Inquérito SP_D2_327

SPEAKER 0: : Dona Gilda, a senhora poderia comentar alguma coisa sobre o seu trabalho no no juizado, nessa divisão do teatro, não é?

SPEAKER 2: : ### Eu fui convidada no tempo do doutor Aldo, há seis dias, que era juiz de menor, para integrar a a comissão de teatro que fazia parte das comissões técnicas de assessoria para determinação de idade e também para a a verificação de da regularidade com que a peça era apresentada, se havia modificação também, né né? às vezes, a gente ia para ver se modificavam o texto que já aprovado e e de ãh verificar também a presença de de menores. Esse não era o nosso trabalho específico, mas a gente fazia quando estava. E Em geral, O texto era entregue a algumas pessoas da comissão, duas ou três pessoas, faziam a leitura e faziam o script. E faziam, então, uma apreciação, dando a avaliação da idade adequada. E E depois, ou aquelas pessoas ou outras, em caso de de dificuldade, iam assistir a ao ensaio geral. De modo a ver a aquele script, depois, passado para a cen se podia manter o mesmo nível de idade da da assistência. E Eu trabalhei nisso dezesseis anos. E nós tínhamos uma reunião semanal, na qual nós debatíamos, inclusive, os critérios a serem usados, não é? E e a importância da da do teatro na cultura, a importância do teatro para o estudante, de haver um um teatro acessível ao estudante. Debatíamos também ãh a importância da cultura popular no teatro. Todos esses temas eram debatidos de modo que a gente tivesse um critério mais ou menos comum para fazer a a crítica das peças. E E assistimos, depois de assistir, fazíamos uma pequena reuniã sabe, assim, informal, às vezes até numa pizzaria, e redigíamos. S Se havia um consenso, nós redigíamos um relatório comum que todos assinavam. S Se não havia, cada um fazia a sua apreciação da peça. E Esse trabalho, durante muitos anos, eu considerei um trabalho útil, inclusive por causa da do relacionamento que a gente tinha com os outros membros, da comissão e da influência que a gente podia ter, né, tentar levar a mentalidade da gente para outros. Mas, depois de um certo número de anos, a censura passou a ser apenas formal, né, porque quem decidia mesmo era a censura policial. A Então, eu comecei a me desinteressar e as reuniões foram suspensas, só havia ida direta, não havia aquela comunicação, não havia mais trabalho de equipe, E eu pedi, então, eu pedi demissão. Agora, durante esse tempo, nós vimos muita coisa interessante. Inclusimos ãh inclusive, vimos uma mudança muito grande no teatro, né, no tipo de peça que era levada, né, na assistência, no modo da da da plateia se apresentar, que quando nós íamos a uma estreia, antigamente, era um uma toalete que a gente tinha que fazer, tinha que ir à cabeleireira, A gente ia fazer uma toalete e depois, no fim, a gente ia até de calça comprida. Então, foi evoluindo muito e em vários aspectos.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : foi que nós fomos assistir Letra e demos uma censura para quatorze anos. E ### ### E depois não tinha direito assistir a peça que era considerada improva pela polícia, né? E havia fatos bastante interessantes. A Havia... por exemplo, certa influência às vezes de de elementos um pouco mais de prestígio que conseguiam obter, trabalho de menor em peças que não deviam trabalhar, presença de de menores nos nos bastidores que traziam uma série de problemas, né? E Como havia muito pouco teatro infantil, que hoje já até existe mais, mas na época era muito pouco, nós resolvemos instituiu um concurso de peças infantis. Então, nós lançávamos pelos jornais essa esse concurso, tínhamos um prêmio que era dado, em geral, o primeiro prêmio era dado pela Antártica, e fazíamos o julgamento das peças, e a peça que era premiada nós conseguíamos sempre que fosse encenada, a primeira peça coloca E e algum fato assim bem característico, bem... Não estou lembrando no momento, não. Seria preciso eu ter pensado um pouco antes, né? Porque a memória foge, né? À Às vezes, voltando a falar no assunto, talvez relembre, né? De alguns fatos assim mais característicos.

SPEAKER 3: : Bem, a minha comissão era quase que paralela à comissão de Gilda, porque era a comissão de censura de filmes. M Mas eu não comecei nessa comissão. Eu, primeiro, éh tive a oportunidade de ajudar o meu marido, que havia sido convidado pelo mesmo Doutor Aldo de Assis Dias, então juiz de menores daqui da capital, para fazer um um trabalho de... censura de livros expostos em bancas de jornal, sabe, de revistas. Então, esses livros, para serem colocados ali, éh para serem vendidos ao público livremente, precisariam passar por uma censura. E E meu marido foi incumbido desse trabalho. E eu participei desse trabalho porque gostava muito de ler, como gosto até hoje, e depois então ele nos convidou os dois para integrarmos a comissão de de cinema, censura de filmes. Passamos a frequentá-la com muito prazer para mim, porque eu também aprecio muito a arte cinematográfica e e eu tive lá a oportunidade de aprender muito, sabe? Nós tínhamos um excelente coordenador que promoveu logo de início, quando esta censura começou a ser feita, uma série de reuniões nas quais ele mostrava ãh o modo característico de cada diretor trabalhar, levar seus filmes e a simbologia própria do cinema. E Então, isso abriu um mundo novo diante dos meus olhos, porque eu via apenas com olhos de ( ), de pessoa apreciadora do belo e da arte, mas não via com olhos críticos, e ele nos orientou neste sentido. De modo que foi um enriquecimento muito grande para todos nós. Éh Nós fazíamos também éh a censura lá mesmo no edifício onde funciona o Juizado de Menores de São Paulo, na Rua ( ) do Nascimento, no oitavo andar. Há lá uma cabine apropriada, onde se reúnem umas vinte pessoas, mais ou menos, ### Então, debatem seus prós e os contras, visando sempre a perspectiva do menor. O que vai prejudicar o menor? S São debates interessantes, coordenados por por uma das funcionárias do juizado. No começo, éramos nós mesmos que coordenávamos. Eu mesma tive a oportunidade de coordenar várias vezes a discussão. M ### ### Essas sessões eram interessantes porque a a comissão ãh ( )reunia lá um grupo de pessoas bem éh diferentes, assim, quanto à profissão, quanto ao nível cultural, adultos e também alguns jovens. Então, o debate era muito enriquecedor, porque cada um colocava seu ponto de vista, sempre visando o o, vamos dizer, o enriquecimento ou o prejuízo do menor. E Então, ãh às vezes você partia do seu ponto de vista e passava a apreciar uma opinião do outro. Era um trabalho realmente de equipe. E surgiu, em um consenso geral, surgia, então, a censura a ser colocada, que era justificada. Um trabalho bom, um trabalho agradável de se fazer. Eu permaneço nesse trabalho até hoje. É verdade que a solicitação para as sessões de censura diminuiu. Porque parece que os filmes que são já que vêm já taxados de impróprios, eles têm entrada livre nos nos cinemas e são muito apreciados. Eu não não entra em debate. Então quando há uma um problema de baixar a censura, aí então somos solicitados para esse trabalho. N Não, os filmes como são passados originalmente nos cinemas. Com letreiro, com, com... Às vezes até os trailers que vão ser exibidos durante as sessões também são examinados. De início, fazíamos aquilo com com uma certeza absoluta de que estávamos fazendo um trabalho necessário. Ao Aos poucos, nós fomos vendo que se não houvesse uma vamos dizer, um paralelismo entre a censura feita e a vigilância aos ao a de acesso aos cinemas, o trabalho redundava quase que em nada. E Então, houve assim, por parte de todos os participantes do dessa comissão, uma espécie de desaponto e de sensação de trabalhar contra alguma coisa muito grande. Por outro lado, Nós começamos a per a perceber que a censura é uma coisa difícil de ser feita, porque tem que ser dentro de um contexto familiar, às vezes, um menino de uma família de um nível poderia assistir sem prejuízo, porque ele tem um um um ambiente no qual ele vai discutir, ele vai ter amparo, ele vai ter uma orientação. ao passo que um menino de outro nível cultural seria muito prejudicado pelo filme. Então, todas essas coisas éh tornaram o nosso trabalho um pouco desgostoso. (risos) Nós num num víamos assim com um... como no início aquela sensação de que a censura estaria mesmo funcionan Quer dizer que, então, sentimos que a censura deveria deveria ser feita mais no no lar, no acompanhamento dos pais, dos parentes daquele menino. E E lutamos muito, enquanto estivemos lá, pela programação de filmes educativos, filmes que pudessem ser levados às escolas e ser, depois, comentados por pessoas competentes, para que os meninos e meninas pudessem ter, assim, um proveito grande. Agora, em relação propriamente ao cinema, é esta mesma evolução que você vê em tudo. É É uma quebra de padrões total, uma mudança na técnica cinematográfica e a busca de uma simbologia muito fechada. que às vezes escapava ao alcance das pessoas, então precisávamos discutir muito e ser às vezes até orientados. A gente notou um encaminhamento para o ãh o real, o mesmo desagradável, mas real da vida, o abandono do romantismo, ### Então, a gente viu a, enfim, a pintura da vida mesmo, a vida feia, a vida Como ela é. Houve mesmo uma evolução nesse sentido. A Agora, você perguntou para minha companheira o que ela se lembrava de interessante. Pois eu me lembro de uma coisa muito interessante que aconteceu durante esses anos desse trabalho. É que nós, numa das ocasiões, éh fomos éh surpresos porque éh estavam participando do da reunião crianças pequenas mesmo, de doze anos, dez anos. E E o filme exigia a presença dessas crianças, então elas tinham uma licença especial para também entrar no debate. E E a nossa surpresa foi grande, porque o ponto de vista da criança é completamente (risos) imprevisto. E quando todos achavam que ia prejudicar, elas com a maior espontaneidade não viam absolutamente nada do das caraminholas (risos) que os mais velhos estavam vendo. Quer dizer e Isso fo deu assim um um um uma luz nova. Quer dizer, às vezes o ponto de vista da gente é tão pessimista e que vê sempre aquilo que vai prejudicar. E a criança já é mais pura, tem uma visão mais singela das coisas ( ) e não penetra tão pessimisticamente na coisa. Foi um fato interessante que ocorreu.

SPEAKER 2: : admira mais, realmente, é que o próprio Estado éh torne obrigatório a exibição de filmes nacionais e, indiretamente, de de pornôs chanchadas, porque, às vezes, não existe outro filme para ser passado. Então, o cinema tem que recorrer a pornôs chanchadas, não é? Que certos cinemas não têm plateia para esses filmes. Isso torna um um problema também econômico para o exibidor só pelo fato de ser nacional, não é? E Isso eu acho ( ) também uma aberração.

SPEAKER 3: : ### Eu mesmo tem tive a oportunidade de assistir a um filme éh tipo gangster, ou tipo... Policial. Cujo nome agora não me ocorre, porque já faz um pouquinho de tempo que assisti. E não foi aqui em São Paulo, eu estava em Campinas. E eu fiquei admirada como a técnica estava se aprimorando e como também o tema foi encarado assim de um modo éh sério, sabe? Éh éh éh éh A história de um rapaz que foi vítima de uma criação errada e foi condicionado a uma marginalização na vida e acabou sendo um marginal. E Então, o sofrimento. Exatamente. O Olha, o nome do filme é O Marginal. Tarcísio Meira, se não me engano. É. Muito bem filmado. Não sei se vocês tiveram a oportunidade. Pois é. Mas muito bem filmado e eu achei bem real, bem cruento.

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 3: : São, mas eu prefiro, como eu sou otimista, achar que são pequenos passos dados para um futuro melhor do nosso cinema. (risos)

SPEAKER 2: : Agora, o problema seria estimular esse tipo de cinema sem tornar obrigatório o filme ser exibido certo número de dias, sendo nacional, sem discriminação da qualidade do filme. Porque o filme nacional tem ( ) o uma plateia sempre muito simples, em geral, não é? O pessoal mais sofisticado não vai assistir filme nacional. Quer dizer, são pessoas justamente que são mais influenciadas por um filme que assistem. Você não acha?

SPEAKER 3: : Eu também acho que o esse isso que você citou, de que os mais sofisticados, quer dizer, aqueles que têm uma certa cultura, Então, não evitam assistir ao cinema nacional e Isso eu acho também um desprestígio para o cinema porque ### ### Acontece mesmo, mas não deveria acontecer. Porque se m houvesse maior crítica, então, eles corresponderiam a um a uma um uma solicitação de uma de um progresso, de uma melhori ###

SPEAKER 2: : Agora, desses últimos anos, eu estou completamente afastada do teatro. Depois que eu deixei a comissão, eu tenho dificuldade de sair à noite, porque meu marido trabalha muito, está cansado à noite e ele não gosta. E o teatro tem que ser à noite. Não é? De modo que no cinema a gente vai mais vezes, mas o teatro que acaba tarde, em geral começa às nove horas, a gente chega em casa meia-noite, ele levanta às a gente quase não vai. E eu não tenho acompanhado, a não ser pela crítica, sabe? Porque o assunto me interessa, então, e eu sempre leio as críticas, mas eu assisti mesmo Muito pouco. Não estou a atualizada no no problema teatro. É no tempo em que eu trabalhava, nós ( ) o que havia em matéria de teatro brasileiro, que eram muito poucos os teatros, muito menos os teatros, não havia tanto teatro como agora, que era era o tê bê cê, era a Arena, que tinha peças levava mais peças nacionais, Era o Teatro de Arena naquela época, né? ( ) Começaram a lançar as peças do do Jean Francisco e outros escritores nacionais. A Agora, com essa fase mais nova desse rapaz, como é que ele se chama? Paulo como é que se chama? ( ) Plínio, Plínio Marte, mas eu não Eu já não cheguei a assistir. Só conheço por crítica. Sabe, de modo que num num se num me sinto muito à vontade para falar. desse dessa tema, sabe? ( ) televisão é uma coisa que está ali à nossa mão, né? A gente sempre, ( ) é, a gente sempre acaba assistindo nas noites em que está sozinha, principalmente, né? E E então, eu costumo assistir televisão com o livro na mão, sabe? S Se interessa, eu olho. Se não interessa, eu leio. (risos) A Agora, Em matéria de de televisão, o que uma coisa que especialmente me aborrece, que é ligada a esse essa sua pesquisa, é a linguagem, que eu acho de um nível bem insatisfatório. A A linguagem dos dos redatores, dos locutores, até da das peças também ( ) Eu não assisto Mas, de passagem, a gente procurando um programa ou outro, a gente assiste um pedacinho. Nunca consegui me interessar por uma, tentei várias vezes, mas aquilo vai muito arrastado. Não é? E eu não tenho paciência para assistir. Mas a linguagem, os diálogos, acho muito fracos. Os diálogos Embora eu tenha notado, ultimamente, uma melhoria no nível dos atores, né Né. Acho que há uma melhoria sensível. M Mas, nos diálogos, e nos locutores, nas entrevistas. Uma coisa que me impressiona, por exemplo, é ver entrevista de rua e ver como a juventude de hoje, inclusive a juventude, não é que deveria ser mais desembaraçada, supõe-se, (risos) e como é pouco articulada, como responde assim, ah, sei lá, acho que é legal, e não passa disso, num num sai uma apreciação sobre a pergunta feita pelo repórter, né? E a própria pergunta nem sempre é bem formulada. De modo que isso, neste ponto, eu acho que a televisão é é péssima. No ponto de linguagem, de prejuízo para a língua. E os programas de auditório também têm esse mesmo problema, eu acho. Todos Todos os programas de auditório têm esse problema ( ) De uma é de uma linguagem bastante deficiente, né?

SPEAKER 3: : ### E como lá em casa é a gente procura fazer tudo junto, então eu assisto para poder conversar e apreciar mesmo, fazer uma crítica ãh ajudando a a abrir um pouquinho os olhos deles mesmos e às vezes até abrindo os meus próprios olhos (risos) para coisas que a gente se não prestar atenção vai ficando um bocadinho para trás, né? Com a idade que vem chegando e a acomodação consequente. Então eu assisto por esse motivo. Mas eu me desagrado muito, sabe? Eu não acho... São raros os programas que satisfazem, que que proporcionam um entretenimento sadio. Se você pega filmes, os filmes versam todos em torno da violência. Em torno da violência, do da morte, assassinato. E ( ) Ou então chanchadas. Éh Programas cômicos, que não que não conduzem a risada. Geralmente tem já palmas gravadas. ( ) Risadas gravadas. Programas para você rir, onde a risada já vem gravada. Quer dizer num num Não não não são não é uma comicidade sadia, espontânea, é alguma coisa fabricada.

SPEAKER 2: : ### ### ( ) brasileiro ( )

SPEAKER 3: : Bem, passando esse esse seu ponto de vista, quanto às novelas? A As que eles assistem são poucas. J Geralmente aquele horáriozinho após o jantar, respeitando a nossa refeição em comum, após o jantar a gente assiste uma novela e um e um finzinho de uma a outra. E É assistimos os filhos mais éh de quatorze deze Conversamos sobre a novela, aquilo que fica ridículo, aquilo que está bem trabalhado, sobre o desempenho do do do ator, éh sobre a realidade da coisa de vida, e até sobre alguns temas que a novela vai lançando, como esta que está por aí, a viagem, alguns temas religiosos que essa novela vem lançando sobre a vida após a morte, e que são feitos assim muito bem feitos e são éh motivo de curiosidade porque tudo que é sobrenatural atrai assim um fascínio especial, né? Atrai assim um Exerce uma atração muito grande sobre todos nós e principalmente sobre os jovens. Então a gente tem oportunidade de de discutir assim do ponto de vista religioso a validade daquelas afirmações E eu sempre faço questão de ir até o fim da da questão do do do do que eles estão querendo aprender e conhecer, porque é muito perigoso uma um tipo de novela que lança uma temas religiosos de uma grande profundidade e que vão ficar depois, assim, sem discussão, sem um um estudo, sem uma avaliação, e vão, talvez, conduzir a um um fim errado. É uma curiosidade que precisa ser orientada. ### E por força das circunstâncias, porque você não pode se negar, como muitos amigos que eu tenho, que não tem o aparelho de televisão, num num querem os estranhos dentro de casa. É preciso ouvir, porque nós estamos na era da da comunicação, e a televisão é uma das maiores comunicadoras, eu acho. Então, a gente faz assim, nesse espírito, de de estar dentro da época em que vive, porque não é possível fugir dela.

SPEAKER 2: : Aqui o problema é diferente, porque os filhos estão casados, o único que não é casado é noivo, e praticamente toda noite é está casa da noiva. Então, assistir televisão em comum é uma coisa muito rara, porque quando se reúne, tem muito o que conversar. A televisão não interessa, não é? Porque é é uma reunião ocasional, não é diária. E E a televisão será assunto de conversa propriamente é raro, mas acontece. A Às vezes passa um outro filme, ou um outro programa que dá ocasião à discussão. Mas mesmo do do em filmes que a gente assiste cada um separado, eu vou com meu marido, eles cada um para o seu lado, também são não são muitos os filmes que dão assunto para debate. Por exemplo, esse filme, ãh esse crime chamado Justiça, né? Não é, o nome? ### Esse filme deu em ( ) a uma noite inteira de debate aqui em casa, cada um com um ponto de vista, não é? E um achando que estava certo ele ter que o o juiz ter queimado os documentos que comprovavam a inocência do do suposto culpado, né? ( ) para condená-lo pelos crimes que ele não não podia ser julgado. e outro defendendo um ponto de vista de que ele exercia uma função e como tal ele não podia usar do cargo dele para fazer uma justiça à moda dele, que então ele estava se transformando em juiz, em júri, e carrasco, não é? Tomando sobre seus ombros uma deliberação dessa. Eu sei que a discussão foi por uma noite inteira. O Outro filme que deu em ( ) a muita discussão, foi o Sétimo Véu. Quer desligar? ### É, Sétimo Véu. Do ### Esse também foi um filme assim que deu um assunto para uma noite, né? Mas, em geral, quando a gente está assim em comum, um ou outro, e se liga, por exemplo, um seriado ou um desses filmes mais ou menos classe B, que costuma passar na televisão, às vezes a brincadeira é adivinhar até qual é a frase que vai ser dita. E E a gente acerta, acho que oitenta por cento das vezes, acerta qual é o episódio que vai se seguir e qual é a frase que ( ) que o um dos personagens vai responder em uma determinada fase. do desenrolar lá do tema. De modo que é é uma até uma brincadeira que a gente faz, porque, realmente, a gente num num tem novidade nenhuma. É uma repetição um pouco disfarçada, um do outro, de mil formas, com pouca variação, e e sempre com as ideias centrais muito pobres, né? Agora, a a é que o programa de... por exemplo, de debates que havia antigamente, se assistia em conjunto aqui em casa, no tempo do pinga-fogo. Qual é mais que tinha?

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 2: : O Céu é o Limite éh Não, mas tinha um outro mais interessante, que era muito polêmico. ( ) ### ### ### ### Exatamente. Havia alguns programas que a gente assistia em comum e que e que discutia. É. Que prendia o interesse. E E a turma jovem, eles no tempo em que eles eram universitários, e tudo que debatiam. Mas, hoje em dia, a a ( ) não compra. Eu acho que não encontra. Mas um um um programa de televisão que prenda o interesse suficientemente para resultar num debate. Porque agora são todos, se fossem mais jovens, talvez, como você tem, né, mocinhos, eu não tenho mais, num encontra. Num

SPEAKER 3: : ### Eles gostam de assistir o Fantástico, porque o Fantástico é um programa elabo é bem variado, elaborado de uma maneira interessante, ### Então, é é uma coisa que prende a a atenção dos dos rapazes lá em casa. Eles gostam desse tipo E depois o colorido, A televisão colorida éh dá uma imagem muito bonita do Fantástico. Eles éh usam roupas berrantes, de cores berrantes e muito enfeitadas, e os colo e os ãh flashes são bem feitos, as imagens são bonitas. E Isso tem agradado lá. Apesar da exploração do sensacionalismo que ele faz, não é? E eu sempre estou aler alerta para... mostrar a eles ãh o o sensacionalismo. Mas como programa agradável de se passar, assim, algumas alguns momentos distraídos, tem sido esse. ( )

SPEAKER 2: : Aqui eu acho que o programa que faz com que ou o pessoal saia mais tarde, por causa desse programa, ou quando vêm os casados, a conversa é interrompida para se assistir, se calha de ser naquele dia, é o Globo Repórter. É o único programa assim que o pessoal chega, vamos primeiro assistir o Globo Repórter, depois a gente vai a onde tem que ir. Né? Eu tenho a impressão que é o único, viu? Que chega a prender o interesse o suficiente para para o pessoal ficar em casa para assistir, ou quando estamos de fora aqui, de interromper a conversa. Agora é o Globo Repórter, vamos assistir, depois retornamos à conversa, sabe?

SPEAKER 3: : Mas é sempre a mesma diferença de filho adulto e filho ainda muito jovem. Quer dizer, os mais novos, não estão ainda ãh voltados, interessados no noticiário. Eu vou tentando, sabe? Como eu gosto muito de noticiário, eu ãh procuro mostrar a eles a importância de estar atualizado, a importância de estar ouvindo o que está se passando ao nosso redor. Quando eles fazem um documentário, né? Documentário comple Então, esse documentário completo é muito interessante mesmo, eu também tenho tido ocasião de assistir. Talvez para os mais preguiçosos, (risos) porque então eles focalizam o principal e repetem muitas vezes, aquilo então penetra, mas eu acho que nada substitui a leitura. Nada. E você?

SPEAKER 2: : De maneira nenhuma, né? É é um É apenas um assim uma informação rápida e e no dia em geral, porque no jornal a gente lê as notícias do dia anterior. E E quando a gente liga o repórter da televisão, dá a notícia fresca, a novidade. Não é? Então a gente fica so sabendo o que passou. Zé Belita foi presa, o incêndio na vinte e cinco de março, etecetera. Mas de de maneira nenhuma não substituí a leitura do jornal.

SPEAKER 3: : Você sabe que em casa até meu marido fica bravo, ele sai um pouquinho até às vezes na hora do repórter, porque ele adora ler o jornalzinho no dia seguinte, todinho, todinho novo, né? Com a novidade toda. E Esse estraga a novidade, o repórter dá só uma entrelinha do que vai acontecer e ele gosta da surpresa (risos), sabe? Ele prefere ler, prefere mesmo. Agora eu me lembrei quando você perguntou sobre se preferia ler ou ouvir. Esse é um que prefere ler com toda novidade da notícia. Não quer ver estragado o prazer. É

SPEAKER 1: : É, de fato.

SPEAKER 3: : É uma das coisas que eu não sei fazer bem. Porque como eu, quando leio, eu gosto de penetrar na naquilo que estou lendo. Dificilmente eu consigo parar no título. E como eu sou curiosa por natureza, os títulos me atraem. Então, eu leio o título. Quando eu dou por mim, eu estou lendo o artigo inteirinho. E E quando eu vejo as horas passaram, não deu tempo de eu chegar nem até a quarta página do jornal. (risos) Então, eu tenho que dar uma folheada rápida e o resto do jornal fica prejudicado. Eu ainda não me disciplinei na leitura. Não me disciplinei de ler primeiro aquilo que me interessa mais de per Nunca me disciplinei. Foi até boa a sua pergunta. Vou fazer uma revisão sobre isto. (risos)

SPEAKER 2: : Depende muito do dia, né? Porque há dias em que o tempo é maior. Então, a gente lê tudo detalhadamente. Não é? Realmente, acho que tudo interessa, porque há uma preocupação, né, no nosso grupo, principalmente, preocupação muito grande de de estar atualizada, de não ficar fora da da das coisas que estão acontecendo. E E um dos motivos disso é que a gente precisa aprender a envelhecer, não é? E se a gente quer ãh evitar um conflito de gerações, se a gente quer evitar se tornar uma pessoa pouco agradável para a geração seguinte, a gente tem que estar atualizada. não só tem que estar atualizada, como tem que ir aceitando os valores novos. Não é? E um dos meios de a gente fazer isso é estar constantemente em dia com os jornais, acompanhando todos os aspectos da vida política, social, os costumes e tudo mais. Então, eu tenho essa preocupação de me manter bem atualizada e e man poder manter um diálogo de igual para igual com os meus filhos, não é? De saber do que está falando, de entender a gíria, embora eu use pouco. Aliás, isso não sei se é um pouco artificial esse esse diálogo que nós estamos fazendo aqui, um pouquinho sempre tem que ser, né? Porque, dependendo da ocasião, usamos uma linguagem diferente. Por exemplo, eu trabalho em um grupo em que a gente é de de refle de reflexão, né? O O nosso movimento tem ãh grupos de base que se reúnem para fazer reflexões sobre vários assuntos, começando pela pelo evangelho, uma meditação no evangelho, depois nós passamos por um fato da vida, depois nós nós debatemos, nós nós estudamos, uma espécie de pesquisa, não de tipo científico, sabe, mas só muito vivida, a respeito de um tema que é proposto para o ano. E Então, quando eu estou falando, por exemplo, para um grupo desse, a minha linguagem é uma. Quando eu estou falando para os meus filhos, a minha linguagem é diferente, porque eu acompanho a linguagem deles. Eu percebo, embora eu não faça forçado, mas eu percebo que a minha linguagem é diferente. Porque, inclusive, uma das coisas que eles dizem que marcam a idade da pessoa é a gíria que usa. Sabe? Quando a gente usa uma gíria desatualizada... (risos) Até um dos meus filhos tem é tem um amigo que está fazendo um dicionário, que se chama Mamã Vapor. Então, ele coleciona os termos assim de gírios, ah as expressões típicas ãh passadas da moda. Digamos, usando uma expressão antiga ( ). Né? E e E coleciona. E esse meu filho, então, ele sempre, sabe, procura levar para o companheiro. Então, eles dizem que o o uso desses termos qualifica a idade mental da pessoa. ### Você tem que perceber, não é? Por exemplo, o coitado do meu marido, às vezes, sofre com a gíria que eles usam. (risos) Mas, eu felizmente, eu tenho essa sorte de que eu tenho uma percepção mais ou menos rápida do sentido da gíria que eles usam. Então, quando eu estou falando com eles, a minha linguagem é diferente. Agora, a respeito de uma coisa que me lembrei por falar nesse grupo que nós estamos trabalhando, é que há uns quatro anos atrás, não ( ), o tema dessa pesquisa de ano que nós fizemos foram os meios de comunicação. E Nós fizemos uma pesquisa interessantíssima, mas tivemos uma quantidade enorme de depoimentos, sabe? Tivemos um calhamaço, não, acho que foi o ano que mais veio depoimento. E E o pessoal se preocupou muito com... com a propaganda e a publicidade. A propaganda de ideias e a publicidade de mercadorias. E Então, analisou a influência que isso estava tendo, inclusive sobre elas mesmas. Cada um analisou a influência que aquela propaganda e aquela publicidade tinha sobre si, sobre os filhos, sobre as domésticas. Porque nós compramos um produto que é anunciado na televisão porque a doméstica assiste televisão também. Então, ela quer. Ela quer o vinho, ela quer o... Depois ela quer o Ajax, depois ela quer o outro que foi lançado depois. A senhora compra esse, esse que é bom. Não é? E Então, quer dizer, influi de todo o jeito, né? E cria realmente necessidades. Cria, é indiscutível. A gente, insensivelmente, é levado a criar necessidades pela propaganda, né? E e Nesse ano, todo o pessoal se conscientizou muito disso, sabe, da influência que sofria desses... nos intervalos dos programas, além dos programas. Não é? Nos intervalos. E E começamos a descobrir também quais eram os valores usados. Sabe? Por exemplo, e e nós notamos naquele ano que o valor sexo estava em decadência. E E que a criança estava sendo muito usada, lembra? Na propaganda. Estavam utilizando muito a criança, a inocência da criança. Que as vamps, tinham sido substituídos pelas donas de casa simples, em muitos anúncios. Não é? E E que havia, na ocasião, o que foi mais chocante foi a propaganda do dinheiro, a propaganda direta do dinheiro. É com ( ) Lembra frases que nós vimos lá? O O bom do capitalismo é ser capitalista e bater no bolso. E E esse tipo de programa assim que que fazia anúncio de dinheiro como um valor dos mais importantes. O an Notamos também uma utilização muito de de símbolos religiosos ãh um pouco ridicularizados. Não é? Padres, Frades e ãh São Pedro. Enfim, havia muito isso. É, é. ( ) Foi é foi neste ano que nós estávamos fazendo isso e que nós notamos, por exemplo, a diminuição do uso do sexo no na publicidade. Foi uma coisa interessante de verificar, né? E E muita preocupação com o status. É. Preocupação crescente com o status.

SPEAKER 3: : Aliás, hoje é essa preocupação que se vê em toda propaganda, em toda comunicação, é a é a o bendito status social, né? É É o cigarro sempre mostrando status. É É o o uísque. ou a bebida mostrando o status. É o carro, o anúncio do carro. E E nesse status sempre uma posição invejável no amor. Que aparecem lindas mulheres, muito bem vestidas, né, que estão sempre acompanhando aquele que fuma o melhor cigarro, ou que anda no melhor carro, ou que bebe melhor (risos) uísque. Então a e o o nós vemos umas... Subida contínua do Deus dinheiro. Endeusado. Talvez mais do que a própria posição ou do próprio do do próprio cargo, porque nós vimos também isso este ano que passou. E Esta importância do da função exercida pela pessoa e não pela pessoa. O O respeito que se dá ao cargo ocupado e não a pessoa que ocupa o cargo. Então, valorizando ãh um papel e desvalorizando o indivíduo. O O lucro valorizado, a função valorizada e cada vez o homem ficando para trás, para trás, para trás. Foi uma coisa que nós verificamos este ano, não foi, ( )?

SPEAKER 2: : Foi um programa

SPEAKER 3: : Foi foi um programa rico, abrindo a nossa visão para muita coisa, que se vai infiltrando devagarzinho, porque a comunicação vai trabalhando e vai conduzindo todos os indivíduos de uma maneira inconsciente, subconsciente, né? Às vezes e até... ### Eu não sei se porque já de início eu mantive sempre com eles um um bom diálogo, sabe? E E de fato eles me tratam assim mais como uma companheira do que como uma autoridade constituída assim de mãe. De modo que foi fácil. É fácil. Ainda hoje eles me solicitam muito. Quando vão assistir um filme, ouvem alguma coisa e querem um um esclarecimento, uma discussão, eles me convidam a assistir a mesma coisa para depois trocar ideias com eles. E eu fico contente com isso porque hoje se fala tanto em conflito de gerações e eu não sinto esse conflito na minha ca Não sei se devido a esse diál

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 3: : ### Eu acho difícil, mas não impossível, porque, como eu digo sempre, eu sou esperançosa. Talvez um um um grupo bem intencionado, estando no setor de cultura e de comunicações, um grupo bem intencionado poderia fazer um trabalho, pelo menos começar um trabalho nesse sentido. E Eu acho viável, não acho utopia, não creio que seja para os nossos dias, mas já seria alguma coisa que está se fazendo e o homem é é julgado também pelas intenções e não pelas realizações.

SPEAKER 2: : Quem estabeleceria os critérios de valores aí nesse caso? É um problema. Porque toda a sociedade aceita, de um modo geral, pelo menos a sociedade no sentido daqueles que detêm ao o poder, que têm maior poder aquisitivo e tudo mais, eles põem como valor primeiro o dinheiro. Não é? Então, uma propaganda sobre o dinheiro, parte das insti das próprias instituições. Não é? A Agora, a mentira sobre o valor de produtos então é uma coisa muito mais prática, muito mais corriqueira. E isso Pelo menos isso devia ser feito. Não devia ser permitido que um anúncio prometesse aquilo que o a que o produto não dá. Não é? Pelo menos isso já seria alguma coisa. Agora Na parte ideológica, Eu acho, na prática, inexequível.

SPEAKER 3: : Desse ponto de vista fica mesmo utópico, porque éh sempre quem vai colocar, ãh quem vai mandar, é como você falou, é a classe de de maior poder, que que tem um certo status social, que tem um certo rendimento, que está preocupada em aumentar esse rendimento e não em diminuir. De modo que, isso colocado a serviço da comunidade, quem vai ter essa benemerência de de construir alguma coisa assim, nesse sentido? ( ) Então, você vê é um problema muito profundo, porque da própria estrutura social, eles prendem a própria estrutura social. Então, num num fica mesmo no terreno da utopia. Há pequenos grupos bem-intencionados que tentam alguma coisa. Eu acredito que esse grupo de censura, por exemplo, era um grupo bem intencionado e é um grupo intencionado. Mas na prática, o que acontece? Você sai de São Paulo, vai a um cinema no Guarujá, por exemplo, como me aconteceu. Estavam lá exibindo um filme que era proibido para menores de dezesseis anos. E Eu vi um vizinho meu lá. Ele tinha menos do que deze No dia seguinte, perguntando a ele, mas o filme era proibido, como é que vocês fazem? Ah Nós esperamos a luz apagar. E aí Então, a gente compra inteira. Não pode entrar com meia. A gente compra a passagem a entrada inteira. A Apagou a luz, o porteiro deixa entrar. Quer dizer Então, todas as as instituições voltadas para o lucro, Quer dizer, vendendo uma uma entrada in inteira no lugar de uma de menos valor, deixando entrar o menino. Depois da luz apagada, isto é. Então, subvertendo toda a ordem. Deseducando, então, é muito difícil. Quer dizer, grupos pequenos, talvez tragam assim um pouco de... ( ) um ilusório sossego para a consciência pessoal de cada um que faz parte dele, de estar pelo menos fazendo alguma coisa, mas que tenha uma solução, que tenha um assim um, na prática, uma um sentido mesmo real para uma mudança nesse sentido de influir? Não, eu acredito que não.

SPEAKER 2: : E depois os filmes agora são passados na televisão, não há controle nenhum, não é? ### ### Não são poucos.

Inf :elizmente, não são poucos. Então a criança assiste tudo que passa, a não ser que ela tenha outra coisa mais interessante para fazer, ela está ali. O que adianta censurar no cinema ou no teatro se assiste na televisão e não há controle? Agora, o pai que está preocupado, os pais que estão preocupados com a formação do filho, ele mesmo faz a censura lá fora também, do que se passa no cinema, de onde éh o que que a criança vai assistir, que teatro, que que cinema vai, mas é a minoria, né? ( ) A maioria quer sossego. Não é? Eu não vejo minha filha porque eu nem tenho rádio. Não tenho, não existe rádio aqui em casa. No momento, eu acho que esse esse momento, acho que já faz um ano, pelo menos, que estragou o nosso último rádio e num num ninguém se interessou de comprar outro. J Já teve? S Sim. Em tempo, principalmente, anterior à televisão, ele tinha um papel bastante importante. M Mas éh, na minha família, foi interessante que... Eles não se interessaram nunca muito pelo rádio, a não ser duas meninas que eu tinha, muito musicais e que se interessavam muito pelas músicas que eram tocadas, pelos pelas novidades, então elas estavam ali ligadas naquela novidade, tinham um ótimo ouvido, tiravam aquilo no violão, faziam dueto, faziam segunda vo duas vozes, faziam depois arranjavam a companheira, já faziam três vozes, então faziam uma festa com aquele negócio da rádio, mas era só programa de música que interessava a elas. O rádio aqui não teve muita penetração, não.

SPEAKER 3: : No meu tempo de menina, o rádio era muito importante dentro da casa. E naquele havia programas de comparações vocais. E eu me lembro que eu também sou muito interessada por música. E E eu gostava muito de adivinhar, por exemplo, quem estava cantando aquele trecho. ( ) Já, já eu dou para você. (risos) Então, o rádio teve, assim, uma fase importante. E o papai era muito curioso, mexia muito com essas coisas de de eletricidade, e construía rádio, sabe? Ele era curioso. Então, isso influiu muito na nossa meninice lá em casa, a importância do rádio. Éh a Agora, mais tarde, já não foi assim. E logo em seguida, com a televisão, o rádio perdeu o seu papel importante dentro da casa. Às horas que você pode ouvir o rádio, você liga a televisão, ouve as notícias e ouve música. A Agora, para as empregadas, ele é importantíssimo. Elas carregam o radinho para onde vão. Se estão trabalhando na cozinha, ele está na cozinha. Se estão arrumando os quartos, o radinho vai junto. É como uma maleta, uma bagagem que elas conduzem para onde vão. E ouvem... Durante todo o tempo que estão trabalhando, elas ouvem o rádio. Então eu escuto meio de longe, mas ele tem papel muito importante na vida das empregadas. Principalmente essas que trabalham como domésticas.

SPEAKER 2: : ### e que para ela é praticamente o único meio de comunicação, né? ( ) Não leem jornal, não leem revista. Televisão elas não têm, em geral. De modo que é o radinho, é o companheiro fiel das domésticas. E sabe dos automobilistas também, que eu tinha esquecido. O rádio no carro, minha filha, continua sendo ligado, né? Eles fazem muita questão de ter um bom rádio no carro, ouvem música. Agora já passaram também para o toca-discos no carro. que eu acho até meio perigoso, né? Essa história de estar trocando o disco enquanto guia. Mas ainda é importante, eles ainda acham importante o rádio no carro, um rádio de boa qualidade que eles possam ligar enquanto guiam. Porque... Principalmente, por exemplo, meu filho que trabalha em Santo André, não é. Todo dia daqui até Santo André, de Santo André para cá. É uma viagem um pouquinho longa e ele está com aquele radinho ligado o tempo todo. De modo que ele tinha esquecido do rádio no no carro e do rádio para as as analfabetas, que passam na minha casa, todas elas vivem grudadas no rádio, que é o que elas têm, a úni

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 3: : Rádio de galena. Galena, e tinha Rádio de galena. Então, eu me lembro que, eu não sei, era uma época de revolução em São Paulo, E então os rádios estavam proibidos, ninguém podia ter rádio. E eles eh andaram ãh mesmo confiscando rádios. E... E o papai tinha um radiozinho de galena que ele mesmo fabricou com aqueles ãh... Microfones?

SPEAKER 2: : Não. Eh

SPEAKER 3: : Como se chama? ### Pois é, mas tem um nome especial, essa peça que se coloca no ouvido, assim como o telegrafista usa. Eu não me lembro do nome dessa peça. São fones de ouvido? Fone, eu pensei que tivesse um outro nome. São fones de ouvido ligados por um arco assim, né? Então, ele ele tinha esse radinho e ouvia com aquele fone. E me lembro que era num cômodo muito, muito escondido, muito no fundo da casa, muito fechado. E a gente ainda vigiava, porque Podia ser que alguém percebesse. Então, para ouvir as notícias, era uma época de proibição. Então, ouvia as notícias. Não sei se  foi em trinta e dois, trinta, trinta. Eu penso que foi em trinta. Em trinta. Deve ter sido em trinta. Porque eu já tinha idade para para me lembrar disso. Eu te Deve ter sido em trinta. Foi, sim. Mas eu tenho uma Época do Getúlio Vargas, não é? Foi a época do Getúlio Vargas. É. Foi sim, foi uma época meio atrapalhada aqui. Então, era assim.

SPEAKER 1: : Lembro desse radiozinho dele. ()

SPEAKER 2: : Eu não ouvi a pergunta. () Hum A gente passa numa banca, Não pode haver discussão de que a quantidade de revistas que existe no Brasil agora é fabulosa né, porque é coberta de revistas. Agora O nível das revistas, aí então, já é outro problema, porque o que a gente vê sair mais são histórias em quadrinho, e fotono não é fotonovela que chama? Foto Eu tenho a impressão que o pessoal que compra mais revistas é o pessoal mais humilde. Porque as revistas de de de um nível melhor são muito menos não é? E são procuradas por um um público bem mais restrito. Aqui, por exemplo, em casa, nós assinamos o Veja. Então, é a única revista que eu leio habitualmente e. E revistas do tipo Manchete, por exemplo, que tem muitas muitas figuras, e muita tinta, e letras grandes e pequenas, eu tenho um problema de de acomodação da vista. Eu não costumo ler porque me dá dor de cabeça.

SPEAKER 3: : Sabe? Mas eu não estou muito de acordo com você em relação a... Só os...  Eu não estou de acordo com o que você disse, que que geralmente os mais simples compram revistas. Eu acho que todo mundo está comprando revista, e por isso é que elas estão aumentando muito. Sim, uh uh os que mais intelectuais compram revistas ãh de de gabarito melhor né.

SPEAKER 2: : Sim, compram revistas estrangeiras. Eh

SPEAKER 3: : Ou estrangeiras, nacionais. ### E também ah ah o Veja, a Realidade. Agora, os os ãh que gostam de sensacionalismo compram essas cheias de cores e de tintas e letras grandes e pequenas que você falou não é? E Uh os jovens leem quadrinhos. E as moças e os rapazes leem quadrinhos. E Por exemplo, ãh eu estive há poucas horas ãh num hospital visitando uma enfermaria, lá no Hospital das Clínicas, e eu vi a grande distração dos doentes é ler revista de quadrinho. Revista ãh de tipo infantil, de tipo fotonovela. Elas ficam, devoram aquilo. E uma pede para outra. E até eu servi de intermediária, sabe? Hum. É, de de De conduzir uma revista do leito de um para o leito do outro. Porque elas já tinham lido aquelas, então queriam trocar.

SPEAKER 2: : Mas não são só elas. Porque eu trabalhei também como voluntária no Hospital das Clínicas durante alguns anos e. E eu ti eu pedia para conhecidos, pedia para cabeleireira as as histórias em quadrinhos para levar, porque os homens também. Tanto é, tanto as mulheres como os homens, todos eles, eu acho que os homens até mais, porque com as mulheres eu conseguia fazer um pouquinho de laborterapia, ensinava um um um bordado, um ponto de cruz, um as coisinhas fáceis, e elas cro um crochêzinho, e elas se interessavam para ma passar o tempo com isso, porque lá no hospital das clínicas, em geral, lá elas esperam bastante tempo né para serem operadas, os todos, em geral, ficam porque não chegam em condições normalmente de ser operados, precisa fazer um pré-operatório mais ou menos longo. Sempre ficam quinze dias, vinte dias, às vezes um mês internados antes da operação. E é um tempo difícil de passar. E com as mulheres ainda havia essa laborterapiazinha. E com os homens, não. É só revista mesmo. Al Alguns, assim, de um pouquinho mais vivos, pediam palavras cruzadas. Mas a maioria é história em quadrinhos e fotonovela. Bem romântica, sim. Adoravam. O Grande Hotel e tal et cetera. Fiquei conhecendo uma porção delas porque eles solicitavam, eles pediam. E e se interessavam. Sabe? Agora, diz que tem muito homem que lê escondido, não sei né? (riso)

SPEAKER 3: : Mas você não viu a? Até nos vestibulares estavam incluídas perguntas. Um dos vestibulares aí de uns anos, não sei se foi umas coisas de uns dois Havia perguntas em relação a personagens da dos contos de de revistas em quadrinhos. Esses ()

SPEAKER 2: : Quer dizer que isso é considerado cultura geral. (riso)

SPEAKER 3: : Cultura geral, exatamente. É o que eu disse, a gente não pode fugir de uma realidade. E eu não tenho a menor paciência para ler nada que vá em quadrinho. Porque eu acho que a imaginação da gente fica tão enquadrada naquelas quatro linhas, E a minha imaginação, eu gosto dela, viu? (riso) Uma das coisas que eu gosto em mim é a minha imaginação, uma das poucas coisas. Eu imagino coisas assim tão adiante, além daqueles quadradinhos. que eu me fico impaciente de de de ter que seguir o que aquele uh uh está escrito no pé do quadrinho e ver o que está se passando no quadrinho. A minha imaginação já imaginou uma coisa muito melhor do que aquilo ali, uma pessoa muito mais bonita ou muito mais feia do que era para ser. De modo que eu tenho tentado, sabe? Porque eu acho que você precisa viver num contexto, você precisa estar dentro do que está acontecendo. E é cultura geral, realmente, você precisa saber quem é a Bolota, quem é o Bolinha, quem é eh o Pato e o e o tio Patinhas, né? O tio Patinhas. Essa gente toda, você precisa saber. Para poder conversar, participar da vida dos seus filhos.

SPEAKER 2: : Você aí, com a sua imaginação, fez lembrar um neto que eu tenho. Eu tenho um neto que, com seis anos antes dele saber, cinco para seis anos antes dele saber ler, eu comprava um livro de história para ele, em geral, livros que têm ilustração grande e pouca coisa escrita, e lia para ele a história. Em vez de fazer como as outras crianças, que em geral pedem para ler de novo não é, ele pegava e dizia para mim, agora, vovó, eu é que vou contar essa história para você. E ele contava a história seguindo, não o que eu tinha lido embaixo, mas exclusivamente a ilustração. E E punha dentro, detalhes da ilustração que nem você tinha percebido. Viu, ()? Coisas que você não não nota, detalhes. Ele ele reparava em todos os detalhes. E a história então se com compridava dez vezes mais, porque todos aqueles detalhes eram envolvidos na história não é. E a imaginação dele é uma coisa fabulosa por que quando ele vai numa festa de aniversário, dali a pouco, você vê todo mundo quieto, diz estão armando alguma arte. Não. O showman está fazendo o espetáculo. Ele é capaz de contar uma história durante duas horas seguidas. Ele podia dar uma entrevista aí de de duas horas sem que ninguém precisasse ajudar com perguntas, porque vai emendando. Não é? Agora, se a gente faz, e e é dramatizado, tudo é dramatizado. É com Fala alto, fala baixo, faz cara de medo, ri e se agacha, faz toda a mímica né completa. Quer dizer, ele encarna todos os personagens da história. E uma ocasião eu levei ele num num numa num restaurante almoçar. Ele sentado naquele troninho né, na cadeirinha alta, com as quatro mesas em volta. Todo mundo ria-se, ouvia a história dele e ria. Sabe? Porque ih ah Agora, para quem mora com ele, é de amargar, porque ele precisa de auditório o dia inteiro.

SPEAKER 3: : Uma conversa entre duas avós, Seria engraçado se não acabasse falando em neto, né? Mas agora, ca acabar falando em neto é o normal. (riso) Então nós teríamos assuntos para falar, eu acho que duas horas também. Eu não tenho as minhas. As minhas pequenininhas são assim, muito novinhas, não dá para falar nelas. Uhum () Bem, ele é muito importante quando a gente precisa dele. Mas não faz falta nenhuma quando ele fica tocando a todo instante, a todo instante, interrompendo a atividade. Mas é importante, sim, como meio de comunicação é indispensável né. Indispensável mesmo. Agora, o mal é que a gente acaba, por causa das circunstâncias de vida, de dificuldade de transporte e mesmo distância das coisa, você acaba transformando o telefone que é para recados curtos em verdadeiras visitas. Então, a gente tira o, vamos dizer, o valor que é de um recado urgente e de uma tira uh a oportunidade de uma outra pessoa que está precisando, às vezes, falar e dar um recado necessário para fazer uma verdadeira visita. É uh uh o mal da cidade grande. Você não não tem facilidade para se comunicar, Você tem que se valer do telefone às vezes para uma conversa grande, imprópria para telefone. ()

SPEAKER 2: : Eu acho que em São Paulo, quem não tem telefone chega a ficar marginalizado. Está Fica fora das coisas não é? E... Nesse ponto que você falou, a respeito das visitas, eu tenho a impressão que é uma função importante, inclusive, porque As famílias se mantêm ãh atualizadas a respeito do que está acontecendo entre uns e outros através do telefone, porque não se pode visitar a família toda, digamos, toda semana para saber como é que fulano está, como é que o beltrano está, se alguém está doente, se alguém fez vai fazer uma viagem. Quer dizer, se comunicam é por telefone. E eu acho que até essa função de assim mais ou menos de visita é uma função que se tornou própria, O telefone devido a dificuldade de comunicação em São Paulo. Porque o tempo que a gente leva para ir conversar dez minutos lá e voltar, a gente, em vinte minutos, conversa e fica ao par do do do que está se passando na na outra família, não é com os parentes. Sem que a gente atravanca uh os troncos, mas não atravanca a rua, né, ()? Sim Com um carro, para ir até lá saber como é que está passando a família.

SPEAKER 3: : Realmente o telefone, num movimento como o nosso, eh em que você precisa dar avisos e relembrar datas de reuniões, ele é um meio de comunicação muito importante. Mas nada como a coisa feita pessoalmente. Eu tenho sentido isso também, que o telefone é uma espécie de proteção ao indivíduo, que pode então ãh se negar a uma determinada participação, a um determinado convite, a uma determinada resposta, pode protelar essa resposta, porque ele está protegido pelo telefone. Então, eh quando eu desejo obter uma resposta afirmativa a qualquer coisa, a qualquer convite que eu precise fazer, Eu sinto que eu devo ir pessoalmente, porque o telefone tem isso, ele protege muito ah ah a pessoa que se vale de estar à distância para não tomar determinadas decisões, determinadas atitudes. O convite pessoal, vamos dizer, o contato pessoal, indivíduo a indivíduo, é muito importante.

SPEAKER 1: : Ah, é claro, é insubstituível. É.

SPEAKER 3: : Eu estava dizendo a ela que realmente em relação aos aos convites, aos avisos, o telefone tem uma função, mas que quando você quer obter alguma coisa realmente positiva, você tem que ir pessoalmente né. O telefone dá essa função de proteção ao indivíduo para continuar na, vamos dizer, no seu comodismo, na fechado na sua casa, sem dar uma resposta que a gente está querendo que ele dê. Você não acha isso, Gilda? ()

SPEAKER 2: : Acho, sem dúvida, que não substitui. Eu apenas falei do do papel supletivo dentro da impossibilidade de comunicação pessoal, mas que o contato pessoal é insubstituível, isso não tem dúvida. Nem tenho dúvida. Agora, você estava se referindo ao caso em que você quer que a pessoa saia do seu da sua ali ãh alienação, não é isso? Para qualquer coisa. Então, você tem que solicitar pessoalmente. Isso, de fato, é importante.

SPEAKER 1: : ### ###