Inquérito SP_D2_335

SPEAKER 1: : Dona Cândida, eh a gente sugere para a senhora conversar com a Alba assuntos como alimentação, vestuário e corpo humano, todas as partes do corpo humano, tudo que implica com o corpo humano. Para começar, eu vou fazer uma perguntinha. Quando a senhora sai para fazer uma refeição fora de casa, A senhora vai ter que se preparar assim com roupas adequadas, vai escolher um um restaurante, um tipo de de comida. Hum, se a senhora tiver preocupações de regime, qualquer coisa assim, a senhora também vai escolher uma determ um determinado tipo de comida. Eh A senhora poderia contar para nós o que que a senhora faz, por exemplo, quando sai para ir? um restaurante almoçar fora? Bom, tudo depende da companhia e do lugar. Se for, assim, um um encontro com pessoa muito íntima, ( ) estou, com mais simplicidade, e sempre acompanhando o gosto da pessoa com quem eu ### E a escolha dos pratos é a mesma coisa. ( ) Felizmente, eu tenho um paladar muito bom, gosto de novidades, nunca me atenho a determinados pra ### Eu sempre peço à à pessoa que me acompanha, ou a quem me acompanha, que escolha primeiro os seus pratos. Para para que ela não seja constrangida, às vezes, a querer uma coisa parecida com aquilo que eu pedi. (risos) E você, Alda? Bem eu já sou muito mais ( ) que a Dona Cândida. eu gosto de sair à maneira com que eu me sinta melhor. ( ) E nunca é, na maioria das vezes, como as pessoas saem. Eu Eu gosto de vestir muito informalmente em qualquer lugar que eu vá. Inclusive com o meu marido nós chegamos até a fazer certas agressões assim de propósito. Ir a casamento de camisa esporte, ele vai. Eu vou sem meias. (risos) Mas isso é proposital. Naturalmente é casamento de pessoas conhecidas em que a gente pode fazer isso sem estar escandalizando demais. E nós preferimos também aceitar convites informais, E dentro do maior formalismo, a gente a gente procura sempre estar estar à vontade, como gosto de sair, não é? Para comer fora, em geral, nós comemos bastante fora em fins de semana, mas só eu e meu marido, sabe? Nós saímos juntos, nós dois juntos, ou no máximo um casal, ou dois às vezes, e E sempre nessa base, né? calça comprida, hã sempre esporte. E ### Nós dois somos magros e não gostamos de comer muito. Então, ( ) a gente come sempre, assim aquele aperitivo, a gente bebe mais do que come, tá? Então, eh no vin no verão é chopp, no inverno é vinho, é conhaque, essas coisas assim. Nós não gostamos de de cantina porque a gente não come pizza, não come massa. Então a gente vai mais é é mesmo na churrascaria, essas coisas assim. Igual, eu gosto mui ito de de de comer peixe, sabe? Peixe, camarão, essas coi Mas tudo na base assim da sa lada E eu gosto muito de comer. Eu adoro comer. (risos) E e em geral eu prefiro comer o que eu não faço em casa, o que não tenho em casa, né? Então eu estabeleci um critério, certas coisas eu só como em restaurante. (risos) Por exemplo, peixe, né? Peixe, por exemplo. E em casa, peixe. Eu faço uma vez por semana, porque a preferência lá não é essa. Então, eu tenho que fazer uma média, porque lá são muitas pessoas e eu não sou de fazer uma comidinha para cada um. Eu falo, ah hoje é isso, quem quiser come, quem não  quiser não come. Então, para não haver muita discrepância, eu faço, é na base do arroz, feijão e carne de vaca. ### xão mole, coxão duro, contrafilé, isso é a comida diária em casa. ( ) E verduras cozidas, ### ### ( ) Quer dizer que esse tipo de alimentação foi você, esse critério que você ado adotou depois que você se tornou dona de casa, ou já traz esse cos Não, foi depois que eu me tornei dona de casa. Eu me vivi muito muito fora de casa, né? Vivia em internato, eu ( ) comida, passava sanduíche, né? E assim que eu pude exercer uma influência direta na alimentação, eu mudei em tu . do. Quer dizer, desde que eu comecei, eu sempre fui de uma tendência de ser muito independente. Tem que ser do contra, né, no caso. ### Então, a hora que eu comecei a poder fazer isso comigo, então, eu estabeleci as normas da minha vida. E lá em casa, quem quiser, tem que (risos) Então, quando acontece de a gente ter um atrito com a filha adolescente, eu falo, bem, você pode fazer o que você quer no seu quarto, o resto da casa eh é minha. ### A casa é minha. Agora, no seu quarto, você faz a decoração que você quiser. Então, estabeleço assim. Agora, é lógico que os meus filhos agora estão começando a crescer. Então eu estou sentindo que eles estão fugindo da minha influência e isso eu gosto, porque eu sou muito apegada ao meu marido e realmente eu vou criar meus filhos para a vida, né? Agora, enquanto eles estão lá comendo na minha mesa, eles vão comer o que eu ( ) ### (risos) é assim.  E a senhora, dona Cândida, tem um regime alimentar em casa? Nossa comida é variada, é simples, mas variada. E isso desde a infância. ### E meus pais gostavam de comida varia A carne pe, por exemplo, não é, não se limitava à carne de vaca, que é a mais comum assim, não é? ( ) Era cabrito, carneiro, caça, carne de vaca, peixe no lugar onde eu vivia. ah havia peixes grandes e maravilhosos no Paranapanema, né? E então toda semana tinha peixe também. leite em quantidade, ovos, frutas à vontade frutas à vontade e minha mãe gostava de de de cozinha, sabe? ### to doce, muito doce. Onde eu cresci, comemos muito doce e até hoje eu como. Quais eram os doces mais comuns, dona Cândida, que a sua mãe gostava? Fazia... doce de uh de frutas, aham, porque como ela teve muitos filhos, era prático ter aqueles doces ( ), porque ela mesma fazia. Goia ba, marmelo, laranja, banana, e doce de abóbora, e agora outros doces, como doce de leite, pé de moleque, cocada, brevidade, bom bocado, sefilhos, tudo isso. Tinha uma tinha uma paciência extraordinária, um doce que ninguém faz. Minha mãe fazia o doce de lima, já ouviu falar? Dava um trabalho terrível, sabe? uh ( ) descasca toda lima, tira só aquela pontazinha, viu? Então, de um saco de lima que vinha aqueles de jacazão de chácara da fazenda, quando tirava tudo aquilo, dava assim uma ah uma compoteira grande. um trabalho imenso, depois a gente precisava tirar aquele amargo, com a maior cautela, para não desmanchar ah ah a fibra, sabe? Depois de tirar todo aquele amargo, é então que é levado a calda, ovos, essas coisas a ssim. Então, ficava com uma uma compoteira muito bonita, ela adorava, ela ela tinha tantos filhos e tinha paciência para essas coisas também. E as frutas nas regiões que a senhora morou? ### ### ### s especialmente, nós tínhamos em casa um parreiral en coisa que a gente as frutas já estavam até co mas no máximo do do da do amadurecimento, papai fazia vinho para nós usarmos durante o ano todo. Vinho e vinagre era feito por ele mesmo. viu? Mas esse vinho, tipo champanhe, ( ) que precisava, depois de engarrafado, prender com arame a rolha. E a adega era no porão, sabe? A nossa casa era muito grande, as garrafas eram colocadas todas enfileiradas, porão todo e coberta de areia, para conservar aquele friozinho e geladinho, né? ( ) Então, de vez em quando, se escutava aquele estouro. ### saía fora do copo aquela espuma, saía como champanhe mesmo um rosê fabuloso que ele fazia. Que tipo de uva é a rosê mesmo? ### Usava. E tinha quantida toda a qualidade de uvas delicio Uh tinha de usar umas seis ou sete qualidades de uva, sabe? Ih de maneiras que ah a nossa alimentação foi muito far Eu tenho a impressão que longevidade, saúde, dependeu muito disso viu? Porque não havia doença em casa, viu? As doenças que haviam, mamãe controlava perfeitamente com a homeopatia, viu? Ah Médicos ( ) a visita de amizade, mas não como profissional, não. Elas tinham um tipo de vida muito sadio, levantar muito cedo, tomar banho f ### Pressa! Agora o outro! E tal, né? Então, e aquele chuveiro especial, tipo ducha, que quando caía aquela água toda no corpo, a gente só fazia assim (suspiro) saí a aquela fumacinha do corpo. (fala enquanto ri) ( ) Era só para tomar aquele choque. ### Aí quando voltava, o café estava pronto. Com aquela quantidade de coisas, a gente com aquele apetite enorme, comia de tudo. E assim ### ### Porque se pudesse, naquele tempo ele dizia, se eu pudesse, minha casa seria toda de paredes movediças. De manhã eu só fechava a de fora. ### ### Isso incluiu a verdade que todos nós tivemos muita saúde. ### to que a coqueluche meus primos tinham. ### ### Nunca houve coqueluche. ( ) Aí que veio uma imunização natural. ### ### ### Pão, manteiga, queijo, leite, eh coalhada se quisesse, banana frita. Era isso. E vocês faziam o lanche assim durante a tarde também, dona Fazíamos. E era o mesmo tipo de de alimentação do café da manhã? Ah Aí eram mais frutas, nós gostávamos mais de frutas mesmo sabe sabe ( ) ### almoço às onze horas, o jantar às cinco, então o intervalo até era pequeno, mas eram frutas. E à noite, doce, chá com torradas, o bolo, porque era ( ) vazio. ### ### Que come bastante de manhã. ### ( ) Então era feito em casa. comida temperada com banha ou azeite de oliva, mas a banha é derretida em casa, linguiça era feita em casa, tudo, a nossa alimentação era todinha feita em casa. ( ) eh a gen para a gente fazer uma comparação do de como a gente vive hoje e uma família dessa época, e explica muita coisa, né? e você veja bem, ah eu, por exemplo, moro em cidade grande, meus filhos nascendo ah todos nasceram aqui, estão crescendo aqui, eu trabalho fora, o ritmo de vida totalmente diferente, né? E E eu não tenho tempo nem muitas vezes até empregada para fazer doces, essas coisas, então... Quando o doce que eu faço em casa é pudim de leite condensado, gelatina, às vezes com creme embaixo, sag doces comprados, mas nós não temos muita tendência, sabe? Eh mais mesmo com fruto também. Ba ba A base mesmo é banana e laranja, né? E a fruta da época agora, b bastante caqui, né? A mamãe fazia essas cachetas de doces secos, talvez por ah por facilidade, porque naquele tempo ah o curso primário, por exemplo, eram quatro horas de aula, não contando com o horário de recreio. ### A criança dizia, eu quero salgado. Como a a linguiça era feita em carne ou lombo, matava-se o porco inteirinho, todinho era derretido, e as carnes preparadas, a linguiça ia ao fumeiro, os lombos, depois de prontos, eram mergulhados na gordura derretida. Então, na hora de aprontar uma coisa rá O o lombo estava ali pronto, a linguiça estava pronta, se queria doce, se ele tinha, era só abrir as caixetas e tirar as fatias de doce. Geleia de mocotó, por exemplo, ela fazia muito. Eh eh ### ### ###

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : ### ### Hoje se usa mais essa gelatina, né? Porque a geleia de Mocotó é trabalhosíssima, né? É o joelho do do zido até desfazer-se. ### Então fica caríssimo. ( ) ( ) se eh ninguém hoje passa, no fogão a gás, leva o dia inteiro cozinhado. ( ) no fogão de lenha levava aquela quantidade enorme de lenha queimando, né? Depois Então essa gordura ( ) gordura vai à tona e aquilo eh eh eh vai sendo tirado ### ências não eram em sementes, nada de líquido, viu? Era ### Especiarias? ### Então, eh quando se punha aquilo numa taça, então, ficava lindo, ficava aquilo tremendo assim, sabe? Ah um verde assim ( ) Um verde garrafa, mais ou menos assim dessa cor que ficava, né? ### ão, apesar da trabalheira, a mamãe não deixava de fazer. ### apesar de todo esse tipo de alimentação que nós tínhamos, ela não se descuidava. No inverno tinha um fortificante, no verão outro, sabe? No inverno era o fortificante oleoso. ### E no verão era vinho do porto também com umas especiarias, sabe? ( ) ### Era assim. e no mês de março era o mês do dos vermífugos. ### ### Sim, eu não sei se foi por essa precaução toda, esse tipo de bebida, com doença ela não teve trabalho não, graças a Deus. A noção da da responsabilidade de uma mulher naquela época como dona de casa, para criar os filhos, como como esposa, era bem diferente, né? ### eu não me lembro não posso hoje eu não posso entender como é que mamãe tinha tempo para tanta coisa. Meu Deus do céu, hoje a gente faz qualquer coisa e está cansad a né? vitalidade muito grande, devia ter, né? Eu me lembro, quando eu era pequena e estava no grupo, que havia uns vizinhos nossos na Vila Mariana que eram descendentes de italianos. Eu não sei se era o casal que era italiano. Talvez fosse. Então eles tinham hábitos diferentes, inclusive na comida. Eles Eles faziam coi muita coisa em casa também. E a senhora falando me recordou, em partes, o que eu via na casa deles. Então, a mamãe foi uma mulher de cidade grande, ah trabalhava fora também, né? E então, eu já já fui criada mais de ou de outra forma, não é? Então, quando eu ia para o grupo, Eu trocava o lanche com a filha do do italiano, ela levava essas coisas. Ah, mas comigo aconteceu ### Ela levava umas coisas diferentes, sabe? Para mim aquilo eh parecia um almoço. É. Por ### ### as meninas adoravam minha geleia, os doces que eu levava, então era troca, troca (risos) ###

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SPEAKER 1: : E e como é que é o o lanche na sua casa? Por exemplo, assim, lá pelas ### Oh nós temos duas receições grandes, que é o almoço e o jantar. Os mais velhos têm tempo integral na escola, são uma escola que são vegetarianos. Então, no jantar, como eles comem em casa no jantar, então carregam bem mais na carne. O almoço só os menores, que já estão comendo o que nós comemos, e eu e o meu marido. N a base do ma ah eu e ele somos mais na base do de saladas cruas e carne. E no jantar, eh arroz, feijão, carne, uma uma verdura cozida e outra crua. ### Domingo, que eu dou folga para a empregada domingo todo, é lanche. Às vezes varia, mas o o forte do lanche? É. Pão pullman, ( )? Geleia, daquela contada pronta, maionese, contada pronta, presunto, ah agora então está na onda do cappuccino, então é o leite com o cappuccino, ou então com o Toddy, então eles fazem e alternam, leite frio e quente, porque um gosta frio, o outro gosta quente, n E às vezes a gente compra hambúrguer, frita na hora, essas coisa. ### ### Não havia doce que o tentasse. ### Era o café da manhã, almoço e jantar. Eu intervalos, café assim de pouquinho, um golinho de ### Achavam é que deviam fazer o o jantar ao do ao domingo como no dia de semana mesmo, né? Depois do falecimento dos dois é que nós entrámos na no na maneira mais prática, sabe? Eh ### Sabe o quê? É o meu prato do almoço. Ah, sim! Quando acontece, não é? ( ) Tem um lombo na hora do almoço se sobra, então eu parto pelas fatias, colo Agora, lá em casa, durante o dia, que eles chegam em horas diferentes em casa, eles comem frutas, não é? Como eu falei para ela, eu faço duas vezes por semana a feira por causa de frutas. Então, eu compro, assim, duas dúzia de banana verde, né? Então, dá tempo deles comerem a madura. Da depois de três dias, a verde ficou madura e Então, eles vão comendo ali. Então comendo muito. Estão aumentando demais, porque eles estão crescendo, né? Principalmente o dois meninos, né, o de onze e o de treze comem demais. Então, tem a lata de bolacha. eu então encho aquela lata e guardo o resto no armário sempre que há tempo. todo dia eu encho aquela lata e deixo lá. Então, durante o dia eles fazem isso. Agora, nós usamos muito suco de fruta. Até eu ter uma empregada que ficou doze anos comigo, eu comprava, então, caixote de laranja. Meu marido pegava no fiado a caixote de laranja. Então, ah tinha ela tinha o tem que ela tem espremedor lá ele espremia. Mas agora que essa empregada de doze anos casou-se, né, e ah eh e tem tem empregada que fica seis meses, tem empregada que fica quatro meses. ### (risos) eles tomam Lanjal, que é uma coisa medonha, né? ### E assim é, né? Os dois menores estão tomando flúor e complementa com... ### Domingo nós comemos fora, o meu marido compra no Dinho's Place (risos) Baby beef, costelinha, salada e farofa. No domingo, que eu não faço. (risos) ### Olha, lá em casa, verdura crua é agrião, tomate, o normal, o tomate italiano, alface, rabanete. Na cozida é couve-flor, brócolis, repolho, acelga, espinafre, são essas. Estão que todos comem, sabe? Aham e eu adoro berinjela, depois que eu casei nunca mais eu comi, porque fazer só para mim eu não faço. mas ninguém come. Mas ### A berinjela eu fazia ah assim, a vinagrete, sabe? Uhum Deixava assim, depois de três dias já podia comer que estava gostosa. ( ) Ah você Você pega a berinjela, Lava bem, mesmo com casca, tira as duas pontas, passa fatia, põe um pouquinho de vinagre, deixa no pau que vai naquela aquele pau de macetar a carne, você deixa ali. Então ela solta, sabe? Uma aguinha Então você aperta bem aquele aguinha. Depois você passa como se fosse à milanesa ou então com com um pouquinho de de de farinha ou de ou de maisena no leite. Fa z um empanado. uh esse empanado pode ser de várias maneiras, né? Frito. Depois você corta, põe no pirex, põe ( ) estrangeiro, põe ( ) picado, põe cebola. E pode fazer assim com ela crua também. Então, para curtir, leva mais tempo, a crua. ( ) ### ### tempo ( ) ... Porque eu tive uma fase da minha vida em que eu fui só dona de casa. ( ) me formei em cinquenta e nove, me casei vinte dias depois do do do último exame. E casei-me com o me com o meu primeiro marido, Ele era filho de italianos. ( ) Tinha italiano sangue direto, os pais eram italianos, quer dizer, que era sangue puro italiano. Casei-me com ele e não, tive três filhos em seguida, esses três primeiros. Então, eu estava esperando que o último do do dos três começasse a andar para poder começar a trabalhar, né? Foi quando ele morreu. Então, nessa época da minha vida, eu fui dona de casa. Então eu fazia essas coisas. E como ele era italiano, tinha muita massa. gora, a partir do dia que eu fiquei viúva, voltei para a casa dos meus pais e logo depois, quer dizer, três anos depois, eu me casei outra vez. Casei com com um alagoano, na base da carne seca e da farinha. (risos) Eu faço por obrigação, uma vez por semana, macarronada em ca Mudou. E os meus filhos não se ressentiram, não. Primeiro que eles eram muito pequenos. Passaram para casa do papai era só na ba na na mão de de cozinheira. né, que a mamãe não cozinhava também. Lecionava Se ela pudesse ficar em casa, ela faria faria tudo menos lidar com cozinha. Eu não gosto. Então, mudou. Mas eu tive essa primeira fase que eu fazia essas essas experiências, assim, com berinjela, né? De vez em quando fazia umas coisas. Fazia lasanha em casa, se bem que eu não fazia a massa. Comprava massa semipronta, né? ### ah ah que tipo de lasanha você faria, assim? Bem, essa lasanha que eu fazia era mais simples, era com carne moída, que eu fazia com o molho da carne moída, e depois eu punha dois tipos de queijo, que era o queijo ralado e a muçarela, e punha o presunto também. Eu podia variar também, podia fazer o molho branco no meio, Essa carne moída, às vezes, como o meu primeiro marido gostava, era uma espécie que a mãe dele falava porpeta, que eram as as almôndegas. Então, eu fazia almôndega, fritava e depois fazia o molho, né? Assim ele gostava mais. Mas as, quando ele estava com muita vontade de comer essas comida, a gente ia almoçar na casa da mãe dele. (risos) Aliás, eu nunca quis competir com ela. Nunca fiz nada do que ela fazia. E assim, quando a gente tinha vontade, a gente sempre achava um jeito. Por exemplo, a gente comprava língua e levava ### Até hoje eu gosto muito, né? E nunca fiz em casa, não sei, e nem Em casa ninguém gosta. Então, uma das coisas que eu como em restaurante é a língua ao molho madeira e ah a vitela também. ( ) Em casa, ( ) eu gosto mais de carnes duras. Filé mignon, mesmo, às vezes, eu faço raramen Esse tipo rosbife, só dar uma fritada de leve, bastante gordura, e depois põe um picadinho de de tomate com cebola por cima, é na base acho que de uma vez por semana. O resto é coxão duro, aqueles pedaços de coxão duro grande, feito inteiro, sabe, corta na hora, a bisteca, e costela assada, costeleta, Essas coisas, assim, carne com ovo, isso eles gostam. E eu gosto também. Eu gosto de tudo, né? ### gosta de comer. A senhora vai para a cozinha, dona Cândida? V ### ### ### passando assim o dia todo fora de casa, não podia me dedicar muito não. mesmo enquanto a a mamãe foi viva, ela gostava gostava de supervisionar todo e tudo isso, né? E ela tinha pena, achava que a gente precisava descansar, dormir, não se preocupar com esses problemas. Mas depois do falecimento dela, dificuldade de empregada, ah tinha acabado aquela história de de empregada de de doze, quinze ano... É, na casa da gente, né? Então já foi mais difícil, porque a gente foi tratando de se desembaraçar de cozinha, sabe? (fala enquanto ri) ### Todo ( ) que nós falamos agora dessas comidas, com exceção de de doce em caixetas e mocot pão em casa, linguiça feita em casa, isso não, isso eu não faço, não dá tempo mesmo, né? Isso porque a nossa família está muito reduzida agora. ### Família mais numerosa, né? Mas isso agora não, somos poucos, somos apenas três em casa. (tosse) (tosse) Só no Natal que a família se reúne toda lá, sabe? Tem certas comidas lá em casa que eu faço já já convido pessoas, porque são são coisas que tem que fazer bastante e que o marido gosta. E Então, de vez em quando, a gente inventa de chamar os amigos mais íntimos, e uh primos, pessoas bem mais chegadas a gente e Então, eu faço cozido, que é a moda do Norte. Feijoada, que é como a do norte. Olha, o cozido à moda do norte, ela é quase como se fosse uma feijoada, sabe? Só que não leva o feijão. Porque põe todos os ingredientes de uma feijoada, que que vai normalmente numa feijoada. Faz bota uh a carne seca, bota paio, bota a costeleta. Agora lá em casa é assim, eu ponho tudo que eu gosto, sabe? Lá é na minha base mesmo, viu? ### Não põe o rabo, não põe orelha de porco, não põe nada disso. Então eu (risos) escolhi. Eu vou naquelas casas do norte, porque lá eu também encontro ah temperos de lá, que então dá aquele gosto diferente. Ah, lá naquela Celso Garcia, A gente vai indo por aquela avenida, chega numa praça. ### É ( ) Eu não tenho preferência por nenhuma daquelas casas. Qualquer uma delas é tudo igual, certo? ### Hã? O que que você compra lá? Na nessa ca Ali nessa casa eu compro ingredientes para feijoada que servem para o cozido, né? A pa ( ) coisas todas salgadas. E os temperos secos que tem muito lá. Cominho, coentro. que é muito usado no norte, né? A pimenta, também, daí eu compro ela grande. Às vezes eles tem lá, eles preparam, às vezes não tem, então eu preparo em casa. Então são três pratos do norte que eu faço muito, que é o bacalhau com coco, o É muito gostoso, esse é uma delícia. Faço à minha moda. O bacalhau no coco, bem, você tem que pegar o filé do bacalhau, porque você faz com o bacalhau em pedaços grand E não ih para o espinho fica eu acho mais fácil comprar o filé porque as crianças comem, não preciso ficar catando nem na Então você pega o o bacalhau, deixa de molho de um dia para o outro. Depois você aferventa. Eu fervento umas duas vezes, não só para tirar o sol, mas para dar uma um leve cozimento, porque no preparo ele vai cozinha bem pouco. Daí eu faço um refogado de óleo com todos os temperos normais do do Sul, que é ah a cebolinha e a salsa, que lá eles não conhecem. E boto o coentro o cominho e o pimentão, porque o pimentão lá é tempero. O pimentão não é parte, assim, de uma comida que faz recheado, ou então aferventa tira a pele faz coisas com pimentão. Lá não faz parte, por isso ( ) cebola. Eles picam o pimentão assim e com a cebola, sabe, fazem um refogado desse tipo. jogo ah as postas de de de bacalhau, ponho bastante cebola em rodela, porque eu gosto, particularmente, né? E daí eu boto o leite de coco. Ora lá, eles pegam o coco, ralam o coco, tiram o caldo, colocam também uh parte do bagaço, outra parte já fazem doce, fazem outras coisas. ### Em geral são duas, porque eu faço sempre em grande quantidade, faço com dois quilos de bacalhau. Não coloco batata, de espécie alguma, é puro bacalhau. Jogo leite de coco, não ponho água nenhuma, só leite de coco. Então dá uma ligeira fervura. Quando ele começar a engrossar, boto o azeite de dendê. Então fica aquilo, um amarelo ovo, coco misturado com bacalhau, sabe, grosso. Aquilo você sai suando da mesa. E uma coisa interessante do Nordeste que eu vi é que lá as comidas são fortíssimas. E o clima é impressionante como é quente. ### Mas a comida é quentíssima. E lá é na base da pinga. Lá a gente come toma muito aperitivo na base da pinga. Da pitu, da branquinha e outras pingas excelentes. Para tomar um pouquinho pura até é bom. Ent ão bebe-se demai Come-se demais e impressionante como eles aguentam um clima daquele. Em Recife é um tal de mão de vaca, que é o mocotó, que eles cozinham junto. E o sarapatel, que eu não suporto, nunca fiz em casa. B uchada. ### ### Então eu não faço. São essas comidas típicas de lá. E o cozido e a feijoada. ### (risos) Então, quer dizer, é do norte inteiro, né? É minha, a feijoada. Então, assim, se convida o pessoal, faz americano, cada um faz o seu prato. Fizeram uns aniversários. ( ) todo mês tem aniversário em casa, né? Agora mesmo esse sábado, se vocês quiserem aparecer, podem, porque um a mais, um a menos, não faz diferença. (risos) Que é o único dia que eu digo, pode ir, que (tosse) que que faz sobrando, né? Porque sempre, a às vezes ah, o pessoal do Norte, eles convidam um primo, e de repente chegou alguém de lá com três. Então leva. Então esse dia eu não posso estar pensando em termos de dez pessoas. ### Então, ué essa semana, o meu marido falou assim, escuta, faz tempo que você não faz (risos) cozido. Eu falei, bem, no aniversário da Thais, então eu vou chamar o pessoalzinho, então eu vou fazer um cozido, que não dá para fazer com pouca gente. ### E o cozido da água, eu faço uma travessa assim de pirão. Eu faço arroz porque tem um pessoalzinho de São Paulo que prefere comer o arroz, mas o típico é é o pirão, bem apimentado. ### E o cozido. ### Separo os as folhas num prato, separo os legumes no outro e as carnes num outro prato. E cada um tira o que quer. E ### Olha, (pigarro) eu não sou de dar festinha de aniversário para criança, sabe? Então, a ( ) vai fazer cinco anos. Esses parentes que vêm em casa, todos têm filhos da idade. Então, ela quis um longo, então eu falei, as crianças vêm de longo, (risos) de comer cozido. (risos) E criança a Thaís estava há muito tempo pedindo um vestidinho comprido, então eu fiz. Fiz não, comprei pronto. E eu faço ah o bolo, encomendo na padaria São Gabriel, da Avenida São Gabriel, desde o meu primeiro casamento, que eu faço os produtos lá, que são muito bem feitos, caseiros, qualquer criança pode comer. Um quindim, que eles fazem, do tamanho que a gente quer, fios de ovos. ### bolo. Então vem torta juliana, que eu gosto muito, só comprada pronta mesmo ### O que que é? A torta juliana é um creme de ovos com aquelas bombinhas redondas recheadas que formam um bolo e depois ( ) caramelado por cima, tudo duro com caramelo dourado, sabe? Muito bonito. ### E a a massa folhada, aquele aquele ah bolo de massa folhada, que é só a massa folhada com chantilly, que o pessoal gosta muito lá, e o bolo de chocolate, que é uma espécie de um brigadeirão, né? ### ### zer uma uma torre bem grande, faço, compro na padaria São Gabriel. ### ### Qualquer outra coisa que tenha lá É, hoje é o aniversário da minha filha mais velha, né? Ah, é? ### ### Ah, parabéns! E... (risos) Já fiz o pudim de... Como é que chama? ### ### Na casa dos meus pais, no Paraná, então eu peguei, aproveitei e fiz o aniversário lá de hoje, só para lembrar o dia, vai ter o pudim de... E eles gostam, né? Ih ### ### Acho que a única exceção que eu faço é para o pudim, porque eu ponho uma dúzia de ovos no pudim, sabe? Quando eu faço, então não preciso engrossar com nada. Eu ponho o que cabe no liquidificador, que é exatamente o que cabe depois na forma. ### ### ### Bem, por enquanto, (pigarro)com exceção da Lígia, que já fez quinze anos, que ela compra as próprias roupas, porque as o nosso gosto é bem diferente. Não sei se é porque ela é muito parecida comigo, então ela está na fase de realmente ser o contrário do que eu sou. Então, se eu gosto de uma coisa, ela gosta de exatamente o contrário. Então, ela mesmo compra a roupa dela. Mas dos meninos, eu ainda compro. Eu não compro muita roupa. Eu compro na base de duas vezes por ano, sabe? Então, quer dizer, quando chega o fim de ano, a gente sai, vai para o norte, então é na base da da da do short, da bermuda, da sandália. com blusas de malha, dessas de algodão. Então, quando chega abril, está na hora de comprar calças compridas. ### A gente vai de vez em quando para a Argentina, compra aqueles peludinhos lá, a gente não lê, né? ### Eles usam tênis o tempo todo, que aliás é um problema dos meninos lá em casa, os tênis... o tênis dorme no terraço, porque senão é incrível, como eu disse, com o pé, né? De vez em quando eu ponho ponho os dois no bidê com os os dois pés lá, boto água quente em cima do pé deles, boto... Tudo quanto é coisa de limpeza lá dentro, (risos) sabe? Porque os moleques são demais. Meia o tempo todo com tênis, né? Então eu posso usar sandália. Começa a esfriar, não pode mais. E compro tudo pronto. A Thaís também, na base desses vestidinhos simples, sandalinha, short, esses conjuntinhos da Hering, né? O nenê tam também já tá entrando nessa. O primeiro vestidinho longo dela é do aniversário, de algodão, de bolinha, com florzinha, esse negócio todo. Eu compro toda a minha roupa pronta, meu marido compra a roupa dele. Ele gosta de escolher as camisas, calças. ### eu, à medida que vai surgindo a oportunidade, eu compro o vestido para aquela ocasião. porque eu nunca tenho muita roupa, o que eu uso é sempre na base do... da saia e blusa, da calça comprida, do informal que eu aproveito, eu uso não só no trabalho, mas vou ao cinema com aquilo, entendeu? Então, de vez em quando, eu me dou o luxo, assim, de uma saia longa, porque não tem outro jeito, né? A minha menina mais velha debutou no interior, porque ela quis, né? nessa cidade em que os avós paternos moram, em Martinópolis. E Então, eu tive que fazer um longo para a festa dos quinze anos dela. E assim vai. Mas eu prefiro sempre ir vestido, vestido curto, comprado pronto, em geral de manga comprida, porque assim pode... ir a qualquer lugar. ### Usa muito calça comprida? ### ### ### A história da calça comprida? Não com com calça comprida não houve não. A história que houve foi com o cabelo cortado. Ah é? Ah ### Quando começou-se a usar o cabelo cor ### Moça de bem não cortava o cabelo, né? Veio a moda, foi uma luta, né? O pai não queria. Não queria que a gente cortasse o cabelo, apesar de ele ser uma criatura formidável. Não sei se porque, por esse motivo mesmo, não é? As primeiras foram muito criticadas, né? Então nós aproveitamos falar com ele numa hora que ele estava assim ah tratando de negócios, assim muito ocu pado. Papai, a gente pode sair agora para cortar o cabelo? Ele pode, pode, pode. Mas depois que ele dizia uma coisa ele não voltava atrás me Prometeu, prometeu. Quando ele viu nós estávamos de cabelo cortado, viu? Mas o que foi isso? Nós perguntamos, o senhor disse que podia. pois ( ) bem, então agora é uma ressalva, hein? ### Uma ressalva, se quiserem continuar com o cabelo cortado, ( ) o senhor vai me prometer que nunca entrarão num salão de barbeiro para cortar o cabelo. Ele terá que vir aqui em casa. Eu disse, não, mas ah nós já fizemos isso, nós já lembramos que o senhor podia ah ah fazer qualquer objeção. Ele veio aqui em casa para cortar o nosso cabelo. ### Agora, depois que viemos para São Paulo, aqui, já tinha cabeleireiros e tudo, então, não havia problema a gente ir cortar o cabelo fora. ### olha, de vez em quando, eu assisto um filme da da época da nossa mocidade ### Aquilo a gente já tinha usado, acha uma coisa formidável a lembrança, né? Ah Eu acho que as modas eram mais complicadas e feito com mais esmero, eu creio. Porque não sei se a mão de obra era mais barata ou o que é, não é? ### Não se comprava roupa feita. (pigarro) Mandava-se fazer, não é? E, agora, Depois que começámos a trabalhar, olhe, a moda do chapéu ainda continuou um pouquinho, sabe? Quando eu comecei a trabalhar, isso não era chapéu. Ninguém na hum Nenhuma moça saía sem os seus chapéu e luvas. Tanto que lá no nos nossos armários de guardar os aventais, lá na faculdade, tinha em cima uma prateleira para a gente colocar o chapéu. Então, o primeiro o primeiro passo para a gente se desvencilhar dele A gente ia ao trabalho com o chapéu na mão, de luvas, de bota e o chapéu na mão. Aí eh veio o uso das boinas, dos beretzinhos e tal, e dali uns tempos depois nem isso, acabou-se. Mas era uma tragédia, porque, quando eh principalmente quando os bondes eh que começaram a ficar superlotados, né, de vez em quando alguém ficava bravo, ah, derrubou meu chapéu, que isto, que aquilo, né, ### Ficou mais prático. Mas a senhora poderia vir trabalhar de de calças compridas, por exemplo? Não, eu não não cheguei a usar calça comprida aqui na na faculdade, não. Porque havia proibição. ### ### A cada aula... Eu estava dando aula há seis anos atrá s, aqui em São Paulo não se podia dar aula de calça comprida. ( ) Logo depois que liberaram, daí todo mundo foi de calça comprida. ### ### Olha, eu posso estabelecer talvez um um limite para isso, porque no meu primeiro casamento, eu morava aqui em São Paulo e eu me lembro bem do enxoval que eu fiz, calça comprida era para ir para a praia, para fazer piqueniques. Na faculdade mesmo, a gente ia para Itu para fazer a cidade ( ), a gente punha calça comprida. Eu, a faculdade toda, me lembro que eu fiz de saia e blusa, meia nylon, meia soquete, meia três quartos, então, O comum ainda era vestido. E... Exato. E eu posso quase que afirmar que a a calça comprida assim, disseminada, acho que é da década de sessenta. sessenta e começou mais usar calça comprida. ### Sabe? ### ### ### Entendeu? Eu estava com um traje propício para ir para Santos, para fazer piquenique, para ir para o mato fazer excursão, não é? Exatamente. E na faculdade que eu fiz em cinquen Eu me lembro bem, eram saia e blusa, no inverno aquela saia de lã, justa, sabe aquela sainha justa? ### ### O tempo da... Lá não havia uniforme, não. ### ### ### abe, ah interessante, eu usei saia curta, viu, no tempo de estudante, pelo joelho. Estava na moda. Os vestidos, a saia, eh ah ah havia modelos em que a saia até era mais comprida do que o corpo, era c ### ### ### É, se usava aquelas meias nylon, nem grossa, nem fina, que eram enfeitadas, então aquelas meias apareciam, né? ### Bacana. ### As melindrosas pintavam a boca assim, em formato de coração, diminuíam tamanho da boca, certo? ### E vestido assim, dessa maneira, pelo joelho, ah uh comprido, sapato com salto carretel que chamavam tipo carretel e os rapazes com a roupa e eram os almofadinhas, a roupa era toda almofadada mesmo, viu? Tinha assim um pouco de busto, cintura ah ajustada, depois a calça tinha bastante pregas aqui no quadril, depois ela ia afinando, de de de para tirar a calça precisava tirar o sapato também, não é? revolução ah ah o aparecimento das melindrosas e dos almofadinhas. Foi uma mudança mesmo radical nos costumes da da época, né? Então, ah aconteceu, até já contei esse fato a você, não é? Havia uma revista aqui em São Paulo ah chamada Revista Feminina. Era uma boa revista, que tinha muito bons colaboradores, muito bons mesmo. e um dia aparece um um retrato ou uma um artigo do Menotti Del Picchia no lugar. O título era Caso ou Não Caso. Então ele criticava a educação da época. ### Ele ele escrevia melindros com a educação severa que davam às suas filhas. ### Ele citava todas as famílias antiga, sabe? Podemos pensar em casar com uma moça que, em vez de ter à cabeceira da cama o retrato de Santo Antônio, ter o retrato de Antônio Moreno? Era o artista coqueluche da época, sabe? Mas, sabe, uma senhora mineira respondeu o artigo. Ela disse, para entregar as nossas filhas a quem? (risos) O senhor Menotti Del Picchia quer que criemos da mane da mesma maneira como fomos criados. Para entregar a esses almofadinhas, aí ela de ela ela descreveu o almofadinha, mas diminuía mesmo, sabe? Não, senhor Menotti, o casamento não pode ser uma cruz. Temos que educar as nossas filhas da mesma maneira como os os rapazes são educados, para para não estranharem. (risos) ### assim, depois assim porque há uma reviravolta, o pessoal estranha, depois acaba se acostumando, não é? Eu acompanhei de perto quatro gerações, porque eu adorava as amigas da vó, aquelas criaturas fabulosas, de falinha mansa, meiga, não se criticava ninguém. Quando havia um caso assim, muito em evidência, sabe, e que uma pessoa amiga estava envolvida, a coisa era era comentada. Tão discretamente, se havia uma criança na sala, bastava levantar um pouquinho assim a sobrancelha ( ) ### Bom, a geração da minha mãe era quase igual, não houve lá muita diferença, apenas o do vestuário. No tempo da vovó, era aquelas capinhas de renda, saia comprida, rodada. ### Então, houve alguma diferença. Da geração da mamãe para a nossa, A diferença foi maior, mas da nossa para o nosso sobrinho levou um saltão, viu? Foi aquele salto mesmo, aquela guinada ### Beija-mão para para os avós e para os tios, não é? Agora já os meus sobrinhos, alguns deles... Tchau, Jorjão! Tchau, Tere Assim, sabe? É tudo diferente. ### Tchau, eles ### Que mora conosco, o Milton, ele não não deixa de beijar a hora que sai. Mas os outros estão sempre correndo, estão sempre em cima da hora, estão sempre saindo disparados, estão sempre aflitos. ### Interessante, eu morava no interior, mas uh a vovó assinava um figurino alemã que era chamado quatro estações. Então era deste tamanho assim, devia ter assim, eh ah hum eh como se fosse um caderno de uns sessenta centímetros de comprimento por uns quarenta de largura e um calhamaço assim, sabe? Então fazia os modelos para adulto e criança, para velho e moço, as quatro estações e fazia um mapa com o o os os moldes. Então, era fabuloso aquele figurino, era uma maravilha. ( ) assinava aquilo e as filhas também se serviam, né, daqueles figurinos. ### Então, aí passou-se a comprar figurinos, né? ### ### ### ah ou seu pai? ### oh há alguns vestuários que não se usa mais, né? No fraque, para certas ocasiões, né? Ah Sobrecasaca, para casamento, assim, muito ( ) ### ### ### ### Ah sim, para dia de júri era terno preto. Para enterro e para casamento tam ### ### Agora, eu acho que meu pai era um pouco fora de época, porque ele tinha paletó de palha de seda da Índia para andar a cavalo, porque o calor era muito grande (fala enquanto ri) ### Depois de lavado, era como se estivesse novinho, viu? Maravilha! E Então, ele sentia muito calor, e quando tinha que fazer um grande percurso a cavalo, ele usava aquele pale O vento batia engraçado que até entrava assim por baixo da blusa, ficava com o balãozinho assim, sabe? Ficava levezinho. Mas... Seu pai era português? Qual era assim o aspecto físico dele ( )? Olha... Eu sou quase... Bom, eu achava o meu pai muito simpático, bonito até. ( ) um tipo a ser atraente porque ele era uma criatura assim de personalidade, sabe? S e impunha em qualquer meio que ele esti que ele estivesse, viu? era tinha muito cabelo... Tinha, ele cortava curto o cabelo dele porque nessas viagens longas que ele fazia pelo interior, às vezes tinha que dormir até em rancho, viu? Não havia estrada de ferro naquele tempo, era ah viagem a cavalo mesmo. ### ele cortava curto para ver essa facilidade, usava bigo não é? Toda a vida usou. E durante muitos anos ele usava aqui um, chama um pera, um um cavanhaquinho minúsculo, bem aqui, sabe? Tinha uma Ele toda a vida usou aquilo. Um dia, di ele distraído, conversando muito com o barbeiro, o barbeiro tirou. Tirou, ele não gostou, disse que o homem devia ter uma cara só. (fala enquanto ri) (risos) Como é seu marido? Meu marido tem detalhes assim muito Meu marido é o típico do nortista, braquicéfalo, cabeça chata, moreno. Ele é um feio bonito. é um homem, assim, de traços gro grosseiros, grande, boca, nariz, olhos, mas é charmoso. é o Alain Delon nordestino. (risos) Bem alto, magro, moreno. Ele é brasileiríssimo, né? Deve ter índio, negro na família dele, bem próxi e portugueses. Eu tenho a impressão que meu pai tinha misturas. eh de ele era sabia árabe. que ele era moreno eh

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Mas já a minha mãe, a de de faxina, era ah ela era a paulista de quatrocentos anos. ### ### E do lado do pai, do papai que eu estou vendo que é o que tem possibilidade, né? Que é ão três famílias, que é os Alvarengas, que vieram em mil quinhentos e trinta e um com Martinho Afonso, os Prado, ### Tudo de do século dezesseis. E os Leme e Martins Bonilha. Só o Martins Bonilha é que é de origem espanhola que vieram também durante ah uma das expedições exploradoras. Isso do lado do pai do papai, que chamava-se Átila Martins Bonilha. ora do lado da mamãe, ih também são brasileiros, mas não eh não não existe uma árvore genealógica, porque, por ser as famílias mais antigas paulistas, o Pedro Taques fez ah todos os títulos. E como os do papai eram os mais antigos, então exatamente foi o que o Pedro Taques pegou. Agora do lado da mamãe, Pimentel, Queiroz, Camargo, também de Facchina. ### Vai ver que é. (risos) Ih mas atualmente chega até um certo ponto e depois se dilui, né? ### Eu também tenho mistura de índio na minha ascendência. ### ### o tal do Castela casou-se com uma filha de Tibiriçá. ### É, eu também tenho do título dos Camargos lá no Pedro Taques e no Silva Leme. ### ### O o avô de mo de mamãe que era lá de Facchina, Antônio Dias Batista Prestes, viu? E a e a mulher dele era Camargo e Melo. Ah, então Camargo e Melo era, porque o meu avô materno, que era Ferreira Camargo, Pimentel, sabe, esse pessoal. Inclusive é uma família muito conhecida em Itapeva por uma característica que diferia das demais, eles eram espíritas. E naquele tempo era muito difícil existir assim uma tendência para o espiritismo, né, assim E eu me lembro do meu avô, o pai dele era espírita, a vovó Sinharinha era espírita e Eu conheci o pai do meu do meu avô, meu bisavô, eu tinha acho que uns cinco anos quando ele faleceu. assim toda uma filosofia de Allan Kardec, esse negócio, sabe, e era lá de Facchina. ### ### Agora, Os meus três primeiros filhos já tem cinquenta por cento de sangue italiano né? Porque o pai é italiano legítimo. os outros dois também brasileiríssimos, né? Porque o o meu marido já é... ( ) o pai do meu ma o pai do meu marido, meu sogro, que é vivo ainda, ele era pernambucano, e é o único indivíduo da família dele que todos conhecem. Ele saiu de casa com quinze anos, nunca mais viu ninguém da família, foi ser marinheiro. Quer dizer que aí é fácil fazer árvore genealógica deles e começa com ele. ### é ele que tem aquele jeito caboclo que meu marido é muito parecido com o pai. Sabe? Então a gente nota que deve haver mesmo uma mistura de raças ali. Agora a minha sogra, não, já é clara. Ela é da família ( ) de lá que tem portugueses e tal, já é de família tradicional de Maceió. Mas o meu ah o meu sogro é aventureiro. e ah o pai, que eu acho que acabou mudando lá por perto, ele ficou. Desceu com a malinha dele lá em Maceió, né? E começou com ele. Então meu marido é é um nordestino típico mesmo, sabe? Cabeça ### Então lá em casa cada um tem uma ca (risos) Como é que é a mais nova? A mais nova é a Thaís, tem cinco anos. É Ela é o pai escrito. Escrito. Ela é ela tem o cabelo encaracolado, bem morena, olhos negros. Puxou bem o pai. A única coisa é que ela não tem a cabeça chata dela dele, tem assim, o meu o tipo do meu rosto. Fisicamente, ela é todinha ele, né? A estrutu ### sabe? Tem os dedos finos e E a mais velha, já ela é muito parecida comigo, mas em lo iro. Porque o pai era tem olhos azuis, cabelo loiro. E bem mais delicada, né? Ela tem os traços mais finos. branquinha, loira mesmo. E eu tenho um menino depois dela que é loiro também, olhos verdes, bem claro. Depois tenho outro menino que já puxou ao meu pai, que eu sou parecida com meu pai. E ele se parece comigo e com o a vô. Depois tenho um último nenê, o André. puxou a família da mãe do do meu marido e do meu pai. Meu pai também era loiro de olhos azuis. Então, ele saiu claro. Então, parece incrível como dois os dois irmãos, né, a Thaís e o André, que são os pequenos, menores, filhos do mesmo pai, como são diferentes. Você citou há pouco a crença religiosa de sua família, desse lado espírita. No seu tempo, as mães davam educação religiosa aos filhos? Olha, na minha casa, eu passei por uma fase católica porque a mamãe foi criada no espiritismo. Mas a minha avó ma materna, ela não era espírita. Mas, como toda mulher daquele daquele tempo, ela acabou se adaptando ( ) meu avô tinha uma vida ativa. dentro do Espiritismo. Então, ele praticamente obrigou-a a frequentar centro, esse negócio, não é? ### Então, a minha mãe, eu me lembro que ela falava assim que a coisa que ela mais queria era fazer a primeira comunhão com o vestido branco, porque ela não frequentava igreja. Então, quando ela casou com o meu pai, que era católico, não ele não é eh ele era de família católica, tradição católica, casaram-se na igreja católica, então ela ficou à vontade, né? Ela saiu da tutela da mãe, Foi para a tutela do marido, então daí ela se esbaldou. Foi ser católica, fez o que quis, comungou, confessou e tudo. Então nós fomos fizemos uma educação meia bagunçada no sentido religioso. Então logo que eu pude optar, eu optei pelo protestantismo. (risos) (risos) Ainda não foi nem espiritismo e nem catolicismo, né? O contraste. É. E a minha formação continua sendo ah orientada mais em bases protestantes. ditas protestantes, né, mas eu não frequento igreja. Meus filhos não têm religião. Eles Eles vão à igreja protestante, de vez em quando eles vão à missa com coleguinha, e não têm. Nós não frequentamos igreja nenhuma. Eles ### Na minha casa, também, essa questão de ca de estímulo religioso foi muito liberal. ### ela ensinava a gente com aquela trabalheira que tinha de noite. Ela ia de cama em cama, ajeitava as cobertas, ensinava a rezar. Um por um, sabe? Agora, depois que a gente cresceu, papai então era todo liberal. Ele achava que religião era cará ### Marx, ele estudou muito religião. ### Mas estudava muito. Um amigo era protestante, convidava para s ah assistir um orador que chegava afamado, ele ia. No dia seguinte reuniam-se em casa para discutir o assunto. Queriam saber a opinião dele sobre o que tinha ouvido. Ele c comentava, mas ele lia a Bíblia para saber se o fulano tinha dissertado certo ou não e fazia-o como o comentário dele, né? De maneiras que se que se um amigo, tinha um amigo que tinha um centro espírita convidava, ele assistia, ele ia assistir. E começou a ler também para saber se aquilo era verdade ou não. Mas era uma coisa assim, sabe? Ele não ia pelo que o fulano disse ou pelo que ouviu dizer. Ele ia à fonte, saber se aquilo era certo ou errado. ( ) E ele nunca forçou os filhos a frequentar igreja. A gente ### Como é que elas iam à igreja para confessar, por exemplo? É, punham aquele veuzinho na cabeça na hora da confissão, da comunhão. Agora a mamãe não se confessava não. Papai achava que isso era errado, que isso foi a invenção dos padres. (risos) Confissão de de Jesus não deixou nada disso. Ele mostrava a Bíblia, escritura, sagrada, disse tudo em ### Porque era eles que dominavam na época, não é? Papai falava a mesma ### os filhos não, ele dizia, eu não não... Não obrigo e nem proíbo. Cada um faça o que entender. Política e religião. Em casa cada um seguiu, fez o que te o que entendeu de fazer, sabe? Ele nunca foi de de sugestionar, sabe? Ele hã debatia certos assuntos nesse nesse ra nesse ramo aí com amigos e tudo. A gente ouvia, é verdade. Mas, ah por exemplo, quando foi instituído o voto à mulher, ele fez questão absoluta que logo nós tirássemos o nosso título de eleitor, porque ele se debateu demais por esse por esse assunto. Porque, você sabe vocês sabem que durante muitos anos, ah até defunto votava, não é? ### ### voto era O voto era em aberto, então o chefe que estava ali, com seus capangas e tudo, o caboclo não tinha coragem de de votar a não ser no candidato do chefe do lugar. Porque sabia que depois o pau descia, né? Então era... eram castigados mesmo, né, ou ou eram, por exemplo, perseguidos numa ou em outra coisa. Então, em geral, eh e havia lugares mesmo em que mandavam matar mesmo os os de partido contrário. ### ah veio o direito do voto, à mulher e de o voto secreto, ah como ele como ele se exultou, sabe? E, um dia, um amigo chegou em casa perguntando se já tínhamos tirado o nosso título. ### Em quem vocês vão votar? O papai disse, meu amigo, alto lá, porque eu sou pai, não perguntei e não vou perguntar. Elas votam em quem entender e não por sugestão de quem é que seja. Não deixou nem a gente dar a resposta, ele mesmo deu. (risos) ### ###