SPEAKER 0: Dona Gilda, a senhora poderia comentar alguma coisa sobre o seu trabalho no no juizado, nessa divisão do teatro, não é? SPEAKER 2: ### Eu fui convidada no tempo do doutor Aldo, há seis dias, que era juiz de menor, para integrar a a comissão de teatro que fazia parte das comissões técnicas de assessoria para determinação de idade e também para a a verificação de da regularidade com que a peça era apresentada, se havia modificação também, né> se podia manter o mesmo nível de idade da da assistência. E> Eu trabalhei nisso dezesseis anos. E nós tínhamos uma reunião semanal, na qual nós debatíamos, inclusive, os critérios a serem usados, não é? E e a importância da da do teatro na cultura, a importância do teatro para o estudante, de haver um um teatro acessível ao estudante. Debatíamos também ãh a importância da cultura popular no teatro. Todos esses temas eram debatidos de modo que a gente tivesse um critério mais ou menos comum para fazer a a crítica das peças. E> sabe, assim, informal, às vezes até numa pizzaria, e redigíamos. S> Então, eu comecei a me desinteressar e as reuniões foram suspensas, só havia ida direta, não havia aquela comunicação, não havia mais trabalho de equipe, E eu pedi, então, eu pedi demissão. Agora, durante esse tempo, nós vimos muita coisa interessante. Inclusimos ãh inclusive, vimos uma mudança muito grande no teatro, né, no tipo de peça que era levada, né, na assistência, no modo da da da plateia se apresentar, que quando nós íamos a uma estreia, antigamente, era um uma toalete que a gente tinha que fazer, tinha que ir à cabeleireira, A gente ia fazer uma toalete e depois, no fim, a gente ia até de calça comprida. Então, foi evoluindo muito e em vários aspectos. SPEAKER 1: ### SPEAKER 2: foi que nós fomos assistir Letra e demos uma censura para quatorze anos. E> ### ### E depois não tinha direito assistir a peça que era considerada improva pela polícia, né? E havia fatos bastante interessantes. A> Havia... por exemplo, certa influência às vezes de de elementos um pouco mais de prestígio que conseguiam obter, trabalho de menor em peças que não deviam trabalhar, presença de de menores nos nos bastidores que traziam uma série de problemas, né? E Como havia muito pouco teatro infantil, que hoje já até existe mais, mas na época era muito pouco, nós resolvemos instituiu um concurso de peças infantis. Então, nós lançávamos pelos jornais essa esse concurso, tínhamos um prêmio que era dado, em geral, o primeiro prêmio era dado pela Antártica, e fazíamos o julgamento das peças, e a peça que era premiada nós conseguíamos sempre que fosse encenada, a primeira peça coloca> E e algum fato assim bem característico, bem... Não estou lembrando no momento, não. Seria preciso eu ter pensado um pouco antes, né? Porque a memória foge, né? À> <Às vezes, voltando a falar no assunto, talvez relembre, né? De alguns fatos assim mais característicos. SPEAKER 3: Bem, a minha comissão era quase que paralela à comissão de Gilda, porque era a comissão de censura de filmes. M> ### ### Essas sessões eram interessantes porque a a comissão ãh ( )reunia lá um grupo de pessoas bem éh diferentes, assim, quanto à profissão, quanto ao nível cultural, adultos e também alguns jovens. Então, o debate era muito enriquecedor, porque cada um colocava seu ponto de vista, sempre visando o o, vamos dizer, o enriquecimento ou o prejuízo do menor. E> Quer dizer que, então, sentimos que a censura deveria deveria ser feita mais no no lar, no acompanhamento dos pais, dos parentes daquele menino. E> <É uma quebra de padrões total, uma mudança na técnica cinematográfica e a busca de uma simbologia muito fechada. que às vezes escapava ao alcance das pessoas, então precisávamos discutir muito e ser às vezes até orientados. A gente notou um encaminhamento para o ãh o real, o mesmo desagradável, mas real da vida, o abandono do romantismo, ### Então, a gente viu a, enfim, a pintura da vida mesmo, a vida feia, a vida> Como ela é. Houve mesmo uma evolução nesse sentido. A> Isso fo deu assim um um um uma luz nova. Quer dizer, às vezes o ponto de vista da gente é tão pessimista e que vê sempre aquilo que vai prejudicar. E a criança já é mais pura, tem uma visão mais singela das coisas ( ) e não penetra tão pessimisticamente na coisa. Foi um fato interessante que ocorreu. SPEAKER 2: admira mais, realmente, é que o próprio Estado éh torne obrigatório a exibição de filmes nacionais e, indiretamente, de de pornôs chanchadas, porque, às vezes, não existe outro filme para ser passado. Então, o cinema tem que recorrer a pornôs chanchadas, não é? Que certos cinemas não têm plateia para esses filmes. Isso torna um um problema também econômico para o exibidor só pelo fato de ser nacional, não é? E> Isso eu acho ( ) também uma aberração. SPEAKER 3: ### Eu mesmo tem tive a oportunidade de assistir a um filme éh tipo gangster, ou tipo... Policial. Cujo nome agora não me ocorre, porque já faz um pouquinho de tempo que assisti. E não foi aqui em São Paulo, eu estava em Campinas. E eu fiquei admirada como a técnica estava se aprimorando e como também o tema foi encarado assim de um modo éh sério, sabe? Éh éh éh éh A história de um rapaz que foi vítima de uma criação errada e foi condicionado a uma marginalização na vida e acabou sendo um marginal. E> bem real, bem cruento. SPEAKER 2: ### SPEAKER 3: São, mas eu prefiro, como eu sou otimista, achar que são pequenos passos dados para um futuro melhor do nosso cinema. (risos) SPEAKER 2: Agora, o problema seria estimular esse tipo de cinema sem tornar obrigatório o filme ser exibido certo número de dias, sendo nacional, sem discriminação da qualidade do filme. Porque o filme nacional tem ( ) o uma plateia sempre muito simples, em geral, não é? O pessoal mais sofisticado não vai assistir filme nacional. Quer dizer, são pessoas justamente que são mais influenciadas por um filme que assistem. Você não acha? SPEAKER 3: Eu também acho que o esse isso que você citou, de que os mais sofisticados, quer dizer, aqueles que têm uma certa cultura, Então, não evitam assistir ao cinema nacional e> Isso eu acho também um desprestígio para o cinema porque> ### ### Acontece mesmo, mas não deveria acontecer. Porque se m houvesse maior crítica, então, eles corresponderiam a um a uma um uma solicitação de uma de um progresso, de uma melhori> ### SPEAKER 2: Agora, desses últimos anos, eu estou completamente afastada do teatro. Depois que eu deixei a comissão, eu tenho dificuldade de sair à noite, porque meu marido trabalha muito, está cansado à noite e ele não gosta. E o teatro tem que ser à noite. Não é? De modo que no cinema a gente vai mais vezes, mas o teatro que acaba tarde, em geral começa às nove horas, a gente chega em casa meia-noite, ele levanta às a gente quase não vai. E eu não tenho acompanhado, a não ser pela crítica, sabe? Porque o assunto me interessa, então, e eu sempre leio as críticas, mas eu assisti mesmo Muito pouco. Não estou a atualizada no no problema teatro. É no tempo em que eu trabalhava, nós ( ) o que havia em matéria de teatro brasileiro, que eram muito poucos os teatros, muito menos os teatros, não havia tanto teatro como agora, que era era o tê bê cê, era a Arena, que tinha peças levava mais peças nacionais, Era o Teatro de Arena naquela época, né? ( ) Começaram a lançar as peças do do Jean Francisco e outros escritores nacionais. A> Eu não assisto Mas, de passagem, a gente procurando um programa ou outro, a gente assiste um pedacinho. Nunca consegui me interessar por uma, tentei várias vezes, mas aquilo vai muito arrastado. Não é? E eu não tenho paciência para assistir. Mas a linguagem, os diálogos, acho muito fracos. Os diálogos Embora eu tenha notado, ultimamente, uma melhoria no nível dos atores, né> Ou então chanchadas. Éh Programas cômicos, que não que não conduzem a risada. Geralmente tem já palmas gravadas. ( )> Risadas gravadas. Programas para você rir, onde a risada já vem gravada. Quer dizer num num Não não não são não é uma comicidade sadia, espontânea, é alguma coisa fabricada. SPEAKER 2: ### ### ( ) brasileiro ( ) SPEAKER 3: Bem, passando esse esse seu ponto de vista, quanto às novelas? A> Geralmente aquele horáriozinho após o jantar, respeitando a nossa refeição em comum, após o jantar a gente assiste uma novela e um e um finzinho de uma a outra. E É assistimos os filhos mais éh de quatorze deze> Conversamos sobre a novela, aquilo que fica ridículo, aquilo que está bem trabalhado, sobre o desempenho do do do ator, éh sobre a realidade da coisa de vida, e até sobre alguns temas que a novela vai lançando, como esta que está por aí, a viagem, alguns temas religiosos que essa novela vem lançando sobre a vida após a morte, e que são feitos assim muito bem feitos e são éh motivo de curiosidade porque tudo que é sobrenatural atrai assim um fascínio especial, né? Atrai assim um Exerce uma atração muito grande sobre todos nós e principalmente sobre os jovens. Então a gente tem oportunidade de de discutir assim do ponto de vista religioso a validade daquelas afirmações E eu sempre faço questão de ir até o fim da da questão do do do do que eles estão querendo aprender e conhecer, porque é muito perigoso uma um tipo de novela que lança uma temas religiosos de uma grande profundidade e que vão ficar depois, assim, sem discussão, sem um um estudo, sem uma avaliação, e vão, talvez, conduzir a um um fim errado. É uma curiosidade que precisa ser orientada. ### E por força das circunstâncias, porque você não pode se negar, como muitos amigos que eu tenho, que não tem o aparelho de televisão, num num querem os estranhos dentro de casa. É preciso ouvir, porque nós estamos na era da da comunicação, e a televisão é uma das maiores comunicadoras, eu acho. Então, a gente faz assim, nesse espírito, de de estar dentro da época em que vive, porque não é possível fugir dela. SPEAKER 2: Aqui o problema é diferente, porque os filhos estão casados, o único que não é casado é noivo, e praticamente toda noite é está casa da noiva. Então, assistir televisão em comum é uma coisa muito rara, porque quando se reúne, tem muito o que conversar. A televisão não interessa, não é? Porque é é uma reunião ocasional, não é diária. E> <Às vezes passa um outro filme, ou um outro programa que dá ocasião à discussão. Mas mesmo do do em filmes que a gente assiste cada um separado, eu vou com meu marido, eles cada um para o seu lado, também são não são muitos os filmes que dão assunto para debate. Por exemplo, esse filme, ãh esse crime chamado Justiça, né? Não é, o nome? ### Esse filme deu em ( ) a uma noite inteira de debate aqui em casa, cada um com um ponto de vista, não é? E um achando que estava certo ele ter que o o juiz ter queimado os documentos que comprovavam a inocência do do suposto culpado, né? ( ) para condená-lo pelos crimes que ele não não podia ser julgado. e outro defendendo um ponto de vista de que ele exercia uma função e como tal ele não podia usar do cargo dele para fazer uma justiça à moda dele, que então ele estava se transformando em juiz, em júri, e carrasco, não é? Tomando sobre seus ombros uma deliberação dessa. Eu sei que a discussão foi por uma noite inteira. O> E a gente acerta, acho que oitenta por cento das vezes, acerta qual é o episódio que vai se seguir e qual é a frase que ( ) que o um dos personagens vai responder em uma determinada fase. do desenrolar lá do tema. De modo que é é uma até uma brincadeira que a gente faz, porque, realmente, a gente num num tem novidade nenhuma. É uma repetição um pouco disfarçada, um do outro, de mil formas, com pouca variação, e e sempre com as ideias centrais muito pobres, né? Agora, a a é que o programa de... por exemplo, de debates que havia antigamente, se assistia em conjunto aqui em casa, no tempo do pinga-fogo. Qual é mais que tinha? SPEAKER 3: ### SPEAKER 2: O Céu é o Limite éh Não, mas tinha um outro mais interessante, que era muito polêmico. ( ) ### ### ### ### Exatamente. Havia alguns programas que a gente assistia em comum e que e que discutia. É. Que prendia o interesse. E E a turma jovem, eles no tempo em que eles eram universitários, e tudo que debatiam. Mas, hoje em dia, a a ( ) não compra. Eu acho que não encontra. Mas um um um programa de televisão que prenda o interesse suficientemente para resultar num debate. Porque agora são todos, se fossem mais jovens, talvez, como você tem, né, mocinhos, eu não tenho mais, num encontra. Num SPEAKER 3: ### Eles gostam de assistir o Fantástico, porque o Fantástico é um programa elabo é bem variado, elaborado de uma maneira interessante, ### Então, é é uma coisa que prende a a atenção dos dos rapazes lá em casa. Eles gostam desse tipo> E depois o colorido, A televisão colorida éh dá uma imagem muito bonita do Fantástico. Eles éh usam roupas berrantes, de cores berrantes e muito enfeitadas, e os colo e os ãh flashes são bem feitos, as imagens são bonitas. E> Isso tem agradado lá. Apesar da exploração do sensacionalismo que ele faz, não é? E eu sempre estou aler alerta para... mostrar a eles ãh o o sensacionalismo. Mas como programa agradável de se passar, assim, algumas alguns momentos distraídos, tem sido esse. ( )> SPEAKER 2: Aqui eu acho que o programa que faz com que ou o pessoal saia mais tarde, por causa desse programa, ou quando vêm os casados, a conversa é interrompida para se assistir, se calha de ser naquele dia, é o Globo Repórter. É o único programa assim que o pessoal chega, vamos primeiro assistir o Globo Repórter, depois a gente vai a onde tem que ir. Né? Eu tenho a impressão que é o único, viu? Que chega a prender o interesse o suficiente para para o pessoal ficar em casa para assistir, ou quando estamos de fora aqui, de interromper a conversa. Agora é o Globo Repórter, vamos assistir, depois retornamos à conversa, sabe? SPEAKER 3: Mas é sempre a mesma diferença de filho adulto e filho ainda muito jovem. Quer dizer, os mais novos, não estão ainda ãh voltados, interessados no noticiário. Eu vou tentando, sabe? Como eu gosto muito de noticiário, eu ãh procuro mostrar a eles a importância de estar atualizado, a importância de estar ouvindo o que está se passando ao nosso redor. Quando eles fazem um documentário, né? Documentário comple> Então, esse documentário completo é muito interessante mesmo, eu também tenho tido ocasião de assistir. Talvez para os mais preguiçosos, (risos) porque então eles focalizam o principal e repetem muitas vezes, aquilo então penetra, mas eu acho que nada substitui a leitura. Nada. E você? SPEAKER 2: De maneira nenhuma, né? É é um É apenas um assim uma informação rápida e e no dia em geral, porque no jornal a gente lê as notícias do dia anterior. E> SPEAKER 1: <É, de fato. SPEAKER 3: É uma das coisas que eu não sei fazer bem. Porque como eu, quando leio, eu gosto de penetrar na naquilo que estou lendo. Dificilmente eu consigo parar no título. E como eu sou curiosa por natureza, os títulos me atraem. Então, eu leio o título. Quando eu dou por mim, eu estou lendo o artigo inteirinho. E> Nunca me disciplinei. Foi até boa a sua pergunta. Vou fazer uma revisão sobre isto. (risos) SPEAKER 2: Depende muito do dia, né? Porque há dias em que o tempo é maior. Então, a gente lê tudo detalhadamente. Não é? Realmente, acho que tudo interessa, porque há uma preocupação, né, no nosso grupo, principalmente, preocupação muito grande de de estar atualizada, de não ficar fora da da das coisas que estão acontecendo. E> Nós fizemos uma pesquisa interessantíssima, mas tivemos uma quantidade enorme de depoimentos, sabe? Tivemos um calhamaço, não, acho que foi o ano que mais veio depoimento. E> Lembra frases que nós vimos lá? O> Notamos também uma utilização muito de de símbolos religiosos ãh um pouco ridicularizados. Não é? Padres, Frades e ãh São Pedro. Enfim, havia muito isso. É, é. ( )> Foi é foi neste ano que nós estávamos fazendo isso e que nós notamos, por exemplo, a diminuição do uso do sexo no na publicidade. Foi uma coisa interessante de verificar, né? E> <É o cigarro sempre mostrando status. É> <É o o uísque. ou a bebida mostrando o status. É o carro, o anúncio do carro. E> Não sei se devido a esse diál> SPEAKER 1: ### SPEAKER 3: ### Eu acho difícil, mas não impossível, porque, como eu digo sempre, eu sou esperançosa. Talvez um um um grupo bem intencionado, estando no setor de cultura e de comunicações, um grupo bem intencionado poderia fazer um trabalho, pelo menos começar um trabalho nesse sentido. E> Então, você vê é um problema muito profundo, porque da própria estrutura social, eles prendem a própria estrutura social. Então, num num fica mesmo no terreno da utopia. Há pequenos grupos bem-intencionados que> tentam alguma coisa. Eu acredito que esse grupo de censura, por exemplo, era um grupo bem intencionado e é um grupo intencionado. Mas na prática, o que acontece? Você sai de São Paulo, vai a um cinema no Guarujá, por exemplo, como me aconteceu. Estavam lá exibindo um filme que era proibido para menores de dezesseis anos. E Eu vi um vizinho meu lá. Ele tinha menos do que deze> No dia seguinte, perguntando a ele, mas o filme era proibido, como é que vocês fazem? Ah Nós esperamos a luz apagar. E aí Então, a gente compra inteira. Não pode entrar com meia. A gente compra a passagem a entrada inteira. A> A maioria quer sossego. Não é? Eu não vejo minha filha porque eu nem tenho rádio. Não tenho, não existe rádio aqui em casa. No momento, eu acho que esse esse momento, acho que já faz um ano, pelo menos, que estragou o nosso último rádio e num num ninguém se interessou de comprar outro. J> havia programas de comparações vocais. E eu me lembro que eu também sou muito interessada por música. E> Já, já eu dou para você. (risos) Então, o rádio teve, assim, uma fase importante. E o papai era muito curioso, mexia muito com essas coisas de de eletricidade, e construía rádio, sabe? Ele era curioso. Então, isso influiu muito na nossa meninice lá em casa, a importância do rádio. Éh a> Não leem jornal, não leem revista. Televisão elas não têm, em geral. De modo que é o radinho, é o companheiro fiel das domésticas. E sabe dos automobilistas também, que eu tinha esquecido. O rádio no carro, minha filha, continua sendo ligado, né? Eles fazem muita questão de ter um bom rádio no carro, ouvem música. Agora já passaram também para o toca-discos no carro. que eu acho até meio perigoso, né? Essa história de estar trocando o disco enquanto guia. Mas ainda é importante, eles ainda acham importante o rádio no carro, um rádio de boa qualidade que eles possam ligar enquanto guiam. Porque... Principalmente, por exemplo, meu filho que trabalha em Santo André, não é. Todo dia daqui até Santo André, de Santo André para cá. É uma viagem um pouquinho longa e ele está com aquele radinho ligado o tempo todo. De modo que ele tinha esquecido do rádio no no carro e do rádio para as as analfabetas, que passam na minha casa, todas elas vivem grudadas no rádio, que é o que elas têm, a úni> SPEAKER 1: ### SPEAKER 3: Rádio de galena. Galena, e tinha Rádio de galena. Então, eu me lembro que, eu não sei, era uma época de revolução em São Paulo, E então os rádios estavam proibidos, ninguém podia ter rádio. E eles eh andaram ãh mesmo confiscando rádios. E... E o papai tinha um radiozinho de galena que ele mesmo fabricou com aqueles ãh... Microfones? SPEAKER 2: Não. Eh SPEAKER 3: Como se chama? ### Pois é, mas tem um nome especial, essa peça que se coloca no ouvido, assim como o telegrafista usa. Eu não me lembro do nome dessa peça. São fones de ouvido? Fone, eu pensei que tivesse um outro nome. São fones de ouvido ligados por um arco assim, né? Então, ele ele tinha esse radinho e ouvia com aquele fone. E me lembro que era num cômodo muito, muito escondido, muito no fundo da casa, muito fechado. E a gente ainda vigiava, porque Podia ser que alguém percebesse. Então, para ouvir as notícias, era uma época de proibição. Então, ouvia as notícias. Não sei se  foi em trinta e dois, trinta, trinta. Eu penso que foi em trinta. Em trinta. Deve ter sido em trinta. Porque eu já tinha idade para para me lembrar disso. Eu te> Deve ter sido em trinta. Foi, sim. Mas eu tenho uma Época do Getúlio Vargas, não é? Foi a época do Getúlio Vargas. É. Foi sim, foi uma época meio atrapalhada aqui. Então, era assim. SPEAKER 1: Lembro desse radiozinho dele. () SPEAKER 2: Eu não ouvi a pergunta. () Hum A gente passa numa banca, Não pode haver discussão de que a quantidade de revistas que existe no Brasil agora é fabulosa né, porque é coberta de revistas. Agora O nível das revistas, aí então, já é outro problema, porque o que a gente vê sair mais são histórias em quadrinho, e fotono não é fotonovela que chama? Foto> Eu tenho a impressão que o pessoal que compra mais revistas é o pessoal mais humilde. Porque as revistas de de de um nível melhor são muito menos não é? E são procuradas por um um público bem mais restrito. Aqui, por exemplo, em casa, nós assinamos o Veja. Então, é a única revista que eu leio habitualmente e. E revistas do tipo Manchete, por exemplo, que tem muitas muitas figuras, e muita tinta, e letras grandes e pequenas, eu tenho um problema de de acomodação da vista. Eu não costumo ler porque me dá dor de cabeça. SPEAKER 3: Sabe? Mas eu não estou muito de acordo com você em relação a... Só os...  Eu não estou de acordo com o que você disse, que que geralmente os mais simples compram revistas. Eu acho que todo mundo está comprando revista, e por isso é que elas estão aumentando muito. Sim, uh uh os que mais intelectuais compram revistas ãh de de gabarito melhor né. SPEAKER 2: Sim, compram revistas estrangeiras. Eh SPEAKER 3: Ou estrangeiras, nacionais. ### E também ah ah o Veja, a Realidade. Agora, os os ãh que gostam de sensacionalismo compram essas cheias de cores e de tintas e letras grandes e pequenas que você falou não é? E Uh os jovens leem quadrinhos. E as moças e os rapazes leem quadrinhos. E Por exemplo, ãh eu estive há poucas horas ãh num hospital visitando uma enfermaria, lá no Hospital das Clínicas, e eu vi a grande distração dos doentes é ler revista de quadrinho. Revista ãh de tipo infantil, de tipo fotonovela. Elas ficam, devoram aquilo. E uma pede para outra. E até eu servi de intermediária, sabe? Hum. É, de de De conduzir uma revista do leito de um para o leito do outro. Porque elas já tinham lido aquelas, então queriam trocar. SPEAKER 2: Mas não são só elas. Porque eu trabalhei também como voluntária no Hospital das Clínicas durante alguns anos e. E eu ti eu pedia para conhecidos, pedia para cabeleireira as as histórias em quadrinhos para levar, porque os homens também. Tanto é, tanto as mulheres como os homens, todos eles, eu acho que os homens até mais, porque com as mulheres eu conseguia fazer um pouquinho de laborterapia, ensinava um um um bordado, um ponto de cruz, um as coisinhas fáceis, e elas cro um crochêzinho, e elas se interessavam para ma passar o tempo com isso, porque lá no hospital das clínicas, em geral, lá elas esperam bastante tempo né para serem operadas, os todos, em geral, ficam porque não chegam em condições normalmente de ser operados, precisa fazer um pré-operatório mais ou menos longo. Sempre ficam quinze dias, vinte dias, às vezes um mês internados antes da operação. E é um tempo difícil de passar. E com as mulheres ainda havia essa laborterapiazinha. E com os homens, não. É só revista mesmo. Al> Alguns, assim, de um pouquinho mais vivos, pediam palavras cruzadas. Mas a maioria é história em quadrinhos e fotonovela. Bem romântica, sim. Adoravam. O Grande Hotel e tal et cetera. Fiquei conhecendo uma porção delas porque eles solicitavam, eles pediam. E e se interessavam. Sabe? Agora, diz que tem muito homem que lê escondido, não sei né? (riso) SPEAKER 3: Mas você não viu a? Até nos vestibulares estavam incluídas perguntas. Um dos vestibulares aí de uns anos, não sei se foi umas coisas de uns dois Havia perguntas em relação a personagens da dos contos de de revistas em quadrinhos. Esses () SPEAKER 2: Quer dizer que isso é considerado cultura geral. (riso) SPEAKER 3: Cultura geral, exatamente. É o que eu disse, a gente não pode fugir de uma realidade. E eu não tenho a menor paciência para ler nada que vá em quadrinho. Porque eu acho que a imaginação da gente fica tão enquadrada naquelas quatro linhas, E a minha imaginação, eu gosto dela, viu? (riso) Uma das coisas que eu gosto em mim é a minha imaginação, uma das poucas coisas. Eu imagino coisas assim tão adiante, além daqueles quadradinhos. que eu me fico impaciente de de de ter que seguir o que aquele uh uh está escrito no pé do quadrinho e ver o que está se passando no quadrinho. A minha imaginação já imaginou uma coisa muito melhor do que aquilo ali, uma pessoa muito mais bonita ou muito mais feia do que era para ser. De modo que eu tenho tentado, sabe? Porque eu acho que você precisa viver num contexto, você precisa estar dentro do que está acontecendo. E é cultura geral, realmente, você precisa saber quem é a Bolota, quem é o Bolinha, quem é eh o Pato e o e o tio Patinhas, né? O tio Patinhas. Essa gente toda, você precisa saber. Para poder conversar, participar da vida dos seus filhos. SPEAKER 2: Você aí, com a sua imaginação, fez lembrar um neto que eu tenho. Eu tenho um neto que, com seis anos antes dele saber, cinco para seis anos antes dele saber ler, eu comprava um livro de história para ele, em geral, livros que têm ilustração grande e pouca coisa escrita, e lia para ele a história. Em vez de fazer como as outras crianças, que em geral pedem para ler de novo não é, ele pegava e dizia para mim, agora, vovó, eu é que vou contar essa história para você. E ele contava a história seguindo, não o que eu tinha lido embaixo, mas exclusivamente a ilustração. E E punha dentro, detalhes da ilustração que nem você tinha percebido. Viu, ()? Coisas que você não não nota, detalhes. Ele ele reparava em todos os detalhes. E a história então se com compridava dez vezes mais, porque todos aqueles detalhes eram envolvidos na história não é. E a imaginação dele é uma coisa fabulosa por>