Inquérito SP_D2_318

SPEAKER 2: : Dona Euridice e Dona Helena, para começar a nossa gravação, então nós gostaríamos que primeiro vocês, sobre cidade, comércio, vocês fazerem uma relação entre o comércio e a cidade de São Paulo antigo, em comparação com São Paulo atualmente. Então nós gostaríamos que vocês falassem, ou melhor, conversassem tudo a respeito de cidade, o comércio, tudo que vocês souberem ou quiserem conversar.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 1: : ###  a diferença é grande entre São Paulo atual e o nosso São Paulo antigo. A condução, por exemplo, era em bondinho. ###

SPEAKER 0: : Sempre andávamos de bonde, né? Pagávamos duzentos réis o bonde naquela ocasião.

SPEAKER 1: : Mas tinha um bonde de um um tostão.

SPEAKER 0: : o Cara Dura. É, o Cara Dura É, o Cara Dura era, de fato, um tostão (risos).

SPEAKER 1: : Eu ia para a escola, tomava um bonde Santa Cecília, que atravessava o Largo do Arouche e ia até a Estação da Luz. Nós descíamos lá e íamos a pé para a Rua José Paulino. Atravessávamos o Jardim da Luz muitas vezes. Era muito agradável. Era agradável? É, eee Na ocasião do trote, judiaram tanto de mim, porque eu era muito criança quando Pelo menos tinha o aspecto de uma menina quando entrei para a escola. Me pintaram o rosto com anil e (risos). Foram me vaiando até a Estação da Luz. E um dos rapazes ia com uma vassoura na frente, varrendo a rua para eu passar, ai. Foi uma coisa desagradável mesmo. E você, não teve trote?

SPEAKER 0: : Nós não tivemos trote, porque eu fiz a escola de educação física foi da primeira turma. Então, nós não tivemos trote. Nós é que demos depois o trote à segunda turma. Mas, ah naquela ocasião, não tivemos. Você fez uma referência aí ao Jardim da Luz. Eu quero lembrar que, quando criança, nós frequentávamos muito o Jardim da Luz. E o Jardim da Luz, naquela época, era o ponto chique de São Paulo. Então, era lá que frequentava a alta sociedade de São Paulo sempre. Os passeios, todos eram no Jardim da Luz. ### Hoje em dia é o Jardim da Luz de marginais, não é verdade? ### muito. Tinha muita distração para nós.

SPEAKER 1: : E o comércio, naquele tempo, na Rua José Paulino, era tudo muito mais simples do que hoje. ###

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 1: : O comércio era muito diferente. Mesmo nas ruas, encontrávamos muito menos pessoas, era tudo mais vazio, não é?

SPEAKER 0: : Praticamente, eu não posso dizer muito sobre o comércio, porque, naquele tempo, eu não saía assim para fazer compras, nem coisa alguma. Era sempre a minha mãe quem fazia. Então, não posso não tenho uma referência assim exata do que era o comércio, não é verdade? Mas e à feira, você não ia  Não, também não ia à feira. ###

SPEAKER 1: : ### Era tudo muito diferente, questão de preços e de dinheiro né. Era tudo mesmo bastante diferente. E depois também passei a Revolução de vinte e quatro aqui em São Paulo.

SPEAKER 0: : Ah, eu também passei aqui. Nossa naquela ocasião, nós morávamos na rua Jaguaribe, eee nós tivemos mais duas famílias que foram se abrigar lá em casa. Então, ficávamos vinte e quatro pessoas em casa. E, justamente, nós morávamos na rua Jaguaribe, próximo ao Largo do Arouche, e ali instalaram uma feira diariamente. Então, para nós não houve problema nenhum, porque nós tínhamos facilidade em compras, em tudo, porque tínhamos a feira.

SPEAKER 1: : Para mim já foi muito mais difícil, viu? Nós morávamos na Rua Augusta (tosse) e tivemos que fugir. Fomos para Campinas.

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : É. E depois veio a nossa família e se instalou em nossa casa. Um tio da mamãe ficou instalado em nossa casa e deram uma porção de balaços lá pelos fundos da casa, sabe? Mas não aconteceu nada mais de grave, felizmente.

SPEAKER 0: : Mas eu lembro, no tempo da Revolução, nós estávamos ah... Às vezes, quando havia aqueles bombardeios enormes, que a gente ouvia o tiroteio, então, já mais ou menos localizávamos. Isso do lado da Vila Mariana, isso do lado do Brás. Daqui a pouquinho, nós ah ouvíamos aquele barulho de carros, então, corríamos à janela e víamos os carros que passavam carregando feridos, aquilo tudo pendurado, tudo ensanguentado, e que iam para a Santa Casa. Então, isso passava na frente da nossa casa e nós é, então passa vimos é todo esse movimento né. Felizmente, onde nós estivemos nunca houve bombardeio nem coisa alguma, mas só víamos o movimento.

SPEAKER 1: : Movimento grande né? É, isso é. Para nós era uma dificuldade encontrar comida. Eu me lembro que eu era ainda muito criança, pegava batatinha, cozinhava com água e sal, e dava para o para os meus se alimentarem.

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Porque não tinha mais nada, nada, nem onde comprar, nem nada. E depois, na Revolução de trinta, você lembra?

SPEAKER 0: : Se eu lembro da Revolução de trinta, lembro perfeitamente. Nós ah... Deixa eu lembrar o que... Qual o fato que eu possa lembrar assim?

SPEAKER 1: : ### Eu ia indo pela Praça correndo e e vinha um daqueles gaúchos com lenço vermelho amarrado no pescoço e veio atrás de mim e me deu um tapa formidável nas costas ( ). Eu não

SPEAKER 0: : A última foi de trinta e dois, não é?

SPEAKER 1: : Não, essa foi de trinta

SPEAKER 0: : trinta, pois é. Mas a de trinta não não tenho lembrado assim de um fato. Agora, de trinta e dois, sim, eu lembro. Eu já estava formada em escola normal, era substituta de grupo, então, como os grupos fecharam, eu fui prestar serviços ao Tesouro do Estado eee, trabalhando na parte de contabilidade. Então, eu ia, trabalhava o dia todo lá no Tesouro. E, às vezes, nós estávamos lá e ouvíamos aquele tiroteio. E, às vezes, estávamos andando pela ru pelas ruas, eee que eu ia para a casa, era uma correria porque vinha a cavalaria. Então, todo mundo se atirava no chão, Então, só vimos as portas arriarem sabe? Todo mundo com medo que ah que houvesse algum tiroteio, alguma bala ( ), então, todo mundo se atirava no chão. Isso eu lembro muito bem. E, uma vez, eu estava lá na no Tesouro, e houve um tiroteio, e uma das balas atravessou a janela e foi se localizar na sala em que nós estávamos.

SPEAKER 1: : Que susto, hein? É (risos)

SPEAKER 0: : de lá lá nós víamos a formação dos batalhões, que eles faziam exercícios ali ao largo do palácio, então nós víamos todo aquele movimento, os batalhões que estavam se formando para ir para a Revolução.

SPEAKER 1: : ### e dois, é. Nossa eu trabalhei muito, a gente trabalhava de manhã até duas, três horas da madrugada, preparando soro, soro fisiológico, soro glicosado para mandar para lá, também medicamentos contra carrapatos, inseticidas para as trincheiras, No laboratório era um movimento colossal. A gente modificava os aparelhos, modificava tudo para aumentar a produção bastante mesmo, para poder enviar. Saíam aquelas toneladas de soro glicosado, soro fisiológico eee também também óleo canforado para os doentes né anestésicos. Uma porção de coisas

SPEAKER 0: : Eu lá no Tesouro não... Era um serviço horário de funcionária, mas nós fomos justamente porque a maior parte dos funcionários naquele tempo eram quase que mais homens que moças, e quase todos foram para a Revolução. Então, o Tesouro ficou sem funcionários, e era uma repartição que não podia fechar. Então, eles contrataram pessoas que quisessem que pudessem prestar serviços lá, e foi o que nós fizemos. Eu e mais um grupo de moças, Quer dizer, não ganhávamos coisa alguma, apenas trabalhávamos e. E com horário obrigatório de funcionário, entrar no meio-dia, sair às seis horas da tarde.

SPEAKER 1: : É, mas nós não, nós íamos de madrugada para lá, sabe? Era necessário, era uma coisa de emergência, não é? É E, na rua, a gente não tomava um bonde qualquer carro que passava, já nos chamava, porque nós tínhamos uma cinta larga no braço, uma cinta azul com dois esses em branco, serviço sanitário, e todo mundo, então, nos levava para lá, para cá, levava para a casa, mas a gente ficava até de madrugada no serviço. Foi tudo muito bem organizado lá. Era Departamento da Lepra. Nós continuávamos durante duas, três horas a fazer o preparar medicamentos para os leprosários e o restante para para a Revolução né e essa Nós estamos muito na Revolução, não é?

SPEAKER 0: : na Revolução e depois passamos para a guerra, não é, Helena? É verdade. É, passamos para a guerra.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : ### E lá, então, nós tivemos oportunidade de fazer várias especialidades, que essas ãh as especialidades que fizemos era justamente para substituir, em caso de necessidade, os homens que tivessem ido para a guerra. ### ###

SPEAKER 1: : Lembro. ### Num mato tremendo à meia-noite. Sei lá. Não, e você lembra que nós não não tínhamos uma arma. Não tínhamos nada, é verdade.

SPEAKER 0: : A noite no escuro, não é verdade, sem uma arma.

SPEAKER 1: : Só com o apito e a nossa voz. Possante, né?

SPEAKER 0: : Porque a gente gritava. Fizemos o serviço de racionamento de açúcar. Ah, é. Foi organizado justamente pela UFAG. Aí já era OFAG, porque a Defesa Passiva Antiaérea, quando foi reorganizada, então passou a Organização Feminina Auxiliar de Guerra eee.

SPEAKER 1: : E nós, então, tivemos... Fizemos o cadastro dos médicos também, não é? Isso mesmo, é. Da... Das famílias dos que tinham partido para a guerra. E atendemos também essas famílias, íamos em vários lugares aí, não é? ###

SPEAKER 2: : E como é que eram as ruas antigamente? Vocês lembram? A dimensão das ruas, ah a paisagem de São Paulo antigo, como é que era antigamente? Os meios de diversão de São Paulo Antigo, ãh a limpeza, como é que era?

SPEAKER 1: : Me lembro perfeitamente, nós morávamos na Rua Augusta, a rua era bem estreita, e hoje ainda é da mesma largura. É, era toda de paralelepípedos, e as casas em frente a nós eram todas casas peque casas pequenas, não, mas quando muito assobradadas, com jardim na frente, é, chaminadas quase todas. A nossa era uma casa bem bonita, com uma frente ampla, uma escadaria de mármore, Eee, de manhã, logo às seis horas, vinha um homenzinho com um um bastão comprido, acendeu o lampião de gás, que ficava bem em frente à nossa casa. À noite, às seis horas, ele passava outra vez e e apagava o lampião eee. E passava um bondinho em frente de casa e tinha um cruzamento de linha. E ele andava mais devagarzinho quando passava por ali. E eu tinha uma cunhada que era danada. Ela vinha do banco e pulava na Quando o ban o bonde diminuía a velocidade ali, ela saltava do bonde andando para para não ter que descer na esquina. Hoje, por exemplo, os pontos de ônibus são tão distantes e a gente tem que caminhar uns oitocentos metros para atingi-los. eee tinha uma porção de amigas da mesma idade que nós, quatorze, quinze, dezesseis anos. A nossa principal diversão era ir à matinê, aos domingos, acompanhada da empregadinha e dos irmãos pequenininhos também, não é? E à tarde, às cinco horas, mais ou menos, De braço dado, a gente andava pela Avenida, pela Rua Consolação, ãh Rua Augusta, fazia aquele quarteirão. Era o nosso passeiozinho à tarde. E, à noite, era pingue-pongue em casa.

SPEAKER 0: : Helena, nós podemos falar também do carnaval. Ah o O que era o carnaval naquela época O prin o principal era o da Avenida Paulista, o curso que havia na Avenida Paulista, mas era uma brincadeira sadia, porque nós ah... Uns nos carros, outros na nos passeios, e, quando os carros paravam, a gente via aquelas brincadeiras com confete, serpentina... Chegava a ficar cinquenta centímetros de altura de confete  Mas era uma brincadeira sadia, não é verdade? Depois tinha o o dia que passavam os carros alegóricos, Então, era o interesse de todo mundo ir ver o carnaval, não só pela brincadeira, também ver os carros alegóri ### Lindos! Uma riqueza. Pois é, e depois tinha também o carnaval no Brás. Também é curso, isso.

SPEAKER 1: : É. Ia às vezes até o Brás. Começava pela Avenida Paulista, passava pela cidade eee... E até é, até o Brás.

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Isso mesmo, é

SPEAKER 2: : Muito interessante tudo. Dona Helena,  a senhora falou que passava de braço dado. Com quem que a senhora ia de braço dado?

SPEAKER 1: : As meninas de quatorze a dezesseis anos, que eram as nossas amiguinhas. De braço dado, nós dávamos volta pelo quarteirão ou passeava em frente de casa. Era diversão a tardinha.

SPEAKER 0: : Nós não tínhamos isso.

SPEAKER 1: : Eram as amiguinhas só. Nós não tínhamos isso, Helena. Hein? Nós não. Não? Tínhamos isso. Nós passeávamos pela Rua Augusta. Agora, minha irmã tinha um namoradinho que era vizinho de casa e que hoje é marido dela. ### ### Eu nunca fiz isso, eu tinha medo do patins, da bicicleta e de tudo, viu?

SPEAKER 0: : Mas nós, não. Nós, quando saímos ao domin aos domingos para ir ao cinema, éramos acompanhados da vovó. É

SPEAKER 1: : Nós íamos com a empregada e levava o e levávamos os pequeninos também.

SPEAKER 0: : Nós íamos nós, é, é, eu e minhas irmãs, mas acompanhados da vovó, íamos ao cinema. Sempre é matinê, né?

SPEAKER 1: : ### Muito, muito, é. Mas você tem saudades?

SPEAKER 0: : ### ### ### Eu também tenho saudade.

SPEAKER 1: : ### Era uma vida tão diferente.

SPEAKER 0: : Muito. Mas vocês, é, você tinha lembrado o negócio de bonde? Eu lembro quando nós fizemos a escola de educação física e nós tínhamos aulas ali no Parque Dom Pedro se E nós saímos, as a aula terminava às seis horas da tarde, e nós tínhamos que subir à Avenida Rangel Pestana, para tomar condução eh na Praça da Sé onde, conforme o bairro. Então, nós achávamos que era um desaforo nós pagarmos. aquele trecho de... para tomar o bonde, pagar aquele trecho. Então, a gente entrava no bonde e não pagava, entendeu? Ah, mas o que o que saía, porque o condutor não não aceitava a coisa. Então, ficava aquela quantidade de bondes todos parados, porque eles diziam que, enquanto nós não descêssemos, que o os bondes não saíam. ### Então, a gente fazia... Que quer dizer, era tudo brincadeira, mas é uma turma muito boa, uma turma formi... Até hoje somos amigos. De modo que a gente ãh deixava passar aqueles aqueles minutos né de de alegria. No final, todo mundo concordava sabe. Muito agradável mesmo né.

SPEAKER 3: : E o centro da cidade, como é que era naquela época?

SPEAKER 1: : O centro da cidade era bastante fechado, quase sem movimento mesmo. Mas, para se fazer uma compra, Era tudo muito mais facilitado, não havia afluência de de de interessados na compra e os que serviam eram tão atenciosos. Prestativos mesmo, não tinham pressa nunca. Aliás, ninguém tinha pressa naquele tempo, tudo. Tudo era na base de câmera lenta (risos).

SPEAKER 0: : ### ###

SPEAKER 1: : E o que é que você lembra da cidade?

SPEAKER 0: : Olha aqui, Helena, eu posso dizer a você que muito pouca lembrança eu tenho, porque eu só saía mesmo para ir para estudar, ir para escola e, geralmente era eh, estudo próximo à minha casa, e saía da escola, era para casa. De modo que eu, praticamente, eu digo a você, eu lembro muito pouco de de comércio, dessas coisas, não tenho muita lembrança mesmo.

SPEAKER 1: : Das casas comerciais, da Casa Baruel, bem ali na esquina da Praça da Sé, você não lembra? Era uma ###

SPEAKER 0: : ### ### Mas em criança não, criança não fazia mesmo nada.

SPEAKER 1: : Aham.

SPEAKER 2: : ### Quem conduzia o trânsito? (risos)

SPEAKER 1: : O trânsito era uma coisa que passava um carro, daí a dez minutos é que passava o outro. Eu me lembro que a minha mãe tirou carta de motorista em  mil novecentos e Ela andava por todo canto com aquele Chevrolet, ia a Mogi das Cruzes, ia a uma chácara que nós tínhamos em Suzano. E uma vez, quando ela voltava dessa chácara de Suzano, ia um italiano com uma carroça cheia de capim. E ela vinha atrás. De repente, ela deu uma trombada na carroça e o italiano pulou e caiu a cavalo no burrinho dele. Ai meu E como ele era muito gordo, ele não podia descer. O italiano começou a xingar, a dizer impropério para a mamãe, até que vieram os outros, os ajudantes, as pessoas que passavam, e ajudaram ele a sair de cima do burrinho. Depois mamãe pagou o estrago da carrocinha e acabou tudo muito bem. Mas eu tinha um irmão também, que dirigia os carros dos de um amigo dele, e não tinha carta de motorista e ninguém pensava nisto, que era uma... que ele era infração, ele sair sem carta de motorista, ( )  carro ou não, vivia andando com o carro para lá, para cá. Era tudo muito mais fácil mesmo. Mesmo... quando... quando a gente saía para ir a um hospital, muitas vezes ia de bonde, viu? É, eu tinha que levar meu irmãozinho, que foi mordido por um cachorro, eu tinha que levar na Avenida Paulista, no Instituto Pasteur, e eu ia de bonde com o menino, sabe? Porque era difícil, acho que táxi era muito caro para as nossas finanças, ou poucos poucos. ( )  muito poucos... Acho que existiam poucos né, de maneira que eu me lembro que ia de de bonde para lá.

SPEAKER 0: : Eu lembro, o papai era dentista, e ele tinha, entre os clientes, tinha a família do Coronel Afro, que foi assistente da de gabinete do Carlos de Campos, e a senhora dele, ela ia tratar dos dentes com o papai, e ela ia de tílburi. Então, a gente ouvia de longe quando ela estava chegando, porque os cavalos vêm fazendo aquele barulho, não é? ( ) Então, a gente ouvia de longe. Dona ( ) já está chegando. Em que época foi isso? Ah Quando nós morávamos na Rua da Conceição, acho que mais ou menos novecentos e vinte se não me falha a memória.

SPEAKER 1: : Porque eu não me lembro do tílburi, mas daqueles carros grandes, com aqueles cavalões, eu me lembro. Lembra, né? É.

SPEAKER 2: : Além de hospital ah, casas de comércio em São Paulo, o que mais que existia aqui em São Paulo? Além de hospitais, casas de comércio, o que mais tinha em São Paulo? Ah tinha

SPEAKER 1: : Havia muito cinema, não é? Havia cinema no Largo do Arouche, tinha uns dois. No centro da cidade também tinha cinema. Na Consolação tinha o Odion. ( ) Bom, eee... Existia também patinação ali na Rua Augusta.

SPEAKER 0: : ### ### Teve um um rinque de patinação? Ah, o movimento lá era enorme.

SPEAKER 1: : Na Rua Augusta também, lá no começo, onde hoje é a Martinho Prado, também tinha um rinque de patinação, que também tinha grande movimento.

SPEAKER 0: : Tinha as confeitarias também, não é? Também, é.

SPEAKER 1: : Exato. ### ### Era um chá maravilhoso no Mappen. Quantos salgadinhos e doces gostosos. Às cinco horas da tarde, a gente tinha uma folguinha e ia tomar chá no Mappen. É isso mesmo, é. Tinha bastante, sim.

SPEAKER 2: : palácios antigamente? Quais os palácios que existiam aqui em São Paulo?

SPEAKER 0: : O Palácio do Governador?

SPEAKER 1: : É, pala na em Campos Elíseos, não é? Nos Campos Elíseos tinha aquele palácio bonito que hoje, não sei, hoje é uma... Não sei o que está funcionando lá atualmente. Também não sei.

SPEAKER 0: : Eu acho que era o único, não é? Não tinha o Palácio das Indústrias. ### ( ) realizaram várias exposições. E, hoje em dia ah, um tempo foi assembleia né, hoje não sei o que nem estava o que estava

SPEAKER 1: : Também não sei o que é agora, não.

SPEAKER 0: : Mas era muito bonito aquele Palácio das Indústrias. É Eu tenho a impressão que palácio é só né.

SPEAKER 1: : A construção era bonita. ### ###

SPEAKER 2: : Antigamente existia, como existe hoje, ah pessoas idosas, mais velhas, desabrigadas e crianças, Eee, se existisse, para onde que elas iriam?

SPEAKER 1: : Antigamente não havia esse problema, a vida era bem mais suave. Eu também não lembro. É Hoje hoje é muito diferente essa questão de de de pessoas idosas e infância também eh. Eu creio que as crianças tinham um asilo, é verdade, me lembro de um asilo que era no Sumaré hoje, mas, naquele tempo, era um mato bem grande, Pacaembu que era. Pacaembu Pacaembu. Tinha um asilo lá que tinha muita criança, e nós íamos passear lá por pelos arredores, íamos buscar água numa minazinha que tinha embaixo, no no Pacaembu, e chegávamos até o asilo, todo cercado, com ciprestes e tudo, mas víamos as crianças lá dentro brincando. Agora, quanto aos velhinhos, eu não tenho a menor ideia de de assistência ou para onde eles iam. Acho que já existia o Jaçanã, que é da Santa Casa, mas não não tenho certeza. E esse era um problema que a gente, felizmente, não precisava pensar naquele tempo. É

SPEAKER 3: : E na época da guerra, vocês estavam contando que participaram, não de ir, mas participaram aqui ativamente. Então, gostaria que vocês contassem como é que foi essa participação.

SPEAKER 1: : Nós nos inscre... Ah, espera, eu fiz dois duas inscrições. Uma do dos farmacêuticos que se arregimentaram para substituir os que tinham partido para a guerra. Mas, infelizmente, quando eu cheguei para fazer inscrição, estava encerrada, não pude mais. Então, vi que uma comunica um comunicado do Quartel General ### Dizendo que iam regimentar, queriam regimentar mulheres para a defesa passiva antiaérea. Então, eu me inscrevi lá. Fiquei sendo o número duzentos e oitenta e um e o seu? Quarenta e cinco Você foi antes que eu hein? É eee Mas o número de inscrições foi muito grande. Nós tivemos mais

SPEAKER 0: : seiscentas inscritas no primeiro batalhão. ### Só no primeiro, mais de seiscentas.

SPEAKER 1: : É exato. Mas depois tiveram que formar outros dois batalhões. Ficou o segundo batalhão com oitocentas... Com o nome de batalhão universitária. Não, esse foi o terceiro. ###

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Só de universitárias, não é? É E depois organizaram o terceiro batalhão, que tinha oitocentas mulheres, e que eu fui comandante dele. E trabalhamos muito, muito. Eu tinha muitas moças tão boas, desde a cozinheira, da preta cozinheira, até senhoras de diplomatas.

SPEAKER 0: : E você lembra, Helena, o nosso batalhão? Nós tínhamos de tudo, porque ali não havia seleção para escolher quem fosse inscrever, e sim era quem tinha vontade de trabalhar. Então, tanto tínhamos formadas, e por sinal que o número de formadas no nosso batalhão era muito grande, Apesar de que o segundo é que foi chamado Batalhão Universitário. Mas nós tínhamos, no nosso batalhão, muita gente formada. ### ### Mas tínhamos, inclusive ah, donas de casa, tínhamos ãh até bailarinas, lembra que é? ### Paraquedistas.

SPEAKER 1: : Então, tivemos... Senhora de delegado, senhora de médico.

SPEAKER 0: : E a idade também não tinha idade, nem mínima, nem máxima. Nós tínhamos uma algumas até muito mocinhas. Meninotas. Meninotas, é, que se inscreveram. Mas, desde que quisessem trabalhar para com com a finalidade que foi criada a Defesa Passiva Antiaérea, então, eles aceitaram. É Exato E nós, então, pudemos, tínhamos que escolher uma especialidade. Uhum. E, de dentro dessa dessa especialidade, eh vai depois nós prestarmos serviço dentro da especialidade. Mas, não sei se você está lembrada, que quando nós nos inscrevemos, nós inscrevemos para fazer uma especialidade, mas nunca ninguém pensou em vestir um uniforme. É Eee, quando foi ideia do quartel-general, porque a defesa passiva pertencia à segunda região militar, então, eles achavam que nós deveríamos vestir um uniforme para, quando fôssemos fazer um serviço, eles saberem com quem estavam lidando. E, desde que fomos vestimos o uniforme, então, nós fomos obrigadas a fazer um serviço praticamente quase que militar.

SPEAKER 1: : Sim, nós fizemos ordem unida, não é, andávamos fardada, tínhamos um cap, não é?

SPEAKER 0: : ### Então, tivemos a nossa primeira formatura, tivemos ah a formação na na no Anhangabaú, que nós desfilamos e prestamos o nosso juramento. Lembra, Helena?

SPEAKER 1: : Lembro. Perfeitamente.

SPEAKER 0: : Foi ah idêntico ao militar na 

SPEAKER 1: : Lembro que eu desmaiei com o sol e que o capitão, não me lembro, um capitão moreno grande, que tinha lá um moreno alto, ele pa desceu do palanque, foi me apanhar e me levou para a ambulância. E a senhora ficou contente, Dona Helena? Hein? (risos) foi mais...

SPEAKER 0: : Foi mais uma medalha, não é? (risos). Mas e e e E depois que nós, então, vestimos o uniforme, Aí, nós andávamos sempre uniformizadas. Eee e, então, tomávamos parte nos exercícios de alerta, nos exercícios de blackout. Uhum. E e a única nossa arma, não sei se você está lembrada, era apenas o apito. Era o apito E a nossa voz. É

SPEAKER 2: : perfeitamente, é. Exato, sim. Ah Eu queria que que as senhoras também falassem. As senhoras, né? (risos) ### Sobre a limpeza de São Paulo antigo, como é que era feita a limpeza? A cidade era limpa, não era? Ãh Quem limpava? Como é que eles mantinham a cidade limpa ou suja, caso fosse suja?

SPEAKER 1: : ( ) A cidade não era suja, não, era bem limpa mesmo eh. Tinha os carros. ( ) limpava a noite. Eram os carroções da limpeza pública, que tinham os os cavalos enormes, eles vinham recolher recolher o lixo que se deixava na porta, em latas, não é, latas tapadas na porta, e outros varriam também e recolhiam, botavam dentro do caminhão. E tinha o esguicho também, o carro tanque, não é, que de noite vinha e lavava as ruas, à noite.

SPEAKER 0: : Muitas vezes eu lembro, quando eu ia para a Escola de Educação Física, que nós íamos cedo, então quando atravessávamos o viaduto do Chá, estavam os carros com os esguichos, Fazendo a limpeza perfeitamente, é.

SPEAKER 1: : A cidade era bastante limpa, era muito diferente da atual.

SPEAKER 2: : Viu? E medidas de segurança? Ãh

SPEAKER 0: : Vocês precisavam ter medidas de segurança contra ( )... Uma coisa eu digo, que o que eu já fiz nessa minha vida, se fosse atualmente, creio que não faria mais. Inclusive, quando fizemos esse serviço eh, o o preparo para a OFAG, nós tivemos eh dias de sair a À meia-noite, andávamos sozinhas, subíamos ruas completamente sós, que até chegarmos em casa, e nunca tivemos preocupação nenhuma de um assalto, nem de coisa alguma, não é verdade, Helena?

SPEAKER 1: : nunca pensamos nisso mesmo. Felizmente, viu? Não havia dessas coisas. Se bem que a nossa casa ali na Rua Augusta foi assaltada uma vez ãh. Um homem pulou a grade, que era bastante alta, pulou para dentro de casa com um guarda-chuva pendurado no braço, porque meu irmão viu. Mas nós tínhamos uma cachorra policial muito valente, avançou nele e ele despulou. ### Agora, a questão de empregadas domésticas, nós tivemos muito roubo na nossa casa, porque não havia segurança nenhuma. A gente tratava uma empregada, quando muito, podia telefonar para uma pessoa onde ela já havia trabalhado. Mas, no entanto, era muito difícil a outra pessoa ter telefone e a gente não saber aceitava a empregada. Quando era no fim do dia, escutava um barulho, um portão que batia, e... Mamãe, a criada fugiu. Aí eu saía correndo, tomava um táxi atrás da empregada, e e uma vez segurei mesmo e trouxe o meu dinheiro, que era o meu primeiro ordenado que ela havia roubado (risos).

SPEAKER 0: : Esse caso de empregada, eu era criança, eee uma ocasião, nós, a empregada dormia em casa, E quando foi uma certa hora, talvez lá pelas nove, dez horas da noite, bateram na porta  A mamãe foi ver quem era, era um guarda, sabendo se nós tínhamos posto uma empregada na rua. A mamãe disse não, disse não porque nós cercamos uma moça agora que ia indo com um pacote, porque aquela... ah tempo não podia andar com pacote à noite na rua. Ela ia com um pacote e ela disse que tinha sido despedida daqui. Então, nós pegamos e ela está aqui. ### Roupa que o que ela tinha podido, tinha feito o pacote e ia fugindo de casa.

SPEAKER 2: : E, a não ser em casa, assim, vamos supor, na rua, qual era o risco que vocês corriam? Que as senhoras corriam?

SPEAKER 1: : O risco na rua? Acho que era muito remoto. Não me lembro bem nunca ter tido um susto, isto é, Às vezes, acontecia um atrevido dizer uma pilhéria, ou, então, abaixar e dar um beliscão na perna da gente, viu? Isso aconteceu comigo, é, ali pela Rua Augusta. Mas foi a única coisa, não me lembro de nada, era tudo tão seguro, era tudo tão

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Não havia preocupação mesmo.

SPEAKER 2: : Isso antigamente. E hoje? Quais os riscos que vocês correm? (risos)

SPEAKER 0: : (risos) Hoje nós corremos todos os riscos ( ).

SPEAKER 1: : ### Os riscos são bem são bem grandes atualmente, viu? Eh O perigo da bolsa sai, já segura a bolsa com força. Em casa também é perigoso. Quando fecha a porta do... Eu moro em apartamento. Quando fecho a porta, ponho o primeiro trinco, ponho o segundo e ponho a corrente. Quando alguém bate, eu abro o primeiro, abro o segundo e a corrente fica. Enxergo assim por dois vãozinhos dois dedinhos, só para saber o que ele quer. Mas, na rua, a gente tem muito cuidado com a bolsa. Já fui roubada três vezes. ### Eu fui roubada três vezes. Uma vez ia com um sobrinhozinho ali pelo viaduto do Chá. Um homem me deu um empurrão. O menino que ia comigo tinha três a quatro anos. O homem me deu um empurrão e eu vi a bolsa aberta. Depois do empurrão, faltava a carteira. Da outra vez, na Praça João Mendes, fui tomar um bonde. Isso é do tempo antigo ainda, né? Fui tomar um bonde, estava com uma amiga, Odete, eee o um homem me atrapalhou para entrar no bondinho. Enquanto ele atrapalhou, eu entrei, depois Odete entrou. Ela di eu disse, e minha bolsa está aberta. Olhei, não tinha não faltava nada. Depois cheguei em casa, e disse esse trinco estava em cima, o trinco que eu tinha comprado estava em cima na bolsa, mas embaixo tinha minha carteira de dinheiro e ele não sei, deixou o trinco intacto e foi buscar minha carteira de dinheiro lá embaixo.

SPEAKER 0: : ### Eu fui roubada na Praça do Patriarca, é. Eu tinha tirado o dinheiro da bolsa e ia comprar passe naqueles quiosquinhos que armaram ali na na Praça do Patriarca, E quando eu eu senti alguém por cima do meu ombro, arrancaram o dinheiro da minha mão. E eu até no começo pensei que fosse alguma brincadeira. Quando olho, é um menino correndo. ### ### Menino. Menino ali na Praça do Patriarca. Ah ### Por três vezes, quase me roubaram. Mas eu pressenti as três vezes. Uma vez na Barão de Itapetininga, outra vez ali na próximo à Rua Direita, E outra vez não lembro agora o momento, mas as três vezes eu senti. Mas não conseguiram.

SPEAKER 1: : Não conseguiram. E no outro dia na feira, nesta feira aí que que você costuma ir, sabe? Quando eu virei a minha sacola, que era uma sacola de seda, tinha um rasgo grande de mais de vinte centímetros, tinham passado a gillette, mas não tiraram a carteira de dinheiro não. Acho que eu estava muito ativa nessa hora, sabe? Apesar de não estar preocupada com o roubo.

SPEAKER 2: : Agora nós vamos deixar um pouquinho de lado o comércio e a indústria, nós vamos passar pelos meios de comunicação. Então, eu queria que as senhoras dissessem como é que eram os meios de comunicação antigamente, os correios, como é que era feita a distribuição ah do correio, era bem organizada, como é que era, como é que vocês faziam?

SPEAKER 1: : Eu me lembro que eu recebia sempre cartas em casa, O carteiro entregava, o jornaleiro também entregava jornal diariamente, eee eu escrevia às amigas e recebia sempre respostas no Não havia reclamações assim de extravio de correspondência, não.

SPEAKER 0: : ### Agora, nós podemos lembrar também a época que começou o rádio, quando começaram as novelas no rádio, né, Helena? Que todo mundo ficava grudado nas novelas. E havia pessoas até que encerravam logo os seus trabalhos, porque tinham que assistir o capítulo da novela do rádio. Naquele tempo, era era o que nós tínhamos para...É verdade, era a diversão não é? Era era. É

SPEAKER 1: : Nós tínhamos aquele rádio de galena. Me lembro que meu irmão fazia até rádio na caixinha de fósforo. ### A gente ficava com aquele ponteirinho procurando as estações. Eee tinha mui algumas estações, mas os rádios aqui não prestavam. A gente custava localizar uma estação, dava uma era uma dificuldade

SPEAKER 0: : ### ###

SPEAKER 1: : ### ### ### ### Edith Moraes. Era bem interessante. Muito Tinha uma novela ( )

SPEAKER 0: :  eram novelas, era  ### Era um tea

SPEAKER 1: : Era uma novela completa né. Era completa Era um teatro com dois, três atos não é e com aqueles ótimos autores. Era muito bom. Muito agradável. E

SPEAKER 2: : como é que vocês colocavam a carta no correio? Quais as medidas que as senhoras tomavam?

SPEAKER 1: : para a carta, colocava o endereço da pessoa, eee e a ca e o era o endereço e o local, não é? É e...( ) levávamos ao Correio Geral, lá na cidade, ou nas caixas. Na nos bairros tinha sempre uma caixa verde, escrita cartas, e a gente colocava ali com o selo, e a carta ia embora.

SPEAKER 3: : Quando vocês tinham que dar um aviso urgente, como é que vocês faziam? Pela carta não ia dar, que meio de comunicação vocês usavam?

SPEAKER 1: : Nós usávamos o telegrama sempre. Já tinha telegrama. É, a Às vezes, quando se podia, quando tinha telefone para determinado lugar, então fazíamos pelo telefone, mas geralmente era telegrama para todos os lugares. E, não sendo muito distante, chegavam bem, com uma demora apenas de doze horas. Hein? Eu também sempre tive telefone, mas é que as outras pessoas com quem a gente devia se comunicar, geralmente não tinham. Era muito mais difícil né.

SPEAKER 2: : E o aparelho ãh telefônico, antigamente, era diferente do de hoje ou não?

SPEAKER 1: : Era mais ou menos a mesma coisa, viu? Era pendurado na parede, só que a gente tirava o fone. O nosso telefone tinha quatro números, o da Rua Augusta. Era cinco  porque tinha o telefone do centro, então dizia estação, dizia centro e punha o número, não é? E o nosso era cidade, a estação eh. O telefone era pendurado na parede eee a gente tirava o fone, vinha a telefonista e perguntava, o número faz favor (risos). ###

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Não, nunca tivemos o de manivela, não. Aqui em São Paulo, no estado de São Paulo, no centro, na capital, nunca tivemos. Não, não houve aquele de manivela. Mas tinha a telefonista que vinha perguntar. E, quando a gente queria interurbana, tinha também que ligar e fazer a ligação

SPEAKER 3: : falou que vinha que recebia o jornal diariamente. Como é que era esse jornal? Era igual o nosso de hoje? Era composto das mesmas coisas ou não?

SPEAKER 1: : Mais ou menos como este, sabe? Como o atual. Nós recebíamos o Estado de São Paulo lá em casa eh. Ele já era bastante volumoso. Olha, tem até uma anedota, que no Rio Grande do Sul tinha um homem que só assinava o Estado de São Paulo. Então perguntaram a ele, por que o senhor assina o Estado de São Paulo? Ele disse, é porque o Estado dá para eu enrolar um arreio inteirinho com o Estado (risos) ( ) Não, não. Não?

SPEAKER 3: : Bom, nós vamos passar para a área de rádio, cinema, televisão e teatro. Então, eu gostaria que a senhora falasse como é que era o cinema há uns tempos atrás, o rádio vocês já começaram a falar, se tiver mais alguma coisa eu gostaria que falassem, a televisão, se já havia televisão ou não, e o teatro também, se era muito comum o teatro, como é que era composto, enfim, tudo que vocês

SPEAKER 2: : Quiserem. E fazer uma comparação entre todas essas coisas que a Sônia eh relacionou, de cinema, rádio, televisão, comparados com os de hoje.

SPEAKER 1: : ### Eu me lembro do Leopoldo Fróes, você lembra?

SPEAKER 0: : Lembro.

SPEAKER 1: : É, lá no Teatro São José, ali no Anhangabaú.

SPEAKER 0: : ti tinha o Cassino. Tinha o Cassino, na Rua Boa Vista também. Não, o Cassino era no Anhangabaú. Também? É. O...na Boa Vista era o... Como era o nome. Boa Vista ### Boa Vista mesmo, é.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : a mamãe sempre falava de um teatro que tinha ali, próximo à Light, Parece que São José. São José né.

SPEAKER 1: : Era São José, exato. Não era no Anhangabaú, não. Era lá em cima, onde é a Light. Isso ( ). Ali que eu assisti o Leopoldo Fróes.

SPEAKER 0: : ### Então, existia os teatros de revistas. Também, é, era. Mas tudo... mas nós não frequentávamos.

SPEAKER 1: : Não, teatro de revista era impróprio para nós, não é? Não se podia assistir. Mas havia muito teatro de comédia bom. Coisa boa ###

SPEAKER 0: : E e cinema, então, só nós podíamos ver era na matinê, não é? É

SPEAKER 1: : cinema... Mas, geralmente, os filmes não eram impróprios, não. Os filmes não eram impróprios. E no teatro, muito menos. Apesar de não de haver muita coisa imprópria naquele tempo, não não era nada parecido com o que é impróprio hoje. No teatro, era sempre um linguagiar comedido, educado, um português muito mais correto, não é exato? Muito mais cuidado. Nós ah gostávamos muito das comédias, Porque tem uma que eu assisti, como é que era aquela da do Procópio, com a Regina... Não era Deus Lhe Pague? Não, não. Não, não era. Era uma outra do Limão, que ela apertava o limão na mão. ### Como era interessante aquilo. Era aquela... Santa Maria, como é? Ah Aquela senhora que casou-se depois, que foi deputada. A Conceição. ### Não, foi com a Conceição.

SPEAKER 0: : Ah, com a Conceição. É.

SPEAKER 1: : Ela que era, é, ela que era a artista. Apertava o limãozinho na mão. Quando ficava nervosa, ele mandava que apertasse o limão. Não me lembro ao certo como foi. Mas os cinemas levavam muitos seriados. Todas as semanas a gente ia.

SPEAKER 0: : No domingo...  um cinema mudo. É é Era um cinema... ###

SPEAKER 1: : Então, não tinha ah... Não, tinha cartazes, não é? ### Tinha letreiros, é.

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: : Tinha letreiros sempre. E eram quase sempre seriados. Tinha o Enigma da Máscara, que levou, acho que uns quarenta domingos para a gente assistir (risos). E, assim, outros seriados que não me lembro, mas levava uma vez por semana. Eee o rádio O rádio entrou, mais ou menos, nessa ocasião, foi em em novecentos e vinte dois, vinte e três, que o rádio apareceu. Mas a gente tinha uns aparelhos horríveis, que com dificuldade se apanhava, tinha muita estática.

SPEAKER 0: : O nosso não. Nós tínhamos, é, nós tínhamos um aparelho, mas não tínhamos quase tempo de ouvir. O o dia que nós podíamos ouvir era apenas aos domingos. para assistir justamente às peças de teatro né e Nós estávamos almoçando, é, e assistindo às peças de teatro, que eram ótimas peças.

SPEAKER 1: : Muito interessantes mesmo, não há dúvida nenhuma eee. E depois veio a televisão, aí começaram as novelas, né? É

SPEAKER 0: : ### Não, as novelas são mais recentes, né? O jorna

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : ### No começo não tinha novela na televisão né. Mas tinha jornais, não é?

SPEAKER 1: : ### ### ###

SPEAKER 0: :  e eles passavam também operetas na televisão. ### ### ###

SPEAKER 1: : Concertos também.

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 1: :  havia muitos concertos pela televisão.

SPEAKER 0: : Mas, geralmente, nós só tínhamos televisão à noite, não era?

SPEAKER 1: : É, durante o dia não funcionava, não. Não havia estação ligada depois. Mais tarde é que começou a funcionar.

SPEAKER 2: : E como é que eram os cinemas antigamente? Gostaria que vocês descrevessem, desde a parte externa até a parte interna, as pe os funcionários dos cinemas. O que que existia dentro dos cinemas?

SPEAKER 1: : Deixa-me lembrar um cinema que eu frequentava em criança, que era o América, lá na Rua da Consolação. Os funcionários estavam vestidos... De uniforme. uniforme todos, é. Todos de uniforme mesmo. O cinema geralmente não era encerado, era de tábuas, o chão, o piso. Eee as cadeiras não eram muito confortáveis, mas, em todo caso, elas tinham molejo. Eee o cinema era limpo, sim. Tinha os sanitários também, lavatório direitinho.

SPEAKER 2: : Se vocês quisessem comer alguma coisa...

SPEAKER 1: : Tinha tinha bala, tinha pipoca né, e a gente saía um pouquinho, ia até a porta, comprava uma coisinha lá de comer, e entrava e durante a sessão, ia comendo aquilo.

SPEAKER 0: : Essa questão de cinema, eu lembro, porque o meu pai, uma temporada, ele teve foi dono de um cinema no Brás, o Cinema Oriente. Ah, me lembro. É, e lá vendiam empadinhas, pastéis, no cinema, é. Isso eu lembro perfeitamente, balas, Inclusive eh, eu lembro que tanto a mamãe como a vovó faziam empadinhas, faziam pastéis, tudo para ajudar, porque foi justamente na época da gripe, e uma época de muita chuva, então a frequência do cinema era muito pequena, e tudo que elas podiam fazer para ajudar as despesas, então elas faziam, sabe? Então, tinha aquelas balas que eram embrulhadas em papel picado, então e faziam ( ) Embrulhava, cada cinco era uma faziam um massinho para vender os massinhos de balas para as para as crianças no cinema, isso eu lembro. É, é

SPEAKER 1: : Dentro do cinema mesmo vinha o baleiro com com... Isso, o ( ) ### ###

SPEAKER 2: : Que tipo de filme mais popular?

SPEAKER 1: : Os filmes mais populares eram os cômicos, o do Carlito, o do Max Linder... Haroldo Lloyd. Haroldo Lloyd, que era formidável nesse tempo. Tem um filme que ele subia pela parede né, no prédio, ficava ( ) Não se perdia. Esses filmes cômicos eram muito interessantes. Tinha também os policiais, não é? Filmes policiais que todos se interessavam bastante por ele.

SPEAKER 0: : E os filmes amorosos também, não é?

SPEAKER 1: : Amorosos também, do Rodolfo Valentino. Com a Francisca Berti. É, esse

SPEAKER 0: : ### ###

SPEAKER 1: : A Pola Negri também. ### Depois a Greta Garbo já foi posterior, já foi. ### (risos) Era bonitinha, não é? Fazia filme de bandido, né? (risos) Ela era a heroína, a mocinha. Sei que tinha muito filme que a gente se divertia bastante, só que não havia dinheiro para se ir sempre ao cinema. ### Apesar de ser três tostões, o cinema (risos).

SPEAKER 2: : E, atualmente, vocês vão ao cinema?

SPEAKER 1: : Atualmente, raramente eu vou ao cinema. ### Eu, principalmente, tenho um problema com a minha mãe, que tem aterosclerose cerebral. Vivo sempre presa a ela de uns quatro anos para cá. Mas ah não faz muito tempo eu entrei num cinema na Avenida Paulista para assistir o Jovem Frankenstein. Era interessante, engraçado. Coisa que a gente pode se divertir um pouco. Mas não frequento cinema. Teatro também vou raramente. Já faz tempo que fui a um um teatro assistir uma peça da Marília Pêra, mas, francamente, não me agradou. o tipo de teatro, o tipo da de linguagem, de palavrório empregado não não agradou e não tenho voltado mais ao teatro por isso mesmo.

SPEAKER 0: : Eu também há muitos anos não vou ao teatro e cinema mesmo. A última vez que fui, saí completamente decepcionada e não tive mais vontade de voltar, mesmo que também eu tenha o problema da minha mãe, que é muito difícil eu estar saindo sozinha, tudo isso. ### Há muitos anos não vou nem a cinema, nem a teatro. É

SPEAKER 1: : Esse problema de mãe é um caso sério. A minha sempre foi minha grande companheira na praia, nadava junto comigo até há uns há uns anos atrás. Mas hoje, infelizmente, apesar dela aparentar muita saúde, tem aterosclerose cerebral e e não posso controlar a a sua vida mais. ###

SPEAKER 0: : ###

SPEAKER 2: : A senhora está cansada? Quer descansar um  Quer descansar um pouco? (risos) Não, está faltando meia hora ainda ãh. O filme começava logo em seguida ou tinha alguma coisa antes?

SPEAKER 1: : Geralmente tinha música antes. Ah

SPEAKER 0: : Naquele tempo tinha o... O piano. O grupo, é, de músicos.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : ### ### eu lembro de piano e violino, todos os cinemas tinham para acompanhar a música, porque como o filme era mudo, então ah o que acompanhava o filme era justamente esse conjunto, que tocava as músicas de acordo com o filme.

SPEAKER 1: : É, o conjunto de músicos ali em frente. E antes do cinema também eles distraíam a plateia antes da sessão, não é? Tocando

SPEAKER 0: : ### ### Eles passavam uma parte do filme, depois paravam, tinha o intervalo, depois passavam outra parte. Exatamente.

SPEAKER 1: : ### Nós tínhamos quase uns quinze minutos de intervalo para conversar, passear.

SPEAKER 0: : Para ir comprar balinha. ###

SPEAKER 1: : (risos) Era isso sim Não, não, nós não olhávamos para rapazes, nem eles olhavam para as moças. Se eles olhavam, nós não tomávamos conhecimento. Eu, pelo menos, era assim. É, é isso mesmo, não Só se pensava em estudo, em preparar programa para amanhã, para a escola, em casa, o que devia fazer, atender aos conselhos da mãe, era só isso. Os irmãozinhos, era só nisso que se pensava, não se pensava em rapazes, não.

SPEAKER 0: : E nós que sempre íamos acompanhados da vovó, não é? É ###

SPEAKER 2: : (risos) E quais as pessoas responsáveis por uma...

SPEAKER 1: : realização cinematográfica ( ). Lá dentro do do, dirigindo as máquinas e tudo mais, eu não sei, mas não era muito... Tinha diretor, tinha operador né que mexia com a máquina não

SPEAKER 0: : Não sei, não sei mesmo, mas eu tenho a impressão que era isso. O diretor tinha os empregados do cinema eee o porteiro, não sei de mais alguém que tivesse, não não sei.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : Não sei se você lembra que precisava, às vezes, molhar o pano? Ah

SPEAKER 1: : Molhava sim, regava com ( ) ### Exato mesmo, era assim.

SPEAKER 3: : As senhoras falaram que todo domingo iam ao cinema. Era distração de todo mundo ao do aos domingos. E, atualmente, já não é assim. Vocês o que que vocês acham? Qual o fator principal que dispersou as pessoas do cinema?

SPEAKER 0: : Eu tenho a impressão que, em primeiro lugar, a televisão. porque a ah as pessoas ficam em casa, é muito mais cômodo assistir um filme, assistir um programa de televisão, do que ir ir a um cinema que tem que, principalmente aos domingos, feriados, para entrar no cinema, tem que eh aguardar uma fila enorme até poder comprar o seu ingresso. Você não pensa a mesma coisa, Helena?

SPEAKER 1: : Eu penso mais ou menos como você, que o que o motivo é o cansaço. é o trabalho da semana inteira. Chega o domingo, a pessoa prefere ficar em casa descansando. É, é isso mesmo. Do que enfrentar condução para um cinema e até mesmo para passeio, a não ser os muitos jovens. Esses gostam de sair, de de ir para a praia, para outros lugares, Mas as pessoas de mais idade, que trabalham muito, já preferem o sossego do seu lar nos domingos.

SPEAKER 0: : E aquele tempo, você lembra, quando nós eh resolvíamos ir ao cinema? Chegávamos lá na hora, a gente comprava o ingresso... Ah, tudo era fácil. Não tinha fila, não tinha coisa alguma, tudo era muito mais fácil. Agora não. Agora, para se ir ao cinema domingo, é mais um sacrifício do que o que se aproveita no final.

SPEAKER 1: : É, e tem muita gente lá dentro também, muito barulho, muita algazarra, é, não não agrada absolutamente né.

SPEAKER 2: : Quais os personagens principais para uma para uma realização cinematográfica?

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : As pessoas que trabalham no filme, quais são as personagens principais?

SPEAKER 0: :  todas são principais. Não Depende do trabalho de cada um, não é verdade? Às vezes é é um um papel secundário, mas é muito importante num filme.

SPEAKER 1: : É exato, sim. O principal, geralmente, é o marido, a mulher, os filhos ou o outro interessado na moça né, na esposa.

SPEAKER 0: : Mas isso isso quando é um filme que focaliza essa parte, mas nem sempre. Nem sempre é. Às as vezes, o os filmes policiais, por exemplo, não é verdade? Aí já é um outro, o principal já é um outro. Já.

SPEAKER 1: : ### Muitas personagens mesmo, não há dúvida nenhuma.

SPEAKER 3: : E que tipos de programas vocês acostumam a assistir na televisão? Que tipos de filmes?

SPEAKER 1: : Eu gosto de filme que distrai um pouco, viu, que tenha suspense. Às vezes, até mesmo filme de bandido me agrada. Mas eu gosto muito da tê vê educativa. Acho muito interessante aquele aquele programa do dos mares, subma eh submarino, como é que chama aquele? ( ) É interessante, sim. Tem bas tante coisa bastante novidade sobre ah os peixes.

SPEAKER 0: : ### Às vezes fazem reportagens maravilhosas eee. Agora, eu gosto muito quando passam os filmes antigos. ### Pelo menos a gente pode lembrar o tempo que frequentava o cinema, não é verdade? É

SPEAKER 1: : É, relembra tudo aquilo. É Mas também tem os jornais, não é? Que a gente não perde na televisão. Eee, quanto a novelas, tem muitas, né? Por exemplo, eu estou assistindo o... Pecado Capital. Pecado Capital (risos) O Anjo Mau, o Pecado Capital, é Essas novelas estou assistindo. ### O Grito eu não assisto, já acho muito tarde, viu? Mas tem também Olhando a Lua do Céu, que é uma aguinha com açúcar dos tempos antigos ( ).

SPEAKER 0: : Eu acho essa novela Olhando a Lua no Céu, eu acho uma o trabalho daquele menino, eu acho uma calamidade, porque eu não admito um menino daquela idade falar da maneira que aquele menino fala. ### a outros meninos fazerem o que aquele pretende fazer. É, exato Um menino daquele tamanho, com aquela menina, as a conversa dos dois, aquilo não é coisa de criança. E, depois, os dois pensando em fugir, eu eu não me conformo com uma novela dessa passar

SPEAKER 1: : de noite, ele trepa na janela, sobe tudo para pular no quarto dela, e ficam lá no quarto conversando, até que ela diz, vai embora, vai embora, a mamãe pode vir

SPEAKER 0: : Eu acho um mau exemplo. E isso que está sendo passado às seis horas da tarde, eu acho um mau exemplo para as crianças. É É verdade

SPEAKER 1: : ### E o casal? E o casal que está brigando?

SPEAKER 0: : Bom, isso, é, a gente já já pode esperar muita coisa, não é verdade? Mas não para uma novela das seis horas da tarde onde Uma novela que passa para crianças. Aham Mas o o que mais me aborrece é o trabalho daquele menino, o que aquele menino fala.

SPEAKER 1: : ( ) E justamente no tempo da novela, porque é do tempo antigo que a menina dizia, senhor meu pai, abenço meu pai, a mulher dizia senhor Pedro para o marido, seu Pedro.

SPEAKER 0: : Mas mas os filhos não dizerem papai? Eu toda a vida lembro de eu de eu chamar papai e mamãe. Minha mãe também chamava papai e ( ) Agora, ali... Seu Pedro, acho o cúmulo uma coisa dessas (risos).

SPEAKER 1: : O pai de seu Pedro, né? Não, eu acho que não ### ###

SPEAKER 2: : ### Quer descansar um pouquinho?

SPEAKER 0: : ### (risos) Porque sabe como é, a Helena também tem que ir lá ver a mãe dela ainda.

SPEAKER 2: : Ah, sei. Então já está terminando.

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 2: : Queria saber quais os meios de transporte que vocês utilizavam, utilizam em São Paulo antigamente, hoje, e para viagem. Vocês que viajaram, as senhoras que viajaram bastante, os meios de de transporte que vocês usavam na viagem, todas essas coisas.

SPEAKER 1: : Viagens aqui na capital, para o interior, para a estação de águas, a gente ia de trem, íamos de trem, é, até para Santos.

SPEAKER 0: : Não, a viagem para Santos era a coisa mais agradável, porque, não sei se você está lembrada, ah o que nós mais gostávamos Era ir de trem, e quando chegava na metade do caminho, no alto da serra, o trem parava, e então o papai dizia para ir comprar sanduíches. ### Lembra? Ah Era era a coisa melhor da viagem a Santos, era isso, não é verdade? É. E sempre íamos de trem mesmo para o interior, tudo era feito de trem. ### ah mamãe estava lá no Rio e eu tinha que ir buscá-la. Eee um um domingo, lendo o jornal, eu vi que tinham colocado um ônibus para o Rio. E eu disse, ah, muito mais fácil, porque eu que trabalho para ir de trem, é muito mais longa a viagem. Então, eu telefonei para a mamãe e disse, olha, mamãe, agora puseram um ônibus aqui e eu vou diretamente de ônibus para o Rio. Mamãe disse, bom, se você acha que é mais, eh que é melhor, é mais fácil. Não, eu acho que vai ser mais fácil, né? E foi a primeira linha de ônibus que puseram para o Rio. Eu lembro que eu paguei cento e sessenta e cinco cruzeiros. ###  mil réis já é eee e foi Mas o ônibus eh fez fez paragem em várias cidades. Então, entrava na cidade, geralmente ia parar ou num restaurante ou, então, próximo ao hotel. Depois, eh que nós podíamos descer e ir comer qualquer coisa, né? Depois continuava. Acho que fez umas três paragens até chegar ao Rio. Levou quantas horas? Não não lembro, acho que... Umas dez horas. Creio que sim, talvez umas dez horas, é. Foi a primeira viagem para fora que eu fiz de ônibus assim.

SPEAKER 1: : Eu também viajei de de trem bastante, viajei de ônibus muito para vários lugares eee. E as viagens do exterior também, não? Viagens do exterior? Ah, viajei muito de avião para para o norte do Brasil. ### Nunca fui de vapor para o Norte.

SPEAKER 0: : Não, eu fui de vapor tanto para o Norte também para o Sul. É? Agora fiz três viagens até a Argentina, de trem até o Uruguai, eee depois de ônibus, porque até Colômbia fomos de trem, depois fomos de ônibus até Montevidéu, depois fizemos até a Argentina, na travessia, naqueles vaporezinhos da para ir até a Argentina. E a volta foi a mesma coisa. Num colchão de ar?

SPEAKER 1: : Não, não, não, não. ###

SPEAKER 0: : Agora, a última vez que fui à Argentina, eu fui direto de vapor. Mas aí fui direto à Argentina e voltei também de vapor. É

SPEAKER 1: : Eu fui de avião várias vezes à Argentina, eee e fui de de de ônibus também, até o Rio Grande do Sul, depois Colônia, depois naquele vaporzinho sobre que desliza sobre um colchão de de ar, esse que vai rapidamente, não é? E, na no Uruguai, uma vez, eu estava no aeroporto com a minha amiga, eee chegou um avião, e nós eles nos chamaram, e nós entramos no avião. E não era para nós esse avião. Esse avião vinha dos Estados Unidos e ia mesmo para Buenos Aires, como nós queríamos ir, sabe? Então, tomamos... Eles não tinham dado ficha. Nós tomamos, sentamos lá, havia bastante lugar. Daí a pouco, o homem lá perguntou ( ) Eu não sabia. Eu eu apresentei o passaporte, minha companheira também, e não estávamos na lista. Então, eles avisaram em Buenos Aires, que iam chegar duas clandestinas a bordo. Nossa senhora. É. E a nossa bagagem também ficou toda atrapalhada, porque ficou retida no Uruguai, depois é que mandaram para para Buenos Aires né. Mas foi um incidente que apenas serviu para darmos risada e termos boa recordação disso tudo. Fui ao Chile também, também aquela passagem na Nos Andes, a nove mil metros de altitude, com o canudinho de oxigênio entre os dentes, tudo aquilo foi muito agradável, mas essa minha companheira ficou branca, pálida, e os outros, que eram hipertensos, então ficavam arroxeados. Mas eu, felizmente, não senti nada. E lá no Chile passeamos bastante, tomamos banho na Viña del Mar. Por sinal que na Viña Del Mar o mar é horrivelmente violento, mas tem o nome de pacífico. E na praia tem um ponto fincado na areia com um cabo de aço que vai até adiante no mar. Então, eu via de longe uma pessoa atrás da outra e disse para a minha companheira, Aparecida será a fila para tomar banho de mar? Mas quando cheguei perto, a fila é que estava grudada no cabo de aço. A gente, para entrar no mar, tinha que segurar no cabo de aço porque aquela onda vinha de uns trinta metros de altura e jogava a gente mesmo no chão. Por melhor que nadasse, esfregava o joelho na areia, viu? (risos)

SPEAKER 0: : Eu lembro uma das vezes que eu fui ao Uruguai, eu fui com a delegação de professores de educação física, e lá nós tivemos oportunidade de ir até Mar del Plata, eee mas como era muito distante, porque seria uma como uma viagem daqui ao Rio de Janeiro. Então, só podíamos que nós tínhamos que ir e voltar no mesmo dia. Então, fomos de avião, e eu tive a oportunidade de ir num avião particular, e depois voltei em um avião militar, um avião de dois andares. Então, foi uma experiência diferente, não é verdade? Bastante agradável. Muito, foi muito agradável mesmo, é.

SPEAKER 3: : Eu queria saber como é que eram esses trens, se são iguais os de hoje ou se havia diferença? As viagens eram diretas ou não para os lugares? Era

SPEAKER 1: : Às vezes, nós tínhamos que fazer baldeação, não é? Eee em estaçõezinhas pobrezinhas que a gente... Você lembra aquela estaçãozinha que tinha aqui na Cantareira?

SPEAKER 0: : ### ### É, muitas vezes nós fizemos ah... Papai gostava muito de sair aos domingos, então, nós eh saíamos, tomávamos o trenzinho, e uma das vezes o trem virou, Então, nós todos tivemos que descer do trem e caminharmos a pé, porque o trem tinha virado na estrada.

SPEAKER 1: : ### ### Com assento de palhinha e segunda classe era de madeira mesmo. É ###

SPEAKER 0: : Essa questão de trem, eu lembro uma vez que eu fui fazer uma inspeção em... em São Carlos do Pinhal Então, nós fomos eu tive que fazer baldeação e tomei para São Carlos, era um trem mínimo, um trem pequenino. ### ### E esse trem, então, nós eh apanhava as professoras nas estações. E mui eh uma das vezes, o trem parou numa estação para pegar as professoras daquela estação, e uma das professoras estava penteando o cabelo da filha do chefe da estação, então o trem ficou esperando para depois nós continuarmos a viagem. Quer dizer que não havia horário?

SPEAKER 1: : Certo, certo não, não é verdade? ###

SPEAKER 3: : Não, eu perguntei se era igual eram Iguais os trens. É, era a mesma coisa

SPEAKER 1: : Tinha fagulha que queimava a gente, viu? Porque as máquinas eram de lenha a lenha, e o vento trazia aquelas fagulhas, entrava nos olhos, e a gente tinha que fechar a vidraça com aquele calorão medonho, e queimava a roupa, chegava em casa com a roupa cheia de buraquinhos das fagulhinhas do trem.

SPEAKER 0: : Helena, então nós podemos falar também aqui no bondinho de Santo Amaro, Lembra que que tinha um apito? ### Porque Santo Amaro, naquela época, era quase que uma outra cidade. Quando nós íamos a Santo Amaro, era quase que uma via

SPEAKER 1: : Atravessava-se uma mata. É

SPEAKER 0: : É, perfeitamente.

SPEAKER 1: : Saía da Praça da Sé e levava mais de uma hora para Isso, perfeita é é  Era uma viagem. É, e num... Não era campainha, não, era um.

SPEAKER 0: : Era um apito 

SPEAKER 1: : um apito, é É. Puxava uma cordinha e apitava.

SPEAKER 3: : E os meios de locomoção dentro da cidade era só o bonde ou havia algum outro?

SPEAKER 0: : No começo bonde, carro né, táxi. E

SPEAKER 1: : E autolotação também, o autolotação começou logo, depois é que acabou, viu? Tinha lota autolotação. ### ### No tempo do bonde não tinha. Não Mas depois tinha bonde e ônibus também, não é? E autolotação também. E o micro-ônibus também. Logo depois veio. Demorou um pouco, mas veio. Quando acabaram os bondes, vieram os micro-ônibus também. Mas eram só esses mesmo. Tinha muita bicicleta né e motocicleta. Bicicleta, então, Era um grande meio de transporte e mesmo para entregar mercadorias, muitas vezes  ( ) com bicicleta. Os tintureiros levavam roupa com a bicicleta.

SPEAKER 2: : Todas as pessoas viajavam num mesmo vagão ou não? Existia distinção? Não, não.

SPEAKER 0: : Mesma coisa.

SPEAKER 1: : Tinha a primeira classe e a segunda classe, viu? É é ###

SPEAKER 0: : ### ###

SPEAKER 1: : Tinha o bondinho e o caradura, que era o reboque né. ### A metade. É No bonde a gente pagava duzentos réis que eram dois tostões, e no outro pagava um tostão só. Ou era caradura ou era reboque, se chamava. Mas sempre havia separação. Por por essa questão de pagamento, já havia separação. E nos trens também ah. A primeira classe era muito melhor cuidada, limpa, e com assento de palhinha, encosto e tudo. Agora, o de segunda classe, era de madeira simples né, madeira dura, envernizada. Era dura mesmo, de verdade. Mas, quando a gente não achava um lugar para sentar na primeira classe, dava graças a Deus de ir lá para a segunda, é. Não

SPEAKER 0: : Eu posso dizer que, muitas vezes, nós fizemos passeios a Poá, por exemplo, eee a volta para São Paulo era uma calamidade, porque, inclusive, até muita senhora entrou pela janela do trem, porque não conseguia entrar pela porta.

SPEAKER 3: : Aliás, aquele trem de Poá acho que não mudou muito, não. ### Para ir de um estado ao outro, por exemplo?

SPEAKER 2: : ###

SPEAKER 0: : Era estrada, era estrada de ferro, sim, naquele tempo. Ou então vapor. Também tinha quem viajava de vapor, não é verdade? De um estado para o outro viajavam também de vapor.

SPEAKER 1: : Já há muito tempo que há o avião para para o Norte, por exemplo. ### É, mas já faz tempo que tem. Sim. Bom Muito antigo era só estrada de terra batida, nem nem asfalto tinha viu. Era terra batida, lama eee e mato. Às vezes, a gente, com o carro, entrava pelo mato mesmo, porque A estrada estava intransitável, era difícil, podia atolar o carro.

SPEAKER 2: : acabou, Dona Helena.