casa, né? Vivia em internato, eu ( ) comida, passava sanduíche, né? E assim que eu pude exercer uma influência direta na alimentação, eu mudei em tu>. A carne pe, por exemplo, não é, não se limitava à carne de vaca, que é a mais comum assim, não é? ( ) Era cabrito, carneiro, caça, carne de vaca, peixe no lugar onde eu vivia. ah havia peixes grandes e maravilhosos no Paranapanema, né? E então toda semana tinha peixe também. leite em quantidade, ovos, frutas à vontade frutas à vontade e minha mãe gostava de de de cozinha, sabe? ### coisa que a gente as frutas já estavam até co mas no máximo do do da do amadurecimento, papai fazia vinho para nós usarmos durante o ano todo. Vinho e vinagre era feito por ele mesmo. viu? Mas esse vinho, tipo champanhe, ( ) que precisava, depois de engarrafado, prender com arame a rolha. E a adega era no porão, sabe? A nossa casa era muito grande, as garrafas eram colocadas todas enfileiradas, porão todo e coberta de areia, para conservar aquele friozinho e geladinho, né? ( ) Então, de vez em quando, se escutava aquele estouro. ### saía fora do copo aquela espuma, saía como champanhe mesmo um rosê fabuloso que ele fazia. Que tipo de uva é a rosê mesmo? ### Usava. E tinha quantida toda a qualidade de uvas delicio> Uh tinha de usar umas seis ou sete qualidades de uva, sabe? Ih de maneiras que ah a nossa alimentação foi muito far> Eu tenho a impressão que longevidade, saúde, dependeu muito disso viu? Porque não havia doença em casa, viu? As doenças que haviam, mamãe controlava perfeitamente com a homeopatia, viu? Ah Médicos ( ) a visita de amizade, mas não como profissional, não. Elas tinham um tipo de vida muito sadio, levantar muito cedo, tomar banho f> ### Pressa! Agora o outro! E tal, né? Então, e aquele chuveiro especial, tipo ducha, que quando caía aquela água toda no corpo, a gente só fazia assim (suspiro) saí> doces comprados, mas nós não temos muita tendência, sabe? Eh mais mesmo com fruto também. Ba ba A base mesmo é banana e laranja, né? E a fruta da época agora, b bastante caqui, né? A mamãe fazia essas cachetas de doces secos, talvez por ah por facilidade, porque naquele tempo ah o curso primário, por exemplo, eram quatro horas de aula, não contando com o horário de recreio. ### A criança dizia, eu quero salgado. Como a a linguiça era feita em carne ou lombo, matava-se o porco inteirinho, todinho era derretido, e as carnes preparadas, a linguiça ia ao fumeiro, os lombos, depois de prontos, eram mergulhados na gordura derretida. Então, na hora de aprontar uma coisa rá> O o lombo estava ali pronto, a linguiça estava pronta, se queria doce, se ele tinha, era só abrir as caixetas e tirar as fatias de doce. Geleia de mocotó, por exemplo, ela fazia muito. Eh eh ### ### ### SPEAKER 0: ### SPEAKER 1: ### ### Hoje se usa mais essa gelatina, né? Porque a geleia de Mocotó é trabalhosíssima, né? É o joelho do do E às vezes a gente compra hambúrguer, frita na hora, essas coisa. ### ### Não havia doce que o tentasse. ### Era o café da manhã, almoço e jantar. Eu intervalos, café assim de pouquinho, um golinho de ### Achavam é que deviam fazer o o jantar ao do ao domingo como no dia de semana mesmo, né? Depois do falecimento dos dois é que nós entrámos na no na maneira mais prática, sabe? Eh ### Sabe o quê? É o meu prato do almoço. Ah, sim! Quando acontece, não é? ( ) Tem um lombo na hora do almoço se sobra, então eu parto pelas fatias, colo> Agora, lá em casa, durante o dia, que eles chegam em horas diferentes em casa, eles comem frutas, não é? Como eu falei para ela, eu faço duas vezes por semana a feira por causa de frutas. Então, eu compro, assim, duas dúzia de banana verde, né? Então, dá tempo deles comerem a madura. Da depois de três dias, a verde ficou madura e Então, eles vão comendo ali. Então comendo muito. Estão aumentando demais, porque eles estão crescendo, né? Principalmente o dois meninos, né, o de onze e o de treze comem demais. Então, tem a lata de bolacha. eu então encho aquela lata e guardo o resto no armário sempre que há tempo. todo dia eu encho aquela lata e deixo lá. Então, durante o dia eles fazem isso. Agora, nós usamos muito suco de fruta. Até eu ter uma empregada que ficou doze anos comigo, eu comprava, então, caixote de laranja. Meu marido pegava no fiado a caixote de laranja. Então, ah tinha ela tinha o tem que ela tem espremedor lá ele espremia. Mas agora que essa empregada de doze anos casou-se, né, e ah eh e tem tem empregada que fica seis meses, tem empregada que fica quatro meses. ### (risos) eles tomam Lanjal, que é uma coisa medonha, né? ### E assim é, né? Os dois menores estão tomando flúor e complementa com... ### Domingo nós comemos fora, o meu marido compra no Dinho's Place (risos) Baby beef, costelinha, salada e farofa. No domingo, que eu não faço. (risos) ### Olha, lá em casa, verdura crua é agrião, tomate, o normal, o tomate italiano, alface, rabanete. Na cozida é couve-flor, brócolis, repolho, acelga, espinafre, são essas. Estão que todos comem, sabe? Aham e eu adoro berinjela, depois que eu casei nunca mais eu comi, porque fazer só para mim eu não faço. mas ninguém come. Mas ### A berinjela eu fazia ah assim, a vinagrete, sabe? Uhum Deixava assim, depois de três dias já podia comer que estava gostosa. ( ) Ah você Você pega a berinjela, Lava bem, mesmo com casca, tira as duas pontas, passa fatia, põe um pouquinho de vinagre, deixa no pau que vai naquela aquele pau de macetar a carne, você deixa ali. Então ela solta, sabe? Uma aguinha Então você aperta bem aquele aguinha. Depois você passa como se fosse à milanesa ou então com com um pouquinho de de de farinha ou de ou de maisena no leite. Fa> Mudou. E os meus filhos não se ressentiram, não. Primeiro que eles eram muito pequenos. Passaram para casa do papai era só na ba na na mão de de cozinheira. né, que a mamãe não cozinhava também. Lecionava Se ela pudesse ficar em casa, ela faria faria tudo menos lidar com cozinha. Eu não gosto. Então, mudou. Mas eu tive essa primeira fase que eu fazia essas essas experiências, assim, com berinjela, né? De vez em quando fazia umas coisas. Fazia lasanha em casa, se bem que eu não fazia a massa. Comprava massa semipronta, né? ### ah ah que tipo de lasanha você faria, assim? Bem, essa lasanha que eu fazia era mais simples, era com carne moída, que eu fazia com o molho da carne moída, e depois eu punha dois tipos de queijo, que era o queijo ralado e a muçarela, e punha o presunto também. Eu podia variar também, podia fazer o molho branco no meio, Essa carne moída, às vezes, como o meu primeiro marido gostava, era uma espécie que a mãe dele falava porpeta, que eram as as almôndegas. Então, eu fazia almôndega, fritava e depois fazia o molho, né? Assim ele gostava mais. Mas as, quando ele estava com muita vontade de comer essas comida, a gente ia almoçar na casa da mãe dele. (risos) Aliás, eu nunca quis competir com ela. Nunca fiz nada do que ela fazia. E assim, quando a gente tinha vontade, a gente sempre achava um jeito. Por exemplo, a gente comprava língua e levava ### Até hoje eu gosto muito, né? E nunca fiz em casa, não sei, e nem Em casa ninguém gosta. Então, uma das coisas que eu como em restaurante é a língua ao molho madeira e ah a vitela também. ( ) Em casa, ( ) eu gosto mais de carnes duras. Filé mignon, mesmo, às vezes, eu faço raramen> Esse tipo rosbife, só dar uma fritada de leve, bastante gordura, e depois põe um picadinho de de tomate com cebola por cima, é na base acho que de uma vez por semana. O resto é coxão duro, aqueles pedaços de coxão duro grande, feito inteiro, sabe, corta na hora, a bisteca, e costela assada, costeleta, Essas coisas, assim, carne com ovo, isso eles gostam. E eu gosto também. Eu gosto de tudo, né? ### gosta de comer. A senhora vai para a cozinha, dona Cândida? V> ### ### ### passando assim o dia todo fora de casa, não podia me dedicar muito não. mesmo enquanto a a mamãe foi viva, ela gostava gostava de supervisionar todo e tudo isso, né? E ela tinha pena, achava que a gente precisava descansar, dormir, não se preocupar com esses problemas. Mas depois do falecimento dela, dificuldade de empregada, ah tinha acabado aquela história de de empregada de de doze, quinze ano... É, na casa da gente, né? Então já foi mais difícil, porque a gente foi tratando de se desembaraçar de cozinha, sabe? (fala enquanto ri) ### Todo ( ) que nós falamos agora dessas comidas, com exceção de de doce em caixetas e mocot> pão em casa, linguiça feita em casa, isso não, isso eu não faço, não dá tempo mesmo, né? Isso porque a nossa família está muito reduzida agora. ### Família mais numerosa, né? Mas isso agora não, somos poucos, somos apenas três em casa. (tosse) (tosse) Só no Natal que a família se reúne toda lá, sabe? Tem certas comidas lá em casa que eu faço já já convido pessoas, porque são são coisas que tem que fazer bastante e que o marido gosta. E Então, de vez em quando, a gente inventa de chamar os amigos mais íntimos, e uh primos, pessoas bem mais chegadas a gente e Então, eu faço cozido, que é a moda do Norte. Feijoada, que é como a do norte. Olha, o cozido à moda do norte, ela é quase como se fosse uma feijoada, sabe? Só que não leva o feijão. Porque põe todos os ingredientes de uma feijoada, que que vai normalmente numa feijoada. Faz bota uh a carne seca, bota paio, bota a costeleta. Agora lá em casa é assim, eu ponho tudo que eu gosto, sabe? Lá é na minha base mesmo, viu? ### Não põe o rabo, não põe orelha de porco, não põe nada disso. Então eu (risos) escolhi. Eu vou naquelas casas do norte, porque lá eu também encontro ah temperos de lá, que então dá aquele gosto diferente. Ah, lá naquela Celso Garcia, A gente vai indo por aquela avenida, chega numa praça. ### É ( ) Eu não tenho preferência por nenhuma daquelas casas. Qualquer uma delas é tudo igual, certo? ### Hã? O que que você compra lá? Na nessa ca> Ali nessa casa eu compro ingredientes para feijoada que servem para o cozido, né? A pa> ( ) coisas todas salgadas. E os temperos secos que tem muito lá. Cominho, coentro. que é muito usado no norte, né? A pimenta, também, daí eu compro ela grande. Às vezes eles tem lá, eles preparam, às vezes não tem, então eu preparo em casa. Então são três pratos do norte que eu faço muito, que é o bacalhau com coco, o É muito gostoso, esse é uma delícia. Faço à minha moda. O bacalhau no coco, bem, você tem que pegar o filé do bacalhau, porque você faz com o bacalhau em pedaços grand> E não ih para o espinho fica eu acho mais fácil comprar o filé porque as crianças comem, não preciso ficar catando nem na> Então você pega o o bacalhau, deixa de molho de um dia para o outro. Depois você aferventa. Eu fervento umas duas vezes, não só para tirar o sol, mas para dar uma um leve cozimento, porque no preparo ele vai cozinha bem pouco. Daí eu faço um refogado de óleo com todos os temperos normais do do Sul, que é ah a cebolinha e a salsa, que lá eles não conhecem. E boto o coentro o cominho e o pimentão, porque o pimentão lá é tempero. O pimentão não é parte, assim, de uma comida que faz recheado, ou então aferventa tira a pele faz coisas com pimentão. Lá não faz parte, por isso ( ) cebola. Eles picam o pimentão assim e com a cebola, sabe, fazem um refogado desse tipo. jogo ah as postas de de de bacalhau, ponho bastante cebola em rodela, porque eu gosto, particularmente, né? E daí eu boto o leite de coco. Ora lá, eles pegam o coco, ralam o coco, tiram o caldo, colocam também uh parte do bagaço, outra parte já fazem doce, fazem outras coisas. ### Em geral são duas, porque eu faço sempre em grande quantidade, faço com dois quilos de bacalhau. Não coloco batata, de espécie alguma, é puro bacalhau. Jogo leite de coco, não ponho água nenhuma, só leite de coco. Então dá uma ligeira fervura. Quando ele começar a engrossar, boto o azeite de dendê. Então fica aquilo, um amarelo ovo, coco misturado com bacalhau, sabe, grosso. Aquilo você sai suando da mesa. E uma coisa interessante do Nordeste que eu vi é que lá as comidas são fortíssimas. E o clima é impressionante como é quente. ### Mas a comida é quentíssima. E lá é na base da pinga. Lá a gente come toma muito aperitivo na base da pinga. Da pitu, da branquinha e outras pingas excelentes. Para tomar um pouquinho pura até é bom. Ent> <ão bebe-se demai> Come-se demais e impressionante como eles aguentam um clima daquele. Em Recife é um tal de mão de vaca, que é o mocotó, que eles cozinham junto. E o sarapatel, que eu não suporto, nunca fiz em casa. B> ### Moça de bem não cortava o cabelo, né? Veio a moda, foi uma luta, né? O pai não queria. Não queria que a gente cortasse o cabelo, apesar de ele ser uma criatura formidável. Não sei se porque, por esse motivo mesmo, não é? As primeiras foram muito criticadas, né? Então nós aproveitamos falar com ele numa hora que ele estava assim ah tratando de negócios, assim muito ocu> Prometeu, prometeu. Quando ele viu nós estávamos de cabelo cortado, viu? Mas o que foi isso? Nós perguntamos, o senhor disse que podia. pois ( ) bem, então agora é uma ressalva, hein? ### Uma ressalva, se quiserem continuar com o cabelo cortado, ( ) o senhor vai me prometer que nunca entrarão num salão de barbeiro para cortar o cabelo. Ele terá que vir aqui em casa. Eu disse, não, mas ah nós já fizemos isso, nós já lembramos que o senhor podia ah ah fazer qualquer objeção. Ele veio aqui em casa para cortar o nosso cabelo. ### Agora, depois que viemos para São Paulo, aqui, já tinha cabeleireiros e tudo, então, não havia problema a gente ir cortar o cabelo fora. ### olha, de vez em quando, eu assisto um filme da da época da nossa mocidade ### Aquilo a gente já tinha usado, acha uma coisa formidável a lembrança, né? Ah Eu acho que as modas eram mais complicadas e feito com mais esmero, eu creio. Porque não sei se a mão de obra era mais barata ou o que é, não é? ### Não se comprava roupa feita. (pigarro) Mandava-se fazer, não é? E, agora, Depois que começámos a trabalhar, olhe, a moda do chapéu ainda continuou um pouquinho, sabe? Quando eu comecei a trabalhar, isso não era chapéu. Ninguém na hum Nenhuma moça saía sem os seus chapéu e luvas. Tanto que lá no nos nossos armários de guardar os aventais, lá na faculdade, tinha em cima uma prateleira para a gente colocar o chapéu. Então, o primeiro o primeiro passo para a gente se desvencilhar dele A gente ia ao trabalho com o chapéu na mão, de luvas, de bota e o chapéu na mão. Aí eh veio o uso das boinas, dos beretzinhos e tal, e dali uns tempos depois nem isso, acabou-se. Mas era uma tragédia, porque, quando eh principalmente quando os bondes eh que começaram a ficar superlotados, né, de vez em quando alguém ficava bravo, ah, derrubou meu chapéu, que isto, que aquilo, né, ### Ficou mais prático. Mas a senhora poderia vir trabalhar de de calças compridas, por exemplo? Não, eu não não cheguei a usar calça comprida aqui na na faculdade, não. Porque havia proibição. ### ### A cada aula... Eu estava dando aula há seis anos atrá> Eu me lembro bem, eram saia e blusa, no inverno aquela saia de lã, justa, sabe aquela sainha justa? ### ### O tempo da... Lá não havia uniforme, não. ### ### ### ### ### ### É, se usava aquelas meias nylon, nem grossa, nem fina, que eram enfeitadas, então aquelas meias apareciam, né? ### Bacana. ### As melindrosas pintavam a boca assim, em formato de coração, diminuíam tamanho da boca, certo? ### E vestido assim, dessa maneira, pelo joelho, ah uh comprido, sapato com salto carretel que chamavam tipo carretel e os rapazes com a roupa e eram os almofadinhas, a roupa era toda almofadada mesmo, viu? Tinha assim um pouco de busto, cintura ah ajustada, depois a calça tinha bastante pregas aqui no quadril, depois ela ia afinando, de de de para tirar a calça precisava tirar o sapato também, não é? revolução ah ah o aparecimento das melindrosas e dos almofadinhas. Foi uma mudança mesmo radical nos costumes da da época, né? Então, ah aconteceu, até já contei esse fato a você, não é? Havia uma revista aqui em São Paulo ah chamada Revista Feminina. Era uma boa revista, que tinha muito bons colaboradores, muito bons mesmo. e um dia aparece um um retrato ou uma um artigo do Menotti Del Picchia no lugar. O título era Caso ou Não Caso. Então ele criticava a educação da época. ### Ele ele escrevia melindros> com a educação severa que davam às suas filhas. ### Ele citava todas as famílias antiga, sabe? Podemos pensar em casar com uma moça que, em vez de ter à cabeceira da cama o retrato de Santo Antônio, ter o retrato de Antônio Moreno? Era o artista coqueluche da época, sabe? Mas, sabe, uma senhora mineira respondeu o artigo. Ela disse, para entregar as nossas filhas a quem? (risos) O senhor Menotti Del Picchia quer que criemos da mane da mesma maneira como fomos criados. Para entregar a esses almofadinhas, aí ela de ela ela descreveu o almofadinha, mas diminuía mesmo, sabe? Não, senhor Menotti, o casamento não pode ser uma cruz. Temos que educar as nossas filhas da mesma maneira como os os rapazes são educados, para para não estranharem. (risos) ### assim, depois assim porque há uma reviravolta, o pessoal estranha, depois acaba se acostumando, não é? Eu acompanhei de perto quatro gerações, porque eu adorava as amigas da vó, aquelas criaturas fabulosas, de falinha mansa, meiga, não se criticava ninguém. Quando havia um caso assim, muito em evidência, sabe, e que uma pessoa amiga estava envolvida, a coisa era era comentada. Tão discretamente, se havia uma criança na sala, bastava levantar um pouquinho assim a sobrancelha ( ) ### Bom, a geração da minha mãe era quase igual, não houve lá muita diferença, apenas o do vestuário. No tempo da vovó, era aquelas capinhas de renda, saia comprida, rodada. ### Então, houve alguma diferença. Da geração da mamãe para a nossa, A diferença foi maior, mas da nossa para o nosso sobrinho levou um saltão, viu? Foi aquele salto mesmo, aquela guinada ### Beija-mão para para os avós e para os tios, não é? Agora já os meus sobrinhos, alguns deles... Tchau, Jorjão! Tchau, Tere> Assim, sabe? É tudo diferente. ### Tchau, eles ### Que mora conosco, o Milton, ele não não deixa de beijar a hora que sai. Mas os outros estão sempre correndo, estão sempre em cima da hora, estão sempre saindo disparados, estão sempre aflitos. ### Interessante, eu morava no interior, mas uh a vovó assinava um figurino alemã> que era chamado quatro estações. Então era deste tamanho assim, devia ter assim, eh ah hum eh como se fosse um caderno de uns sessenta centímetros de comprimento por uns quarenta de largura e um calhamaço assim, sabe? Então fazia os modelos para adulto e criança, para velho e moço, as quatro estações e fazia um mapa com o o os os moldes. Então, era fabuloso aquele figurino, era uma maravilha. ( ) assinava aquilo e as filhas também se serviam, né, daqueles figurinos. ### Então, aí passou-se a comprar figurinos, né? ### ### ### ah ou seu pai? ### oh há alguns vestuários que não se usa mais, né? No fraque, para certas ocasiões, né? Ah Sobrecasaca, para casamento, assim, muito ( ) ### ### ### ### Ah sim, para dia de júri era terno preto. Para enterro e para casamento tam> ### ### Agora, eu acho que meu pai era um pouco fora de época, porque ele tinha paletó de palha de seda da Índia para andar a cavalo, porque o calor era muito grande (fala enquanto ri) ### Depois de lavado, era como se estivesse novinho, viu? Maravilha! E Então, ele sentia muito calor, e quando tinha que fazer um grande percurso a cavalo, ele usava aquele pale> O vento batia engraçado que até entrava assim por baixo da blusa, ficava com o balãozinho assim, sabe? Ficava levezinho. Mas... Seu pai era português? Qual era assim o aspecto físico dele ( )? Olha... Eu sou quase... Bom, eu achava o meu pai muito simpático, bonito até. ( ) um tipo a ser atraente porque ele era uma criatura assim de personalidade, sabe? S> não é? Toda a vida usou. E durante muitos anos ele usava aqui um, chama um pera, um um cavanhaquinho minúsculo, bem aqui, sabe? Tinha uma Ele toda a vida usou aquilo. Um dia, di ele distraído, conversando muito com o barbeiro, o barbeiro tirou. Tirou, ele não gostou, disse que o homem devia ter uma cara só. (fala enquanto ri) (risos) Como é seu marido? Meu marido tem detalhes assim muito Meu marido é o típico do nortista, braquicéfalo, cabeça chata, moreno. Ele é um feio bonito. é um homem, assim, de traços gro grosseiros, grande, boca, nariz, olhos, mas é charmoso. é o Alain Delon nordestino. (risos) Bem alto, magro, moreno. Ele é brasileiríssimo, né? Deve ter índio, negro na família dele, bem próxi> e portugueses. Eu tenho a impressão que meu pai tinha misturas. eh de ele era sabia árabe. que ele era moreno eh SPEAKER 0: ### SPEAKER 1: Mas já a minha mãe, a de de faxina, era ah ela era a paulista de quatrocentos anos. ### ### E do lado do pai, do papai que eu estou vendo que é o que tem possibilidade, né? Que é <ão três famílias, que é os Alvarengas, que vieram em mil quinhentos e trinta e um com Martinho Afonso, os Prado, ### Tudo de do século dezesseis. E os Leme e Martins Bonilha. Só o Martins Bonilha é que é de origem espanhola que vieram também durante ah uma das expedições exploradoras. Isso do lado do pai do papai, que chamava-se Átila Martins Bonilha. (risos) Como é que é a mais nova? A mais nova é a Thaís, tem cinco anos. É Ela é o pai escrito. Escrito. Ela é ela tem o cabelo encaracolado, bem morena, olhos negros. Puxou bem o pai. A única coisa é que ela não tem a cabeça chata dela dele, tem assim, o meu o tipo do meu rosto. Fisicamente, ela é todinha ele, né? A estrutu> ### sabe? Tem os dedos finos e E a mais velha, já ela é muito parecida comigo, mas em lo> ### Marx, ele estudou muito religião. ### Mas estudava muito. Um amigo era protestante, convidava para s ah assistir um orador que chegava afamado, ele ia. No dia seguinte reuniam-se em casa para discutir o assunto. Queriam saber a opinião dele sobre o que tinha ouvido. Ele c comentava, mas ele lia a Bíblia para saber se o fulano tinha dissertado certo ou não e fazia-o como o comentário dele, né? De maneiras que se que se um amigo, tinha um amigo que tinha um centro espírita convidava, ele assistia, ele ia assistir. E começou a ler também para saber se aquilo era verdade ou não. Mas era uma coisa assim, sabe? Ele não ia pelo que o fulano disse ou pelo que ouviu dizer. Ele ia à fonte, saber se aquilo era certo ou errado. ( ) E ele nunca forçou os filhos a frequentar igreja. A gente ### Como é que elas iam à igreja para confessar, por exemplo? É, punham aquele veuzinho na cabeça na hora da confissão, da comunhão. Agora a mamãe não se confessava não. Papai achava que isso era errado, que isso foi a invenção dos padres. (risos) Confissão de de Jesus não deixou nada disso. Ele mostrava a Bíblia, escritura, sagrada, disse tudo em ### Porque era eles que dominavam na época, não é? Papai falava a mesma ### os filhos não, ele dizia, eu não não... Não obrigo e nem proíbo. Cada um faça o que entender. Política e religião. Em casa cada um seguiu, fez o que te o que entendeu de fazer, sabe? Ele nunca foi de de sugestionar, sabe? Ele hã debatia certos assuntos nesse nesse ra nesse ramo aí com amigos e tudo. A gente ouvia, é verdade. Mas, ah por exemplo, quando foi instituído o voto à mulher, ele fez questão absoluta que logo nós tirássemos o nosso título de eleitor, porque ele se debateu demais por esse por esse assunto. Porque, você sabe vocês sabem que durante muitos anos, ah até defunto votava, não é? ### ### voto era O voto era em aberto, então o chefe que estava ali, com seus capangas e tudo, o caboclo não tinha coragem de de votar a não ser no candidato do chefe do lugar. Porque sabia que depois o pau descia, né? Então era... eram castigados mesmo, né, ou ou eram, por exemplo, perseguidos numa ou em outra coisa. Então, em geral, eh e havia lugares mesmo em que mandavam matar mesmo os os de partido contrário. ### ah veio o direito do voto, à mulher e de o voto secreto, ah como ele como ele se exultou, sabe? E, um dia, um amigo chegou em casa perguntando se já tínhamos tirado o nosso título. ### Em quem vocês vão votar? O papai disse, meu amigo, alto lá, porque eu sou pai, não perguntei e não vou perguntar. Elas votam em quem entender e não por sugestão de quem é que seja. Não deixou nem a gente dar a resposta, ele mesmo deu. (risos) ### ###